A sustentabilidade como um atributo de marca
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A SUSTENTABILIDADE COMO UM ATRIBUTO DE MARCA
Artigo Científico apresentado junto à Escola
Superior de Propaganda e Marketing do Rio de
Janeiro para a obtenção do título de Pós-
Graduação em Comunicação Integrada.
Orientadora: Professora Bernadete Ângelo de Almeida
Autora: Renata Rollin Pinheiro
Rio de janeiro
2010
1
“Temos que ser a mudança que queremos ver no mundo”
(Ghandi)
2
PALAVRAS-CHAVE: Responsabilidade Social, Consumo e Cidadania, Reputação e
Identidade Corporativas.
3
I. INTRODUÇÃO
Este artigo procura levar à reflexão sobre o papel das organizações empresariais no
tempo em que o conceito de sustentabilidade ganha densidade no mundo dos
negócios. Aqui irei articular questões como a relação entre consumo e cidadania, a
responsabilidade social corporativa e como as empresas têm trabalhado esta
dimensão – a do sustentável e do ambiental e socialmente responsável como
atributo de marca.
Para tanto, foi realizado um trabalho de pesquisa documental em livros, sites,
revistas e relatórios anuais disponibilizados pelas empresas analisadas. O artigo
abordará a consolidação da responsabilidade social como um atributo de marca, e o
caso do Banco Real – Grupo Santander exemplifica o fenômeno.
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II. A RESPONSABILIDADE SOCIAL COMO UMA ESTRATÉGIA DE GESTÃO
A partir da década de 90, após a realização da Rio 92, ganha força o conceito de
desenvolvimento sustentável, forjado cinco anos antes, pela Comissão Brundtland
no documento Nosso Futuro Comum “é aquele que atende às necessidades do
presente sem comprometer a possibilidade de gerações futuras atenderem suas
próprias necessidades¹". As empresas começam a perceber que a boa gestão dos
impactos ambientais derivados da sua atividade podem se converter não só em
oportunidades de negócio, como também em diferencial competitivo, na medida em
que os steakholders passam a cobrar e valorizar uma nova conduta por parte das
empresas. Além disso, estabelecer um bom ambiente de trabalho e cuidar dos
relacionamentos da organização, tanto interna quanto externamente, ampliam as
chances de crescimento e longevidade da empresa.
Para tanto, faz-se necessário rever o modelo de produção assim como a cultura e
estrutura organizacionais para que estejam em aliança com os três setores da
sociedade (o setor público, o setor produtivo e a sociedade civil organizada) como
requer o conceito do triple botton line².
O macroambiente onde as empresas se inserem tende a privilegiar empresas que
estejam integradas ao ambiente e sejam conscientes do seu papel de cidadãs. Mais
do que transparência, é necessário ter uma conduta ética, responsável e íntegra
para com a sociedade. As empresas devem ser capazes de mobilizar pessoas em
prol da construção de um futuro melhor. Sua atuação deve ir além do compromisso
com seu próprio crescimento e direcionar-se de fato para uma preocupação com o
bem-estar do planeta do qual também depende a sustentabilidade de seu negócio.
¹ Nosso Futuro Comum, 1987
² O conceito de “Triple Bottom Line” foi cunhado por John Elkington, presidente do conselho da organização SustainAbility e
autor de vários livros e artigos sobre sustentabilidade. O termo se refere à base formada pelas três dimensões integrantes do
conceito de sustentabilidade: social, ambiental e econômico. Projetos que tomam por base o “triple bottom line” levam em
conta não apenas aspectos econômicos, mas também consideram no mesmo nível de relevância os aspectos sociais e
ambientais.
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Cada vez mais toda e qualquer iniciativa de negócio gera impactos sobre o lucro e o
mundo. Assim, um desempenho social adequado é primordial para evitar prejuízos.
O compromisso das empresas não deve ser apenas no sentido de uma
sensibilização ética, mas também no sentido econômico e mercadológico.
Compreende-se, através do triple bottom line, que a organização passa a trabalhar
com um enfoque de crescimento sistêmico, reconhecendo que a sociedade depende
da economia, que a economia depende do ecossistema global e que o ecossistema
depende da sociedade.
A gestão empresarial que visa somente o interesse dos acionistas não é suficiente.
O ambiente de negócios se reconfigurou com a emergência de atores sociais mais
críticos e que demandam das empresas novas posturas fazendo com que as
organizações precisem estar atentas aos seus stakeholders ao longo de toda a
cadeia produtiva. Além do mais, não adianta uma empresa se envolver em projetos
sociais se nas suas atividades não assume uma postura responsável.
Não adianta espalhar dinheiro por toda a parte para tentar ser socialmente responsável. É
preciso que as ações sociais, assim como as corporativas, sigam a estratégia da empresa e
estejam alinhadas a ela. (Michael Porter, Estratégia e Responsabilidade Social Corporativa)
A responsabilidade socioambiental vai além da legislação, exige um comportamento
pró-ativo, deve estar vinculada ao planejamento estratégico e ser praticada em todos
os relacionamentos. A preocupação com o impacto de sua gestão evidenciada em
seus atos é o que a diferenciará de uma empresa que pratica atividades sociais
pontuais sem estabelecer compromisso.
A filantropia perde espaço para o investimento estratégico, onde a responsabilidade social
precisa estar em sintonia com as estratégias de negócio, visando o longo prazo, e inclui a
preocupação com os efeitos das atividades nas comunidades em que se inserem. A partir da
década de 90, intensificou-se a percepção do impacto ambiental gerado pelos altos padrões
de consumo, deslocando a preocupação com os problemas ambientais relacionados à
produção para uma preocupação com os problemas ambientais relacionados ao consumo.
(Fátima Portilho, Sustentabilidade, Consumo e Cidadania)
Ampliar mercado e conquistar clientes não trarão bons resultados se os processos
que compõem a cadeia produtiva não forem considerados. Liderança e tradição de
mercado não são mais suficientes para manter a boa imagem de uma empresa. O
6
comportamento social e os valores de uma organização precisam ser compatíveis
com os do seu público de interesse.
Responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela relação ética e
transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo
estabelecimento de metas empresariais que impulsionem o desenvolvimento sustentável da
sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando
a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais. (Instituto Ethos)
O conceito de responsabilidade social corporativa deve focar o impacto das
atividades das empresas para seus stakeholders - funcionários, consumidores,
fornecedores, colaboradores, investidores, competidores, comunidades e governos.
Esse conceito deve refletir o compromisso com os procedimentos que irão
desenvolver processos empresariais no sentido de melhorar a vida da sociedade.
III. CONSUMO E CIDADANIA
Na sociedade de consumo que vivemos hoje vende-se não só o produto, mas o
espírito da marca, seus valores e crenças e a proposta de mundo para a qual
contribui. Dessa forma, o ato da compra passa a ganhar também um sentido
coletivo, integrado a um senso de cooperação com a humanidade, na medida em
que o indivíduo faz do consumo uma forma de participar da construção da
sociedade. Isto é, numa perspectiva sustentável, o indivíduo, a sociedade e a
natureza fazem parte de um tripé em constante mutação sob o qual as empresas
devem se equilibrar.
O consumo moderno preocupa-se mais em atender vontades do que em aplacar
necessidades, o que o torna uma atividade subjetiva, se aproximando dos
sentimentos e se afastando da razão. O consumo é parte do processo pelo qual os
indivíduos formam sua identidade. A partir daí, podemos dizer que a atividade do
consumidor se constitui numa resposta à crise de identidade na medida em que ao
perceber do que gostam ou não os indivíduos descobrem quem são e como querem
se inserir na comunidade em que vivem. Esta é a maneira de mostrar como se
colocam no mundo³. A tendência é que o ato de consumir esteja cada vez mais
7
atrelado ao desejo de pertencimento. A cidadania está diretamente ligada ao que se
consome e é principalmente por meio disto que se dá a inserção social.
Consumo e cidadania são inseparáveis, já que ambos criam e fortalecem sentimentos de
pertencimento a um grupo social. (Fátima Portilho, Sustentabilidade, Consumo e Cidadania)
Canclini, dentre outros autores, afirma inclusive que os indivíduos passam a exercer
sua cidadania no consumo, fazendo exigências ao mercado, pois ser cidadão tem a
ver com práticas sociais e culturais que dão sentido de pertencimento. Logo, nesta
perspectiva, ser cidadão equivale a entender como são produzidos, distribuídos e
utilizados os bens de consumo e considerar estas variáveis nas decisões de
consumo.
Surge, então, o conceito de consumidor cidadão, que, segundo o Instituto Ethos, “é
aquele que faz do ato de consumir também um ato político”. Esse tipo de
consumidor, mais consciente das conseqüências da sua ação social, se preocupa
com a cadeia produtiva daquilo que consome antes de se decidir por experimentar
uma determinada marca. A reivindicação política, neste caso, se configura no direito
de participar na elaboração desse sistema, definindo aquilo do que se quer fazer
parte e imprimindo sua assinatura na gestão do mercado.
Se considerarmos que os governos e as organizações civis não atendem as
demandas públicas, as empresas, em função dos impactos gerados por suas
atividades, são conclamadas a encontrar novas soluções, ampliando seu papel na
sociedade. Aos poucos, vai se construindo a compreensão de que a
responsabilidade é de cada um de nós.
³ Entende-se aqui como consumo o termo que designa o ato da compra, a ação em si.
IV. A VIRTUDE GERA BONS DIVIDENDOS
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O consumidor consciente e responsável tem um papel importante, pois suas
escolhas de consumo exercem pressão sobre o sistema de produção e sua
participação na esfera pública produz uma nova forma de existir enquanto sujeito
político.
No momento em que o ato de consumir começa a ganhar um novo significado no
qual as coisas escassas, caras e desejáveis não mais serão objetos de valor, mas
sim elementos intangíveis como paz, sossego, espaço, silêncio, ar puro, água
potável e etc, a noção de luxo se reconfigurará, valorizando o necessário para
manter uma qualidade de vida melhor. A sociedade passa a valorizar aquilo que
garante a sustentabilidade das gerações futuras.
As organizações, por sua vez, devem entender o que seus consumidores valorizam
e a partir disso construir a identidade de suas marcas. Na medida em que se cria
uma relação de confiança, a marca pesa na escolha do consumidor que acredita nos
seus atributos.
O mercado vê no meio ambiente um tema estratégico e uma oportunidade de
negócios. De posse dessa nova plataforma, as empresas assumem a
responsabilidade de minimizar problemas ambientais o que estimula o uso de
tecnologias limpas e o desenvolvimento de produtos verdes e ecologicamente
corretos, pois, num cenário onde a sustentabilidade desponta como uma questão
relevante, a percepção do consumidor sobre o posicionamento socialmente
responsável de uma empresa pode gerar bons dividendos não só para a empresa
mas também para a sociedade.
No novo cenário, a reputação da marca possui valor estratégico, pois influencia a
fidelidade dos clientes e o preço das ações. A competitividade está cada vez mais
centralizada em elementos intangíveis. A reputação baseia-se em como os
stakeholders vêem a empresa, logo, as empresas desejarão produzir um retrato
atraente para seus públicos de relacionamento.
9
As empresas estão sujeitas ao julgamento da opinião pública. O acesso de grande
parte da população à informação aumenta a politização dos cidadãos que reagem se
o comportamento de uma organização se desvia da conduta aceita e valorizada pela
sociedade. Dessa forma, o público passou a questionar o papel das organizações na
sociedade e começa a demandar uma produção consistente com valores ambientais
e sociais. Portanto, é, cada vez mais, a forma como a empresa se relaciona com
seus stakeholders que garante a sua longevidade e o seu desempenho econômico.
Manter um diálogo constante e transparente com a sociedade surge como uma
forma de assegurar o crescimento e a sustentabilidade organizacional. O
comportamento socioambiental correto tem efeito positivo no valor de mercado da
empresa, devido aos menores riscos percebidos pelos investidores. O Índice de
Sustentabilidade Empresarial da Bovespa e a carteira Ethical (criada pelo Banco
Real), dentre outros, criam valor a longo prazo para os acionistas considerando
critérios econômicos, ambientais e sociais. Estes índices revelam um mercado
formado por fundos públicos e privados dispostos a investir em empresas com boa
conduta social. Atrelar uma imagem ética e socialmente responsável à marca é um
fator estrategicamente importante para a competitividade moderna.
No entanto, a credibilidade de uma empresa não pode ser construída de forma
isolada. Ao contrário, ela é, sim, influenciada pela imagem das empresas às quais se
associa em sua cadeia produtiva. É a unidade e a coerência de todas as decisões
estratégicas dos agentes da cadeia que geram uma identidade positiva.
Importante também levantar que a Responsabilidade Social não deve ser vista como
ação de marketing, mas sim como um princípio que norteia toda a empresa,
devendo ser apropriada por seus interlocutores e reforçando não só sua imagem
como também sua própria identidade. A política de Responsabilidade Social deve
estar refletida em cada ação, na sua postura e atitudes em geral para que seu
público perceba e reconheça este compromisso.
Neste momento, o processo de comunicação interna é vital no engajamento efetivo
da força de trabalho no diálogo entre a empresa e a sociedade, tendo como foco a
10
criação de uma cultura que assimile e sustente o conceito de Responsabilidade
Social.
V. ESTUDO DE CASO – BANCO REAL – GRUPO SANTANDER
A escolha do Banco Real – Grupo Santander como ilustração para este artigo se
deve ao fato desta organização ser uma referência em estratégias de
responsabilidade social, tendo ganhado o prêmio de melhor empresa sustentável do
Guia Exame de Sustentabilidade por três anos consecutivos. Sobretudo, esta
escolha se deve à análise do quanto a sustentabilidade tem sido trabalhada após a
compra do Banco Real pelo Grupo Santander.
Sua integração da sustentabilidade teve início em 2001 com o projeto Banco de
Valor. A construção de uma nova cultura foi feita no dia a dia, com o trabalho de
todos os funcionários, de dentro para fora. O Banco acreditava que indivíduos
conscientes de seu papel na sociedade são agentes da sustentabilidade dos
negócios. Como parte de sua estratégia, criou, por exemplo, financiamentos
socioambientais para que os clientes empresariais pudessem resolver questões
como o tratamento de resíduos. Passou a oferecer também à pessoa física
empréstimos diferenciados para o aprimoramento profissional.
Somos prestadores de serviços financeiros e acreditamos que a confiança deve ser a base de
todos os nossos relacionamentos. Criaremos vínculos de qualidade entre nós, funcionários, e
com nossos clientes, fornecedores e acionistas para juntos buscarmos idéias inovadoras em
gestão, produtos e serviços que respondam aos desafios da nossa época. (Compromisso do
Banco Real)
O processo de fusão do Banco Real com o grupo Santander teve início em 2007 e
cumpre um cronograma que deve ser concluído em 2010 com a fusão total das duas
marcas. A equipe de sustentabilidade do Banco Real migrou para o Santander e
iniciou todo o trabalho de sensibilização dos funcionários realizado em 2001 no Real,
agora, com a equipe do Santander. É um recomeço, trabalhar novamente de dentro
para fora, construir uma nova identidade antes de posicionar sua imagem ao público
externo.
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O movimento de sustentabilidade está se expandindo para fortalecer o
posicionamento do grupo nessa questão. Para tanto, foram promovidos workshops
sob medida para cada área (cartões, segmento pessoa física, compliance etc).
Diferente do ano de 2001, hoje, essa discussão encontra campo mais fértil,
facilitando a adesão dos funcionários.
A campanha de comunicação que tem como mote “unidos somos ainda mais fortes”,
reforça a idéia de fusão das duas marcas e traz à tona a expertise de cada uma das
duas empresas no contato com o seu público de interesse. Os próximos passos
serão rever toda a identidade dessa nova empresa que resultará da fusão das duas
e a partir daí recomeçar todo o processo de diálogo social.
Queremos ao nosso lado o cliente que se identifica com os mesmos valores. Aquele que
escolheu o banco por acreditar que fazer sucesso não se resume somente ao lucro, mas
também ao jeito como ele é obtido. Queremos no nosso banco aquelas pessoas que
decidem investir seu dinheiro em empresas com práticas sustentáveis porque enxergam a
boa rentabilidade e o benefício para a sociedade e o meio ambiente. (Banco Real, website,
pág. O que é Sustentabilidade)
Em suas campanhas de mídia, o Banco Real explora nichos de mercado com a
intenção de atingir cada indivíduo de forma objetiva e pessoal, sempre se
preocupando com o futuro do cliente e a realização de seus sonhos, refletindo sua
missão de ser uma equipe capaz de gerar boas idéias que satisfaçam seus clientes,
e os consolidem como uma entidade que colabora com o desenvolvimento
sustentável da sociedade.
Segundo Maria Luiza Pinto, Diretora de Sustentabilidade do Grupo Santander Brasil,
“desde o primeiro momento da integração, em agosto de 2008, a área de
Desenvolvimento Sustentável foi confirmada como um setor de importância
estratégica – assim como era para o Banco Real. As principais políticas de
sustentabilidade do Real estão sendo colocadas em prática pelo Grupo Santander
Brasil. Todo o processo de gestão sustentável, iniciado no Real, foi perpetuado na
nova organização e tem o apoio da diretoria, por meio de Conselhos de
Sustentabilidade, que discutem o tema e respondem pelos encaminhamentos.”
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O processo de união das marcas Santander e Real acontecerá em três etapas: na
primeira, em 2008, as duas instituições atuaram de forma independente, com um
início de integração interna sob a assinatura do Grupo Santander Brasil; na segunda
etapa, que se estendeu por todo ano de 2009, as marcas continuaram atuando
separadamente para o público externo, com algumas facilidades para o cliente,
como a possibilidade de acesso aos caixas eletrônicos dos dois bancos, e
internamente, como Grupo Santander Brasil, convergindo para um modelo otimizado
de atuação; a última etapa, prevista para 2010, será a integração das redes de
agência, tendo o Santander como marca única no mercado.
Pensando em melhorias para a ampliação do diálogo, o Grupo Santander investe de forma
constante em educação. A educação é a principal ferramenta para sensibilizar as pessoas
para a importância da sustentabilidade. O estímulo à ação consciente, responsável e ética é
fundamental para que os funcionários assumam seu papel como agentes de mudança e
atuem acreditando que, com todos juntos, cada um vale mais. (Grupo Santander, website,
pág. Sustentabilidade)
O Relatório anual de 2008 foi elaborado em peça única, reunindo o relatório anual e
de sustentabilidade em sintonia com a forma como o grupo compreende a
integração das dimensões econômica, social e ambiental na condução de seus
negócios.
Para a Organização, o crescimento sustentável de um país está ligado à sua
capacidade de produzir e compartilhar conhecimento, estimular o
empreendedorismo e capacitar as gerações para os desafios atuais e futuros. Sob
essa premissa foi criado o Santander Universidades, divisão global para fortalecer o
relacionamento com as instituições de ensino superior em 15 países, com o
desenvolvimento de produtos e serviços diferenciados para a comunidade
acadêmica.
Como qualquer instituição financeira, o Banco Real preocupa-se em gerar riqueza,
mas sob o viés da sustentabilidade procura ajudar a população de baixa renda a
poupar, a financiar moradia, porque é esse o seu negócio. Nas suas atividades
diárias, utiliza talões de cheque em papel reciclado certificado pela FSC e possui
agências com caixa eletrônico em braile, além de ter construído a primeira agência
ecologicamente correta. Em sua linha de produtos encontram-se ainda linhas de
13
crédito diferenciadas para fomento a projetos e atitudes sustentáveis como o
financiamento de energias renováveis.
Mesmo estando à frente dos concorrentes e com todo o seu pioneirismo em
questões socialmente responsáveis, ainda há um longo caminho a percorrer.
Segundo a Diretora de Sustentabilidade, Maria Luiza Pinto, o Banco Real não tem
100% de adesão da Diretoria para sua política de sustentabilidade, apresenta um
baixo índice de sindicalização entre os funcionários e condições ruins de trabalho
nos call centers, segundo pesquisa realizada junto ao Banco e ao Sindicato dos
Bancários do Rio de Janeiro.
De acordo com outra pesquisa, realizada para o IV Congresso Nacional de Gestão,
que procurou identificar os fatores que determinam a adesão dos bancos à
responsabilidade social, a principal motivação das instituições financeiras é a
continuidade dos investimentos sociais visando a redução de problemas sociais e
políticas públicas o que contribui para melhorar não só a imagem da instituição como
também a relação da empresa com a comunidade, o compromisso do empregado, a
melhoria nos objetivos estratégicos, sua produtividade e desempenho financeiro,
entre outras.
Desde que o Banco Real adotou os primeiros investimentos em sustentabilidade
nota-se um crescimento gradativo a cada ano, comprovando que o conceito da
empresa agregou valor à marca trazendo resultados positivos: em oito anos de
práticas de responsabilidade social o banco alcançou um crescimento cerca de seis
vezes maior do que o anterior a este posicionamento, aumentando seu Patrimônio
Líquido de R$2.939.246 no ano 2000 para R$12.825.814 em 2008, o que motivou a
compra do banco pelo Grupo Santander (o crescimento anual do banco x
desenvolvimento de ações socialmente responsáveis pode ser melhor visto no
infográfico em anexo).
Enquanto a ONU declarava os oito objetivos para o desenvolvimento, há dez anos, o
Banco Real dava seus primeiros passos em sustentabilidade. À época do 1 Fórum
Social Mundial, o Real iniciava o projeto “Banco de Valor” e criou o Fundo Ethical.
No Brasil, quando as políticas públicas inauguravam o Programa “Fome Zero” e
14
“Bolsa Família”, o banco lançou o microcrédito para famílias de baixa renda. Em
2005, enquanto o Protocolo de Kioto criou o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo,
o Banco Real criou a primeira Operação de Crédito de Carbono. Finalmente, quando
a Conferência da Onu se reúne para discutir as mudanças climáticas o banco cria
um espaço de práticas de sustentabilidade em seu website onde também
disponibiliza um catálogo sustentável e cria ainda um programa de desenvolvimento
de líderes em sustentabilidade. Todas essas ações refletem como a sustentabilidade
está inserida em seu DNA, sempre evoluindo conforme as questões mundiais para o
desenvolvimento da qualidade de vida, da economia, da sociedade e do meio
ambiente.
No Banco Real, o diálogo e o engajamento com os stakeholders são traços
marcantes. Esta postura se evidencia nas atividades diárias, reforçando o
posicionamento e o compromisso social, atraindo e aumentando sua carteira de
clientes que se identificam com seus conceitos, passando de 4.996.979 clientes em
2002 para mais de 1 milhão e trezentos mil em 2008. Em seu esforço para conseguir
bons resultados econômicos, sociais e ambientais inovou suas práticas e assumiu
um papel de liderança em sustentabilidade.
15
VI. CONCLUSÃO
Os novos tempos exigem um posicionamento das organizações para a consolidação
da responsabilidade social como parte de seu planejamento estratégico. Dessa
forma, a sustentabilidade deixa de ser um conceito abstrato e se converte em
vantagem competitiva.
As marcas são escolhidas pela capacidade de atrair, encantar e gerar identidade
com o seu consumidor, logo, o comportamento das organizações deve estar afinado
com os valores de seu público de interesse. A sociedade pauta suas escolhas em
como uma determinada marca atua internamente com os seus funcionários e em
como essa marca atua no mundo e na comunidade na qual se insere.
A reputação é o que garante a longevidade dos negócios. Além disso, as
organizações devem equilibrar o resultado econômico junto aos impactos ambientais
e sociais de sua atividade, e também preocupar-se em construir relacionamentos de
valor com seus stakeholders. No momento em que a responsabilidade social passa
a fazer parte do DNA da empresa, ela começa a ser reconhecida pelo mercado
como efetivamente sustentável.
Num cenário onde os critérios de avaliação de sucesso passam a incorporar as
dimensões social, cultural e ambiental, a Responsabilidade Social Corporativa se
consolida como um diferencial na imagem empresarial. Portanto, definir seu nicho de
prática social distingue a organização e conseqüentemente atrai consumidores e
investidores que se identificam com seu posicionamento e atribuem valor a ele,
como no caso do Banco Real exemplificado aqui.
16
ANEXO
Relação de Patrimônio Líquido x Ações de Responsabilidade Social
17
2000R$2.939.246
2001R$3.761.606
2002R$4.729.347
2003R$6.853.099
2004R$7.776.362
2005R$8.158.794
2006R$9.779.180
2007R$10.096.701
2008R$12.825.814
Inclusão de Catálogo de Sustentabilidade no website
Criação do espaço de Práticas em Sustentabilidade no website
Primeira agência em construção ambientalmente correta
Desenvolvimento de líderes em Sustentabilidade
Projeto Papa-pilhas
Compra pelo Grupo Santander
Introdução da Sustentabilidade na carteira de produtos
Campanha Yuri “O que devemos fazer hoje para garantir o futuro de Yuri amanhã”
Primeira Operação de Crédito de Carbono
Financiamento de Projetos Sustentáveis
Criação do Projeto Grupo de Negros
Primeiro Rel. Global de Sustentabilidade
Criação do Projeto Grupo Mulheres e Carreira
Primeiro Rel. Brasileiro de Sustentabilidade
Financiamentos Socioambientais
Universidade Solidária
Real Microcrédito
Criação do Fundo Ethical
Programa Banco de Valor
Primeira Pesquisa de Clima Organizacional
Primeiros Passos na Sustentabilidade
Programa Vida Saudável
BIBLIOGRAFIA
CANCLINI, Nestor Garcia. Consumidores e Cidadãos. Rio de Janeiro, editora
UFRJ, 1999.
PORTILHO, Fátima. Sustentabilidade, Consumo e Cidadania. Ed. Cortez.
KUNSCH, Margarida M. Krohling; KUNSCH, Waldemar Luiz. Relações Públicas
Comunitárias – A Comunicação em uma perspectiva dialógica e
transformadora. Editora: Summus Editorial.
ALIGLERI, Lílian; ALIGLERI, Luiz Antonio; KRUGLIANSKAS, Isak. Gestão
Socioambiental – Responsabilidade e Sustentabilidade do negócio. São Paulo,
Edito Atlas.
KUNSCH, Margarida. Comunicação Organizacional vol 1. Histórico,
fundamentos e Processos. São Paulo, Ed. Saraiva, 2009.
ESPM, Revista. A propaganda sob a ótica de um novo consumidor e a
sustentabilidade como atributo de valor. Edição 4, julho / agosto, 2009.
EXAME, Revista. Guia Exame – Sustentabilidade. Editora Abril, novembro, 2009.
BANCO REAL - GRUPO SANTANDER. Sustentabilidade. Disponível em: http://www.bancoreal.com.br/sustentabilidade
BANCO SANTANDER. Responsabilidade Social. Disponível em: http://www.santander.com.br
PORTER, Michael. Estratégia e Sociedade: Responsabilidade Social
Corporativa e Vantagem Competitiva. Harvard Business School. Agosto, 2008
18
AGENCY, Green. Banco Real e o conceito de sustentabilidade na propaganda.
2009
GUIMARÃES FILHO, Arnaldo de Jesus. Determinantes da Responsabilidade
Social Corporativa no setor Bancário - 2008
LINS, Juçara Portilho. Responsabilidade Social Empresarial Impactos na
Organização dos Trabalhadores: o caso do banco ABN/Real e o Sindicato dos
Bancários do Rio de Janeiro. 2009
19