A SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA NO CONTEXTO ESCOLAR - Cristiane Antonioli

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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS UNISINOS UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL CRISTIANE ANTONIOLI A SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA NO CONTEXTO ESCOLAR São Leopoldo 2010

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Este trabalho explorará a importância do contexto escolar na socializa-ção das crianças em idade escolar. O papel fundamental que o educador exer-ce, e o quanto um bom planejamento é capaz de desenvolver a socialização das crianças. Através de teorias e métodos de grandes pesquisadores será possível observar os pontos culminantes para o bom aproveitamento das pontecialida-des individuais de cada criança como um individuo único que ela é; e mostrar que toda e qualquer atividade é capaz de atingir tal objetivo de forma natural.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS

UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL

CRISTIANE ANTONIOLI

A SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA NO CONTEXTO ESCOLAR

São Leopoldo

2010

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CRISTIANE ANTONIOLI

A SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA NO CONTEXTO ESCOLAR

Trabalho de Conclusão de Curso de Es-pecialização apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Espe-cialista em Educação Infantil, pelo Curso de Especialização em Educação Infantil da Universidade do Vale do Rio dos Si-nos. Orientador: Prof. Dr. Euclides Redin

São Leopoldo

2010

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 4

2 PROCESSOS DE SOCIALIZAÇÃO................................................................ 5

2.1 ALGUNS COMENTÁRIOS DA TEORIA BEHAVIORISTA........................................... 5 2.2 MODELO PSICODINÂMICO .............................................................................. 6 2.3 TEORIA SÓCIO-CULTURAL ............................................................................. 6

3 LINGUAGEM E SOCIALIZAÇÃO ................................................................... 8

3.1 SOCIALIZAÇÃO ............................................................................................. 8 3.2 LINGUAGEM ................................................................................................. 9

4 SOCIALIZAÇÃO DA LINGUAGEM NA ESCOLA ........................................ 11

4.1 EXPLORAÇÃO DO AMBIENTE SALA DE AULA ................................................... 12 4.2 LINGUAGEM ORAL ...................................................................................... 13 4.3 DESAFIOS CORPORAIS ................................................................................ 13 4.4 IDENTIDADE E AUTONOMIA .......................................................................... 14 4.5 LINGUAGENS PLÁSTICAS ............................................................................. 14 4.6 LINGUAGEM MUSICAL ................................................................................. 15

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 17

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 19

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1 INTRODUÇÃO

Para a criança, a aquisição da linguagem é um processo integrado, um

processo de socialização. A escola é muito importante, é o meio onde a criança

adota uma postura e um comportamento quanto a sua cultura.

Esse processo se dá no momento em que o bebê encontra-se na barriga

da mãe. O desenvolvimento da linguagem se dará pela diversificação social e

cultural do meio em que a criança está inserida. Essas diferenças só são visí-

veis em determinados contextos de socialização, que será vivenciada.

De acordo com os ambientes em que a criança se encontra, tais como,

casa, escola e o mundo em geral, fazem com que as crianças passem por pe-

quenas experiências de socialização.

Este trabalho explorará a importância do contexto escolar na socializa-

ção das crianças em idade escolar. O papel fundamental que o educador exer-

ce, e o quanto um bom planejamento é capaz de desenvolver a socialização

das crianças.

Através de teorias e métodos de grandes pesquisadores será possível

observar os pontos culminantes para o bom aproveitamento das pontecialida-

des individuais de cada criança como um individuo único que ela é; e mostrar

que toda e qualquer atividade é capaz de atingir tal objetivo de forma natural.

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2 PROCESSOS DE SOCIALIZAÇÃO

2.1 ALGUNS COMENTÁRIOS DA TEORIA BEHAVIORISTA

O behaviorismo originou-se perto da segunda década do século XX. Esta es-

cola comportamentalista acredita que o ser humano é semelhante à uma máquina,

cujo comportamento pode ser previsto e controlado. O comportamentalismo sob cer-

to aspecto remonta ao espírito mecanicista que viajou entre séculos, cuja doutrina

afirmava que todos os processos naturais são mecanicamente determinados e po-

dem ser explicados pelas leis da física, ou seja, que os mesmos métodos experi-

mentais, que tinham alcançado tanto sucesso no estudo dos segredos do universo

físico, podiam ser aplicados à pesquisa do comportamento humano. E era exata-

mente neste foco de abrangência que se baseavam os comportamentalistas. Eles

queriam resultados práticos e objetivos, e não há melhor praticidade do que compa-

rar o homem as máquinas. Rejeitavam, então, todo tipo de conceito mentalista, co-

mo mente e consciência. Para os behavioristas a consciência nunca foi sentida, e

por isso era muito improvável sua existência. Por conseguinte, eles rejeitavam a in-

trospecção, pois através desta chagava-se a dados colhidos subjetivamente. Busca-

vam em contraponto a objetividade através dos aspectos do estímulo e resposta no

comportamento. Ou seja, dá-se um estímulo e recebe-se uma resposta. Repete-se o

estimulo e recebe-se a mesma resposta, chegando-se ao que tanto se desejava a

previsibilidade de atos humanos.

A teoria behaviorista representa a expressão, onde o objeto de estudo é o

comportamento explícito. Percebendo o sujeito como passível em relação ao meio e

condicionável a estímulos. O professor é a figura central e o aluno passivo. O estudo

de Skinner, 1957; é uma tentativa de interpretar os eventos materiais envolvendo

relação entre comportamento e ambiente.

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"... um organismo comporta-se de determinado modo por causa de sua es-trutura corrente, mas a maior parte disto está fora do alcance da introspec-ção. No momento devemos contentar-nos... com as histórias genética e ambiental da pessoa. O que é intropectivamente observado são certos pro-dutos colaterais dessas histórias" (Skinner, 1974, p. 17).

2.2 MODELO PSICODINÂMICO

Para contrapor a teoria behaviorista, o modelo psicodinâmico da socialização

enfatiza o conflito. Esse modelo consiste em estabelecer relações mostradas por um

sujeito até os sinais dados do inconsciente. Freud buscou quebrar com seu método

os vínculos ao nos comunicarmos uns com os outros, e perceber aquilo que se diz

nas entrelinhas.

O modelo psicodinâmico veio para romper os vínculos e mostrar o conflito en-

tre os impulsos humanos e as regras que regem a sociedade. Nossas necessidades

vêm a tona disfarçadas de várias maneiras e provando que muitas vezes não temos

consciência de nossos desejos, que muitas vezes estão reprimidas.

O inconsciente passa a ser o objeto de pesquisa. É neste modelo que se dá

importância a primeira infância e nos mostra o valor entre as relações afetivas entre

educador, família, escola e estado. A socialização se dará num espaço de vínculos

fortemente afetivos.

2.3 TEORIA SÓCIO-CULTURAL

A psicologia sócio-cultural analisa e discute a relação entre aprendizagem e

desenvolvimento. Para essa teoria a socialização começa com o nascimento do su-

jeito e sua interação com o meio social. O desenvolvimento do homem é através das

interações estabelecidas com o mundo e seus semelhantes. Para Vigostky a lingua-

gem é ferramenta fundamental para a formação do meio social de uma criança.

A teoria sócio-cultural tem como ponto de partida a teoria de Piaget, na qual

vai se apoiando a discussão, ressaltando fatores que lhe serviram de análise. A lin-

guagem foge dos domínios da ciência natural e passa a construir-se em problema

da psicologia social. “O pensamento se processa por uma gradual socialização dos

estrados mentais” (Vigotsky,1979, p.33).

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Para Vigotsky o aparecimento do pensamento social vem primeiro do egocên-

trico, e este representa o pensar de si para si. A criança toma consciência das dife-

renças mais cedo do que das semelhanças.

Vigotsky compartilha, assumidamente, com Freud, da assertiva que a criança,

em seus primeiros meses de vida, é um ser a-social e estritamente orgânico, excluí-

do do mundo externo e limitado às próprias funções fisiológicas. Os limites entre a

realidade e a fantasia durante a primeira infância é destacado por Vigotsky, mesmo

obedecendo a uma lógica primitiva. Podendo constatar que o teórico estabelece

uma hierarquia valorativa entre o pensamento infantil/primitivo e o adulto/moderno.

Do ponto de vista de Vigotsky, o que caracteriza o pensamento infantil é a a-

glutinação dos elementos que percebe. Fazendo referência a Piaget, Vigotsky nos

fala de uma falta de rigor nas leis reguladoras e de estabelecimento de relações or-

denadas, justificando que a criança não conhece a categoria da causalidade, sendo

a categoria do interesse mais familiar. A partir deste raciocínio, observa-se no pen-

sar infantil um emparelhamento de impressões singulares. A criança na primeira in-

fância, já é capaz de estabelecer diferenças e relações entre causas e efeitos, so-

bretudo se ela já se encontra em ambiente pré-escolar. Vigotsky afirma que “o

pensamento relacional é produto de um alto grau de desenvolvimento cultural”

(p157). A representação da criança pode agir sobre outra independente da distância,

do tempo e da total falta de relação. Esta é a positividade do pensamento e da fan-

tasia infantil, território de transformação de experiências individuais, familiares e cul-

turais. Vigotsky fala de um pensamento mágico, capaz de correlacionar eventos ou

estímulos contemporâneos. A partir desta ótica, a criança será inserida no mundo

social a partir de uma passagem caracterizada pela inibição das funções primitivas e

elaboração de formas complexas de adaptação. Tomaria lugar a superação:

“inserindo-se no seu ambiente, a criança inicia logo a se transformar e a mudar: isto acontece muito cedo porque a situação cultural já pronta cria ne-la determinadas formas de adaptação que a muito foram criadas pelos adul-tos que a rodeiam” (p. 168).

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3 LINGUAGEM E SOCIALIZAÇÃO

3.1 SOCIALIZAÇÃO

A socialização é um processo interativo, necessário para o desenvolvimento,

através do qual a criança satisfaz suas necessidades e assimila a cultura ao mesmo

tempo em que reciprocamente, a sociedade se perpetua e desenvolve. Este proces-

so inicia-se como o nascimento e, embora sujeito a mudanças, permanece ao longo

de todo ciclo vital.

No decorrer das últimas décadas, vem se observando uma mudança significa-

tiva no processo de socialização infantil, levando-se em conta fatores como o avan-

ço da tecnologia nos meios de comunicação, o crescimento acentuado de informa-

ções disponíveis, as novas configurações familiares, etc. dentro deste contexto, a

escola exerce um papel importante na consolidação do processo de socialização,

processo esse que ocorre já no início da vida da criança.

A escola será determinante para o desenvolvimento cognitivo e social infantil

e, portanto, para o curso posterior da sua vida. É na escola que se constrói parte de

identidade de ser e pertencer ao mundo; nela adquirem-se os modelos depositam-se

as expectativas, bem como as dúvidas, inseguranças e perspectivas em relação ao

futuro e às próprias potencialidades.

A criança, quando nasce, já é membro de um grupo social, pois suas necessi-

dades básicas estão inevitavelmente ligadas às outras pessoas e estão programa-

das para serem satisfeitas em sociedade. O grupo social onde a criança nasce ne-

cessita também da incorporação desta para manter-se e sobreviver e, por isso, além

de satisfazer suas necessidades transmite-lhe a cultura acumulada ao longo de todo

o curso do desenvolvimento da espécie. Esta transmissão cultural envolve valores,

normas, costumes, atribuições de papéis, aquisição da linguagem, habilidades e

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conteúdos escolares, bem como tudo aquilo que cada grupo social foi acumulando

ao longo da história e que é realizado através de determinados agentes sociais, que

são encarregados de satisfazer as necessidades da criança e incorporá-la ao gruo

social. Entre esses agentes sociais estão os pais, os meios de comunicação, a esco-

la e o professor. Assim, o processo de socialização é uma interação entre criança e

meio. Esta interação e seu resultado dependem das características da própria crian-

ça e da forma de agir dos agentes sociais.

A socialização é possível a partir da compreensão do mundo da criança, das

experiências vividas, ocorrendo à necessária interiorização das regras afirmadas

pela sociedade. Nesse início de vida a família e a escola serão os mediadores pri-

mordiais, apresentando/significando o mundo social. As peculiaridades estarão de-

terminando as diferenças pessoais, pois esse processo não é simplesmente ensina-

do: a criança mostra-se um parceiro ativo, podendo procurar novas informações em

outros lugares. Deste modo, as atitudes e comportamentos sociais não serão obriga-

toriamente cópias fiéis das atitudes e comportamentos de seus mediadores. Dizer

isto não significa, porém, diminuir o papel dos mediadores, nem desconsiderar o fato

de as crianças se identificarem com os seus familiares: pais, irmãos mais velhos e

outros adultos. Elas podem, inconscientemente, copiar a conduta do adulto como

elas vêem o adulto atuando à sua volta.

Assim, esse processo na primeira infância implica conhecer as atitudes e os

comportamentos dos familiares, adultos e jovens, mas também ao conjunto de nor-

mas, regras e crenças praticados e valorizados pelo grupo, que possibilitarão a sua

introdução na sociedade. Como afirma GOMES (1990), haveria uma:

"(...) imperiosidade de analisar os três ângulos da questão: o mundo social imediato a ser interiorizado pela criança; a família que, além de ser media-dora, tem especificidades que a distinguem de qualquer outra; a criança que, sujeito da aprendizagem social, interiorizará o mundo mediado a partir de suas próprias idiossincrasias e de maneira singular e solitária” (GOMES, 1990, p. 59).

3.2 LINGUAGEM

A linguagem tem importante papel, é ela a primeira forma de socialização da

criança. E são os pais que na maioria das vezes exercem esse papel, através de

orientações verbais, como histórias que muitas vezes expressam valores culturais.

Antes mesmo que a criança aprende a falar, ela já vivencia valores, crenças e

regras. Ao desenvolver sua linguagem a criança alcança um nível lingüístico e cogni-

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tivo mais elevado, aumentando seu campo de socialização e ao entrar a escola ela

passa a ter mais oportunidades de interagir com outras crianças e culturas, grandes

autores trazem o quanto é importante a criança se envolver em novas experiências

sociais bem cedo, pois terá benefícios futuros.

A linguagem é estudada pela pragmática desde a década de 70, e desde en-

tão passou a ser analisado o ato da fala, no contexto social e cultural no qual é usa-

da. A partir do contexto é possível compartilhar a fala sem necessariamente verbali-

zar a intenção do indivíduo. A criança adquire a linguagem com a interação dos as-

pectos biológicos com os processos sociais. A relação criança e adulto é fundamen-

tal para o desenvolvimento das habilidades da fala.

Segundo Borges e Salomão, os estudiosos da interação social voltaram seus

estudos para a fala materna apresentada as crianças. Para eles os pais apresentam

uma forma diferenciada para falar s seus filhos, esta diferente na fala com adultos.

Na grande maioria uma fala simples, repetitiva, gramaticalmente e semanticamente

ajustada para a compreensão e interesse da criança.

Essa fala dirigida na primeira infância é conhecida como “motherese”, por ser

relacionada a fala da mãe e exercer uma interação social, a qual desenvolve as ha-

bilidades cognitivas e sociais, que são incorporadas ao próprio modelo de produção

da fala da criança.

Para Vigotsky essa interação que excede o nível de desenvolvimento real da

criança, acaba por aproximar-se de seu nível potencial, ajudando-a a avançar de um

nível para outro. Esse processo irá constituir de forma dinâmica as contribuições do

adulto, podendo alterar conforme o progresso na compreensão e entendimento da

criança.

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4 SOCIALIZAÇÃO DA LINGUAGEM NA ESCOLA

Não se concebe um desenvolvimento proporcionado exclusivamente pela e-

ducação formal, como também não se entende esse desenvolvimento sendo reali-

zado unicamente pelo grupo familiar. Afinal, juntas, escola e família são responsá-

veis pela formação do indivíduo. Não se pode valorizar a escola em oposição à edu-

cação familiar e vice-versa. Em ambos espaços, o contato com outras crianças de

mesma idade, com outros adultos não pertencentes ao grupo familiar, com outros

objetos de conhecimento vai possibilitar outros modos de leitura do mundo. Toda

essa nova experiência pode ser muito positiva para o desenvolvimento da criança.

As instituições de Educação Infantil organizam e formalizam uma aprendiza-

gem que já se iniciou na família e que vai ter continuidade nas suas experiências

com a sociedade. Assim, não só a família se torna responsável pela aprendizagem

da vida social, embora represente, inicialmente, o elo mais forte que liga a criança

ao mundo. "Ao final do processo de socialização a criança não só domina o mundo

social circundante, como já incorporou os papéis sociais básicos - seus e de outros,

presentes e futuros mas, acima de tudo, já adquiriu as características fundamentais

de sua personalidade e identidade" (GOMES, 1990, p.60).

A escola é mais do que uma estrutura física na qual a pessoa recebe informa-

ções (visuais, táteis, térmicas, auditivas e/ou olfativas-gustativas), este ambiente é

um atuante continuamente presente na vivência humana. Como já dito por diversos

pesquisadores esse espaço de interação é fundamental para o desenvolvimento so-

cial da criança e é a partir de atividades simples como alimentar-se e vestir-se, até

atividades complexas, como contar uma história.

É nesse meio que, ao estender a mão em busca do objeto, ela [a criança] adquire a noção de distância; é nele que a mãe aparece e desaparece, des-ligada do seu corpo; é ainda nele que exercita o seu domínio, equilibra-se, caminha e corre. (...) É num espaço físico que a criança estabelece a rela-ção com o mundo e com as pessoas (Lima, 1989, p. 13).

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A escola por ser um dos agentes sociais que tem o importante papel de satis-

fazer as necessidades da criança e torná-la parte de um grupo, e construir seu pró-

prio conhecimento, a partir das interações com outros indivíduos e com o mundo em

sua volta. Pensando nisso, a escola infantil deva oferecer experiências de aprendi-

zagens para o desenvolvimento da criança, levando em conta seu momento e suas

dificuldades, tornando a escola um ambiente cheio de conquistas e realizações, para

o desenvolvimento sociolingüístico da criança.

4.1 EXPLORAÇÃO DO AMBIENTE SALA DE AULA

O espaço, sala de aula, é um elemento essencial que oferece a qualidade e

os cuidados que formam a base didática da escola. É possível perceber o relacio-

namento entre crianças e os adultos que passam determinado tempo interagindo

neste espaço. Através do brincar a criança explora o mundo e percebe o ambiente

em que está.

BERÇÁRIO – Ao propor brincadeiras diárias de esconder; encaixar peças;

construir pistas; experimentar as propriedades dos objetos: quais rodam e quais não,

quais flutuam e quais não, quais são duros e quais são moles; jogar bola; cirandar;

imitar gestos motores e vocais dos companheiros.

MINIGRUPO - Brincar todos os dias é fundamental. Organizar cirandas e brin-

cadeiras de roda; brincadeiras de esconde-esconde; pega-pega; jogos com bola; faz

de conta com uso de fantasias, marionetes e reprodução dos fazeres adultos. Pro-

movem o exercício da fala e histórias de si ou sobre o mundo em geral.

O descobrir é desafiador, é através de novas brincadeiras, de exploração de

novos cantinhos, onde a criança confronte suas dificuldades. Provocar a criança,

fazer com que se sinta membro deste ambiente, parte da interação social. A explo-

ração do ambiente sala de aula ajuda a perceber o novo meio e as novas regras pa-

ra a sua interação social e verbal.

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4.2 LINGUAGEM ORAL

É na educação infantil que construímos sujeitos falantes, e é onde a lingua-

gem é trabalhada de forma contextualizada, por meio de brincadeiras, cantigas de

roda... A fala é o principal instrumento para nossa comunicação. Deve ser diaria-

mente trabalhada.

BERÇÁRIO e MINIGRUPO - Um contexto rico de interações estimula a crian-

ça a expressar seus desejos, sentimentos e necessidades por meio dos gestos, bal-

bucios e das situações coletivas de comunicação. Organizar rodas de conversa e

atividades de observação e conte histórias. Deixar, também, que as crianças imitem

os colegas e aprendam a organizar instruções para as próprias brincadeiras, se-

guindo receitas e regras.

Proporcionar um ambiente contextualizado ajuda a criança a adquirir os as-

pectos básicos da competência comunicativa. A criança exercita sua habilidade de

se expressar e responder aos outros em sua volta, avaliando seu desempenho soci-

al.

4.3 DESAFIOS CORPORAIS

Assim como a fala, a criança deve praticar seus movimentos, o estímulo atra-

vés rolar, sentar, engatinhar, andar, correr, saltar, segurar objetos e arremessá-los,

manipulá-los e encaixá-los. Esse é um momento onde o professor deve orientar e

não controlar, a criança deve se sentir livre e explorar seus limites.

BERÇÁRIO - Estimular que os pequenos explorem diferentes espaços através

de diversos movimentos, como engatinhar, sentar, manipular objetos, arrastar-se,

rolar (circuito de obstáculos: túneis, passar por baixo de..., pneus etc.). A partir da

conquista da marcha, as crianças podem aprender a correr, saltar, pular, subir e

descer com maior autonomia. Quando a destreza física é valorizada aprimoramos a

agilidade verbal.

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MINIGRUPO Propiciar a exploração dos desafios oferecidos pelo espaço por

meio da coordenação entre movimentos simultâneos. Ofereça, também, orientação

corporal com relação às noções de frente, trás, em cima, embaixo, dentro e fora.

O adulto é visto como um modelo para fomentar ou modelar a linguagem fala-

da. Ao orientar o professor serve de modelo e instrumento que vai provocar as co-

municações. Quando valorizada a destreza física, estamos estimulando o aprimora-

mento e a agilidade verbal.

4.4 IDENTIDADE E AUTONOMIA

Na escola as crianças aprendem hábitos tais como vestir-se, pentear-se, ali-

mentar-se e fazer sua higiene. Esses momentos têm um importante papel para esti-

mular a autonomia. E também é quando a criança percebe as diferenças entre as

pessoas, construindo sua identidade de acordo com as regras de sociabilidade.

BERÇÁRIO e MINIGRUPO Organizar jogos interativos com adultos e crian-

ças; faça com que os pequenos se familiarizem com a própria imagem corporal; es-

timule a comunicação com diferentes parceiros; ensine a apropriação de regras de

convívio social e de hábitos de autocuidado; dialogue para ajudar as crianças a so-

lucionar dúvidas e conflitos e para que reconheçam e respeitem as características

físicas e culturais dos colegas.

As crianças monitoram e fazem juízos sofisticados sobre seu próprio desem-

penho lingüístico e dos outros. Perceber sua identidade e as de outras crianças,

propiciam uma autonomia, garantindo um processo de partilha, agindo como agen-

tes socializadores uns dos outros.

4.5 LINGUAGENS PLÁSTICAS

A criança naturalmente é curiosa, e não devemos perder esse momento para

desafiá-las a descobrir o mundo das formas, das cores, dos gestos e sons. Tornan-

do seres mais abertos a desafios expressivos, as artes.

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BERÇÁRIO - Propiciar o acesso a diferentes manifestações do campo visual

– desenho, pintura, fotografia - e estimular o reconhecimento e a exploração das

primeiras marcas gráficas.

MINIGRUPO Na educação infantil a criança forma um repertório de imagens

de referência. Por isso, propor diversas experimentações artísticas com melecas,

tintas e misturas, valorize as garatujas e faça com que os pequenos reconheçam os

próprios desenhos e explorem as relações de espacialidade.

As crianças também se socializam de forma indireta, é por meio da linguagem

plástica que a criança procura experimenta, descobre e vai tomando consciência do

seu próprio eu. Peça fundamental, a linguagem plástica representa uma excepcional

contribuição para que as crianças dêem curso às suas diversas formas de lingua-

gem, com um sensível enriquecimento no processo de comunicação e expressão

social.

4.6 LINGUAGEM MUSICAL

O papel da música na escola é de fundamental importância, pois é através da

música que a criança pode desenvolver diversos elementos para a formação de seu

sujeito, tais como a linguagens: oral, corporal e artística. O educador é fundamental

para ampliar o repertório de seus alunos e desafiá-los.

BERÇÁRIO - Valorizar os momentos de percepção e de reação aos sons am-

bientes, o reconhecimento de vozes familiares e de músicas favoritas pelo movimen-

to corporal, a produção de sons ao bater, sacudir ou chacoalhar objetos, assim como

a utilização do corpo e da própria voz.

MINIGRUPO - Propor desafios de canto – individuais ou em grupo –; jogos e

brincadeiras musicais. Relacionar a música com a expressão corporal e a dança e

ensinar às crianças como identificar silêncios, pausas, sons da natureza, da cultura

e passagens sonoras. Estimular, também, a escolher suas canções favoritas.

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Podemos conceituar a Música como toda "sinfonia sonora" que nos cerca, a-

gradável ou não. A linguagem musical leva a criança a ter alegria e um grande pra-

zer, pois as atividades têm um caráter lúdico, de jogo, de brinquedo. A música por si

só é um instrumento valioso para a aprendizagem e de socialização, cria um ambi-

ente, com novas regras, aprimorando o vocabulário de forma direta e contextualiza-

da.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A socialização é um processo interativo, necessário para o desenvolvimento

da criança, satisfazendo suas necessidades e assimilando a cultura ao mesmo tem-

po em que, reciprocamente, a sociedade aumenta e desenvolve. Este processo ini-

cia-se desde bebê e, embora sujeito a mudanças, permanece em um ambiente que

evolui a cada minuto. Nos últimos tempos, vem se observando uma mudança signifi-

cativa no processo de socialização infantil. A escola é determinante para o desen-

volvimento cognitivo e social infantil.

Na escola se constrói parte da identidade de ser e pertencer ao mundo; nela

se adquirem os modelos de aprendizagens, a aquisição dos princípios éticos e mo-

rais que permeiam a sociedade. Na escola depositam-se as expectativas, bem como

as dúvidas, inseguranças e perspectivas em relação ao futuro às suas próprias po-

tencialidades.

É importante mencionar ainda que existem variações no contexto sociocultural

em que os indivíduos vivem. A variação entre contextos é marcada pelos diferentes

modelos de uso da linguagem que o meio social oferece. Estes modelos são apre-

sentados segundo os modos de vida e os tipos de interações típicas do meio social

dos indivíduos, ou seja, correspondem a seus hábitos e necessidades adaptativas.

A teoria da interação social busca romper o dualismo natureza versus ambien-

te que prevaleceu por tanto tempo nas explicações sobre a aquisição da linguagem.

Os pressupostos dessa teoria contribuem para uma análise do conhecimento acerca

do contexto sociocultural em que o indivíduo está inserido, permitindo uma articula-

ção deste com as características individuais do adulto e da criança, orientado por um

modelo bidirecional, através do qual se evidenciam a reciprocidade e a adaptação

mútua entre o adulto e a criança.

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A escola tem um importante papel enquanto espaço socializador da criança. É

fundamental na promoção do conhecimento social, no grande desenvolvimento das

capacidades cognitivas, na compreensão que as crianças têm do mundo social e

suas particularidades. Compreender a forma que a escola contribui para a sociali-

zação, levando em conta os valores éticos e morais bem como a construção da i-

dentidade e a capacidade de relacionar-se e interagir.

Educar não é só um processo de ensino-aprendizagem, é um processo de

construir indivíduos críticos, socializados, com conhecimento pleno daquilo que é

importante ser, enquanto indivíduo, e daquilo que o mundo espera de si, plenamente

integradas no espaço em que estão inseridas.

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REFERÊNCIAS

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LIMA, M. M. S. A cidade e a criança. São Paulo: Nobel. 1989.

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VYGOTSKY, Lev Semenovich. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 10. ed. São Paulo : Ícone, c2006.