A segurança eterna da salvação - livro
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A474 Alves, Silvio Dutra A segurança eterna da salvação./ Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2016. 121p.; 14,8x21cm 1. Salvação. 2. Eternidade. I. Título.
CDD 234
3
Se Jesus Cristo, na nossa
salvação, fosse um Salvador apenas para algum período, e
não fosse capaz de manter e
sustentar a nossa salvação independentemente da nossa
capacidade e até mesmo da nossa própria vontade, que
glória Ele poderia ter como um
Salvador todo competente e suficiente?
4
Sumário
A Alegria da Certeza da Segurança da
Salvação
5
Certeza da Graça e da Salvação
8
Evidência de Uma Genuína Conversão
11
Navegando com Segurança no Mar da Vida
12
Indestrutível
15
Segurança Eterna
17
Segurança da Salvação
19
Uma Segurança Firme e Inabalável
29
Hebreus 6 33
Uma Vez Salvo... Para Sempre Salvo, Pela Evidência da Perseverança
63
O que é que bem para o qual todas as coisas contribuirão? (Romanos 8:28)
110
Os Verdadeiros Santos Quando Ausentes do corpo Estão Presentes com o Senhor
118
5
A Alegria da Certeza da Segurança da
Salvação
I Pe 1.5 afirma que nós somos guardados pelo
poder de Deus.
Isto aponta para a verdade de que a nossa salvação é para sempre.
A alegria e o conforto dos cristãos depende realmente do senso de segurança da salvação.
Em Romanos 5 Paulo afirma que a nossa salvação, a nossa justificação pela fé é segura...
no poder de Deus.
Em Ef 1.13,14 lemos: “em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o
evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo
Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa
herança até ao resgate da sua propriedade, em
louvor da sua glória.”.
Paulo diz ainda que orava para que lhes fosse concedido espírito de sabedoria e de revelação
no pleno conhecimento de Jesus Cristo, para
saberem qual é a esperança do chamamento do
cristão, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos,” (Ef 1.17,18).
6
Em outras palavras, ele está dizendo: “para provar que você que foi salvo pelo evangelho já
conquistou uma herança que há de se
manifestar no porvir, Deus lhe concedeu o Espírito Santo como um selo que está
estampado em você que o identifica como
propriedade permanente de Deus (v. 14), como garantia da riqueza da glória da herança que lhe
será concedida no céu, e pelo que eu estou
orando para que Deus lhe revele a certeza dessa
esperança, e lhe dê entendimento disto.”.
Deus quer que os seus servos tenham certeza da
segurança da sua salvação, conforme está revelado na sua Palavra.
É preciso compreender o que temos tido em Cristo.
Paulo estava dizendo aos efésios: “agora que vocês foram salvos, eu estou orando para que
vocês possam compreender que sua salvação é para sempre, e que vocês têm uma esperança e
uma herança que será revelada na glória por
vir.”
Em Fp 1.6 lemos: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus.”. Paulo
havia aprendido o seu evangelho, que é o único
evangelho, diretamente de Jesus. Este ensino
expresso em suas palavras ele aprendeu
7
certamente por revelação que lhe fora feita pelo
Senhor, quanto ao caráter do evangelho da
salvação. Aquele que foi salvo será
impulsionado pelo próprio Deus para perseverar rumo à maturidade espiritual, à
estatura de varão perfeito, pois este é o objetivo
da salvação, conforme planejado e revelado por Deus na Palavra, sermos semelhantes a Cristo.
É nisto que Ele trabalhará em todo o tempo para ver formado em nós.
É na direção do cumprimento deste Seu Supremo propósito que todas as coisas estão
cooperando juntamente para o bem daqueles
que o amam.
8
Certeza da Graça e da Salvação
I. Os que verdadeiramente creem no Senhor
Jesus e o amam com sinceridade, procurando
andar diante dele em toda a boa consciência, podem, nesta vida, certificar-se de se acharem
em estado de graça e podem regozijar-se na
esperança da glória de Deus, nessa esperança
que nunca os envergonhará.
Ref. Deut. 29:19; Miq. 3:11; João 5:41; Mat. 8:22-23; I João 2:3 e 5: 13; Rom. 5:2, S; II Tim. 4:7-8.
II. Esta certeza não é uma mera persuasão conjectural e provável, fundada numa falsa
esperança, mas uma infalível segurança da fé,
fundada na divina verdade das promessas de salvação, na evidência interna daquelas graças
com base nas quais são feitas essas promessas,
no testemunho do Espírito de adoção que
testifica com os nossos espíritos que somos filhos de Deus, no testemunho desse Espírito
que é o penhor de nossa herança e por quem
somos selados para o dia da redenção.
Ref. Heb. 6:11, 17-19; I Ped. 1:4-5, 10-11; I João 3:14; Rom.8:15-16; Ef.1: 13-14, e 4:30; II Cor.1:21-22.
III. Esta segurança infalível não pertence de tal
modo à essência da fé, que um verdadeiro crente, antes de possuí-la, não tenha de esperar
9
muito e lutar com muitas dificuldades; contudo,
sendo pelo Espírito habilitado a conhecer as
coisas que lhe são livremente dadas por Deus,
ele pode alcançá-la sem revelação extraordinária, no devido uso dos meios
ordinários. É, pois, dever de todo o fiel ter toda a
diligência para tornar certas a sua vocação e eleição, a fim de que por esse modo seja o seu
coração no Espírito Santo confirmado em paz e
gozo, em amor e gratidão para com Deus, em
firmeza e alegria nos deveres da obediência que são os frutos próprios desta segurança. Este
privilégio está, pois, muito longe de predispor os
homens à negligência.
Ref. I João 5:13; I Cor. 2:12; I João 4:13; Heb. 6:11-12; II Ped. 1:10; Rom. 5:1-2, 5. 14:17, e 15:13; Sal. 119:32;
Rom. 6:1-2; Tito 2:11-12, 14; II Cor. 7: 1; Rom. 8: 1; 12; I João 1:6-7, e 3:2-3.
IV. Por diversos modos podem os crentes ter a sua segurança de salvação abalada, diminuída e
interrompida negligenciando a conservação
dela, caindo em algum pecado especial que fira a consciência e entristeça o Espírito Santo,
cedendo a fortes e repentinas tentações,
retirando Deus a luz do seu rosto e permitindo
que andem em trevas e não tenham luz mesmo os que temem; contudo, eles nunca ficam
inteiramente privados daquela semente de
Deus e da vida da fé, daquele amor a Cristo e aos
irmãos, daquela sinceridade de coração e
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consciência do dever; dessas bênçãos a certeza
de salvação poderá, no tempo próprio, ser
restaurada pela operação do Espírito, e por meio
delas eles são, no entanto, suportados para não caírem no desespero absoluto.
Ref. Sal. 51: 8, 12, 14; Ef. 4:30; Sal. 77: 1-10, e 31:32; I João 3:9; Luc. 22:32; Miq. 7:7-9; Jer. 32:40; II Cor.
4:8-10.
11
Evidência de Uma Genuína Conversão
A Escritura aponta como sendo um sinal de se
possuir um coração mudado pela graça divina, o fato de se odiar o pecado. De fato, se alguém
peca, mas se ele odeia o pecado, isto é uma prova
da existência da graça no coração.
O apóstolo Paulo provou a sinceridade da sua conversão quando disse que ele odiava o mal que fazia (Romanos 7) por causa do pecado que
se encontrava ligado à sua natureza terrena.
Assim, quando odiamos aquilo que Deus odeia, a saber o pecado, porque isto é uma parte da sua
santidade odiar todos os pecados, então estamos conformados a Ele, e podemos ter a certeza de
que somos de fato cristãos genuinamente
convertidos a Cristo, porque ele veio a este
mundo com o propósito de destruir o pecado e as obras do diabo naqueles que nEle creem.
12
Navegando com Segurança no Mar da
Vida
Estamos navegando num mar de trevas de
ignorância de Deus, e de maldade, e se não
tivermos um farol que nos conduza em segurança ao porto da salvação, estamos
perdidos.
Quem nos aponta a direção entre as trevas, é o evangelho, que é o verdadeiro farol da vida, e
não de uma vida natural, de uma vida qualquer, mas da vida espiritual, celestial e eterna.
Portanto, se não cremos na mensagem do evangelho, permanecemos mortos
espiritualmente, em delitos e em pecados.
E qual é a razão disto?
Simplesmente porque o único modo de se achar a vida eterna é crendo na verdade e justiça
reveladas no evangelho.
Obviamente, no único e verdadeiro evangelho.
Se cremos em algo diferente, permanecemos perdidos.
Deus só pode ter a sua justiça satisfeita, que exige de nós plena conformidade à sua
santidade, quando reconhecemos que sem
13
Cristo, sem a sua justiça, estamos mortos em
espírito, e não podemos de nenhum modo,
estarmos unidos a Deus em espírito.
Deus somente poderia sentenciar a nossa culpa, e executar a sentença condenatória que repousa sobre nós, transferindo a nossa culpa para o
próprio Cristo, e descarregando sobre ele toda a
sua ira contra o pecado, em sua morte na cruz.
É crendo na verdade de que aquele morte foi a minha própria morte, que era eu quem estava sendo castigado em Cristo pelo meu pecado,
que a minha culpa pode ser removida, e assim,
ser declarado perdoado e justificado por Deus.
E isto é totalmente por graça e por fé.
Tentemos lhe acrescentar algo, como até mesmo as minhas boas obras, para que seja
salvo por elas, e com isto anulo os méritos de Cristo, a sua morte na cruz, a minha própria
morte com ele, e assim, permaneço perdido e
sob a condenação da Lei.
Porque há somente um modo de ser livrado da
justa condenação da lei de Deus, que é o de morrer para ela, sendo considerado como
morto juntamente com Cristo em sua morte
substitutiva.
Este é o evangelho no qual devermos crer.
14
É o único farol que nos indica com segurança o caminho da salvação e da vida eterna.
É a única luz verdadeira apontando para a direção correta, entre tantas luzes foscas e
enganosas.
É o único farol que pode conduzir o barco da minha vida em segurança para o céu, em meio
às densas trevas da ignorância e da maldade
deste mundo.
15
Indestrutível
Não há rio de aflições profundo demais que
possa nos submergir porque a palavra de Deus é
a arca que nos eleva e nos mantém seguros nos dias tenebrosos.
A consolação do Espírito Santo é todo suficiente para nos aquietar e fortalecer em meio às
maiores tempestades que tenhamos que
enfrentar.
Quando os céus e a terra passarem, nós permaneceremos para sempre, sustentados
pelo braço forte do Senhor.
Quando este corpo de carne e osso se desfizer, ressurgiremos num corpo glorificado que
jamais poderá ser enfermado ou destruído.
Quem poderá então destruir a confiança, alegria
e paz que o próprio Deus nos dá, por meio da graça de Jesus?
Ele determinou nos conduzir em plena segurança para o céu, e que força é maior do que
o Seu grande poder, de modo a conseguir
frustrar o Seu eterno propósito de nos fazer somente o bem?
16
Descansemos então em plena confiança no Senhor toda vez que o mal vier bater à nossa
porta.
Honremos o nosso Deus com a nossa fé, porque nada lhe é impossível, e somente Ele é o Criador. Tudo mais é criatura e se encontra debaixo do
Seu perfeito controle.
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Segurança Eterna
Satanás trabalha para que o cristão não saiba
ou duvide que se encontra firme para sempre
nas mãos de Deus, como se afirma em Romanos 5.2 e em muitas outras passagens bíblicas.
É impressionante como ele consegue cegar o cristão para as afirmações feitas pelo próprio
Jesus, tais como esta que encontramos em Jo
10.27-29: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes
dou a vida eterna; jamais perecerão,
eternamente, e ninguém as arrebatará da
minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode
arrebatar.”.
Ah, como isso fere ao diabo, saber que Ele não poderá ter no inferno a nenhum dos que Jesus
genuinamente justificou e regenerou.
Por isso ele trabalha para infundir a dúvida no cristão, de que pertence realmente a Deus para
sempre, e que Deus o aceita completamente
como filho, apesar de suas imperfeições e
limitações.
O diabo deseja que você creia que de alguma forma, você pode perder sua redenção e ele
soprará sobre você para que se sinta inseguro e
intimidado.
18
Por isso você deve colocar o capacete da esperança da salvação.
Esta esperança significa que você pode aguardá-la como coisa segura e certa, porque Deus é fiel
para cumprir a promessa de salvá-lo eternamente e de que ninguém tirará você das
mãos de Jesus e das mãos do Pai, como se lê em
Jo 10.27-29.
A própria igreja pode disciplinar um cristão excluindo-o da comunhão, e assim ficará sujeito aos ataques de Satanás que visarão à destruição
da sua carne, mas este não poderá causar
qualquer dano ao seu espírito, que será salvo no
dia do Senhor, porque a Palavra afirma que um genuíno cristão (justificado e regenerado) não
pode ser mais tocado pelo maligno. Isto é, o
diabo não o terá consigo no inferno.
19
Segurança da Salvação
Algumas passagens bíblicas nas quais vemos
sendo afirmada a segurança da salvação:
Estes irão para o castigo eterno, porém os justos para a vida eterna. Mt 25.46
Para que todo o que nele crê tenha a vida eterna. Porque Deus amou ao mundo de tal maneira
que deu o seu Filho unigênito, para que todo o
que nele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna. Jo 3.15,16
Quem nele crê não é julgado; o que não crê já
está julgado, Jo 3.18
Por isso quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia se mantém rebelde contra o Filho
não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira
de Deus. Jo 3.36
Aquele, porém, que beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede, para sempre; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma
fonte a jorrar para a vida eterna. Jo 4.14
Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, não entra em
juízo, mas passou da morte para a vida. Jo 5.24
20
Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim, e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei
fora. Jo 6.37
E a vontade de quem me enviou é esta: Que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia. Jo
6.39
De fato a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer, tenha a vida eterna; e
eu o ressuscitarei no último dia. Jo 6.40
Em verdade, em verdade vos digo: quem crê, tem a vida eterna. Jo 6.47
Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente;... Jo 6.51
Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no
último dia. Jo 6.54
Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá. Jo 6.57
...Quem comer este pão viverá eternamente. Jo 6.58
...Se alguém guardar a minha palavra não verá a morte eternamente. Jo 8.51
21
...Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. Jo 10.10
Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, eternamente, e ninguém as arrebatará da
minha mão. Jo 10.28
...Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; Jo 11.25
E todo o que vive e crê em mim, não morrerá, eternamente... Jo 11.26
...Aquele que odeia a sua vida neste mundo, preservá-la-á para a vida eterna. Jo 12.25
E sei que o seu mandamento é a vida eterna... Jo 12.50
...Porque eu vivo, vós também vivereis. Jo 14.19
Assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida
eterna a todos os que lhe deste. E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus
verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Jo
17.2,3
...E creram todos os que haviam sido destinados
para a vida eterna. At 13.48
22
Logo, muito mais agora sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Rom
5.9
...Muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo. Rom 5.17
Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim
também por um só ato de justiça veio a graça
sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Rom 5.18
...Assim também reinasse a graça pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo nosso
Senhor. Rom 5.21
...O dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor. Rom 6.23
Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Rom 8.1
Aquele que não poupou a seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura não
nos dará graciosamente com ele todas as
cousas? Rom 8.32
Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus ? É Deus quem os justifica. Quem os condenará ? Rom 8.33
23
Quem nos separará do amor de Cristo ? ... Rom 8.35
Quem és tu que julgas o servo alheio ? para o seu próprio senhor está em pé ou cai; mas estará em
pé, porque o Senhor é poderoso para o suster. Rom 14.4
O qual também vos confirmará até ao fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso Senhor
Jesus Cristo. Fiel é Deus, pelo qual fostes
chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo... I Cor 1.8,9
Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o
mundo. I Cor 11.32
E, assim como trouxemos a imagem do que é terreno, devemos trazer também a imagem do
celestial. I Cor 15.49
...Somos cooperadores da vossa alegria; porquanto pela fé já estais firmados. II Cor 1.24
Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus
um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos
céus. II Cor 5.1
E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura: as cousas antigas já passaram; eis que
se fizeram novas. II Cor 5.17
24
Mas espero reconheçais que não somos reprovados. II Cor 13.6
...Mas o que semeia para o Espírito, do Espírito colherá vida eterna. Gál 6.8
Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, Ef 2.1
Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e
estando nós mortos em nossos delitos, nos deu
vida juntamente com Cristo – pela graça sois
salvos, Ef 2.4,5
Estou plenamente certo de que aquele que
começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus. Fp 1.6
Dando graças ao Pai que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz. Col
1.12
E a vós outros que estáveis mortos pelas transgressões, e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele,
perdoando todos os nossos delitos; tendo
cancelado e escrito de dívida, que era contra nós
e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente,
encravando-o na cruz; Col 2.13,14
25
E para aguardardes dos céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos
livra da ira vindoura. I Tes 1.10
...Seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o
Senhor. I Tes 4.17
Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor
Jesus Cristo, que morreu por nós para que, quer vigiemos, quer durmamos, vivamos em união
com ele. I Tes 5.9,10
O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo, sejam
conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos
chama, o qual também o fará. I Tes 5.23
...Toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado... I Tim 6.12
...Porque sei em quem tenho crido, e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu
depósito até aquele dia. II Tim 1.12
Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com
os homens, não por obras de justiça praticadas
por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos
salvou mediante o lavar regenerador e
26
renovador do Espírito Santo, que ele derramou
sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo
nosso Salvador, a fim de que, justificados por
graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna. Tito 3.4-7
...Tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem. Hb 5.9
Por isso também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para
interceder por eles. Hb 7.25
Pois, para com as suas iniquidades usarei de misericórdia, e de seus pecados jamais me
lembrarei. Hb 8.12
Por isso mesmo, ele é o Mediador da nova aliança a fim de que, intervindo a morte para
remissão das transgressões que havia sob a
primeira aliança, recebam a promessa da eterna herança aqueles que têm sido chamados. Hb
9.15
Porque com uma única oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados. Hb
10.14
Nós, porém não somos dos que retrocedem para a perdição; somos entretanto; da fé, para a
conservação da alma. Hb 10.39
27
Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua muita misericórdia,
nos regenerou para uma viva esperança
mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem
mácula, imarcescível, reservada nos céus para
vós outros, que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para salvação preparada
para revelar-se no último tempo. I Pe 1.3-5
Tendo purificado as vossas almas, pela vossa obediência à verdade,...pois fostes regenerados,
não de semente corruptível, mas de
incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente. I Pe 1.22,23
Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes
sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de
aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar. I Pe 5.10
E a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos testemunho e vo-la anunciamos, a vida
eterna, a qual estava com o Pai e nos foi
manifestada. I Jo 1.2
E esta é a promessa que ele mesmo nos fez, a vida eterna. I Jo 2.25
Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, ao ponto de sermos chamados filhos de Deus; e,
28
de fato, somos filhos de Deus. Por essa razão o
mundo não nos conhece, porquanto não o
conheceu a ele mesmo. Amados, agora somos
filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Sabemos que, quando ele se
manifestar, seremos semelhantes a ele, porque
havemos de vê-lo como ele é. E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança,
assim como ele é puro. I Jo 3.1-3
E o testemunho é este, que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. Aquele que
tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o
Filho de Deus não tem a vida. I Jo 5.11,12
Estas cousas vos escrevi a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em
o nome do Filho de Deus. I Jo 5.13
Também sabemos que o Filho de Deus é vindo, e nos tem dado entendimento para
reconhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o
verdadeiro Deus e a vida eterna. I Jo 5.20
29
Uma Segurança Firme e Inabalável
“Porque nos temos tornado participantes de
Cristo, se de fato guardarmos firme até ao fim a
confiança que desde o princípio tivemos” (Heb 3.14)
Em nós mesmos somos inseguros em relação a muitas coisas, especialmente aquelas que nos
atemorizam e desafiam, e isto, desde a nossa
infância.
Entretanto, podemos estar certos de que a confiança que depositamos em Jesus Cristo está
livre de qualquer tipo de insegurança.
Na comunhão com Ele não temos qualquer temor que possa prevalecer sobre nós, porque o
Seu amor lança fora o medo, a incerteza, a dúvida, a desconfiança.
Jesus não nos chamou simplesmente para nos livrar da condenação eterna no fogo do inferno,
mas para efetuarmos conquistas sobre o reino
das trevas, sobretudo resgatando almas das
garras do diabo.
Provamos para nós mesmos que somos de fato pertencentes a Cristo e participantes da
Sua natureza divina, por permanecermos
firmes na fé até ao fim da nossa jornada neste
mundo.
30
É por isso que se diz que confirmamos que somos participantes da vida ressurreta de
Cristo, pela ação do Seu poder e graça em nossas
vidas, todos os dias, até o fim, e desde o início da confiança que depositamos nEle desde o dia da
nossa conversão.
Se a justificação é a base e a causa da salvação, a santificação é a evidência da mesma.
É por isso que lemos em Hb 6.1-3, uma exortação para a busca do amadurecimento espiritual, rumo à perfeição, porque a tendência natural da
maioria dos cristãos é a de se acomodarem,
depois de terem sido salvos.
Mas a vida cristã é uma caminhada, no caminho da perseverança e da santificação.
A vida cristã é uma carreira, e não uma mera
expectativa contemplativa do cumprimento da promessa da glória do céu.
Não é suficiente, conforme a vontade de Deus, sabermos que Cristo é nosso Salvador e que por
meio dEle fomos justificados, é necessário ter
permanente e vital união com Ele, conforme o próprio Jesus nos ordenou dizendo que
deveríamos permanecer nEle e na Sua Palavra.
O verbo “cair” empregado no texto de Heb 6.6, corresponde no original grego à
31
palavra “parapipto”, que significa “desviar-se”
ou “apostatar”.
É o mesmo verbo usado em Heb 3.12, onde está traduzido como “afastar-se”. E este afastamento
referido, é o afastamento de Deus.
A Palavra afirma em Pv 24.16, que “sete vezes cairá o justo, e se levantará”.
A experiência tem revelado esta verdade; porque muitos são os que se desviam, mas se
reconciliam posteriormente com o Senhor,
porque a bondade e misericórdia do Senhor, vão em busca da ovelha desgarrada e perdida, para
trazê-la de volta ao aprisco.
Quando os ossos do cristão são quebrados, o Senhor os restaura novamente.
Um cristão verdadeiro pode cair, mas não numa queda definitiva, que seja para a perda da vida
eterna, que recebeu pela graça.
O próprio Noé, campeão da justiça, depois que se embriagou, arrependeu-se certamente, e
permaneceu salvo pela soberana graça.
Noé caiu, mas não numa queda final para a morte eterna, que ocorrerá somente com
aqueles que não têm a Cristo, no dia do grande juízo de Deus.
32
Daí o convite que seu autor faz aos hebreus para se aproximarem, com confiança, do trono da
graça, para acharem misericórdia em ocasião
oportuna, e para entrarem no Santo dos Santos, depois de terem se purificado de toda má
consciência. Ele os chama a se santificarem,
porque sem isto, não é possível estar efetivamente em comunhão com Deus no Santo
dos Santos celestial.
Desta forma, está claro que, se um cristão não pode perder a salvação, no entanto, pode se
desviar do caminho da verdade.
O fato de Deus tolerar e suportar que o erro caminhe ao lado da verdade, que o joio cresça ao lado do trigo, não significa de modo algum que
Ele seja indiferente ao erro. Muito ao contrário,
tem determinado um dia em que cada um dará
contas de Si mesmo perante Ele.
33
Hebreus 6
Não poderíamos deixar de incluir neste nosso
livro que trata do assunto da segurança eterna
da salvação em Jesus Cristo, o nosso comentário ao sexto capítulo da epístola aos Hebreus, que
trata justamente desta segurança eterna, e não,
como alguns costumam interpretar a parte
inicial do citado capítulo fora do seu próprio contexto imediato, e do relativo ao conjunto das
Escrituras.
O sexto capítulo de Hebreus é introduzido com a partícula conclusiva dió, que no original grego
significa, “por isso”, “em razão disso”, “desta maneira”, ou seja, ele iria passar a descrever
verdades que se apoiavam em tudo quanto ele
havia dito anteriormente.
Como a dizer: “Bem, já que Cristo é tudo o que acabamos de afirmar, sendo Ele próprio a razão, o princípio, o fundamento e tudo o mais que se
refere ao cumprimento do propósito de Deus
nos cristãos, então, o que podemos concluir é o
seguinte:”
Vocês não fizeram progresso rumo à maturidade espiritual em Cristo, de modo que
estão até mesmo necessitando que os
rudimentos da fé (doutrinas relacionadas nos
versos 1 e 2) sejam de novo ensinados a vocês,
34
mas não farei isto agora, mas em outra ocasião
caso Deus permita.
Não é o caso de concentrarmos nossa atenção nos rudimentos da fé, neste momento,
lhes convocando a um novo arrependimento para a conversão, para a regeneração, para
impor-lhes as mãos para receberem os dons e o
poder do Espírito Santo, lhes ministrar acerca
do juízo vindouro e da ressurreição dos mortos, porque não é o caso, e não é isto o de que têm
necessidade nesta hora, em razão da condição
em que vocês se encontram.
Confiando na carne e se aperfeiçoando na carne, como poderão estar aptos a recepcionarem tudo aquilo que se refere à nova
vida no Espírito Santo?
Tudo quanto necessitam é despertarem primeiro para a necessidade de se voltarem
mais uma vez para Cristo, e se unirem a Ele em espírito, não para nascerem de novo e serem
purificados, porque isto já ocorreu no passado e
vocês foram lavados pela Palavra que lhes foi
pregada.
Vocês precisam de crescimento espiritual.
Precisam olhar mais uma vez para o Cristo
crucificado, e se verem também crucificados
35
com Ele, para viverem
ressuscitados em novidade de vida.”
É por isso que na primeira parte deste sexto capítulo, o autor afirma a sua determinação de
se aprofundar neste momento em tratar do assunto da apostasia deles, e não se ater aos
rudimentos da fé que ele lhes havia ensinado, e
que por ora, deixaria de lado por um tempo para
poder se concentrar no tratamento que eles estavam necessitando.
Este “deixemo-nos levar para o que é perfeito” do verso 1, se refere à vocação imposta por Deus
a todos os cristãos de crescerem na graça e no
conhecimento de Jesus Cristo, até a estatura de varão perfeito.
Não que eles chegarão ao estado de perfeição moral absoluta sem pecado enquanto estiverem
neste mundo, mas que devem chegar à
perfeição espiritual, à plenitude do desenvolvimento das suas faculdades, para
poderem discernir tanto o bem quanto o mal, o
que é possível somente para aqueles que
chegaram à plenitude do seu amadurecimento espiritual, de maneira a estarem aptos a darem
um correto e adequado testemunho da verdade,
no poder do Espírito (Pv 4.18; I Cor 2.6; II Cor
13.11; Ef 4.13; Fp 3.15; Col 1.28; 2.6; 4.12; II Tim 3.16,17; Hb 5.12-14; Tg 1.4).
36
Esta perfeição é atingida se aperfeiçoando a santidade no crescimento da graça e do
conhecimento de Jesus Cristo (II Cor 7.1; Ef 4.12;
Hb 13.21; I Pe 5.10).
Do mesmo modo que há uma perfeição a ser esperada no porvir que é total e absoluta, sem
qualquer pecado, há também uma perfeição que
é para ser buscada e atingida enquanto ainda
estamos neste mundo e que se refere ao nosso amadurecimento espiritual pelo crescimento
progressivo em santificação até atingir tal
medida de perfeição que foi proposta por Deus
aos cristãos, e conforme foi exigida ao próprio Abraão: “Anda na minha presença e sê
perfeito.” (Gën 17.1).
Na parte final do capítulo anterior, o autor afirma que tinha muitas coisas a dizer aos seus
leitores, que eram difíceis de serem explicadas, não propriamente pela natureza da dificuldade
delas, mas porque eles não haviam crescido
espiritualmente, de modo a poderem entendê-
las.
Pelo tempo que eles tinham de cristãos, caso estivessem se aplicando à prática da Palavra,
eles teriam suas faculdades exercitadas de
modo a poderem discernir o significado da
vida cristã (v. 14).
37
Seria necessário demonstrar àqueles cristãos judeus que o sacerdócio e sacrifício de Jesus
configuravam o fundamento da salvação deles,
mas havia uma grande dificuldade para entenderem que o sacerdócio e os sacrifícios
arônicos passariam, conforme lhes diria o autor
de Hebreus, porque o templo ainda devia estar de pé por ocasião da escrita da epístola, com
todos os seus serviços ativados.
No entendimento deles, como poderia ser possível agradar a Deus sem oferecer os
sacrifícios de animais que Ele mesmo havia
ordenado em Sua Lei?
Como deixar a guarda do dia de sábado, substituindo-o pelo domingo?
Como deixar todas as demais prescrições cerimoniais da Lei de lado?
Parece que até antes da escrita desta epístola, os hebreus não haviam sido convencidos
suficientemente que havia sido dado um fim absoluto a todas as instituições mosaicas, desde
que a Nova Aliança entrou em vigor, apesar do
fato de o templo ainda estar de pé e a quase
totalidade dos judeus ter rejeitado a Cristo, permanecendo debaixo das tradições do
judaísmo.
38
Os cristãos hebreus tinham muito do que se arrepender, porque estavam colocando a
confiança deles, para a salvação de suas almas,
em muitas coisas, até no próprio arrependimento em relação ao pecado, mas só
que fora de Cristo.
Eles não conseguiam ainda entender de que modo absoluto o perdão dos nossos pecados é
dependente de Cristo e da obra que ele realizou em nosso favor como Sacrifício e Sacerdote.
A palavra de alerta em sequência a Hb 6.4-6, nos versos 7 e 8 é também muito interessante para
descrever o estado em que se encontrava a
quase totalidade dos destinatários da epístola.
Eles eram qual terra que havia recebido e absorvido a chuva da graça de Deus sobre suas
vidas, só que em vez de crescerem, e darem
bons frutos, estavam produzindo espinhos e
abrolhos.
É isto o que acontece quando o cristão para de se santificar.
Ele vai produzir as obras da carne em vez do fruto do Espírito.
Os espinhos amargosos e venenosos das práticas do mundo. E esta não é uma condição
para ser abençoada por Deus. Ao contrário é
39
uma posição para ser sujeitado à sua correção e
disciplina.
A sequência imediata no verso 9, é muito elucidativa, como o “Quanto a vós outros,
todavia, ó amados, estamos persuadidos das coisas que são melhores e pertencentes à
salvação,”, isto porque em sendo eles
verdadeiros cristãos, certamente poderiam dar
frutos para Deus em Jesus Cristo, conforme o Seu santo propósito determinado antes da
fundação do mundo, porque fomos criados em
Cristo Jesus para as boas obras que Deus
preparou de antemão.
Os cristãos hebreus, num certo sentido, haviam apostatado da fé. Eles estavam virando as costas
a Cristo e estavam renunciando à graça que lhes
havia salvado por um retorno ao
cerimonialismo da lei de Moisés, e às tradições desviadas da verdade, do judaísmo.
E no entanto, nós vemos o Espírito Santo estendendo a mão a eles, chamando-lhes a um
renovado arrependimento, não para a
justificação e regeneração, mas pelos seus pecados presentes, de modo a que pudessem
retomar à carreira espiritual em que estavam
inscritos.
40
Isto não é uma clara demonstração da possibilidade de reconciliação de cristãos
desviados?
A misericórdia de Deus nunca se apartará daqueles aos quais recebeu como filhos, por meio da fé em Cristo Jesus.
Por isso o autor de Hebreus estava procurando incitá-los a despertar do sono espiritual, e a
abrirem os seus olhos que se encontravam
fechados pelas trevas do legalismo, a comprarem ouro espiritual refinado no Senhor
para serem santificados e enriquecidos pela
verdade da Sua Palavra revelada aos apóstolos.
É por isso que nós encontramos exortações ao longo de toda a epístola para que eles se apegassem à verdade que havia sido dada aos
santos de uma vez por todas.
O doreas = dom, presente; epouraniou = celestial, de Hb 6.4, se refere ao Espírito Santo,
porque Ele é o dom da Nova Aliança, prometido por Cristo aos cristãos.
O autor de Hebreus afirma que seria impossível renovar para arrependimento aqueles que
receberam o Espírito Santo como um dom e que
se tornaram participantes dEle, e que caíram
definitivamente, numa queda final, tal como Judas.
41
Eles já haviam estado sob a influência do Espírito Santo, mas não permitiram serem
transformados por Ele em novas criaturas.
Não haviam entrado no descanso de Deus por causa da incredulidade, ou seja, porque não eram possuidores da fé que salva.
Como seria possível então renovar aquilo que nunca havia sido tornado novo e que
permaneceu sendo como o vinho velho no odre
velho?
Como reavivar o que nunca foi avivado?
Se quando aparentavam estar ligados a Cristo já
se encontravam em perdição, como então poderiam ser salvos depois de terem profanado
e calcado sob os seus pés o sangue da aliança?
O verbo renovar usado em Hebreus 6.6, é oriundo da palavra composta grega, anakaínos,
onde aná, é a preposição outra vez, e kainós, o adjetivo novo. Significando literalmente “tornar
novo outra vez”.
Vale lembrar que tal adjetivo kainós é usado em várias passagens do Novo Testamento, inclusive
no uso que nosso Senhor fez da mesma no evangelho quando se referiu a vinho novo e
odres novos.
42
E o substantivo arrependimento na mesma passagem, é oriundo da palavra grega metanoia,
a qual é sempre usada no Novo Testamento para
arrependimento, e que significa literalmente transformação de mente.
Assim, não há aqui uma referência a perda de salvação, mas a indicação de uma
impossibilidade de tornar novo outra vez para
uma transformação de mente.
Ou seja, a de regenerar, de produzir o novo nascimento do Espírito, ou seja, de que
alguém se converta de fato a Deus.
E quem são estes dos quais se diz que seria impossível que se convertessem a Deus?
São os que são designados pelo verbo grego parapípto, que significa os que se
afastaram, que apostataram.
É dito que eles, ao caírem, ou seja, ao apostatarem, estavam crucificando mais uma
vez o Senhor e o expondo à ignomínia, ou seja,
eles já o haviam feito anteriormente com a falsa
profissão de fé deles, e agora, com a sua apostasia consumada.
Ao dizer que eles estavam crucificando o Senhor mais uma vez para si mesmos, o
sentido aqui é o de que como se afirmassem
que de nada serviu para eles o ter nosso Senhor
43
ter morrido na cruz, e estariam como que
exigindo dEle um novo sacrifício.
Paulo falou relativamente aos cristãos gálatas, de um decaimento da graça por estarem
confiando na Lei para serem justificados. Mas de modo nenhum, se tratava de uma queda para
uma perdição final. Eles seriam restaurados à
comunhão com o Senhor pela Palavra de
exortação que lhes fora dirigida pelo apóstolo a permanecerem na fé e na graça.
Se fosse possível um genuíno eleito justificado e regenerado cair definitivamente da graça,
perdendo a condição de filho de Deus, que havia
recebido anteriormente, então não seria realmente possível trazê-lo de novo a esta
condição porque isto demandaria uma nova
justificação e regeneração, e estes são atos
únicos que ocorrem uma só vez e para sempre na vida daqueles que alcançaram a salvação.
Quanto aos apóstatas, nada foi dito pelo autor de Hebreus quanto a terem nascido de novo, não
da vontade do homem nem da carne, senão o
que se lê nos versos 7 e 8 que eles são como um tipo de solo que absorve a chuva
frequentemente, não para produzir erva útil,
mas para produzir espinhos e abrolhos, e por
isso é rejeitado e perto está da maldição, e o seu fim é o de ser queimado.
44
Como tais palavras poderiam ser aplicadas a verdadeiros cristãos?
É por isso que o autor de Hebreus prossegue o seu discurso fazendo uma distinção clara entre
estes apóstatas e os verdadeiros cristãos, dos quais somente se pode esperar as coisas
melhores relativas à salvação.
Deus fez uma aliança eterna com os cristãos, e prometeu isto desde os dias dos profetas, e o
prometeu especialmente a Davi.
Sendo eterna não pode ser anulada.
E como aliança em seu caráter matrimonial
onde Ele é o esposo, e a igreja a noiva, o que se requer então dos aliançados é que eles sejam
fiéis.
Deus sempre será fiel porque não pode se negar a si mesmo.
Todavia, os cristãos, por causa do resquício de corrupções que remanescem na natureza terrena, são exortados a serem fiéis em tudo
durante a sua peregrinação terrena, porque, tal
casamento, do Criador com a criatura, requer
isto.
Deus continuará amando seus filhos adúlteros, mas os sujeitará à disciplina da aliança.
45
Ele não os repudiará porque tem prometido manter o compromisso por toda a eternidade.
Diante de tal caráter imutável da promessa que Ele fez, não resta aos aliançados senão a
alternativa de serem também fiéis, de modo que se viva de modo agradável Àquele com os quais
se aliançaram numa união de amor indissolúvel
e eterno.
O que o autor de Hebreus desejava de fato expor àqueles cristãos que estavam abandonando o seu primeiro amor é o que lemos nos versos 11 e
12:
“11 Desejamos, porém, continue cada um de vós mostrando, até ao fim, a mesma diligência para
a plena certeza da esperança;
12 para que não vos torneis indolentes, mas
imitadores daqueles que, pela fé e pela longanimidade, herdam as promessas.”.
Ele marcou portanto, a necessidade de diligência em santificação para o crescimento
na graça e no conhecimento de Jesus, porque
esta é a única maneira de se ter a plena certeza da esperança da salvação.
Veja: a certeza da salvação, e não a salvação propriamente dita (v. 11).
46
Tal diligência não tem em vista somente a certeza da salvação, mas também e
principalmente conduzir a um modo de vida
digno da vocação a que o cristão foi chamado por Deus, que é pela fé e longanimidade (v. 12).
Por conseguinte, ele reforçou estes argumentos detalhando em qual base segura se alicerça a
salvação dos cristãos, nos versos 13 a 20.
A esperança da nossa salvação é referida pelo autor de Hebreus como sendo uma âncora da nossa alma, que a manterá segura e firme por
toda a eternidade, porque esta âncora está
firmada no Santo dos Santos, além do véu, onde
Jesus entrou, e nos mantém ancorados como o grande sumo sacerdote da nossa fé, de maneira
que não podemos ser movidos da nossa união
com Ele.
A nossa salvação não é baseada num pacto ou aliança da Lei ou obras, mas num pacto, ou seja, numa aliança de pura graça, do Espírito Santo.
É bom lembrarmos sempre que neste sexto capítulo de Hebreus é afirmada a imutabilidade
da promessa da salvação, que Deus fez a Abraão
quando lhe preanunciou o evangelho, dizendo que no seu descendente que é Cristo seriam
abençoadas todas as nações da terra, e para
confirmar tal imutabilidade do Seu propósito de
47
salvar com segurança eterna os aliançados com
Cristo pela fé, o fez jurando por Si mesmo.
Reparem que ele quase se retrata no verso 9: “ainda que falamos desta maneira”, isto é,
falando de uma ameaça de inferno para quem cai definitivamente da graça. Mas para reparar
qualquer mal entendido da parte dos seus
destinatários, pensando que poderia estar se
dirigindo a autênticos filhos de Deus, disse no mesmo verso que estava persuadido em relação
a eles das coisas que são melhores e
pertencentes à salvação.
Ele disse que estava persuadido quanto à segurança da salvação deles. Ele sabia que eles eram filhos de Deus, e que portanto, a condição
de apostasia final a que havia se referido não era
aplicável a eles.
E acrescentou um argumento para esta sua persuasão: eles haviam dado mostras anteriormente da genuinidade da sua fé através
das boas obras, e Deus estava amarrado ao
compromisso de dar-lhes a recompensa
prometida ao fruto da fé deles, e certamente, isto não poderia ser feito de modo algum no
inferno.
Israel, apesar de ser o povo da aliança com Deus no Velho Testamento, tinha um grande
contingente de apóstatas.
48
Eles haviam desperdiçado toda a disponibilidade da graça de Deus que caía sobre
eles como a chuva que cai do céu.
Os israelitas negligenciaram a fé, o amor e a misericórdia, e como poderiam dar os frutos esperados por Deus?
A palavra de Deus e o derramar do Espírito Santo são comparados à chuva que desce do céu para
amolecer e fertilizar os corações dos homens.
O que se pode esperar que seja feito por Deus ao solo do coração que recebendo continuamente esta chuva, nunca chega a produzir bons frutos?
O coração deve ser preparado para a recepção da graça do evangelho.
Um coração endurecido não permitirá ser penetrado por esta doutrina celestial que é
apropriada para corações de carne, e não para
corações de pedra.
Porque na promessa da Nova Aliança Deus disse que trocaria o coração de pedra por um novo
coração de carne.
Daí a importância do arrependimento, do quebrantamento, da humilhação perante Deus,
para que Ele opere no nosso novo coração recebido dEle pela fé em Cristo.
49
De nos apresentarmos diante dele como aquilo que somos de fato, a saber, pobres de espírito, e
inteiramente necessitados da Sua graça, e
reconhecermos que somos pecadores necessitados do Seu perdão, e assim, vazios de
nós mesmos, a chuva celestial poderá
encharcar a nossa terra e torná-la apta a gerar e a sustentar o crescimento de todas as plantas
espirituais relativas à graça de Deus.
Os israelitas estiveram debaixo da boa doutrina, Deus lhes deu a lei por meio de Moisés, e lhes
enviou a Sua Palavra pelos profetas. A chuva que
caiu sobre eles era boa chuva. Não era chuva sulfúrica. Mas o solo infértil dos seus corações
endurecidos não fez um bom uso daquela chuva
que Deus enviou sobre eles.
Na consideração da terra que seria amaldiçoada e queimada e rejeitada, como citado em Hb 6.8, deve-se também ter em conta que é dito que
continuamente ela recebeu a chuva que Deus
enviou sobre ela, e no entanto não permitiu que
aquela chuva a tornasse útil para os propósitos do Senhor.
Nós vemos aqui esta longanimidade e graça divinas, sendo aplicadas antes do juízo de
destruição.
50
É isto o que acontece na prática em relação às pessoas que não permitem o trabalho da graça
em seus corações endurecidos.
Elas poderiam permitir serem penetradas pela graça, tal como a água da chuva que penetra nos solos permeáveis, mas, no entanto, não
permitem este trabalho, e permanecem no
endurecimento que por fim ocasionará a
destruição delas.
A prova disto está no fato de Deus afirmar que não tem prazer na morte do ímpio, antes que ele
se converta e viva (Ez 18.23; 33.11).
O que é reafirmado pelo apóstolo Paulo quando diz em I Tim 2.4 que Deus “quer que todos os
homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.”.
Os dias do evangelho, a dispensação da graça, são o tempo do reino da paciência ou
perseverança (hipomoné) em Jesus Cristo (Apo
1.9; 3.10; 13.10).
Porque este momento não é apenas o tempo do
reinado do Senhor como também o tempo da paciência dEle. Deus está sendo paciente e
longânimo para com todos os pecadores na
presente dispensação da graça, e os Seus filhos
devem seguir os Seus passos.
51
Abraão é fixado como exemplo e marco da fé. E por isso é citado neste sexto capitulo. Quantas
vezes o povo de Deus fracassou no Antigo
Testamento, e quantas vezes a igreja parecia definhar no mundo ao longo da sua história de
dois milênios, entretanto ela prosseguirá
adiante porque as portas do inferno não poderão prevalecer contra ela, porque Deus
fez promessas relativas aos cristãos desde
Abraão, e elas serão cabalmente cumpridas, a
par de toda forma de oposição e dificuldades, e isto deve servir para animar a fé dos cristãos a
perseverarem e nunca desfalecerem.
Nenhuma promessa de Deus falhará, e não deixará de ter o devido efeito.
Para mostrar a imutabilidade da promessa e de que não a revogaria de modo algum, e isto se
aplica especialmente à adoção dos eleitos como Seus filhos, pois prometeu a Abraão que no Seu
descendente que é Cristo, seriam benditas todas
as nações da terra, isto é, todos estes que estão
em Cristo são abençoados, porque são resgatados da maldição para serem adotados na
família de Deus como Seus filhos, e a promessa
foi feita com a interposição de um juramento
divino, tendo Deus jurado por Si mesmo, mostrando que jurou no grau mais elevado que
existe, porque não há nada mais elevado do que
Ele próprio.
52
Então o sentido aqui é que Ele deixaria de ser Deus (caso isto fosse possível) se deixasse de
cumprir o que prometeu a Abraão em relação à
descendência que formaria a partir dele, tanto a natural (a nação israelita contada na
descendência de Jacó, neto de Abraão) quanto a
espiritual (os eleitos que são justificados e regenerados por causa da fé em Cristo) (Gên
22.15-18).
Se Deus fez a promessa isto não é para ser discutido, mas recebido pela fé. Se entre os
homens o juramento põe fim à discussão sobre
qualquer demanda, muito mais temos razão para entender que o juramento que Deus fez
quando fez a promessa a Abraão, põe um ponto
final logo de início em toda a discussão possível
se a salvação é pela graça ou pelas obras, porque se é pela promessa, é evidente que é por pura
graça.
E também que é segura, porque Deus jurou que a daria aos que estivessem ligados pela fé a
Cristo. O próprio Deus então é quem assegura esta salvação e não os nossos méritos e
capacidade (Rom 9.8; Gál 3.18).
Foi exatamente para mostrar aos herdeiros da promessa da salvação (os cristãos) de que eles
seriam realmente salvos em Cristo, e que deveriam descansar quanto a esta verdade,
53
Deus, para mostrar a imutabilidade deste Seu
propósito se interpôs com um juramento.
Se Deus jurou fazer é porque Ele de fato não voltará atrás no propósito sobre o qual jurou, em
nenhum tempo. Então não serão as perplexidades, as fraquezas, as tristezas, os
sofrimentos e tudo o mais que os cristãos
possam sofrer em sua caminhada terrena, que
poderá lhes tirar esta salvação que foi prometida por juramento e que eles alcançaram pela fé em
Jesus.
A imutabilidade deste propósito divino foi evidenciada por duas coisas imutáveis, a saber:
a promessa (primeira coisa) e o juramento que Ele fez (segunda coisa). A promessa já seria
suficiente, mas foi reforçada com um
juramento para que não houvesse nenhuma
dúvida quanto à segurança de recebermos e mantermos para sempre aquilo que Deus nos
prometeu, a saber, sermos herdeiros
juntamente com Cristo.
O autor de Hebreus afirma que na condição de eleitos, que já haviam corrido para o refúgio que nos livra da condenação vindoura, que é Cristo,
tenhamos um forte alento (consolo) em face de
todas as perseguições e oposições que possamos
sofrer neste mundo, ou em face de todas as nossas próprias fraquezas, porque é impossível
54
que Deus minta quanto ao que prometeu e nem
quanto ao que jurou.
Deus nos propôs esta salvação por pura graça, por promessa, e pela fé os cristãos lançaram
mão dela, isto é, se apropriaram da promessa e da graça que lhes foi oferecida em Cristo pela
esperança de serem santos assim como Ele é
santo, e de serem co-herdeiros com Ele no céu.
A natureza desta firmeza é comparada a uma âncora, que nos segura firmemente. E a segurança e firmeza não são propriamente
nossas, nem da nossa fé, mas desta âncora que é
a promessa e o juramento feito por Deus.
É nisto que somos ancorados. É isto que nos garante o céu, porque esta promessa e juramento penetraram o véu não propriamente
por nossos esforços, mas juntamente com
Cristo, que é o Sumo Sacerdote da nossa fé que
entrou no Santo dos Santos para fazer uma eterna propiciação pelos nossos pecados com o
Seu próprio sangue.
Então a promessa e o juramento estão ancorados no sacerdócio e no sacrifício de Jesus
e não em nós mesmos, de maneira que não vacilemos ou duvidemos do seu cumprimento,
porque não estão firmadas em nós que estamos
rodeados de muitas fraquezas, mas no próprio
55
Cristo que não tem qualquer fraqueza, antes é
Todo Poderoso.
Os cristãos podem também penetrar além do véu porque Jesus, o precursor deles está lá
intercedendo por eles.
Quanto à certeza da esperança da salvação é dito no verso 19 (“a qual” = esperança proposta) que
ela é como uma âncora firme e segura da alma,
porque entra até o interior do véu, onde Jesus
penetrou como precursor.
A esperança proposta referida pelo autor de Hebreus nada tem a ver com a noção comum de
esperança que está relacionada a algo duvidoso,
incerto, que flutua na expectativa do que será ou
não o futuro, pois a esperança referida no texto conforme se verifica no contexto da epístola,
tem a ver com confiança e não com incerteza.
Embora possam ser incluídas tais expectativas de todos os tipos na noção geral de esperança,
contudo elas são totalmente excluídas da natureza daquela graça da esperança que é
recomendada a nós na Bíblia.
Porque uma confiança firme em Deus para o desfrutar das coisas boas contidas nas Suas
promessas, à época designada, eleva na alma
um desejo sincero por elas e pela expectativa delas, com uma grande alegria por saber que são
56
coisas prometidas, mas que são certas e seguras
porque têm sido garantidas e prometidas não
pelo homem, mas pelo próprio Deus, e com a
confirmação de um juramento dEle.
A esperança é uma das graças da fé evangélica, que é infundida em nossos corações pelo
Espírito Santo, e esta graça é tanto maior quanto
mais crescemos na perseverança e na
experiência da bondade de Deus para conosco em Cristo Jesus, como se vê em Romanos 5.4,5.
É dito que esta esperança é âncora da alma porque isto insinua que nossas almas estarão
muitas vezes expostas às tempestades, e tensão
de perigos espirituais, perseguições, aflições, tentações, temores, pecados e morte, que batem
frequentemente nelas, e então necessitamos de
uma âncora que nos mantenha firmes em nossa
posição a par de todas estas tempestades que sobrevêm sobre nós.
Por causa da violência destas tempestades há graus nelas que são mais urgentes do que
outros, e assim elas tendem na própria natureza
delas a trazer ruína e destruição.
É esta âncora o segredo da segurança das almas dos cristãos.
Se é esta âncora que nos segura firmemente, e se esta âncora não somos propriamente nós
57
mesmos, devemos abandonar por completo a
ideia de que somos os próprios agentes da
firmeza e segurança da nossa salvação, senão a
promessa de Deus que se cumpre em Cristo Jesus.
Esta âncora não está fixada no fundo do mar, mas no céu, onde Jesus penetrou como
precursor. Ela penetrou além do véu, e o que é
este véu? É o que fazia separação entre o Lugar Santo e o Santo dos Santos. E o que estava além
do véu era o Santo dos Santos no qual somente
era admitida a presença do sumo sacerdote para
fazer expiação por toda a nação de Israel, uma vez por ano.
Então isto indicava que este trabalho de expiação, não por mais um ano, mas por toda a
eternidade deveria ser feito por um Sumo
Sacerdote celestial, porque o trabalho dEle seria feito não no tabernáculo terreno, mas no
celestial. E como se diz que Jesus foi feito
sacerdote para sempre segundo a ordem de
Melquisedeque (v. 20), então isto pressupõe que a nossa salvação é também eterna, assim como
o sacerdócio dEle é eterno.
É portanto uma salvação para durar para sempre, e quando isto começa a acontecer? No
momento mesmo em que somos justificados e regenerados pela fé em Jesus no dia da nossa
conversão, porque se diz que passamos desde
58
então a ter uma firme e segura esperança,
porque ela está ancorada no céu na pessoa do
Sumo Sacerdote que garante a eternidade da
nossa salvação.
O que está dentro deste véu? Não uma arca com tábuas de pedra, nem querubins entalhados em
madeira e ouro, mas o próprio Deus em Seu
trono de graça e o Senhor Jesus Cristo à Sua
destra em Seu trono, como Sumo Sacerdote da igreja. É aqui que reside a segurança da
esperança da alma que é firme em todas as
tempestades que possam nos sobrevir.
A esperança dos cristãos não está firmada nas coisas abaláveis da Antiga Aliança e que se encontravam no tabernáculo terreno, e que
sendo apenas figura das coisas celestiais
estavam prestes a desaparecer, como de fato
desapareceram.
Todas aquelas coisas desapareceram porque agora podemos nos aproximar diretamente do
Pai e do Filho no tabernáculo celestial, sem a
necessidade de cumprir as prescrições de uma
ordem de culto terreno que havia na Antiga Aliança.
Se Cristo não tivesse penetrado o céu depois de ter morrido e ressuscitado por nós, não haveria
nenhum trono de graça e misericórdia no céu,
59
porque isto não poderia ser dado aos pecadores
sem uma obra de expiação do pecado.
O nome Jesus significa Salvador porque Ele foi dado para salvar o Seu povo dos pecados deles.
Jesus salva os eleitos do poder do pecado, de Satanás, da morte e da condenação da lei.
Como Jesus entrou no céu como nosso precursor, então é nosso dever seguir os Seus
passos quanto ao modo como Ele lá entrou, pois,
no seu caso, esta entrada foi antecedida pela
santidade e pela cruz, e estas duas partes essenciais do modo com que nosso precursor
entrou na glória também se aplicam a nós.
Heb 6:1 Por isso, pondo de parte os princípios elementares da doutrina de Cristo, deixemo-
nos levar para o que é perfeito, não lançando, de
novo, a base do arrependimento de obras mortas e da fé em Deus,
Heb 6:2 o ensino de batismos e da imposição de mãos, da ressurreição dos mortos e do juízo
eterno.
Heb 6:3 Isso faremos, se Deus permitir.
Heb 6:4 É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito
Santo,
60
Heb 6:5 e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro,
Heb 6:6 e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de
novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia.
Heb 6:7 Porque a terra que absorve a chuva que frequentemente cai sobre ela e produz erva útil
para aqueles por quem é também cultivada
recebe bênção da parte de Deus;
Heb 6:8 mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada e perto está da maldição; e o seu fim é
ser queimada.
Heb 6:9 Quanto a vós outros, todavia, ó amados, estamos persuadidos das coisas que são
melhores e pertencentes à salvação, ainda que
falamos desta maneira.
Heb 6:10 Porque Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor que
evidenciastes para com o seu nome, pois
servistes e ainda servis aos santos.
Heb 6:11 Desejamos, porém, continue cada um de vós mostrando, até ao fim, a mesma diligência para a plena certeza da esperança;
61
Heb 6:12 para que não vos torneis indolentes, mas imitadores daqueles que, pela fé e pela
longanimidade, herdam as promessas.
Heb 6:13 Pois, quando Deus fez a promessa a Abraão, visto que não tinha ninguém superior por quem jurar, jurou por si mesmo,
Heb 6:14 dizendo: Certamente, te abençoarei e te multiplicarei.
Heb 6:15 E assim, depois de esperar com paciência, obteve Abraão a promessa.
Heb 6:16 Pois os homens juram pelo que lhes é superior, e o juramento, servindo de garantia,
para eles, é o fim de toda contenda.
Heb 6:17 Por isso, Deus, quando quis mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa a
imutabilidade do seu propósito, se interpôs com
juramento,
Heb 6:18 para que, mediante duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, forte alento tenhamos nós que já
corremos para o refúgio, a fim de lançar mão da
esperança proposta;
Heb 6:19 a qual temos por âncora da alma, segura e firme e que penetra além do véu,
62
Heb 6:20 onde Jesus, como precursor, entrou por nós, tendo-se tornado sumo sacerdote para
sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.
63
Uma Vez Salvo... Para Sempre Salvo, Pela
Evidência da Perseverança
É da vontade de Deus que todos os Seus filhos
tenham certeza da sua salvação e que se
regozijem na esperança da glória vindoura. Mas esta certeza só pode ser confirmada através da
perseverança.
Alguém pode pegar uma ou mais passagens isoladas das Escrituras, e fora do contexto, para
negar que a nossa salvação é segura. Ele pode apontar para um texto como Gálatas 5.4 e dizer:
“Vê, você pode cair da graça.”. O texto diz: “De
Cristo vos desligastes vós que procurais
justificar-vos na lei, da graça decaístes.”. Aí nos diz: você está vendo, isto prova que você pode
cair da graça. Está certo, é o que está dito. Mas a
estes que Paulo disse ter decaído da graça ele
chamou de santos e de filhos amados ao longo de toda a epístola. Evidentemente não estava se
referindo a uma queda fatal e final, senão à
verdade de que a graça que recebemos na
conversão a Cristo está sujeita a decadências, ou seja, à diminuição da ação do seu poder em
nossas vidas em razão de não nos alimentarmos
da verdade que está em Jesus.
Nós lemos no verso 2 do mesmo capítulo: “Eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará.”.
Em outras palavras, se você crê que será
64
justificado por Deus por se submeter a certo tipo
de operação física prescrita pela lei, então Cristo
não significa nada para você. Paulo ensinou
claramente que pela lei ninguém é justificado (3.11). Quem não é justificado pela fé, a única
forma estabelecida por Deus, e procura ser
justificado pela lei, permanece sob a maldição da própria lei e da ira de Deus (3.10).
Além disso, quando fazemos da nossa religião uma mera prática de cerimônias e de
observações dogmáticas baseadas na tradição
dos homens, e não em Cristo e Sua doutrina
contida nas Escrituras, ficamos sujeitos a este enfraquecimento espiritual decorrente do
enfraquecimento da ação da graça em nossas
vidas.
Outros textos que são muito utilizados para afirmar a possibilidade de perda de salvação são os que se encontram sobretudo na epístola aos
Hebreus, conforme vemos a seguir:
Dentre as exortações bíblicas para que busquemos as evidências da nossa eleição, além
de II Pe 1.10, temos a passagem de Hb 3.6: “Cristo porém, como Filho, sobre a sua casa; a qual
somos nós, se guardamos firme até ao fim a
ousadia e a exultação da esperança.”.
O que este texto quer afirmar é que um verdadeiro crente guarda até o fim a ousadia e a
65
exultação da esperança, isto é, ele tem a certeza
de que é salvo, pelo Espírito Santo que testifica
com o seu espírito que ele é um filho de Deus.
Aqueles que são apenas convencidos e não convertidos, e que estão na igreja, ficarão com a
ideia enganosa de que são crentes autênticos
por algum tempo, porque, como se afirma na parábola do semeador, eles abandonarão um dia
esta convicção, seja pelas tribulações, seja pelos
cuidados do mundo.
Para termos a certeza de que pertencemos realmente a Deus é necessário comprovar isto
para nós mesmos por guardarmos firmes até ao fim a ousadia e a exultação da esperança, isto é,
provamos que somos de fato filhos de Deus por
perseverarmos até o fim da nossa jornada neste
mundo, porque os que são de Cristo vivem dessa forma.
A parábola do semeador fala de pessoas que recebem a Palavra com alegria, mas que não
chegam a nascer de novo, porque se fascinam
com o mundo, ou não suportam as tribulações. Chegam a andar um período alegremente com
os crentes, achando conforto na Palavra de
Deus, mas depois de certo tempo acabam
manifestando que não eram autênticos justificados e regenerados, porque não
perseveraram, e a perseverança é um dom de
Deus para aqueles que são seus.
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O crente verdadeiro terá um estímulo espiritual que procede de Deus para perseverar, obedecer,
santificar-se. Ele negará a própria segurança de
sua vida até mesmo em face da morte, mas jamais negará a Cristo.
Ainda que caia por um período, levantar-se-á, nem que seja na hora da sua morte. Mas este
levantar na hora da morte é da esfera do
conhecimento exclusivo de Deus. Ninguém pode antever tal condição caso não lhe seja
revelada diretamente pelo Senhor.
É possível que um verdadeiro crente, por motivo de desobediência não viva no descanso de Deus,
e seja cumulado de muitas tristezas porque não amadureceu na fé, no entanto, destes pode-se
afirmar que serão curados pela mesma graça
que os salvou, em tempo oportuno.
Por isso se afirma a mesma coisa em Heb 3.14: “Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se de fato guardarmos firme até ao fim a
confiança que desde o princípio tivemos.”.
Deus em Sua infinita sabedoria estabeleceu o desenvolvimento da nova natureza recebida na
regeneração, pela santificação, para que o crente se esforce em seu crescimento espiritual
à semelhança de Cristo, de modo que somente
assim possa ter a certeza da segurança plena da
sua salvação em todos os dias da sua vida.
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Isto se torna portanto um fator contribuinte para não se desestimular. Para não desistir em
meio à sua peregrinação. Porque a certeza da
segurança da salvação, veja bem, a certeza, e não a salvação propriamente dita que lhe foi dada
pela graça, mediante a fé, está diretamente
ligada à sua perseverança.
É por isso que lemos ainda em Heb 6.1-3, uma
exortação para a busca do amadurecimento espiritual, rumo à perfeição, porque a tendência
natural da maioria dos crentes é a de se
acomodarem depois de terem sido salvos, e é o
que parece que o texto quer se referir quando fala de princípios elementares da doutrina de
Cristo, a saber, o arrependimento, a fé,
batismos, imposição de mãos, ressurreição dos
mortos e juízo eterno.
Há uma tendência em nós para dizermos: eu passei da morte para a vida, estou entre o limiar
do meu batismo e da minha ressurreição
prometida, já o tenho conquistado, vou sentar,
descansar e esperar. Entretanto a vida cristã não é isto. É uma caminhada, no caminho da
perseverança e da santificação.
A Palavra de Deus nos exorta a isto. E era exatamente este o problema com os crentes aos
quais o autor de Hebreus dirigiu originalmente a sua epístola. Ele lhes repreendeu por sua
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imaturidade espiritual e falta de progresso em
direção à maturidade (Hb 5.11-14).
Ele lhes exortou a correrem com perseverança a carreira que lhes estava proposta olhando para
Jesus (Hb 12.1,2).
Ele lhes falou tudo o que haviam conquistado em Cristo 6.4,5, a saber, a iluminação espiritual,
o dom celestial, a habitação do Espírito Santo, a
Palavra de Deus e os poderes do mundo
vindouro, tudo isto pela justificação e pela regeneração.
Agora, isto não lhes foi dado para ficarem imobilizados, e pior ainda, transferirem a sua
confiança de Jesus para as antigas tradições da
lei, e é bem possível que estivessem considerando Jesus menor que Arão, Moisés e
todos os heróis da fé do Antigo Testamento, e
possivelmente até aos anjos, daí a explanação
que faz sobre a superioridade de Jesus nos primeiros capítulos da epístola.
Este era o quadro reinante, e daí o tom das suas palavras falando da impossibilidade de
renovação para arrependimento de quem se
desligasse de Cristo (numa suposição de desligamento) porque não há outro nome dado
debaixo do céu pelo qual possamos ser salvos.
Eles foram salvos em Cristo para perseverarem
em Cristo, e para serem transformados à
69
semelhança de Cristo. A vida cristã é uma
carreira, e não uma mera expectativa
contemplativa do cumprimento da promessa da
glória do céu. Não é o bastante para o crente o ter passado por uma experiência gloriosa de
justificação e regeneração no passado, é
necessário crescer espiritualmente pela transformação do seu caráter e aprender a fazer
a vontade de Deus. É absolutamente necessário
que a dinâmica de uma fé viva seja o moto
principal para que o testemunho de Cristo seja confirmado em suas vidas, para que sejam
cartas vivas onde outros possam testemunhar a
vida que há em Jesus disponível para os
pecadores.
Não é suficiente ser justificado e nascer de novo.
É preciso experimentar que Jesus é competente para remover minha corrupção (despojamento
da carne) e revestir-me de suas virtudes. Isto é
um programa para toda a vida. Não é algo para se obter em único dia ou momento de nossa vida.
O alvo de Deus para o crente em santificação é
um trabalho demorado e penoso, e para
cumprir-se exige que nós perseveremos firmes na fé.
Afinal, o propósito principal da conversão visa à nossa santificação, a qual será perfeita na glória
celestial. Assim, esta deve começar ainda neste
mundo.
70
Esta é a razão porque Paulo sempre confirmava os crentes exortando-lhes a permanecerem
firmes na fé durante toda a sua peregrinação
como forasteiros neste mundo de trevas. Não é suficiente, conforme a vontade de Deus,
sabermos que Cristo é nosso Salvador e que por
meio dEle fomos justificados, é necessário ter permanente e vital união com Ele.
O verbo “cair” empregado no texto de Heb 6.6, corresponde no original à palavra grega
parapipto, que significa “desviar-se” ou
“apostatar”. É o mesmo verbo usado em Heb
3.12, onde está traduzido como “afastar-se” de Deus. A Palavra afirma em Pv 24.16 que “sete
vezes cairá o justo, e se levantará,”. A
experiência tem revelado esta verdade. Muitos
são os que se desviam mas que se reconciliam posteriormente com o Senhor. Porque a
bondade a misericórdia do Senhor vão em busca
da ovelha desgarrada e perdida para trazê-la de volta ao aprisco. Quem é ovelha do Senhor está
debaixo de tal cuidado.
Quando os ossos do crente são quebrados o Senhor os restaura novamente. O clamor da
misericórdia do Pai clama “voltem para mim e
eu voltarei para vós outros”.
Vemos nas cartas dirigidas às sete igrejas uma constante exortação ao arrependimento para o
71
reatamento da relações rompidas e para o
retorno da prática das obras de justiça.
Um crente pode cair, mas não numa queda definitiva que seja para a perda da vida eterna
que recebeu pela graça. Se ele cair, Deus o levantará de novo, porque não pode justificá-lo
uma segunda vez, por isto é impossível, pois, que
se o justo cair, seja renovado outra vez para
arrependimento, porque ele já foi feito nova criatura em Cristo, quando creu, de uma vez
para sempre.
Quanto aos que apostatam depois de terem sido iluminados quanto à verdade e tendo sido feitos
participantes dos dons sobrenaturais extraordinários do Espírito Santo, como foi o
caso de Judas e tantos outros, e que por fim, se
desviam por não terem sido convertidos pelo
Espírito em seus corações com o novo nascimento (regeneração), estes, realmente
não poderão ser renovados para
arrependimento e serem salvos, pois calcaram
sob seus pés o sangue precioso de Cristo que voluntariamente eles desprezaram.
Mas tal não é o caso dos que são participantes da graça comum salvadora de todos os que
genuinamente têm seus corações convertidos a
Deus e transformados por Ele.
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O próprio Noé, campeão da justiça, depois que se embriagou, arrependeu-se certamente, e
permaneceu salvo pela soberana graça. Noé
caiu, mas não numa queda final para morte eterna, que ocorrerá somente com aqueles que
não têm a Cristo, no dia do grande juízo de Deus.
Um crente pode se desviar, e embora isto seja uma coisa ruim, uma coisa maligna o cair no
pecado, contudo ele poderá reconciliar-se com Deus, porque a sua salvação é para a vida eterna
e para ser guardado seguro pelo poder de Deus.
Assim como um pai zeloso vela pela segurança
de seus filhos, e tudo faz para mantê-los saudáveis e em vida.
Este não é renovada em arrependimento para a salvação, pois já está salvo de uma vez para
sempre, mas em arrependimentos para a
restauração da comunhão com Deus que é quebrada temporariamente em razão da prática
eventual do pecado.
Por isso somos incentivados a nos arrependermos e confessarmos os nossos
pecados porque temos um Advogado junto ao Pai intercedendo em nosso favor, a saber, nosso
Senhor Jesus Cristo.
Seria uma coisa muito dura certamente, se um crente caísse e não pudesse se reconciliar com
Deus. Felizmente o texto de Heb 6 não diz que é
73
uma coisa muito dura, mas que é impossível, e
nós dizemos que seria totalmente impossível, se
um caso como é suposto pudesse acontecer,
impossível para o homem, e também impossível para Deus, porque Deus determinou que nunca
estabelecerá uma segunda salvação (plano) para
salvar aqueles que tivessem rejeitado a primeira, caso isto fosse possível, depois de tê-la
experimentado.
O autor de Hebreus está portanto com a apresentação do exemplo de impossibilidade,
reforçando o eterno, imenso e único valor da
salvação em Jesus Cristo, que os destinatários de sua epístola estavam negligenciando, correndo
o risco mesmo de virem a desprezá-la.
Por isso quase como que se retrata pela suposição forte que fizera ao dizer logo adiante
o seguinte: “Quanto a vós outros, todavia, ó amados, estamos persuadidos das cousas que
são melhores e pertencentes à salvação, ainda
que falamos desta maneira.”.
Assim, uma correta interpretação de toda a epístola aos Hebreus requer que mantenhamos diante de nós o pano de fundo que inspirou a sua
escrita, pois não foi destinada a uma
congregação que estava sendo fiel na sua
caminhada com Deus, mas a uma congregação que estava recuando na fé, e esfriando no seu
amor por Jesus Cristo.
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As palavras de exortação da epístola tinham por alvo sacudi-los e despertá-los do estado de
dormência em que se encontravam, e tais
palavras são ainda muito oportunas para toda congregação que esteja nas mesmas condições
da comunidade à qual foi destinada a epístola
originalmente.
Cabe destacar finalmente que no mesmo texto
de Hebreus 6 é afirmada a condição segura e eterna da salvação das crentes por estar baseada
na promessa que Deus fizera jurando por si
mesmo que faria da nossa esperança da salvação
uma âncora firme e segura que não permitirá jamais que sejamos separados de Jesus Cristo,
em quem temos colocado a nossa confiança
relativa à nossa salvação.
Um outro texto que geralmente se costuma interpretar incorretamente, por ignorância do seu verdadeiro significado, é o de II Pe 2.21,22,
onde se afirma:
“Pois, melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justiça, do que, após
conhecê-lo, volverem para trás, apartando-se do santo mandamento que lhes fora dado. Com
eles aconteceu o que diz certo adágio
verdadeiro: O cão voltou ao seu próprio vômito;
e: a porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal.”.
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Devemos destacar logo inicialmente que não se diz, a ovelha voltou a se sujar, mas a porca. Não
se diz que a ovelha voltou ao seu vômito, mas o
cão. Ainda que sejam expressões duras, elas estão de acordo com o alerta de Jesus ao eleitos
para não darem coisas santas aos cães e aos
porcos, isto é, àqueles que na verdade não tiveram suas vidas transformadas pelo
recebimento de uma nova natureza, pelo
Espírito, e que estão dispostos a desprezar, pisar
e sujar as coisas santas concernentes ao Evangelho.
O que está em foco são os falsos mestres, aos quais o contexto de todo o capítulo 2 de I Pedro
se refere, e que no início, ao se juntarem à igreja
e ao aprenderem as coisas de Deus, repetem-nas
de forma tão convincente, que são guindados pela igreja à posição de mestres, ou se fazem
como tais, só que, não tendo havido uma
mudança real em sua natureza, continuam sendo, conforme o dizer do apóstolo, porcos e
cães, e isto acaba sendo manifestado com o
tempo.
No contexto de todo o capítulo segundo de II Pedro, está claramente revelado que os tais não
são justos, como foi Ló, mas injustos, que por suas obras iníquas estão destinados ao juízo de
Deus (2.9).
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São na verdade, não eleitos autênticos, mas falsos profetas, falsos mestres, que introduziam
dissimuladamente heresias destruidoras entre
os crentes, para fazê-los decaírem de sua firmeza em Cristo, isto é, para desviá-los da
verdade, chegando tais falsos mestres a ponto
de renegarem o próprio Jesus (2.1,2).
Eles não tinham o Espírito Santo, como se vê no
paralelo ao texto de II Pe II, na epístola de Judas (Jd 19), e que não eram crentes, mas ímpios (Jd
4).
Realmente eram homens que não tinham o Espírito Santo, e por conseguinte não
pertenciam a Cristo, pois Pedro diz deles que eram fontes sem água (2.17).
Não ensinavam o verdadeiro evangelho, mas suas mistificações (2.13).
Eram atrevidos e não se submetiam a qualquer governo, porque julgavam, em sua ignorância,
que estavam investidos da autoridade de Deus sobre todos os homens (2.10).
Ora, não padece dúvida que são os mesmos a que Pedro se refere como os ignorantes e
instáveis que deturpavam as Escrituras,
especialmente os pontos difíceis dos escritos de
Paulo, para a sua própria destruição (II Pe 3.15-17).
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O cuidado que se deve ter na interpretação da Bíblia, em sua exegese, é mais do que
recomendado, ele é estritamente necessário,
para que não apliquemos verdades bíblicas fora do contexto ou de situações ou mesmo pessoas
aos quais não devem ser aplicadas.
Por exemplo, a apresentação de sacrifícios de animais no templo é uma verdade que teve o seu
tempo e contexto de aplicação. Isto deveria ser feito pelos israelitas no período da dispensação
da lei (de Moisés a João Batista), e também no
local determinado por Deus, isto é, somente no
tabernáculo e depois no templo de Jerusalém, na presença dos sacerdotes.
Assim, apesar de ser uma ordenança de Deus que está contida na Bíblia, não deve ser
cumprida na dispensação da graça, em que
vigora uma Nova Aliança, que substituiu a Antiga. Porque tal exigência da Antiga foi
revogada pelas disposições da Nova. Aqueles
sacrifícios que eram figura do sacrifício de
Cristo, deveriam vigorar até que Cristo viesse e se oferecesse a Si mesmo de uma vez para
sempre pelos pecadores.
A mesma coisa se aplica às maldições da Antiga Aliança, previstas na lei. Elas representam em
figura uma maior e definitiva maldição de quem transgride a lei de Deus, pois que por esta, o
pecador está sujeito à morte eterna no inferno.
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Entretanto, para os que estão em Cristo, são resgatados da maldição da lei. Para estes ela já
não tem mais força de lei. A pena que ela
prescreve foi cancelada e Jesus encravou o cancelamento da dívida destes que creem no
Seu nome, na cruz, definitivamente, para que a
pena não seja mais reescrita para estes que foram justificados nEle. Daí a Bíblia afirmar que
o crente não está mais sob a lei, e sim sob a
graça, sem que isto signifique que ele esteja sem
lei perante Deus, pois está debaixo da lei de Cristo.
É necessário portanto, quando estudamos sobre a segurança eterna da salvação, não utilizarmos
textos isolados da Bíblia dando-lhes uma
interpretação literal e fora do contexto de toda a
revelação.
É necessário submeter cada afirmação que pareça inicialmente, contradizer doutrinas
claramente reveladas, à luz destas doutrinas,
para que possamos entender o que o escritor
bíblico pretendia dizer com tal afirmação, porque não há contradições no ensino da
Palavra, porque ela é a verdade.
Para ilustrar este ponto podemos usar as palavras do autor de Hebreus em 10.26-31,
comparando-as com o versículo 39 do mesmo capítulo.
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Em Hb 10.26-31 lemos:
“Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno
conhecimento da verdade, já não resta sacrifício
pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a
consumir os adversários. Sem misericórdia
morre pelo depoimento de duas ou três
testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés. De quanto mais severo castigo julgais
vós será considerado digno aquele que calcou
aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da
aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça ? Ora, nós conhecemos aquele
que disse: A mim pertence a vingança; eu
retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu
povo. Horrível cousa é cair nas mãos do Deus vivo.”.
Já comentamos anteriormente qual foi o propósito principal do autor de Hebreus em
escrever esta epístola: alertar seus leitores
sobre a apostasia, para não ficarem inativos na fé, para buscarem a maturidade espiritual, para
perseverarem.
Agora, lendo estas palavras de advertência sem levar em conta o contexto da própria epístola,
poderíamos ser levados a interpretá-las como que se referindo a uma real perda de salvação,
perdendo o apóstata a condição de filho de Deus
80
para ser sujeitado ao juízo de Deus para a
condenação eterna no inferno.
Mas, submetendo a passagem ao próprio contexto imediato, lemos no verso 39:
“Nós porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma.”.
Ora, aqui se declara abertamente que o que ele está dizendo anteriormente desde o versículo 26
até o 38, não é uma afirmação de que os
verdadeiros crentes, os que são da fé, perdem a sua salvação, porque estes não retrocedem e
perseveram, o que não se dá com os que não são
da fé.
Deus lhes faz perseverar, e eles perseverarão, e isto para a conservação da alma, porque esta não
será mais condenada em juízo.
E logo um verso adiante, em 11.1, define a fé como a certeza de cousas que se esperam, a
convicção de fatos que se não veem. E está se
referindo principalmente à certeza da
esperança da glória vindoura, à recepção da herança que está guardada para o crente no céu.
Aquele que é da fé, e que portanto persevera, ou pelo menos deve perseverar, porque não há
outro modo para um autêntico filho de Deus
viver, pode ter a certeza de que receberá o que
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espera, e a convicção dos fatos relacionados à
sua salvação que ele ainda não vê.
Foi por esta mesma fé que salva, que os antigos receberam bom testemunho de terem agradado
a Deus.
Mas devemos submeter a referida passagem a outras passagens da mesma epístola e a outras
de todas as Escrituras.
Podemos citar outros textos como os seguintes:
“Porque com uma única oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados.” (Heb
10.14).
Veja, aperfeiçoou para sempre, não apenas por um período para se perderem depois novamente.
“de nenhum modo me lembrarei dos seus pecados e das suas iniquidades, para sempre.”
(Heb 10.17).
Veja, perdão para sempre. Não apenas dos pecados antes da conversão, mas de todos os pecados, quer do passado, do presente ou do
futuro da vida de qualquer crente.
Ao falarmos deste modo, não se deve pensar que o pecado não deve ser levado muito a sério pelo
crente. É por isso que as passagens
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admoestadoras são colocadas em termos muito
fortes na Bíblia, porque o pecado é o que
desperta a ira de Deus.
Qualquer pecado ofende a justiça de Deus, e o crente não deve se gabar no fato de estar debaixo de uma graça superabundante para
viver praticando o pecado, e não se
entristecendo pelo pecado.
Ele nunca deve esquecer que a ira de Deus pelo pecado é tanta, que isto levou o Seu próprio Filho à cruz.
Daí se dizer com toda a veemência: “Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois
de termos recebido o pleno conhecimento da
verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de
juízo e fogo vingador prestes a consumir os
adversários.”.
Em momento nenhum se diz que o tal será lançado no inferno. Mas diz que desperta a expectação de um horrível juízo de fogo
vingador prestes a consumir os adversários. Não
foi o que ocorreu com os crentes rebeldes que
estavam morrendo em Corinto? Não é o que ocorre com os que são salvos como que pelo
fogo? Esta atitude de viver deliberadamente no
pecado não é coberta pelo sacrifício de Jesus
porque não há confissão do pecado. Não há
83
arrependimento da condição de estar pecando.
Isto desperta a ira de Deus, mesmo contra Seus
filhos. E Ele os corrige e disciplina duramente,
para que todos temam e busquem a santidade de vida que convém aos filhos de Deus.
Agora, se Jesus pagou o preço por todos os nossos pecados, porque estes crentes que foram
entregues a Satanás para destruição da carne,
foram submetidos ao juízo de Deus, ainda que não para a sua perdição eterna?
Veja, o autor de Hebreus responde a isto quando diz que já não resta sacrifício pelos pecados que
são praticados pelos que vivem
deliberadamente em pecado depois de terem recebido o pleno conhecimento da verdade, e de
terem sido santificados pelo sangue de Jesus, e
recebido a regeneração do Espírito Santo.
Isto significa que o perdão obtido pelo sacrifício de Jesus para a vida eterna e livramento da condenação futura, não livrará o crente da
justiça de Deus, que julga a sua vida aqui neste
mundo, quando decide não perseverar na fé,
vivendo na graça, para viver na carne praticando o pecado. Neste caso, ainda que não seja
condenado eternamente, terá sua conduta
julgada pelo Seu Pai celestial e será sujeito à
disciplina da Aliança selada no sangue de Jesus.
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Ele está profanando o sangue da aliança com o qual foi lavado. É como que pisasse em Jesus
com o seu procedimento, e isto não ficará sem a
devida retribuição de Deus.
Deus vingará a Sua justiça trazendo sobre o crente os juízos em forma de castigo, não para
que este consiga a sua salvação, ou o perdão dos
seus pecados, porque isto já foi feito de uma vez
para sempre por Jesus na cruz, mas para que ele não vá para o céu, julgando que o Deus que o
chamou não o chamou efetivamente para ser
santo, por uma eventual desconsideração com o
seu modo descuidado de vida e intencionalmente dirigido para transgredir a
vontade dAquele que lhe salvou.
O que está em foco não são pecados praticados eventualmente e isoladamente, pelo crente em
sua caminhada, estando direcionado em sua vontade a não viver na prática do pecado, mas
um crente que tenha efetivamente apostatado
da fé, isto é, que esteja desviado. Ainda que
mesmo neste caso, não se exclua a ação da misericórdia divina sobre suas vidas, porque são
eleitos, e foram justificados, tanto que muitos
deles se arrependem, entretanto, de modo
nenhum Deus deixará de lhes corrigir, porque corrige a todo filho que ama.
Quando lemos portanto, as passagens admoestadoras e de advertências da Bíblia
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quanto ao pecado, devemos lembrar
imediatamente que o Deus que nos salvou odeia
o pecado, e destruirá o pecado onde quer que ele
se encontre. Isto deve gerar em nós um santo temor e o desejo de jamais conceber o fato de
que podemos viver como crentes praticando
determinados pecados seja em pensamentos, palavras, ações ou omissões. Deus nos alerta em
todo o tempo na Palavra que fomos salvos
exatamente para entrarmos juntamente com
Ele numa verdadeira guerra contra o pecado.
Quer na nossa vida, quer na dos nossos irmãos
em Cristo. Não devemos cruzar os braços em relação a isto como estavam fazendo muitos aos
quais o autor de Hebreus dirigiu sua epístola. Ao
contrário, devemos nos revestir da armadura de
Deus e nos empenharmos diariamente neste bom combate da fé. Estamos seguramente
salvos nas mãos de Deus, mas importa viver de
modo que lhe seja inteiramente agradável.
Pedro, no terceiro capítulo de sua segunda
epístola, afirma que nos escritos de Paulo há coisas difíceis de serem entendidas, e que os
instáveis e ignorantes deturpavam, como
também as demais Escrituras (II Pe 3.16).
Veja que alguns o faziam por ignorância, mas o grande fato é que faziam o quê? Deturpavam. E qual era a consequência disto? O próprio
Pedro declarou no verso seguinte que o
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resultado era a própria destruição destes, e a
possibilidade de induzir ao erro, fazendo os
crentes decaírem da sua firmeza em Cristo, por
serem arrastados pelo erros desses insubordinados (II Pe 3.17).
Mas os crentes primitivos tinham uma grande vantagem sobre nós nestes dias de grandes
deturpações do evangelho: eles eram
prevenidos pela genuína verdade pregada pelos apóstolos. Eles conheciam o verdadeiro
evangelho, que hoje, infelizmente, até mesmo
muitos ministros ignoram a verdade
relacionada à obra realizada por Cristo em favor dos eleitos. São tantas as falsificações, que se
chegou mesmo ao ponto de se obscurecer a
verdade. Esta ficou escondida. E a maioria dos
púlpitos não têm sequer o próprio evangelho para ser pregado e ensinado.
Quando Paulo introduz o hino triunfal da
segurança eterna da salvação do crente em Rom 8.31-39, ele pergunta:
“Que diremos, pois, à vista destas cousas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?”
Que cousas são estas a que Paulo se refere? Ele está se referindo às verdades que havia dito anteriormente, desde o primeiro capítulo, até o
versículo 30 do oitavo.
87
De que maneira Deus é por nós que ninguém pode ser contra nós?
Está escrito na Bíblia para que o saibamos. Foi revelado pelo Espírito porque é importante
para o nosso crescimento espiritual, para a nossa caminhada em nossa jornada na vida
cristã.
Como podemos ignorá-las sem sermos prejudicados?
Por que o Espírito insiste em que apliquemos a Palavra revelada à nossa vida?
Já que, como afirmam alguns, insensatamente,
podemos ter uma vida de poder com Deus desconhecendo totalmente qual é o significado
da nossa vocação em Cristo. Se assim fora, por que Paulo teria dito o que
disse aos colossenses:
“não cessamos de orar por vós, e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua
vontade, em toda a sabedoria e entendimento
espiritual;”? (Col 1.9).
Por que Pedro exorta os crentes a crescerem na graça e no conhecimento de Jesus? (II Pe 3.18).
Jesus disse aos saduceus que eles erravam porque não conheciam o poder de Deus? Sim.
88
Mas também porque não conheciam as Escrituras. E isto pode ocorrer conosco:
errarmos na vida cristã, porque não
conhecemos a verdade revelada nas Escrituras.
É da vontade de Deus que não sejamos apenas salvos, mas que cheguemos ao pleno
conhecimento da verdade (I Tim 2.4). Jesus disse
que conheceríamos a verdade e que ela nos
libertaria. Ele é a verdade que liberta. Mas devemos conhecer o como, o por quê, o até
quando (sempre) desta verdade que liberta.
Em Tito 1.1 Paulo afirma que foi levantado como
apóstolo de Jesus para promover a fé que é dos eleitos de Deus e também para promover o
pleno conhecimento da verdade.
Este é o dever do qual está encarregado todo ministro do evangelho chamado por Deus:
promover a fé e o conhecimento total da verdade do evangelho. Não apenas partes deste
conhecimento, mas todo o conhecimento.
A segurança plena da salvação é uma das partes da verdade do evangelho que deve ser ensinada
claramente à igreja, não porque isto seja da vontade do homem, mas porque é da vontade de
Deus.
O propósito de Deus na salvação dos eleitos não é simplesmente o de que se regozijem na
condição de salvos, mas que vivam para o fim da
89
sua salvação, isto é, foram salvos para viverem
como filhos de Deus, filhos da luz e do dia, como
de fato são em Cristo, e não como se fossem
filhos das trevas (I Tes 5.4-10).
Isto é o que demanda a necessidade da perseverança operada pelo Espírito na vida do
crente, porque foi salvo para ser habitante do
céu, em perfeita santidade. Ainda que nunca
venha a atingir a perfeição desta santidade enquanto viver na terra, deve se esforçar neste
sentido, de modo que possa viver de modo
agradável a Deus.
A palavra perseverança vem do original grego hupomoné, que significa suportar cargas e aflições sem murmurações, e a prosseguir na
prática da justiça, enquanto escolhe enfrentar
tais cargas e aflições confiando na providência
divina. Não significa portanto conhecer como escapar das cargas, mas como viver sob elas.
Mas não é uma resignação passiva. Ela é uma
qualidade ativa. É uma atitude de permanecer
confiante e ativo na fé, mesmo debaixo das maiores provações, que visam ao abatimento da
sua fé e alegria no Senhor.
Não é de admirar portanto, que mesmo e principalmente depois de ser muito usado por
Deus, que o crente experimente muitas provações que visam ao seu abatimento
espiritual. Mas não se pode esquecer que Deus
90
está no controle de todas elas não permitindo
que sejam maiores do que a nossa capacidade de
suportá-las, e nos concede também, se
perseveramos, o livramento, mas sempre no tempo por Ele determinado. Há provas que
duram até anos, visando ao aperfeiçoamento do
nosso caráter.
Os sofrimentos estão produzindo perseverança
em nossas vidas. E nisto, o Senhor está colocando à prova o nosso amor por Ele. Isto
explica porque as provações não nos sobrevêm
apenas por um curto período, mas é um
processo que ocorre em todo o tempo. As pessoas do mundo dão muito valor a uma
vida sem qualquer tipo de tribulação. E o crente
deve cuidar-se de viver com tal pensamento,
porque, no seu caso, a provação não é um inimigo, mas um aliado que está moldando o seu
caráter e fortalecendo a sua fé, de maneira que
possa caminhar fazendo a vontade de Deus independentemente de qualquer circunstância
desagradável que esteja vivendo (desde que não
seja resultante da prática do pecado).
Infelizmente, quando as pessoas vêm para Cristo hoje em dia, elas vêm crendo que serão
livradas de todas as dificuldades. Elas trazem o
padrão do mundo consigo. A ideia de que Deus
deseja que todos sejam plenamente saudáveis, felizes e abastados é uma contradição direta da
Palavra de Deus.
91
Jesus prometeu aos crentes que teriam aflições no mundo. Mas quando a tribulação vem,
geralmente se pensa: “não é possível que isto
esteja acontecendo comigo, eu sou um crente fiel.”.
Em vez de apreciar que Deus está fazendo algo único e especial em suas vidas, deixam-se levar
pela murmuração e pelo descontentamento.
A perseverança não é um fim em si mesma. Ela é um ingrediente essencial que traz a
maturidade aos filhos de Deus.
Tiago afirma (1.4) que a perseverança produz o resultado de sermos perfeitos e íntegros, em
nada deficientes. Nós não podemos acelerar o processo que produz maturidade, porque a
própria perseverança é construída ao longo do
tempo.
Nós apenas devemos ter o cuidado de não interromper o processo que Deus está operando. Esta é a razão de ser ordenado em Tg
1.4 que a perseverança deve ter ação completa,
isto é, nós não devemos deixar de tirar os
devidos ensinamentos de nossas experiências, aprendendo as lições de Deus, através delas,
visando ao nosso aperfeiçoamento.
Mas isto não significa que nós atingiremos a
perfeição, porque o próprio Tiago afirma que nós tropeçamos em muitas coisas (3.2). Isto não
quer dizer portanto que nós nunca voltaremos a
92
pecar de novo. Não é possível ser perfeitamente
sem pecado nesta vida.
Então o que significa o uso da palavra perfeito no texto de Tiago? Ela se refere ao nosso grau de
maturidade. O crente maduro não vive indo de um lugar para outro, sem fixar sua atenção
definitivamente em qualquer objetivo,
dedicando-se ao mesmo, pois isto é um
comportamento inerente às crianças. Crentes imaturos não podem ser úteis na casa
de Deus. Ao contrário, vivem criando
dificuldades para serem resolvidas ou
apaziguadas pelos que são maduros. O que pode reverter isto?
O seu amadurecimento e confirmação em toda boa palavra e obra.
E como é que isto será possível? Somente pelo aprendizado da perseverança nas provações.
Amar no meio da contradição, da perseguição, da ingratidão, e prosseguir adiante, este é um
dos objetivos. Isto é perseverar segundo a
vontade de Deus.
O crente que permanece em sua infantilidade, nem por isso deixa de ser um filho de Deus, mas não se pode dizer dele que esteja fazendo
progresso na perseverança.
93
O crente não deve procurar a tribulação, ele não deve ir em sua direção. Ele deve procurar a
Deus, e na sua procura de Deus, não raramente,
a provação lhe sobrevirá.
Logo depois que Paulo foi arrebatado ao terceiro céu, ele teve a experiência do espinho na carne. Se o seu desejo de procurar a Deus é sincero, isto
implicará em viver segundo a Sua vontade e
tornar-se mais semelhante a Cristo.
Jesus que é manso e humilde de coração. Para aprender a mansidão e a humildade, é quase
certo que o crente se defrontará com
resistências e ataques dirigidos à sua pessoa, de
modo que aprenda a não revidar às injúrias e afrontas que possa sofrer, mantendo a paz no
seu coração, segundo o poder do Espírito Santo.
Quando o crente se sente humilhado e vencido
por alguma provação e diz que não sabe qual é o proveito e o propósito de Deus na mesma, ele
necessita de sabedoria para poder discernir a
vontade do Senhor, e é por isso que Tiago diz que
se peça sabedoria a Deus. Mas a sabedoria requer humildade e um constante
reconhecimento da nossa própria necessidade.
A vida cristã não é fácil e confortável. Por isso o crente necessita de perseverança, para que
possa viver segundo a vontade de Deus.
94
A certeza da segurança não é essencial à salvação, mas é essencial à alegria e à
esperança, mas só pode ser sentida na
experiência prática da vida cristã, e não meramente pelo conhecimento intelectual da
sua realidade. Em outras palavras, é algo muito
mais para ser vivido do que simplesmente sabido, pois, A CERTEZA DA SALVAÇÃO É
REVELADA ATRAVÉS DA PERSEVERANÇA
Somos salvos exclusivamente pela graça
mediante a fé, e por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo. Não somos salvos pela nossa
perseverança, porque a Bíblia é clara em afirmar
que não somos salvos pelas nossas boas obras
(Ef 2.8-10). Mas somos exortados firmemente a perseverar para a plena certeza da nossa eleição,
conforme está claramente revelado por
exemplo em II Pe 1.1-10.
A perseverança é a evidência da salvação e não a sua causa, de modo que nosso Senhor afirma que somente os que perseverarem até o fim
serão salvos, uma vez que trazem consigo a
referida evidência de que são salvos. O apóstolo Pedro afirma que em razão de os crentes terem recebido todas as cousas que
conduzem à vida e à piedade, pelo
conhecimento completo do Senhor que os
chamou para a sua própria glória e virtude, tendo sido livrados da corrupção das paixões
que há no mundo (II Pe 1.3,4), devem reunir toda
a sua diligência esforçando-se para associar à fé,
95
a virtude, o conhecimento, o domínio próprio, a
perseverança, a piedade, a fraternidade e o
amor (II Pe 1.5,6), e prossegue afirmando que
somente pela existência de tais qualidades espirituais e pelo aumento das mesmas, é que os
crentes não serão infrutíferos e nem inativos no
pleno conhecimento de Jesus (1.8); e que os crentes nos quais não estão presentes tais
qualidades, estão cegos e esquecidos da
purificação dos seus pecados antigos (1.10), e
conclui com as seguintes palavras:
“Por isso, irmãos, procurai com diligência cada
vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis
em tempo algum. Pois, desta maneira é que vos
será amplamente suprida a entrada no reino
eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” (II Pe 1.10,11)
Ele está dizendo que se estas coisas estiverem em sua vida e aumentando, você dará frutos e
não irá esquecer se está salvo ou não. Em outras palavras, você se alegrará na certeza da segurança da sua salvação e da sua união real
com Cristo. Inclusive e principalmente pela
constatação das realizações da graça de Deus
através das suas obras, gerando a alegria de perceber a sua frutificação e utilidade real no
reino de Cristo.
96
A alegria da certeza da salvação não é meramente intelectual, ela é essencialmente de
caráter prático.
Você saberá pelo testemunho das vidas abençoadas através da sua própria vida, que de fato Cristo tem operado através de você, e é nisto
que se cumpre especialmente o sentido da
exortação à perseverança e à maturidade
espiritual, pelo esforço em diligência em santificação, pelo revestimento das virtudes de
Cristo.
Quem é útil para Cristo e frutifica nEle, não está cego quanto à posição que lhe deu a salvação
pela graça, mediante a fé, porque pela mesma graça e fé, tem dado os frutos visíveis do seu
ministério.
Entretanto, nunca deveremos sequer imaginar que é pela nossa frutificação e utilidade no reino
de Cristo que somos salvos, pois a Palavra é clara em ensinar que a salvação é um dom gratuito de
Deus, e que é um assunto exclusivo de graça e
fé.
Não somos salvos pelas nossas boas obras conforme afirmam as Escrituras.
Necessitamos de perseverança para a
confirmação e o desenvolvimento daquilo que já recebemos, e somente isto. Não temos nada
97
para nos gloriar em nós mesmos quanto à nossa
salvação, mas somente na obra realizada por
Jesus Cristo.
Foi nEle e por meio dEle que recebemos uma nova natureza, uma nova vida, que deve ser amadurecida no processo de santificação, mas
até mesmo este amadurecimento procede dEle
e é realizado por Ele, como Mediador da eterna
aliança feita no Seu sangue, e como nosso Sumo Sacerdote exaltado no céu, à direita do Pai. Deus deseja que você tenha a certeza e a alegria
da sua firme segurança em Cristo.
Ele não deseja que você viva duvidando da posição que foi conquistada pela graça, mediante a fé (Rom 5.1,2).
Ele deseja que você tenha alegria nesta confiança de que está a caminho da perfeição do
céu. Ele não quer que você tenha qualquer
sombra de dúvida sobre a sua viva esperança obtida por meio de Cristo.
No entanto a verdadeira certeza da segurança da salvação não é uma mera reflexão racional
sobre a firmeza da nossa posição em Cristo, mas
uma atestação do Espírito Santo com o nosso espírito, que está associada à nossa
perseverança na fé.
98
Se estamos vivendo em obediência a Deus e aos seus mandamentos, então o Espírito certifica a
nossa obediência com a infusão da certeza da
segurança da salvação. Isto é uma graça para ser experimentada somente pelos crentes que
obedecem ao Senhor.
A pregação ou ensino que aponta para a certeza da segurança da salvação e não indica o
caminho da perseverança para a confirmação desta certeza, não está de acordo com o ensino
das Escrituras, porque, com isso muitos
poderão ser induzidos a pensarem,
ilusoriamente, que estão na posse de algo que podem não terem obtido de fato, por terem
somente confessado a Jesus como Salvador em
determinado dia de suas vidas, e no entanto,
permaneceram vivendo do mesmo modo que sempre viveram antes da sua alegada
conversão.
É por isso que Deus determinou que busquem a santificação e perseverem, todos os que
declaram terem se convertido a Cristo, para que possam ter a comprovação que de fato Lhe
pertencem. A genuinidade da conversão deve
ser testada, comprovada e confirmada por se
viver em santidade de vida, pois é pelo fruto que se conhece a árvore. Se foi plantada por Deus
dará bons frutos, o que só será possível
mediante a perseverança em santificação. A questão da certeza da segurança da salvação
99
não é para ser colocada em termos simplistas
semelhantes a este: “muito bem, se você aceitou
a Jesus você pode e deve gloriar-se no fato de
estar salvo para sempre.”. Não deve ser assim. Isto é parte da verdade. Não em relação à
salvação que é eterna, mas quanto à certeza da
segurança por parte do crente, esta lhe vem e só pode vir pela sua própria perseverança pessoal.
Pelo crescimento em fé, em santificação de sua
vida.
O Espírito Santo somente infunde o sentido da certeza da segurança, que a propósito, é cada vez
maior à medida que perseveramos, quando se está em comunhão com Deus, e esta só é
possível quando se persevera.
Porque a certeza da esperança de que seremos glorificados no porvir é sentida à medida que
somos transformados de glória em glória em nossa caminhada espiritual neste mundo,
porque isto testifica que estamos rumando de
fato para o fim a que fomos predestinados por
Deus, a saber para sermos semelhantes a Cristo (Rom 8.28-30).
Deus é sábio. Chamou-nos muito mais do que para livrar-nos simplesmente do inferno. Isto é
apenas consequência da nossa chamada para
sermos seus filhos, para sermos santos. Sem perseverar na fé, e santificar-se, não podemos
estar atendendo a tal objetivo. Por isso associou
100
a certeza da salvação à perseverança, isto é, à
nossa santificação. Se nos santificamos
sabemos que somos salvos pela testificação do
Espírito, se não o fazemos, como diz Pedro em sua segunda epístola (1.9) ficamos cegos, vendo
somente o que está perto, isto é, não podemos
ver e exultar na nossa glorificação vindoura no céu, porque estaremos vivendo segundo a carne
e sem fazer progresso em santificação, e
ficaremos também esquecidos até da
purificação, isto é do perdão dos nossos pecados antigos, anteriores à nossa conversão; pois
podemos discernir adequadamente o pecado
quando perseveramos em santificação.
A salvação é eterna e segura, é exclusivamente pela graça e mediante a fé, mas está associada à
perseverança, porque se diz que o que perseverar até o fim será salvo.
Em todo o Novo Testamento o crente é exortado a perseverar até o fim para a plena certeza da
esperança, e para a convicção da sua
participação de Cristo. Como já comentamos, não é isto a causa da sua salvação, mas o que lhe
dá a certeza de tê-la obtido e de estar vivendo do
modo que seja agradável a Deus (Col 1.10,11; II
Tes 2.15; Heb 2.1; 3.14; 10.23; 35,36).
Todo crente sábio e esclarecido zelará portanto pela sua salvação desenvolvendo-a com temor e
tremor, sabendo que ela é segura e eterna, e não
101
há o risco de perdê-la enquanto estiver ciente da
necessidade de perseverança e progresso na fé,
conforme é da vontade de Deus, para a plena
certeza de que permanece na posse de tão precioso dom que lhe foi concedido pela graça,
mediante a fé em Cristo, de uma vez para
sempre, isto é, a partir da sua justificação e regeneração ocorridas na sua conversão e
desde aí, para toda a eternidade.
Nunca devemos esquecer que a nossa justificação e regeneração são irrevogáveis e
irreversíveis, garantindo assim a segurança
eterna da nossa salvação.
A santificação e a perseverança são consequência da salvação e não a sua causa.
A causa da salvação está relacionada exclusivamente à eleição, à redenção, à
justificação e à regeneração, estando tudo isto
associado à misericórdia, à graça e ao amor de Deus, e à fé dos eleitos.
Com a causa (principalmente, eleição e justificação) eu recebi a salvação, e com a
consequência (perseverança) eu simplesmente
mantenho e amadureço o que já recebi pela fé. Agora, algo deve ser dito preliminarmente
sobre a perseverança. Nada se diz na Bíblia sobre
um determinado padrão de perseverança que
mantém a salvação. Ou sobre um determinado
102
grau de perseverança. E nem mesmo sobre a sua
forma, isto é, se contínua, intensa, etc. Fala
simplesmente em perseverança e nada mais. E
esta perseverança está principalmente associada à fé, isto é, à não negação de Cristo,
especialmente nas perseguições e tribulações.
Refere-se a não nos envergonharmos dEle e a confessarmos o Seu nome diante de todos os
homens. Em suma, consiste no testemunho da
nossa fé, ainda que isto nos custe danos e
perdas, até da própria vida. Em outras palavras, o que foi salvo deve viver como salvo, o que foi
justificado deve viver como um autêntico
crente.
O crente é chamado a dar prosseguimento ao ministério de Cristo relativo à salvação dos
pecadores, e por isso deve dar testemunho da sua fé, sendo luz e sal para o mundo.
A doutrina que diz que você pode perder sua
salvação, basicamente torna a salvação condicional e põe em dúvida o poder de Cristo
para nos salvar perfeitamente. Em outras
palavras, sua salvação é mantida caso você ache
as condições de mantê-la; isto é, Deus nos salvou, e agora se nós continuarmos a manter o
padrão nós poderemos manter a salvação, mas
se em dado momento nós viermos a cair do
padrão nós a perderemos. Agora não é necessário muita visão para compreender que
isto é basicamente uma perspectiva de justiça
própria decorrente de obras. Em outras
103
palavras, você está dizendo realmente que a
salvação é condicional através da ideia que
minhas obras têm que permanecer no padrão
ou eu perderei a minha salvação. Paulo afirma em toda a epístola aos Romanos
que a salvação é pela graça mediante a fé. E isto
implica na justificação do pecador. E que a fé é tudo o que é necessário para se apropriar da
salvação eterna.
Então, quando Paulo afirma nos capítulos 3 e 4 que a salvação é um dom gratuito, que é dada
pela graça de Deus, que é um dom imerecido
dado a pecadores, e que é apropriado pela fé e somente pela fé, e então é nisto que todos os
homens encontram muita dificuldade para
compreenderem a exata extensão desta
verdade. Porque os homens basicamente encontram-se em trabalhos, eles estão dentro
das realizações humanas, em sua justiça
própria. Basicamente, a filosofia dos homens e das religiões do mundo é: eu sou bom, eu sou
religioso, Deus nunca me enviará ao inferno.
Você tem ouvido miríades de vezes: Eu penso
que eu sou uma boa pessoa, eu faço o meu melhor na religião. Eu creio que é por isso que
Deus nunca me condenará.
É muito difícil para as pessoas que têm sido ensinadas e educadas a compreenderem que
elas podem entrar no reino de Deus por serem
boas, ou éticas, ou morais, e particularmente os
104
judeus, ouvirem que isto é somente uma
matéria de fé.
É por isso que Paulo sempre cita os judeus em seus argumentos em Romanos sobre a
justificação que é somente pela graça mediante a fé.
Qualquer judeu diria a Paulo: você está certo de que somente a fé é o suficiente para salvar uma
pessoa? Você acha que ela fará todo o trabalho?
Não é necessário viver num determinado padrão? Somente a fé me livrará do grande
julgamento futuro de Deus? E o que mantém
esta salvação pela fé?
É para responder principalmente esta pergunta que o capítulo 5 de Romanos foi escrito. No assunto da salvação tudo é pela graça, tudo é
pela fé.
Mas o cerne da questão se encontra na forma de se entender a doutrina. O fato de ser por graça,
mediante a fé somente, não significa, conforme nenhuma passagem das Escrituras dá apoio a
isto, o fato de se pensar que o crente pode viver
como bem lhe aprouver. Que o crente pode fazer
o que ele desejar.
A graça e a fé salvam para que o crente viva em
santidade de vida, na prática da justiça e das boas obras.
105
Em Romanos 5 Paulo apresenta grandes elos da corrente que ligam o crente ao Salvador.
Se estudamos e compreendemos realmente
estes elos, percebemos que estamos ligados a Jesus para sempre. Isto é uma coisa maravilhosa
para se saber. Deus não nos chamou para
vivermos em eterna insegurança, pois se tememos perder a salvação na terra, pelo
argumento do livre arbítrio, continuaríamos a
temer então, para sempre também no céu. O amor lança fora o medo. Somos chamados à certeza, à convicção, de outro modo, a paz com
Deus referida em Romanos 5.1, que obtivemos
pela justificação não poderia ser perfeita. Por isso, a justificação é uma obra acabada e perfeita.
A nossa santificação sempre será uma obra inacabada neste mundo. É por ela que estamos
sendo tornados semelhantes a Cristo. É um
contínuo caminhar. É um progresso em despojar-se do velho homem e revestir-se do
novo. Não há portanto, um padrão definido de
santificação estabelecido por Deus para que em
sendo atingido, poderíamos dizer que estamos salvos. Por isso que se diz que a reconciliação
com Deus foi obtida e será mantida pela nossa
justificação, e não pela santificação.
Uma das coisas que Satanás costuma atacar no crente é este ponto da segurança da sua
salvação. Satanás adora lançar dúvidas sobre
106
nossa redenção. É por isso que se diz em Ef 6, que
se coloque o capacete da salvação, e em Tes 5.8
refere-se à couraça da fé e como capacete a
esperança da salvação, e o verso 9 afirma a razão disto: porque o crente não foi destinado por
Deus para a ira, mas para alcançar a salvação por
meio de Jesus. Em outras palavras, o crente não será condenado, mas salvo por Deus. Não está
mais sujeito à ira de Deus, por causa de Jesus. A
esperança da salvação não é incerta, mas
segura. É algo em que o crente deve confiar inteiramente, qual capacete que protege sua
cabeça dos dardos inflamados de dúvidas que
lhes são lançados por Satanás.
Satanás trabalha para que o crente não saiba ou duvide que se encontra firme para sempre
nas mãos de Deus. É impressionante como ele consegue cegar o crente para as afirmações
feitas pelo próprio Jesus, tais como esta que
encontramos em Jo 10.27-29:
“As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as
conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, eternamente, e
ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo
que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da
mão do Pai ninguém pode arrebatar.”.
O diabo sabe que Ele não poderá ter no inferno a nenhum dos que Jesus genuinamente justificou
e regenerou. Por isso ele trabalha para infundir
107
a dúvida no crente, de que pertence realmente a
Deus para sempre. E se Deus o aceita
completamente como filho, apesar de suas
imperfeições e limitações.
O diabo deseja que você creia que de alguma forma, você pode perder sua redenção e ele
soprará sobre você para que se sinta inseguro e
intimidado. Por isso você deve colocar o
capacete da esperança da salvação. Esta esperança significa que você pode aguardá-la
como coisa segura e certa, porque Deus é fiel
para cumprir a promessa de salvá-lo
eternamente e de que ninguém tirará você das mãos de Jesus e das mãos do Pai, como se lê em
Jo 10.27-29.
A própria igreja pode disciplinar um crente excluindo-o da comunhão, e assim ficará sujeito
aos ataques de Satanás que visarão à destruição da sua carne, mas este não poderá causar
qualquer dano ao seu espírito, que será salvo no
dia do Senhor, porque a Palavra afirma que um
genuíno crente (justificado e regenerado) não pode ser mais tocado pelo maligno. Isto é, o
diabo não o terá consigo no inferno.
Mas quantos crentes autênticos desejam ser
entregues a Satanás para destruição da carne? (I Cor 5.5; I Tim 1.20). Quantos almejam ser salvos
como que pelo fogo? (I Cor 3.15).
108
Graças a Deus que a graça tem se revelado poderosa e abundante, e são pouquíssimos
aqueles, ao longo de toda a história da igreja, que
caíram, ainda que não definitivamente, de tal forma. Não se deve portanto tratar do assunto da
segurança da salvação pelos que se desviam,
que são pouquíssimos, e que a propósito, muitos se reconciliam com o Senhor, antes da morte,
mas pelos que permanecem firmes na fé,
revelando que nossa salvação é de fato segura
porque é operada pelo Senhor, que nos justificou e regenerou somente por graça e
somente mediante a fé.
A grande questão que se apresenta diante de nós, na igreja, não é tanto a de que se perde ou
não a salvação, mas se conhecemos ou não a
doutrina da justificação pela graça mediante a fé segundo o ponto de vista de Deus, e não do nosso
próprio modo de entender esta verdade das
Escrituras, que é portanto a única verdade de Deus relativa à nossa salvação.
Muitos na igreja têm noções vagas sobre o
assunto da eleição, da justificação, da
regeneração e da santificação, conforme são na verdade, e já reveladas na Palavra, mas ao
mesmo tempo têm também um parecer final
sobre o modo de se obter ou de se manter a
salvação. Todos de uma forma ou de outra, têm sua própria opinião sobre o assunto. Mas a nossa
opinião não pode mudar em nada a verdade que
foi estabelecida por Deus, relativa à nossa
109
salvação, antes mesmo que houvesse mundo,
no Pacto eterno havido na Trindade.
110
O que é que bem para o qual todas as
coisas contribuirão? (Romanos 8:28)
Vamos dar tanto uma visão negativa e positiva
da questão.
Primeiro vamos vê-lo negativamente. O povo de Deus não deve esperar que todas as coisas que lhes acontecem, devem trabalhar para o seu
bem temporal e prosperidade no mundo. Às
vezes, na verdade, este bem acontece, como
disse José a seus irmãos em Gênesis 50:20: "Vós intentastes o mal contra mim, mas Deus o
tornou em bem". E, como aconteceu com os
israelitas, Êxodo 1:12, "Quanto mais os egípcios
os afligiam, tanto mais se multiplicavam e cresciam." Desse bem o texto pode ser
compreendido; mas não é sempre de se esperar;
porque, a prosperidade externa nem sempre é
boa para o povo de Deus. Nem devem eles esperar que todas as coisas devem trabalhar
para este bem de isenção absoluta do pecado,
enquanto eles estão aqui. Deus vê o bem que se
ajusta ao viver pela fé, na melhoria diária em Cristo, para purgar o pecado. Também não é de
se esperar que todas as coisas contribuirão para
a sua liberdade absoluta de perdas e cruzes do
mundo; porque não é bom para nós estarmos sem elas, e elas fazem parte, dessas coisas que
trabalham para o nosso bem. Também não é de
se esperar que cada coisa deve funcionar para o
bem que temos em vista; mas para o bem que
111
Deus tem em vista, cujos pensamentos são
infinitamente maiores do que os nossos
pensamentos. Mas então, em segundo lugar,
vamos considerar o ponto sob uma forma positiva. Podemos esperar que todas as coisas
contribuam juntamente para o nosso bem
espiritual e bem-estar eterno. Gostaríamos de apresentar isso em alguns detalhes.
1. Todas as coisas devem trabalhar em conjunto para promover o nosso conhecimento e
familiaridade com Deus em Cristo, e
certamente este é um bem notável! "Esta é a vida
eterna, conhecer a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (João 17:3).
Agora, todas as coisas devem contribuir para
fazer os santos conhecerem mais e mais da
sabedoria de Deus em mistério, mesmo a sabedoria oculta que Deus ordenou antes dos
séculos para nossa glória; "Mas falamos a
sabedoria de Deus em mistério, a sabedoria oculta que Deus ordenou antes dos séculos para
nossa glória” (1 Cor 2:7). E para possibilitar a
todos os homens verem, qual seja a dispensação
do mistério, que, desde o início do mundo, esteve oculto em Deus, Ele criou todas as coisas
por Jesus Cristo, para a intenção que agora, aos
principados e potestades, nos lugares celestiais,
possa ser conhecida, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus, Efésios 3:9, 10. Para que,
segundo o apóstolo, em Rom 11:33, eles possam
ficar no lado deste oceano, e clamar: "Ó
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profundidade da riqueza, tanto da sabedoria e
do conhecimento de Deus! Quão insondáveis
são os seus juízos e os seus caminhos
inescrutáveis!" e que, por todas as coisas, eles possam vir a conhecer mais do poder, santidade,
justiça, verdade, bondade e glória de Deus em
Cristo. Nós usamos dizer "a experiência ensina tolos." Certamente não há um santo experiente,
mas vamos encontrar, que por todas as coisas
boas e as coisas ruins com que eles têm sido
visitados, por todas as várias vicissitudes e mudanças de providência, eles chegam a ver
mais de Deus do que viram antes.
2. Todas as coisas contribuirão para a sua participação da imagem de Deus, em um maior
grau; e certamente isso é bom; e é provocado
pelas promessas de Deus, 2 Pedro 1:4. Por aqueles dos quais é dito que são participantes da
natureza divina, e também, pelas providências
de Deus, particularmente disciplinados; "Ele nos corrige para nosso proveito, para sermos
participantes da sua santidade", Hebreus 12:10.
3. Todas as coisas devem trabalhar para a sua purificação adicional: eles deverão purgar
algum desejo particular e corrupção; "Por isso se
expiará a iniquidade de Jacó, e este será todo o fruto de se haver tirado seu pecado; Isaías 27:9.
Este é um bem desejável, qualquer que seja a
dispensação que contribua para o efeito.
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4. Todas as coisas devem trabalhar em conjunto para promover a comunhão e comunhão com
Ele; tudo o que se ouviu, ou viu, ou se sentiu da
palavra de Deus, ou da vara de Deus, contribui para este bem final de "nossa comunhão é com o
Pai e com seu Filho Jesus Cristo," (1 João 1:3). Nós
podemos ir a Deus com ousadia, pelo sangue de Jesus; e comunicar o próprio segredo de nossas
almas para Ele, e encontrá-lo comunicando os
segredos da sua aliança para nós.
5. Todas as coisas cooperam para a sua futura humilhação; e isso é bom, na verdade; "Que te
guiou por aquele grande e terrível deserto de serpentes ardentes, e de escorpiões, e de terra
seca, em que não havia água", há aqui uma
súmula das coisas más que lhes acontecera; mas
segue, "e tirou água para ti da rocha pederneira; que no deserto te sustentou com maná, que teus
pais não conheceram; para te humilhar, e para
te provar", há uma súmula de coisas boas que lhes acontecera; bem, mas qual era o fim e
desígnio de todas estas coisas? Porque, segue-
se: "para te humilhar, e para te provar, para no
fim te fazer bem;” (Deuteronômio 8:15, 16). É bom ser humilhado e ter baixos pensamentos de
nós mesmos; porque somos aptos a dizer em
prosperidade que nossa montanha está forte, e
nós nunca seremos abalados; nós pensamos, com Pedro, que somos capazes de sofrer com
Cristo, e para fazer grandes coisas para ele; ou
com os filhos de Zebedeu, que somos capazes de
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reinar com Cristo: mas precisamos ser
humildes e ser provados, para que saibamos o
que somos.
6. Todas as coisas cooperam para a sua futura consolação; e este é um bem desejável; se Deus, por acaso, com tudo o que lhes acontece,
transmitir algumas alegrias e conforto do seu
Espírito, se ele lhes trouxer para a montanha ou
para o deserto: este bem final deve ser alcançado no tempo do Senhor. Quando ele os
leva para seu santo monte, então ele os alegra
em Sua casa de oração, Isaías 56:
7. Quando ele os leva para o deserto, então ele fala confortavelmente com eles, Oseias 2:4. Sim, ele mesmo lhes dá o vale de Acor por porta de
esperança, e os faz cantar lá; e como seus
sofrimentos são abundantes, torna abundante a
sua consolação, 2 Coríntios 1: 4, 5.
Todas as coisas cooperam para o bem deles, até mesmo para promover sua vida de fé, para que
saibam mais o que é viver pela fé no Filho de
Deus, Gálatas 2:20. O senhor adiciona às nossas
doces refeições, um pouco de molho azedo para ajudar a digestão, a fim de que possamos viver,
não por sentido, mas pela fé; na prosperidade
falamos de viver pela fé, e escurecer o conselho
muitas vezes com palavras sem conhecimento; mas na adversidade, chegamos a ter o
conhecimento prático do que é viver pela fé. E,
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de fato, isto é uma dispensação feliz e abençoada
que tende ao enraizamento de uma alma ainda
mais em um Cristo crucificado, e para a vida em
cima de uma promessa, quando não há nenhum suporte visível em todo o mundo em que se
possa apoiar; isso é claramente crer.
8. Todas as coisas cooperam para promover sua submissão à vontade de Deus, e um santo
contentamento em todas as circunstâncias, para que possam aprender com Paulo,
Filipenses 4:11, 12, a se contentar em todos os
estados; e saber como ser humilhado, e como
ser honrado; e dizer: "Eu posso fazer todas as coisas através de Cristo que me fortalece." Eu
posso receber censura, bem como honra e
estima; uma prisão, bem como um palácio, uma
pedra dura para repousar minha cabeça, bem como um travesseiro macio; embora eu louve,
bem como os outros, e bendiga ao Senhor por
uma acomodação confortável e dispensações favoráveis, quando Deus permite que isto seja
negado, permaneço contente: "Vamos receber
coisas boas da mão do Senhor, e não
receberemos o mal?" Oh senhores, como é bom sermos forjados para essa disposição!
9. Todas as coisas cooperam para promover sua espiritualidade, para o desmame de seus
corações do mundo, e elevando suas afeições às
coisas celestiais, de modo que eles possam ter
menos do espírito do mundo, e mais do Espírito
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de Cristo habitando em seus corações: I Pedro
4:12,13 - "Amados, não estranheis a ardente
prova que vem sobre vós para vos tentar, como
se coisa estranha vos acontecesse;
Mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na
revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis.”
O próprio Espírito de Deus confortará e apoiará
com a esperança da glória a ser revelada. Oh! que coisa boa é esta de ter o bom Espírito de
Deus, o Espírito glorioso de Deus!
10. Todas as coisas cooperam para promover sua preparação para o céu; nada deve impedir, mas
sim promover o seu curso em direção ao céu. Como todas as dispensações que operam para
terem mais do Espírito, das quais nosso apóstolo
fala no contexto anterior; assim também, elas
trabalham para acelerar seu progresso em direção ao céu, como se depreende da
linguagem triunfante do apóstolo no seguinte
contexto, no fim do capítulo, versos 35-39,
"Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a
fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?
Como está escrito: Por amor de ti somos
entregues à morte todo o dia; somos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas
estas coisas somos mais do que vencedores, por
aquele que nos amou. Porque estou certo de
que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos,
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nem os principados, nem as potestades, nem o
presente, nem o porvir, nem a altura, nem a
profundidade, nem alguma outra criatura nos
poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor."
Em uma palavra, como não haveria um fim para falar de todas as coisas que funcionam em
conjunto para o bem daqueles que amam a
Deus; assim também, não há um fim para falar de todo o bem que todas as coisas trabalham em
seu nome. O Deus que tem todas as coisas sob
seu comando faz com que todas trabalhem para
o bem, e faz com que até mesmo as piores coisas contribuam para o melhor proveito. Herodes e
Pilatos, os judeus e gentios, combinados para
crucificar Cristo, "O Senhor da glória", Atos 2:23.
Aqui está a pior coisa que já foi feita; mas, eis o ato da livre graça e sabedoria profunda de Deus,
que fez este trabalho ser o maior bem que
sempre existiu. Temos um exemplo de todas as outras coisas que trabalham para o bem do povo
de Deus, até mesmo a ira e a fúria dos homens e
demônios, contrariamente a seus projetos, que
trabalham para a sua felicidade; e a própria morte, contrariamente à sua natureza, trabalha
para a sua vida eterna.
Texto de Ralph Erskine, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.
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Os Verdadeiros Santos Quando Ausentes
do corpo Estão Presentes com o Senhor
“Temos bom ânimo, mas desejamos antes estar
ausentes deste corpo, para estarmos presentes com o Senhor.” (2 Coríntios 5.8)
O apóstolo está dando nesta passagem uma razão pela qual ele passou com tanta ousadia e
firmeza, através de tantos trabalhos,
sofrimentos e perigos em sua vida, a serviço de seu Senhor.
Paulo informa aos cristãos de Corinto, a razão pela qual ele agiu assim, pois acreditava
firmemente nas promessas que Cristo tinha
feito a seus servos fiéis de um futuro glorioso e uma recompensa eterna, e sabia que estas
aflições presentes eram leves, e apenas
momentâneas, em comparação com este
excedente e eterno peso de glória.
Entre as muitas observações úteis que podem ser levantadas a partir do texto, vou apenas
neste momento insistir naquela que se encontra
mais claramente diante de nós – que as almas
dos verdadeiros santos, quando eles deixam os seus corpos na morte, vão estar com Cristo - e
eles vão estar com Cristo, nos seguintes
aspectos:
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I. Eles vão morar na mesma morada abençoada com a natureza humana glorificada de Cristo.
A natureza humana de Cristo está ainda em existência. Ela ainda continua, e continuará por
toda a eternidade, para ser Deus e homem. Toda a sua natureza humana permanece: não
somente a sua alma humana, mas também o
corpo humano. O Seu corpo que ressuscitou dos
mortos está exaltado e glorificado à direita de Deus - o que estava morto agora está vivo, e vive
para sempre.
II. As almas dos verdadeiros santos, quando eles deixam seus corpos na hora da morte, vão estar
com Cristo, e eles terão uma visão imediata, completa e constante dEle.
Quando estamos ausentes de nossos queridos amigos, eles estão fora de vista; mas quando
estamos com eles, temos a oportunidade e
satisfação de vê-los. Assim, enquanto os santos estão no corpo, estão ausentes do Senhor - Ele
está, em vários aspectos fora da vista: "A quem
não tendo visto, amais;” (I Pe 1.8).
Eles verão a Sua glória. Eles verão a glória de Sua natureza divina, consistindo em toda a glória da Divindade, a beleza de todas as suas perfeições;
Sua grande majestade, onipotência, infinita
sabedoria, santidade e graça, e eles verão a
beleza de sua natureza humana glorificada, e a
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glória que o Pai lhe deu, como Deus-homem e
Mediador. Por isso, Cristo desejava que seus
santos estivessem com Ele, para que eles
pudessem contemplar a Sua glória.
E quando as almas dos santos deixam seus corpos, para ir estar com Cristo, eles
contemplam a maravilhosa glória da Sua grande
obra de redenção, e a forma gloriosa de Sua
salvação. Agora, enquanto no corpo, os santos veem algo da glória e do amor de Cristo; como
nós, no alvorecer da manhã, vemos algo da luz
refletida do sol misturada com trevas; mas
quando separados do corpo, eles veem a Sua glória, como vemos o sol quando mostra todo o
seu brilho, estando acima do horizonte.
III. As almas dos verdadeiros santos, quando ausentes do corpo irão ficar com Jesus Cristo,
numa união mais perfeita.
Essa visão perfeita abolirá todos os restos de deformidade, desacordo, e dessemelhança
pecaminosa.
(Nota do tradutor: Uma das maiores evidências de que quando o espírito do que é santo, deixa o
corpo – e este último morre – indo o espírito habitar com Deus, se encontra na própria
fragilidade de todo o tipo de vida natural, que
habita a terra, aí incluído o corpo humano,
porque carne e sangue não podem herdar a
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glória do reino do céu, que é eminentemente
espiritual e sobrenatural. Dizemos que é nisto
que se encontra a melhor evidência porque
sendo Deus eterno e o criador de tudo o que vive, não poderia ter feito o homem à sua imagem e
semelhança em Jesus Cristo, para que este
deixasse de existir depois da morte física, de modo que toda a criação daria no final em um
grande nada, e o viver e tudo o que se fizesse
neste mundo estaria totalmente fora de
propósito, e sabemos que Deus tem em todas as coisas um propósito útil e eterno.
De maneira que temos aqui neste mundo o nosso corpo como um mero receptáculo do
espírito, uma semente que está destinada a
morrer para que dela brote a vida do corpo
glorificado que não pode ser ferido nem destruído, diferentemente do corpo humano
terreno que, já no princípio da criação, revelou a
sua fragilidade com a morte de Abel por seu irmão Caim. Então não havia da parte de Deus a
intenção que este nosso corpo de carne e osso
vivesse para sempre alcançando a eternidade.
Isto será possível somente ao corpo glorificado que todos os autênticos crentes receberão por
ocasião do arrebatamento da Igreja por nosso
Senhor Jesus Cristo.)
Citações de um sermão de Jonathan Edwards, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.