A UTILIZAÇÃO DO BLOG COMO INCENTIVO DE LEITURA E · papel quando for capaz de transformar...
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A UTILIZAÇÃO DO BLOG COMO INCENTIVO DE LEITURA E DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA
Maely Barbosa da Costa¹
Vladimir Moreira²
RESUMO
Este material propôs o uso do blog como espaço de interação
entre leitores, uma vez que vem ao encontro das expectativas e necessidades
da educação básica, articulando a teoria e a prática para amenizar os
problemas já instalados nesse nível de ensino. Ler uma obra literária e, a partir
dela elaborar textos em gêneros diversos para publicar em um blog, foi uma
estratégia produtiva, uma vez que o aluno passou a ter um interlocutor real.
A autoria na internet - nesse caso, por meio da criação de blog –,
também possibilitou a socialização dos conhecimentos, permitindo
recebimento de críticas e a complementação de ideias, levando novamente a
reflexão sobre conceitos elaborados.
Sendo assim, este projeto propiciou atividades de leitura e produção de
gêneros textuais como formas de atender a diversas intenções de
comunicação.
Palavras-chave: Leitura; literatura; blog.
¹A autora deste artigo é especialista em Língua Portuguesa e professora do quadro próprio do magistério do Estado do Paraná. ²Graduado em Licenciatura Plena em Letras Vernáculas e Clássicas pela UEL, Mestre em Língua Portuguesa pela PUC – SP e doutor em Semiótica e Lingüística Geral pela USP. Coordenador do PDE. Orientador.
1. INTRODUÇÃO
Dentre as unidades de ensino de língua materna, a leitura e a produção
de texto destacam-se por ser por meio delas que se produzem sentidos e os
significados das “coisas” do mundo. Sendo assim, a escola só cumprirá seu
papel quando for capaz de transformar leitores/produtores de texto em
verdadeiros cidadãos que saibam pensar e agir. Desse modo, o projeto PDE,
desenvolvido por nós, propôs o uso do blog como espaço de interação entre
leitores, uma vez que vem ao encontro das expectativas e necessidades da
educação básica, articulando a teoria e a prática para amenizar os problemas
já instalados nesse nível de ensino. Ler uma obra literária e, a partir dela,
elaborar textos em gêneros diversos para publicar em um blog é uma
estratégia produtiva, uma vez que o aluno passa a ter um interlocutor real.
Os gêneros que circulam socialmente contribuem para organizar e
estabilizar as atividades comunicativas. Segundo Bakhtin, todos os textos que
produzimos, orais ou escritos, apresentam um conjunto de características
relativamente estáveis, tenhamos ou não consciência delas. Essas
características configuram diferentes textos ou gêneros do discurso, que
podem ser caracterizados por três aspectos básicos coexistentes: o tema, o
modo composicional (a estrutura) e o estilo (usos específicos da língua). Ele
explica que os gêneros são aprendidos com a linguagem, por meio de
enunciados concretos e, como prática, eles moldam os discursos em formas de
gêneros. Desse modo, tendo em vista a necessidade discursiva, o indivíduo se
obriga a apreender determinadas construções composicionais que se
evidenciam pela padronização.
Nesse sentido, o que se propôs com esse projeto é que, a partir da
leitura de uma obra literária, fossem elaborados textos em gêneros diversos,
para serem publicados em um blog. Isto porque a autoria na internet – nesse
caso, por meio da criação de blog – possibilita a socialização dos
conhecimentos, permitindo recebimento de críticas e a complementação de
ideias, levando-os novamente a reflexão sobre conceitos elaborados.
Com base nos pressupostos estabelecidos, o presente estudo
entende como intrínseco no trabalho com a prática textual, a diversidade de
gêneros textuais e o caráter interativo da linguagem, por meio dos quais os
textos tenham circulação na prática social. Sendo assim, a função do
professor é propiciar ao aluno conhecimento de diversos gêneros textuais e
discursivos para que ele possa fazer uso daquelas que realmente façam
sentido para si. A utilização do blog possibilita o desenvolvimento da
aprendizagem, facilita os processos de cooperação, da expressão criadora e
da interatividade, ou seja, cria condições para uma participação mais ativa e
frequente dos alunos.
De acordo com Marcuschi (2010):
parte do sucesso da nova tecnologia deve-se ao fato de
reunir em um só meio várias formas de expressão, tais
como texto, som e imagem, o que lhe dá maleabilidade para
a incorporação simultânea de múltiplas semioses,
interferindo na natureza dos recursos linguísticos utilizados.
Sendo a internet composta pela hipermídia, há uma mistura de
diversas linguagens, trazendo, assim, “descontração e informatividade,
tendo em vista a volatilidade do meio e a rapidez da interação” (Marcuschi,
2010). Portanto, ela pode contribuir para o letramento digital, possibilitando a
democratização dos saberes, ampliando assim, o conceito de leitura e
aprendizagem.
2. PÚBLICO ALVO
O que observamos nas salas de aulas de hoje é que falta aos jovens
a motivação, o incentivo da família e, às vezes, até da própria escola para a
prática da leitura. Isso tem sido comprovado pelos baixos índices de
rendimento escolar do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).
Talvez essa falta de interesse pela leitura ocorra pelo uso mais fácil de
tecnologias e mídias, ou falta de acesso aos livros. O fato é que nossos alunos
pouco leem. Consequentemente, há também, muita deficiência e limitação de
argumentos na sua produção escrita. Nesse contexto, não reconhecem a
importância da leitura e da escrita para seu desenvolvimento intelectual e
social.
Nesse sentido, a função do professor é propiciar ao aluno condições
e novas alternativas para a prática de leitura e escrita, uma vez que a razão
fundamental do ensino de língua materna é tornar o aluno capaz de interpretar
diferentes textos que circulam socialmente e de produzir textos eficazes nas
mais variadas situações de comunicação. Agindo desse modo, ele estará
desempenhando um trabalho que realmente tenha relevância.
O projeto “A construção do Blog como mecanismo de interação para
o desenvolvimento da expressão criadora”, com o propósito de diminuir a
artificialidade na produção textual, teve como público alvo, alunos do 9º ano do
Ensino Fundamental, do Colégio Estadual Antônio Diniz Pereira – Ivaiporã/PR,
e foi desenvolvido durante os meses de agosto a dezembro de 2011.
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A linguagem é uma atividade humana, histórica e social. É um lugar
de interação e comunicação pela produção de efeitos entre interlocutores.
Seu estudo deve, portanto, contribuir no auxílio de solução de problemas
cotidianos, assim como propiciar o acesso aos bens culturais acumulados
pela humanidade e familiarizar o aluno com os diferentes gêneros que
circulam nas diferentes esferas sociais.
Para Bakhtin:
A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a
variedade virtual da atividade humana é inesgotável, e cada esfera
dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que
vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se
desenvolve e fica mais complexa.
Diante da enorme heterogeneidade dos gêneros, Bakhtin divide-os
em primários e secundários. Aos primários, se refere os da comunicação
cotidiana que se formam nas condições discursivas imediatas, sobretudo a
oralidade. Já, os secundários são os que surgem a partir dos códigos
culturais mais complexos e organizados, principalmente, na escrita como
romance, ciência, arte, religião, política, etc. Assim sendo, serão
contemplados neste trabalho a produção de alguns gêneros como o artigo
de opinião, a carta argumentativa e a resenha.
Frequentemente, no dia a dia, temos de apresentar nossas ideias,
defendê-las e até mesmo convencer nossos interlocutores a concordar
conosco ou aceitar nosso ponto de vista. Isso significa que a todo momento
produzimos discursos argumentativos, isto é, textos orais ou escritos que
têm o objetivos de apresentar opiniões e defendê-las, além de tentar
convencer quem nos ouve ou lê.
Schneuwly (2010) compreende o gênero textual como uma
ferramenta, isto é, como um instrumento que possibilita exercer uma ação
linguística sobre a realidade. Para ele, o uso de uma ferramenta resulta em
dois efeitos diferentes de aprendizagem: por um lado, amplia as
capacidades individuais do usuário; por outro, amplia seu conhecimento a
respeito do objeto sobre o qual a ferramenta é utilizada. Por exemplo, ao
utilizarmos um machado, nós não apenas aprendemos como usá-lo cada
vez melhor, mas também passamos, a saber, mais sobre a dureza da
madeira e dos troncos.
As DCEs (Diretrizes Curriculares da Educação Básicas) dizem que
alguns gêneros são adaptados, transformados, renovados, multiplicados ou
até mesmo criados a partir da necessidade que o homem tem de se
comunicar com o outro e cita como exemplo o surgimento dos gêneros do
discurso eletrônico (e-mail; chat; lista de discussão; videoconferência
interativa; fórum de discussão; blog), que são criados e transformados pela
cultura tecnológica na qual estamos inseridos.
Para Marcuschi (2005), a tecnologia favorece o surgimento de formas
inovadoras, mas não absolutamente novas, como Bakhtin ( 1997) já falara
na “transmutação dos gêneros e na assimilação de um gênero por outro
gerando novos.
Ainda citando Marcushi:
em plena fase da denominada cultura eletrônica, com o telefone, o
gravador, o rádio, a TV e, particularmente o computador pessoal e
sua aplicação mais notável, a internet, presenciamos uma
explosão de novos gêneros e novas formas de comunicação, tanto
na oralidade como na escrita.
Dessa forma, fazemos uso dos gêneros textuais que nos foram
transmitidos sócio-historicamente, o que quer dizer que não seja possível
transformar esses gêneros, ou criar outros, de acordo com as novas
necessidades de interação verbal que surgem. Nesse sentido, para
Marchuschi: “esses gêneros que emergiram no último século no contexto
das mais diversas mídias criam formas comunicativas próprias com um certo
hibridismo (...) também permitem observar a maior integração entre os vários
tipos de semioses: signos verbais, sons, imagens e formas em movimento.
As características dos gêneros, no contexto digital, permanecem
presentes nas diversas formas da linguagem, porém com contribuição de
novos elementos de interação e participação do leitor. A noção de texto não
sofreu nenhuma alteração com a internet, o que diferencia são as
modalidades de interação que esse instrumento oferece. Para Leffa ( 2006 ),
“a interação parte da ideia de contato , podendo ser definida como um
contato que produz mudança em cada um dos participantes”. Com efeito, a
interação no ambiente virtual é propiciada pela interface entre o usuário e o
computador, bem como através do contato com outros usuários por meio de
links.
Segundo Xavier (2010), vemos emergir uma tecnologia de linguagem
cujo espaço de apreensão de sentido não é apenas composto de palavras,
mas, junto com elas encontramos sons, gráficos e diagramas, todos
lançados sobre uma mesma superfície perceptual, formando um todo
significativo. É assim, o hipertexto. Para ele, hipertexto é uma forma híbrida,
dinâmica e flexível de linguagem que dialoga com outras interfaces
semióticas, adiciona e acondiciona à sua superfície formas outras de
intertextualidade. Assim sendo, a quebra da linearidade é produto da
interação, troca de informações pelo hipertexto proporcionadas pelas
práticas sociais das situações comunicativas.
Através do hipertexto, a leitura do mundo tornou-se virtualmente
possível, por permitir que seja acessada por mais de um leitor
simultaneamente, independente do local e do tempo. O hipertexto difere do
texto impresso por oferecer ao leitor apenas unidades de informação sem
que haja um eixo narrativo ou argumentativo que os relacione entre si de
forma sequencial ( Braga, 2004). De acordo com ela, a hipertextualização
permite que o leitor, durante sua leitura, explore o conjunto de opções
disponibilizados pelos links e construa uma conexão coerente entre eles,
tendo, assim, a oportunidade de ampliar as ocasiões de produção de
sentido e enriquecer sua leitura. Além disso, ela oferece recursos
expressivos que alteram as práticas linguístico-discursivas propiciadas pela
interação.
A internet tem se tornado um dos meios de difusão de mensagens
mais acessíveis e, desse modo, sua linguagem também se propagou e se
tornou globalizada, transformando-se num poderoso instrumento para
praticar a linguagem nas diversas formas. “ o espaço cibernético tem se
tornado um lugar essencial, um futuro próximo de comunicação e de
pensamento humano” (Galli, 2010). Como resultado, permite que as
atividades de linguagem se materializem, fazendo com que o sujeito tenha
maior desenvoltura e se torne mais autônomo.
Para Moran (2007), “O sistema educacional precisa dar mais atenção
aos recursos midiáticos, pois, atualmente, as manifestações expressivas dos
jovens e das crianças são polivalentes”. Com efeito, eles necessitam de
vários recursos como: dramatização, vídeo, imagem, jogo, música e outros.
Essa revelação acontece porque o mundo é mais imagem. Os meios de
comunicação desenvolvem estratégias e formulas de sedução que
influenciam muitas pessoas. Diante disso, eles se tornam mais atrativos que
a escola, um sistema educacional que exige mais o desenvolvimento da
escrita e do raciocínio lógico.
A tecnologia oportuniza a aproximação entre professores e alunos.
Com os recursos disponíveis na Web é possível criar verdadeiras
comunidades virtuais e permitir que a construção do conhecimento se dê de
forma prazerosa, natural e divertida. A criação do blog pode ser um
diferencial e auxiliar significativamente na aprendizagem da leitura e escrita.
De acordo com Marcuschi (2010), os blogs funcionam como um diário
pessoal na ordem cronológica com anotações diárias ou em tempos
regulares que permanecem acessíveis a qualquer um na rede. No entanto,
na visão de Fabiana Komesu (2001), os blogs possuem características
diferenciadas dos diários tradicionalmente escritos, por ser acontecimentos
discursivos distintos, cuja materialidade advém de “gêneros do discurso”
também distintos.
Segundo STAA (2006):
o blog é um site cujo dono usa para fazer registros diários, que
podem ser comentados por pessoas em geral ou grupos
específicos que utilizam a internet. Em comparação com um site
comum, oferece muito mais possibilidade de interação, pois cada
post (texto publicado) pode ser comentado.
Por ser um recurso que permite que a produção, a publicação e a
interação entre o escritor e o público leitor se deem em um único ambiente,
facilita sua administração e também dinamiza o ambiente. Além disso, o blog
também possibilita a inserção de inúmeros recursos, os quais são capazes
de torná-lo mais atrativo e dinâmico. Para MORAN (2007), “a escola pode
ser um espaço de inovação, de experimentação saudável de novos
caminhos. Não precisamos romper com tudo, mas implementar mudanças e
supervisioná-las com equilíbrio e maturidade.”
O avanço da tecnologia permite o surgimento de novos gêneros
textuais, a adaptação de alguns e a evolução de muitos outros. De acordo
com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Língua Portuguesa, “é
preciso que o aluno se envolva com os textos que produz e assunta a
autoria do que escreve, visto que ele é um sujeito que tem o que dizer.
Quando escreve, ele diz de si, de sua leitura de mundo (...) A produção
escrita possibilita que o sujeito se posicione, tenha voz em seu texto,
interagindo com as práticas de linguagem da sociedade.”
Diante de novas práticas de leitura e escrita, propiciadas pela
interatividade, no ambiente virtual, o blog vem ganhando cada vez mais
espaço na web. Dentre as possibilidades, é o meio de tornar um texto
literário público. A leitura de obras literárias enriquece a formação cultural, e
também desenvolve a capacidade de estabelecer diálogo com outros textos
e formas peculiares de ver e representar o mundo.
Os gêneros literários sempre foram estudados pelo ângulo artístico-
literário de sua especificidade, nos limites da literatura e não enquanto tipos
particulares de enunciados que se diferenciam de outros. De acordo com
Kaufman e Rodríguez (1995), “os textos literários são textos opacos, não
explícitos, com muitos vazios ou espaços em branco, indeterminados.” Ela
explica que sua leitura exige que o leitor compartilhe do jogo da imaginação
para captar o sentido de coisas não ditas, de ações inexplicáveis, de
sentimentos não expressos.
Para bem cumprir seu papel na formação do leitor, a escola deve
mostrar a leitura como fonte de conhecimento e como fruição. A leitura não
deve ser objeto de avaliação e nem as obras impostas; que seja espaço de
liberdade da linguagem. Também, ainda para Kaufman e Rodrigues (1995),
que “possa permitir a análise dos mecanismos empregados pelo autor para
produzir beleza, viabilizando a recriação destes mecanismos em novas
criações”.
Portanto, um trabalho pedagógico, aliando a leitura literária com o
espaço do blog, amplia as possibilidades comunicativas do educando e
contribui para a melhoria de sua capacidade intelectual, fazendo com que o
sujeito tenha maior desenvoltura em seu meio social.
4. Análise do Córpus
Este trabalho, com o tema A Utilização Blog como Incentivo de Leitura e
Desenvolvimento da Escrita, foi realizado com o intuito de melhorar as práticas
pedagógicas, particularmente no que diz respeito à leitura e a escrita.
Como este projeto foi voltado para o uso da internet, especificamente o
blog, os alunos, receberam a proposição com entusiasmo. Assim, começamos
o trabalho com os alunos, falando sobre os objetivos e como seria o
desenvolvimento da proposta.
As primeiras atividades foram bem recebidas pelos alunos, iniciamos
falando sobre o que é um blog, função e algumas histórias de blogs
conhecidos. Em seguida, o objetivo que teria nosso blog e como iríamos
trabalhar com ele. A seguir, foi lido um texto sobre a origem e função do blog e
mostradas pela TV pendrive, algumas páginas de blogs relacionados à leitura e
literatura na escola. Em outra aula, os alunos foram ao laboratório de
informática para visitar alguns blogs. Para se familiarizarem com esta
ferramenta, os alunos foram convidados a escrever um pequeno texto de
opinião sobre o projeto e salvar o mesmo em suas pastas particulares. Alguns
alunos tiveram dificuldades de realizar essa pequena tarefa, mas com a ajuda
do professor e dos colegas, todos conseguiram finalizar.
A etapa seguinte, foi o trabalho com os gêneros textuais. Primeiro foi
feito um estudo sobre os gêneros literários em geral, porém não muito profundo
devido ao tempo para essa atividade. Foi feita a leitura e discussão de um
texto, do próprio projeto, sobre esse tema. A seguir, passamos para o gênero
literário novela. Novamente, foi trabalhado um texto do próprio projeto e feito
algumas reflexões sobre o assunto. Nesta parte teórica, os alunos não se
sentiram muito motivados, porém logo passamos para a prática de ler e discutir
a novela, A metamorfose, de Kafka. Essa etapa foi mais atraente para eles. Foi
feito um levantamento prévio para saber o que eles já tinham de conhecimento
sobre a obra e sobre o autor. Em seguida discutiu-se as possíveis significações
que o termo metamorfose poderia ter: como substantivo feminino, a mudança
de uma forma em outra; em Biologia, a transformação importante do corpo e do
modo de vida, no curso do desenvolvimento de certos animais, como os
batráquios e, na linguagem figurada, a mudança completa no estado ou no
caráter de uma pessoa. Numa aula foram ao laboratório de informática
pesquisar sobre Kafka e suas obras, inclusive a Metamorfose.
Então, foi disponibilizada para cada aluno uma obra para a leitura.
Foram feitas leituras compartilhadas dos primeiros capítulos, aguçando, assim,
a curiosidade deles para o desenrolar da trama. Logo, alguns deles já pularam
as etapas de leituras e leram a obra toda. Nesse ínterim, foi mostrada a eles,
no datashow, a versão da obra em quadrinhos. Conforme os quadrinhos iam
passando, discutia-se as semelhanças e diferenças entre as obras, bem como
análise de alguns dos elementos da narrativa que compõem a obra.
Logo após, iniciou-se o estudo de outro gênero, a resenha literária,
quando então os alunos produziram seus primeiros textos: uma resenha sobre
a obra lida e analisada, que é a Metamorfose, de Kafka.
“Em ‘A Metamorfose’ de Franz Kafka é narrada a história de Gregor Samsa, um
caixeiro viajante que vivia com sua família, a qual ele sustentava. Quando certa
manhã acordou de sonhos intranquilos, metamorfoseado em um inseto monstruoso,
ficando preso em seu quarto sendo motivo de repulsa.
Gregor já se sentia como um inseto quanto à vida que levava: desmotivado
com a rotina de sua profissão, que não o agradava, no entanto, suportava por sua
família. A “metamorfose” apenas esclareceu uma situação já existente. Gregor não se
questiona a respeito da atual condição, talvez estivesse gostando daquilo servir como
fuga para uma vida cansativa e sem sentido.
Ele enfrentou muitas dificuldades: sua atual condição não lhe permitia
comunicar-se com as pessoas. Assim, perdeu a confiança de todos, que não
acreditavam que aquela monstruosidade pudesse ser um membro da família. Viam
Gregor como um fardo a carregar, passando a querer livrar-se dele para ter de volta a
normalidade da rotina familiar
O livro mostra uma análise do valor sentimental e do interesse visível que
muitas pessoas possuem, ao dar muito valor a coisas materiais. Quando Gregor
Samsa tinha um emprego e sustentava a família, era respeitado. Mas, quando passa a
ser um ser insignificante inseto, fica desprezado. Também nos mostra a falta de
consideração e respeito as pessoas improdutivas ou até mesmo enfermas.
Gregor, ainda metamorfoseado em inseto, morre de fome ou de desgosto. Não
havendo explicação alguma acerca de como ele havia chegado à condição de um
inseto. Sua morte foi comemorada pela família com um passeio no campo. Depois
disso, é varrido da memória pela faxineira da casa”. (Ana Luísa)
Como toda produção textual, esta não foi uma tarefa fácil, nem tão
agradável para os alunos. Mas, como neste momento o blog já estava criado e
eles teriam que postar suas resenhas lá, isso serviu de incentivo para eles.
Cada um dos alunos produziu uma resenha, porém, como os programas dos
computadores existentes nas escolas é um pouco limitado, nem todos
conseguiram publicar suas resenhas, também ficaria muito repetitivo. Sendo
assim, apenas alguns postaram suas produções. No entanto, todas as outras
produções ficaram arquivadas em pastas individuais no computador. Neste
momento, já se percebia que os alunos estavam cada vez mais familiarizados
com os computadores e a internet.
A última etapa do projeto foi tentar fazer o diálogo da obra lida com
outras obras. Para esta atividade, a turma foi dividida em três grupos. Um
grupo trabalhou com a música A construção, de Chico Buarque. O trabalho
deles era pesquisar a letra da música, vídeos no youtube e pesquisar resenhas
sobre esta obra. A seguir teriam que postar no blog algo sobre A Construção e
também um texto de opinião produzidos por eles, fazendo um paralelo entre ela
e a Metamorfose, de Kafka.
“Nesta composição de Chico Buarque, mostra a indiferença, a opressão
exercida sobre os mais humildes, a redução, cada vez maior, da individualidade
humana. Registra o homem esquecido, perdido em seu anonimato.
Em um trabalho de intertextualidade percebe-se uma conexão de A
Metamorfose de Kafka, sobre a invisibilidade social, crise de existencialismo entre
outros temas A consciência social de Chico Buarque de Holanda em Construção é
evidente. Sabe o poeta que a poesia é o seu instrumento, o seu veículo de denúncia,
de crítica, de representação de uma realidade desumana e injusta, pois é preciso que
o homem não seja “máquina” nem “pacote”. Mas que signifique. Que também possa
exercer sua liberdade. Assim deve ser visto pela sociedade. Chico aponta para uma
estrutura social que não gostaria que existisse, para uma coisificação do homem que
não deve persistir.
Em Construção, o sujeito é generalizado. O homem é visto, em relação à
sociedade, de maneira trágica, oprimido, marcado pela inutilidade. Ele constrói, mas é
destruído.” ( Amanda e Daniela)
O segundo grupo teriam que pesquisar a música A metamorfose
ambulante de Raul Seixas: letra da música e vídeos, também teriam que fazer
as postagens no blog, como também produzir um texto de opinião sobre as
referidas obras. “As comparações possíveis dessa música com o livro ‘A Metamorfose’ de
Kafka é o modo engraçado e diferente dos personagens, que deixam suas marcas
registradas nessas obras.
A música de Raul Seixas mostra um pouco sobre uma época de ditadura e
forte repressão contra os cidadãos brasileiros. E o livro A Metamorfose, de Kafka
relata uma história fictícia de um homem que acorda transformado em um inseto
gigante, devido à falta de perspectivas de vida. Esse inseto se encaixaria com a
metamorfose ambulante de Raul Seixas: alguém que vive mudando ou querendo
mudar de jeito (metamorfose) e de lugar (ambulante), causado pela insatisfação de
sua vida.” (Thiago)
E a tarefa do terceiro grupo seria fazer uma pesquisa sobre o filme A
mosca. Teriam que fazer um texto de opinião traçando um paralelo entre elas.
Cada grupo tinha que fazer uma pequena apresentação da pesquisa para o
restante da aula. Assim a turma poderia opinar e acrescentar ideias ao grupo.
O grupo do filme da Mosca decidiu passar o filme para a sala toda e foi bem
aceito por todos.
“Existe uma grande relação entre o livro A metamorfose e o filme A mosca. Os
dois mostram um homem que se transforma em um inseto monstruoso.
Apesar dessa relação, as obras apresentam pontos diferentes. Em a
Metamorfose, o homem acorda transformado em um inseto e começa a se adaptar as
suas novas condições. Em a Mosca o homem se transforma por um acidente em seu
laboratório e as mudanças ocorrem aos poucos.
Os dois sofrem com as mudanças físicas e psicológicas. Samsa perde seu
posto de chefe de família Seth Brundle perde seu sonho de mudar o mundo com sua
nova invenção.
O apoio que eles receberam também tem algo em comum. A dor de Samsa de
ser rejeitado e maltratado pelo pai, de querer ver a mãe e a sua relação com a irmã é
muito tocante. Em A mosca, o homem tem apoio da namorada, que só se distancia
dele quando não existe mais a condição de conviverem juntos. Nenhum dos dois
personagens tem a possibilidade de viver com os humanos. Ao final os dois morrem
de uma forma muito triste.” (Jaqueline)
Terminada essa etapa, foi o momento das finalizações no blog. Porém,
como o ano já estava finalizando e a escola, entrando no período de
recuperações de estudos de final de ano, não houve tempo para uma
conclusão mais detalhada desta parte do projeto, assim, os acessos e
comentários no blog foram escassos. Contudo, a conclusão a que chegamos
sobre este projeto foi um tanto positiva. As dificuldades encontradas foram
muitas, principalmente quanto às limitações dos programas dos computadores
das escolas públicas e pelo fato da grande maioria dos alunos não ter acesso à
internet em casa. Mesmo assim, os avanços obtidos foram bastante
significativos e pretendemos repetir essa prática sempre que possível.
5. Considerações finais
Este trabalho de pesquisa partiu da ideia de elaboração de um blog com
o intuito de aprimorar a capacidade de leitura e produção de gêneros textuais
como forma de atender as diversas intenções de comunicação.
Assim, este projeto propôs o uso do blog como espaço de interação
entre leitores, articulando a teoria e a prática para amenizar os problemas de
leitura e escrita na Educação Básica.
Quanto à participação dos alunos nos trabalhos, estes demonstraram
grande empenho e entusiasmo durante todas as etapas de desenvolvimento do
projeto, ficando assim evidente a necessidade da inclusão das novas
tecnologias da informação nas práticas pedagógicas.
Por intermédio deste estudo, foi possível constatar que o uso da
ferramenta blog, pode funcionar como recurso pedagógico e estratégia
educativa.
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