A Representação do Deus Invisível -...

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A REPRESENTAÇÃO DO DEUS INVISÍVEL de T. AustinSparks CAPÍTULO 1 – REPRESENTAÇÃO, UM PRINCÍPIO DE DEUS ʺE disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança...ʺ (Gên. 1:26). ʺCristo... o qual é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criaçãoʺ (Col. 1:15). ʺ...nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do Evangelho da glória de Cristo, que éa imagem de Deus.ʺ (2 Cor. 4:4). ʺPorque os que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformados à imagem de Seu Filho, para que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos.ʺ (Rom. 8:29). ʺE vos revistais do novo homem, que está sendo renovado para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou; onde não há grego, nem judeu, nem circuncisão, nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo ou livre, mas Cristo é tudo em todos.ʺ (Col. 3:1011). Ler: Efésios. 4:13,1516; 5:2232; João 20:2123; Atos 1:8. Na primeira e segunda série de passagens, há uma palavra comum a todos elas, como você observou. É a palavra ‘imagem’. Em nossa língua inglesa temos, no Novo Testamento, duas palavras – ídolo e ícone. Heb. 1:3 ‐ʺa imagem exata de Sua Pessoaʺ. Rotherham traduz, ʺa representação exata de Sua imagemʺ ou ʺde Sua substânciaʺ. É esta palavra ‘representação’ que tem tomado conta de mim, e que parece ser a chave para a nossa meditação. Representação: um Princípio Eterno Você irá ver que, nas passagens que acabamos de ler, esta é a idéia dominante; primeiramente em relação ao Senhor Jesus: representação de Deus. É dito que Ele é a imagem de Deus, a imagem do Deus invisível. Então, o pensamento é transferido para os eleitos, a igreja, os predestinados a serem conformados à

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A REPRESENTAÇÃO DO DEUS INVISÍVELde T. Austin‐Sparks

CAPÍTULO 1 – REPRESENTAÇÃO, UM PRINCÍPIO DE DEUS 

ʺE  disse Deus:  Façamos  o  homem  à  nossa  imagem,  conforme  a  nossa semelhança...ʺ (Gên. 1:26).

ʺCristo... o qual é a  imagem do Deus  invisível, o primogênito de  toda a criaçãoʺ (Col. 1:15).

ʺ...nos  quais  o  deus  deste  século  cegou  o  entendimento  dos  incrédulos, para que não lhes resplandeça  a luz do Evangelho  da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.ʺ (2 Cor. 4:4).

ʺPorque os que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformados  à  imagem  de  Seu  Filho,  para  que  Ele  seja  o  primogênito entre muitos irmãos.ʺ (Rom. 8:29).

ʺE  vos  revistais  do novo  homem,  que  está  sendo  renovado  para  o  pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou; onde não há grego, nem judeu, nem circuncisão, nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo ou livre, mas Cristo é tudo em todos.ʺ (Col. 3:10‐11).

Ler: Efésios. 4:13,15‐16; 5:22‐32; João 20:21‐23; Atos 1:8.  

Na primeira e segunda série de passagens, há uma palavra comum a todos elas, como você observou. É a palavra ‘imagem’. 

Em nossa  língua  inglesa  temos, no Novo Testamento, duas palavras – ídolo e ícone. Heb. 1:3 ‐ ʺa imagem exata de Sua Pessoaʺ. Rotherham  traduz,  ʺa representação exata de Sua  imagemʺ ou  ʺde Sua  substânciaʺ.  É  esta  palavra  ‘representação’  que  tem  tomado conta de mim, e que parece ser a chave para a nossa meditação.  

Representação: um Princípio Eterno 

Você irá ver que, nas passagens que acabamos de ler, esta é a idéia  dominante;  primeiramente  em  relação  ao  Senhor  Jesus: representação  de Deus.  É  dito  que  Ele  é  a  imagem  de  Deus,  a imagem do Deus invisível. Então, o pensamento é transferido para os  eleitos,  a  igreja,  os  predestinados  a  serem  conformados  à 

imagem de Filho, um novo homem renovado conforme a  imagem daquele  que  o  criou;  e  ao  longo  disto,  passagens  nas  quais  a presente  palavra  não  ocorre, mas  onde  o  pensamento  ainda  é  a idéia  principal  ‐  ʺa  medida  da  estatura  de  Cristoʺ,  ʺum  varão perfeitoʺ (Ef. 4:13). Isto com referência à Igreja, o povo do Senhor – representação.  

Então,  aquelas  passagens  finais  trazem  a  coisa  para  um campo muito prático  ‐ ʺComo o Pai Me  enviou a Mim, assim Eu vos  envio  a  vósʺ  –  colocando  a  ênfase na palavra  ‘como’. Então, com  a  pergunta  que  pode  surgir,  ʺQuem  é  suficiente  para  essas coisas?ʺ A  resposta é, ʺRecebereis poder, quando o Espírito Santo descer sobre vós: e series minhas testemunhasʺ, esta última palavra é apenas outra palavra para representantes.  

(a) Antes da Criação 

Isto,  então,  é  um  pensamento  eterno,  um  pensamento  que saiu  da  eternidade,  Deus  propondo  ser  representado  em  Seu universo,  ter  representação  no  homem,  e  este pensamento  eterno está  por  trás  de  tudo.  É  antes  da  criação,  antes  da  queda,  e, portanto, antes da redenção. Este pensamento se mantém  lá atrás, como  que  governando  todo  o  projeto  de  Deus  para  o  futuro.  É como  se Deus  decidisse  que  Ele  teria  uma  representação  de  si mesmo,  o  Deus  invisível,  numa  forma  visível,  numa  forma humana,  para  que  Ele  pudesse  ser  visto,  ser  conhecido,  ser compreendido; e, mais do que  isto, Ele  iria constituir, na base do  companheirismo,  de  um  relacionamento  vivo  em  termos  de representação, aquele que representá‐lo‐ia não meramente de forma oficial, mas em natureza, conforme o seu coração. Isto significa que Deus iria se fazer conhecido, que iria dar a si mesmo, que iria trazer a  criação para dentro de uma  experiência  que  seria mais do  que uma obediência mecânica à sua vontade soberana; uma agradável, desejável, e amável comunhão com Ele mesmo, com o seu próprio coração, ao longo da linha do consentimento, e não da compulsão. Isto é o que  significa  ‘representação’, em  resumo. É exatamente o que  isto significa no caso do Senhor  Jesus sendo  imagem do Deus invisível,  e  exatamente  o  que  significa  em  relação  à  Igreja  sendo conformada à imagem do Filho. 

(b) Na Criação 

A criação é  trazida à existência por meio deste pensamento 

único de Deus, para que toda a criação pudesse, numa variedade de formas,  expressá‐Lo,  representá‐Lo,  falar Dele,  para  que  todas  as ordenações do  céu e da  terra  como estabelecidas por Deus, e que todas as relações na criação, pudessem representar os pensamentos de  Deus.  Se  tivéssemos  olhos  para  ver,  poderíamos  ver  os pensamentos de Deus em  tudo o que Ele criou. Toda a criação é uma corporificação deste desejo de Deus de ser representado.  

(c) Na Redenção 

Mas não apenas  isso, pois, quando  chegamos à questão da redenção,  é  a  mesma  coisa.  Da  postura  de  Deus  em  relação  à necessidade que surgiu, a representação está no coração disso, e a representação na  redenção  é dupla, possui dois  lados. Devido  ao que  tinha  acontecido  à  criação,  e  por  causa  do  julgamento pronunciado  sobre  ela  – morte  ‐ há uma  anulação da  ordem das coisas. Se a  sentença  fosse executada de  forma absoluta, a criação seria descartada do universo de Deus, não sobraria nada. Porém, a representação novamente  é a  forma de  redenção,  e, na pessoa do Filho,  uma  posição  representativa  é  tomada  sob  julgamento, condenação, e morte, e Nele,  representativamente, a criação deixa de existir, morre. Nós hoje seguramente chegamos a este aspecto de coisas com gratidão,  isto é, que você e eu fomos salvos da  terrível totalidade  do  julgamento  sobre  a  criação  porque  Alguém  foi  o nosso  representante  naquele  julgamento.  Ele,  de  forma representativa, morreu como um maldito, julgando e condenando a criação por causa do pecado. Ele morreu por nós e como nós, e nós morremos Nele. Esta é uma verdade simples e familiar. 

Mas  há  o  outro  lado  da  redenção.  Na  ressurreição,  na exaltação  em  glória,  Ele  também  é  o  nosso  representante.  O pensamento Divino da  representação  é  tomado novamente, agora não em desespero, mas em esperança. ʺBendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela  ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortosʺ (1 Ped. 1:3). Na ressurreição Cristo é o nosso representante; na glória Ele é o nosso representante, e  tão verdadeiramente  como  fomos  incluídos  na morte,  assim  também fomos  incluídos Nele na glória, na exaltação. Como o  ‘Capitão da nossa salvação’, Ele está trazendo ‘muitos filhos à glória’, onde Ele está como representante deles. 

Em Romanos 8:29. ʺPorque os que dantes conheceu, também 

os  predestinou  para  serem  conformes  à  imagem  de  seu  Filhoʺ, introduziram  duas  pequenas  palavras  ‐  ʺpara  seremʺ.  Estas palavras não ocorrem no original, absolutamente. Foram colocadas porque soa abrupto e inadequado deixá‐las de fora e apenas dizer: ‘predestinados conforme o seu Filho’. Antes do mundo existir, nós éramos assim, no pensamento e no propósito de Deus, que não está sujeito  ao  tempo. Não  há  passado,  presente  e  futuro  para Deus. Todo o futuro é para Ele um só momento. Quando Ele determinou, determinou em Cristo. Você e eu podemos estar sendo submetidos a  um  processo  de  conformação  à  imagem  de  Cristo, mas  isto  é apenas do nosso  lado. Do  lado de Deus, está tudo terminado, está eternamente  realizado  antes  mesmo  que  começasse.  Isto  é  um poderoso  fundamento para  a  fé,  que,  em  relação  a Deus,  não  há acaso  ou  mudança  sobre  isto.  Tudo  é  um  fato  consumado. “Predestinados  conforme  à  imagem…”  Assim,  você  vê  que  este pensamento Divino, que este pensamento eterno de representação, realmente está por trás de tudo: da criação, da redenção, da morte, da ressurreição, da glória.  

(d) Na Igreja 

Isto vai diretamente ao centro de nossas vidas, na condição de  povo  do  Senhor.  O  pensamento  Divino  a  nosso  respeito  é exatamente  este:  que  estamos  aqui  para  um  único  propósito  no pensamento de Deus  –  representá‐Lo. A  Igreja  é  constituída para este único propósito  –  representá‐Lo. Todos os procedimentos de Deus  para  conosco  têm  apenas  isto  em  vista:  a  perfeita representação.  Isto não é outra  coisa  senão dizer, de outra  forma, que a disciplina, a  correção de Deus  são para aperfeiçoar a nossa representação Dele;  isto  é,  fazer‐nos mais  semelhantes  a  Ele,  não sendo, portanto, uma coisa em si mesma, mas Ele ordenou que esta fosse  a  agência  de  Sua  própria  revelação.  De  Sua  própria manifestação. ʺA imagem do Deus invisívelʺ. Isto com referência a Cristo.  A  imagem,  podemos  dizer,  do  Cristo  invisível  é  o pensamento Divino para a Igreja e todos os seus membros.  

Parece‐me  ser esta a própria essência desta  idéia  ‐  ʺa  igreja que é o Seu corpo”.  Existe  tal coisa como o  ‘ler o espírito um do outro’,  mesmo  que  isto  seja  excessivamente  difícil  sem  os  seus corpos!  O  que  conhecemos  uns  dos  outros  interiormente, conhecemos muito  amplamente  por meio  de  nossos  corpos.  Até mesmo  nossas  personalidades  são  expressas  através  de  nossos corpos. Se estamos familiarizados com uma pessoa, mais ou menos 

isto  se  dá  por meio  de  algumas  expressões. Uma  criancinha  que está  lá dentro de casa sabe que o papai está chegando da rua. Por quê? Porque ela conhece os passos do pai. 

Você  pode  estar  num  quarto  e  outras  pessoas  estarem  em outro,  e  você,  ao  ouvi‐las  falando,  é  capaz  de  dizer:  Está acontecendo  isso e aquilo; eu conheço a voz deles! Você sabe que elas  estão  lá  porque  aquelas  vozes  lhes  pertencem.  Somos conhecidos  por  algumas  expressões  físicas.  Nós  vemos  uns  aos outros, tocamos uns aos outros, lemos e registramos a vida interior uns dos outros por meio de um olhar na face, de um tom de voz, de um  simples  gesto,  de  um  simples  grunhido!  Sim,  e  toda  uma história  repousa na mais  leve  indicação  física  se  formos  sensíveis uns para os outros.  

A  Igreja,  que  é  o  Seu Corpo,  se mantém  em  relação  a  Ele neste  mesmo  sentido,  e  Ele,  por  Seu  Espírito  estando  presente, habitando, é  indicado por meio de Seus membros. O propósito da Igreja como Seu Corpo é representá‐Lo, e esta é a própria essência, de  tudo  –  digamos  –  obra  missionária,  todo  ministério,  todo serviço.  A  idéia  dominante  de  todo  serviço  ou  ministério  é  a representação;  não  primeiramente  as  coisas  ditas,  pregadas, proclamadas, mas  o que  somos,  o  que  é  carregado de Cristo por meio de nosso ser. No caso do Senhor Jesus isto era predominante. Era a Sua presença que causou o  impacto Divino sobre esta  terra; algumas vezes o Seu silêncio era mais terrível do que Suas palavras. Quando Ele, naquela  Sexta da Paixão, naquela primeira  Sexta da Paixão,  ficou  em  silêncio,  aquilo  foi  um  terrível  silêncio  que  os homens não puderam suportar, sob tal silêncio eles estremeceram e, por algum meio, fariam que Ele falasse e quebrasse aquele silêncio. Quando Ele chegou ao território dos Gadarenos, aqueles possessos por  demônios  começaram  a  gritar  sem  que  houvesse  qualquer palavra de Jesus. Era a sua presença! Isto é representação.  

Que coisa poderosa é esta representação se ela estiver  lá no poder  do  Espírito  Santo.  Você  nem  sempre  tem  que  começar  a pregar.  Se  você  é um homem  cheio do Espírito,  sua presença  irá fazer os pecadores se sentirem desconfortáveis e os santos ficarem alegres. O que estou tentando enfatizar é a verdade, o princípio, a lei, da representação. 

Com  relação  a  esta  questão  de  representação,  gostaria  de fazê‐lo se ocupar preeminentemente com ela em relação ao próprio 

Senhor  Jesus. Ele é a  soma de  todos os pensamentos Divinos, e a encarnação é a suprema expressão deste único pensamento de Deus para ser verdadeira, plena e perfeitamente representada; de modo que era possível para o Senhor  Jesus dizer: “Aquele que vê a Mim vê o Pai” (João 14:9). Aí está o mistério de Cristo.  

O que é o mistério de Cristo? O mistério de Cristo é o Deus encoberto  nesta  Representatividade.  Você  diz,  uma representatividade  de  Deus,  e  ainda  Deus  encoberto?  –  uma contradição!  Não,  não  há  contradição;  não  necessariamente encoberto, pois, para o Novo Testamento, mistério não é algo que não pode ser conhecido, mas algo que, por certas razões, não  tem sido  conhecido,  mas  que  pode  sê‐lo.  Quando  essas  razões  são colocadas de lado, aquilo que tem sido um mistério deixa, então, de ser um mistério.  

Você pode ver  isto nos dias da Sua carne. Aí está Deus em representação, mas como muitos o viam? “Aquele que vê a Mim vê o Pai”.  Porém,  penso  que  esta  palavra  ‘ver’  significa  algo muito mais do que apenas olhar para Ele como homem. “Aquele que vê a Mim…”. “Que dizem os homens que Eu sou?” Alguns dizem isto, e outros dizem aquilo. Pedro disse: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo’. E Ele  respondeu:  ‘Bem aventurado  és  tu, Simão Bar  Jonas, pois não foi carne nem sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está  no  céu”.  (Mat.  16:13‐17).  Isto  é  o  que  significa  ‘ver’;  é  por revelação.  É  isto  que  é  o  mistério.  O  fato  está  lá,  a  verdadeira representação  de  Deus  em  pessoa,  contudo  irreconhecido,  não visto.  “O deus deste  século  cegou o  entendimento dos  incrédulos, para  que  não  lhes  resplandeça  a  luz  do  Evangelho  da  glória  de Cristo,  que  é  a  imagem  de  Deus”.  (2  Cor.  4:4).  Mistério  é  a incapacidade de os homens verem um grande fato presente, porém ainda encoberto.  

Agora,  a  Ressurreição  e  o  Pentecoste  parecem‐me  que significam  apenas  uma  única  coisa  –  a  visão  de  Cristo.  Você  se lembra quando  Jesus  foi considerado como morto e enterrado, até mesmo  os  discípulos  ficaram  em  desespero  e  tiveram  a  fé  e  a esperança encoberta, e alguns foram muito tristes pelo caminho de Emaús,  e  suas palavras  foram: “Tínhamos  esperança de que  fosse Ele  quem  iria  redimir  Israel”.  (Lucas  24:21).  Mas,  antes  que chegasse  o  final  deste  episódio,  Jesus  lhes  abriu  o  entendimento, para  que  pudessem  compreender  as  Escrituras.  Tendo  aberto  as Escrituras desde o  início,  falou‐lhes das coisas concernentes a Ele; 

abriu o entendimento deles, e era apenas isto que estava marcando as  suas  aparições  durante  aqueles  quarenta  dias  após  sua ressurreição. Eles entraram num caminho totalmente novo ao vê‐lo. Oh  não,  agora  não meramente  vendo‐o  de  forma  física,  que  Ele estava vivo, que tinha um corpo; não foi meramente isto que estava nascendo  neles muito poderosamente. Eles  estavam  vendo quem era Jesus; o mistério de sua Pessoa estava sendo revelado. 

Eles  O  estavam  vendo,  e  o  dia  de  Pentecoste  parece  que trouxe  isto  a um pleno  nascimento. Os  quarenta dias  estavam  se movendo para  o Pentecoste,  e,  então, naquele dia, pela  vinda do Espírito Santo, a coisa consumou‐se, e no pleno fulgor de quem Ele era,  nasceu  a  igreja.  Parece‐me  que  a  Igreja  nasceu  –  sim,  pelo Espírito  Santo,  mas  pelo  Espírito  Santo  revelando  aos  homens quem Jesus era afinal de contas. Parece‐me que foi assim que cada um entrou para a Igreja. Eles viram, por uma operação do Espírito Santo, quem  Jesus era. Foi assim que Paulo entrou para  Igreja, no caminho de Damasco; ele viu quem era o Jesus de Nazaré. No dia de Pentecoste, Pedro se pôs em pé juntamente com os onze, e, sob o poder  do  Espírito  Santo,  e  abriram  suas  bocas,  e  a  declaração espontânea foi sobre quem era Jesus, e eles eram homens com uma nova revelação. 

Oh,  eu  sei  que,  da  parte  de  nosso  ponto  de  vista fundamentalista,  isto  não  é  muito.  Não  suponho  que  haja  aqui alguém  que  não  creia  que  Jesus  é  o  Filho  de  Deus,  Deus manifestado em carne. Todos cremos nisto, com um pouquinho de fé; mas qual é o efeito disso?  Qual foi o efeito disso lá no princípio? O  testemunho,  a  representação,  não  é  simplesmente  atestar  fatos históricos, nem fatos doutrinários. Quando aqueles homens saíram como  testemunhas de  Jesus, não  foi apenas para dizer coisas que, embora  fossem  verdades,  eram  apenas  verdades.  Eles  saíram  no poder de o terem visto, tendo os seus olhos abertos para o Senhor Jesus. 

Era  como  se  tivessem  sido  homens  que  se  moviam  nas sombras durante aqueles anos,  apalpando, algumas vezes sentindo segurança,  uma  certa  quantidade  de  segurança,  mas,  então, questionamentos,  incertezas  entrando,  sombras  o  tempo  todo. Porém, finalmente os céus se abriram, o esplendor irrompeu, e eles viram. Foi nessa luz que eles foram constituídos como testemunhas, representantes. Foi nessa luz que a Igreja nasceu. Foi nessa luz que a Igreja prosseguiu o seu caminho tão efetivamente. O fato foi que, 

onde quer que  eles  chegassem,  era o  impacto de Deus  em Cristo por  meio  da  presença  deles.  Essa  presença  sacudiu  o  inferno, porque o inferno sentiu novamente – Deus está aqui! Essa presença tocou  homens  que  estavam  presos  e  debaixo  do  controle  e influência de inteligências superiores, inteligências espirituais.  

Sabemos  quão  verdade  isto  é  agora  em  medida,  que  a presença de um verdadeiro filho de Deus, sem palavras, provoca os homens, incomoda‐os, aborrece‐os, irrita‐os. Eles querem você fora do  caminho,  não  gostam  de  você.  Eles  não  sabem  por  que, mas querem se livrar de você. Você quase pode sentir que eles têm uma inteligência sobrenatural a respeito de sua pessoa, embora eles não percebam.  Se  você  lhes  perguntar  o  porquê,  eles  não  sabem. Há outra  coisa  mais  profunda,  eles  sentem  algo  que  os  deixa desconfortáveis. É a presença de Deus no  filho de Deus, e Deus é representado  pela  presença  de  seus  filhos.  É  assim  que  foi  com Cristo. “Como o Pai me enviou a Mim, eu vos envio a vós.” É desta maneira – representação.  

Representação Baseada na Identificação 

Mas  devemos  perceber  que  a  representação  se mantém  na base da identificação. É a identidade de Cristo com Deus, o Pai, que significa  tudo. Os dois são  idênticos.  Jesus não disse:  ‘Aquele que vê a Mim vê o representante de Deus’. Isto pode significar qualquer coisa. Você pode enviar qualquer coisa ou qualquer um como seu representante. Mas Jesus disse, ‘Aquele que vê a Mim vê o Pai’, vê Deus; não um  representante de Deus, não  alguém  enviado  como uma  espécie  de  embaixador,  completamente  diferente,  duas personalidades,  duas  naturezas  numa  diferente  categoria,  mas idêntico. A presença de Cristo  é a presença de Deus,  e Deus  está presente em Cristo.  

Você pode perguntar: como isto funciona em relação à Igreja e ao membro do Corpo? Em princípio  isto é verdadeiro, e nisso é descoberta  toda  a  exigência de  que devemos  abrir mão de  nossa própria  independência,  de  nossa  vida  separada,  de  interesse próprio, de motivação própria, e, de forma crescente, chegarmos à posição  onde  ‘não  somos mais  nós, mas Cristo’. Oh  sim,  sempre haverá  aquelas  coisas  sobre  nós  que  ainda  permanecem  como nossas marcas  e  características humanas, mas  a  implicação  real  e essencial é que a nossa presença não será realmente nossa, mas será a  presença  do  Senhor;  tem  que  haver  dentro  de  nós,  bem  lá  no 

centro  do  nosso  ser,  pela  residência  do  Espírito  de  Cristo,  uma identificação com Ele de modo que Ele e nós sejamos um; um em vida, em motivação, em pensamento, em desejo, e seja  lá o que as pessoas  possam  dizer  sobre  nossas  fragilidades,  fraquezas  e imperfeições,  se  forem  honestas  terão  que  dizer:  Apesar  disso, quando  você  encontra  fulano,  você  realmente  encontra  o  Senhor! Será uma coisa terrível se as pessoas forem incapazes de falar isto, e tiverem que dizer o contrário: Quando você encontra fulano, como um professo filho de Deus, não há nada do Senhor nele, e você sai afligido. Isto é algo terrível. 

É uma negação de nossa própria existência  como membros do  Corpo  de  Cristo  se  tolerarmos  aquelas  coisas  que  são  uma contradição  em  relação  a  Cristo;  como  a  falta  de  perdão,  como abrigar em nossos corações uma atitude ou um espírito rancoroso, de mágoa, de orgulho  ferido, de divisão. Onde  ficamos nós como cristãos, o que é vida cristã, para que somos cristãos, o que  temos admitido, o que temos aceito? Temos nós aceito coisas em forma de doutrina de modo meramente profissional, um negócio, um tipo de coisa  completamente  fora  de  relação  com  a  nossa  própria personalidade,  com  a  nossa  própria  natureza?  Bem,  isto  não  é  o cristianismo do Novo Testamento,  isto não  é a  real vida  cristã. O fato é o seguinte: se formos verdadeiramente cristãos (e “se alguém não tem o Espírito de Cristo esse tal não é Dele” ‐ Romanos 8:9), se realmente  tivermos  o  Espírito  Santo,  esta  deve  ser  a  coisa mais verdadeira ao nosso  respeito, que  jamais possamos deixar de nos desesperar  com  a  nossa  falta  de  perdão,  que  jamais  tenhamos orgulho  ferido  sem  ficarmos  completamente  desarranjados  em nossas  vidas  espirituais  com  isso,  que  jamais  deixemos  de  nos parecer como cristãos sem que tenhamos uma crise com isso. 

Há algo vivo  lá dentro. Por quê? Por causa da  identificação no  Espírito  Santo;  o  Espírito  Santo  é  o  Espírito  de  Cristo  e  Ele entrou em nós para nos fazer um com Cristo, para que não vivamos uma  vida  desligada  de  Cristo,  simplesmente  prosseguindo  de alguma  forma  indefinidamente  sem  ser  encontrado  pelo  Senhor. Isto é completamente  impossível na base de uma vida no Espírito Santo,  e  não  há  outra  base  para  um  cristão.  Muitos  de  nós agradecemos  o  Senhor  de  todo  coração  por  ser  este  o  tipo  de experiência  que  temos,  por  sentirmos  a  nossa  miséria  devido  a algum pensamento ou atitude não cristã. Agradecemos a Deus por isto; isto mostra que as coisas estão vivas. Se pudermos abrigar algo não  cristão  em  nossos  corações  sem  termos  uma má  hora,  então 

temos  razão para  questionar  se  de  fato  somos  nascidos de  novo. Cada má hora é uma evidência de que estamos vivos, pois pessoas mortas não sofrem.  

A  identificação  é  básica  para  a  representação,  e  uma  coisa vital, orgânica, não algo meramente doutrinária.

Representação Baseada na Soberania do Espírito

Bem,  isto  é o que o Pentecoste  fez. Pedro,  coloca‐se  em pé com os onze, e o que diz? Ele ouviu o Senhor dizer: “Sereis minhas testemunhas  em  Jerusalém,  em  toda  Judéia  e  Samaria,  e  até  os confins  da  terra”. Não muito  tempo  antes,  alguns  deles  haviam falado  sobre  essas  mesmas  pessoas  para  quem  agora  eram representantes de Cristo, mensageiros do seu Evangelho da graça: “Senhor,  quer  que  peçamos  que  caia  fogo  do  céu  e  os  consuma?” Você  não  pode  continuar  desta  maneira  quando  segue  sob  o controle do Espírito Santo. Queimar as pessoas com fogo do céu? – esta não é uma vida governada pelo Espírito Santo. Você entende o que eu quero dizer. 

Quanto a Pedro, isto irá levá‐lo a um longo caminho adiante, porém ele irá ser tirado de sua profundidade. É algo glorioso ver o que o Espírito Santo faz quando realmente é soberano. Ele faz você dizer  coisas  completamente  fora  do  alcance  de  suas  tradições  e intenções,  ainda  que  você  não  se  dê  conta.  “Até  os  confins  da terra!”  Pedro  irá  endossar  isto.  Novamente  em  seu  discurso  no Pentecoste ele irá usar palavras como essas: “Porque a promessa vos  diz  respeito  a  vós,  a  vossos  filhos,  e  a  todos  os  que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar.ʺ (Ato  2:39).  Ele  fala  isso  sob  o  poder  do  Espírito  Santo, porém  não  compreende  o  seu  real  significado. Um  pouco mais  adiante Deus  lhe manda  ir  à  casa de um gentio,  em Cesaréia. Ele  vê  um  lençol  cheio  de  todo  tipo  de  animais quadrúpedes  e  répteis da  terra,  e  aves do  céu,  e uma voz que  lhe diz: “Levanta, Pedro, mata e come!” Porém Pedro responde: “Não, Senhor!” E isto se sucede por três vezes, e o lençol é  recolhido aos  céus. Três homens  chegam à porta.  (Atos 10). – “Tantos quantos Deus nosso Senhor  chamar.” Ele disse  isto pelo Espírito Santo, porém não compreendeu o  significado.  Agora  ele  se  depara  com  esta  situação.  O 

Espírito  Santo  irá  tirá‐lo  de  sua  profundidade,  de  sua tradição.  Isto  é  o  que  o  Espírito  faz  quando  assume  o controle de uma vida. Ele faz exigências bem além daquilo que estamos preparados no momento. 

Assim, a crise irá prová‐lo para ver se você está pronto para se  ajustar  ao  Espírito.  Caso  contrário,  a  sua  representação  do Senhor fracassa. Você está pronto para se ajustar? O Espírito irá ter o seu caminho de forma completa? “Assim como o Pai me enviou a mim, assim Eu vos envio a vós... Recebei o Espírito Santo”.  

O envio dos representantes foi na base da absoluta soberania do  Espírito  Santo,  e  nós  somente  iremos  representar  Cristo completamente por meio desta soberania, a soberania do Espírito, porque somente o Espírito é grande o bastante para  trazer Cristo, somente o Espírito  é grande o bastante para  representar a Cristo. Podemos  nós  representar  a  Cristo?  Nós  ainda  não  conhecemos nada sobre Cristo. Nossos pensamentos sobre Ele  iriam  fazer dele um Cristo pequeno. Pedro, com todas as grandes coisas que diz em Pentecoste,  em  sua  própria  interpretação  dessas  coisas  teria restringido Cristo apenas aos judeus, mas descobriu que o Espírito Santo  quis  significar muito mais  do  que  ele  compreendia  sobre Cristo, e sobre o que significava a representação de Cristo. Assim, é somente pelo Espírito Santo que uma  representação adequada de Cristo pode ser feita. 

Espero  que  possamos  compreender  o  porquê  de  estarmos aqui, o que  isto significa. Isto é uma coisa muito real, este assunto de  Cristo  sendo  representado,  trazido  à  vista,  nossa  presença significando isto. Oh, estou certo de que todos nós sentimos isto, se as  coisas  tivessem  sido mantidas  rigorosamente  em  seus  lugares durante  todo  o  caminho,  o  impacto  sobre  este  mundo  seria infinitamente  maior  do  que  tem  sido.  A  coisa  tem  se  tornado mecânica; não podemos dizer que a Igreja em todas as suas partes tem realmente trazido o  impacto de Cristo sobre esta terra. Talvez tenhamos que voltar em algum ponto sobre este assunto. Não em doutrinas,  em palavras,  em  verdades; mas  numa ponderosa  obra do Espírito Santo dentro de nós, que resulte em nós sermos capazes de dizer: “Aprouve a Deus revelar seu Filho em mim” (Gal. 1:16); a representação  tem  que  primeiramente  ser  interior,  depois  vem  a pregação;  não  é  a  assinatura  de  uma  declaração  de  doutrinas fundamentais, mas a revelação de Cristo no coração.  

CAPÍTULO  2  – REPRESENTAÇÃO  NA  BASE  DA IDENTIFICAÇÃO

Ler: Gên. 1:26; Col. 1:15; 2 Cor. 4:4; Rom. 8:29; Col. 3:10,11; Ef. 4:13,15,16; 5:22‐32; Jo. 20:21‐23; Mat. 28:18‐20; At 1:8.

A Identificação do Filho com o Pai

Penso que poderíamos continuar nossa meditação no ponto onde mais  imediatamente se refere ao Senhor  Jesus. Na conclusão de nossa meditação anterior, estivemos especialmente enfatizando que  o  princípio  desta  representação  está  baseado  na identificação. O Senhor Jesus era muito particular e muito enfático quando  esteve  aqui,  na  questão  de  sua  relação  com  o  Pai.  Ele manteve  isto  sempre à vista. Naturalmente, muitas  conseqüências surgiram por causa disso. Não  iremos abordar a conseqüência por enquanto,  lembremos:  “Aquele  que  vê  a  Mim  vê  o  Pai”  (João 14:9). “Eu e meu Pai somos um”  (João 10:30). “Mostra‐nos o Pai... Há tanto tempo tenho estado convosco, e ainda não me conheces?” (João 14:8,9). Assim podemos reunir uma quantidade tremenda de textos  que  sustentam  esta  identificação  do  Filho  com  o  Pai,  de Cristo com o Pai. Nosso ponto principal neste momento é: Nós não estamos lidando com dois, mas estamos lidando com um. Isto para dizer que não estamos  travando conhecimento de Cristo separado de  Deus,  separado  do  Pai.  Quando  O  encontramos  e   nos relacionamos com Ele,  encontramos o Pai.

E,  o  que mais,  de  outro  lado  Deus  se  recusa  a  encontrar conosco  em  qualquer  outra  base,  exceto  em  Seu  Filho.  “Ninguém vem ao Pai a não ser por Mim”  (João 14:6), e  toda  ida a Deus de forma  independente e separada do Filho não  terá outro resultado: O Pai irá nos reportar ao Filho, Ele não irá agir separado do Filho. A  unidade  é  absoluta,  e  é  divina  e  zelosamente  guardada  e preservada. É identificação.

A  história  de  Israel  desde  então  pode  ser  resumida  neste único princípio, nesta única  lei. Israel se recusou a aceitar a Cristo como Filho de Deus,  colocou‐o de  lado  e  tentou  se  aproximar de Deus, e encontrou uma porta fechada. A partir daquele dia a porta que leva a Deus tem estado fechada para Israel. O Pai tem dito de forma  muito  efetiva  e  ponderosa  a  Israel:  Não  há  caminho independente; se isto significa mil ou dois mil anos, o tempo não irá alterar  isto; você ainda estará na posição em que  terá que vir por 

meio do Filho, se quiser encontrar a Mim! Esta é a situação de Israel hoje. Deus é muito zeloso sobre isto.

Por  que  isto?  A  resposta  poderia  ser  dada  de  muitas maneiras, mas, para a nossa presente consideração, é uma questão da  intenção  de  Deus  de  trazer  Cristo,  Seu  Filho,  à  herança  que designou para Ele: o domínio. ‘Adão era uma figura de Cristo, que viria’ (Romanos. 5:14), e Deus disse: “Façamos o homem conforme a nossa  imagem,  conforme  a  nossa  semelhança:  e  tenham  eles domínio”  (Gen.  1:26). Este  ‘eles’  é  muito  significativo.  (Nota  do tradutor: No  inglês está escrito: “Let  them have dominion.” ao pé da letra: “Deixe que eles tenham domínio”.) Não iremos falar disto agora.  “E tenham eles domínio.”—“Uma figura daquele que estava para vir”. Diz o escritor da carta aos Hebreus.

 

 “Porque  não  foi  aos  anjos  que  sujeitou  o  mundo futuro,  de  que  falamos.  Mas  em  certo  lugar  testificou alguém, dizendo: Que é o homem, para que dele te lembres? Ou o  filho do homem, para que o visites? Tu o  fizeste um pouco  menor  do  que  os  anjos,  de  glória  e  de  honra  o coroaste,  e  o  constituíste  sobre  as  obras  de  tuas  mãos; todas as  coisas  lhe  sujeitaste debaixo dos pés. Ora, visto que  lhe  sujeitou  todas as  coisas, nada deixou que  lhe não esteja  sujeito. Mas  agora  ainda  não  vemos  que  todas  as coisas  lhe  estejam  sujeitas.  Vemos,  porém,  coroado  de glória  e  de  honra  aquele  Jesus  que  fora  feito  um  pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos.” (Heb. 2:5‐9; KJV: ASV).

 

Aqui está o Antítipo, aqui está aquele que é maior do que Adão, aqui está Aquele de quem Adão era uma figura, eternamente destinado a ter domínio, com todas as coisas colocadas abaixo Dele, Jesus, e Deus se mantém muito ligado ao plano em relação ao Seu Filho.  O  Filho  é  o  representante  supremo  de  Deus,  aquele  que concentra  todas  as  coisas,  para  os  propósitos  executivos  de domínio, e a união deles é absoluta. Tanto é assim que, se todos os propósitos de Deus estão estreitamente ligados e investidos em Seu 

Filho,  Ele  deve  trazer  este  Filho  ao  Seu  lugar,  este  deve  ser  Seu negócio supremo, que o Filho seja como Deus. 

 

Este pensamento é um pensamento do Velho Testamento em tipo,  e  um  pensamento  do Novo  Testamento  em  realidade. Você sabe  que  através de  todo  o Velho Testamento Deus  teve  os  Seus representantes,  e  esses  representantes  eram,  em  seus  dias,  como Deus. A declaração  a Moisés  é uma declaração  extrema. Quando Deus o enviou a Faraó, Ele disse a Moisés: “Você será como Deus a Faraó”  (Êxodo  7:1),  e  em  efeito,  quando  Faraó  se  encontrou  com Moisés,  na  verdade  encontrou‐se  com  o  próprio  Deus,  estava tratando  com  Deus.  Fossem  os  patriarcas,  ou  os  profetas,  em virtude da unção Divina neles,  eles  estavam  lá  como Deus,  tratar com eles era tratar com Deus. O próprio termo ‘Filho do Homem’, como usado no Novo Testamento, implica esta representação, Deus representado;  não  Deus  separado,  Deus  de  lado,  mas  Deus envolvido. Não  importa o quanto você  tenha que esperar, o  fim é absolutamente certo. 

Jeremias  representava  Deus  naquele  lugar.  Bem,  aquelas pessoas  podiam  fazer  todo  tipo  de  coisa  com  Jeremias:  podiam rejeitar  sua  palavra,  podiam  jogá‐lo  na  masmorra,  chegaram  ao ponto de quase matá‐lo, a ponto dos oficiais irem ao rei para dizer: Se  não  tirares  aquele  homem  do  calabouço,  certamente morrerá! Eles  podiam  fazer  isto,  e  os  anos  podem  se  passar  de  modo  a parecer que  Jeremias não  tenha  sido vingado, mas  será escrito no futuro,  agora  num  certo  tempo  no  reino  de  Ciro:  “para  que  a palavra  do  Senhor  dita  pela  boca  de  Jeremias  seja  cumprida...” (Esdras 1:1). Não importa, esperem o tempo que quiserem, façam o quiserem, é com Deus que vocês estão lidando; isto é representação. Oh, o Velho Testamento está cheio disso em princípio, e  tudo  isto está reunido em Cristo; Ele é a totalidade de tudo isso. 

Não  é necessário para mim, numa  congregação  como  esta, enfatizar este grande  fato, que  temos que  lidar com Deus quando tocamos  o  Senhor  Jesus. Quando  temos  que  tratar  com  o  Senhor Jesus, estamos tratando com Deus numa forma muito maior do que qualquer profeta do Velho Testamento, e  já era grande o bastante então.  

A Identificação da Igreja Com Cristo

Com quem estamos  lidando? Bem, ao  longo desta  linha de representação, chegamos à dispensação atual, e à natureza dela. A presente dispensação é a dispensação da Igreja, e a Igreja está aqui neste  mesmíssimo  terreno,  e,  se  você  e  eu  fomos  batizados  em Cristo, então fomos batizados em Seu Corpo. Não vamos pensar em Igreja  como  uma  coisa  objetiva  e  separada  de  nós mesmos. Nós estamos  nela,  isto  tem  que  se  tornar  uma  questão  de  aplicação pessoal  quando  falamos,  não  pensemos  objetivamente  na  Igreja, mas pensemos em nós mesmos como membros de Cristo. 

Bem, agora, esta  identificação  com Cristo ocorre da mesma maneira como ocorria a identificação de Cristo com o Pai. Esse é o porquê de eu ler Efésios 5:21‐32, sobre maridos e esposas, e esposas e maridos, e o porquê de eu ter enfatizado aquela estranha palavra em Gênesis —“Tenham  eles  domínio”  e  você percebe  que  isto  se repete  novamente  em Gênesis  5:1  e  2.  “No  dia  que Deus  criou  o homem, à semelhança de Deus o criou; macho e fêmea os criou, e os abençoou; e deu‐lhes o nome de Adão” chamou‐os de Homem. Esta passagem em Efésios 5, sobre maridos e esposas, traz este princípio, e, se apenas pudéssemos enxergar  isto,  tenho certeza de que seria tremendamente proveitoso, e nos colocaria numa posição acima das visões modernas deste mundo sobre esta questão. 

Aí  está  este  propósito  eterno,  este  pensamento  Divino,  o suporte desta relação, deste pensamento de Deus em representação na base da  identificação, e a  frase a ser grifada é: como Cristo e a Igreja,  a  Igreja  e  Cristo.  A  unidade  aqui,  a  identificação,  é  o pensamento e a  intenção Divina. Você não está  lidando com duas coisas  distintas  aqui,  duas  vidas  independentes,  duas  pessoas separadas. “Ele  os  fez  macho  e  fêmea,  e  chamou‐os  homem”, chamou um plural de singular! E isto é o que Deus fez com Cristo e a Igreja; isto é o que Ele fez entre Ele mesmo e o Seu Filho, chamou um  plural  de  singular,  em  efeito.  E Deus  está  dizendo  aqui,  em outras  palavras,  que  a  esposa  perde  sua  própria  identidade independente quando se casa, ela perde sua própria vida separada. Agora seu único ideal é a vida e vocação de seu marido, em que ela se  imerge,  e os dois  se  tornam um,  assim  como  a  Igreja  e Cristo. Quando  entramos  na  Igreja,  abandonamos  a  nossa  própria identidade independente e separada. Tudo o que é nosso, pessoal e privativo,  é  abandonado,  e  somos  imergidos no Corpo de Cristo, para que a Igreja e Cristo sejam uma só carne, os dois são um: Eu sei que a visão moderna  sobre a posição da mulher neste mundo não  irá  aceitar  isto, mas  você  não  precisa  se  incomodar  com  ela. 

Espero que você fique firme nestes princípios.

Deus conferiu tudo a Seu Filho, e você herda tudo. O Senhor está simplesmente dizendo que este  relacionamento  terreno deve ser  uma  representação  de  algo  celestial,  que,  se  este relacionamento  entre  maridos  e  esposas,  e  esposas  e  maridos, fossem  conforme  o  planejado,  o  esposo  representaria Deus  neste mundo, como um servo, um ministro de Deus — não entenda mal isto; não quero dizer que ele colocaria uma gola clerical e entraria “no ministério” — ele seria um representante de Deus numa forma positiva,  e  sua  esposa  estaria  trabalhando  dentro  disso;  não separada numa vida e ministério independente, mas negando tudo o que é pessoal. Esta é a idéia Divina, e assim ela entraria nos dons Divinos,  na  vocação  Divina,  na  benção  Divina;  ela  obteria  sua porção  nesta  relação  e,  com  a  perda  daquilo  que  é  meramente pessoal  e privativo,  entraria  em  algo muito mais  amplo. Este  é  o pensamento Divino, e a benção Divina está nesta direção e não em outra. Assuma  isto, mas não como uma  idéia meramente humana, como os modernistas e as pessoas do mundo dizem: Esta é a idéia de Paulo a  respeito das mulheres,  e nós não aceitamos  isto! Não, este é um pensamento Divino, e  sua visão é Cristo e a  Igreja, e a Igreja e Cristo. 

O ponto aqui é a  identificação, que nesta  linha onde aquele relacionamento  é  correto,  o  efeito  é  o  seguinte:  que  quando  você encontra  a  esposa,  você  encontra  o marido. Quero dizer,  que  ela não irá agir de forma independente, ela irá expressar o pensamento de seu marido,  irá se referir ao seu marido, e ao encontrá‐la, você encontra  o  marido.  Não  adianta  tentar  manipular  este  tipo  de mulher,  fazê‐la agir em  segredo quando  seu marido está ausente. Oh não, você não consegue separá‐la de seu marido; ela está ligada a  ele,  eles  são  um,  de modo  que  você  não  consegue  conhecê‐la separada dele. Não é uma questão de se o marido está presente ou ausente, se ele é visto ou não; você se depara com ele o tempo todo. Este é o relacionamento. 

O Senhor está dizendo isto a respeito de Cristo e da Igreja, e Ele  está dizendo  que  a  identificação  é de  tal  ordem  que,  quando você  conhece  a  Igreja,  os membros  de  Seu Corpo,  você  não  está conhecendo  algo  em  separado,  você  está  conhecendo  o  próprio Cristo. “Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos”  (Mat.  28:20).  Este  é  o  princípio.  Isto  não  é  uma  coisa meramente individual, foi dito a Igreja: o núcleo estava lá e foi dito 

a  Igreja: “Estou  sempre  convosco, até a  consumação dos  séculos” “Estou convosco.” Como? No meio, em você, pelo Espírito.

Identificação e Autoridade

E  este  é  o  significado  dessas  palavras:  “Recebei  o  Espírito Santo:  Àqueles  a  quem  perdoardes  os  pecados  lhes  são perdoados”  (João  20:22,23). Isto  é  tremendo:  a  Igreja  na posição  de  Cristo  dizendo:  seus  pecados  estão perdoados. Sim,  a  Igreja  debaixo  da  unção  do  Espírito Santo, se de fato estiver cheia do Espírito, se for governada pelo Espírito,  é   seu direito  e prerrogativa dizer:  “Os  seus pecados  estão  perdoados”  nos  termos,  naturalmente,  que condicionam  todo  perdão,  principalmente  o arrependimento  e  a  fé. “...e  àqueles  a  quem  os  retiverdes lhes são retidos” (KJV). A Igreja diz: Olhe aqui, meu irmão, minha irmã, você está violando o princípio Divino e nós  lhe declaramos  muito  solenemente  diante  de  Deus  que  você não  tem entrada diante de Deus até que  coloque as  coisas em ordem: na autoridade do Espírito Santo dizemos  isto a você. E Deus  se  coloca de  lado,  e não  importa, você pode esperar uma geração, uma vida  toda, aquele  irmão, aquela irmã,  não  irá  chegar  lá  separado  da  obediência  àquele conselho. Eles pensam que o dia está chegando quando eles podem  ser  absolvidos  ao  longo  de  sua  própria  linha. Absolutamente! Irão morrer culpados se não reconhecerem que, numa representação da Igreja governada pelo Espírito Santo, eles estão lidando com o próprio Cristo. 

Naturalmente, sei que a Igreja Romana tem tomado isto para si, e é sobre esta mesma base que a  Igreja Romana existe e opera, porém, naturalmente, num terreno temporal. Eles têm tirado a coisa do governo do Espírito Santo e a tornado uma questão puramente de oficio sacerdotal. Sempre que você chegar à verdade, você irá se deparar  com  um  erro  que  simula  a  verdade,  uma  imitação  da verdade. Mas a verdade está aqui, e é algo tremendo estar no Corpo de Cristo; é  tremendo estar numa representação  local deste Corpo de Cristo, a Igreja. Ela traz você para o terreno executivo, e eu sinto muito fortemente que o que precisamos em nosso dia,  talvez mais do  que  qualquer  outra  coisa,  é  que  a  Igreja  realmente  funcione 

como  representante  local. Parece  haver  tal  clamor  por  um  novo funcionar  da  Igreja  em  sua  expressão  local  ao  longo  da  linha  da oração, e oração de caráter executiva. 

Em  Jerusalém havia a  Igreja, e  frisamos que  cada vez mais eles são encontrados em oração. Quando Pedro estava na prisão, a Igreja  fez  súplicas a Deus. Ela agiu  sobre esta questão, e  trouxe o Senhor para o terreno do Salmos 2, e Pedro foi libertado. A função da  Igreja _ digo a você que esta é uma grande necessidade, que o Senhor tenha este Corpo localmente representado, que é Ele mesmo em  expressão,  Ele  mesmo  em  efeito,  Ele  mesmo  em  execução, operando neles,  através deles, pelo Espírito Santo. É disto que  se precisa hoje para fazer frente a este tremendo esforço das forças do mal. Quem  entre  o  povo  do  Senhor  não  está  consciente  deste empenho das forças do mal? O que está acontecendo no mundo de hoje?  Você  pode  ver  em  contrapartida  esta  guerra  no  campo espiritual  em  quase  todos  os  detalhes:  intensa  malignidade, maldade,  ódio,  violência, mentira  e  falsidade;  que  o  tempo  está abreviado;  e  uma  concentração  de  cada  pedacinho  diabólico  de ingenuidade para a destruição. E aqui dentro desses últimos dias temos tido uma retomada daquela conversa sobre petróleo; a idéia em  questão  é  que  o  tempo  está  abreviado,  que  o  dia  está  se encurtando;  o  inimigo  irá  recorrer  a  qualquer  artifício,  embora perverso. Esta é a  idéia. Mas olhe ao  longe. Você vê  isto no campo espiritual, você sente. O inimigo está pronto para esmagar, mutilar, aniquilar o verdadeiro filho de Deus se ele puder, e sua intensidade nunca  foi  tão grande. Por quê? Por que o  seu  tempo  é  curto.  “O diabo desceu a vós, tendo grande ira, sabendo que pouco tempo lhe resta” (Apoc. 12:12). O dia está acabando para ele. 

Como  isto será  resolvido?  Eu de novo digo a você que é a Igreja  que  tem  que  resolver  isto. Confesso  que  eu  não  posso solucionar  isto  sozinho;  você  não  pode  solucionar  isto sozinho. Precisamos de cooperação, temos que vir ao nosso terreno da  identificação  com  Cristo  e  deixar  Ele  representativamente resolver  isto.  Ninguém mais, mas  somente  Cristo  pode  resolver isto. “Toda  autoridade  me  foi  dada  no  céu  e  na  terra...  e  estou convosco”  (Mat.  28:18,20). Isto  não  pode  ser  apenas  aceito  como óbvio. Parece‐me que a  Igreja  tem que  entrar numa posição de  fé naquele  terreno  e  agir  com  Cristo.  Submeto  isto  a  você, mas  eu sinto  intensamente que há um apelo e uma necessidade de que os filhos  do  Senhor  onde  quer  que  estejam,  como  representando  a Igreja, mesmo que sejam dois ou três na localidade, que realmente 

ajam  sobre esta questão exclusivamente no nome do Senhor. “No nome  de  Jesus”  —  é  apenas  outra  maneira  de  dizer: Representativamente  dizemos,  representativamente  agimos,  é Cristo por meio de nós; considerando que o Espírito Santo tenha o Seu lugar. Bem, como você vê, identificação significa representação. Esta unidade com o Senhor significa que Ele tem um caminho para Se expressar. Bem, isto abre todas aquelas questões de unidade com o Senhor, unidade desimpedida, unidade imaculada com o Senhor, de modo que Ele tenha um caminho livre de expressão. 

A identificação e os Relações Humanas 

Esta  identificação  com  Cristo,  e  Sua  vinda  ao  longo  desta linha, se pudéssemos vê‐la, se os nossos olhos fossem abertos — e eu  gostaria  que  os  nossos  olhos  fossem  abertos  para  isto  — estabelece um  negócio muito  real,  solene  e  sério para  o povo do Senhor  na  questão  dos  relacionamentos  humanos.  Como melhor posso passar  isto a você e explicar o que quero dizer? Você  sabe, alguns de nós temos estado em muitos diferentes países do mundo, entre  outras  nações,  e  uma  de  nossas  maiores  dificuldades geralmente tem sido o caráter nacional das pessoas a quem estamos ministrando.  Não  preciso  mencionar  diferentes  nações  e  suas características,  mas,  como  você  sabe,  diferentes  nacionalidades realmente diferem muito uma da outra em sua constituição. A mim me  parece  que  elas  representam  todos  os  temperamentos  da humanidade. Alguns são muito emotivos; outros são intensamente práticos; outros mentais, no bom sentido — eu ia dizer intelectuais, mas  esta não  é  a palavra mais  apropriada — vivendo  sempre no terreno da mente. 

Eles  precisam  ter  a  coisa  completamente  esmiuçada  pela razão,  e  se mantém  neste  terreno.  Bem,  as  pessoas  diferem,  e  o nosso problema freqüentemente tem sido este — Oh, não podemos chegar  a  lugar  algum  aqui,  absolutamente,  por  causa  desta superficialidade, ou desta intelectualidade, desta intensa disposição nacional! E  você  pode  desistir  se  aceitar  isto,  e  trabalhar  apenas nesta base. Mas entendemos que  tudo  isto  tem que ser relegado a segundo plano e não permitir que domine tudo. Cristo é totalmente diferente  de  tudo  isto,  Ele  é  de  uma  disposição  e  de  uma constituição  peculiar.  O  Espírito  Santo  é  todo  poderoso,  e,  se  o Espírito  Santo  puder  trazer Cristo  para  dentro  dessas  vidas,  não importa como possam elas ser constituídas, Ele introduz aquilo que irá  trabalhar  de  forma  calma,  profunda  e  seguramente  a  fim  de 

substituir  e  transcender  tudo  nelas.  Dê‐Lhe  tempo  e  você  irá descobrir algo lá que é completamente diferente daquela disposição natural,  totalmente  diferente  da  constituição  natural.  É  algo diferente, e isto irá continuar o seu caminho. Isto é Cristo. Aí está a universalidade do Espírito Santo.

Agora  isto  é  exatamente  o  que  aconteceu  no  dia  de Pentecoste  em  Jerusalém.  Lá  estavam  representantes  de  todas  as nações  debaixo  do  céu;  Partos,  Elamitas,  habitantes  da Mesopotâmia,  estavam  todos  lá.  Isto  foi  estratégico  da  parte  do Espírito Santo, e aquele dia Ele veio e falou através dos apóstolos, sendo compreendido por todos. Isto foi algo que espantou aquelas pessoas. Aqui  estamos nós,  todas  as nações  e  línguas debaixo do céu,  contudo  os  ouvimos  falar  cada  um  em  sua  própria  língua maternal, como se fosse apenas uma só língua que estivesse sendo falada.  A  universalidade  de  Cristo,  a  universalidade  do  Espírito Santo! Pode não  ter  ficado claro como a coisa  foi  feita, mas houve evidentemente um milagre do Espírito que  transcendia o discurso confuso entre os homens.  Isto estabelece um princípio, que Cristo simplesmente  ignora  as  diferenças  de  nacionalidades  e  de constituição humana, e Ele mesmo é uma  constituição, uma base, que pode chegar a todos e constituí‐los em um só na realidade mais íntima, tornar todos em um. 

Este é o significado daquelas palavras que citamos — “E vos vestistes  do  novo,  que  se  renova  para  o  conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou; onde não há grego, nem  judeu,  circuncisão,  nem  incircuncisão,  bárbaro,  cita, servo  ou  livre;  mas  Cristo  é  tudo  em  todos.”  (Col. 3:10,11). O  Espírito  Santo  pode  fazer  de  todas  as nacionalidades, temperamentos, constituições, uma unidade que  é Cristo, mais profunda do que aquilo que  somos  em nós  mesmos.  Somos  todos  diferentes.  Se  nos encontrássemos  e  tentássemos  prosseguir  numa  base meramente humana, nossas diferenças  iriam  se  conflitar o tempo  todo  e  criariam  dificuldades  imensas.  Mas,  se procurarmos  relegar  essas  diferenças  a  segundo  plano  e considerarmos o fato de que, sendo membros do Corpo de Cristo,  todos nós  temos algo em comum, e que é este algo em comum que deve ser a base de nossa relação e avanço,  que deve ser nutrido, defendido e buscado, então haverá a 

edificação  do  Corpo,  e  o  aumento  de  Cristo;  e  este  é  o caminho da representação. Vamos deliberadamente rejeitar aquela  atitude  que  diz:  Eu  não  consigo  caminhar  com fulano. Desisto! Vamos dizer: Fulano é um filho de Deus, há algo  de  Cristo  ali  e  eu  vou me  apegar  a  isto.  Isto, meu amado  irmão,  faz o aumento, e este,  também, é o caminho da representação.

Eu sei isto, que quando há algum negócio real para os filhos do Senhor  fazerem, se  for apenas dois deles, marido e mulher, ou dois  num  lugar,  alguma  questão  real  que  precisa  ser  tratada corporativamente,  o  inimigo  age  em  cima  de  todos  os  tipos  de condições humanas para paralisar aquilo. Ele está em ação em todo o  tempo,  geralmente  em  vantagem,  antes  que  reconheçamos  o negócio  que  está  para  se  levantar,  ele  está  agindo  sobre  aqueles elementos  humanos  para  nos  separar  um  do  outro,  para  trazer tensão  ao  relacionamento,  para  criar  fantasmas  na mente  de  um contra  o  outro,  ele  mente.  E  esses  fantasmas  parecem  tão verdadeiros!   Fulano  disse  uma  coisa,  e  você  percebe  como  ele disse? Como ele olhou? — e você dá uma  interpretação que não é verdadeira! O inimigo levanta uma construção; nada é tão pequeno para  ele,  e  ele  está  tentando  separar  você  das  pessoas,  colocar tensão no  relacionamento, porque há uma questão. Mais  cedo ou mais  tarde você será requerido a concordar em alguma questão, e você  não  irá  conseguir;  o  inimigo  tem  olhado  para  isto antecipadamente, lançando sementes de destruição e discórdia. São coisas  reais,  e  não  imaginárias;  são  frutos  de  experiência  e observação.  

O que estou dizendo é o seguinte: que precisamos prosseguir no  terreno  de  Cristo,  se  é  para  Cristo  ser  expresso,  e  procurar manter distância deste  terreno de  judeu  e grego, de  circuncisão  e incircuncisão, bábaro, cita, etc. Fique naquele terreno onde Cristo é tudo  em  todos,  agarre‐se  neste  terreno,  e,  então,  Ele  virá. Representação de Cristo significa identificação com Cristo, e esta é a única identificação que você e eu iremos encontrar aqui, a menos que seja identificação com o diabo. Há somente duas alternativas.

Quero  crer  que  você  não  esteja  confuso, mas  sim  que  está tendo vislumbre de  luz, e que  iremos reconhecer por que estamos aqui. Estamos aqui nesta terra como representantes do Senhor. Mas não  é  que  estamos  aqui  ou  lá,  e  que Cristo  esteja  longe;  estamos 

aqui para sermos vasos nos quais Ele está, e Ele está aqui porque nós estamos aqui. Esta é a  implicação de nossa presença. Oh, que isto não possa ser apenas uma teoria, mas que cada vez mais possa ser  um  fato,  pelo  motivo  de  vivermos  em  Espírito,  que  nossa presença possa  significar  a  todas  as  inteligências  invisíveis,  como também aos homens, que Cristo está aqui pelo Espírito. O Senhor permita que seja desta maneira.

Capítulo 3 – Representação pelo Espírito 

Ler: Lucas 24:46‐49; João 20:21‐23; Atos 1:8; ASV.

“E  disse‐lhes:  Assim  está  escrito,  e  assim  convinha  que  o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dentre os mortos, e em  seu  nome  se  pregasse  o  arrependimento  e  a  remissão  dos pecados,  em  todas as nações,  começando por  Jerusalém. E destas coisas sois vós testemunhas. E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai;  ficai, porém, na  cidade de  Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder.”

“Disse‐lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós. E, havendo dito isto,  assoprou  sobre  eles  e  disse‐lhes:  Recebei  o  Espírito  Santo. Aqueles  a  quem  perdoardes  os  pecados  lhes  são  perdoados;  e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos.”

“Mas  recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser‐me‐eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra.”

Continuando  a  nossa  questão  sobre  o  grande  pensamento Divino da representação, estaremos agora especialmente ocupados com a simples ênfase do lugar do Espírito Santo em relação a isto.

Em  nossas  meditações  anteriores,  vimos  este  pensamento Divino como revelado nas Escrituras; primeiramente Deus fazendo o  homem  à  Sua  própria  imagem,  conforme  a  Sua  própria semelhança;  e,  então,  o  pensamento  plenamente  assumido  em Cristo,  que  é  repetidamente  declarado  ser  a  imagem  do  Deus invisível; e finalmente o pensamento levado para a Igreja, os eleitos, os quais devem ser conformados à imagem do Filho, tudo falando muito claramente desta intenção de Deus em ser representado, em ser conhecido por meio da representação. 

A Obra Representativa de Cristo por meio do Espírito Santo

Agora,  o  Espírito  Santo  tem  um  lugar  vital  em  tudo  isso. Quando o  Senhor  Jesus  assumiu oficialmente  esta  fase ou  função particular de Sua vida e obra, você sabe que foi então que o Espírito Santo ficou especificamente em evidência em Sua vida e ministério. É verdade que Jesus foi gerado pelo Espírito Santo, e é verdade que Ele era o próprio Deus, porém, na obra oficial para a qual Ele veio a este mundo, a obra do Filho do Homem, que é um termo ou título representativo, Ele se coloca em posição de representar o homem, a raça  humana.  O  evangelho  de  Lucas,  como  você  sabe,  é particularmente  e  peculiarmente  o  evangelho  escrito  para  a  raça humana,  como Mateus  é  o  evangelho  para  os  judeus,  e  o  título particular de Lucas para Cristo é ‘Filho do Homem’, representante. Jesus  assume  o  lugar  do  homem  como  Deus  pretendeu  que  ele fosse,  a  fim  de  trazer  o  homem  em  Sua  própria  Pessoa inclusivamente para o destino designado por Deus. 

Ele, o Homem inclusivo, irá avançar por todos os estágios do curso  do  homem  para  aquele  fim  divinamente  designado,  e, quando  finalmente  glorificado  e  exaltado  à  destra  de  Deus,  irá permanecer  como  representante  dessa  nova  raça,  dessa  nova criação. Digo  que,  como  Filho  do Homem,  Jesus  irá  avançar  por todos  os  estágios  do  progresso  do  homem  rumo  àquele  destino glorioso,  pois  irá  ficar  lá  como  as  primícias,  o  primogênito  entre muitos  irmãos. Esta mesma  fase está  ligada a este pensamento da representação. Ele é “a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda  criação” (Col. 1:15);  representante, primogênito. Assim  como os primeiros  frutos da colheita  representavam  toda a colheita, e o agricultor  pegava  aqueles  primeiros  frutos  e  os  oferecia  a  Deus como  sinal  de  toda  colheita  que  se  seguiria,  assim  Cristo  foi  as primícias de toda a criação, e o primogênito entre muitos irmãos, e Ele ocupa esta posição à destra de Deus hoje, representativamente, como sinal de tudo o que virá. Mas desde o primeiro passo, através de cada estágio daquele curso rumo a glória, o Seu caminho se dá por meio do Espírito. 

A Cruz, o Primeiro Passo

Em certo sentido, num real e verdadeiro sentido, o Jordão foi o primeiro passo em direção à glória. A cruz é sempre o primeiro passo para a glória; não haverá nenhuma glória se não houver cruz, e  a medida  da  glória  será  a medida  da  cruz. Vamos  deixar  este 

assunto aqui e voltarmos a ele mais adiante. O Jordão foi o primeiro passo  rumo à glorificação, não  apenas a glorificação de Cristo de forma  pessoal, mas  a  glorificação  do  homem,  os muitos  filhos  a serem levados à glória por meio Dele, toda a colheita a ser levada à glória por meio Dele, os muitos  irmãos que virão por meio Dele. Digo, num real sentido, o Jordão foi o primeiro passo rumo à glória, e  no  Jordão,  como  já  salientamos,  a  idéia  predominante  é  a representação.  Uma  raça  que  não  pode  ser  glorificada  deve  ser colocada de  lado,  a  fim de  abrir  espaço para uma nova  raça que pode ser glorificada. Uma humanidade que jamais poderá chegar à glória precisa ser removida do terreno que pertence aquele homem que pode chegar à glória. Assim, representativamente no Jordão, no batismo  de  Jesus,  em  Sua  morte  e  sepultamento  em  tipo,  Ele assume  o  lugar  de  uma  raça,  de  uma  humanidade,  que  jamais poderia  ser  glorificada,  e  que  é  removida  Nele, representativamente.

Na realidade da Cruz, da qual o  Jordão era um  tipo,  temos essa  benção  concretizada.  Tudo  o  que  em  nós  jamais  poderá  ser glorificado  foi  removido.  Você  está  preocupado,  obcecado e perturbado  com  tudo  isto  em você que não pode  ser glorificado? Bem,  se  você  tem  a  Cristo  como  seu  representante,  e  tem  se mantido em Sua obra  representativa a  seu  favor,  tudo aquilo que impedia a sua chegada à glória foi removido, cada pedacinho dele; e Deus está trabalhando conosco neste terreno. A última fase desta obra  terá  a  ver  com  nossos  corpos  mortais;  eles  serão transformados,  e  feitos  semelhantes  ao  corpo  da  Sua  glória. Estamos  chegando à glória  em  cada parte de nosso  ser  redimido, porque  tudo que não pode ser glorificado  foi representativamente tirado do caminho. Este é, naturalmente, o terreno para a nossa fé.

Quando  Jesus  saiu  do  Jordão,  que  é  o  tipo  de  sua ressurreição, Ele ocupa a posição de representante de uma raça que não pode ser glorificada, e, em certo ponto em Sua vida, essas duas coisas  (morte e glória)  foram  trazidas  juntas em um  só momento. No monte da transfiguração, Moisés e Elias falavam com Ele sobre a morte,  ou  sobre  o  êxodo  que  Ele  iria  realizar  em  Jerusalém,  e, naquele mesmo  instante,  Ele  foi  glorificado.  A morte  e  a  glória vieram  juntas num só momento Nele.  Isto se deu com Ele porque representa perfeitamente o propósito de Deus. Isto é representação.

Porém, esta nova criação, este novo homem, capacitado para chegar à glória, a ser glorificado, esta nova raça reunida Nele como 

seu  Cabeça,  como  sua  primícia,  como  seu  primogênito,  somente poderá chegar à glória se permanecer no  terreno da nova criação, no  terreno da  ressurreição. O Espírito Santo  assume o  controle;  e assim, ao sair da água, o céu foi aberto, e o Espírito Santo, em forma de pomba, desceu sobre Ele. O Espírito Santo toma conta, por assim dizer, de toda essa questão de fazer esta nova raça chegar à glória, de  aperfeiçoar  esta  nova  criação  para  a  glória.  Esta  é  a  obra  do Espírito Santo do começo ao fim. 

O que foi verdade em relação ao Senhor Jesus como Cabeça deve  também  ser  verdade  em  relação  a  todo  o  Corpo,  e  o Pentecostes  é  a  contrapartida  do  lado  da  ressurreição  do  Jordão, onde o Corpo, trazido para o terreno da ressurreição, é comandado pelo Espírito Santo, a fim de ser levado através de todo o percurso e estágios de aperfeiçoamento até a glória. Há uma pequena frase nas cartas de Pedro sobre “o Espírito de glória repousando sobre você”. (1 Ped. 4:14).

Assim, nossa ênfase está aí, este é o objeto do Espírito Santo, esta é a necessidade para o Espírito Santo; pois nada é possível em relação a todo plano Divino, separado do Espírito Santo. 

A Atestação do Pai a respeito do Filho

Mas há uma segunda parte, outro  lado ou aspecto disso. O Espírito certamente vem, a unção  toma o seu  lugar, mas acima da unção a voz Divina é ouvida do céu dizendo: “Este é o meu Filho amado  em  quem me  comprazo”  (Mat.  3:4).  Com  a  unção  vem  a atestação. Deus  está  chamando  a  atenção  para  uma  Pessoa,  está indicando Alguém,  está  apontando para uma Pessoa,  e  em  efeito está dizendo: Este é o meu representante! Você sabe que no monte da  transfiguração,  quando  Pedro  em  sua  impulsividade  seria achado ditando, aconselhando, sugerindo o que deveria ser feito, a voz,  aquela  mesma  voz,  veio  novamente:  “Este  é  o  meu  Filho amado em quem me comprazo; a Ele ouvi”; submetendo tudo a Ele: governo, direção. “A Ele ouvi”. É a voz da atestação do céu ali no Jordão e no Monte, individualizando a Jesus como representante de Deus. Novamente temos representação. 

Agora,  essas  duas  coisas  seguem  juntas.  São  apenas  dois aspectos  de  uma  mesma  coisa,  porque  a  unção  significa  que  o próprio Deus se compromete com esta Pessoa. Este é o significado da unção. Como estávamos dizendo em nossa meditação anterior, 

onde a unção está você se encontra, e trata com o próprio Deus. “A ninguém  permitiu  que  os  oprimisse,  e  por  amor  deles  repreendeu reis,  dizendo: Não  toqueis  os meus  ungidos,  e  aos meus  profetas não façais mal.” (1 Cron. 16:21,22; ASV). Você terá que tratar com Deus se tocar no ungido ou naquele sobre o qual repousa a unção, ou naqueles que são ungidos. Deus se compromete com o ungido. Por  isso,  se Deus está  comprometido, envolvido,  relacionado  com alguém, este é representante, e é como se o próprio Deus estivesse agindo ali. O Espírito Santo constituiu aquele vaso de representação por meio de Sua vinda e presença; Deus está presente. Isto significa que  todos  os  direitos  da  soberania Divina  foram  assumidos  pelo Espírito  Santo  e  trazidos  para  dentro  daquele  que  está  ungido, aquele que é habitado pelo Espírito. Todos os direitos da soberania Divina estão no Espírito Santo, e, se o Espírito Santo está presente, está presente com todos os direitos da soberania Divina.

Realmente  gostaria  que  você  tivesse  um  vislumbre  disso, pois sinto que  isto seja  tremendamente  importante para nós como membros do Corpo de Cristo, habitados pelo Espírito Santo. Nós apenas tocamos vagamente neste assunto no dia de ontem, e sinto que há algo mais a ser dito sobre isso.

A Autoridade do Espírito Santo

Quando esta contrapartida do Jordão, morte, ressurreição, o céu aberto, a descida do Espírito e a unção, quando a contrapartida disso  ocorre  no  Pentecostes,  o  Espírito  Santo  vem  em  termos  de autoridade Divina para permanecer presente, e isto é algo que você e  eu  temos  que  reconhecer,  a  que  temos  que  nos  ajoelhar absolutamente. Pode  ser  que  não  tenhamos  reconhecido suficientemente que receber o Espírito Santo da unção significa que a autoridade sobre nossas vidas é tirada de nossas mãos. Você tem pedido pelo Espírito Santo? Você  tem orado para ser cheio com o Espírito Santo? Você  tem  reconhecido a  tremenda  importância da habitação do Espírito Santo? Se ainda não, então, naturalmente, isto será responsável por todos os tipos de fraqueza, carências, retardo no  crescimento,  falta  de  poder  no  serviço,  ineficiência  na  vida,  e uma porção de  outras  coisas. Mas,  se  você  tem  visto  a  tremenda importância da presença do Espírito Santo em poder, em plenitude na vida _  e  eu  realmente  creio que você  tem visto _  então,  tendo buscado  o  Espírito,  você  tem,  consciente  ou  inconscientemente, intencional ou não intencionalmente, pedido que toda a autoridade de sua vida seja  tirada de suas próprias mãos, para que ela possa 

ser  inteiramente transferida para outra pessoa; e  isto envolve você mais do que você  imagina. Este  é  o ponto que  tentamos  abordar ontem.

No  dia  de  Pentecostes,  o  Espírito  Santo  veio  em  termo  de autoridade, e assumiu o comando. E, fazendo isso, fez com que os homens  dissessem  coisas  de  importância  das  quais  aceitaram dentro do  limite de  seus próprios entendimentos, é verdade. Sim, eles  não  se  opuseram  às  coisas  que  disseram,  até  o  ponto  que podiam  entendê‐las,  porém,  embora  concordassem  com  elas, apenas foram até o limite de suas apreciações, do entendimento que tinham  sobre  elas.  Mas  o  Espírito  Santo  queria  significar infinitamente mais do que aquilo, e logo esses mesmos homens que estavam  concordantes  dentro  do  limite  de  seus  entendimentos  e apreciações das coisas que diziam,  foram confrontados com o  fato de que as coisas que eles haviam dito envolviam‐os muito mais do que  tinham  compreendido.  E  esta  é  uma  questão  prática  da autoridade do Espírito Santo. 

Pedro  estava  muito  concordante,  conforme  a  sua compreensão, conforme o alcance de sua apreciação, a respeito do que o Senhor tinha dito sobre “aos confins da terra”; ...  “a todos os que estão  longe, e a  todos quantos o Senhor nosso Deus chamar” (Atos 2:39). Porém, não  irão se passar muitos dias antes que ele se choque contra isto, exatamente aquilo que ele próprio tinha dito, e venha  a  descobrir  que  aquilo  significava muito mais  do  que  ele imaginava, quando chegou em Cesaréia, na casa de um gentio. “a todos quantos estão longe, e a tantos quantos o Senhor nosso Deus chamar!” Pedro diz: `Não, Senhor’; e aí acontece uma batalha. Mas você  percebe  que  o  Espírito  Santo,  quando  faz  Pedro  terminar  a tarefa, chega naquela  situação de  forma poderosa. É uma questão da  qual  o  Espírito  Santo  está  encarregado,  e  o  veredicto,  a conclusão da questão  toda  é o  relatório de Pedro  em  Jerusalém _ “Quem sou eu para que pudesse resistir a Deus?”.   “Portanto, se Deus  lhes deu o mesmo dom que a nós, quando havemos crido no Senhor Jesus Cristo, quem era então eu, para que pudesse resistir a Deus? “ (Atos 11:17). Aí está um homem tendo que se curvar diante da autoridade do Espírito Santo. 

Agora, o que queremos certificar nesta questão? O seguinte: Se você e eu  realmente chegarmos ao  lugar onde o Espírito Santo como Senhor se torna residente em nós, seremos confrontados com esta grande lei da autoridade absoluta do Espírito Santo para fazer 

o  que  quiser  conosco,  e  para  nos  levar  completamente  além  de nossas  próprias  intenções,  de  nossos  preconceitos,  de  nossas tradições, de  toda nossa história passada, para nos  levar  além de nosso presente alcance mental daquilo que agora concebemos ser o certo e o errado. Nós  todos  temos um horizonte mental  fixo hoje. Neste momento todos nós colocaríamos certo limite e uma fronteira naquilo que consideramos ser o certo e errado, ao que podemos e não  podemos  fazer.  Movemo‐nos  dentro  de  nossa  própria interpretação mental das coisas, e este é o nosso limite. 

Nós  iremos  limitar  o  Espírito  Santo  a  isto?  Se  assim  o fizermos,  jamais  chegaremos  ao  propósito  final  de  Deus.  O  que iremos descobrir é que o Espírito Santo requer de tempo em tempo que  nos  livremos  de  nossas  cercas,  e  deixemos  que  Ele  nos  leve completamente para fora de nossas próprias fronteiras de aceitação e interpretação. Ele irá requerer isto, este é o seu direito soberano, e o nosso progresso em direção ao propósito final de Deus, e, preste atenção,  a  medida  na  qual  podemos  verdadeiramente  ser representantes  de Deus  aqui  depende  inteiramente  desta  aptidão de  ajustamento  à nova  revelação ou  indicação dada pelo Espírito Santo, de nossa capacidade ou sensibilidade ao ajuste que o Espírito irá nos mostrar. 

Parece‐me  que muito  freqüentemente  o  Senhor  liga  nossas vidas a uma emergência, a uma crise, a fim de trazer algo novo. O fato é, naturalmente, que nós não iremos nos mover para algo mais em  relação  ao  Senhor,  exceto  se  formos  compelidos. É  assim que funciona, e por melhor e mais precioso que possa ter sido o agir do Senhor  para  conosco,  revelando‐nos,  comunicando‐nos,  o melhor que  Ele  já  nos  deu  terá  que  ser  trazido  ao  lugar  onde  não mais satisfaça as nossas necessidades de forma mais plena, a fim de que possamos  nos  mover  para  algo  maior.  Este  é  o  caminho  do progresso.  Talvez  tenhamos  tido  revelações  maravilhosas, maravilhosos  tratamentos do  Senhor  conosco;  coisas  aconteceram em nossas vidas que ofuscaram tudo o que passou, e sentimos que alcançamos a plenitude. Mas não, existe algo, além disso. 

Naquele  momento  isto  era  o  mais  longe  que  podíamos chegar, mas nossa experiência e nossa história nos diz  que aquelas coisas  que  eram  tão  grandes,  tão maravilhosas,  tão  interessantes, precisam  se  tornar  como  se  não  fossem  tudo  aquilo,  com  um crescente senso de nova necessidade, nova exigência, e nova crise se levanta na qual temos que conhecer algo maior. E o Senhor força 

situações como essa. É o caminho do alargamento, do crescimento. Parece‐me  que  este  é  o  Seu  único modo  prático  de  nos manter avançando. Mas  é  a  autoridade  do  Espírito  Santo  trazendo  essas crises e  fazendo essas exigências; e suponho que esta será a nossa experiência até o fim. Se realmente estamos debaixo do governo do Espírito Santo, nunca alcançaremos o fim aqui, haverá sempre algo mais  adiante;  mas,  para  chegarmos  lá,  temos  que  perder  o contentamento com aquilo que temos. Uma das marcas trágicas do cristianismo  é  a medida  de  contentamento  com  este  cristianismo evangélico.  A  grande  necessidade  hoje  é  de  um  senso  de necessidade por  toda parte,  entre os  cristãos  e no mundo, de um senso desesperado de  necessidade. A  igreja  nunca  irá  crescer  até que  este  intenso  senso  de  necessidade  por  algo maior  cresça. Os homens nunca chegarão a Cristo até que tenham um senso real de necessidade. 

O Novo Testamento está cheio desta obra do Espírito Santo, agindo soberanamente para precipitar situações nas quais um novo conhecimento do Senhor se torne indispensável para a vida, para a própria existência, e, quando isto é trazido, o caminho é aberto para o  Senhor  revelar  a  Si  mesmo;  e  isto  é  o  crescimento  da representação. O Espírito Santo, em Sua soberania, nos prende em seu método passo a passo; Ele nunca age mecanicamente, Ele age somente  em  vida. Assim  você  vê,  no  livro  de Atos,  os Atos  do Espírito Santo, que Ele sempre mantém os servos do Senhor com a comida racionada em relação ao que Ele estava fazendo. Ele nunca colocava  a  autoridade  nas mãos  deles, mas  sempre  a  retinha  em Suas próprias mãos. No  livro de Atos você não  consegue  ter um programa  missionário;  não  há  programa  lá.  Os  homens, naturalmente,  colocaram  hoje  o Novo  Testamento  dentro  de  um programa missionário, embora de fato não houvesse. 

O Espírito Santo Direcionando o Serviço

Isto  é  visto  na  escolha  e  no  envio  dos  representantes  de Cristo.  Você  vê  isto  em  Antioquia;  Paulo  e  Barnabé  estão  lá,  e, durante todo um ano, os homens com os quais um grande destino estava  ligado  por  pré‐ordenação  tiveram  que  permanecer  lá debaixo  das  mãos  de  Deus,  e  aguardar  o  tempo  de  Deus.  Isto especialmente ocorreu no caso de Paulo, conhecido de Deus desde toda a  eternidade  como o homem de uma  tremenda missão. Mas mesmo assim, embora avisado pelo Senhor de sua missão desde o início  _  “porque  te  apareci  por  isto,  para  te  pôr  por ministro  e 

testemunha”  (Atos  26:16) —  ele não pode  tomar  a  autoridade de sua chamada missionária em suas mãos e executá‐la. Ele precisou entrar naquela companhia em Antioquia, aquela  representação do Corpo, e esperar pelo Espírito Santo. Ele esperou doze meses lá em Antioquia,  talvez um pouco mais, e, então, o Espírito Santo disse: “Separai‐me para mim a Saulo e Barnabé para a obra que os tenho chamado”.  (Atos  13:2). O  Espírito  Santo  está  segurando  esta questão da obra da vida deles em suas mãos como soberano. Eles não  puderam  decidir  quando  assumi‐la,  mesmo  que  pudessem saber em seus corações muito definidamente qual obra era. 

Então,  quando  eles  partem,  não  lhes  é  permitido  sentar  e esboçar  uma  linha  de  ação,  um  esquema,  um  plano,  um cronograma. Seguem debaixo da soberania do Espírito. Chegam a certo  ponto  e  Paulo  pensa  em  Éfeso,  e  sua  mente  natural consagrada  ao  Senhor  começa  a  trabalhar.  Éfeso  é  uma  grande cidade, uma cidade muito influente. Se apenas ele pudesse chegar a Éfeso e plantasse lá a igreja, e fizesse com que as coisas andassem, já  seria  algo  incrível!  Sim,  penso  que  pela  causa  do  Senhor deveríamos ir a Éfeso! Mas eles não tiveram permissão do Espírito para pregar a Palavra na Ásia. Bem, Bitínia  é um bom  lugar, um lugar  muito  importante,  e  se  mostra  uma  grande  porta  de oportunidade:  seria  melhor  irmos  para  Bitínia!  Não,  o  Espírito Santo  não  lhes  deu  permissão  para  irem  a  Bitínia;  e,  enquanto permaneciam onde estavam, sem permissão para pregar na Ásia ou Bitínia, Paulo teve uma visão à noite, um homem da Macedônia, e a Europa  é  indicada primeiro. Éfeso  e Bitínia  irão vir na ordem do Espírito,  no  tempo  soberano  do  Espírito,  e  o  tempo  soberano  do Espírito  ainda  não  era  naquela  direção.  O  tempo  soberano  do Espírito  é  no momento  em  outra  direção,  Europa,  Filipos.  (Atos 16:6–10).

Produtividade e Vitalidade Relacionados à Soberania do Espírito 

Agora,  tudo  isto  é  apenas  tomar  certos  fragmentos  para indicar e enfatizar que o Espírito Santo, vindo em um vaso, vem em termos de absoluta soberania Divina, para tirar o controle de nossas vidas das nossas mãos, e  isto porque o Espírito Santo  jamais pode vir e fazer a sua obra até que você passe pelo Jordão. Até que a cruz seja um  fato, um  fato realizado, não pode haver nenhum governo soberano  do  Espírito  Santo,  realizando  todo  o  programa Divino; pois a cruz significa despojamento do corpo pecaminoso da carne. Paulo é  tão consagrado a Deus, a Cristo, como  jamais um homem 

foi  nesta  terra,  com  uma  exceção,  até  mesmo  Paulo  com  sua absoluta  consagração  ao Senhor não pode  assumir  este programa missionário e segui‐lo por si mesmo. Ele tem que ser um escravo de Jesus Cristo, tem que ficar debaixo da autoridade do Espírito Santo, tem que reconhecer quando o Espírito não permite. 

Teria havido, e haveria hoje, muito mais produtividade se a igreja fosse governada desta mesma forma. O que aconteceu é que o texto de Marcos 16:15 – “Ide por todo o mundo” _  tornou‐se um programa  que  qualquer  um  pode  adotar  à  vontade.  Tudo  o  que você  tem  a  fazer  é  economizar  e  adotar  o  negócio,  e  ir  a  todo  o mundo,  e pregar  o Evangelho. Bem, Deus me  livre que  eu possa depreciar qualquer coisa que vise pregar o evangelho: este não é o ponto. Mas  o  que  dizer  do  efeito  disso  tudo,  comparativamente, após dois mil anos? Metade do mundo ainda não  foi  tocado após dois  mil  anos.  Olhe  para  a  diferença  entre  os  poucos  anos apostólicos,  com  a  área  então  coberta  e  o  impacto  registrado,  e todos os séculos que se seguiram. 

 Não é  isto um argumento para esta questão, que você não pode adotar o manifesto e a comissão missionária e ir, e executá‐la você  mesmo;  que  este  é  um  assunto  para  o  Espírito  Santo?  E, embora  o  que  estou  dizendo  possa  parecer  algo  negativo,  eu  o tenho como positivo. Quando o Espírito Santo assume o controle da situação,  Ele  irá  realizar, mas  Ele  tem  que  ser  soberano. A  cruz, portanto,  abre  o  caminho para  a  soberania do Espírito  Santo,  e  a cruz significa que até mesmo mentes naturais consagradas têm que ter  algo  mais  do  que  a  sua  própria  consagração  como  fator governante. Assim, muitos dizem ou pensam: Se apenas eu estiver consagrado  ao  Senhor,  então  posso  fazer  tudo  aquilo  que  vier  à minha  cabeça  que  servirá  ao  Senhor! Oh  não,  este pode  ser  zelo, mas sem entendimento; e isto pode ser desperdício. 

A  Soberania  do  Espírito  Santo  em  Relação  ao  Seu  Perfeito Conhecimento

Não vamos nos delongar mais na questão, mas apenas tocar o seu âmago: o Espírito Santo exige exercer o direito de autoridade absoluta  em  nossa  vida,  tirando  a  autoridade de  nossas próprias mãos;  e  isto,  naturalmente,  progressivamente.  Embora  possamos conhecer muita coisa, não conhecemos  tudo que está na mente do Espírito. O Espírito de Deus nunca cresce, Sua mente não aumenta. Você nunca pensa sobre a mente do Espírito crescendo, você nunca 

pensa  em  Deus  crescendo.  Digo  isto  reverentemente.  O  Espírito Santo  jamais obtém um novo  conhecimento. Desde o princípio, o Espírito Santo possui todo conhecimento que pode ser obtido, o seu conhecimento é perfeito. 

Este é o significado daquela maravilhosa palavra no livro de Apocalipse, onde tudo está consumado e trazido ao seu final pleno: “Diz aquele que possui os sete Espíritos de Deus”. (Apoc. 3:1). É um termo  figurativo  ou  simbólico  que  significa  que  Ele  possui  o conhecimento perfeito, a perfeição do conhecimento espiritual. Ele tem  isto  desde  o  princípio,  e  digo  novamente,  o  Espírito  Santo jamais  adquire  um  fragmento  sequer  de  novo  conhecimento  na medida em que avança; Ele o  tem desde o princípio. Quando Ele veio,  tinha  tão  completo  conhecimento das  coisas  como  sempre o terá. O  conhecimento  do  Espírito  é  absolutamente  final, mas  em relação a nós mesmos: o que  conhecemos? No muito  conhecemos um mero  fragmento daquilo que o Espírito Santo  conhece  e quer significar.  Isto  quer  dizer  que  vamos  obter  muito  mais conhecimento  na  medida  em  que  avançarmos.  Podemos  apenas conseguir este aumento de conhecimento se estivermos preparados para aprender as coisas tudo de novo. 

Você compreende o que eu quero dizer? Não há esperança a não  ser que o Espírito Santo possa, em sua  soberania, apenas nos mostrar que não conhecemos nada, e que temos tudo a aprender, e que Seu conhecimento é infinito e sempre estará milhas à frente de nós, e, por isso, um ajustamento de nossa parte será necessário cada vez  mais.  Você  chegou  numa  posição  a  respeito  da  verdade,  a respeito  da  luz,  a  respeito  dos  caminhos  de Deus,  a  respeito  da mente do Senhor, a respeito do que você deve e não deve  fazer, e daquilo que  jamais  irá  fazer? Você chegou a uma posição  fixa? Se for este o caso, você fechou a porta para o Espírito Santo. Ninguém que  crê no Espírito Santo poderia possivelmente dizer: Eu  jamais irei  fazer  isto! Pedro disse  isso:  Jamais comi coisa  imunda!  Jamais irei comer! Esta foi a sua posição, mas a soberania do Espírito Santo mostrou  que  tudo  sobre  o propósito de Deus  em  seu  apostolado dependeu de ele abandonar aquela posição  fechada: e ele  também podia até citar a Escritura a  fim de defender sua posição!  Isto não importa. 

Uma  das  coisas  notáveis  sobre  o  Novo  Testamento  é  o desbloqueio que ele dá para as interpretações do Velho Testamento. Não importa que os judeus e judaizantes que perseguiam Paulo por 

toda a parte pudessem dizer: Este homem fala muita coisa sobre o Velho  Testamento  que  não  está  lá,  este  homem  está  colocando construções  sobre  o Velho  Testamento  que  não  cabe,  ele  tira  do Velho Testamento algo que não está lá! Olhe o que Paulo diz sobre as coisas do Velho Testamento. Não consigo ver que significa  isto no  Velho  Testamento.  Parece  que  ele  está  usando  o  Velho Testamento e colocando uma construção que não significava aquilo. 

É algo extraordinário como no Velho Testamento é dado um significado  que  você  jamais  poderia  descobrir  sem  o  Novo Testamento. O Espírito Santo sabe o que diz, e Ele diz muito mais do que os homens  jamais  têm visto. A própria Escritura que você cita  pode  significar  mais  do  que  você  jamais  pensou  que  ela significasse. Penso que  isto  é  suficiente para mostrar a você quão necessário  é  para  nós  estarmos  numa  posição  onde  estejamos realmente abertos  ao Senhor,  e  realmente debaixo do governo do Espírito  Santo,  prontos  para  deixarmos  a  nossa  posição  mais estimada, se o Espírito Santo mostrar um novo caminho. Dizer isto não é dizer que temos que ficar inconstantes e levados por derredor por  todo vento de doutrina  e astúcia dos homens, ou que  iremos simplesmente seguir qualquer coisa que vier. 

Não  penso  que  o  Espírito  Santo  alguma  vez  negue  a  Si mesmo. O que Ele disse uma vez não  irá  contradizê‐lo. Porém, o que possa parecer contradição talvez seja que o Espírito Santo esteja transcendendo  aquilo  que  tenha  dito  anteriormente. Assim  como um milagre não é uma violação da lei natural, mas um transcender da lei natural, assim também o Espírito Santo nunca irá contradizer ou violar alguma coisa que tenha dito antes, mas irá transcendê‐lo e, quando assim o faz, pode parecer uma contradição. Pode ser que você seja capaz de dizer: Estou muito certo de que o Senhor tenha me conduzido em certo tempo numa certa direção, mas Ele tem me levado para outra direção  agora!  Isto não  é necessariamente uma contradição, é uma transcendência, um mover. Naquele tempo você não podia ter dado um passo mais adiante, Ele podia apenas levá‐lo até ali. Mas em Sua própria mente, aquilo era apenas um passo que iria levar a outro, e ainda há mais outro, e você deixa um monte de coisa para  trás em  tal processo. Mas, oh, o ponto é que o Espírito Santo será capaz de fazer aquilo que pretende.

Até mesmo no  caso do Senhor  Jesus  foi desta maneira. Ele tinha uma mente natural  e uma natureza  sem pecado, porém Ele não  usava  aquilo  separado  de  Seu  Pai,  e,  se  Alguém  com  uma 

mente natural  sem pecado  fazia  isto, o que dizer de nós? Quanto mais necessário é para o Espírito Santo ser soberano em nosso caso. Tudo a respeito do poder está nesta direção: “E recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo”. (Atos 1:8).

A Ameaça da Mente Natural

Penso que podemos ficar com este simples exemplo por ora, principalmente esta necessidade do Espírito Santo ser soberano. Ele deve. Há boas pessoas, pessoas piedosas, que não vêem, e não irão concordar,  e  surge  o  problema:  Oh,  eles  são  piedosos,  são consagrados, têm vivido para Deus por muitos anos, e, contudo são tão contrários a certas coisas que parecem ser tão evidentemente à vontade do Espírito;  e  essas pessoas negam. Qual  é a  explicação? Bem, pode haver várias explicações, mas sugiro que esta seja uma explicação possível  em muitos  casos, principalmente que a mente natural  jamais  conheceu a  cruz;  sim, a mente natural  consagrada. Não  estou  falando  da  mente  natural  ímpia.  A  mente  natural consagrada nunca  conheceu  a  cruz. Nossa própria mente  é  ainda nossa mente, é o nosso julgamento, mesmo após termos sido salvos. O  que  dissemos  sobre  Paulo,  e Éfeso,  e  Bitínia,  e  outros  casos,  é verdadeiro sobre as pessoas mais consagradas. Elas ainda têm uma mente a que podem seguir que não é a mente do Espírito. A mente do Espírito está agindo numa outra direção em relação à delas. Elas seguiriam este caminho pelo Senhor. Oh, tão devotos ao Senhor, é tudo pelos interesses do Senhor; elas seguiriam este caminho, mas o Espírito está tomando um outro curso. 

Sobre o quê, toda questão repousa em tal ocasião? Sobre se a cruz  foi plantada  suficientemente  em profundidade  naquela  vida quanto  a  tirar  a  soberania  da  vontade  de  suas mãos, para  que  o Espírito  seja  soberano.  Isto  é  algo  muito  importante.  Você  está seguro de  que  a  soberania de  vontade  foi  tirada de  suas mãos  e passada  para  as mãos  do  Espírito  Santo,  e  que  é  a  soberania  do Espírito  que  está  governando,  e  que  não  é meramente  o  caso  de você  estar  seguro de  si mesmo,  fixado  em  sua própria  convicção sobre  algo?  Você  pode  ser  um  filho  de  Deus  muito  devoto,  e, contudo, este pode ser o seu caso. É uma possibilidade terrível de o Espírito  não  ser  soberano  em  muitos  filhos  de  Deus  devotos, devido às suas próprias vontades ainda serem soberanas. Não há o que fazer neste caso; é um beco sem saída, é uma porta fechada. Se iremos estar aqui naquela representação crescente do Senhor, temos que estar na mesma base que o Senhor estava. Isto para dizer que, 

do primeiro ao último passo é o Espírito quem deve ser soberano, e isto pelo poder da cruz.

Capítulo 4 – A Representação é a essência do Serviço 

[Nota: No fim do capítulo 3 da revista AWAT estavam as palavras `a  ser  continuado’,  porém  nenhum  capítulo mais  foi  publicado. Contudo,  nos  manuscritos  que  foram  deixados  desses  capítulos faltantes, foram achados e estão aqui incluídos como capítulos 4‐6.] 

“Diziam outros: Estas palavras não são de endemoninhado. Pode, porventura, um demônio abrir os olhos aos cegos? E em Jerusalém havia a festa da dedicação, e era inverno.” (João 10:21‐22).

“Mas recebereis o poder do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e  ser‐me‐eis  testemunhas,  tanto  em  Jerusalém  como  em  toda  a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra. E, quando dizia isto, vendo‐o  eles,  foi  elevado  às  alturas,  e  uma  nuvem  o  recebeu, ocultando‐o a seus olhos.ʺ (Atos 1:8‐9). 

Temos  sido  levados  a  estar  ocupados  com  o  pensamento Divino da representação: O Senhor presente e conhecido por meio da representação. Vimos que este pensamento Divino está reunido em  plenitude  na  pessoa  do  Senhor  Jesus.  Todos  os  meios  de representação do Velho Testamento,  fossem eles pessoais, no caso dos profetas, reis e sacerdotes,  fossem na  linha do  testemunho, de Abel  em  diante,  ou  fossem  em  tipos,  símbolos,  sinais,  tudo apontava para Cristo e estava  reunido Nele como o  representante consumador de Deus. Então vimos como este pensamento Divino na  ascensão  de  Cristo  foi  transferido  no  e  por meio  do  Espírito Santo  à  Igreja  e  aos  seus membros  como  um  Corpo,  o  próprio significado do que é representação, e que a Igreja com todos os seus membros,  espalhados  como  possam  estar  por  toda  a  terra, simplesmente  entra  em  toda  esta  sucessão  espiritual  a  fim  de perpetuar este pensamento Divino de estar aqui para representar o Senhor.  Falamos muito  sobre  isto  ao  longo  de muitas  diferentes linhas.

Agora vamos nos ocupar com outro aspecto específico desta questão de  representação para Deus,  e  isto  é  representação  como sendo o próprio coração e essência do serviço. Em nossa meditação anterior, vimos que a questão  toda da  representação  foi assumida pelo Espírito Santo, e que este pensamento Divino, do  começo ao 

fim, cada passo e estágio, está nas mãos do Espírito Santo. O que temos a dizer  sobre  serviço  imediatamente  se  liga a  isto e  resulta disso. Há muitas  idéias sobre o serviço cristão, sobre o serviço de Cristo, sobre a obra de Deus. Será bom se procurarmos realmente nos ajustar à natureza essencial do serviço, colocando de lado todas as nossas noções sobre esta matéria e realmente chegar ao coração da questão. 

Qual é o âmago e a essência do serviço do Senhor, da obra do  Senhor?  A  resposta  é  encontrada  na  seguinte  palavra  _ representação.  Isto pode  incluir muitas  coisas; pode  cobrir muito terreno, mas pode ser de fato uma questão muito simples. Significa simplesmente o seguinte: a nossa estada neste mundo implicando a Pessoa do Senhor; o próprio fato de que estamos aqui a fim de levar a implicação da Pessoa de Cristo. Isto carrega muito positivamente o  fato de que o Senhor  Jesus não partiu deste mundo, não deixou esta terra, mas que, embora na glória, também está aqui na terra de forma muito definitiva e positiva. Pode muito  freqüentemente  ser quase impossível falar muito sobre isto. Agora, não faça disso uma desculpa para o silêncio. Algumas vezes é impossível dizer muito, outras  vezes  é  impossível  fazer  muito,  para  engajar  nas  várias formas de atividades em que é chamado o serviço do Senhor. 

Pode haver  limitações muito  severas  e dificuldades podem estar por  todos os  lados.  Isto não afeta necessariamente a questão do  serviço  do  Senhor,  absolutamente;  este  não  é  o  ponto.  Na primeira  instância,  o  serviço  do  Senhor  não  é  a  quantidade  dita, nem o número de atividades em que estamos engajados. O serviço do  Senhor  é  uma  questão  de  SER,  em  primeira  instância.  Esta tremenda implicação é desempenhada efetiva e positivamente num vaso, numa  testemunha, num  ser;  a  implicação de que Deus  está aqui, o Senhor está aqui, o Senhor está aqui neste mundo, o Senhor está no meio, o Senhor está acessível, o Senhor está perto, o Senhor é  real,  o  Senhor  está  vivo,  o  Senhor  está disposto,  está pronto,  o Senhor está à mão _ tudo isto como uma implicação multifacetada de nosso estar na terra. Este é o serviço do Senhor. Este é o próprio coração e essência do serviço.

O Espírito Santo _ o Espírito do Serviço

Agora,  precisamos  dissecar  isto  e  procurar  compreender  o que significa.  Dissemos que o Espírito Santo vem para constituir a igreja  na  base  do  ‘Cristo  está  aqui’.  Da mesma  forma  como  no 

Jordão  o  Espírito  veio  sobre  o  Senhor  Jesus,  e  a  partir  daquele momento  constituiu‐O  como  representante  de  Deus  de  forma pública e mais definida, assim também Ele veio no Pentecostes para constituir  o  Corpo  de  Cristo  nessa  mesma  base,  como  sendo  a continuação  daquela  representação.  O  Espírito  Santo  veio  para constituir a representação.  

Nesta meditação nós voltamos ao seguinte: que o Espírito é, muito decidida e positivamente, o Espírito do serviço. Isto pode ser um começo muito simples, mas nos fará bem se lembrarmos disso. Sempre tem sido o caso de que, quando o Espírito Santo realmente obtém o seu lugar numa vida, esta mesma vida muito rapidamente passa a ser governada e dominada pelo Espírito do serviço, e sinto que  algo  deve  estar  errado  se  um  cristão  alguma  vez  perder  o Espírito  do  serviço.  Se  alguma  vez  você  ou  eu  perdermos  este desejo para com o serviço do Senhor, algo estará errado. Não estou falando sobre formas de serviço. Estou falando sobre o Espírito do serviço.  

Assim,  descobrimos  que,  bem  no  início,  o  Espírito  Santo criou este desejo para com o serviço do Senhor; tornou‐se a energia mais poderosa para o serviço. Um tremendo interesse foi plantado no  coração  daqueles  que  receberam  o  Espírito,  no  sentido  de  o Senhor  ser  conhecido  pelos  outros,  de  o  Senhor  ser  levado  aos outros, de o Senhor ter o Seu lugar nas pessoas e em toda a terra _ um interesse real sobre isto. Esta é uma marca do Espírito Santo. Há algo errado se isto não for encontrado em nós; um interesse real de que Cristo possa ter Seu lugar, de que seja trazido para o Seu lugar nas  pessoas  deste mundo.  Perguntemos  honestamente  agora  aos nossos corações _ Isto é verdade no meu caso? 

Não sabemos exatamente por que o apóstolo Paulo, quando chegou  a  Éfeso  e  encontrou  certos  discípulos  ali,  imediatamente apontou esta questão para eles _ “Disse‐lhes: Recebestes vós  já o Espírito  Santo  quando  crestes?”  (Atos  19:2).  Não  sabemos exatamente  por  que  ele  fez  esta  pergunta.  Pode  ter  sido  por qualquer  uma  daquelas  coisas  que  denunciam  a  ausência  do Espírito. Paulo  simplesmente  chegou  à  conclusão de  que  aquelas pessoas  não mostravam  qualquer  evidência  de  terem  recebido  o Espírito: há uma  falta disso, ou daquilo outro. Mas nós podemos tomar  a  questão  e,  se  for  verdade  que  você  ou  eu  estamos destituídos de um interesse real para com o serviço do Senhor, esta questão  precisa  ser  feita.  Você  recebeu  o  Espírito  Santo  quando 

creu,  ou  tem  você  de  alguma  forma  encharcado  o  Espírito  Santo com outras coisas em sua vida, de modo que Ele está incapacitado de  funcionar normalmente? Sua  função normal  será  colocar  lá no fundo,  como  a  coisa mais poderosa  em  nossos  corações, um  real interesse de que o Senhor Jesus alcance o Seu lugar em outras vidas em círculos cada vez maiores. O Espírito Santo é de fato o Espírito do  serviço,  e devemos  verdadeiramente  fazer  a  nós mesmos  esta pergunta,  caso não  estejamos  impulsionados por  este Espírito de serviço. A maior questão surge: O que aconteceu ao Espírito Santo em relação a nós? Enfrentemos o  fato. Nós não sabemos o que  irá acontecer nos dias  futuros. Pode ser que o Senhor precise de uma nova força de representantes, pois há uma crescente demanda, não há dúvida sobre isto.  

Se  alguns  serão  ou  não  enviados  especificamente  nesta capacidade, isto não altera este fato, de que cada um de nós, tendo recebido  o  Espírito,  deva  carregar  esta  marca  do  Espírito:  um profundo e perene desejo de servir ao Senhor no seguinte aspecto: de  que  Ele  possa  ser  trazido  para  o  seu  lugar  em  tantas  vidas quanto seja possível. O Espírito do serviço. Lembremos disto. Tudo irá  ter  o  seu  começo  a  partir  disso.  Pode  ser  que  não  haja  um interesse adequado, uma  real paixão  em  servir ao Senhor. Agora, honestamente,  você  irá  responder  ao  Senhor  em  seu  próprio coração sobre esta questão?  Faça você mesmo à pergunta: ‐ Tenho eu, acima de  todos os  interesses na vida, um desejo em  servir ao Senhor? Não é:  ‘como vou servir o Senhor?’.  Não é se vou  largar tudo  o  que  estou  fazendo  agora  para  ser  um  ministro,  ou missionário. Não estou falando disso. Estou falando sobre o espírito do  serviço,  e  a  coisa  é:  Estou  eu,  acima  de  tudo,  interessado  no serviço do Senhor, em servir ao Senhor? Pode ser que eu vá servir nesta  linha,  nesta  capacidade,  ou  em  outra;  isto  não  importa. O assunto  é  servir.  Acima  de  todas  as  outras  coisas  que  eu  faça, embora possa fazer muita coisa, que o serviço ao Senhor esteja me controlando, esteja me dominando. É servir ao Senhor; que minha vida  realmente  sirva o Senhor. Eu não vou  servir ao mundo, não vou servir a mim mesmo, minhas próprias ambições ou reputação. É ao Senhor e o seu serviço. Suporte este apelo, pois o Senhor sabe por que Ele está dando esta ênfase.  

Eu simplesmente repito aqui aquilo que está tão claro como à luz do dia quando você chega ao Novo Testamento, e olha para o fato  da  vinda  do  Espírito  Santo:  que  Ele  produz  um  grande interesse  no  sentido  de  que  o  Senhor  Jesus  possa  ser  servido. 

Ninguém pode fugir disso.  

A Natureza do Serviço

Isto sendo verdade, o fundamento do serviço, que o Espírito Santo é o Espírito de serviço, e que aqueles que têm o Espírito Santo são  governados por um  espírito de  serviço  e  que  você  realmente não pode ter uma vida cheia do Espírito sem um real interesse pelo serviço do Senhor, e sendo assim, podemos prosseguir a fim de ver qual a natureza do serviço. O que o Espírito Santo faz para realizar o  serviço?  É  aí,  talvez,  onde  algum  ajuste  seja  necessário.  Estou muito  certo  que,  em  geral  no  cristianismo  evangélico,  um ajustamento  seja  necessário  nesta  questão.  Em  primeiro  lugar  o Espírito  Santo  não  faz  obreiros  oficiais,  isto  é,  Ele  não  faz missionários  oficialmente;  Ele  não  faz ministros  oficialmente;  Ele não  faz  oficiais  como  tais,  em  primeiro  lugar.  Pensamos  sobre  a entrada  para  a  obra  do  Senhor  e,  imediatamente  obtemos  certas formas e modelos de serviço. Pensamos sobre um missionário, isto é, uma classe, um tipo particular de pessoa; um ministro, isto é, de novo um tipo particular de pessoa. Ele é distinto de todas as demais pessoas em várias maneiras. Você pode dizer que ele é um ministro, ele chama a si mesmo de ministro, ele é diferente. Isto é uma coisa oficial; ou pensamos em muitas outras formas de obra cristã oficial como  serviço  ao  Senhor,  mas  o  Espírito  não  começa  aí, absolutamente. 

O  que  o  Espírito  Santo  faz  é  formar  pessoas.  Ele  constitui representantes,  Ele  trata  com  indivíduos.  Ele  não  lhes  dá,  em primeiro lugar, algo para falar; Ele faz algo dentro deles, e a partir daí é que vem, então, toda a fala deles. Ele não lhes diz o que fazer; Ele  trabalha  dentro  deles  e,  então,  eles  vão  e  executam  aquilo;  o negócio  vem para  fora,  é  resultado  espontâneo de  algo  realizado dentro  deles.  E,  onde  isto  não  é  verdade,  você  tem  todo  tipo  de posições  falsas  e  artificiais.  Muitos  jovens,  homens  e  mulheres, estão prontos para largar o emprego e se tornarem missionários. Há algo romântico nisto. Eles poderiam servir o Senhor muito melhor se você os colocasse no coração de Timbuktu. Mas aqui eles estão no coração de uma necessidade premente, e não estão servindo ao Senhor, absolutamente. Isto é falso e artificial. O Espírito Santo não faz isto. O Espírito Santo faz testemunhas ou representantes — e, se você  não  é  um  representante  onde  você  está,  não  pense  que mudando para algum território estrangeiro, onde as pessoas sejam pagãs,  que  você  irá  ser  um  representante  lá. Não  funciona  desta 

maneira, não debaixo do regime do Espírito Santo.  

Somos  representantes  constituídos  e,  quando  somos representantes,  então o Espírito Santo dispõe de nós  e nos  coloca aqui ou ali, onde Ele quer. Em Sua soberania Ele indica o lugar, mas não  designa  oficiais,  Ele  designa  pessoas.  Um  simples  oficial representa absolutamente muito pouco, e o Senhor sabe que Geazi pode ser um servo oficial do profeta, que pode cuidar do bastão do profeta,  e,  em  sua  capacidade,  pode  entrar  com  sua  insígnia  de oficial no quarto de morte, onde  jaz o  corpo, e pode manipular a insígnia,  colocando‐a  desta  ou  daquela  forma,  porém  nada acontece. A mulher percebeu as intenções de Geazi e disse: Eu não vou com você, vou aguardar o profeta! Quando o profeta chega, na condição  de  homem  ungido  de  Deus,  deitou‐se  sobre  o  rapaz, identificou‐se com o rapaz de uma forma vital, que foi literalmente trazido de volta da morte para a vida. Isto não é algo oficial, é algo vital, é uma pessoa (2 Reis 4:17‐37). 

“Por  que  não  pudemos  nós  expulsá‐lo?”  disseram  os discípulos após aquele  infame  fracasso ao pé do Monte da Transfiguração  (Mat. 17:19). Bem,  talvez não possamos dar uma  resposta  a  isto  diferente  daquela  dada  pelo  Senhor, mas  talvez  eles  tivessem  tentado  a  coisa  de  uma  forma oficial:  Nós  somos  discípulos  de  Cristo!  Eles, evidentemente,  tinham  feito  uma  tentativa  de  expulsar aquela casta de demônio. Porém o Senhor disse, em efeito: A  coisa  precisa  ser  feita  de  forma  vital,  e  não  de  forma oficial.  Vocês  não  podem  fazer  isto  simplesmente  por ostentarem  o  nome  de  discípulo,  vocês  precisam  ser  uma representação Divina! 

Esses  são  princípios  do  serviço. O  Senhor  faz  pessoas,  faz homens e mulheres, o Espírito Santo faz isto. Ele não faz oficiais. O serviço do Senhor é fundamentalmente pessoal e surge daquilo que o Senhor faz em nós, e isto se reporta a Cristo vindo para a situação por nosso intermédio. Estou certo de que nenhum de nós desejaria alguma  coisa  a mais  do  que  isto:  que  a  nossa  própria  presença pudesse significar em influência e em efeito a presença de Cristo. 

Todos os  tipos de perigos estão associados a  isto, pois você sabe quão  tolas as pessoas são, que  imediatamente após o Senhor fazer  algo  através  de  um  canal,  de  um  instrumento,  as  pessoas 

começam a fazer algo destas pessoas. ‘Oh, vamos chamar fulano, se tão somente fulano vir’, e começam a fazer algo daquele vaso, e da próxima vez a coisa não acontece. É o Senhor, e Ele é muito zeloso, e você jamais pode tomar algo por certo. Você tem que reconhecer o tempo todo que é o Senhor, que este é o serviço do Senhor. Este é o porquê de ser tão necessário que as pessoas que realmente trazem Cristo  à  situação  estejam  completamente  crucificadas, que  jamais tomem quaisquer glórias para si mesmas, que jamais permitam que as pessoas as tornem em ‘peritos’ em questões espirituais, mas que seja o Senhor. Se não fosse o Senhor, nada seria possível. Somente um  homem  ou  uma  mulher  crucificada  pode  servir  o  Senhor realmente, porque o serviço é trazer o Senhor para a situação. Tudo é o Senhor.

Há muita  história  por  trás  do  que  acabei de  dizer.  Se  não estou  enganado,  esta  é  a  explicação  para  todo  o  sofrimento  de Paulo. Se existiram homens que já trouxeram o Senhor Jesus para a situação,  Paulo  foi  um  deles.  Se  a  presença  de  algum  homem  já significou a presença do Senhor, a presença de Paulo significou isto. Porém  não  havia  nada  no  terreno  natural  onde  Paulo  estivesse interessado, que lhe desse alguma coisa que pudesse tirar proveito.  Se não estivermos equivocados, a leitura correta da vida de Paulo é a  seguinte:  que  ele  próprio  estava  muito  freqüentemente inconsciente  de  qualquer  demonstração  da  presença  de Deus.  Se tivéssemos perguntado a ele, este teria dito: ‘Não, tudo o que estou consciente  é  da  extrema  fraqueza,  dependência,  necessidade, impotência; não estou sempre consciente do grandessíssimo poder de Deus sobre mim, não estou sempre consciente de estar erguido completamente  acima  de  minhas  enfermidades,  de  minhas fraquezas,  não  estou  o  tempo  todo  consciente  de  tudo  isso;  se alguma  coisa  está  acontecendo,  está  acontecendo  a  despeito  de todos os  tipos de coisas que  incapacitam, que  limitam e procuram derrotar e me destruir; o Senhor está fazendo, apesar de todas essas coisas!’ Creio que esta foi a verdadeira história de Paulo. O Senhor o sustentou. 

É o mistério de Cristo. Veja o Senhor Jesus aqui nos dias de sua carne. Olhe para Ele puramente ao  longo da  linha humana. O que você vê? Bem, os homens não viram nada além de um homem, talvez um homem muito comum. Evidentemente não há nada sobre Jesus na  condição de homem que  sobressaísse  às pessoas, que os fizesse  sentir:  Temos  aqui  um  super‐homem!  Não,  nada  disso. Provavelmente eles viram  fraqueza. “O seu parecer estava  tão 

desfigurado, mais do que o de outro qualquer”  (Isa. 52:14). Eles viram  fadiga. Não havia diferença entre Ele e nós, em relação a sua humanidade, mas há algo além disso, algo que você não consegue explicar. Não é natural, absolutamente, não pode ser explicado por qualquer outra linha. Há algo a mais aqui. Este é o mistério de Cristo. É Deus aqui presente nesta fraqueza.  

E o princípio é levado para os seus servos e para a sua Igreja. Se você procurar qualquer  explicação  ao  longo de qualquer  linha humana, você não irá encontrar. Você irá encontrar muita coisa que parece  fornecer um  fundo para  se perguntar  se  algo mais  irá  ser possível, e o mistério de Cristo é isto, que ele vai e vem novamente, mas  não  se  livra dessas  fraquezas  e  limitações  humanas. A  coisa prossegue, a despeito de tudo. 

Creio que temos que chegar a alguma aceitação neste ponto. Tem que ser algo que coloquemos diante do Senhor.  Isto significa o seguinte:  que  naturalmente  podemos  morrer  centenas  de  vezes, milhares de vezes; de cada ponto de vista natural, você pode ter um seguro  de  vida muito  curto, mas  nós  viveremos  até  aos  setenta, oitenta, noventa anos de idade _ até Deus dizer: Chega!  Penso que temos que chegar a uma posição  firme sobre  isto: que não  iremos morrer,  se  estivermos  aqui  representando  o  Senhor,  até  o  Senhor dizer:  `Chega!’  embora  as  melhores  opiniões  humanas,  e  toda sabedoria e conhecimento científico possam dizer, `Não!’ Creio que isto é algo que temos que colocar diante de Deus. Algumas pessoas muitas vezes já sentiram que o fim tinha chegado, mas não chegou.  A vida  surge mais uma vez, e você não consegue explicar. Não é histeria  absolutamente,  é Deus, o mistério de Cristo.  Não vamos nós nos acomodar a isto e dizer: Isto será assim até o Senhor dizer: ‘acabou’. Você tem os seus maus tempos e sente que o Senhor tenha feito isto com você, que você acabou. Mas não aceite nada até que o Senhor  diga  que  acabou,  e  você  sabe  quando  o  Senhor  diz  que acabou. 

A questão é a seguinte: É o que o Senhor é, e não o que nós somos,  o  que  fazemos,  absolutamente;  é  o  Senhor  em  evidência. Este  é  o  serviço  do  Senhor.  O  Senhor  está  vindo  por  nosso intermédio  desta  forma  representativa,  e  tudo  é  Ele.  Este  é  o método do Espírito Santo, esta é à maneira de o Espírito Santo fazer as coisas. Este é o serviço do Senhor. Oh, não é o nosso sair e pregar 

esta ou aquela doutrina, ou todas as doutrinas de Cristo. É que nós estamos  na  vontade  de  Deus  por  causa  de  Cristo,  implicando Cristo, significando Cristo, e, se  isto  for verdadeiro, o  inferno será provocado,  pois  o  inferno  está  sempre  determinado  a  que Cristo não tenha o seu lugar.  

O que estamos dizendo é que a questão não é uma questão de  ofício, mas  de  qualificação,  e  qualificação  espiritual,  que,  por meio  da  unção  do  Espírito,  Cristo  seja  trazido  por  nosso intermédio; isto é representação. 

Podemos  aplicar  isto. Naturalmente,  a  coisa  começa  com o individual.  Tem  que  ser  verdade  em  cada  um  de  nós, individualmente, exatamente no lugar onde estamos. Este tem que ser  o  significado  de  nossas  vidas.   Chamamos  a  nós mesmos  de ‘cristãos’. Bem, Cristo _ o que é isto? A palavra exata é ‘O Ungido’. Toda unção no Velho Testamento  aponta para Ele  e  está  reunido Nele:  o Cristo. Aponta  para  o Cristo,  o Ungido. Cristo;  então  os ungidos,  e  nós  vimos  que  a unção  significa Deus  comprometido, Deus presente.  Isto  é  o  que  significa  ser  cristão. O  que  é  ser um cristão?  —  uma  pessoa  ungida;  e  unção  significa  que Deus  por meio de seu Espírito está presente. Assim, onde quer que estejamos na vontade de Deus, Deus por meio de Seu Espírito está presente ali,  e  isto  é  para  ser  individualmente  também,  e  este  é fundamentalmente o serviço do Senhor. 

Representação Universal no Corpo

Mas,  naturalmente,  o  Espírito  Santo  não  para  aí.  Este pensamento  Divino  é  um  pensamento  coletivo,  um  pensamento corporativo.  Deve  afetar  e  envolver  o  individual,  mas, derradeiramente,  culmina  na  representação  universal  em  um  só Corpo,  a  Igreja; Deus  representado  na  Igreja,  e,  então,  no Novo Testamento, a única Igreja universal, o Corpo de Cristo, localmente representado. Não  é  simplesmente  uma  questão  de  colocar  certo número de pessoas  juntas num mesmo  lugar, pessoas que aceitam certos  ensinamentos  e,  por  isso,  têm  um  credo  em  comum,  e  se reúnem. O Espírito Santo está fazendo algo mais profundo do que isto. A coisa não é primeiramente externa, objetiva. O que o Espírito Santo  está  fazendo  é  trazer  à  existência  em  cada  localidade  uma representação  corporativa  de Cristo,  que  nesta  companhia Cristo esteja  corporativamente  presente.  ʺOnde  estiverem  dois  ou  três reunidos em meu nome ali eu estouʺ (Mat. 18:20); é Cristo presente. 

Este é o significado, este é o propósito, de uma companhia local de pessoas do Senhor, e há algo, como  temos dito, sobre a expressão corporativa de Cristo que é de peculiar valor, significado e poder. 

Sei que alguns  irão descobrir o problema do seu sofrimento neste mesmo terreno. ʺEstou sozinho aqui.ʺ Bem, você não está. Em primeiro  lugar,  você  deve  se  lembrar  do  fato  de  que  você  é  um membro de um grande Corpo, e, em  termos de coisas espirituais, não há  separação. Que possamos  compreender  isto que  soa  como algo  um  tanto  que  abstrato,  mas  que  é  algo  de  tremenda importância e realidade. Há muita pressão hoje sendo sentida pelos filhos  de Deus;  um  conflito  terrível,  e,  quando  você  procura  por uma explicação, simplesmente não consegue encontrá‐la. Alguns de nós, aqui no norte, temos sentido uma pressão terrível, um conflito, uma  tensão,  como  se o  inimigo  estivesse  a ponto de nos destruir completamente,  e  olhamos  imediatamente  ao  nosso  redor,  para procurar  uma  explicação,  mas  não  a  temos.  Não  podemos realmente  dar  uma  resposta  para  a  questão  em  relação  ao  que significa  ‐  isto  a  partir  daquilo  que  está  imediatamente  ao  nosso redor. Não é que algo tremendo esteja acontecendo ao nosso redor, tão grande que o inimigo está a ponto de nos matar por causa disso. Qual é a explicação? Digo a você, com base no Novo Testamento, que: “se um membro sofre, todos os membros sofrem” (1 Cor. 12:26), e não há muitos membros do Corpo ao redor do mundo que estão sofrendo imensamente nestes dias? 

E, se este Corpo que está completamente ligado por meio de um  grande  sistema  de  nervos  espirituais,  e  o  Corpo  é  uma verdadeira  metáfora  ou  um  pensamento  representativo  para  a Igreja, não é simplesmente uma organização, não é um edifício de pedras  frias  e  sem vida,  mas um Corpo que  está  completamente ligado de um extremo ao outro por meio do mais vívido sistema de nervos, de modo que você não pode tocar qualquer ponto com uma agulha sem afetar o corpo  todo. É desta  forma com o nosso corpo físico,  e,  se  isto  for  transferido  para  o  Corpo  de  Cristo,  onde  o Espírito Santo é o sistema nervoso que liga todo o Corpo, não será que  aqueles membros que  estão  sofrendo  tanto não possam  estar registrando  seus  sofrimentos  aos  outros membros  do  Corpo  que são sensíveis, que estão vivos? Quanto mais sensíveis estivermos ao Espírito Santo, mais sofreremos com os outros membros do Corpo. O Espírito Santo quer nos atrair para sofrermos com eles e por eles, e, embora não conhecendo, não tendo qualquer informação quanto ao que esteja acontecendo, contudo interpretando o significado. Há 

uma  grande  necessidade  de  nos  posicionarmos  firmemente,  não somente por nossas próprias vidas, mas pela vida de muitas outras pessoas. Não há qualquer dúvida  sobre  isto; o Espírito Santo está trabalhando para a  representação corporativa de Cristo, e o diabo está pronto para espalhar os santos, e, espalhando‐os, dividi‐los e destruí‐los; mas o Espírito Santo está  reagindo a  isto, porque esta representação significa muito. 

O Poder do Espírito Santo

Vou  encerrar  com  esta  nota:  “Recebereis  poder  ao  descer sobre vós o Espírito Santo, e ser‐me‐eis testemunhas em Jerusalém, na  Judéia  e Samaria,  e até aos  confins da  terra”. E minha última nota  é  esta:  que  para  todo  este  serviço  do  Senhor,  esta representação, este trazer o Senhor, este permanecer firme em nossa posição  contra  as  forças  do mal  que  estão  inclinadas  a  expulsar Cristo deste mundo, este sofrer como os seus representantes, para tudo isto, podemos fazer a pergunta: Quem é suficiente para essas coisas?  A  resposta  é:  “Recebereis  poder  ao  descer  sobre  vós  o Espírito Santo”. O Espírito Santo constitui os vasos e o serviço. Ele é o Espírito do serviço e é o fator constituinte nos vasos do serviço. Ele é o poder pelo qual esta representação é mantida na terra. 

“Recebereis poder…” O Senhor sabia perfeitamente que aqueles  homens  jamais  iriam  conseguir  representá‐Lo. Ele conhecia Pedro  o  suficiente,  apesar de  suas  jactâncias. Ele conhecia  aqueles  homens  e,  por  isso,  disse:  ʺFicai  em Jerusalém  até  que  do  alto  sejais  revestidos  de  poder”. (Lucas  24:49).  “Recebereis  poder  ao  descer  sobre  vós  o Espírito  Santo”.  Então  podemos  ver  o  que  aconteceu.  O homem  com  toda  a  sua  jactância  sobre  o  que  iria  fazer, sofrer e morrer, fugiu e negou o seu Senhor com juramentos e  imprecações  diante  de  uma  simples  servente  _  este  é  o valor de sua coragem quando submetida ao teste. Mas não há medo  algum  naquele  homem  posto  em  pé  no  dia  de Pentecoste, confrontando os assassinos de Cristo,  lançando sobre eles a culpa por sua morte. “Quando viram a ousadia de Pedro  e de  João…”   (Atos 4:13).  Isto  é o que o Espírito Santo pode fazer por nós. O Espírito Santo pode mudar um covarde numa pessoa corajosa e ousada. Ele é o Espírito de coragem,  e  Ele  fez  muitas  outras  coisas  também.  “E 

recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo.” Esta é  a  nossa  esperança,  nossa  segurança  _  o  Espírito  Santo. Deixemos que Ele  tenha o  seu  espaço,  asseguremo‐nos de que  Ele  tenha  livre  curso  para  nos  transformar  em verdadeiros servos, isto é, representantes do Senhor. 

Capítulo 5 – A Dinâmica da Representação 

ʺE  estavam  ali,  olhando  de  longe,  muitas  mulheres  que  tinham seguido  Jesus  desde  a  Galiléia,  para  servi‐lo;  entre  as  quais estavam Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos  filhos  de Zebedeu. E  estavam  ali Maria Madalena  e  a  outra Maria,  assentadas  defronte  do  sepulcro;  e,  no  fim  do  sábado, quando já despontava o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro.ʺ (Mat. 27:55‐56,61; 28:1).

ʺE  algumas  mulheres  que  haviam  sido  curadas  de  espíritos malignos  e  de  enfermidades: Maria,  chamada Madalena,  da  qual saíram sete demôniosʺ (Lucas 8:2).

ʺE Maria  estava  chorando  fora,  junto  ao  sepulcro.  Estando  ela, pois,  chorando,  abaixou‐se  para  o  sepulcro.  E  viu  dois  anjos vestidos de branco, assentados onde jazera o corpo de Jesus, um à cabeceira  e  outro  aos  pés.  E  disseram‐lhe  eles: Mulher,  por  que choras?  Ela  lhes  disse:  Porque  levaram  o meu  Senhor,  e  não  sei onde o puseram. E, tendo dito isto, voltou‐se para trás, e viu Jesus em pé, mas não  sabia que  era  Jesus. Disse‐lhe  Jesus: Mulher, por que choras? Quem buscas? Ela, cuidando que era o hortelão, disse‐lhe: Senhor, se tu o levaste, dize‐me onde o puseste, e eu o levarei. Disse‐lhe  Jesus: Maria!  Ela,  voltando‐se,  disse‐lhe:  Raboni  (que quer dizer, Mestre). Disse‐lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos, e dize‐lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus. Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos que vira o Senhor, e que ele lhe dissera isto.ʺ (João 20:11‐18).

ʺTodos  estes  perseveravam  unanimemente  em  oração  e  súplicas, com as mulheres, e Maria mãe de Jesus, e com seus irmãos.ʺ (Atos 1:14).

Uma  palavra  muito  simples  está  em  meu  coração  neste momento. É  impressionante observar quão  freqüentemente Maria 

Madalena  é  mencionada,  quanto  ela  é  evidenciada.  Ela  é encontrada em cada um dos evangelhos e, sem dúvida alguma, está incluída no grupo das mulheres em Atos 1:14; e ela ocupa um lugar de  considerável  significância  e  valor.  Não  podemos  fazer  outra coisa  se  não  perguntar  por  que  deve  ela  ser  mantida  tanto  em evidência, ser mencionada tanto pelo seu próprio nome.  Isto não é por  acaso;  não  é  suficiente  dizer  que  todos  esses  apóstolos  que escreveram  estes  registros  ficaram  evidentemente  impressionados com esta mulher, e com outras, e que eles descobriram, ao escrever a história da vida, morte e ressurreição de Cristo, que não podiam simplesmente deixar essas pessoas de fora. Penso que temos que ir mais  fundo do que  isto, crendo que o Espírito Santo  tem algo em mente, se essas Escrituras são inspiradas por Ele, e nós procuramos ver o que isto pode ser. 

Começando pelo fim, descobrimos que Maria Madalena foi a primeira testemunha da ressurreição do Senhor. Nessas meditações temos estado muito ocupados com  testemunhas. “E sereis minhas testemunhas.”  (Atos  1:8).  A  primeira  testemunha,  a  primeira representante do Senhor a testemunhar que Ele estava vivo, que Ele tinha ressuscitado, foi Maria Madalena. Parece‐me que ela está aqui para indicar o serviço da nova dispensação, o serviço de Cristo _ ser uma  testemunha  Dele;  representá‐Lo.  Este  serviço  do  Senhor começa  com  ela,  e  por  quê?  O  pensamento  que  está  em minha mente é o seguinte: que aqui está o serviço do Senhor novamente. E o que está bem no âmago do serviço do Senhor? O que é  isto que realmente faz uma testemunha, um representante? O que é isto que constitui este testemunho em pessoa para o Senhor ressurreto?  — penso  que Maria Madalena  nos  responde  esta  questão  de  forma muito  simples,  porém  com muita  força.  A  dinâmica,  o  poder,  a essência do serviço do Senhor é uma devoção de amor ardente pela pessoa do Senhor. Isto é simples, mas fundamental. 

Em primeiro  lugar você percebe que ela é uma mulher que tem  uma  grande  necessidade  _  necessidade  de  libertação,  de salvação, de misericórdia, de graça _ que é uma mulher que está em grande dificuldade  e  aflição,  e  o  Senhor  a  livra de  todas  as  suas desgraças. A partir daquele momento ela jamais fica longe Dele; ela é uma de um grupo de tais mulheres que O seguem por onde quer que Ele vá, e O servem. Então, na última cena, ela está lá com a mãe terrena  de  nosso  Senhor,  a  pouca  distância  da  cruz,  assistindo, sofrendo, naquelas últimas horas. Ela é, talvez, a última ou uma das últimas  a  deixar  o  local.  Então  ela  é  a  primeira  a  retornar  ao 

sepulcro; antes do raiar do dia, ela retorna com o coração partido.  João  20:11‐18  é,  talvez,  a  história  mais  comovente  do  Novo Testamento. O grito de seu coração _ “Senhor, se tu o levaste, dize‐me onde o puseste.ʺ Então Jesus disse a ela: ʺMaria!ʺ Ela se vira e diz:  “Raboni, Mestre!”  Não  é  esta  toda  a  corporificação  de  um amor pessoal pelo Senhor, de um poderoso amor pessoal por Sua Pessoa? E é a partir disso que o testemunho dela nasce e que ela se torna a primeira pregadora da dispensação. 

É a partir disso que  todo o verdadeiro ministério de Cristo através  de  toda  a  dispensação  nasce.  Esta  é  a  natureza  do ministério.  Podemos  dizer  isto  em  poucas  palavras  e  de  forma muito simples, porém, embora resumido e simples, contudo vamos procurar reconhecer a suprema importância disto: que o serviço do Senhor não consiste em primeiramente sair e fazer coisas, ou dizer coisas,  propagar  doutrinas  ou  verdades,  ou  interpretações, estabelecer  movimentos,  comunidades  ou  igrejas.  O  serviço  do Senhor  é  o  fluir  espontâneo de um  amor pessoal pelo  Senhor. E, quando você vai para o Pentecostes,  e a prossegue a partir daí,  é apenas isto.  

Parece  que  a  vinda  do  Espírito  Santo  foi  um  batizar  dos crentes  no  amor  de  Cristo,  pois,  a  partir  daquele  momento  da chegada do Espírito, eles não tinham mais nada para falar a não ser o Senhor Jesus. Eles simplesmente estavam plenos Dele! A conversa deles  estava  cheia  Dele,  a  pregação  deles  estava  cheia  Dele,  o testemunho  deles  era  totalmente  concernente  a  Ele,  e  foi  sempre assim.  Foi  assim  com  o  grande  apóstolo  dos  gentios  _  Paulo. ʺDeusʺ, disse ele, “aprouve a Deus revelar seu Filho em mim, para que O pregasse entre as nações”  (Gal. 1:15,16). “O amor de Cristo nos constrange” (2 Cor. 5:14), “o amor de Deus está derramado em nossos  corações  pelo  Espírito  Santo”  (Rom.  5:5).  Esta  era  a dinâmica do serviço. 

Agora,  isto  é  simples  e  funciona  de  duas maneiras.  Toda atividade,  obra,  e  tudo  aquilo  que  é  chamado  de  ‘serviço’  ao Senhor,  sem este amor por  trás, está  carente do poder verdadeiro para  um  serviço  frutífero, mas,  se  o  amor  estiver  presente,  não poderemos deixar de ser servos do Senhor. Nada pode fazer de nós verdadeiros  servos do Senhor,  somente um amor ardente por Ele mesmo. Nada pode substituir isto. Mas, dado isto, não há qualquer necessidade  de  algum  tipo  de  ordenação  humana,  de  separação eclesiástica.  Você,  sem  sombra  de  dúvida,  é  servo  do  Senhor  se 

tiver  um  satisfatório  amor  por Ele mesmo  em  seu  coração.  Todo nosso valor para o Senhor depende da medida do nosso amor por Ele mesmo.  Isto  é  tudo. Não há nada profundo  sobre  isto, mas  é uma prova. 

Podemos  fazer muitas  coisas,  como  a  igreja  em Éfeso mais tarde. Ela fez muitas coisas, mas o Senhor disse: “Tenho algo contra ti, que esquecestes o  teu primeiro amor”  (Apoc. 2:4). E, em efeito, Ele disse: Não há  justificativa para que seu candelabro permaneça, é meramente uma profissão vazia,  um vaso de aparência exterior, sem  o  Senhor  lá  dentro,  sem  a  luz  interior.  E,  a menos  que  este primeiro  amor  seja  recuperado,  trata‐se  apenas  de  uma  simples confissão,  de  meramente  fazer  muitas  coisas,  mas  aquilo  que justifica a nossa existência é aquele amor, e somente ele. Nada a não ser  o  amor  irá  nos manter  caminhando. É  o poder da  resistência através dos anos, e será algo  terrível chegarmos a uma vida cristã sem este amor pelo Senhor em nosso coração. É somente este amor que  realmente  torna  a  vida  cristã  possível  debaixo  de  toda  a pressão ao longo dos anos.

Estou muito certo de que, no caso do apóstolo, com  todo o seu  sofrimento  e  com  tudo o que  ele  teve que  enfrentar, o que o manteve prosseguindo  foi aquela  chama de amor em  seu  coração pelo próprio Senhor. Através do  sofrimento, nada,  exceto o amor pelo Senhor, irá nos manter prosseguindo. 

E assim, sem acrescentar mais nada a isto, eu apenas digo a você e ao meu próprio coração, que o que você e eu precisamos é de uma  recuperação,  restauração,  de  um  aumento. Quer  seja  que  o tenhamos, ou o tenhamos perdido, ou que nunca o tenhamos tido, o que precisamos é desta chama poderosa de amor pelo Senhor, e não  sermos meramente  obreiros profissionais,  servos de Deus de alguma maneira  profissional.  Não,  o  que  precisamos  é  que  este amor pelo Senhor seja intensificado e, a partir disto, tudo mais virá, e, sem  isto, a vida cristã é uma coisa miserável, um  fardo a  levar, enquanto que o amor pelo Senhor faz de nós testemunhas. 

Assim,  Maria  Madalena  simplesmente  nos  vem  como  a maior de todas as lições. Ela está lá, a última na cruz, a primeira na ressurreição, a primeira testemunha da dispensação. É uma mulher. Agora,  naturalmente,  você  pode  tomar  isto  erroneamente,  você pode  tomar  isto  tecnicamente,  e  dizer  que  isto  imediatamente justifica  o ministério  das mulheres  e mulheres  tendo  o  primeiro 

lugar. Eu nada tenho a dizer contra o ministério das mulheres, mas o que  eu  creio que o Espírito  Santo quer  significar  aqui  é que  as mulheres  no  Novo  Testamento  representam  o  lado  afetivo,  o princípio da afeição, do amor, e da devoção e do serviço em termos de amor. É isto o que as mulheres representam lá, e parece que esta mulher resume tudo isto. Mas você enxerga o pano de fundo – uma devoção  de  coração  pelo  Senhor  que  produz  seu  maravilhoso ministério  (de  Maria  Madalena),  que  produz  seu  ministério representativo para a dispensação. Pois o ministério desta mulher foi  representativo  da  dispensação  —  que  o  que  produziu  este ministério e esta representação  foi o senso que ela  tinha de dívida impagável para com o Senhor por sua graça. E qual é o ministério de valor que não tem isto por trás? Paulo diz: “Sou devedor” (Rom. 1:14) e esta é a dinâmica de seu ministério. Maria Madalena diria: Sou devedora; devo tudo a Ele! 

Se você  e  eu  chegarmos  a um vívido  e  suficiente  senso de nossa  dívida  impagável  para  com  o  Senhor  por  sua maravilhosa graça a nós, iremos ser testemunhas sem sombra de dúvida, iremos servir o  Senhor  sem  sombra de dúvida. Oh,  então, que haja uma renovação em nossos corações do senso de nossa dívida impagável! Naturalmente, você tem que ser paciente com a simplicidade desta palavra,  mas  penso  que  ela  toca  o  centro  das  coisas,  embora simples.  Não  fiquemos  preocupados  a  respeito  de  coisas, absolutamente. O assunto com que devemos nos preocupar é com o nosso próprio relacionamento com o Senhor, com aquela devoção a Ele. O Senhor nos livre de termos algo da vida cristã que seja menos do que aquilo que está nesta atitude de amor _ “Mestre! Raboni!”

 Não creio que possamos reproduzir a pronúncia, o tom, com que Maria expressou esta palavra naquele momento. Desejaria que pudéssemos obter os dois  timbres de voz, quando o Mestre disse: “Maria!”  Você  não  consegue  capturar  isto,  mas  pode  imaginar algo. E no tom familiar que ela ouviu Ele se dirigir a ela antes; ela captou o  timbre de voz  e disse: “Mestre!” É o Senhor, Mestre? A profundidade disso! Eu não quero ser sentimental, mas há algo aí que  indica  isto, que  leva à possessão da primeira nota do  serviço dispensacional. A dispensação  toda, a era  toda, está reunida nesta mulher naquilo que  ela  representa. Todo  serviço ao Senhor nasce disso _ Mestre! Naquele  sentido:  `Tu és aquele a quem  tudo para mim está ligado’. 

Bem,  o  Senhor  fala mais  do  que minhas  palavras  podem 

dizer nesta questão. 

   

Capítulo 6 – A Maneira de Obter Conhecimento Necessário para a Representação 

“...  declarado  Filho  de Deus  em  poder, …   pela  ressurreição  dos mortos, Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rom. 1:4).

“... até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo” (Ef. 4:13).

“E,  na  verdade,  tenho  também  por  perda  todas  as  coisas,  pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri  a  perda  de  todas  estas  coisas,  e  as  considero  como  escória, para que possa ganhar a Cristo,  ...Para conhecê‐lo, e à virtude da sua  ressurreição,  e  à  comunicação  de  suas  aflições,  sendo  feito conforme à sua morte” (Fil. 3:8,10).

Há uma questão que quero  trazer‐lhe  agora  a qual,  talvez, diferentemente da meditação anterior, irá exigir um pouco mais de exercício de sua parte, não apenas exercício mental, mas  irá exigir um  doar‐se  intensamente  de  nós  mesmos,  a  fim  de  que compreendamos a grande implicação que aqui repousa.      

Antes  de  entrarmos  neste  ponto  ou  questão  específica, preciso  lembrá‐lo  da  grande  importância  que  as  Escrituras vinculam ao conhecimento espiritual. Há toda uma diferença entre conhecimento  espiritual  e  conhecimento  mental,  ou  simples conhecimento  da  cabeça.  Nós  podemos  dizer  com  certeza,  em conformidade com as Escrituras, que  tudo para a vida do  filho de Deus depende do conhecimento espiritual, e está ao conhecimento espiritual. “E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por  único  Deus  verdadeiro,  e  a  Jesus  Cristo,  a  quem enviaste.”  (João  17:3). Assim,  a  vida  eternal  está  ligada  a certo  conhecimento,  e,  a  partir  desta  primeira  coisa  na história  do  filho  de  Deus  (isto  é,  a  vida  eterna  pelo conhecimento)  tudo  mais  está  ligado  a  um  particular  e 

específico  conhecimento.  Isto  é,  temos que  conhecer numa forma espiritual para crescermos na vida espiritual. 

Você percebe quanta  importância os apóstolos associaram a isto.  “tenho  também  por  perda  todas  as  coisas,  pela excelência  do  conhecimento  de  Cristo  Jesus,  meu  Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como  escória,  para  que  possa  ganhar  a Cristo.” E  a  coisa não  está  completa, mesmo  àquela  altura, pois Paulo, mais adiante, continua afirmando, como se algo ainda estivesse à frente — prossigo, para que possa conhecê‐Lo! Paulo é um homem  que  possui  um  vasto  conhecimento  do  Senhor, porém  ele  é  alguém  que  está  tão  consciente  da  tremenda importância e valor do conhecimento espiritual a ponto de abrir mão de todas as outras coisas que são de valor para os homens pela excelência do conhecimento de Jesus Cristo. 

Então, aí está este grande prospecto apresentado e aberto em Efésios  4.  O  Senhor  ressurreto  deu  dons  aos  homens;  deu ministérios,  apóstolos,  profetas,  e  assim  por  diante,  para  o aperfeiçoamento dos santos, para a edificação do Corpo de Cristo: “até que  todos  cheguemos à unidade da  fé,  e do  conhecimento do Filho de Deus”.  Isto quase nos dá a  impressão de que aquilo que está subentendido  implicasse no seguinte: que o alvo deste Corpo de Cristo que Paulo está falando, a Igreja, que é o Corpo de Cristo, seja  o  pleno  conhecimento  do  Filho  de Deus.  Tudo  deve  estar ligado a este pleno conhecimento do Filho de Deus. 

Agora, naturalmente, nós compreendemos  isto em pequena proporção,  a  partir  de  nossa  própria  experiência  e  história espiritual. Cada  um  de  nós  que  possui  uma  vida  e  uma  história espiritual  real  sabe muito bem que devemos o nosso  crescimento espiritual  ao  conhecimento  espiritual  que  tem  chegado  a  nós. Dizemos:  Quando  cheguei  a  conhecer  (seja  o  que  possa  ser), quando cheguei a conhecer de uma forma espiritual, isto fez toda a diferença. A partir do instante que cheguei a conhecer desta forma, houve uma diferença; tenho estado diferente, tem significado muito para mim isto que vim a conhecer! Todas as diferenças são feitas ao longo  desta  linha  de  progressivo  e  crescente  conhecimento, conhecimento espiritual, conhecimento interior. 

Assim,  a Palavra  nos  revelaria  o  seguinte:  que  tudo  o  que 

Deus tem intencionado em Cristo para os santos, o grande destino, a  grande  vocação,  o  grande  resultado —  e  que  chamado  é,  que chamado  celestial,  como  diz  o  apóstolo —  tudo  isto  é  para  ser alcançado por meio do  conhecimento  espiritual, por meio de um progressivo e  continuo  chegar a um  fresco  conhecimento  interior. Podemos  dizer:  Eu  sei,  cheguei  a  conhecer,  e  estou  chegando  a conhecer,  e o Senhor  está me  levando  a  conhecer! É desta  forma, este  é o  caminho.  Isto  é  simples, mas  eu  simplesmente queria de início enfatizar e  lembrar você do grande valor e  importância que está ligado ao conhecimento espiritual. 

A Lei do Conhecimento Espiritual

Agora, a coisa que quero transmitir, como somente o Senhor pode me capacitar, é a  lei que é encontrada em toda a Escritura; a lei  do  conhecimento  espiritual.  Tenho  visto  que  existe  uma  lei encoberta  nas  Escrituras  que  governa  toda  esta  questão  do conhecimento espiritual. No Velho Testamento, naturalmente, ela é apresentada muito amplamente de uma forma típica, porém a lei é espiritual,  e  ela  governa  este  conhecimento,  que  é  o  aumento,  o crescimento e o progresso espiritual na vida do filho de Deus. A lei é  a  seguinte:  existe  um  lugar  específico,  a  fim  de  obtermos  o conhecimento. 

Se  você  voltar  ao  Velho  Testamento,  naturalmente  irá encontrar muito disto em forma de tipo, de figura. Por exemplo, a luz do propósito de Deus foi apenas revelada a Abraão quando ele entrou na  terra, não quando ele estava na Mesopotâmia. Deus  lhe disse  para  sair  da Mesopotâmia,  e  Deus  não  lhe  revelou  o  Seu propósito até que ele entrasse na  terra. Era preciso estar em certo lugar antes que Abraão obtivesse conhecimento. 

A  luz de Deus e do nome de Deus não  foi  revelada a  Jacó quando  ele  estava  em  Parã  (Gen.  21:21),  nem  quando  ele  estava num país estrangeiro, mas quando ele estava no lugar em Betel. Ele não  obteve  a  luz  de  Deus,  do  nome  de  Deus,  até  que  tivesse chegado naquele lugar. 

A  luz quanto  à Divina habitação no  tabernáculo  jamais  foi dada a  Israel no Egito, mas esperou‐se até que eles chegassem ao lugar onde era para estar o tabernáculo no deserto. 

Um lugar foi necessário, a fim de se obter o conhecimento, e o Velho Testamento está repleto disto. Você sabe que os nomes dos 

lugares no Velho Testamento  são  sempre  simbólicos. Você  sabe o quanto está associado a Gilgal. Você precisa chegar a Gilgal, a fim de obter certo conhecimento espiritual  — Betel, Hebrom — e assim você prossegue, e o Senhor fixou lugares no Velho Testamento para a  revelação  de  Si mesmo.  “Onde  Eu  coloquei  o meu  nome”  (Ex. 20:24), se vocês chegarem  lá,  irão me conhecer. Vocês não  irão me conhecer fora desse lugar, em qualquer outra parte; vocês precisam chegar ao lugar que tenho apontado, lá Eu irei encontrar vocês! Isto é um tipo. 

No Novo Testamento, no lado espiritual disto, naturalmente não se trata de lugares geográficos, não é um local de reunião. Você não tem que ir Honor Oak (uma zona suburbana londrina), ou a  qualquer  outro  lugar  para  obter  a  luz! Não  são  lugares geográficos, mas é a um  lugar espiritual que você  tem que chegar, a fim de adquirir o conhecimento. 

Bem,  isto  abre um vasto  e  amplo  terreno,  e nós  indicamos apenas  um  ou  dois  desses  lugares  que  são  os  lugares  de conhecimento espiritual os quais têm a ver com a nossa chegada ao pleno  conhecimento  do  Filho  de  Deus,  à  estatura  completa  de Cristo.

Ressurreição

“...declarado  (marcado) Filho de Deus  em poder,  segundo o Espírito  de  santificação,  pela  ressurreição  dentre  os mortos”. O conhecimento,  a  luz  do  conhecimento  da  ressurreição, requer que cheguemos a um lugar, e este lugar é o lugar de morte.  Isto  é  simples  e  bem  conhecido, mas  é  uma  lei.  É uma lei escrita no Velho Testamento em tipo e figura muitas vezes.  A  ressurreição  exige  que  você  chegue verdadeiramente ao lugar de morte. A lei é tornada clara no Novo Testamento. Você  tem que estar no  lugar de morte e sepultamento antes que possa conhecer a Cristo e o poder de Sua ressurreição, antes que possa  ter este conhecimento de ressurreição com o qual tanta coisa está ligada. Oh, tudo de  início  está  ligado  a  isto, para  que  conheçamos  a união com Cristo  na  ressurreição,  não  como  verdade,  não  como doutrina,  um  credo,  mas  de  uma  forma  interior,  um 

conhecimento espiritual. 

Há um parágrafo notável em Ezequiel 39. Naturalmente, há o  lado  profético  disso,  mas  há  também  o  lado  espiritual,  como sempre  há  na  profecia.  Gogue  e Magogue  vêm  do  norte  para  a terra, e, então, o povo de Deus retorna do cativeiro para a terra, e o Senhor  entra  em  juízo  contra  Gogue  e  Magogue,  os  quais invadiram  a  Sua  terra  e  mataram  a  muitos.  E,  então,  o  Senhor chama todo o povo para se levantar e enterrar os mortos que foram assassinados. É para  eles  enterrarem durante um período de  sete meses, uma  obra  espiritual perfeita de  sepultamento dos mortos. Todo  o povo  tem  que  fazer  isto, mas  é  necessário  que  haja  certa companhia  designada  para  percorrer  a  terra,  e,  onde  quer  que encontre  mesmo  que  seja  um  osso  exposto,  ela  deve  por  uma marca.  E,  então,  esta  companhia  designada  que  vai  e  coloca  esta marca  deve  enterrá‐lo;  assim,  censuravelmente  está  algo morto  e não  enterrado  que Ele  irá por  à  vista. Eles  não podem possuir  a terra; não podem vir e se alegrar com a herança enquanto houver algo morto que não esteja enterrado. 

Eu  me  lembro  de  um  irmão  que  uma  vez  falou  sobre batismo.  Ele  disse:  `Quando  você  veio  para  o  Senhor  e  viu  que Cristo morreu por você, você não viu quando Cristo morreu, você viu? Bem, por que você não tem o seu cadáver enterrado! O único lugar  para  uma  pessoa morta  é  a  sepultura!”  Bem,  isto  é muito radical. 

Este é o pensamento de Deus. Cristo é a herança, Cristo é a terra, toda a plenitude representada por Canaã está em Cristo, toda a  riqueza,  a  terra que mana  leite  e mel. E o povo do Senhor não pode entrar e possuir e aumentar  sua herança em Cristo, o pleno conhecimento  de  Cristo,  se  houver  algo  morto  que  não  esteja enterrado.  O  Senhor  diz  que  estamos  mortos,  que  estamos crucificados  com  Cristo  (Rom.  6:6),  e  o  princípio  do  Novo Testamento é este: que a coisa precisa ser colocada fora do caminho, fora da vista, antes que possamos entrar na plenitude, na possessão plena. É simplesmente enfatizando esta lei da Palavra de Deus por toda  a  parte,  a  fim  de  obter  o  conhecimento  da  ressurreição; devemos  chegar  ao  lugar  de  morte  e  sepultamento,  isto  é, primeiramente colocando de lado todo o corpo da carne e, então, de todo o homem natural. É somente quando você e eu na vida natural estivermos  sepultados, estivermos  fora do  caminho,  fora de vista, que  podemos  conhecer  a  Cristo.  Nós  permanecemos  em  nossa 

própria  luz quando não estamos  sepultados, quando não estamos fora do caminho; quando não chegamos ao lugar de morte, estamos obstruindo a luz do pleno conhecimento de Cristo. 

Você sabe quão verdadeiro isto é, quando o homem natural está  em  evidência,  o  homem  espiritual  fica  encoberto. Quando  a mente natural está ativa nas  coisas de Deus, o Espírito Santo não nos mostra as coisas de Deus. Esta mente natural  tem que sair do caminho para conhecer a ressurreição, a qual não é apenas algo que ocorre uma vez por todas, mas é algo em que sempre há mais para ser conhecido. Paulo diz: “…para que possa conhecê‐Lo, e o poder de sua ressurreição”. (Fil. 3:10). Paulo já estava no caminho por um longo  tempo  quando  ele  disse  isto.  “Ora,  àquele  que  é  poderoso para  fazer  tudo  muito  mais  abundantemente  além  daquilo  que pedimos  ou  pensamos,  segundo  o  poder  que  em  nós  opera...”  (o poder de  sua  ressurreição).  Isto depende  inteiramente da obra da morte, de nosso chegar ao lugar de morte. A lei é esta: que quanto mais  chegarmos  ao  lugar  de  morte  da  vida  natural,  da  vida independente, mais chegamos ao  lugar do pleno conhecimento do Filho de Deus em termos de ressurreição. 

Filiação

A luz da filiação requer um lugar. Você sabe que este é todo o argumento da carta aos Gálatas. Era uma questão de filiação, e o apóstolo  está dizendo:  `Antes que vocês  conheçam  filiação, vocês têm que chegar a um lugar onde a filiação é conhecida, e a vida de filiação  somente  é  obtida  quando  vocês  chegarem  ao  lugar  do Espírito  dominando  a  carne.’  Eu  não  posso  ficar  com Gálatas  ao longo dessas linhas, mas aqui está a verdade. Filiação é algo muito mais do que  ser nascido de novo, do que apenas  ser um  filho de Deus. Filiação é chegar ao pleno conhecimento do Filho de Deus, é crescer Nele  em  todas  as  coisas. Filiação  é  algo  a mais. Você não pode chegar ao conhecimento de tudo o que significa filiação, como sendo algo mais do que infância, a menos que chegue ao lugar onde o Espírito tenha predomínio sobre a carne. É um lugar; um lugar de crise. 

Pode ser como o Jaboque de Jacó onde aquela força da vida própria é tocada e mirrada em seu próprio tendão, na própria força da carne. A vida própria de Jacó é profundamente afetada a partir do  céu,  e,  então,  seu  nome  é  trocado  para  um  nome  celestial  _ Israel, um príncipe de Deus, um povo espiritual, não mais carnal. 

Você vê, a lei do conhecimento do Filho de Deus depende do nosso chegar a um lugar. 

Não  nos  diz  isto  quão  sem  esperança  é  tentarmos  obter conhecimento  espiritual  por  meio  de  estudo,  de  informação? Nenhum de nós jamais obtêm isto a partir de livros, de pessoas. Isto tem  que  vir  por meio  do  nosso  chegar  a  uma  posição  espiritual. Temos  que  chegar  num  certo  lugar. Não  podemos  obter  isto  de outras  pessoas.  Podemos  obter  ajuda  ouvindo  e  lendo, mas  não podemos adquirir este pleno conhecimento do Filho de Deus dessa forma. Temos que chegar a um  lugar,  temos que  ter uma crise. O conhecimento  da  filiação  depende  do  lugar  onde  o  Espírito  está estabelecido como soberano Senhor sobre a carne. 

A Autoridade Soberana de Cristo

A  luz  do  conhecimento  da  autoridade  soberana  de  Cristo exige  um  lugar.  Isto  é  Colossenses —  a  autoridade  soberana  de Cristo,  a  sua  autoridade  suprema  como  algo  que  realmente funciona. Cristo é o Cabeça soberano da igreja; Cristo está exaltado acima  de  todos  os  principados  e  poderes,  Cristo  é  preeminente, transcendente.  Esta  é  a  grande  verdade,  mas  isto  não  será proveitoso o  suficiente para mim  se  for  apenas uma verdade. Eu quero que  isto se  torne uma realidade em minha experiência; esta poderosa autoridade de Cristo tem que se tornar uma realidade na vida diária. De  alguma  forma  eu  tenho  que  entrar nisto  onde  eu possa me  agarrar  a  esta  autoridade  e  apelar  para  ela,  e  que  ela funcione; onde as forças do mal sejam vencidas por esta autoridade em minha experiência quando investirem contra mim; a autoridade soberana de Cristo  tem  que me  cobrir,  que me proteger,  que me guardar  das  forças  do  mal  e  me  libertar.  Preciso  conhecer  sua autoridade; preciso conhecê‐Lo em sua autoridade soberana.

Para conhecer isto eu preciso chegar ao lugar de ligação com a  Cabeça  no  Corpo.   ʺLigado  à  cabeçaʺ —  esta  é  a  palavra  de Colossenses,  ʺ...ligado  à  cabeça  da  qual  todo  o  corpo,  provido  e organizado  pelas  juntas  e  ligaduras  vai  crescendo...ʺ  (2:19)  Eu tenho  que  estar  alinhado  aos  membros  do  Seu  corpo  de  uma maneira espiritual sob esta autoridade; isto é: Tenho que renunciar todo  o  terreno  independente,  desligado  e  sem  conexão.  É  uma posição. Se o  inimigo conseguir nos separar, ele  irá nos  roubar os benefícios  da  autoridade  soberana  de  Cristo.  Se  for  para conhecermos  o  valor  de Cristo  como  nosso Cabeça  soberano  em 

toda autoridade, precisamos  entrar num  relacionamento  com  esta Cabeça  juntamente  com  outros  membros.  ʺLigado  à  cabeça,  da qual todo o corpo…” .

O Crescimento Pleno

Você chega a Efésios “...ao conhecimento do Filho de Deus, à estatura  de  homem  perfeito...”  (4:13). O  que  isto  exige?  Bem,  se Colossenses me vê em relação com outros crentes ligado à Cabeça, Efésios  me  vê  em  relação  a  outros  crentes  trabalhando  juntos corporativamente.  Colossenses  é  o  aspecto  superior  da  Cabeça. Efésios é o aspecto visível do  corpo a outros membros, e esses  se complementam.   Para  chegarmos  ao  crescimento  pleno  e  ao conhecimento pleno do Filho de Deus precisamos chegar ao  lugar onde o corpo é uma realidade, não apenas uma doutrina, ou uma verdade. Muito freqüentemente, quando falamos sobre este assunto do Corpo de Cristo, a Igreja que é o Corpo de Cristo, a resposta de muitas pessoas  é: Naturalmente!  Sabemos disso,  todos  os  crentes são um só Corpo, eles são todos membros de Cristo, e são todos um só  Corpo!  Sim,  isto  é  fato,  é  verdade, mas  o  que  dizer  sobre  o funcionamento prático disso de uma  forma  espiritual?  Isto  é algo diferente.  É  estranho  que  as  pessoas  que  sustentam  isto  possam ainda,  sem  qualquer  questionamento,  continuar  com  os  cismas, com as divisões e com todos os tipos de distinções aqui nesta terra entre  os  cristãos.  Eles  podem  ser  convertidos  em  mil denominadores  e  esta verdade do Corpo não  é  uma  coisa  eficaz, que simplesmente descarta tudo isso, que rejeita todo o terreno de cisma, de divisão,  e  todo  tipo de departamento humano  entre  os cristãos. A coisa não tem este efeito em muitas pessoas. 

Bem, você diz: isto importa? Olhe para a igreja, olhe para os filhos de Deus hoje. Onde está o pleno conhecimento do Filho de Deus? Onde está este crescimento até a plenitude de Cristo? Oh, há uma  espantosa  e  trágica  ignorância  entre  a maioria  do  povo  de Deus  a  respeito  do  próprio  Senhor.  A  ignorância  é  terrível  e  o resultado  é  que  o  poder  espiritual  é  de  fato  muito  pequeno. Realmente importa que cheguemos ao pleno conhecimento do Filho de Deus, realmente importa que cresçamos Nele, que alcancemos a plenitude de Cristo, a estatura de Cristo. Realmente importa que a verdade sobre o Corpo seja uma coisa prática, não apenas  teórica. Você tem que chegar ao lugar onde você abandone qualquer outro terreno  que  não  seja  o  terreno  da  absoluta  e  eficaz  unidade espiritual do povo de Deus. Ocupar tal terreno significa limitação e 

perda,  como  prova  a  história  da  igreja,  e  como  demonstra  toda atividade  do  inimigo. Dividir  o  povo  de Deus  é  enfraquecê‐lo  e limitá‐lo. Trazer o povo de Deus em unidade espiritual é edificá‐lo e torná‐lo uma força que o inimigo é obrigado a reconhecer.  

Você  lembra‐se desta  lei? Ela  está  em  toda parte no Velho Testamento. O  Senhor  diz  ‘Em  certo  lugar  Eu  irei  encontrá‐los’. Você pode ir a qualquer lugar em todo esse universo e você não irá obter este conhecimento. Até mesmo Saulo de Tarso, eleito desde a eternidade, escolhido desde os tempos eternos para ser apóstolo de Deus aos gentios, conhecido de antemão e pré‐ordenado,  irá  fazer esta pergunta:  “Senhor,  que  farei?”(Atos  22:10),  e  a  resposta  será: “Vá a Damasco e lá te será dito o que te é ordenado fazer”. Não era que Damasco fosse algo a mais do que qualquer outro lugar, mas a igreja  estava  lá,  e  o  Senhor  não  iria  tratar  com  homem  algum, mesmo um apóstolo destinado, em qualquer outro  lugar diferente daquele. Ele diz: Eu estou em meu Corpo;  irei tratar com você em meu  Corpo!  Esta  é  uma  lei  espiritual.  Se  você  tem  vagado  pelo mundo, peça ao Senhor para lhe mostrar este lugar espiritual, esta posição  espiritual,  onde  você  irá  encontrar  aquilo  que  está procurando. No  caso  de muitos  de  nós,  o  Senhor  precisou  tratar conosco,  a  fim  de  nos  levar  para  um  lugar  espiritual,  para  nos mostrar algo. Quando o Senhor nos  trouxe para esse  lugar, então enxergamos. Descobrimos  que  lá  o  Senhor  ordena  a  benção,  até mesmo vida para sempre. 

 

*A tradução deste estudo foi feita voluntariamente por Valdinei N. da Silva, que, por reconhecer a excelência do conteúdo, coloca o mesmo ao alcance da Igreja de Cristo, para sua edificação. Peço aos irmãos que possuírem conhecimentos mais aprofundados em tradução, que colaborem, enviando as suas preciosas observações e retificações para: [email protected]

Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi

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