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A VOCAÇÃO DE SER “ANJO BOM”: REFLEXÕES SOBRE ÉTICA E MORAL Prof. Dr. José Lisboa Moreira de Oliveira Universidade Católica de Brasília Infelizmente, mesmo com tantas evidências de falta de ética e de comportamen- tos antiéticos ainda existem pessoas que acreditam, mesmo no ambiente acadêmico, ser desnecessário estudar essa questão. Com frequência se ouve estudantes universi- tários afirmando que o estudo da Ética é uma bobagem, uma perda de tempo, ou as duas coisas juntas. Todavia, como nos mostram os fatos da vida e as pesquisas feitas por pesquisadores competentes, hoje, mais do que nunca, é urgente não só o estudo e a compreensão da Ética, mas a sua prática. No atual momento “há uma constatação indiscutível, de aterradora crise ética e moral em todas as partes, atingindo o coração da humanidade” (BOFF, 2003, p. 9-10). Por essa razão, continua Boff, é urgente encontrarmos “pontos comuns que orientem algumas práticas salvadoras” (Ibid., p. 10). Assim sendo, o nosso comportamento não deverá ser aquele da avestruz, tentando se esconder ou negar essa crise, mas encará- la de frente, buscando juntos caminhos mais humanos a serem percorridos. De fato, há por toda parte uma sensação de que o futuro da humanidade depende de uma prática ética. Tem-se a impressão de que pesa sobre a Terra uma grande ameaça “por causa da atividade humana altamente depredadora de todos os ecossistemas” (Ibid., p. 13). Não se trata, pois, de uma ameaça externa, de um grande meteorito que se aproxima do nosso planeta, mas de uma gigante irracionalidade que, se não for invertida, poderá, em pouco tempo, levar à extinção do próprio ser humano. Oliveira e Borges (p. 33-47) falam de uma “surdez contemporânea” que é “o sen- timento geral de asfixia cultural, sob o qual o homem do novo milênio se vê distraído e amorfo diante da fragmentação do tempo e da afirmação do instante, do desvanecimen- to das esperanças e da extinção dos sentidos utópicos” (Ibid., p. 43). Vivemos sob a ditadura da hegemonia cultural norte-americana, extremamente narcisista que reduz a coletividade àquilo que é proclamado pela mídia. Somos repetitivos, sem criatividade e

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A VOCAÇÃO DE SER “ANJO BOM”:

REFLEXÕES SOBRE ÉTICA E MORAL

Prof. Dr. José Lisboa Moreira de Oliveira

Universidade Católica de Brasília

Infelizmente, mesmo com tantas evidências de falta de ética e de comportamen-

tos antiéticos ainda existem pessoas que acreditam, mesmo no ambiente acadêmico,

ser desnecessário estudar essa questão. Com frequência se ouve estudantes universi-

tários afirmando que o estudo da Ética é uma bobagem, uma perda de tempo, ou as

duas coisas juntas. Todavia, como nos mostram os fatos da vida e as pesquisas feitas

por pesquisadores competentes, hoje, mais do que nunca, é urgente não só o estudo e

a compreensão da Ética, mas a sua prática.

No atual momento “há uma constatação indiscutível, de aterradora crise ética e

moral em todas as partes, atingindo o coração da humanidade” (BOFF, 2003, p. 9-10).

Por essa razão, continua Boff, é urgente encontrarmos “pontos comuns que orientem

algumas práticas salvadoras” (Ibid., p. 10). Assim sendo, o nosso comportamento não

deverá ser aquele da avestruz, tentando se esconder ou negar essa crise, mas encará-

la de frente, buscando juntos caminhos mais humanos a serem percorridos. De fato, há

por toda parte uma sensação de que o futuro da humanidade depende de uma prática

ética. Tem-se a impressão de que pesa sobre a Terra uma grande ameaça “por causa

da atividade humana altamente depredadora de todos os ecossistemas” (Ibid., p. 13).

Não se trata, pois, de uma ameaça externa, de um grande meteorito que se aproxima

do nosso planeta, mas de uma gigante irracionalidade que, se não for invertida, poderá,

em pouco tempo, levar à extinção do próprio ser humano.

Oliveira e Borges (p. 33-47) falam de uma “surdez contemporânea” que é “o sen-

timento geral de asfixia cultural, sob o qual o homem do novo milênio se vê distraído e

amorfo diante da fragmentação do tempo e da afirmação do instante, do desvanecimen-

to das esperanças e da extinção dos sentidos utópicos” (Ibid., p. 43). Vivemos sob a

ditadura da hegemonia cultural norte-americana, extremamente narcisista que reduz a

coletividade àquilo que é proclamado pela mídia. Somos repetitivos, sem criatividade e

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sem originalidade. Criamos falsas necessidades, cultivamos a banalidade, refugiamo-

nos nas correntes míticas e religiosas de alienação que nos deixam alheios aos pro-

blemas e situações da realidade. Procuramos cada vez mais consumir porque isso cria

a sensação de afirmação do indivíduo e a falsa ideia de que somos gente que conta.

Enquanto isso aumenta cada vez mais a perda de sentido da vida. Isso tudo faz com

que nossos ouvidos não escutem a voz da Mãe Terra que grita desesperadamente por

socorro.

Nesse texto queremos refletir sobre essa realidade, desejando que, a partir do

conhecimento e dos saberes adquiridos, sejamos capazes de participar de iniciativas

que contribuam efetivamente para a reversão do processo. De fato, como explicam Oli-

veira e Borges (p. 33), nós só temos dois caminhos: a busca desesperada de alternati-

vas individualistas de sobrevivência ou a busca coletiva de soluções para a crise, sendo

que a alternativa isolada é desprovida de sentido histórico e pouco significativa.

Nossa reflexão e nossos estudos visam acima de tudo levar-nos a uma inquieta-

ção positiva que nos desinstale e nos desperte para práticas mais éticas. Visam ações

concretas que, de fato, ajudem a mudar a atual situação e garantam para nós, para os

nossos filhos, netos e bisnetos, e para as futuras gerações, uma vida de qualidade, fru-

to de um autêntico desenvolvimento sustentável. Isso porque nós somos os únicos

guardiões de nós mesmos. E as únicas possibilidades ou não de futuro para a Terra e

para a humanidade estão em nossas próprias mãos. Portanto, “o esgotamento natural

das condições de vida requer uma releitura do lugar ocupado pelo homem e o obriga a

repensar o futuro” (Ibid., p. 47).

Nesse estudo buscaremos a compreensão da etimologia da Ética e veremos os

seus diversos conceitos, bem como o conceito de Moral. Falaremos da relação e da

distinção entre Ética e Moral, do objeto e do objetivo da Ética e concluiremos abordan-

do a questão do sujeito da Ética e da interação que se verifica entre Ética e Cultura.

Nosso objetivo é propor uma prática, pois, como nos lembra Boff (Ibid., p. 39-41),

de nada adiantaria conhecermos a teoria se os nossos hábitos, começando por aqueles

familiares, continuassem prolongando a grave crise atual de valores e de visão mais

humanitária e generosa da vida. Se, como afirma esse teórico (2003, p. 41), a “crise de

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ótica” gera “uma crise de ética”, é também verdade que a falta de práxis ética gera a

ignorância ética, a visão distorcida daquilo que realmente seja a ética.

Nosso estudo irá nos permitir descobrir uma verdadeira tradição ética presente

“na experiência humana de ontem e de hoje, nos acontecimentos construtivos e felizes

e nos acontecimentos trágicos de ódio, guerras e morte” (PEGORARO, p. 188). Mas o

conhecimento dessa tradição nos dirá que, a partir das experiências passadas, “somos

desafiados a construir os caminhos éticos de hoje” (Ibidem). Não podemos delegar essa

responsabilidade a ninguém, uma vez que cada um e cada uma de nós é responsável

por aquilo que acontecer ou deixar de acontecer. Aliás, afirma muito bem Boff, a res-

ponsabilidade

“revela o caráter ético da pessoa. Ela se percebe co-responsável junto

com as formas diretivas da natureza pelo futuro da vida e da humanidade.

Ao assumirmos responsavelmente nossa parte, até os ventos contrários

ajudam a conduzir a Arca salvadora ao porto” (2003, p. 52).

1. Etimologia e conceitos de Ética e de Moral

a) A etimologia das palavras

Vamos iniciar nosso estudo procurando conhecer a etimologia da palavra. Ética

vem do grego ethos. Os gregos costumavam escrever tal palavra de duas formas dife-

rentes: ηθοσ e εθοσ (BOFF, 2003, p. 37-39). Num primeiro momento pode nos parecer

que não haja nenhuma diferença para o significado da palavra. Na realidade, porém,

existe, sim, uma grande diferença. Na primeira forma, escrita com eta (η), ou e longo, o

significado é de morada humana e também de modo de ser, relacionado com o perfil de

uma pessoa, com o seu caráter, o seu jeito ou maneira de agir. Na segunda forma, es-

crita com épsilon (ε), ou e curto, a palavra significava costumes, usanças, hábitos e tra-

dições.

Alguns autores (DE FINANCE, p. 7-10) chegam a pensar que o termo “ética” se-

ria indo-europeu, portanto anterior ao grego. Ele viria de suedd (sue + dh), com o senti-

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do genérico de colocar, fazer, realizar uma ação própria. Talvez a sua raiz mais antiga

seja o sânscrito syadha que significaria costume, função. O termo latino ethica que deu

origem ao português ética vem do plural grego ηθικα (éthica). Foi usado pela primeira

vez por Aristóteles, ou por seu editor, em suas grandes obras, mas para referir-se aos

costumes e tradições (Ibid., p. 7-8).

Na base do ethos grego estava, antes de tudo, a experiência da morada huma-

na. Porém, essa não era entendida apenas como construção física, mas numa perspec-

tiva existencial. Isso significa que, para os gregos, o ethos significava também a teia ou

rede de relações que se dava entre o meio físico e as pessoas e entre essas últimas.

Todavia, como nos recorda Boff (2003, p. 38-39), para que uma morada seja de fato

morada é indispensável organizar tanto o seu espaço físico como o seu espaço huma-

no. Assim sendo, para os gregos, ethos, escrito com a e longa, significava os critérios e

os princípios inspiradores que favoreciam o fluir de tudo, de modo que todas as realida-

des estivessem de acordo com os desejos de todos. Mas, como sabemos, os morado-

res de uma casa “têm costumes, tradições, hábitos, maneiras e usos de organizar as

refeições, os encontros, as festas, os estilos de relacionamento, que podem ser tensos

e competitivos, ou harmoniosos e cooperativos” (Ibid., p. 39). A esse aspecto da mora-

dia os gregos chamavam de ethos, com épsilon ou e curta. Mais tarde os latinos vão

chamar a isso de mores, de cujo termo deriva a palavra portuguesa moral.

A partir do conhecimento da etimologia da palavra, podemos definir a Ética como

as concepções de fundo acerca da vida, do universo, do ser humano e de seu destino,

a partir das quais estatuímos princípios e valores que vão orientar tanto a vida das pes-

soas como das sociedades. Desse modo, ética se difere de moral (ethos escrito com

épsilon, mores em latim), uma vez que essa última diz respeito à ação prática, concreta,

das pessoas expressa através dos costumes, dos hábitos e dos valores estabelecidos

por uma determinada cultura. Tendo presente essa diferença, podemos afirmar que

uma pessoa é ética quando ela se orienta e age a partir de princípios e convicções e

uma pessoa é moral quando age de acordo com os costumes, hábitos e valores estabe-

lecidos por sua cultura ou pela cultura da qual ela participa.

A consequência disso é que uma pessoa pode agir de forma moral, seguindo as

leis, os costumes, as tradições e os hábitos de uma cultura e não ser ética, uma vez

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que não segue convicções e princípios. É o caso, por exemplo, de uma pessoa que usa

o cinto de segurança apenas por conveniência, para não ser multada, mas não por ter a

convicção de que isso é fundamental para a sua segurança e a dos outros. Do mesmo

modo, podemos afirmar que um ato pode ser moralmente válido ou inválido (segundo

os padrões e normas estabelecidos pela cultura ou sociedade), mas nem por isso ele é

eticamente válido ou inválido. Tomemos como exemplo o caso de uma pessoa que re-

almente está com fome, não tendo culpa disso, e entra num supermercado para pegar

um pouco de comida. Esse ato pode ser considerado moralmente grave e a pessoa ir

parar na cadeia. Do ponto de vista ético ele pode ser considerado normal, uma vez que

comer para manter-se vivo é um direito de todo ser vivo.

As considerações feitas nos mostram que tanto o termo grego como o latino, u-

sados para designar a ética, estão intimamente relacionados com a ação. O próprio A-

ristóteles já fala dessa relação da ética com a πραξισ (práxis), distinguindo essa última

da τεορια (teoria), isto é, da pura especulação. Distingue a práxis também da

ποιειν (poiéin), ou seja, da pura atividade, da pura produção, do resultado da ação. Pa-

ra Aristóteles, a práxis, com a qual a ética se relaciona intimamente, é o agente em seu

ato. A ética seria a consideração do agente, do ser humano, em ato (DE FINANCE, p.

7-9).

b) Os conceitos de Ética

Podemos então concluir que a ética é o cultivo da arte do viver bem, mas igual-

mente a reflexão sobre a convivência humana, sobre o modo de se viver como se deve.

É o conjunto de princípios e de convicções que leva o ser humano a ser o que deve ser

e a fazer o que deve ser feito, a fim de atingir o seu valor supremo, ou seja, realizar o

que é próprio de sua natureza e, assim, justificar a sua existência. Nesse sentido a ética

não é uma técnica de felicidade, mas o cultivo daquilo que convém ao ser humano. É o

cultivo da humanidade, enquanto qualidade inerente e exclusiva dos seres racionais. A

pessoa ética não age “para ser feliz”, mas age “para ser humana”, embora ela também

tenha a convicção de que esse tipo de agir humano leva à verdadeira felicidade (Ibid.,

p. 10-14).

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A partir disso a Ética pode ter ainda mais três significados. É a ciência ou filosofia

da ação humana, a ciência da moral, estudando e refletindo sobre o comportamento

humano ou sobre uma sua forma específica (VÁZQUEZ, p. 22-29). O segundo signifi-

cado, elaborado a partir do primeiro, seria o de descrição dos princípios e das convic-

ções que estariam por trás dos costumes e dos modos de agir das pessoas ou de uma

determinada sociedade. Por fim o terceiro significado, que supõe os outros dois, seria o

de teoria acerca do comportamento moral das pessoas em sociedade (Ibid., p. 14-22).

Pode-se então afirmar que, enquanto ciência, a Ética é normativa dos atos hu-

manos, seguindo a luz natural da razão. Sabemos que o ser humano, se quiser conti-

nuar sendo humano, não pode deixar de interrogar-se sobre o que deve ser e sobre o

que deve fazer para que a sua vida tenha sentido. Assim sendo, a Ética, como ciência,

é uma reflexão científica sobre o significado e sobre o valor da vida. Por isso ela é emi-

nentemente uma ciência humana. E como tal se relaciona com todas as outras ciências

que estudam as relações e os comportamentos humanos (psicologia, filosofia, sociolo-

gia, antropologia, direito etc.).

Todavia, somos sempre convidados a evitar todo tipo de reducionismo. A Ética

não pode ficar reduzida a apenas um elemento de outras ciências. Esse risco acontece,

por exemplo, quando nos cursos ou faculdades a reflexão ética fica limitada ao aspecto

deontológico, à ética aplicada ou, pior ainda, ao simples comentário ao código de ética

de uma profissão. Por outro lado, a Ética não pode pretender que toda a ciência e todas

as ciências dependam exclusivamente das suas determinações. É o que acontece, por

exemplo, quando visões éticas determinadas por ideologias ou confissões religiosas,

querem a todo custo impedir pesquisas científicas. Sem dúvida alguma a ética tem um

papel decisivo e fundamental para a ciência. Mas o melhor caminho não é o do conflito

e da discussão. Se, por um lado, a ciência não pode se armar contra os argumentos da

ética, por outro essa não pode se apresentar à ciência com respostas prontas. É indis-

pensável o diálogo, de modo que se possa chegar a um consenso sobre pontos essen-

ciais. Assim sendo, a ética precisa concordar com o fato de que a pesquisa científica é

livre e de exclusiva competência do pesquisador. Esse, por sua vez, se compromete a

apresentar corretamente os resultados de sua pesquisa e a submetê-los à crítica da

comunidade científica (PEGORARO, p. 159-185).

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Esse diálogo se constrói a partir do questionamento sobre a destinação de toda a

pesquisa científica. Ela realmente beneficiará a vida e todas as vidas? Não haverá, por

acaso, uma enorme distância entre os gastos com determinada pesquisa e os seus re-

sultados concretos para toda a humanidade? Quem realmente sairá ganhando? Por

isso, além da relação entre custo e benefício é indispensável que a pesquisa tenha pre-

sente não somente o nível pragmático da vida, mas também as diversas dimensões do

humano. Portanto, uma abertura para a transcendência, ou seja, a aceitação dos limites

tanto da pesquisa como do próprio pesquisador. Os limites podem ser tanto de ordem

técnica como de ordem antropológica. E cabe a ética propor com frequência tais per-

guntas, mesmo que isso incomode (MOSER, p. 249-262). Por esse motivo, para que as

pessoas sejam éticas elas precisam ter consciência crítica. De fato, somente a consci-

ência crítica

“faz com que a pessoa consiga substituir explicações mágicas, por análise

da realidade; adquira segurança na argumentação, seja capaz de dialo-

gar, em vez de polemizar; tenha receptividade diante do novo, mas sem

rechaçar o antigo; assuma suas responsabilidades” (Ibid., p. 365-366).

c) Os conceitos de Moral

A partir dessas considerações é possível falar da relação e da distinção entre

ética e moral. Alguns teóricos afirmam que ética e moral são equivalentes, sobretudo

depois que autores latinos traduziram o termo grego éthica pelo latim moralia e deram a

esse termo um significado relacionado com costumes e hábitos. Todavia, como já vimos

antes, embora exista uma relação entre ambas, elas se distinguem em suas essências.

A ética, como já foi dito, é o cultivo da arte do viver bem, e, igualmente, a refle-

xão sobre a convivência humana, sobre o modo de se viver como se deve. Além disso,

ela é a teoria, a investigação e a explicação acerca de um tipo de experiência humana

ou forma de comportamento humano. Assim sendo, ela é uma reflexão sobre a moral.

Essa, por sua vez, é o conjunto de normas, aceitas livre e conscientemente, que regu-

lam o comportamento individual e social das pessoas (VÁZQUEZ, p. 63).

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Na moral nós temos dois elementos: o normativo e o factual. No seu aspecto

normativo a moral compreende as normas, as regras e os imperativos que propõem

como as coisas devem ser. Enquanto realidade factual a moral considera os fatos, ou

seja, os atos humanos em si, os quais podem se realizar efetivamente, independente-

mente do que deveriam ser, conforme a proposta da moral normativa. Porém, os dois

elementos não podem ser visto de maneira separada, mas numa constante interação.

De fato o normativo, quando postula ou determina um tipo de comportamento, leva em

consideração atos concretos, fatos, possíveis de serem realizados, e, por isso, objeto

de uma exigência. Ou seja, o normativo, na verdade, aponta para um comportamento

concreto, efetivo. Por sua vez a moral factual pede a norma, uma vez que ela só pode

ser avaliada à luz de algo que se julga como dever, como ação a ser cumprida, mesmo

que na realidade isso não aconteça.

Portanto o normativo e o factual não são coincidentes, mas convivem numa rela-

ção mútua. O normativo, para ser realizado, precisa ter como referência uma ação fac-

tual. Essa, por sua vez, só adquire pleno significado moral quando pode ser referida a

uma normativa, mesmo quando não é o cumprimento da norma. Não existem normas

sem indicativos concretos e não existem ações morais sem referências às normas (I-

bid., p. 63-65).

Essas reflexões nos levam a falar da relação e da diferença entre moral e mora-

lidade. A moral, já foi dito, é o conjunto de normas e imperativos que regulam a vida de

um determinado grupo social ou cultural. A moralidade, por sua vez, é o conjunto dos

atos concretos através dos quais o grupo ou sociedade traduz no plano prático as indi-

cações da moral. Dito de outra maneira, a moral é o ideal e a moralidade é o real. A

moralidade seria a moral em ação, a prática da moral ou moral praticada. A moral preci-

sa ser transformada em moralidade para que efetivamente ela aconteça. Mas pode a-

contecer que a moralidade, ou seja, a prática, não corresponda ao que prega a moral

ideal. Neste caso verifica-se então aquilo que se costuma dizer: “na prática a teoria é

outra”!

Voltando à relação entre ética e moral, podemos concluir que a moral é o que fa-

zer em cada situação. A ética é a reflexão sobre esse fazer para verificar se isso é bom,

ou seja, de acordo com a condição humana. Deduzimos então que a moral é anterior à

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ética. A história e a antropologia nos informam que desde as suas origens os seres hu-

manos foram estabelecendo entre si regras para uma convivência pacífica. A ética, en-

quanto reflexão sobre essas regras de convivência surgiu apenas há pouco mais de

dois milênios.

Hoje podemos dizer que a moral supõe a ética, mas essa não necessariamente

cria a moral. A ética pode influenciar a moral, mas não determiná-la. De fato, como

mostra a história da ética, as respostas dos seres humanos e das culturas podem variar

de acordo com os tempos, lugares e situações. Por isso permanecem vários desafios

para a ética: definir a sua essência, a responsabilidade dos sujeitos, a liberdade de de-

cidir e de agir, a vontade de agir eticamente, a relação entre obrigatoriedade ética e

realização da moral, a validade dos juízos morais, a relação entre vontade e liberdade

do indivíduo e o empreendimento coletivo.

2. Objeto e objetivo da Ética

Depois de termos compreendido o significado da ética e da sua relação com a

moral, podemos agora falar do objeto e do objetivo da ética.

No tocante ao objeto, penso que já tenha ficado claro para nós que ele tem a ver

com os atos humanos conscientes e voluntários que afetam os outros indivíduos e os

grupos sociais aos quais as pessoas pertencem. Atos voluntários porque todo ato reali-

zado sob qualquer tipo de pressão ou coação não tem valor moral. Do mesmo modo ao

se falar de atos conscientes entende-se dizer que uma ação humana só tem valor moral

quando o sujeito tem plena consciência daquilo que está realizando.

Portanto, o objeto da ética é o comportamento moral do ser humano, visto indivi-

dualmente e em sociedade, considerado na sua totalidade e na sua diversidade.

“A ética parte do fato da existência da história da moral, isto é, to-

ma como ponto de partida a diversidade de morais no tempo, com seus

respectivos valores, princípios e normas. Como teoria, não se identifica

com os princípios e normas de nenhuma moral em particular e tampouco

pode adotar uma atitude indiferente ou eclética diante delas. Juntamente

com a explicação de suas diferenças, deve investigar o princípio que per-

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mita compreendê-las no seu movimento e no seu desenvolvimento” (Ibid.,

p. 22).

Por esse motivo o objetivo da ética é fundamentar ou não, justificar ou não certa

forma de comportamento moral. Procura situar a moral efetiva (concreta, real) de um

grupo social ou indivíduo, no seu devido lugar. Fazendo isso a ética rejeita o compor-

tamento egoísta como moralmente válido, evitando que a moral seja reduzida ao que

satisfaz o interesse pessoal.

Cabe, pois, a ética explicar, esclarecer e investigar determinadas realidades do

comportamento moral, elaborando conceitos e princípios, e prescrevendo ou recomen-

dando atitudes que melhor respondem à condição humana. Dessa maneira a ética ava-

lia se existe ou não progresso moral nas pessoas e nos povos. Isso porque

“o comportamento moral não é a manifestação de uma natureza humana

eterna e imutável, dada de uma vez para sempre, mas de uma natureza

que está sempre sujeita ao processo de transformação que constitui pre-

cisamente a história da humanidade” (Ibid.: 28).

Percebe-se, então, que o objetivo da ética não é apenas descrever práticas mo-

rais e nem formular juízos de valor sobre essas práticas. Sua finalidade é refletir sobre

as diversas morais e sobre as mudanças que ocorrem nos comportamentos morais,

buscando levar as pessoas e os grupos a se interrogarem sobre suas ações e compor-

tamentos. Com isso ele pretende contribuir para que o ser humano e toda a humanida-

de caminhem sempre mais na direção da verdadeira felicidade e do verdadeiro bem

comum.

3. Sujeito da Ética

Uma vez esclarecidos o objeto e o objetivo da ética, podemos nos perguntar a-

cerca do seu sujeito (VÁZQUEZ, p. 109-132). Quem é o sujeito da ação ética? Existem

dois tipos de sujeitos: a pessoa humana e a comunidade. Enquanto indivíduo o sujeito

da ética é o ser humano no qual subsiste a natureza humana à qual os seus atos são

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atribuídos. Enquanto comunidade o sujeito da ética é um grupo, entidade ou sociedade

de pessoas que refletem sobre a ética ou a praticam. Numa universidade, por exemplo,

o sujeito coletivo da ética pode ser o Comitê de Ética na Pesquisa. Mas podem ser

também sujeitos coletivos éticos estados, igrejas, associações, organizações e entida-

des diversas. Basta que realmente reflitam e proponham princípios e indicações para o

comportamento humano e sejam capazes também de praticar ações éticas.

Ao dizermos que o sujeito da ética é o ser humano no qual subsiste a natureza

humana queremos chamar a atenção para a possibilidade de que uma pessoa, por ra-

zões diversas, fique realmente desprovida da sua verdadeira condição humana. Por

isso costuma-se dizer que o indivíduo-sujeito da ética precisa ter quatro características

básicas:

a) Antes de tudo deve ser um sujeito portador de consciência crítica, ou seja, ca-

paz de não se deixar manipular, de conhecer todos aqueles pressupostos indispensá-

veis para salvaguardar a dignidade e a integridade dos seres vivos, de fazer discerni-

mento e de estabelecer limites quando for preciso (MOSER, p. 353-356). Consciente é

o sujeito que conhece bem a situação, compreende as formas ampliadas e sofisticadas

de dominação que estão ao seu redor, bem como a força e a capacidade que ele e

seus semelhantes possuem para resistir e lutar contra possíveis obstáculos. Ter cons-

ciência crítica é também ser portador de conhecimentos e de saberes que facilitem a

mobilização do sujeito e lhe possibilitem ações de libertação.

b) Em segundo lugar deve ser um sujeito elícito (do latim elicere, fazer sair), ou

seja, dotado de vontade, capaz de fazer sair de si a decisão de praticar ou não determi-

nado ato. Como sabemos, a vontade é a faculdade humana de desejar (DE FINANCE,

p. 162-167). Não adianta o sujeito ter consciência crítica se ele não tem vontade, desejo

de agir. Assim sendo, é preciso que a pessoa deseje, aspire, sonhe com a realização

de algo para que isso realmente possa acontecer. Hoje a situação do mundo e do pla-

neta pede de cada um de nós opções sérias que exigem boa vontade para renúncias e

sacrifícios. Impõe-nos virtudes indispensáveis e urgentes: “a busca do bem comum, a

autolimitação e a justa medida, todas elas expressões da cultura do cuidado e da res-

ponsabilidade” (BOFF, 2003, p. 68-69). Sem vontade e desejo isso não é possível.

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c) Em terceiro lugar, precisa ser um sujeito livre, isto é, capaz de agir por si

mesmo, sem ser pressionado por nada e por ninguém. De nada serviria a vontade e o

desejo se a pessoa não tivesse suficiente liberdade para executar a ação a partir dela

mesma. De fato, a liberdade é a autodeterminação do eu que possibilita ao ser humano

o maior número de escolhas possíveis (MORIN, p. 107). Por isso ela é incompatível

com qualquer determinação externa ao sujeito, seja da natureza como da sociedade.

Portanto, trata-se de um sujeito autônomo (do grego autós + nômos), capaz de dar a si

mesmo as próprias leis. “Somente há responsabilidade moral se existe liberdade. Até

que ponto, então, pode-se afirmar que o homem é moralmente responsável por seus

atos, se estes não podem ser determinados?” (VÁZQUEZ, p. 118).

d) Por fim, em quarto lugar, um sujeito responsável que escolhe, decide, age

conscientemente e assume a responsabilidade dos seus atos. “Responsabilidade é a

capacidade de dar respostas eficazes (responsum em latim, donde vem responsabili-

dade) aos problemas que nos chegam da realidade complexa atual” (BOFF, 2003, p.

51). Portanto, sujeito responsável é aquele que não ignora nem as circunstâncias e

nem as consequências dos seus atos. A causa dos seus atos precisa estar nele próprio

e não em outro agente, pois a responsabilidade supõe conhecimento e liberdade

(MORIN, 100).

“A responsabilidade moral exige a ausência de coação externa e

interna ou, então, a possibilidade de resistir-lhe em maior ou menor grau.

Pressupõe, por conseguinte, que o agente aja não como resultado de

uma coação irresistível, que não deixa ao sujeito opção alguma para agir

de outra maneira, mas como conseqüência da decisão de agir como que-

ria agir quando poderia ter agido de outra maneira” (VÁZQUEZ, p. 118).

Portanto, não basta ser livre, com a possibilidade de muitas escolhas. É preciso

que a pessoa assuma a responsabilidade pelo que faz. Podemos, então, concluir que

uma determinada pessoa pode se encontrar em uma situação em que não possa ser

considerado sujeito dos seus atos. Se lhe falta a consciência crítica, a vontade, a liber-

dade e a responsabilidade ela deixa de ser sujeito. A experiência nos mostra que no

atual contexto social, político e econômico a maioria da população do mundo encontra-

se impossibilitada de realizar-se humanamente. Ela não tem acesso a uma educação

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de qualidade, aos bens indispensáveis para viver dignamente. Além disso, hoje o grau

de liberdade das pessoas é determinado histórica e socialmente, pois a sociedade exi-

ge dos indivíduos certas pautas de comportamento e limita as possibilidades de ação.

Como observam Oliveira e Borges, “mercantilizados e cheios de novas necessi-

dades, os seres humanos veem-se enredados numa crise sem precedentes, pois a rea-

lização dessas necessidades aparece cada vez mais como algo impossível do ponto de

vista ambiental e social” (p. 34). Por essa razão é possível afirmar que muitos seres

humanos terminam impedidos de serem sujeitos da ética. Assim sendo, a tarefa da éti-

ca não será emitir juízos de valor em nome de uma moral absoluta e universal, mas ten-

tar refletir sobre a pluralidade de comportamentos morais, buscando contribuir para que

as ações dos seres humanos efetivamente colaborem para o verdadeiro bem de todas

as pessoas e do planeta.

Todavia, isso não significa a justificação de qualquer comportamento ou atitude.

Ética, moral, consciência crítica, vontade, liberdade e responsabilidade devem andar

juntas. O desafio, sem dúvida alguma, é manter o equilíbrio entre determinismo absolu-

to e libertarismo, ou seja, manter a dialética entre necessidade e liberdade (VÁZQUEZ,

p. 120-132). De fato, alguém pode usar a desculpa da necessidade para justificar um

determinado tipo de comportamento. Pode afirmar que agiu daquela maneira forçado

por uma situação ou por uma necessidade. Do mesmo modo, uma pessoa pode tentar

justificar uma atitude ou comportamento a partir da desculpa de que estava defendendo

a sua liberdade de agir daquele modo. Assim sendo, “o problema da responsabilidade

moral depende, para a sua solução, do problema das relações entre necessidade e li-

berdade, ou, mais concretamente, das relações entre a determinação causal do com-

portamento humano e a liberdade da vontade” (Ibid., p. 118-119).

4. Ética e Cultura

O que acabou de ser dito aponta para uma questão de suma importância: a rela-

ção entre ética e cultura. Ou, se quisermos, para a questão da historicidade da ética

(BAUMAN, p. 47-74). Não podemos esquecer que “existe uma estreita vinculação entre

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os conceitos morais e a realidade humana, social, sujeita historicamente à mudança.

Por conseguinte, as doutrinas éticas não podem ser consideradas isoladamente, mas

dentro de um processo de mudança e de sucessão que constitui propriamente a sua

história” (VÁZQUEZ, p. 267). Por isso é necessário ver a questão ética na sua relação

com a cultura ou, melhor dizendo, com as culturas.

a) O conceito de cultura

Para entendermos melhor essa relação é preciso entender o que é cultura. Essa

tem um significado muito amplo. Os antropólogos elaboraram conceitos diferentes de

cultura. Chega-se a afirmar que existem mais de 160 definições de cultura (MARCONI;

PRESOTTO, p. 21-22).

“Para alguns, cultura é comportamento aprendido; para outros, não

é comportamento, mas abstração do comportamento; e para um terceiro

grupo, a cultura consiste em idéias. Há os que consideram como cultura

apenas os objetos imateriais, enquanto outros, ao contrário, aquilo que se

refere ao material. Também encontram-se estudiosos que entendem por

cultura tanto as coisas materiais quanto as não materiais” (Ibid., p. 22).

Penso que a melhor definição de cultura foi dada por Edward Tylor que, aliás, foi

o primeiro a tentar defini-la. Para ele cultura “é aquele todo complexo que inclui o co-

nhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e

aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade” (apud ibid., 22). Assim

sendo a cultura é a forma ou jeito comum de viver a vida cotidiana de um grupo huma-

no. Inclui, pois, ideias, conhecimentos, filosofias, crenças, ideologias, moral, valores,

normas, costumes, leis, atitudes, relacionamentos, padrões de conduta, comportamen-

tos, abstrações, símbolos, compromissos, instituições, técnicas, artes, habilidades, arte-

fatos e tantas outras coisas.

A compreensão de cultura nos permite perceber que também a ética é incultura-

da, ou seja, determinada pela cultura do grupo, embora se fale e se perceba hoje a ne-

cessidade de uma ética mundial. Essa relação é percebida mais intensamente quando

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somos colocados diante do diferente. As pessoas normalmente costumam fazer o que é

aprovado por seus semelhantes, isto é, pelos membros do seu grupo cultural. E quando

se deparam com dissemelhantes sentem-se inquietas e desaprovadas, reagindo a isso

quase que de forma instintiva (BAUMAN, p. 47-49).

Isso que acabou de ser dito mostra que a moral e a ética diferem de um lugar pa-

ra o outro, de um tempo para o outro, de uma situação para outra. Um “eu situado” po-

de, de repente, ser posto diante de outro eu “diferentemente situado”, enraizado numa

outra “polis”, ou seja, numa outra cultura. Para o “eu situado” a pretensão do outro eu,

ou a sua diferente ética, pode soar como um ultraje, um insulto. Surge então o desafio

da tolerância, da capacidade de conviver numa sociedade pluralista, superando a into-

lerância e buscando ter visões mais abertas e acolhedoras do diferente (Ibid., p. 49-54).

b) Concepções diferentes de bem e de mal

A história da ética vai nos mostrar que, ao longo da história da humanidade,

sempre existiram imagens e concepções diferentes de bem e de mal. Elas diferem de

um lugar para o outro, de uma época para a outra e a pretensão de uma universalidade

da ética aparece como uma ilusão. Não existe o ser humano universal, mas pessoas

inculturadas, situadas, localizadas. Por essa razão a insistência em padrões universais

é vista como intolerância. Se a moralidade só existe, só é concretizada através das qua-

lidades e das capacidades dos indivíduos de uma determinada cultura, a pretensão de

uma ética universal é vista como conspiração de quem tem sede de poder e pretende

dominar os outros.

Essa desconfiança está presente sobretudo hoje, no período da pós-

modernidade e se volta especialmente para instituições como as igrejas e os estados.

“Sempre que se desce do campo relativamente seguro dos concei-

tos para a descrição de qualquer objeto concreto que se supõe que os

conceitos significam, encontra-se apenas uma coleção fluida de homens e

mulheres agindo com propósitos cruzados, carregados de controvérsias

internas e notoriamente privados dos meios de arbitrar entre proposições

éticas conflitantes” (Ibid., p. 55).

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Neste contexto de pluralidade cultural é indispensável admitir os limites da uni-

versalidade da ética. Mas como evitar que, de repente, um grupo cultural mais podero-

so não termine impondo aos outros grupos e aos indivíduos a sua ética? O que fazer

para que a construção de um “nós” não signifique o encobrimento e até o sacrifício dos

“eus culturais”? Estudiosos da ética propõem então um retorno àquilo que eles chamam

de comunidade primeira, de comunidade nativa (Ibid., p. 53-54). Trata-se, segundo e-

les, de retornar ao mundo humano, ou seja, àquelas estruturas elementares, básicas,

comuns à existência humana e que precedem a “moral legislada”. Infelizmente, segun-

do Bauman, essa reflexão sobre a “comunidade primeira” foi, durante muito tempo,

completamente esquecida pela filosofia e pela política. Ela foi tachada de conservadora,

nostálgica e romântica, enquanto que a posição contrária era considerada como pro-

gressista, científica e moderna. Hoje os fatos estão mostrando que, na verdade, apenas

perdemos o bom senso em nome do progresso e da ciência.

Para evitarmos a dominação de uma cultura sobre outra é indispensável ver a

questão ética na perspectiva do relacionamento do “eu” com “o Outro”. E para construir

uma convivência pacífica é necessário criar uma estrutura contínua de diálogo, de con-

versação, na busca de um consenso sobre os pontos comuns básicos da existência

humana. Nesse diálogo a condição dos participantes de “seres não iguais”, ou seja, cul-

turalmente diferentes, precisa estar constantemente alimentada pela condição de “seres

para os outros”. É preciso que cada participante do diálogo tenha a vontade e o desejo

de superar a solidão, o isolamento e a indiferença, enquanto formas deficientes da con-

dição humana. Além disso, é preciso que cada participante do diálogo tenha plena

consciência de que a sua responsabilidade é sempre maior do que a do outro. E o inte-

resse pelo outro não deve ter outro motivo senão o outro como fim em si mesmo (Ibid.,

p. 58-65).

c) Pressupostos para o diálogo ético

Além do mais, no diálogo é preciso que estejam presentes alguns pressupostos:

o propósito do sacrifício, o princípio da não-reciprocidade e a superação da moral con-

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tratual. O propósito do sacrifício nada mais é do que a consciência e a disposição para

abrir mão de alguma coisa em função de algo bem maior, mais significativo e mais dig-

no do que aquilo que eu queria para mim mesmo.

“Ajudar-se mutuamente pode requerer sacrifício, e fazer sacrifício

é assunto de moralidade. Não importa se me beneficio do meu sacrifício

agora ou no futuro, na vida ou no após-vida. O que importa é que dei mi-

nha contribuição para a continuação daquele grupo por cujo sucesso se

medem o bem e o certo” (Ibid., p. 67).

Isso significa

“que a moralidade é uma posição racional a se tomar, uma vez que tem um propósito; e

que esse propósito é a autopreservação: sobrevivência ou imortalidade em nível individual ou

coletivo. A moralidade ‘faz sentido’. A moralidade é algo ‘para’. Os atos morais são meios para

um fim. É o fim que conta. A moralidade é a serva da existência, instruída pela razão que a mo-

nitora. A moralidade é o que um ser racional, sendo razoável escolheria” (Ibid., 68).

O princípio da não-reciprocidade, por sua vez, significa que a pessoa não espera

o resultado da ação das outras pessoas para agir eticamente ou moralmente. Ela, com

tranquilidade e serenidade, comporta-se eticamente porque tem consciência e convic-

ção de que isso faz parte da sua condição de ser humano. Dito de outra forma: a pes-

soa não espera ser reciprocada, isto é, recompensada ou presenteada para agir etica-

mente. Ela age normalmente, independentemente do fato de ser ou não reconhecida

por aquilo que faz. Portanto, a prática da ética não está condicionada pela reciprocida-

de, como acontece, por exemplo, numa transação comercial ou na prestação de servi-

ços. Nestes dois últimos casos o comportamento moral vai depender da moralidade de

ambos os lados, ou seja, espera-se que as duas partes cumpram suas obrigações si-

multaneamente, conforme foi estipulado no contrato. No verdadeiro comportamento éti-

co a pessoa permanecerá ética mesmo que a outra parte não cumpra o seu dever (I-

bid., p. 68-70).

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Isso significa que o comportamento ético supera, vai além da moral contratual (I-

bid., 70-74). Acabamos de ver que a essência de um contrato consiste no cumprimento

do dever de ambas as partes, conforme o que foi acordado anteriormente. Mas, neste

caso, o que se dá é uma simples convenção jurídica, através da qual cada uma das

partes não é obrigada a ir além daquilo que foi definido no contrato. No contrato a pes-

soa olha em primeiro lugar a ação da outra parte, avaliando se ela cumpriu ou não o

que foi estabelecido. E se a outra parte não cumpriu o seu dever a pessoa fica dispen-

sada de cumprir a sua. A ética, porém, vai muito mais além. Como afirma Bauman, ela

é endêmica e não-racional, ou seja, ela é natural e não se deixa levar pelo cálculo e por

regras previamente estabelecidas. A ética é um apelo à consciência do indivíduo. Ela

“apela a minha responsabilidade, e a urgência de cuidar assim elícita não pode ser su-

avizada e aplacada pela certeza de que outros o façam por mim, ou que já fiz a minha

parte seguindo à letra o que outros costumam fazer” (Ibid., p. 73).

O comportamento regulado por contrato se atém às regras codificadas formadas

por um verdadeiro emaranhado de prescrições e de proibições. O comportamento ético,

pelo contrário, segue, segundo Bauman, a condição da anomia perpétua, ou seja, o

apelo à minha própria liberdade de agir ou não de forma verdadeiramente humana.

Posso inclusive permanecer sozinho na prática da ética, mesmo vivendo com as outras

pessoas. Sou por natureza um ser ético porque sou humano. E agir humanamente está

no meu próprio DNA, sem necessidade de nenhum tipo de raciocínio e de demonstra-

ção. Mas posso decidir não agir humanamente, contrariando a minha própria natureza,

a minha própria condição de ser humano. No comportamento regulado por regras mo-

rais codificadas a pessoa age apenas para não desobedecer à lei e não ser punido. No

comportamento ético a pessoa age por ter a consciência e a convicção de que, para ser

verdadeiramente humana, ela precisa agir daquela maneira. Ela age honestamente an-

tes mesmo de qualquer prescrição da sociedade, antes dos legisladores e da palavra

dos filósofos. A bondade ética, afirma Bauman, não é uma “bondade codificada”, é algo

instintivamente humano que se retira do palco da vida quando os conceitos, os padrões

e as regras começam a se apresentar. Enquanto algo profundamente humano a ética,

segundo Lévinas (apud ibid., 75) “constitui um escândalo no ser”. Para a pós-

modernidade e para o mercado ela é uma “doença”.

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d) A vocação de ser anjo bom

Os pressupostos indicados nos mostram que ser ético é ser curador, cuidador,

“anjo bom” para as outras pessoas. No século V a.C. o filósofo Heráclito afirmou que o

ethos, a casa, a morada “é o anjo bom do ser humano” (apud BOFF, 2003, p. 33). Para

falar de anjo bom ele usa a expressão grega δαιµον (daimon), cujo significado não é

demônio, como definimos hoje, mas anjo bom ou gênio protetor. Cabe ao daimon, ao

anjo bom, buscar o “bom astral”, ou seja, construir um ambiente que seja realmente ha-

bitável.

Como anjo bom, cabe, a cada um e a cada uma de nós, estabelecermos um con-

junto de relações verdadeiramente humanas, que tornem a nossa morada (casa, rua,

município, estado, país, planeta, cosmos) realmente habitável e gostosa. Cabe a cada

pessoa a responsabilidade de cooperar para a convivência pacífica e sustentável de

todos os seres humanos da Terra. O anjo bom, como gênio protetor e benfazejo “faz

das quatro paredes e do conjunto das relações a morada humana, na qual nos senti-

mos bem, amamos e, se tudo der certo, morrermos tranquilamente” (Ibid., p. 34). Mas

para que possamos ser anjos bons é preciso escutar aquela voz interior,

“a voz da interioridade, aquele conselheiro da consciência que dissuade

ou estimula, aquele sentimento do conveniente e do justo nas palavras e

nos atos que se anuncia em todas as circunstâncias da vida, pequenas ou

grandes. Todos possuem o daimon, esse anjo protetor que nos acompa-

nha sempre, um dado tão objetivo como a libido, a inteligência, o amor e o

poder” (Ibidem).

Aqui, portanto, mora o desafio para o exercício da ética. Infelizmente os sistemas

que predominam em nossas sociedades favorecem a concorrência, o egoísmo e a indi-

ferença. Não estimulam a escuta da própria interioridade, da própria consciência. So-

mos a sociedade do barulho, onde é quase impossível silenciar para entrar em si mes-

mo e escutar os apelos da interioridade e os conselheiros da consciência. E quando

ainda escutamos a nós mesmos nos tornamos surdos ao clamor dos demais seres

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(OLIVEIRA; BORGES, p. 33-47). Isso porque os sistemas são construídos artificialmen-

te e “não raro funcionam como imperativos, quais superegos castradores, mais do que

inspiradores de comportamentos criativos” (Ibid., p. 35). Por isso hoje, como o Caim da

narração do livro do Gênesis da Bíblia hebraica e cristã, permanecemos insensíveis e

indiferentes, mesmo sabendo que somos responsáveis pelo que acontece com os ou-

tros. Com frequência escutamos a pergunta: “o que eu tenho a ver com isso?”. Como o

Caim da narrativa bíblica – diante da pergunta de Deus acerca do que tinha acontecido

com seu irmão Abel que ele mesmo tinha matado – também nós respondemos: “Não

sei. Porventura sou eu o guarda do meu irmão?” (Gn 4,9).

Comentando esse episódio Lévinas afirma que a “resposta de Caim é sincera.

Só que o ético está ausente aí; a resposta nasce somente da ontologia; eu sou eu e ele

é ele. Somos seres ontologicamente separados” (apud BAUMAN, p. 83). É a perda do

“face-a-face”, o rebaixamento e a destronação da ética. Com isso esquecemos que eu

só posso ser inteiro diante do Outro, diante de um Tu. Esse estar diante de um Tu signi-

fica que ontologicamente, na essência do meu ser, só posso ser inteiramente humano,

totalmente realizado como pessoa humana, se assumo a minha vocação de guarda da

felicidade e do bem-estar de todos os outros seres humanos (Ibid., p. 83-92). Portanto,

ser uma pessoa ética

“significa que eu sou guarda de meu irmão. Mas também significa que eu

sou guarda de meu irmão quer o meu irmão veja, quer não seus próprios

deveres fraternos da mesma forma que eu vejo; e que eu sou guarda de

meu irmão não importando o que outros irmãos, reais ou putativos, fazem

ou podem fazer. Pelo menos, eu só posso ser adequadamente seu guar-

da se ajo como se eu fosse o único obrigado, ou mesmo apto, a agir des-

sa maneira [...]. Isso é o que conta, quer façam, quer não todos os irmãos

do mundo por seu próprio irmão o que eu estou a ponto de fazer [...]. Mi-

nha responsabilidade é sempre um passo a frente, sempre maior que a do

Outro” (Ibid.: 63).

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Concluindo: Ética e Utopia

Isso tudo pode soar como utopia, mas como afirma Lévinas (apud ibid., p. 90)

não há ética sem utopia. Bauman acrescenta que não se trata de uma “fantasia utópica,

vagabunda e abstrata”, mas de uma utopia ativa realmente capaz de gerar uma ação.

Trata-se daquele horizonte que me anima a caminhar, mesmo que, caminhando, eu

nunca chegue a tocá-lo. Esse tipo de utopia nos desperta e nos leva a um confronto

corajoso conosco mesmos. Somente a utopia, sempre segundo Bauman, interpretando

Lévinas, nos arranca da egolatria, do egoísmo e do egotismo e nos faz agir com sensa-

tez, encarando o outro e tornando-me verdadeiramente humano. De fato somente esse

me colocar diante do outro me faz uma pessoa verdadeiramente realizada, pois a au-

têntica realização da pessoa humana não está no “eu sou eu”, mas no “eu sou para”.

Portanto, quem não se torna guarda do outro não só perde a oportunidade de ser ético,

mas perde também a oportunidade de ser ele mesmo. Sem responsabilidade não há

ética e não há verdadeira realização humana (Ibid., p. 89-96).

Não nos esqueçamos de que as leis e as normas são apenas tranquilizantes e

segurança para a consciência, uma prevenção para que ela não se sinta culpada. Mas

o limitar-se ao cumprimento das leis pode ter um efeito colateral: a perda da autonomia.

A pura e a simples prática da lei prometem tudo, mas não a harmonia e a paz de espíri-

to. Por mais paradoxal que seja é a ansiedade ética que produz a serenidade e a reali-

zação plena uma vez que é ela a única substância para a felicidade. É o ímpeto de fa-

zer, a busca pela humanização que realiza a pessoa. O simples conhecimento e a pura

sensação do dever corretamente cumprido não são suficientes para dar ao ser humano

a verdadeira felicidade.

“Essa incerteza sem qualquer saída é precisamente a fundamen-

tação da moralidade. Reconhece-se a moralidade por seu sentido corrosi-

vo de não-cumprimento, por sua endêmica insatisfação consigo mesma.

O eu moral é um eu sempre perseguido pela suspeição de que ele não é

suficientemente moral” (Ibid., p. 93-96).

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Bauman conclui suas reflexões sobre esta questão indicando os santos como pa-

radigma do autêntico comportamento ético. Na opinião dele os santos são aquelas pes-

soas que “não se escondem atrás dos ombros largos da Lei” (Ibid., p. 96). Santa é a-

quela pessoa que sabe, que sente, que age como se não existisse nenhuma lei. Ela

sabe que as leis, por mais generosas e humanas que sejam não são capazes de esgo-

tar toda a moralidade e toda a ética. As leis e as normas não levam a consequências

radicais do “ser para”, inclusive um fim radical, uma escolha extrema como o martírio. A

ética para ser realmente eficaz no mundo de hoje precisa orientar-se pelo comporta-

mento dos santos, por padrões impraticáveis, por metas inalcançáveis que estarão

sempre à nossa frente como horizonte para o qual caminhamos. Precisa recusar a auto-

justificação e cultivar permanentemente a auto-indignação.

Precisamos, pois, resgatar o daimon, essa vocação de anjo bom próprio de cada

ser humano. A ética precisa estar permeada por esse sentido, possibilitando-nos uma

visão e uma prática realmente humanizantes. Esse tipo de ética é

“uma afirmação da capacidade humana para além dos requisitos morais

racionalizados. Ela parte de uma fé no ser humano. Ela acredita que a es-

sência humana se traduz em noções como cuidado, amor, procura, per-

tença, integração, interconectividade, afeto, ternura... Esses são os valo-

res hoje evocados diante da maior crise que a humanidade talvez tenha

vivido, a crise da sua própria essência, a crise da sua própria existência”

(OLIVEIRA; BORGES, p. 17).

Referências bibliográficas

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