A relação entre natureza e cultura

download A relação entre natureza e cultura

of 33

Transcript of A relação entre natureza e cultura

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    1/33

    |DOSSIER:NATURAL EZA CULTUR A

    A relao entre natureza e cultura em sua diversidade:

    percepes, classificaes e prticas

    Felipe Vander Velden *

    Marilyn Cebolla Badie * *

    Introduo

    Desde que Claude Lvi-Srauss, em O Pensamento Selvagem(1997 [1962]), declarou que os animais, anes de serem bons paracomer, so bons para pensar, a relao entre natureza e culturainsalou-se definiivamene no corao da disciplina anropol-gica ainda que, separadamene, a ideia de Naturezaenha umalonga hisria no pensameno filosfico (Collingwood, 1945); ahisria da Culura no o prounda (Kuper, 2009). Bem anesdisso, em 1949, o mesmo Lvi-Srauss j havia, nAs Estruturas

    Elementares do Parentesco, esabelecido que a prpria origem doenmeno social esaria na passagem da naureza para a culu-ra, na superao lgica do caos inorme do mundo biolgico nadireo das esruuras (regras) que subjazem ao pensameno es sociedades humanas e as organizam ou esruuram. O prprioLvi-Srauss (1982 [1949]), conudo, ir conceder oposio enreo naural e o culural um valor puramene meodolgico, um ins-

    trumento de anlise(Lima, 1999) abrindo, eno, a possibilidadeda invesigao de ormas dierenes de consruir esa relao,

    1* Doutor em Antropologia Social (Unicamp). Proessor Adjunto I do Departamentode Cincias Sociais e do Programa de Ps-Graduao em Antropologia Social daUniversidade Federal de So Carlos (UFSCar). E-mail: [email protected].

    2

    **

    Antroploga social. Doctoranda, Programa de Doctorado en Antropologa Social,Departamento de Antropologa e Historia de Amrica y Arica, Universidad deBarcelona. Proesora adjunta. Departamento de Antropologa Social, FHyCS, Univer-sidad Nacional de Misiones. E-mail: [email protected]

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    2/33

    AV |ISSN

    abolindo a necessidade de uma naureza nica, dada e inaaversus culuras consrudas pelo esoro humano. Ao desesabi-lizar a dicoomia naureza/culura, esvaziando os ermos de seus

    conedos em lima anlise nauralizanes e originados daorma ocidenal conempornea de consru-la e oper-la L-vi-Srauss inaugurou a possibilidade de que a relao pudesse seromada nas suas singularidades, a parir das evidncias encon-radas no rabalho enogrfico com dierenes sociedades.

    A sugeso de Lvi-Srauss abalou, mas no liquidou por com-pleo, o que Descola e Plsson (1996:1-4) chamaram de paradigmadualista, modelo de inerpreao da realidade social e culuralcaracerizado por uma novel resisncia e durabilidade no in-erior da Anropologia. Por esa razo, muio do que se produziuaps as consideraes eoricamene sofisicadas de Lvi-Srauss,se omaram as vrias vias sugeridas pelo grande pensadorrancs quano s ormas de conhecimeno no ocidenais, nolograram, enreano, criicar a oposio Naureza/Culura comoum consruo culural ocidenal e, porano, apenas passvel de

    ser erramena para a reflexo, e nunca objeo em si mesmo e,desa orma, ulrapassar a noo de uma naureza fixa e imu-vel sobre a qual se consroem inconveis vises de mundo culu-ralmene dierenes. Novos caminhos, no enano, surgiam paraconornar esa limiao a parir dos anos 60; aqui, no enano,limiar-nos-emos, por queses de espao, aos desenvolvimenosque aleram subsanivamene a queso da dicoomia naural/

    culural dos anos de 1980 em diane.A imporane obra de Philippe Descola (1986) uma das pri-

    meiras a engajar-se nesa desconsruo medica do paradigmadualisa ainda que, em ceros momenos, presa a uma descriodo espao naural em que vivem os Achuar na Amaznia, in-cluindo a limnologia, a qumica de seus solos e a disribuio dacoberura vegeal depois discuida eoricamene e apresenada

    por meio de vrios casos enogrficos na influene colenea or-ganizada pelo prprio Descola e por Gsli Plsson sugesivamene

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    3/33

    |DOSSIER:NATURAL EZA CULTUR A

    iniulada Nature and Society(1996). Ali, em uma abrangeneinroduo, os dois auores reconsiuem, a aquele momeno,a radio inelecual do par naureza/culura, hisria cujos

    meandros no cabe repeir aqui. No obsane, desenvolvimenosposeriores em dierenes direes levaram a discusso a respeioda relao enre o naural (com seus correlaos inao/dado/bio-lgico/real) e o culural (e suas associaes com aprendido/cons-rudo/ideolgico/simblico) a novas roneiras, criicando o queo paradigma dualista que prevents na adequate understanding oflocal forms of ecological knowledge and technical know-how(Descola& Plsson, 1996:4) e reconfigurando o campo e, em larga medi-da, radicalizando a proposa de dissoluo da oposio aparen-emene prea enre os dois domnios.

    Desenvolvimenos, em especial, no ocane a dois movimenoscrucias alcanados a parir da relaivizao das noes de nau-reza e de culura (na Anropologia e em disciplinas afins), e am-bos direamene vinculados ao rabalho de Bruno Laour (1994;2004; Laour & Woolgar, 1997). O primeiro deles via um conjuno

    de pesquisas que passaram a quesionar a prpria objeividadeda dicoomia nas sociedades ocidenais modernas e conempor-neas, especialmene a parir de leiuras cricas da cincia, comespecial aeno biologia e sica; ais rabalhos pariram domuio juso posicionameno de Bruno Laour (1994) quano ajamais fomos modernos. Laour, assim, rev a exisncia de umanoo de naureza como algo objeificado, fixo e imuvel (ou

    seja, regido por leisgerais que poderiam ser descrias cienifica-mene) mesmo nas cincias mais duras e avanadas, ao des-rinchar os mecanismos do que chamou de mquina purificadora,o conjuno de pressuposos onolgicos que opera, coninuamen-e, a separao enre seres naurais e objeos culurais no mun-do ocidenal, mascarando a impressionane e sempre-preseneprolierao de hbridos naural-culurais que coram roneiras

    e uncionam indisinamene nos dois domnios que ns, ideolo-gicamene, separamos.

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    4/33

    AV |ISSN

    Uma consequncia deses desenvolvimenos avanadospor Laour (1994; 2004; 2005; ver ambm Sengers, 2002) oia reviso da concepo arraigada no pensameno ocidenal

    moderno de que a cincia e a cnica/ecnologia disanciamos homens da naureza, ao ornecerem os aparaos simblicos emaeriais que auorizam e permiem o domnio e a exploraodesa por aqueles. Com eeio, ao desvendar a mquina purifica-dora, Laour (e ouros) reinegraram a ecnologia na sociedade,demonsrando como humanos, no humanos (animados e ina-nimados), saberes e poderes eso odos imbricados nas mesmasredes sociocnicas. Nesse senido, a cincia e a ecnologia esoproundamene arraigadas na sociedade e, mais que isso, elasproduzem no s a sociedade como a prpria naureza: o mundonaural incluindo-se, aqui, o homem, lcusonde o naural e oculural se enconram (Ingold, 1994) produo das ineraesenre seres dierenes (humanos e no humanos) e seus incon-veis modos de estar-no-mundoou de habit-lo(to dwell, na defi-nio de Ingold, 2000).

    Os esudos sobre a cincia ocidenal, assim, desvendaram oquano a naureza produo de redes sociocnicas, e o quano onaural e o social/culural no podem ser separados (seno comviolncia) seja no mundo, seja no homem e em seus produos.E ais consaaes iveram enorme impaco na anropologia.Marilyn Srahern (1992; c. ambm Carsen, 2003), por exemplo,demonsrou como as novas ecnologias reproduivas redefiniram

    os modos como pensamos o parenesco e a prpria consiuiobiolgica do humano. E Donna Haraway, para ficarmos comapenas mais uma erica imporane, no s proclamou que odossomos ciborgues, incluindo humanos e animais (Haraway, 1990)como, mais recenemene, redefiniu as maneiras de raarmos asrelaes enre humanos e animais ao alar em coevoluoe simbio-sena sua invesigao sobre o companheirismo enre as espcies

    ou, como ela diz, sobre as espcies companheiras(Haraway, 2003y 2008). Isso para ficar apenas com os exemplos de duas grandes

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    5/33

    |DOSSIER:NATURAL EZA CULTUR A

    ericas da Anropologia conempornea que, enre muios ou-ros, vm invesigando as nimas conexes enre cincia, socie-dade, culura e polica e a posio crucial deses enrecruzamen-

    os na onologia ocidenal conempornea.O segundo dos desenvolvimenos que se seguiram recensode Descola e Plsson (1996) reere-se ambm a uma radicali-zao dos quesionamenos sobre a validade da disino nau-reza e culura, e ambm deve muio a Bruno Laour inclusivepelo ao de que da cosmologia animistados Achuar da Amaz-nia equaoriana, aravs da enografia de Philippe Descola, queLaour pode desvelar alguns dos mecanismos secreos da mqui-na purificadora-. Com eeio, se o mundo habiado pelas socieda-des ocidenais coalhado de hbridos naural-culurais, assimambm uncionam ouros mundos, o que implica na necessida-de de deixarmos de lado odo e qualquer pressuposo impor-ado das divises disciplinares das cincias modernas e mesmodo senso comum ou, dio de oura orma, da onologia naivado ocidene a respeio de onde ocorre a separao enre seres

    humanos e suas produes, iso , a culura e no humanos ou seja, a naureza. Desa orma, oposies como humano eanimal, ser vivo e areao ou mquina, e povo e paisagem per-dem muio de seus senidos originais devendo ser reconsiudasa parir das onologias locais por meio de invesigao enogr-fica. H humanos debaixo de roupas animais (Brighman, 1993;Viveiros de Casro, 1996; 2002a; Willerslev, 2007), areaos se

    revelam pessoas ou apresenam aribuos de pessoalidade (Gell,1998; Henare, Holbraad & Wasell, 2006; Sanos-Granero, 2009),espaos e paisagens so coposos por aes, movimenos e rasrosdeixados por seres humanos e no humanos em inerao, emengajameno, no original entanglement(Ingold, 2000).

    Parece, porano, que a dicoomia enre naureza e culurapermanece um ema undamenal na disciplina anropolgica,

    mesmo que aualmene apenas como balizas meodolgicas, con-orme proclamara Lvi-Srauss. No o caso, pois, de abando-

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    6/33

    AV |ISSN

    n-la: conorme declarou Eduardo Viveiros de Casro (publicadooriginalmene em 1996; republicado com adies em 2002) aopropor, com nia Solze Lima, o perspecivismo amaznico em

    que animais (e planas, e objeos, e esprios, a sobrenatureza) po-dem ser pessoas nunca oi sua ineno afirmar a inexisnciade ais domnios, seno, cumprindo a agenda lvisraussiana, de-clarar a necessidade de envidar esoros enogrficos que desve-lem as infinias modalidades em que as disines enre os serese enes que povoam e azem o mundo so organizadas, pensadase vividas pelas sociedades humanas. Exemplos desses esorosem repensar enograficamene as ormas de iner-relao enreos seres e os modos de pensar renovadamene a oposio enrenaural e culural eso reunidos nese volume.

    Os arigos aqui publicados derivam de uma seleo eeuadaenre os rabalhos apresenados e debaidos no GT 43 - La relacinnaturaleza y cultura en su diversidad: percepciones, clasificaciones y

    prcticas, que inegrou a programao da IX Reunio de Anropo-logia do Mercosul, realizada enre 10 e 13 de julho de 2011 na cidade

    de Curiiba, esado do Paran, no Brasil. A organizao e a coorde-nao do G, bem como a escolha dos exos para esa publicao,esiveram a cargo de Marilyn Cebolla Badie (Universidad Nacionalde Misiones/Universidad de Barcelona), Ugo Maia Andrade (Uni-versidade Federal de Sergipe Brasil) e Felipe Ferreira VanderVelden (Universidade Federal de So Carlos Brasil).

    A proposa dese grupo de rabalho oi debaer a relao de

    diversas sociedades e comunidades locais com seu enorno,como ambm as dierenes maneiras de consruir e perceberdisines e relaes enre naureza e culura, considerando quepara logr-lo az-se necessrio rabalhar de orma inerdisci-plinar abordando problemicas que se definem no inerior doscampos da enobiologia, das enoclassificaes, da consiuiode erriorialidades, das percepes do espao e os usos e pricas

    sobre o meio-ambiene, incluindo a geso das relaes que seesabelecem enre seres humanos e aleridades exra-humanas,

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    7/33

    |DOSSIER:NATURAL EZA CULTUR A

    ano em sociedades indgenas como rurais.Por oura pare, o grupo de rabalho proposo ambm abar-

    cou discusses e debaes sobre a siuao aual dos povos indge-

    nas e radicionais imersos em complexos arranjos com os esadosnacionais com respeio s policas ambienais, aos grandesprojeos de desenvolvimeno, aos discursos ecolgicos, aos proje-os de manejo e conservao de reas naurais, s invesigaescienficas e biopiraaria, enre ouros.

    Nesa publicao, os arigos oram divididos conorme seapresenaram nas rs sees em que oi organizado o grupo derabalho, respeiando afinidades ericas e emicas no ineriordo vaso campo da relao enre naureza e culura.

    Ontologias: humanos e no humanos, animais, plantas,

    espritos e artefatos

    A crica de Bruno Laour (1994) ao desvendar a operaria

    da mquina purificadora ocidenal abriu as poras para umaprolierao inensa de hbridos na anropologia, quesionan-do de maneira definiiva a raura radical enre os domnios danaureza e da culura, mesmo no ocidene conemporneo. alcrica, ao incidir sobre as coisas, dissolveu as definies usuaise canonizadas dos seres que povoam o planea: o que um huma-no, um animal, uma plana ou um objeo, e mesmo um ser ou

    uma criaura odas essas definies aparenemene esveis pedras angulares da onologia e da filosofia ocidenais j noso mais dados, objeos fixos e imuveis, mas devem ser busca-das por meio do escrunio anropolgico nos variados conexossocioculurais. Dierenes onologias experienciam disinasormas de exisncia, relao e maniesao de entes(a parir deHeidegger, para enar um ermo caegoricamene mais neuro).

    As proposas de Laour avanaram na direo de eoriasanropolgicas do ps-social, em que a prpria noo de so-

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    8/33

    AV |ISSN

    ciedade como um conceio anropolgico recusado em nomedas realidades naivas (Ingold, 1996; Wagner, 2010 [1975]). Semnegar ouros caminhos aberos e rilhados por essas eorias,

    cabe reconhecer que se a sociedade (ou, a culura) o someneum consruo erico-meodolgico de valor heursico parcial eoria naiva (ocidenal) aplicada de modo algo indiscriminadoa coleivos no ocidenais e, porano, conceito teoricamenteobsoleto(Ingold, 1996:55-98) o mesmo ocorre, obviamene, coma naureza. Isso significa que no h uma naureza fixa, sica eimuvel e nem uma naureza das coisas, nos mesmos moldes mas anas naurezas quanas orem as culuras: no maisvises de um mundo, mas onologias disinas, ou seja, muios(ouros) mundos.

    Em esreio dilogo com Philippe Descola (2005) e sua re-omada, em novas bases, do conceio de animismo(que am-bm criica a rigidez da oposio humano/culural versusnohumano/naural) a parir de sua enografia dos ndios Achuar,na regio amaznica do Equador, Eduardo Viveiros de Casro

    e, porano, mais uma vez, a enologia amaznica quem emesado na linha de rene desa invesigao da pluralidade demundos em coexisncia no ecmeno erresre. Noadamenesua eoria do perspectivismo amerndio(ormulada na companhiade nia Solze Lima, originalmene em 1996, mas depois redis-cuida amide em Viveiros de Casro, 1996; 2002a; 2012; ambmLima, 1996) inaugurou uma srie brilhane de reflexes sobre

    as onologias naivas da Amaznia, o que vem conduzindo suaargumenao para a necessidade de a anropologia abrir-se deao para o reconhecimeno dos naivos em seus prprios ermos,ou seja, de seus conceios, de suas filosofias, das onologias quesusenam seus mundos prprios e singulares. Enfim, o esudodas propriedades do conceito, ou do conceito de conceito (Vivei-ros de Casro, 2002b).

    Os rabalhos de Viveiros de Casro e de vrios de seus colabo-radores e inerlocuores m razido subsanciais apores ericos

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    9/33

    |DOSSIER:NATURAL EZA CULTUR A

    e meodolgicos para a Anropologia, noavelmene no ocane discusso sobre a relao naureza e culura. Seu conceio deperspecivismo e o de mulinauralismo (a ideia de mliplos

    mundos) seu correlao vem sendo rerabalhado por auoresem dierenes solos enogrficos, desde a Sibria e sia Cenral(Holbraad & Willerslev, 2007), passando pela Melansia (Sra-hern, 1999; Kirsch, 2006) e pelo Sul e Sudese Asiicos (Bird-Da-vid, 1990; Howell, 1996) e chegando mais recenemene Me-soamrica (Piarch, 2010; 2011) e reornando, em cero senido, Amaznia (mas agora no apenas indgena, mas ambm caboclaou ribeirinha: ver Maus, 2012; Wawzyniak, 2003). E esa circu-lao vem sendo crucial na reconfigurao conempornea dosdebaes anropolgicos, desacando-se um significaivo impaconas reflexes sobre a naureza da culura e, obviamene, sobrea naureza da naureza (C. Srahern, 1999; Laour, 2009; Wag-ner, 2012). Se a Amaznia e as assim chamadas erras BaixasSul-americanas em geral oi, durane longo empo, imporadorade erramenas ericas (mormene aricanisas) que, conorme

    se percebeu depois, mosraram-se inepas para explic-la demodo adequado e eoricamene renvel (c. Seeger, DaMata &Viveiros de Casro, 1979) hoje esa regio se convere em expor-adora de ideias e conceios cujo alcance virualmene global empropiciado uma procua redescobera de perspecivas compa-raivas (c. Gregor & uzin, 2001). De odo modo, a reviso dadicoomia naural versusculural pela enologia amazonisa vem

    reconfigurando de vrios modos a orma de olhar para dierenesaspecos e domnios da vida social (de humanos, seres e coisas).

    No oa, porano, os rs arigos que abrem ese dossi eque oram apresenados na primeira seo do G 43 da IX RAM,cujo ulo era o mesmo desa pare da presene inroduo dis-cuem onologias naivas das erras baixas sul-americanas, duasna Amaznia (brasileira e colombiana) e uma no lese do Brasil.

    Ugo Maia Andrade inerroga a experincia indgena do que nschamamos no Ocidene, de naureza, a parir das pricas xam-

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    10/33

    AV |ISSN

    nicas dos ndios Galibi-Marworno no exremo nore do Brasil. Oauor sugere, ao aproximar o pensameno dese povo ao princ-pio pr-filosfico grego da physis, que a invesigao enogrfica

    deve liberar-se da noo poderosamene arraigada na onologiaocidenal moderna de naureza como algo originrio, o quepode ser visualizado em anroplogos o dierenes como ClaudeLvi-Srauss (e seu pensameno selvagem) e im Ingold (comsua onologia anmica), de modo a aingir as concepes naivasda relao enre seres humanos e no humanos. Esas raciona-lidades anmicas no corroboram as disines clssicas porexemplo, enre animado/inanimado, dado/consrudo, pessoa/objeo, naural/culural e mosram que o nexo enre a culurae a humanidade, a inencionalidade e a razo es muio disan-e de ser universal. Alis, caegorizaes esanques devem serabandonadas nesses conexos ao se conceder privilgio relao:nenhum ser , mas sempre com e, desa orma, a oposio enrenaureza e culura como reinos oposos cai por erra diane deenes que, como os Karuna (pessoas invisveis auxiliares dos

    pajs)s aceiam, nas palavras do auor, definies contingen-ciais mais ou menos durveis conforme seu horizonte de manifes-

    taoe alam de um mundo em perpua ransormao, emconnuo devir(c. Gow, 2001).

    Ainda na Amaznia Luis Cayn invesiga a noo de espcieenre os Makuna, grupo de lngua ukano orienal no Vaupscolombiano. Impora ressalar que o maerial Makuna oi de

    crucial imporncia para a ormulao do conceio de perspeci-vismo amerndio, a parir de um rabalho seminal de Kaj Arhem(1993). Aqui, Cayn explora os modos Makuna de caegorizaodos seres naurais, uilizando-se da fluidez aribuda, hoje, aoconceio de espcie pela prpria biologia, un concepto polmicoen el que se chocan perspectivas diferentes, entre otras, la evolutiva,

    la biolgica, la gentica, la filogentica, la morfolgica o fentica, o

    la ecolgica, cada una con sus variaciones y divergencias. Na suaenografia, o auor susena a imporncia dos conexos em-

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    11/33

    |DOSSIER:NATURAL EZA CULTUR A

    pos e espaos no modo como os Makuna produzem a compo-sio dos no humanos, ilusrando com muios exemplos quesiuam o pensameno dese povo indgena no quadro das com-

    plexas cosmologias e cosmogonias dos povos ukano no noroeseamaznico. Ali, a disino enre humanos e no humanos (e asdierenas especficas no inerior de cada conjuno, incluindoas dierenes genes que povoam o mundo) no so, ambm,esanques; e a noo de espcie cenral na ordenao axon-mica cienfica, ainda que sujeia a cricas diversas parece sersemi-abierta, porosa y fluidae se entrelaza contextualmente con loslugares y tambin con las pocas del ciclo anual.

    Por fim, com Rodrigo Barbosa Ribeiro deixamos a floresaamaznica, embora ainda permanecendo em paisagem ame-rndia, enre os ndios Maxakali, povo do ronco lingusicoMacro-J que habia o nordese de Minas Gerais, no sudese doBrasil. rea de ocupao no indgena muio aniga, os Maxakalisorem, h empos, com a degradao ambienal dramica desuas erras cuja coberura floresal oi devasada no incio do

    sculo XX mas o conhecimeno e a experincia dese grupocom os ouros seres com quem parilham o universo coninuamsendo de suma imporncia. Rodrigo Ribeiro argumena que osMaxakali no disinguem os aribuos concedidos a seres huma-nos e no humanos, o que pode ser claramene noado a parir douso do ermoymyxop, que pode ser raduzido como grupo deesprios. No enano, uma das ormas de raduo desse er-

    mo (ymy, no singular) cano:ymy, os esprios do cano(Alvarez, 1992). De acordo com Rodrigo, eses canos configuramum complexo sistema de conhecimento, que mencionam e proble-maizam as relaes enre os Maxakali e os seres no humanosque povoam o cosmos e, especialmene, seu erririo. Ademais,aberos s coningncias da hisria e das experincias, os esp-rios-cano Maxakali ornecem como que quadros de reerncia

    que orienam as aes dos indivduos hoje, na consruo e vi-vncia das relaes com os no ndios e com os ouros seres com

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    12/33

    AV |ISSN

    os quais convivem. Desa orma, osymyxopalam de relaesque ranscendem o universo inra-humano, pois canam-narrammundos em que seres das mais diversas naurezas ineragem,

    problemaizando a disino clssica enre naureza e culura alino nordese mineiro.

    Paisagens e meio ambiente

    Oura verene dos esudos anropolgicos que se acercamdas relaes enre naureza e culura busca olhar para a cons-ruo das paisagens, espaos que os homens e mulheres habi-am e ransormam com a aplicao de seu rabalho prico esimblico. A prpria noo de paisagem ou de meio ambiene,conudo, ransormou-se nos limos anos, a parir do aban-dono da noo de uma naureza una e objeificada, deixandode se reerir apenas ao supore sico e maerialmene objeivodas aividades humanas, o espao geogrfico ou cenrio. Os

    esudos sobre as paisagens passaram a refleir sobre a hisori-cidade desses espaos o que, em vrios casos, em conribudopara uma desnauralizao dos ambienes considerados maisinocados pelas aes humanas, como a Amaznia (Bale, 1993;1999; Denevan, 1992; Fauso & Heckemberger, 2007) e as savanasaricanas (Laour, 2001) e a consruo social dos mesmos aparir das ineraes enre as sociedades e os demais elemen-

    os do meio ambiene, como o caso da ecologia histrica(Bale,1998). Mais recenemene, a ransio dos esudos sobre viso demundo para aqueles ocados nas onologias ouros mundos em, no caso das paisagens, aposado em abordagens que omama inerao enre humanos e no humanos como relaes enreagenes, sendo a paisagem o resulado de um conjuno inegra-do de conexes hisricas e socialmene desenvolvidas enre

    aores de diversos ipos, al como sugere im Ingold (2000) e suaimagem dos espaos habiados como o resulado do engajameno

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    13/33

    |DOSSIER:NATURAL EZA CULTUR A

    (entanglement) enre os seres, que podem ser lidos por meio dosrasros por eles deixados e que configuram a imagem de cerosungos denominados mixomiceos (ver a imagem desa espcie,

    cujo crescimeno produz algo semelhane a um emaranhado, emIngold, 2006).Ingold um dos principais expoenes conemporneos daqui-

    lo que desde o rabalho pioneiro de Gregory Baeson (1972; verambm Velho, 2001) conhecido por paradigma ecolgico, cujopono cenral es na compreenso das ineraes no hierr-quicas enre os dierenes seres e seus ambienes; ao deslocaro sujeio caresiano aquele que concenra em si a possibili-dade de conhecer e, porano, de ser o pono de parida de odaobservao o paradigma ecolgico desaz a prpria noo deambiene como cenrio inere (iso , naural), onde se desen-rolam as aes (de seres culurais enaurais). Como argumenaim Ingold, rastros(2006) ou linhas(2007) so os elemenos queconsiuem a paisagem, e para eles que devemos aenar nareconsiuio das relaes auais e hisricas que os ormam, e

    aos seres que ali ineragem. Enfim: os homens (e odos os demaisseres) se movem juno com o meio em que vivem; mas novivem nele, seno comele (Ingold, 2000).

    Os rabalhos de im Ingold em sua proposa renovada deanlise dos emaranhadosde humanos e no humanos consiuin-do paisagens como na sua inspirada anlise de um quadro dePieer Brueghel (Ingold, 2000:189-208) em que homens, mul-

    heres, o rigo, as erramenas, as casas e a igreja, o cu azul e ascolinas ao undo compem uma oalidade indivisvel porquedinmica e inegrada aproximam-se dos esudos que, a parirde uma perspeciva histrica cuja durao varia de longussima(eras geolgicas, quase se conundindo com uma histria natu-ral, noo que, no final das conas, e em visa do que se discueaqui, no az mais senido) a curssima (c. Bale, 1998; Bale

    & Erickson, 2006) abordam a ormao de paisagens (landsca-pes) a parir da inerao dinmica enre mliplos elemenos

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    14/33

    AV |ISSN

    simulaneamene naurais e sociais/culurais. Nesse senido, aexisncia de uma naureza exerior e regida por suas prpriasregras e percursos emporais perde sua razo de ser: no h es-

    paos naurais, seno paisagens produzidas pela agncia humanaem sua inerao com seres no humanos e com os elemenossicos pedras, monanhas, venos, rios, relmpagos, ogo queconormam o planea. Esa abordagem da assim chamada ecologiahistrica(Bale, 1998) sugere que mesmo os ecossisemas consi-derados mais prsinos e naurais como a Amaznia so, pormeio desses esudos (via de regra, inerdisciplinares) precipia-dos de aes e inenes humanas proundamene marcadas noerririo (Bale, 1998; Surralls & Hierro, 2005).

    O homem junamene com ouras espcies e elemenos consri paisagens, muio mais do que apenas simboliza o que dado nauralmene em um (suposo) mundo real. Pesquisasinfluenes demonsraram o quano esa produo de erri-rios mosrou-se radical o quano os mais diversos ambieneserresres oram conormados pela ao humana na geso de

    seus erririos, e isso desde sociedades dias de pequena escala indgenas ou radicionais (c. Bale, 1999; Carneiro da Cunha& Barbosa de Almeida, 2002; Surralls & Hierro, 2005) a associedades indusriais expansionisas aquelas que se alimen-am vorazmene de energia (c. Lvi-Srauss, 1976; Barbosa deAlmeida, 1999) cuja ingerncia na geso de seres humanos, nohumanos e de ouros elemenos sicos resularam em sucesses

    de aleraes radicais nos cenrios dios naurais ao longo doempo, reconfigurando periodicamene a ace do planea (Crosby,2002[1986]; 2003 [1973]; Cronon, 2003; Melville, 1999).

    Esa queso es direamene vinculada s agendas am-bienalisas (cienficas e policas), cuja imporncia s viu-secrescer desde os anos de 1980. Se o homem az paisagens ou,dio de oura orma, produz naureza por meio da iner-re-

    lao enre uma infinidade de seres e objeos ele o az, muiasvezes, s cusas da sobrevivncia desas aleridades no huma-

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    15/33

    |DOSSIER:NATURAL EZA CULTUR A

    nas e, no limie, do mundo como um odo: a rerica alarmanedo aquecimento global(Fagan, 2009) com a ameaa de uuras

    guerras climticas(Welzer, 2010) que j se maniesam, odavia,

    no mundo de hoje so apenas a ace mais recene de discursosque observam criicamene a inererncia humana sobre a vidae a coninuidade dos enes no humanos. A Anropologia, evi-denemene, no permaneceu inocada por esa problemica,desde a valorizao dos conhecimenos e das ormas de manejoindgenas e locais como orma de proeo ambienal (Carneiroda Cunha & Barbosa de Almeida, 2002), passando pela assimchamada ambientalizao dos conflitos sociais(Leie Lopes, 2004),pelas relaes enre povos naivos e policas ambienais (Wes,2006) e pelas cricas locais a processos de devasao ambienal(Zhouri & Lascheski, 2010; Zhouri, 2011) que esabeleceramvnculos claros enre a degradao do meio ambiene e a dee-riorao de condies socioeconmicas e a desvalorizao de con-hecimenos culuralmene singulares e chegando a esudos re-cenes que sugerem que ormas naivas de leiura das agresses

    ao meio ambiene configuram aunicas cricas xamnicas daeconomia polica da naureza (Alber, 2002) ou modos de azerantropologia reversa(Kirsch, 2006).

    Aualmene, se vm luz de orma ore a aeno s opiniesindgenas sobre enmenos de impaco ambienal do mundoconemporneo levar realmene a srio o que aconece nosmundos ouros a parir das aes empreendidas pelas sociedades

    indusriais a naureza, por seu urno, reorna ambm comvialidade renovada, como j vimos, por meio da consideraodas agncias no humanas ambm envolvidas nesas complexascadeias de evenos e inerpreaes sobre eles: ao se omar ani-mais, planas, areaos e ouros enes como seres sociais pes-soas e, porano, como objeos de anlise das Cincias Humanase Sociais, as anlises vm se expandindo por meio de esra-

    gias meodolgicas variadas como a anropologia da vida (Ingold,2011), a transspecies anthropology(Kohn, 2007) ou a multispecies

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    16/33

    AV |ISSN

    etnography(Kirksey & Helmreich, 2010) para dar cona, porexemplo, de naturezas proliferantes(Chouquer, 2010) de produode espaos sociais coabiados por humanos e no humanos em

    que eses limos no so meramene smbolos projeados peloshomens sobre seres naurais (Knigh, 2005), de reconfiguraoda relao enre selvageria (naureza) e domesicidade (culura)(c. Pelosse & Micoud, 1993; Haraway, 2008; Cassidy & Mullin,2007) e de uma escria da hisria do pono de visa animal(Baraay, 2012).

    nesa reomada conjuna de onologias naivas e agnciasno humanas que se inserem os dois rabalhos desa seo queraa de paisagens e meio ambiene. Oriol Belran invesiga,em um insigane arigo, as relaes enre polica e culuraenreecidas no embae enre os direios das espcies proegidas(ou seja, selvagens ou silvesres) e daquelas espcies invasoras essas naturezas proliferantes(Chouquer, 2010) ou inimigos naturais(Knigh, 2001) em ceras comarcas caals no Pirineo Cenral,Espanha. Belran descreve, aqui, os programas que susenados

    por uma cera viso da paisagem naural e pelos ineresses dourismo naquela regio que buscam inervir nagestoda aunalocal: ao deender as espcies valorizadas como selvagens (lobos,ursos, nurias, cervos cabrios moneses, enre ouros, que re-cenemene m repovoado as floresas da Europa meridional) eque acabam por arair os urisas eses programas enram emconflio com as populaes locais e seus animais domsicos, que

    leem e usam esa paisagem de ormas dierenes h geraes. Oauor desvela, em seu arigo, uma complexa rama hisrica quepassa por sucessivas ondas de ocupao da regio por populaeshumanas e animais que deve ser levada em cona nos processosconemporneos que buscam redisear la biodiveridade coni-nuamene recrear El paisaje, nas suas palavras. O cenrio des-crio no arigo ajuda-nos a relaivizar o prprio discurso conser-

    vacionisa ou ambienalisa, poso que exisem, sempre, muiose conradirios ineresses em jogo na adminisrao de erri-

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    17/33

    |DOSSIER:NATURAL EZA CULTUR A

    rios, levando o auor a concluir que la conservacin es mucho msque un proceso ecolgico: constituye um proceso de carcter poltico.

    De sua pare, Milena Sorniolo vola-se para modalidades de

    inerao enre saberes cienficos e indgenas no conexo de im-planao projeos de criao e manejo de animais (peixes, quel-nios, gado, caprinos, aves e mameros) e de desenvolvimenosusenvel enre populaes naivas da Amaznia. Parindo danoo de equivocao (controlada), proposa como modo de pro-duo de conhecimeno anropolgico por Eduardo Viveiros deCasro (2004), a auora susena que a implemenao desses pro-jeos desenhados por cienisas e cnicos via de regra reve-la-se, no enconro com lgicas naivas, repleo de equivocaes,ou seja, disjunes comunicaivas que assinalam que doisinerlocuores no eso alando das mesmas coisas nos mesmosermos, ao mesmo empo em que desconhecem ese descompassona raduo mua em que se engajam. Milena apona, corrobo-rando a sugeso de Viveiros de Casro, que a equivocao no um erro, um engano ou uma raude, mas a prpria condio

    de enendimeno da dierena, uma vez que ela pressupe queos problemas da radio so provocados pela incomensurabili-dade das premissas colocadas em relao, nese caso a dos povosindgenas amaznicos e aquelas dos saberes ecnocienficos.al pressuposo pare do reconhecimeno explcio de onologiasnaivas em conrase com a onologia ocidenal moderna; querseja, de que indgenas e cienisas habiam dierenes mundos

    reais que podem ser visos e vividos. A parir da Milena nosapresena rs casos enogrficos que podem ser caracerizados,segundo ela, por mliplas equivocaes, e conclui com a hipe-se de que projetos bem sucedidos so aqueles em que ambas as partesconseguem tomar conscincia da equivocao existente, ou seja, de

    que no esto falando das mesmas coisas quando discutem a questo

    da proteo ambiental ou do manejo de animais. Esse controle das

    equivocaes o que poderia levar a um melhor entendimento entre aspartes envolvidas e a possveis ajustes e negociaes entre elas.

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    18/33

    AV |ISSN

    Saberes e prticas com plantas e animais

    As dierenes modalidades da experincia humana com plan-

    as e animais (assim como com ouros seres, incluindo areaos eobjeos, coisas/things), porano, consiuem uma das bases parao quesionameno a parir de esudos e regisros enogrficosvariados da orma rigidamene organizada da oposio enrenaureza e culura, e para a relaivizao da preeminncia dohumano diane de ouras formas de vida(no senido de Ingold,2000). Ese quesionameno da disino enre humanos e nohumanos (e do conjuno das associaes a ela correlaas: culura/naureza, consrudo/dado, sociologia/biologia e por a vai) e dasuperioridade daquele sobre eses cujos limies vo a a cerosexremos erico-filosficos (com alguma inspirao eolgicaou ares religiosos) ais como a Hipese Gaia (Lovelock, 2006a e2006b) ou a biofilia (Wilson, 1994; 2008) vem sendo esmiuadopor dierenes esudos que aponam para uma crise no ineriordas culuras e sociabilidades conemporneas (para alm das dis-

    ciplinas acadmicas, ais como a eologia, a neurologia, a filosofiae a prpria anropologia) na rigidez das roneiras (enre esp-cies) e para uma possvel dissoluo das mesmas (Kulick, 2009).

    Falar em saberes e pricas implica azer reerncia gestode seres vivos e de ecossisemas ineiros por pare de populaeshumanas, sejam elas radicionais ou indusriais. Quano aos sabe-res, oroso se az reconhecer aqui, mais uma vez, o pioneirismo

    de Lvi-Srauss (1997 [1962]) ao desacar a riqueza e a validadedo conhecimeno puramene especulaivo do mundo e de seushabianes nunca, necessariamene, vinculado a uma preensauilidade ou a algum valor maerial por pare de populaesindgenas, o que coloca o pensar sobre o mundo deses grupos (seupensamento selvagem) no mesmo p da cincia ocidenal moderna,volada, mormene, pura produo de conhecimeno. Muio se

    produziu, desde eno, sobre sisemas de conhecimeno de povosindgenas e radicionais em sua relao com planas e animais (e

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    19/33

    |DOSSIER:NATURAL EZA CULTUR A

    ambm com areaos, acidenes geogrficos, enmenos meeo-rolgicos, esprios e ouras criauras sobrenaurais), incluindorabalhos que aposaram na relao enre esses sisemas culural-

    mene singulares e as dierenes disciplinas cienficas, especial-mene a biologia: da a prolierao, sobreudo nos anos de 1970 e1980, de rabalhos que carregavam o prefixo etno-(enobiologia,enozoologia, enobonica, e por a vai. (C. Posey et al., 1990).

    Se esas invesigaes conriburam para aproximar cin-cias e, digamos, culuras, e para valorizar a riqueza dos saberesminoririos acerca do mundo e seus habianes, por ouro ladoainda repousavam sobre uma ciso quesionvel enre naurezae culura: os sisemas de conhecimeno indgenas produziam(eno)verses de um mundo (real) desvendado apenas pelas cin-cias acadmicas; assim, para uma nica orniologia cienfica cujo rabalho seria o de descrever e esudar as espcies naturaisde aves haveria uma mirade de enoorniologias, ocupadas emdescrever e analisar as espcies culuralmene reconhecidas e,porano, infiniamene variadas conorme as dierenes axo-

    nomias locais e/ou naivas de aves. Havia uma cincia e muiasculuras, sem reconhecer-se, ainda, que a cincia (ocidenalmoderna) eia de/na culura (ocidenal moderna). Da mudanade uma orma de pensar a cincia para oura j nos ocupamosacima, ao desacar, sobreudo, as conribuies de Bruno Laour.

    Ademais, ese movimeno na direo de uma culurali-zao (que , por assim dizer, ambm uma guinada no rumo

    da poliizao) das cincias modernas oi eeivado aravs dapercepo, por pare dos anroplogos, de que era necessrioabandonar a ideia clssica de que raamos de invesigar vises demundo cuja premissa era a de um nico mundo(sico, maerial,natural) com mliplas descries culuralmene variveis dele em avor de uma aposa na descrio de ontologias quer seja,a coexisncia de muios e dierenes mundos a depender das

    culuras que os habiam. Esa sugeso, qualificada por alguns dehiper-relaivisa, vem ganhando adepos a parir de uma apro-

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    20/33

    AV |ISSN

    ximao cada vez maior enre a Anropologia e a Filosofia, emespecial no ocane abordagens enomenolgicas que se ine-ressam pela experinciados homens e mulheres em seus mun-

    dos, no seu conao com os seres com quem comparilham suasexisncias coidianas (Ingold, 2000).orna-se, desa orma, irrelevane a separao enre saberes

    e pricas: como disse, cera vez, Marshall Sahlins (1985), todaprtica terica, e vice-versa. O conhecimeno do mundo, por-ano, apenas emerge da experincia dese/nese mesmo mundo.E assim, inconveis esudos coninuam a maravilhar-se com aimpressionane riqueza dos conhecimenos bonicos e zoolgi-cos (enre ouros) das populaes dias radicionais ou indgenas.Assim, ambm, vrios auores m se debruado sobre o modocomo esses saberes minorizados relacionam-se com as ormasdominanes do conhecimeno e da ao sobre o mundo, inerpe-lando, dos ponos de visa naivos, os rigores, a objeividade, asregras e a validade universal do conhecimeno e das axonomiascienficas. Dese modo, os esudos em enobiologia aualmene

    desinam-se a sisemaizar sisemas de classificao naivosdo mundo odo sem pressupor equivalncias direas enre asespcies definidas pela biologia cienfica e os seres reconhecidospelas cincias indgenas (c. Jara, 1996).

    O desenvolvimeno de uma anropologia volada para associedades urbanas e indusriais do mundo conemporneo na-uralmene ensejou invesigaes e reflexes em orno da geso

    do animal e do vegeal enfim, do naural em conexos visoscomo em ore conrase com a naureza as cidades e os sabe-res e pricas a elas associadas: produo indusrial de animaise seus produos (Vialles, 1994; Dias, 2009), zoolgicos e jardins(Rohels, 2008; Bergues, 2011), relao enre humanos e animaisdomsicos e o mundo pet(Digard, 1990; Serpell, 1996), labora-rios e modelos animais (Laour & Woolgar, 1997; Rabinow,

    1997), agronegcio (Hech & Cockburn, 2011), ecologia e discursosambienalisas (Kirsch, 2006; Wes, 2006) movimenos de deesa

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    21/33

    |DOSSIER:NATURAL EZA CULTUR A

    animal (Arluke, 2006), biopiraaria, bioprospeco e ransgenia(Shiva, 2001; Hayden, 2003; Franklin, 2007), desasres e riscosambienais (Beck, 2010; Crae & Nutall, 2009), enre muios

    ouros. Muias dessas pesquisas iveram seu ineresse omena-do pelo influene rabalho do hisoriador Keih Tomas (2001),que reconsiuiu a hisria da relao enre homens e o mundonaural na Europa, desacando uma crucial inflexo na naurezadessas ineraes em uno do crescimeno das cidades e daspopulaes urbanas.

    Nese cenrio, de uma reflexo sobre as ormas de adminis-rao e conrole do animal em dierenes domnios das socie-dades urbanas conemporneas, insere-se o rabalho de CimaBevilaqua a respeio da caegoria jurdica dos ces perigosos,caso crisalino de enaiva de geso humana de cero conjunode animais com os quais comparilhamos os ambienes urbanospor meio do corpo de saberes e pricas do Direio.

    A auora pare de um projeo de lei apresenado na Cma-ra dos Depuados do Brasil em 1999 e que visava a proibio da

    reproduo e [d]a imporao de ces das raas rotweiler e pibull, puros ou mesios naquele pas, alm de ouras medidasdesinadas ao conrole de ceras raas de ces consideradasperigosas para as pessoas em uno de um conjuno enorecene de aaques aais. endo como documenos enogrficosese e ouros projeos de lei similares, bem como os regisros dassesses parlamenares em que as proposas oram discuidas, Be-

    vilaqua demonsra de que orma o Direio e a Legislao auamna definio e na crisalizao de noes acerca de seres no hu-manos no caso em ela, deerminadas raas caninas por meiode complexas negociaes ano inernas a eses campos quanona sua inerao com saberes populares e com o conhecimenocienfico. De odo modos, essas ineraes, ao menos no exodos projeos de lei, ocalizam as raas caninascomo critrio de

    inteligibilidade de aes que, de outra forma, permaneceriam incom-preensveis, o que coloca inescapveis conflios enre o legislador

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    22/33

    AV |ISSN

    e ouros saberes acerca desses animais e sugere queses impor-anes a respeio da incorporao de agncias no humanas noordenameno jurdico das sociedades nacionais conemporneas.

    Notas conclusivas

    Se a cultura o objeo por excelncia da Anropologia (Sahlins1997), a natureza e as enses, em variados nveis, enre am-bos os domnios desde h muio ocupa espao privilegiado nareflexo anropolgica. De incio como conrapare fixa, ineree dada da dinmica das produes culurais humanas: cenrio,erririo, conexo, maerial, recurso; depois, como areao ne-cessrio para a consruo de humanidades diversas a parir doconrase com consrues de naureza diversificadas: viso demundo, objeos do pensameno, maria prima para a abricaode cosmologias; hoje, como pare inegral do habiar o mundo,ariz-agene em simbiose e coevoluo com seres humanos, eses

    cuja exclusividade em vrias aculdades e diversos aspecos, ecuja cenralidade no uncionameno e no desino do planea, vmsendo demolidas no apenas por uma anropologia ineressadaem onologias e conceios naivos ou seja, nos dierenes mun-dos naivos, aproximando sua noo de cosmologia com aquelada sica erica (Viveiros de Casro, 2002b; Descola, 2005) comopelos esudos de anaomia, fisiologia e comporameno animal

    eologia, primaologia, neurobiologia, genica que advogamcom vigor, erica e poliicamene, aproximaes mais e maisradicais enre humanos e no humanos (Cavalieri & Singer, 1994;De Waal, 2010; Hurn, 2012).

    Os arigos reunidos nese volume de Av exemplificam ariqueza e a proficuidade de abordagens possveis quando ine-rrogamos as relaes enre as culuras humanas seus saberes e

    pricas e os seres/enes (animados e inanimados, vivos e mor-os, humanos, animais, esprios, areaos, monsros, acidenes

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    23/33

    |DOSSIER:NATURAL EZA CULTUR A

    geogrficos, enmenos climicos, microorganismos, oras epoderes e udo o mais) com os quais comparilhamos a vida e aexisncia nese planea erra e suas paisagens naural-culu-

    rais. Demonsram, com especial clareza, como a relao enrenaureza e culura permanece como um dos campos privilegia-dos ou pilares da reflexo anropolgica conempornea; se no omais undamenal de odos eles, ao colocar em discusso, sem-pre, a prpria naureza do que ser humano, moivo e razo daprpria Anropologia.

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    24/33

    AV |ISSN

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    25/33

    |DOSSIER:NATURAL EZA CULTUR A

    Bibliografia citada

    Alvares, Myriam Marins.

    1992. Ymiy, os esprios do cano: a consruo da pessoa na sociedade Maxakali.Campinas: IFCH-UNICAMP. Disserao de Mesrado.

    Alber, Bruce.

    2002. O ouro canibal e a queda do cu: uma criica xamnica da economia polica

    da naureza. In: Alber, Bruce & Ramos, Alcida (orgs.), Pacificando o branco: cosmo-

    logias do conao no nore-amaznico. So Paulo: Imprensa Oficial/Edunesp/IRD.

    Arhem, Kaj.1993. Ecosofia Makuna. In: F. Correa (org.), La selva humanizada: ecologa aler-

    naiva en el rpico Colombiano. Bogo: ICAN/CEREC, pp. 111-126.

    Arluke, Arnold.

    2006. Jus a Dog: Undersanding Animal Cruely and Ourselves. Philadelphia:

    emple Universiy Press.

    Bale, William

    1993. "Biodiversidade e os ndios Amaznicos." In: Carneiro da Cunha, Manuela &

    Viveiros de Casro, Eduardo (orgs.), Amaznia: Enologia e Hisria Indgena. So

    Paulo: NHII-USP-FAPESP, pp. 385-393.

    1998. (edior). Advances in hisorical ecology. New York: Columbia Universiy Press.

    1999. Fooprins o he ores: Kaapor ehnoboany he hisorical ecology o plan

    uilizaion by an Amazonian people. New York: Columbia Universiy Press.

    Bale, William & Erickson, Clark (eds.)

    2006. ime and Complexiy in Hisorical Ecology: Sudies in he NeoropicalLowlands. New York: Columbia Universiy Press.

    Baraay, ric

    2012. Le poin de vue animal: une aure version de lhisoire. Paris: diions du Seuil.

    Barbosa de Almeida, Mauro

    1999. Simeria e enropia: sobre a noo de esruura em Lvi-Srauss. In: Revisa

    de Anropologia, vol. 42 (1-2).

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    26/33

    AV |ISSN

    Baeson, Gregory

    1972. Seps o an Ecology o Mind: Colleced Essays in Anhropology, Psychiary,

    Evoluion, and Episemology. Chicago: Universiy O Chicago Press.

    Beck, Ulrich2010. Sociedade de risco: rumo a oura modernidade. Rio de Janeiro: Ediora 34.

    Bergues, Marine

    2011. En son jardin: une ehnologie du fleurissemen. Paris: diions de la Maison

    des Sciences de l'Homme.

    Bird-David, Nuri

    1990. Te giving environmen: anoher perspecive on he economic sysem o

    gaherer-hunhers. In: Curren Anhropology, vol. 31 (2), pp. 189-196.

    Brighman, Rober

    1993. Graeul prey: Rock Cree human-animal relaionships. Berkeley: Universiy

    o Caliornia Press.

    Carneiro da Cunha, Manuela & Almeida, Mauro W. Barbosa de (orgs.)

    2002. Enciclopdia da Floresa. O Alo Juru: pricas e conhecimenos das popu-

    laes. So Paulo: Companhia das Leras.

    Carsen, Jane

    2003 Afer Kinship. Cambridge: Cambridge Universiy Press.

    Cassidy, Rebecca & Mullin, Molly (orgs.)

    2007. Where he wild hings are now? Domesicaion reconsidered. Oxord: Berg.

    Cavalieri, Paola & Singer, Peer (eds.)1994. Te Grea Ape Projec: equaliy beyond humaniy. New Yor: S. Marins

    Griffin.

    Chouquer, Grard (ed.)

    2010. Proliranes naures. In: udes Rurales, N 185.

    Collingwood, Robin George

    1945. Te idea o naure. Oxord: Clarendon Press.

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    27/33

    |DOSSIER:NATURAL EZA CULTUR A

    Crae, Susan & Nutall, Mark.

    2009. Anhropology and Climae Change: From Encouners o Acions. Walnu

    Creek: Lef Coas Press.

    Cronon, William.2003. Changes in he land: indians, coloniss, and he ecology o New England. New

    York: Hill and Wang.

    Crosby, Alfred

    2002. [1986] Imperialismo ecolgico: a expanso biolgica da Europa: 900-1900. So

    Paulo: Companhia das Leras.

    2003. [1973] Te Columbian exchange: biological and culural consequences o 1492.

    Wespor: Praeger Publishers.

    Denevan, William

    1992. Te prisine myh: he landscape o he Americas in 1492. In: Annals o he

    Associaion o American Geographers, 82 (3), pp. 369-385.

    Descola, Philippe

    1986. La naure domesique. Symbolisme e praxis dans l'cologie des Achuar.

    Paris: Ediions de la Maison des Sciences de L'Homme.

    2005. Par-del Naure e Culure. Paris: Gallimard.

    Descola, Philippe & Plsson, Gsli (eds.).

    1996. Naure and Sociey: anhropological perspecives. London: Rouledge.

    De Waal, Frans

    2010. A era da empaia - Lies da naureza para uma sociedade mais genil. So

    Paulo: Companhia das Leras.

    Dias, Juliana Vergueiro

    2009. O rigor da more: a consruo simblica do animal de aougue na produo

    indusrial brasileira. Disserao (Mesrado em Anropologia Social) Universida-

    de Esadual de Campinas, Campinas.

    Digard, Jean-Pierre

    1990. Lhomme e les animaux domesiques. Anhropologie dune passion. Paris: Fayard.

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    28/33

    AV |ISSN

    Fagan, Brian

    2009. O aquecimeno global: a influncia do clima no apogeu e declnio das civili-

    zaes. So Paulo: Larousse.

    Fauso, Carlos & Heckemberger, Michael (eds.)2007. ime and Memory in Indigenous Amazonia: Anhropological Perspecives.

    Gainesville: Universiy Press o Florida.

    Franklin, Sarah

    2007. Dolly Mixures: Te Remaking o Genealogy. Durham: Duke Universiy Press.

    Gell, Alfred

    1998. Ar and agency: an anhropological heory. Oxord: Oxord Universiy Press

    Gow, Peer

    2001. An Amazonian Myh and Is Hisory. Oxord: Oxord Universiy Press.

    Gregor, Tomas & uzin, Donald (eds.)

    2001. Gender in Amazonia and Melanesia: An Exploraion o he Comparaive

    Mehod. Berkeley: Universiy o Caliornia Press.

    Hayden, Cori2003. When Naure Goes Public: Te Making and Unmaking o Bioprospecing in

    Mexico. Princeon: Princeon Universiy Press.

    Haraway, Donna

    1990. Simians, Cyborgs, and Women: Te Reinvenion o Naure. London: Rouledge.

    2003. Te companion species manieso: dogs, people, and significan oherness.

    New York: Prickly Paradigm Press.

    2008. When species mee. Minneapolis: Universiy o Minnesoa Press.

    Hech, Susanna & Cockburn, Alexander

    2011. Te Fae o he Fores: Developers, Desroyers, and Deenders o he Amazon.

    Chicago: Universiy o Chicago Press.

    Henare, Amiria; Holbraad, Marin & Wasell, Sari (eds.).

    2006. Tinking Trough Tings: Teorising Areacs Ehnographically.

    London: Rouledge.

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    29/33

    |DOSSIER:NATURAL EZA CULTUR A

    Howell, Signe

    1996. Naure in culure or culure in naure? Chewong ideas o humans and

    oher species. In: Descola, Philippe & Plsson, Gsli (eds.), Naure and sociey:

    anhropological perspecives. Londres: Rouledge, pp. 127-144.

    Holbraad, Marin & Willerslev, Rane (eds.)

    2007. Inner Asian perspecivisms. In: Inner Asia, vol. 9.

    Hurn, Samanha

    2012. Humans and oher animals: cross-culural perspecives on human-animal

    ineracions. London: Pluo Press.

    Ingold, im

    1994. "Humaniy and Animaliy". In: im Ingold (ed.), Companion Encyclopedia o

    Anhropology. Londres, Rouledge, pp. 14-32.

    1996. (ed.) Key debaes in Anhropology. London: Rouledge.

    2000. Te Percepion o he Environmen: Essays in Livelihood, Dwelling and Skill.

    London: Rouledge.

    2006. Rehinking he animae, re-animaing hough. In: Ehnos, 71(1), pp. 9-20.

    2007. Lines: a brie hisory. London: Rouledge.

    2011 Being Alive: Essays on Movemen, Knowledge and Descripion. London: Rouledge.

    Jara, Fabiola.

    1996. El camino del kumu: ecologia y riual enre los Akuriyo de Surinam. Quio:

    Abya-Yala.

    Kirksey, S. Eben & Helmreich, Sefan.

    2010. Te emergence o mulispecies ehnography. In: Culural Anhropology,

    vol. 25 (4), pp. 545576.

    Kirsch, Suar.

    2006. Reverse anhropology: Indigenous analysis o social and environmenal

    relaions in New Guinea. Sanord: Sanord Universiy Press.

    Knigh, John (ed.).

    2001. Naural enemies: People-Wildlie Conflics in Anhropological Perspecive.

    London: Rouledge.

    2005. (ed.) Animals in person: culural perspecives on human-animal inimacies.

    Oxord: Berg.

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    30/33

    AV |ISSN

    Kohn, Eduardo

    2007. How dogs dream: Amazonian naures and he poliics o ransspecies. In:

    American Ehnologis, vol. 34 (1), pp. 3-24.

    Kulick, Don2009. Animais gordos e a dissoluo da roneira enre as espcies. In: Mana,

    15(2), pp. 481-508.

    Kuper, Adam

    2009. Culura, a viso dos Anroplogos. Bauru: Edusc.

    Laour, Bruno

    1994. Jamais omos modernos: ensaio de anropologia simrica. Rio de Janeiro:

    Ediora 34.

    2001. A ecologia polica sem a naureza?. In: Projeo Hisria, n. 23, pp. 31-44.

    2004. Policas da naureza: como azer cincia na democracia. Bauru: Edusc.

    2005. Reassembling he Social: An Inroducion o Acor-Nework-Teory. Oxord:

    Oxord Universiy Press.

    2009. Perspecivism: ype or bomb?. In: Anhropology oday, vol. 25 (2), pp. 1-2.

    Laour, Bruno & Woolgar, Seve

    1997. A vida de laborario: a produo dos aos cienficos. Rio de Janeiro:Relume Dumar.

    Leie Lopes, Jos Srgio (Coord.); Anonaz, Diana; Prado, Rosane & Silva, Glucia.

    2004. A ambienalizao dos conflios sociais: paricipao e conrole pblico da

    poluio indusrial. Rio de Janeiro: Relume Dumar.

    Lvi-Srauss, Claude.

    1976. Raa e hisria. In: Anropologia esruural II. Rio de Janeiro: empo Brasi-leiro, pp. 328-366.

    1982. [1949] As esruuras elemenares do parenesco. Perpolis: Vozes.

    1997. [1962]. O Pensameno Selvagem. Campinas: Papirus.

    Lima, nia Solze

    1996. O dois e seu mliplo: reflexes sobre o perspecivismo em uma cosmologia

    upi. In: Mana, vol.2 (2), pp. 21-47.

    1999. O pssaro de ogo.In: Revisa de Anropologia, vol.42 (1-2), pp. 113-132.

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    31/33

    |DOSSIER:NATURAL EZA CULTUR A

    Lovelock, James

    2006a. A Vingana de Gaia. So Paulo: Inrnseca.

    2006b. Gaia - Cura para um Planea Doene. So Paulo: Ediora Culrix.

    Maus, Raymundo Heraldo.2012. O perspecivismo indgena somene indgena? Cosmologia, religio, medicina e

    populaes rurais. In: Mediaes: Revisa de Cincias Sociais, vol. 17 (1), pp. 33-61.

    Melville, Elinor.

    1999. A plague o sheep: environmenal consequences o he conques o Mexico.

    Cambridge: Cambridge Universiy Press.

    Pelosse, Valenin & Micoud, Andr (orgs.)

    1993- Sauvage e Domesique. In: udes Rurales, n. 129-130.

    Piarch, Pedro

    2010. Te Jaguar and he Pries: an ehnography o zelal Souls. Ausin: Universiy

    o exas Press,

    2011. El cuerpo y el geso. Ensayos de anropologa indgena. Mxico, Fondo de

    Culura Econmica.

    Posey, Darrell A. Overal, William Leslie; Clemen, Charles R. & Plokin, Mark (orgs.).1990. Ehnobiology: Implicaions and applicaions, 2 Volumes (Proceedings o he

    Firs Inernaional Congress o Ehnobiology - Belem, 1988). Belm: MPEG.

    Rabinow, Paul

    1997. Making PCR: A Sory o Bioechnology. Chicago: Universiy o Chicago Press,

    Rohfels, Nigel

    2008. Savages and Beass: Te Birh o he Modern Zoo. Balimore: Te Johns Hop-kins Universiy Press,

    Sahlins, Marshall

    1985. Ilhas de hisria. Rio de Janeiro: Zahar.

    1997. O pessimismo senimenal e a experincia enogrfica: por que a culura no

    um objeo em via de exino. In: Mana, vol. 3 (1) (pare I) e vol. 3 (2) (pare 2).

    Sanos-Granero, Fernando (ed.)

    2009. Te Occul Lie o Tings: Naive Amazonian Teories o Maerialiy and

    Personhood. ucson: Universiy o Arizona Press.

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    32/33

    AV |ISSN

    Seeger, Anhony, DaMata, Robero. & Viveiros de Casro, Eduardo.

    1979. A consruo da pessoa nas sociedades indgenas brasileiras. Boleim do

    Museu Nacional, n. 32.

    Serpell, James1996. In he company o animals: a sudy o human-animal relaionships. Cambrid-

    ge: Cambridge Universiy Press.

    Shiva, Vandana

    2001. Biopiraaria: a pilhagem da naureza e do conhecimeno. Perpolis: Vozes.

    Sengers, Isabelle

    2002. A inveno das cincias modernas. Rio de Janeiro: Ed. 34.

    Srahern, Marilyn

    1992. Afer Naure: English Kinship in he Lae wenieh Cenury. Cambridge:

    Cambridge Universiy Press.

    1999. Propery, subsance and effec: anhropological essays on persons and hings.

    London: Alhone Press.

    Surralls, Alexandre & Garcia Hierro, Pedro

    2005. Te Land Wihin: Indigenous erriory and he Percepion o he Environ-men. Copenhagen: Inernaional Work Group or Indigenous Affairs,

    Tomas, Keih

    2001. O homem e o mundo naural: mudancas de aiude em relacao as planas e aos

    animais (1500-1800). So Paulo: Companhia das Leras,

    Velho, Ovio

    2001. De Baeson a Ingold: passos na consiuio de um paradigma ecolgico.Mana, vol.7 (2), pp. 133-140,

    Vialles, Noelie

    1994. Animal o edible. Cambridge: Cambridge Universiy Press.

    Viveiros de Casro, Eduardo

    1996. Os pronomes cosmolgicos e o perspecivismo amerndio. In: Mana, vol. 2

    (2), pp. 115-144.

    2002a. Perspecivismo e mulinauralismo na Amrica indgena. In: A incons-

    ncia da alma selvagem e ouros ensaios de anropologia. So Paulo: Cosac & Naiy.

  • 7/25/2019 A relao entre natureza e cultura

    33/33

    2002b. O naivo relaivo. In: Mana, vol.8 (1), pp. 113-148.

    2004. Perspecival anhropology and he mehod o conrolled equivocaion. In

    ipii, v. 2, n. 2, pp. 3-23.

    2012. Cosmological perspecivism in Amazonia and elsewhere. Maserclass Series

    1. Mancheser: HAU Nework o Ehnographic Teory.

    Wagner, Roy.

    2010. [1975] A inveno da culura. So Paulo: Cosac & Naiy.

    2012. Facs orce you o believe in hem; perspecives encourage you o believe ou

    o hem. An inroducion o Viveiros de Casros magiserial essay. In: Viveiros

    de Casro, Eduardo. In: Cosmological perspecivism in Amazonia and elsewhere.

    Maserclass Series 1. Mancheser: HAU Nework o Ehnographic Teory.

    Wawzyniak, Joo Valenin

    2003. Engerar: uma caegoria cosmolgica sobre pessoa, sade e corpo. In Ilha,

    vol. 5 (2), pp. 33-55.

    Welzer, Harald

    2010. Guerras climicas: por que maaremos e seremos moros no sculo 21. So

    Paulo: Gerao Ediorial.

    Wes, Paige2006. Conservaion Is Our Governmen Now: Te Poliics o Ecology in Papua New

    Guinea. Durhan: Duke Universiy Press.

    Willerslev, Rane

    2007. Soul huners: huning, animism, and personhood among Siberian Yukaghirs.

    Berkeley: Universiy o Caliornia Press.

    Wilson, Edward O.1994. Diversidade da vida. So Paulo: Companhia das Leras.

    2008. A Criao: como salvar a vida na erra. So Paulo: Companhia das Leras.

    Zhouri, Andra (org.)

    2011. As enses do Lugar: hidrelricas sujeios e licenciameno Ambienal. Belo

    Horizone: Ediora da UFMG.

    Zhouri, Andra & Laschefski, Klemens (orgs.)

    2010. Desenvolvimeno e Conflios Ambienais. Belo Horizone: Ediora da UFMG.