A Recreação Do Mundo

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Primeiro tom - da pele A pele emerge da água doce à armadura Quando o Criador fez o verbo virar carne! Guardou a pele, se doce, toda a doçura Que do choro salgado o mar nasceu em farne. Foram as lágrimas a origem destes mares... A mulher já coberta em seu primeiro tom. As curvas foram ondas no leito onde estares O resto da viagem foi divino, o dom! Dentro destas águas, as fluidas e vibrantes, A alma da mulher semeia o mundo inteiro. Ninguém nasce sem ela, e eu sem ela beiro Este precipício - criado por Deus antes, Ao revesti-la teu corpo num tom primeiro, Manto sagrado do profano navegante. ________ Segundo tom - do púbis feminino Se tinha à camada todo o Sol sobre a tela, Esculpida em seu dorso, a mulher companheira, O jardim e o seu homem pediam por ela, Mas não dentro deles: uma obra derradeira. Da pele antropoide raiou outra visão, Com qu'os fios da esperança perante os juízos São fios de navalha nas fontes de Sansão: A força incontente sob'os seus ventres lisos! No óleo eterno da pintura mais sagrada, Tratou Deus de pincelar com toque especial Onde o prazer nesta mulher é bem e mal? Ao invés de mostrar-se, sua pele esposada Pelo olhar curioso, esconde o animal, À imagem e semelhança ainda inacabadas. ________ Terceiro tom - do seio materno No preparo “incontinenti”, selada a intensa chama, Zelou-se dar carinho, além das queimaduras! Se o fogo da paixão é baixo... alto é a mama, Cobrindo o seio farto de razões impuras... Viveu num paradoxo a senda da mulher! Depois de ter na pele o rio, e bruta flor! Depois da revisão, dobrada a humana fé, Elaborada o lótus do cósmico amor.

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Primeiro tom - da peleA pele emerge da gua doce armaduraQuando o Criador fez o verbo virar carne!Guardou a pele, se doce, toda a douraQue do choro salgado o mar nasceu em farne.Foram as lgrimas a origem destes mares...A mulher j coberta em seu primeiro tom.As curvas foram ondas no leito onde estaresO resto da viagem foi divino, o dom!Dentro destas guas, as fluidas e vibrantes,A alma da mulher semeia o mundo inteiro.Ningum nasce sem ela, e eu sem ela beiroEste precipcio - criado por Deus antes,Ao revesti-la teu corpo num tom primeiro,Manto sagrado do profano navegante.________Segundo tom - do pbis femininoSe tinha camada todo o Sol sobre a tela,Esculpida em seu dorso, a mulher companheira,O jardim e o seu homem pediam por ela,Mas no dentro deles: uma obra derradeira.Da pele antropoide raiou outra viso,Com qu'os fios da esperana perante os juzosSo fios de navalha nas fontes de Sanso:A fora incontente sob'os seus ventres lisos!No leo eterno da pintura mais sagrada,Tratou Deus de pincelar com toque especialOnde o prazer nesta mulher bem e mal?Ao invs de mostrar-se, sua pele esposadaPelo olhar curioso, esconde o animal, imagem e semelhana ainda inacabadas.________Terceiro tom - do seio maternoNo preparo incontinenti, selada a intensa chama,Zelou-se dar carinho, alm das queimaduras!Se o fogo da paixo baixo... alto a mama,Cobrindo o seio farto de razes impuras...Viveu num paradoxo a senda da mulher!Depois de ter na pele o rio, e bruta flor!Depois da reviso, dobrada a humana f,Elaborada o ltus do csmico amor.Por que agora ela com o seu manancial!Por que o fogo em chamas corre-lhe perene!Por que se sofre o homem, que a dor no lhe apeneQuando no seio farto materno e fractalRecostar, se curar... ouvida a outra sirene!Que a Lua no lhe doura: o choro matinal!___________Quarto tom - da silhueta delaFloro de todos os continentes fora ela!E toda relva nesta selva a desbravara...Se comeu da fonte proibida, a janelaDe tantas outras fontes ela abriu, to rara!Que homem neste mundo ousaria as suas curvas?Com qu'ousadia? Com que nuanas ousariaBeijar a boca da sorte e v-la mais turva?Talvez em quem fossem esconder-se noite e dia!Formam a silhueta: Sol, Luas, rios e montes!Esquecido o paraso! Deus dela nos lembrouQue multipliquemos e jazamos de amor...Se face Dele pecamos, use-se a ponte:Por estas linhas e tecidos do Senhor,Que nos encontremos e que ela nos encontre.___________Quinto tom - do olharOs continentes do teu corpo separados,Nevoluo da essncia, sob as aparnciasDe ser frgil, de ser matria, ser criadoPara recrear, no findam toda a experincia!Matria me! Alm de me, tu tens o Pai!Brilha em teus olhos o poder do eterno esprito,Corre em meandros a magia do que vaiE do que vem: no acabou teu ponto mstico!No sem antes adentrarem-lhes os poemas,E alcanarmos - juntos - a colina da tua almaCujo cimo eu o vejo quando me acalmasAbrindo tuas plpebras e olhando at mim!Lembro do corpo da Pangeia, arrimo o temaDa costela e da carne: o Amor teu sem fim!_____________Sexto tom - da faceNeste final de era, ela a recreao!Contente a natureza e o homem, agora a tendo!Fora do seu corpo, dentro, em seu corao!A poesia ora escrita segue o mundo lendo...O deleite da pele ao pbico conforto...O leite da mama na ceia das curvas...Teu olhar? A razo por detrs do teu portoOnde para tranquila a alma s e turva.At chegar ao claro da face de Deus!...Despejos de iluso feio magnnima!Receios mortos, o rearranjo do breu...- Sejam felizes, homens, tomem vossa anima!Cuidem do belo com o bem se lhe estampaCada mulher no rosto seu que ao homem encampa._______Stimo tom - do coraoMaria! Cuidai de todo homem que te pede!Ialod! Depurai as mgoas se lhe chora!Diana! Arrimai o brio quando vs fordes sedeDe consolo: no o abandoneis nesta hora.

Por que eles matam uns aos outros carregadosDe tamanhas iluses de serem os mais fortesAnte o ventre feminino, nele gerados,Sucumbem frgeis, e cados, e h morte...

Oh! Mas quo Grandioso Deus! Firme em Suas Alturas!Quanto amor nos deu, dando eterno fortes chaves!De portas e janelas e mistrios... Ave!

Basta bater porta... eis quo Mistrio cura!Basta abrir a janela pra quo seu canto graveNa dura rocha humana a lquida pintura.

Vincius Soares Carvalho