A solidariedade e o Professor Hermógenes, rápida reflexão sobre uma outra passagem: a da CTS...

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O desafio e a oportunidade que está diante e em nós, é a do treinamento não-dualista; ou seja, da superação do fato de que estamos impregnados em nossos pensamentos, afetos (emoções e sentimentos) e percepções de que a realidade "é" partida, "é" fragmentada. Só falar isso já gera reações, algumas muito intensas. Isso ocorre porque minha afirmação vai no sentido oposto de tudo que se aprendeu e -mais grave ainda- de tudo que se incorporou. Exatamente: in-corporou. Por isso, o conceito de mente que utilizamos na Psicopolítica está alicerçado em parte robusta das neurociências, que concluíram: a mente é 'consciência incorporada'. Portanto dizer que precisamos incluir já é uma atitude muito importante. Para transformar esse conceito em realidade temos, no entanto, uma longa caminhada. É comum que as imagens de inclusão incluam apenas figuras humanas... Os animais ficam fora, as plantas ficam fora, a Terra inteira fica fora, o Cosmo, imagina..., fica fora. Até mesmo o círculo imaginado com com o que se quer que esteja incluído gera a exclusão do que não estiver dentro dele. Está correto quando se pensa que a solidariedade é a chave para resolver isso. Por isso, e para que ela seja uma realidade, precisamos superar o dualismo, pois é ele que cria o "outro", a "outra". Um exemplo: hoje fui ao velório de uma pessoa muito querida, o Professor Hermógenes. Nós nos conhecemos desde antes dele conhecer o Yoga, há mais de 60 anos, através de minha amada vó Fanica, quando ela o ajudou a criar o Núcleo Espírita do Colégio Militar do Rio de Janeiro, pois era uma medium completa e Presidente do Centro Espírita Guia Arthur. Esta é uma longa e outra história. O fato a que me refiro aqui é: o Professor Hermógenes "morreu"? Claro, é a primeira resposta, e não sem razão. Mas ele -de fato- "morreu"? Quanto de seus ensinamentos e experiências está incorporado em milhares e milhares de pessoas que praticaram Yoga com ele, leram seus livros, assistiram suas palestras, e lerão seus livros? Os átomos que compuseram seu "corpo" também deixarão de existir? Não. Serão re-integrados junto com seus ensinamentos e experiências em outros "corpos". Há "apenas", portanto, uma solidariedade sistêmica. O que experimentamos, assim, é a ignorância em relação à ela. Como ela é sistêmica, compreender como se des- conectou dela -e como a Psicopolítica nos permite compreender visceralmente este processo e metodologicamente superá-lo- gera consequências práticas para todos os desafios que enfrentamos. Pois em todas as áreas, a solidariedade é a questão. Como termos auto- solidariedade, por exemplo com nossas contradições? Como lidarmos com o levante fascista e com o fascista (pequeno, médio ou grande que mora ou morou um dia em nós? E ao qual talvez hoje, eu e você, tenhamos dado adeus?); precisamos de compaixão, decisiva na teoria psicopolítica. Como termos solidariedade nas famílias, entre os vizinhos, nas comunidades, nas redes, nos movimentos, nas organizações? Como termos acadêmicos solidários com suas histórias e nossa origem comum; solidários portanto com a Natureza; como termos solidariedade em termos, como proponho, de CTSN (Ciência, Tecnologia, Sociedade e Natureza)?; e não de CTS? Quando compreendemos e vivenciarmos -o que demanda instaurar tal consciência a partir e na respiração (o lugar psicopolítico da solidariedade corpo-mente, cultura- natureza) uma visão auto-crítica do sentido social e ambiental do que estamos criando? Quando entendermos, por exemplo, que a ciência brasileira vai ganhar muito quando os dedicados colegas da CAPES pensarem ainda mais em solidariedade, e considerarem mais do que a produção dos três anos recentes do pesquisador; pois isto é redução da complexidade da filosofia e das ciências humanas e sociais ao utilitarismo de criar novidades em série e de aumentar quase sempre o poder de dominação. Pois o tempo de maturação do pensamento social, que emancipa, é outro que o tempo da "inovação" em termos de uma ciência reduzida à tecnologia, ainda mais quando o trio Ciência-Tecnologia-Sociedade/CTS está atrelada ao "estado de exceção", que inutilmente tenta sustentar o desamparo através do consumismo. Com o pai e a mãe da solidariedade, o amor, e a alegria da terna gratidão, e. A solidariedade e o Professor Hermógenes, rápida reflexão sobre uma outra passagem: a da CTS para a CTSN Por Evandro Vieira Ouriques Dedicado a Tulio Medeiros

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Há "apenas", portanto, uma solidariedade sistêmica. O que experimentamos, assim, é a ignorância em relação à ela. Como ela é sistêmica, compreender como se des- conectou dela -e como a Psicopolítica nos permite compreender visceralmente este processo e metodologicamente superá-lo- gera consequências práticas para todos os desafios que enfrentamos. Pois em todas as áreas, a solidariedade é a questão. Como termos auto- solidariedade, por exemplo com nossas contradições? Como lidarmos com o levante fascista e com o fascista (pequeno, médio ou grande que mora ou morou um dia em nós? E ao qual talvez hoje, eu e você, tenhamos dado adeus?); precisamos de compaixão, decisiva na teoria psicopolítica. Como termos solidariedade nas famílias, entre os vizinhos, nas comunidades, nas redes, nos movimentos, nas organizações? Como termos acadêmicos solidários com suas histórias e nossa origem comum; solidários portanto com a Natureza; como termos solidariedade em termos, como proponho, de CTSN (Ciência, Tecnologia, Sociedade e Natureza)?; e não de CTS?

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  • O desafio e a oportunidade que est diante e em ns, a do treinamento no-dualista; ou seja, da superao do fato de que estamos impregnados em nossos pensamentos, afetos (emoes e sentimentos) e percepes de que a realidade "" partida, "" fragmentada. S falar isso j gera reaes, algumas muito intensas.

    Isso ocorre porque minha afirmao vai no sentido oposto de tudo que se aprendeu e -mais grave ainda- de tudo que se incorporou. Exatamente: in-corporou. Por isso, o conceito de mente que utilizamos na Psicopoltica est alicerado em parte robusta das neurocincias, que concluram: a mente 'conscincia incorporada'.

    Portanto dizer que precisamos incluir j uma atitude muito importante. Para transformar esse conceito em realidade temos, no entanto, uma longa caminhada. comum que as imagens de incluso incluam apenas figuras humanas... Os animais ficam fora, as plantas ficam fora, a Terra inteira fica fora, o Cosmo, imagina..., fica fora. At mesmo o crculo imaginado com com o que se quer que esteja includo gera a excluso do que no estiver dentro dele.

    Est correto quando se pensa que a solidariedade a chave para resolver isso. Por isso, e para que ela seja uma realidade, precisamos superar o dualismo, pois ele que cria o "outro", a "outra". Um exemplo: hoje fui ao velrio de uma pessoa muito querida, o Professor Hermgenes. Ns nos conhecemos desde antes dele conhecer o Yoga, h mais de 60 anos, atravs de minha amada v Fanica, quando ela o ajudou a criar o Ncleo Esprita do Colgio Militar do Rio de Janeiro, pois era uma medium completa e Presidente do Centro Esprita Guia Arthur. Esta uma longa e outra histria.

    O fato a que me refiro aqui : o Professor Hermgenes "morreu"? Claro, a primeira resposta, e no sem razo. Mas ele -de fato- "morreu"? Quanto de seus ensinamentos e experincias est incorporado em milhares e milhares de pessoas que praticaram Yoga com ele, leram seus livros, assistiram suas palestras, e lero seus livros? Os tomos que compuseram seu "corpo" tambm deixaro de existir? No. Sero re-integrados junto com seus ensinamentos e experincias em outros "corpos".

    H "apenas", portanto, uma solidariedade sistmica. O que experimentamos, assim, a ignorncia em relao ela. Como ela sistmica, compreender como se des-conectou dela -e como a Psicopoltica nos permite c o m p r e e n d e r v i s c e r a l m e n t e e s t e p ro c e s s o e metodologicamente super-lo- gera consequncias prticas para todos os desafios que enfrentamos. Pois em todas as reas, a solidariedade a questo. Como termos auto-solidariedade, por exemplo com nossas contradies? Como lidarmos com o levante fascista e com o fascista (pequeno, mdio ou grande que mora ou morou um dia em ns? E ao qual talvez hoje, eu e voc, tenhamos dado adeus?); precisamos de compaixo, decisiva na teoria psicopoltica. Como termos solidariedade nas famlias, entre os vizinhos, nas comunidades, nas redes, nos movimentos, nas organizaes? Como termos acadmicos solidrios com suas histrias e nossa origem comum; solidrios portanto com a Natureza; como termos solidariedade em termos, como proponho, de CTSN (Cincia, Tecnologia, Sociedade e Natureza)?; e no de CTS?

    Quando compreendemos e vivenciarmos -o que demanda instaurar tal conscincia a partir e na respirao (o lugar psicopoltico da solidariedade corpo-mente, cultura-natureza) uma viso auto-crtica do sentido social e ambiental do que estamos criando? Quando entendermos, por exemplo, que a cincia brasileira vai ganhar muito quando os dedicados colegas da CAPES pensarem ainda mais em solidariedade, e considerarem mais do que a produo dos trs anos recentes do pesquisador; pois isto reduo da complexidade da filosofia e das cincias humanas e sociais ao utilitarismo de criar novidades em srie e de aumentar quase sempre o poder de dominao.

    Pois o tempo de maturao do pensamento social, que emancipa, outro que o tempo da "inovao" em termos de uma cincia reduzida tecnologia, ainda mais quando o trio Cincia-Tecnologia-Sociedade/CTS est atrelada ao "estado de exceo", que inutilmente tenta sustentar o desamparo atravs do consumismo.

    Com o pai e a me da solidariedade, o amor, e a alegria da terna gratido, e.

    A solidariedade e o Professor Hermgenes, rpida reflexo sobre uma outra passagem: a da CTS para a CTSN

    Por Evandro Vieira Ouriques Dedicado a Tulio Medeiros