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  • 1 Resumos Literrios Conhecimento Especfico A Rainha das Cincias Gilberto Geraldo Garbi

    A Rainha das Cincias Gilberto Geraldo Garbi

    1 - OS PRIMRDIOS DA MATEMTICA

    A primeira pergunta que nos surge ao

    iniciar o estudo da Histria da Matemtica

    : Quando, como e onde comeou a

    Matemtica? Da mesma forma que as duas

    anteriores, esta questo no encontra uma

    resposta fcil, mas podemos obter bons

    indcios olhando sumariamente as histrias

    do Universo, da vida sobre a Terra e da

    dramtica trajetria do Homem desde o seu

    surgimento. Com o surgimento da

    Agricultura, chegamos a um marco crucial

    na Histria da Humanidade. Ao aprender a

    cultivar as plantas para delas obter

    alimentos e insumos, o homem deu incio

    primeira grande revoluo em sua forma de

    viver.

    A Agricultura permitiu o aumento mais

    rpido da populao, fixou o Homem terra

    e obrigou-o a organizar-se socialmente de

    forma mais complexa: foi preciso aprender

    a planejar e a dividir o trabalho, assim como

    a compartilhar a terra e seus frutos. O

    Homem foi forado tambm, a

    compreender melhor os ciclos das estaes

    do ano e contar o tempo por meio de

    calendrios. Isso o levou a observar os

    astros e a aprimorar sua percepo sobre

    aquilo a que chamamos nmero.

    Se fizesse sentido dar uma resposta

    menos imprecisa sobre como e quando

    comeou a Matemtica, poderamos dizer

    que foi com o incio da Revoluo Agrcola,

    por volta de 9000 a.C.

    Tal resposta, entretanto, deve ser recebida

    com muita cautela porque se sabe, por

    exemplo, que muitos milnios antes

    daquela revoluo j existia razovel

    volume de comrcio entre pessoas e tribos

    e nenhum comrcio se faz sem rudimentos

    de Aritmtica.

    Nas razes da escrita sempre estiveram

    presentes as necessidades de se efetuar

    assentamentos numricos, em especial os

    referentes produo, estoques,

    transaes comerciais e arrecadao de

    impostos. Alguns especialistas, inclusive,

    acreditam que a escrita foi criada

    primordialmente para tornar possveis os

    registros numricos. Somente mais tarde

    passou a ser utilizada para os relatos

    histricos dos povos e de seus soberanos

    2 - MESOPOTMIOS, EGPCIOS E CHINESES

    Sobre egpcios e mesopotmios,

    preciso inicialmente esclarecer um detalhe

    importante: enquanto o Egito foi um pas

    independente, ao longo de pelo menos trs

    milnios, at ser conquistado pelo rei persa

    Cambises, em 525 a.C.. J a Mesopotmia

    foi sempre uma regio muito conturbada

    por guerras entre diversos povos da regio,

    cada um impondo-se temporariamente

    sobre seus antecessores.

    A inveno da escrita, em meados do

    quarto milnio a.C., deu grande impulso

    Matemtica. Os escribas foram os primeiros

    a adquirir conhecimentos sobre os

    nmeros, at porque era a eles que as

    pessoas certamente recorriam sempre que

    enfrentavam algum problema mais difcil.

    Por sua vez, foram os arquitetos e

    construtores primitivos os pioneiros na

    soluo das questes bsicas da Geometria.

    fcil compreender que as primeiras

    solues de problemas aritmticos e

    geomtricos deram-se de maneira prtica,

    sem preocupaes com formalidades

    tericas. Foi assim, por experimentao,

    induo e algum raciocnio, que a

    Matemtica comeou.

    fato que os mais antigos

    documentos, indubitavelmente

    matemticos, que chegaram at ns so

    tabletes sumrios de barro cozido, datando

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    de aproximadamente 2200 a.C., mas como

    os egpcios escreviam sobre papiros

    facilmente degradveis, eles podem ter

    produzido documentos ainda mais antigos e

    que se perderam. preciso lembrar,

    entretanto, que existem tabletes sumrios

    de cerca de 3500 a.C., quando ainda eram

    usados smbolos anteriores aos

    cuneiformes, que j traziam registros

    numricos.

    Os babilnios j sabiam resolver

    equaes do primeiro e do segundo graus

    (estas pelo mtodo do completamento do

    quadrado), conheciam a propriedade geral

    dos tringulos retngulos hoje chamada de

    Teorema de Pitgoras, calculavam

    corretamente certas reas e volumes,

    calcularam a diagonal de um quadrado de

    lado unitrio com a excelente aproximao

    1,414213 (provavelmente por algum

    mtodo iterativo), etc.

    Alguns documentos que chegaram at

    ns mostram que, no comeo do segundo

    milnio a.C., o nvel de conhecimentos

    egpcios j era bastante elevado. Dois

    destes documentos tornaram-se

    particularmente clebres e contm, ambos,

    diversos problemas de Aritmtica e

    Geometria com suas respectivas solues. O

    primeiro deles o chamado Papiro de

    Ahmes (ou Rhind), escrito por volta de 1650

    a.C. pelo escriba Ahmes e descoberto no

    sculo XIX pelo egiptlogo escocs A. Henry

    Rhind. O segundo mais importante

    documento matemtico deixado pelos

    egpcios o chamado Papiro de Moscou.

    3 - TALES, DE MILETO

    A Jnia, um conjunto de colnias nas

    ilhas e no litoral da Anatlia, foi o

    verdadeiro bero da Filosofia e da

    Matemtica dedutiva. As causas de um dia

    haver surgido de l uma verdadeira febre

    intelectual em todas as direes em que o

    pensamento humano pode se voltar

    constituem, talvez, o maior mistrio da

    Histria da Civilizao.

    Tambm na Magna Grcia a Filosofia e

    a Matemtica desenvolveram-se antes que

    Atenas acordasse para elas.Na cidade Jnia

    de Mileto (hoje em territrio pertencente

    Turquia), viveu um homem admirvel, mais

    tarde considerado um dos Sete Sbios da

    Grcia Antiga, chamado Tales. Ele

    considerado o primeiro filsofo e o primeiro

    matemtico grego e provvel, mas no

    aceito unanimemente, que tenha vivido

    entre 640 a.C. e 564 a.C.

    Embora a Filosofia, a Astronomia e a

    Matemtica fossem suas paixes, a

    atividade rotineira de Tales era o comrcio.

    Nenhum de seus trabalho chegou at ns

    no original, de modo que impossvel

    avaliar como suas provas foram construdas

    ou mesmo se elas poderiam ser aceitas

    modernamente, mas o importante, o

    lanamento da semente da Matemtica

    Dedutiva, j havia sido feito.

    4 PITGORAS, DE SAMOS (E, DEPOIS,

    CROTONA)

    A cerca de 50 quilmetros de Mileto,

    na ilha Jnia de Samos, nasceu o homem

    que veio a emprestar seu nome ao mais

    conhecido dentre todos os teoremas da

    Matemtica: Pitgoras.

    Tambm sobre ele o que se conta um

    misto de fatos e lendas, sendo muito difcil

    distinguir uns dos outros. O perodo em que

    transcorreu sua vida no conhecido com

    exatido, mas conjectura-se que tenha sido

    de 586 a.C. a 500 a.C. Alguns autores

    antigos afirmam que houve contato pessoal

    entre Pitgoras e Tales, mas outros

    historiadores tm dvidas sobre isso.

    Entretanto, certo que Pitgoras foi

    fortemente influenciado pelas ideias de

    Tales.

    A regio de Anatlia onde se situava Mileto estava, em meados do sculo VI a.C.,

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    vivendo um perodo de grande turbulncia em razo dos movimentos de formao e expanso do imprio Persa. Samos ainda resistiu at 520 a.C. mas, percebendo tal clima de insegurana e detestando o tirano Polcrates, que governava a ilha, Pitgoras deixou-a e, aps passar algum tempo no Egito e, talvez, na Mesopotmia, mudou-se para a cidade de Crotona, ao Sul da pennsula italiana. Naquela cidade da Magna Grcia Pitgoras fundou, por volta de 540 a.C., uma escola voltada ao estudo da Filosofia, das Cincias Naturais e da Matemtica. Embora Tales tenha sido o primeiro a

    declarar que as verdades matemticas

    devem ser provadas pelo raciocnio,

    acredita-se que foram os pitagricos os

    primeiros a produzir demonstraes

    razoavelmente rigorosas.

    A irmandade dos pitagricos tornou-se

    muito poderosa e influente em Crotona at

    que a populao revoltou-se contra ela.

    Pitgoras foi forado a refugiar-se na cidade

    de Metaponto, tambm na Magna Grcia,

    onde, diz-se, que morreu assassinado

    durante uma rebelio popular.

    5 OS PRPLATNICOS

    A crena de que o mundo era formado

    por nmeros inteiros e por relaes entre

    eles estava muito arraigada na filosofia dos

    pitagricos. Um dia, no entanto, estudando

    qual deveria ser a medida da diagonal do

    quadrado e supondo que ela pudesse ser

    expressa pela relao entre dois inteiros,

    chegou-se a um absurdo. Estabeleceu-se,

    ento, outra forma de se referir a uma

    relao entre grandezas que no possa ser

    expressa por um nmero racional dizer

    que as duas grandezas no admitem uma

    unidade comum de medida, ou seja, que

    elas so incomensurveis.

    O inesperado aparecimento dos

    irracionais causou forte impacto entre os

    pitagricos porque, at ento, todas as

    provas dos teoremas envolvendo

    propores e semelhana haviam suposto

    que, dados dois segmentos, duas reas ou

    dois volumes quaisquer, sempre existia

    entre suas medidas uma relao exprimvel

    por meio de nmeros inteiros. Vrias lendas

    surgiram a respeito desse episdio.

    Uma delas diz que os pitagricos

    lanaram Hipasus ao mar, afogando-o por

    haver revelado a estranhos aquele fato

    desconcertante. Outra diz que Hipasus

    morreu em um naufrgio, castigado pelos

    deuses pelo mesmo motivo.

    6 OS TRS PROBLEMAS CLSSICOS

    A Trisseco do ngulo, a Quadratura

    do Crculo e a Duplicao do Cubo passaram

    para a Histria como Os Trs Problemas

    Clssicos e geraram uma infinidade de

    estudos que ajudaram a promover avanos

    na Geometria. Entretanto, a civilizao

    grega desapareceu sem que as solues

    fossem encontradas. Somente no sculo

    XIX, passados mais de 23 sculos, os

    matemticos modernos resgataram a honra

    de seus colegas gregos, provando que as

    solues no foram encontradas

    simplesmente porque as construes so

    impossveis com rgua e compasso (a rigor,

    a trisseco do ngulo possvel apenas em

    casos particulares, como 90, 180, etc.,

    sendo impossvel de uma forma geral).

    7 PLATO E SEUS DISCPULOS

    Plato (427 a.C. 347 a.C.), cujo

    verdadeiro nome era Arstocles, foi um dos

    mais brilhantes, lcidos e nobres espritos j

    produzidos por nossa espcie. Acima

    de tudo um grande filsofo, Plato soube

    reconhecer o valor da Matemtica no

    apenas por ser indispensvel

    compreenso do mundo fsico mas,

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    tambm, por habituar seus praticantes a

    conduzir o raciocnio de maneira lgica.

    8 EUCLIDES E OS ELEMENTOS

    Em 338 a. C., Filipe II da Macednia

    venceu as tropas reunidas de Atenas e

    Tebas e conseguiu colocar sob seu comando

    a maioria das cidades-estados gregas.

    Entretanto, Filipe II foi assassinado e o

    trono coube a seu filho de apenas 20 anos,

    ex-aluno de Aristteles, que entrou para a

    Histria como Alexandre, o Grande, o maior

    general da Antiguidade. Em 334 a.C.,

    Alexandre atravessou o Helesponto e, em

    sete anos, conquistou a Prsia e chegou ao

    Norte da ndia. O Egito foi tomado em 332

    a.C. e ali, no delta do Nilo, ele fundou uma

    cidade porturia que recebeu o nome de

    Alexandria. Alexandre morreu em 323 a.C.

    Seu imprio foi dividido entre os trs

    maiores de seus generais: Seleuco (Sria,

    Mesopotmia, Anatlia e planalto da

    Prsia), Antgono (Grcia continental e

    Macednia) e Ptolomeu (Egito). Assim

    comeou o Helenismo, a disseminao da

    cultura grega no Oriente Prximo.

    Por volta de 300 a.C., Ptolomeu,

    estimulado por um filsofo chamado

    Demtrio, de Falero, decidiu fazer de

    Alexandria um grande centro do saber e da

    cultura. Mudando-se para Alexandria,

    idealizou criar ali um centro de estudos

    muito superior aos de outras cidades do

    mundo grego, em especial dotando-o de

    uma grande biblioteca. Com o apoio de

    Ptolomeu, Demtrio comeou a atrair para

    Alexandria os maiores pensadores do

    mundo grego e foi assim que, por volta de

    300 a.C., um matemtico de nome Euclides

    passou a ensinar a Geometria ali.

    Pouco se sabe sobre Euclides. Com

    segurana, podemos apenas dizer que foi

    diretor da rea de Matemtica do Museu de

    Alexandria, que l ensinou os Elementos e

    outros livros e que esteve no auge de sua

    genialidade por volta de 300 a.C. Parece,

    tambm, no haver dvidas quanto aos

    objetivos de Euclides ao escrever seus

    Elementos, em 13 livros: tratava-se de

    material didtico para o ensino de

    Geometria (elementar) aos iniciantes.

    9 ARQUIMEDES, DE SIRACUSA

    Arquimedes, nascido em 287 a.C. na

    cidade de Siracusa, na ilha da Siclia, foi o

    maior gnio da Antiguidade. Seus feitos nos

    campos da Matemtica e da ento

    incipiente Fsica foram admirveis e

    credenciavam-no a integrar o seleto rol dos

    trs maiores matemticos de todos os

    tempos, junto a Isaac Newton (1642 1727)

    e Carl Friedrich Gauss (1777 1855).

    Arquimedes foi o inventor da polia

    composta, por meio da qual uma fora

    menor pode ser multiplicada (s custas da

    reduo da velocidade de deslocamento) de

    modo a superar outra maior.

    Arquimedes morreu em 212 a.C., aos

    75 anos, vitimado pela 2 guerra Pnica,

    entre Roma e Cartago. O rei de Siracusa

    colocou-se ao lado de Cartago e, em

    consequncia, a cidade foi atacada pelos

    exrcitos de Roma, comandados pelo

    general Marcelo.

    No que diz respeito aos navios

    romanos, puseram-se ao lado das muralhas

    litorneas para que os soldados as

    escalassem, gigantescos postes saram dos

    muros sobre os navios e afundaram alguns,

    soltando sobre eles grandes pesos. Outros

    foram levantados para o ar por um brao de

    ferro... e mergulhados no fundo do mar.

    Ao final, os romanos foram reduzidos a tal

    estado de alarme que bastava verem um

    pedao de corda ou uma pea de madeira

    aparecer por cima da muralha para

    comear a gritar: cuidado, Arquimedes est

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    apontando uma de suas armas contra ns.

    (Plutarco)

    Em toda a Histria, ele representa o

    matemtico que esteve tantos sculos

    frente de seu tempo. pouco provvel que

    isso venha a se repetir, mesmo no mais

    longnquo futuro. Quem l sobre a vida e a

    obra de Arquimedes fica compelido a

    afirmar que ele possuiu a maior mente

    matemtica de todos os tempos, mas

    impossvel prov-lo por critrios objetivos.

    Entretanto, tambm por critrios objetivos,

    impossvel assegurar que algum o tenha

    superado.

    10 APOLNIO, DE PERGA

    A Universidade de Alexandria teve seu

    nome ligado a muitos matemticos e

    astrnomos de grande valor. Trs deles,

    verdadeiros gigantes da Matemtica,

    caracterizaram o perodo que, mais tarde,

    veio a ser chamado de a Idade de Ouro

    daquela escola: Euclides, Arquimedes e

    Apolnio.

    Apolnio nasceu em 262 a.C., na

    cidade de Perga, ao Sul da Anatlia, e

    provavelmente estudou em Alexandria,

    sendo certo que ali lecionou por algum

    tempo. Foi nessa fase que realizou seus

    melhores trabalhos, vindo a adquirir

    reputao to elevada que, ainda em vida,

    j era conhecido como O Grande Gemetra.

    Apolnio foi tambm astrnomo e

    sabe-se que vrias de suas obras foram

    perdidas, podendo-se apenas avaliar o

    contedo de algumas delas atravs de

    referncias feitas posteriormente por

    outros. Sua obra prima Cnicas, pela qual

    mais lembrado, chegou at ns quase

    completa. Aquele volumoso tratado foi

    composto em oito livros, contendo mais de

    480 proposies rigorosamente

    demonstradas sobre a elipse, a hiprbole e

    a parbola. Sete de tais livros chegaram at

    ns, quatro em grego e trs em rabe,

    contudo, um foi perdido. Com base em

    indicaes de Papus, que viveu mais de

    cinco sculos depois, o grande astrnomo

    ingls Edmond Halley (1656-1742) fez-lhe

    uma restaurao parcial.

    Apolnio foi o primeiro a empregar os

    termos elipse, hiprbole e parbola e a

    mostrar que elas podem ser geradas

    seccionando-se um cone duplo por meio de

    um plano de inclinao varivel em relao

    a seu eixo. Quando, a partir do

    Renascimento, a Matemtica recebeu

    vigoroso impulso, clebres gemetras como

    Fermat, Descartes, Pascal e, em especial,

    Isaac Newton, beberam fartamente das

    cristalinas guas das obras de Apolnio,

    principalmente suas Cnicas.

    Muitas das histricas demonstraes

    dadas por Newton nos Principia, sobre os

    movimentos elpticos dos astros do Sistema

    Solar, utilizaram propriedades das seces

    cnicas que haviam sido reveladas 19

    sculos antes pelo O Grande Gemetra.

    11 NOVE SCULOS DA UNIVERSIDADE DE

    ALEXANDRIA

    A mais antiga das universidades

    europias, a de Bolonha, na Itlia, foi

    fundada em 1088. De l at agora (2010)

    transcorreram 922 anos. A Universidade de

    Alexandria atravessou sculos turbulentos,

    entremeados por perodos de tranquilidade,

    e viveu fases de glria, decadncia e

    reerguimento, at ser definitivamente

    fechada pelos conquistadores rabes no

    ano 641 d.C. A durao de sua existncia

    foi, portanto, cerca de 940 anos, o que

    demonstra que, somente por volta do ano

    2028, a mais velha das universidades da

    Europa ter vivido um perodo to longo

    como aquele em que a escola de Alexandria

    manteve-se em atividade. Este fato

    admirvel, sobre o qual os livros pouco

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    comentam de, fala por si mesmo sobre o

    que aquele ncleo de saber legou para as

    geraes futuras e explica o grande nmero

    de sbios da Antiguidade que passaram por

    ele.

    J no primeiro sculo de existncia a

    Universidade viveu sua Idade de Ouro, com

    Euclides, Arquimedes e Apolnio. Tambm

    da mesma poca foi o grande astrnomo

    Aristarco, de Samos (circa 310 a.C. 230

    a.C.). Tambm na fase urea viveu o clebre

    Erasttenes, de Cirene (275 a.C. 195 a.C).

    Por volta de 140 a.C., destacou-se na

    Universidade um grande gemetra e

    astrnomo, de nome Hiparco. Nascido em

    Niceia em 180 a.C. e falecido em 125 a.C.,

    Hiparco considerado o criador da

    Trigonometria.

    Em 31 a.C. o Egito tornou-se uma

    provncia do Imprio Romano e a

    Universidade enfraqueceu-se ainda mais.

    Somente um sculo aps a tomada do Egito

    por Roma a Universidade veio a produzir

    um novo gnio, na pessoa do grande Hero,

    de Alexandria. Tratava-se de homem de

    vastos conhecimentos, no apenas na

    Matemtica mas, tambm, na

    Astronomia,Fsica e Engenharia. Vrios de

    seus trabalhos chegaram at ns, mas ele

    mais lembrado hoje pela chamada Frmula

    de Hero, que permite calcular a rea de

    um tringulo conhecidas as medidas dos

    trs lados.

    Viveu Menelau, poucas dcadas depois

    de Hero, cujas melhores obras parecem

    ter sido produzidas por volta de 100 d.C..

    Sabe-se que escreveu um tratado sobre

    cordas de um crculo, ou seja, sobre a antiga

    Trigonometria. Tal obra perdeu-se, mas seu

    precioso tratado Esfrica foi salvo por

    tradutores rabes e nos mostra o quo

    talentoso foi seu autor.

    Cerca de meio sculo aps Menelau,

    por volta de 150 d.C., trabalhou na

    Universidade um grande gnio, de nome

    Klaudius Ptolemanios, atualmente

    conhecido por Cludio Ptolomeu. Vrios de

    seus tratados sobreviveram, versando sobre

    Geografia, Cartografia, Astrologia,

    Astronomia, Matemtica e Msica. Seu

    trabalho mais importante chama-se Coleo

    Matemtica, um volumoso tratado de

    astronomia matemtica tambm conhecido

    por Almagesto.

    Quase um sculo aps Cludio

    Ptolomeu, acredita-se que por volta de 250

    d.C., um grande talento matemtico

    floresceu na Universidade. Ele conhecido

    por Diofante de Alexandria e sua grande

    contribuio se deu nos campos da lgebra

    e da Teoria dos Nmeros.

    Cerca de 50 anos depois de Diofante,

    por volta de 300 d.C., trabalhou na

    Universidade um gemetra de excepcional

    talento, conhecido como Papus, de

    Alexandria. Papus com justia considerado

    o ltimo dos grandes gemetras gregos. Se

    a Idade de Ouro da Universidade foi o sculo

    de Euclides, Arquimedes e Apolnio, o

    sculo de Diofante e Pappus foi sua Idade de

    Prata, o verdadeiro canto de cisne daquela

    clebre escola.

    Depois de Papus, a decadncia da

    Universidade no mais cessou. Nesta fase

    final, viveram os comentaristas que se

    tornaram importantes como fontes de

    informaes, mas sem o talento dos

    grandes vultos do passado. Os principais

    foram Ton, Hipcia, Proclo, Simplcio e

    Eutcio.

    O Egito caiu em 641 d.C., sob o Califa Omar, que fechou definitivamente o farol do saber que brilhara em Alexandria por quase um milnio. Uma longa e escura noite caiu sobre a cincia do Ocidente e, por pelo menos seis sculos, a Europa esteve fora do mapa mundial dos avanos matemticos.

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    12 RABES, HINDUS, CHINESES E A

    EUROPA MEDIEVAL

    Enquanto o Imprio romano do

    Ocidente rua e o Isl erigia seu grande

    reino, na ndia, a Matemtica vivia um

    perodo de especial florescimento. Muito

    antes, por volta de 3000 a.C., quando os

    egpcios e sumrios construam as bases de

    suas notveis civilizaes, um povo

    igualmente desenvolvido habitou o norte da

    ndia, em Mohenjo Daro. Suas cidades

    dispunham de ruas pavimentadas, redes de

    gua e esgoto, piscinas pblicas e banheiros

    nas residncias. Os campos eram irrigados,

    uma escrita prpria fora criada e um

    intenso comrcio estimulava a economia da

    regio. quase certo que uma civilizao

    assim evoluda possua muitos

    conhecimentos prticos de Aritmtica e

    Geometria.

    Por meio do contato com outros povos

    e por iniciativa prpria, a ndia desenvolveu-

    se na Astronomia e na Matemtica e o fez

    to bem que veio a ensinar o mundo a

    utilizar o instrumento com que hoje

    trabalhamos na Aritmtica: o sistema

    posicional de numerao na base dez,

    empregando dez smbolos, um dos quais, o

    zero. importante e justo, entretanto,

    ressaltar que os maias, na Amrica Central,

    j usavam um sistema posicional com um

    smbolo para o zero por volta do sculo V

    d.C., provavelmente antes dos hindus.

    O mais importante dos clssicos

    matemticos da China antiga denomina-se

    Kiu-chang Suan-shu (Aritmtica em Nove

    Sees) e, como ocorre com os demais, sua

    idade conjectural: supe-se que seja

    contemporneo do I-king e do Chou Pei

    (sculo XII a.C.). A partir da virada do

    sculo XV para o XVI, uma verdadeira febre

    pelo estudo das cincias, a comear pela

    Matemtica, passou a varrer pases como a

    Itlia, a Frana, a Inglaterra, a Alemanha e a

    Holanda: finalmente, o gnio matemtico

    da Europa conseguira libertar-se da garrafa.

    13 O NASCIMENTO DE UMA NOVA

    MATEMTICA

    Um milnio se passou desde o fim da

    matemtica grega at o incio do sculo XVI.

    Nesse longo perodo, pouqussimo de

    realmente novo foi criado em Matemtica.

    Em 1473, em Torun, na Polnia, nasceu

    Niklas Koppernigk, ou Nicolau Coprnico, o

    homem que desencadeou uma revoluo

    que se propagou por todas as reas do

    saber. Em 1506 comeou a desenvolver um

    sistema astronmico com base em suas

    observaes dos corpos celestes. Logo

    constatou que a hiptese geocntrica, de

    Aristteles e Cludio Ptolomeu, no era

    compatvel com a realidade e que a teoria

    dos egpcios era uma forma artificial de se

    ajustar os fatos quela hiptese.

    Sabendo das dificuldades de aceitao

    do heliocentrismo, j que a Bblia colocava a

    Terra e o Homem no centro do Universo e

    que a Igreja, abalada em 1517, pelo cisma

    protestante, tornara-se extremamente

    sensvel a tudo o que pudesse parecer

    heresia, ele continuou suas pesquisas em

    silncio. Na mesma poca em que

    Coprnico revolucionava a Astronomia, a

    lgebra tambm passava, no norte da Itlia,

    por profundas transformaes.

    No mesmo perodo, e na mesma

    regio, viviam dois matemticos cujos

    nomes entraram para a Histria: Girolamo

    Cardano (1501 1576) e Nicol Fontana

    (1500 1557), apelidado Tartaglia.

    Galileu nasceu em Pisa, em 15 de

    fevereiro de 1564, o primognito dentre os

    sete filhos de um culto comerciante. Aos

    dezessete anos entrou na Universidade de

    Pisa para estudar Medicina e logo passou a

    criticar os conceitos mdicos e fisiolgicos

    herdados de Aristteles e Galeno. Sua

    passagem pela medicina foi breve e ele logo

  • 8 Resumos Literrios Conhecimento Especfico A Rainha das Cincias Gilberto Geraldo Garbi

    a deixou, levado pela paixo pela

    Matemtica e pela Fsica. Em pouco tempo

    Galileu captou a essncia daquelas cincias

    e comeou a meditar sobre elas, formando

    sua prpria viso fsica do Universo.

    Em 1611, foi recebido pelo Papa,

    novamente, falou cpula da Igreja sobre

    suas descobertas astronmicas que

    divulgava livremente em livros e palestras.

    No tardaria muito para que a situao

    mudasse drasticamente e ele passasse a ser

    perseguido pelo clero em razo de seus

    trabalhos cientficos.

    Outro gnio da Matemtica e da

    Astronomia, foi Johannes Kepler. Kepler

    nasceu, em 1571, em uma cidadezinha da

    Alemanha, chamada Weil der Stadt, e viveu

    cerca de seis dcadas atormentado por

    muitos problemas. Nascido

    prematuramente, filho de um aventureiro

    irresponsvel, Kepler escapou da morte por

    varola aos quatro anos e guardou para

    sempre as cicatrizes deixadas em seu corpo.

    Dotado de uma inclinao inata pela

    Matemtica e pelas cincias, conseguiu

    estudar em um seminrio e na Universidade

    de Tbingen.

    Em 1594, Kepler passou a ensinar

    Matemtica em um seminrio protestante

    em Graz, na ustria. Acreditando que o

    Universo era regido por leis matemticas e

    afirmando que a Geometria fazia parte da

    mente de Deus, Kepler buscava uma

    roupagem matemtica com que vestir suas

    observaes do Sistema Solar.

    Dois grandes discpulos de Galileu

    foram Bonaventura Cavalieri (1598 1647)

    e Evangelista Torricelli (1608 1647).

    Bonaventura Cavalieri, nascido em Milo,

    foi professor da Universidade de Bolonha

    por 18 anos e escreveu volumosa obra nos

    campos da Matemtica, ptica e

    Astronomia. O trabalho pelo qual ele hoje

    mais lembrado denominou-se Geometria

    Indivisibilibus (1635) e nele Cavalieri exps

    seu mtodo para o clculo de reas ou

    volumes de certas figuras delimitadas por

    linhas ou superfcies curvas. Evangelista

    Torricelli (1608 1647), mais conhecido por

    seus estudos no campo da Fsica, onde

    inventou o barmetro, tambm, foi um

    grande matemtico.

    14 DESCARTES, FERMAT E PASCAL

    Na virada do sculo XVI, que j

    produzira gnios como Coprnico, Tartaglia,

    Cardano, Ferrari, Bombelli, Vite, Napier,

    Galileu, Kepler, Torricelli, Cavalieri e

    Desargues, o destino ainda fez nascer na

    Frana trs gigantes Descartes, Fermat e

    Pascal.

    Ren Descartes nasceu em La Haye,

    Touraine, em 31 de maro de 1596, filho de

    um jurista bem sucedido. As condies

    materiais da famlia permitiram que

    Descartes jamais tivesse que lutar por seu

    sustento mas, ao contrrio do que se

    poderia imaginar, muito cedo ele deu incio

    a uma incessante luta pelo enriquecimento

    do esprito.

    Em 1617, Descartes mudou

    bruscamente o rumo de sua vida,

    integrando-se ao exrcito holands em

    Breda, para adquirir outros conhecimentos

    sobre o mundo.

    Descartes desligou-se do exrcito em

    1621 e mudou novamente o foco de suas

    atenes, visitando vrios pases da Europa

    do Norte e a Itlia, retornando a Paris em

    1625. Os quatro primeiros anos desta fase

    de sua vida foram dedicados construo

    de sua filosofia, profundamente

    influenciada pelas descobertas do

    Renascimento, em especial na Astronomia.

    Como alguns princpios deveriam ser

    assumidos, Descartes considerou que a

    existncia do ser estar inquirindo o

    Universo poderia ser aceita como verdade

    absoluta, da decorrendo sua famosa frase:

  • 9 Resumos Literrios Conhecimento Especfico A Rainha das Cincias Gilberto Geraldo Garbi

    Penso, logo existo (Cogito, ergo sum).

    Ao final, Descartes produziu uma complexa

    filosofia em que: o mundo formado por

    esprito e matria, o Universo no passa de

    matria em incessante movimento e os

    fenmenos naturais so explicveis pelo

    movimento da matria.

    Na mesma poca em que viveu

    Descartes, outro clebre francs, Pierre de

    Fermat (1601? 1665), dedicou seu

    excepcional talento ao estudo amadorstico

    da Matemtica e nela deixou sua marca de

    gnio. O ttulo que a posteridade lhe

    outorgou, O Prncipe dos Amadores,

    espelha bem o afeto e a admirao que

    Fermat grangeou junto s geraes de

    profissionais que o sucederam nos ltimos

    quatro sculos.

    Durante dcadas Fermat envolveu-se

    em pesquisas sobre temas ento

    atualssimos, como ptica, Teoria das

    Probabilidades e aquilo a que hoje

    chamamos de Clculo Diferencial mas,

    dentro de seu leque de interesses, a Teoria

    dos Nmeros ocupava o centro do palco.

    Dominando o grego antigo, no teve

    dificuldade em estudar gemetras clssicos

    como Apolnio e Papus, at que lhe caiu

    nas mos a verso em Latim e Grego da

    Aritmtica, de Diofante, publicada na

    Frana por Bachet de Mziriac, em 1621.

    Dissecando os teoremas que Diofante

    encontrara 13 sculos antes, Fermat foi

    adicionando s margens do livro preciosos

    comentrios contendo suas prprias

    descobertas e inovando em relao ao

    grego.

    E foi um de tais comentrios marginais

    que deu origem ao que veio mais tarde a

    ser chamado de O ltimo Teorema de

    Fermat, questo que ocupou as melhores

    mentes matemticas do mundo durante

    trs sculos e meio, at ser resolvida em

    1993 pelo ingls Andrew Wiles.

    Em 19 de junho de 1623, quando

    Descartes e Fermat estavam,

    respectivamente, com 27 e 22 anos, nasceu

    na cidade de Clermont Ferrand um menino

    chamado Blaise Pascal, cuja curta e

    turbulenta vida foi marcada pela

    genialidade nas Cincias Exatas, pelo

    misticismo religioso, pela profundidade

    filosfica, pela doena e por intensos

    sofrimentos fsicos e mentais.

    Sabendo que a Matemtica costuma

    absorver de tal maneira o esprito daqueles

    que por ela se apaixonam, a ponto de

    negligenciarem outros campos igualmente

    importantes da formao intelectual,

    tienne procurou manter o menino

    afastado dela o quanto lhe foi possvel.

    Enquanto isso educou-o dentro de uma

    orientao humanstica, fazendo-o estudar

    Latim, Grego e os autores clssicos. Mas a

    curiosidade de Blaise em saber o que era a

    Matemtica fazia com que ele sempre

    questionasse o pai sobre o tema, sem

    jamais receber resposta.

    Desde os sete anos Pascal vivia em

    Paris e, aos catorze, passou a frequentar,

    junto com o pai, as reunies matemticas

    semanais que Mersenne promovia em sua

    casa. Foi ali que, aos dezesseis anos,

    conheceu Desargues, que estava revelando

    ao mundo as tcnicas da Geometria

    Projetiva. Desargues explicou-lhe do que se

    tratava e estimulou-o estudar as cnicas por

    meio dela. A resposta de Pascal foi

    imediata: em pouco tempo produziu um

    trabalho, denominado Essay pour les

    Coniques (Ensaio sobre as Cnicas), onde

    apresentou um dos mais belos teoremas de

    toda a Geometria.

    15 FAA-SE NEWTON! E TUDO FOI LUZ...

    Isaac Newton, nascido em

    Woolsthorpe, Inglaterra, em 1642 e falecido

    em Londres em 1727, generalizadamente

  • 10 Resumos Literrios Conhecimento Especfico A Rainha das Cincias Gilberto Geraldo Garbi

    considerado o maior intelecto j produzido

    pela Humanidade no mbito das Cincias

    Exatas. Suas realizaes no campo da Fsica

    e da Matemtica foram de tal maneira

    importantes que no h exagero em

    creditar-se a ele a criao do arcabouo

    fsico-matemtico dentro do qual comeou

    a ser construda a civilizao tecnolgico-

    industrial em que vivemos hoje.

    Dentre os inmeros gnios que nossa

    espcie conseguiu gerar, Newton o nico

    que pode ostentar os galardes de

    pertencer simultaneamente aos grupos dos

    maiores fsicos e dos maiores matemticos

    de todos os tempos. Ningum, antes ou

    depois dele, teve tanta perspiccia e

    sensibilidade em penetrar nos segredos do

    Universo, atravs de experincias que

    requeiram excepcional talento e habilidade,

    e em utilizar a Matemtica como um facho

    de luz em sua caminhada desbravadora.

    Na Matemtica suas criaes mais

    lembradas, pela incomparvel importncia,

    foram os Clculos Diferencial e Integral, mas

    ele deixou tambm grandes contribuies

    em reas como o Clculo Numrico, Sries

    Infinitas, lgebra, estudos diversos sobre

    curvas, leis da potenciao (Binmio de

    Newton), etc. Na Fsica, sistematizou as leis

    da Dinmica (o que permitiu estudo

    abrangente dos corpos em movimento),

    formulou a Lei da Gravitao Universal,

    sistematizou a ptica e concebeu a Teoria

    das Cores. Para levar a cabo de suas

    pesquisas, projetou e construiu

    pessoalmente, valendo-se de sua grande

    habilidade manual, complexos instrumentos

    cientficos, em particular telescpios e

    lentes.

    Gottfried Wilhelm Leibniz, nascido em

    Leipzig, Alemanha, em 1646, e falecido em

    Hannover, em 1716, foi uma das mais

    brilhantes inteligncias de todos os tempos.

    Reconhecido posteriormente como um

    verdadeiro gnio universal, pela

    abrangncia de sua cultura, Leibniz foi

    jurista, diplomata, estudioso da teoria

    poltica, fillogo, filsofo, historiador,

    lgico, gelogo, telogo, inventor de uma

    mquina de calcular e matemtico de

    altssimo nvel.

    A Geometria Analtica, o conceito de

    funo, o mtodo de Fermat para o traado

    de tangentes, os estudos de Cavalieri sobre

    os indivisveis, tudo apontava para uma

    nova modalidade de clculo que

    sistematizasse a operao a que Eudxio,

    dois mil anos antes, denominara

    exausto. Leibniz percebeu tal momento

    histrico, captou o esprito matemtico da

    poca e entrou por um caminho que o

    conduziu aos Clculos Diferencial e Integral.

    Em 1676, durante uma misso

    diplomtica a Londres, Leibniz, que j

    trabalhava nas questes dos Clculos,

    visitou a Royal Society e teve acesso a uma

    cpia do manuscrito De Analysi, de Newton.

    Hoje os especialistas acreditam que, mesmo

    tendo tido acesso ao De Analysi, Leibniz

    concebeu suas idias sobre os Clculos

    independentemente da influncia de

    Newton. Embora tenham chegado aos

    mesmos resultados, Newton e Leibniz

    deram questo tratamentos muito

    diferentes, inexistindo qualquer evidncia

    de plgio.

    No mesmo ano em que Leibniz

    anunciava ao mundo a criao dos Clculos,

    1684, ocorreu um fato que veio a afetar

    profundamente o restante da vida de

    Newton e dar Cincia um impulso

    decisivo. Por volta dos anos 1660, Newton

    sabia que as foras de atrao entre os

    astros eram inversamente proporcionais

    aos quadrados das distncias mas, nada

    havendo publicado, outros astrnomos e

    fsicos continuaram a estudar os

    movimentos celestes na tentativa de

    entender suas leis. Isaac Newton faleceu em

    20 de maro de 1727, antes de completar

  • 11 Resumos Literrios Conhecimento Especfico A Rainha das Cincias Gilberto Geraldo Garbi

    85 anos, debilitado pela gota, por

    inflamaes pulmonares e por pedras na

    bexiga.

    Mesmo sem os modernos meios de comunicao, toda a Inglaterra e os centros cientficos da Europa logo receberam a notcia e choraram sua perda. A nobreza do pas, qual ele tambm havia sido alado pelas mos de uma rainha, decidiu proporcionar-lhe funerais altura de sua grandeza e de sua importncia na histria da civilizao.

    Newton est sepultado em local de

    destaque na Abadia de Westminster, entre

    reis, nobres, poetas e outras personalidades

    do Imprio Britnico. Em torno dele,

    descansam Michael Faraday, o gnio da

    eletricidade, George Green, grande

    matemtico do sculo XIX, Lord Kelvin,

    fsico, James Clerck Maxwell, que previu

    matematicamente a existncia das ondas

    eletromagnticas, e Paul Dirac, um dos

    maiores fsicos nucleares do sculo XX. A

    poucos passos desta constelao repousa

    Charles Darwin, o naturalista que formulou

    a teoria da evoluo das espcies. Assim, Sir

    Isaac Newton, o prematuro e pstumo filho

    de um lavrador analfabeto, aps uma longa

    e fecunda vida em que incansavelmente

    buscou desvendar os segredos do Universo,

    finalmente encontrou repouso eterno

    naquele pequeno pedao de Paraso.

    16 EULER, O MESTRE DE TODOS NS

    Uma entre as vrias maneiras possveis

    de se comear a apresentao da vida e da

    obra do grande Leonhard Euler (1707

    1783), talvez a mais sinttica seja dizer que

    ele foi um furaco que varreu o territrio da

    Matemtica durante a maior parte do

    sculo XVIII e que, nas quase seis dcadas

    de sua vida, matematicamente produtiva,

    dominou o cenrio mundial das Cincias

    Exatas, sem que qualquer outra das grandes

    figuras da poca pudesse disputar-lhe o

    cetro. Euler , sem dvida, e de longe, o

    matemtico que mais obras produziu em

    todos os tempos, cobrindo todas as reas

    ento conhecidas da Matemtica e criando

    outras que no haviam sido sequer

    vislumbradas por seus antecessores. Ao

    final da vida, Euler havia escrito cerca de

    900 tratados, livros e estudos, cuja

    velocidade de produo jamais conseguiu

    ser acompanhada pelos editores ou jornais

    acadmicos dedicados quele tipo de

    publicao. Euler escreveu sobre lgebra,

    Geometria, Teoria dos Nmeros, Topologia,

    Clculo, Equaes Diferenciais, Geometria

    Diferencial, Clculo das Variaes, Msica,

    Astronomia, Mecnica, Engenharia,

    Acstica, Mecnica Celeste, entre outros

    assuntos. Com a aparente facilidade de que

    falava Plutarco, referindo-se a Arquimedes.

    Franois Arago, fsico e matemtico francs

    da mesma poca, apelidou-o de

    encarnao da anlise e costumava dizer

    que Euler calcula com a mesma facilidade

    com que as pessoas respiram e as guias

    pairam no ar.

    17 GAUSS, O PRNCIPE DOS

    MATEMTICOS

    Para qualquer pessoa familiarizada

    com a Matemtica, o nome de Carl

    Friedrich Gauss (1777 1855) sinnimo de

    genialidade suprema, de talento

    inexplicvel, de raciocnio lgico em seu

    estado mais puro. Tit, Colosso de Rodes,

    Prncipe dos Matemticos, foram alguns dos

    codinomes que seus colegas, com

    justificado respeito e admirao,

    concederam-lhe ao longo de uma das mais

    espetaculares carreiras j vistas nas Cincias

    Exatas. entendimento geral que apenas

    dois outros gigantes da Matemtica podem

    ombrear-se a Gauss: Arquimedes e Newton.

    Gauss foi o mais precoce dentre todos

    os gnios, um verdadeiro Mozart da Rainha

    das Cincias. Filho de um honrado, mas

    inculto trabalhador braal da cidade de

    Brunswick, Alemanha, ele tinha pouco mais

  • 12 Resumos Literrios Conhecimento Especfico A Rainha das Cincias Gilberto Geraldo Garbi

    de trs anos quando mostrou ao pai um

    erro que este cometera ao calcular o

    quanto deveria pagar a alguns pedreiros

    que o auxiliavam. Tambm com essa idade

    comeou a perguntar aos adultos os

    significados das vrias letras e rapidamente

    alfabetizou-se por si mesmo. Sua me,

    Dorothea, apesar da pequena escolaridade,

    era muito inteligente e logo percebeu o

    valor daquele tesouro que trouxera ao

    mundo.

    amplamente conhecida a maior

    faanha matemtica de Gauss quando,

    ainda menino, tendo sido enviado escola

    aos sete anos, aos nove comeou a receber

    aulas de Aritmtica de um obscuro

    professor primrio chamado Bttner. Certo

    dia, ele mandou as crianas somarem os

    inteiros de 1 a 100, esperando, com isso,

    mant-los ocupados por bastante tempo.

    Para sua surpresa, o garotinho Gauss,

    depois de poucos minutos, dirigiu-se mesa

    do professor e entregou-lhe uma pequena

    lousa com o resultado correto: 5.050.

    Bttner percebeu que seu jovem aluno no

    reagia como as outras crianas, mas, ao

    contrrio, raciocinava como um verdadeiro

    matemtico. Passou ento a entregar a ele

    livros mais avanados e encarregou seu

    assistente de 17 anos, Johann Martin

    Christian Bartels, tambm apaixonado pela

    Matemtica, de orientar o garoto.

    Bartels conseguiu conquistar para seu

    jovem amigo as atenes de um

    matemtico de nome Zimmermann e este

    apresentou-o, aos 14 anos, autoridade

    mxima da regio, o Duque Ferdinand, de

    Brunswick. O Duque, generoso e

    esclarecido, reconheceu o grande valor de

    Gauss e decidiu conceder-lhe um patrocnio

    que se estendeu por muitos anos. Como

    Euler, ele era tambm um gnio lingustico

    e j dominava o Grego, o Latim, o Ingls, O

    Francs e o Dinamarqus.

    Ao chegar a Gttingen, Gauss estava

    totalmente tomado por sua paixo pela

    Teoria dos Nmeros, certamente

    influenciado pelo que lera em Euler (Gauss

    sempre dizia: A Matemtica a Rainha das

    Cincias e a Teoria dos Nmeros a Rainha

    da Matemtica).

    No dia 30 de maro de 1796,

    Gauss deu incio a um dirio onde passou a

    registrar sinteticamente suas melhores

    ideias, muitas delas jamais cogitadas

    anteriormente por outros e que abriram

    novos campos para a pesquisa Matemtica.

    Ao todo, foram 146 anotaes, a ltima

    delas de nove de julho de 1814.

    O dirio somente foi

    descoberto 43 anos aps sua morte, junto a

    um de seus netos, e a comunidade

    matemtica ficou perplexa ao constatar que

    muito do que se imaginava terem sido

    realizaes modernas j havia sido pensado

    por ele dcadas antes (duas de suas

    anotaes no foram compreendidas at

    agora).

    quase impossvel sumarizar tudo o

    que Gauss produziu nos campos das

    matemticas pura e aplicada, mas podemos

    acrescentar que ele conduziu a Geometria

    Diferencial iniciada por Euler a nveis muito

    altos, realizou intensos trabalhos

    geodsicos; publicou uma obra-prima sobre

    Astronomia; desenvolveu pesquisas sobre

    eletricidade e magnetismo; estudou as

    funes de variveis complexas. Ele fez,

    tambm, uma corajosa, profunda e

    inovadora incurso pela Geometria,

    tornado-se o primeiro matemtico a

    desenvolver um sistema logicamente

    coerente em que o postulado das paralelas

    no mais obedecia formulao euclidiana.

    Gauss entrou conscientemente naquele

    estranho territrio antes de qualquer outro

    gemetra. Seu desinteresse em publicar o

    que descobrira acabou permitindo que dois

    outros matemticos divulgassem trabalhos

  • 13 Resumos Literrios Conhecimento Especfico A Rainha das Cincias Gilberto Geraldo Garbi

    equivalentes antes dele e fossem aclamados

    criadores das geometrias no-euclidianas.

    Gauss morreu aos 78 anos, em sua

    casa, no observatrio de Gttingen, ainda

    desfrutando plenamente de seus

    incomparveis dotes intelectuais. Dentre as

    inmeras homenagens que recebeu, uma

    foi muito especial, por ter vindo do Rei

    George V, de Hannover. Da mesma forma

    que a rainha Anne, da Inglaterra, elevara

    Newton nobreza, concedendo-lhe o ttulo

    de Cavaleiro do Imprio Britnico, o

    mencionado monarca mandou cunhar uma

    medalha em que o reino oficializava o ttulo

    que o mundo j havia informalmente

    outorgado a nosso heri. Contendo em uma

    face a nobre efgie de Gauss perfilado, na

    outra a medalha exibe estas palavras:

    GEORGIUS V

    REX HANNOVERAE

    MATHEMATICORUM

    PRINCIPI

    (Jorge V, rei de Hannover, ao Prncipe dos

    Matemticos)

    18 - MATEMTICOS FRANCESES PR E PS

    REVOLUO

    Excetuada a Grcia Antiga, nenhum

    pas produziu tantos matemticos de

    renome quanto a Frana. Alm de ser

    impossvel medi-las objetivamente, gnios

    como Newton e Leibniz, que mudaram os

    rumos da Histria com a inveno dos

    Clculos, e Gauss, cuja monumental obra

    dispensa comentrios, distorcem toda

    tentativa de comparao. Mas indiscutvel

    que a Frana desempenhou um papel

    decisivo na criao da Matemtica

    Moderna.

    20 GEOMETRIAS NO-EUCLIDIANAS

    A expresso Geometrias No-

    Euclidianas costuma provocar uma falsa

    ideia de extrema dificuldade. A maioria dos

    livros no tem contribudo para dissipar

    esta impresso: os que falam

    genericamente sobre o tema, enunciando

    estranhas propriedades sem prov-las,

    parecem considerar os leitores incapazes de

    compreender as demonstraes enquanto

    os volumosos tratados que entram em

    mincias causam desnimo j primeira

    folheada.

    Os primeiros teoremas no-euclidianos

    foram achados pelo padre jesuta italiano

    Girolamo Giovanni Saccheri (1667 -1723).

    Nascido em San Remo, foi professor de

    retrica, filosofia e teologia em Milo,

    Turim e Pvia. Em Milo teve contato com

    grandes matemticos italianos da poca,

    entre eles o famoso professor Tommaso

    Ceva, irmo de Giovanni, o descobridor do

    Teorema de Ceva. Foi assim que conheceu

    os Elementos, apaixonou-se por eles e

    desenvolveu seu agudo raciocnio lgico.

    Sabendo de tentativas feitas anteriormente,

    no sentido de demonstrar o quinto

    postulado, em especial a do rabe Nasir Ed-

    din, publicada com comentrios pelo ingls

    John Wallis (1616 1703), Saccheri resolveu

    encontrar por si mesmo uma prova. Pouco

    antes de morrer, depois de longos anos de

    estudos, publicou suas concluses em um

    clebre livro chamado Euclides ab omni

    naevo vindicatus (Euclides livre de todas as

    mculas). Seu livro terminou de forma

    melanclica porque ele entrara bastante em

    um novo mundo, passeara por ele e

    retornara no acreditando em sua

    existncia.

    O esforo de Saccheri, entretanto, no

    foi perdido porque outros matemticos

    leram sua obra e tentaram ir mais adiante.

    Um deles foi o suo Johann Heinrich

  • 14 Resumos Literrios Conhecimento Especfico A Rainha das Cincias Gilberto Geraldo Garbi

    Lambert (1728 1777), famoso por ter sido

    o primeiro a demonstrar a irracionalidade

    do nmero .

    provvel que Gauss tenha lido os

    trabalhos de Saccheri e Lambert, mas

    impossvel afirm-lo. Cartas escritas entre

    1813 e 1831 mostram que ele deduzira,

    sem encontrar contradies, vrios

    teoremas daquilo a que inicialmente

    chamou de Geometria Anti-Euclidiana,

    depois Geometria Astral e, finalmente,

    Geometria no-Euclidiana. Uma de suas

    concluses foi que naquela geometria a

    soma dos ngulos de um tringulo menor

    do que dois retos. Entretanto, para evitar

    polmicas ou por ainda recear que seus

    raciocnios contivessem alguma falha, ele

    nada publicou e sempre pedia o mximo de

    confidencialidade a seus correspondentes,

    quando escrevia sobre o assunto.

    Alm do plano, existem outras

    superfcies de curvatura constante e nula

    em todos os pontos, por exemplo as

    superfcies cnicas ou cilndricas. Assim,

    tomados trs pontos quaisquer sobre uma

    superfcie cnica e unindo-os por

    segmentos de geodsicas, fica formado um

    tringulo (no-retilneo) cuja soma dos

    ngulos internos igual a dois retos, como

    nos tringulos retilneos sobre o plano.

    A Esfera, por sua vez, uma superfcie

    de curvatura constante e positiva em todos

    os pontos e, assim, a soma dos ngulos

    internos dos tringulos esfricos sempre

    maior do que dois retos, como j sabiam os

    gregos. Haveria superfcies de curvatura

    constante e negativa? A resposta sim. Um

    exemplo a chamada Pseudo-esfera,

    superfcie gerada pela rotao da Tractriz

    em torno de sua assntota (na Tractriz a

    tangente por um ponto qualquer sobre ela

    forma, entre o referido ponto e o

    cruzamento dela com o eixo dos x, um

    segmento de comprimento constante).

    Infelizmente, para quem est

    comeando a estudar as Geometrias no-

    Euclidianas, sua representao sobre uma

    folha de papel introduz distores

    inevitveis: as retas, por exemplo, ora so

    desenhadas como as retas euclidianas, ora

    so desenhadas como linhas curvas. Isso

    provoca um choque no leitor, uma vez que

    ele, com razo, acha que todas as retas,

    dentro de uma mesma geometria, devem

    ser iguais. uma pena, mas a representao

    das Geometrias no-Euclidianas sobre uma

    folha de papel to distorcida como, por

    exemplo, a de um tubo euclidiano sobre a

    mesma folha, e precisamos nos acostumar

    com esse fato.

    21 AS IMPOSSIBILIDADES DOS TRS

    PROBLEMAS CLSSICOS

    O que ocorreu com os trs problemas

    clssicos um belo exemplo da

    perseverana dos matemticos e da

    necessidade que, s vezes, se tem de

    esperar por sculos ou mesmo milnios de

    evoluo da Matemtica, at que uma

    questo seja definitivamente esclarecida.

    22 BOOLE, CANTOR E DEDEKIND

    Durante mais de um milnio, a lgebra

    foi vista apenas como um conjunto de

    regras relativas s operaes aritmticas

    com nmeros e s manipulaes dos

    smbolos que representam nmeros e

    aquelas operaes. Em meados do sculo

    XIX, entretanto, o matemtico ingls

    George Boole (1815 1864) mostrou que a

    lgebra poderia libertar-se dos nmeros e

    trabalhar tambm com outros tipos de

    entes, por exemplo, os conjuntos e as

    proposies da Lgica.

    George Boole nasceu em Lincoln,

    Inglaterra, filho de um pequeno e simples

    lojista. Aos 16 anos, pressionado pela falta

    de recurso dos pais, conseguiu um emprego

  • 15 Resumos Literrios Conhecimento Especfico A Rainha das Cincias Gilberto Geraldo Garbi

    como professor primrio, funo que

    exerceu durante trs anos. Precisando

    aprender alguma Matemtica para ensinar

    a seus alunos, resolveu pesquis-la nos

    livros que conseguia encontrar e logo deu-

    se conta de que era dotado de grande

    talento natural para as Cincias Exatas. Em

    pouco tempo, e por si mesmo, avanou a

    ponto de poder entender as difceis obras

    de Laplace e Lagrange. Em essncia, ele

    percebeu que as manipulaes algbricas

    no necessitam restringir-se ao mbito dos

    nmeros porque baseiam-se em princpios

    lgicos aplicveis de forma muito mais

    ampla.

    George Ferdinand Ludwig Philip Cantor

    nasceu em So Petersburgo, Rssia, em

    uma famlia profundamente religiosa. Seu

    pai era um judeu convertido ao

    protestantismo e sua me, tambm

    descendente de judeus convertidos e hbeis

    na msica, j nasceu catlica. Dela, Cantor

    herdou dons artsticos, tendo sido um

    talentoso desenhista, como o comprovam

    alguns trabalhos que deixou. A influncia

    das vrias vises religiosas da famlia parece

    ter sido decisiva no misticismo de Cantor e

    em sua forma peculiar de enxergar o mundo

    e a Matemtica.

    Aos 11 anos, mudou-se para Frankfurt

    e foi na Alemanha que estudou e passou

    quase toda a vida. Diplomado em

    Matemtica, Fsica e Filosofia pela

    Universidade de Berlim, onde foi aluno de

    Weierstrass, ele conseguiu apenas tornar-se

    professor na despretensiosa Universidade

    de Halle. Seu sonho de ensinar em Berlim,

    ento um dos melhores centros

    matemticos do mundo, jamais se realizou,

    principalmente devido forte oposio que

    Leopold Kronecker (1823 1891) fazia a

    suas ideias nada convencionais.

    Depois de realizar pesquisas na Teoria

    dos Nmeros e nas Sries Trigonomtricas,

    ele voltou suas atenes para os conjuntos

    infinitos e nessa rea, a partir de 1870,

    passou 25 anos produzindo trabalhos de

    grande importncia e originalidade. Cantor

    casou-se em 1874, no mesmo ano em que

    provou a no-enumerabilidade do

    Contnuo. Durante sua lua-de-mel em

    Interlaken, ele conheceu o matemtico

    Richard Dedekind (1831 1916) que, como

    ele, cultivava ideias consideradas

    excntricas e era rejeitado pelo alto mundo

    acadmico da Matemtica alem.

    Dedekind, como Gauss, nasceu em

    Brunswick, filho de um professor de Direito.

    Em 1850 ele foi admitido na Universidade

    de Gttingen, como estudante de Fsica e

    Matemtica, e ali foi um dos mais

    talentosos alunos de Gauss. Em 1862 ele

    retornou a Brunswick, para ensinar no

    Colgio Tcnico local e nessa modesta

    posio permaneceu durante 50 anos.

    A maioria dos trabalhos de Dedekind

    procurou fornecer uma compreenso

    rigorosa sobre a natureza dos nmeros

    reais. Embora no tenha sido o primeiro a

    perceber a dificuldade, logo no incio de sua

    carreira ele constatou que, exceto quanto

    aos nmeros inteiros e aos racionais, a

    fundamentao lgica da teoria dos

    nmeros reais era frgil ou mesmo

    inexistente.

    Dedekind morreu aos 84 anos, de

    causas naturais, mantendo-se ativo fsica e

    mentalmente at o final. Ento, de seu

    humilde posto de professor de um colgio

    tcnico, ele j havia, pacientemente,

    conquistado o reconhecimento de seus

    pares e se tornado um smbolo da escola do

    rigor matemtico.

    23 A MATEMTICA CONTEMPORNEA

    Muitas pessoas mesmo com bons

    conhecimentos, costumam perguntar se

    existem hoje gnios matemticos como no

    passado: onde se encontram? quem so

  • 16 Resumos Literrios Conhecimento Especfico A Rainha das Cincias Gilberto Geraldo Garbi

    eles? a que tipo de atividade se dedicam?

    ainda resta algo de importante a ser

    realizado na Matemtica?

    A primeira e a segunda parte da

    pergunta so fceis: sim, vivem hoje gnios

    to brilhantes como os do passado e eles,

    de um modo geral, esto em universidades,

    institutos de pesquisas cientficas, agncias

    governamentais dos pases ricos e em

    grandes corporaes. Nenhum dos gnios

    atuais adquiriu a popularidade de um

    Newton, um Gauss ou um Euler e a maioria

    permanece incgnita fora de suas

    comunidades. Depois de Einsten, o fsico-

    matemtico Stephen Hawking um dos

    raros que o pblico sabe quem (a ponto

    de comprar milhes de exemplares de seus

    incompreensveis livros). Alis, ele ocupa

    em Cambridge a mesma ctedra que j

    pertenceu a Newton e isso fala por si s.

    Mas os gnios de hoje so desconhecidos

    porque se dedicam a tipos to abstrusos de

    Matemticas que impossvel explic-las

    aos leigos.

    J que somos incapazes de descrever o

    que fazem atualmente os gnios da

    Matemtica, talvez o melhor seja mostrar

    alguns exemplares marcantes do que foi

    feito no sculo XX. Comecemos por um

    tema que recebeu muita ateno nas

    dcadas que antecederam e sucederam a

    passagem ao sculo XX: A Axiomtica.

    Vimos que muita Matemtica havia sido

    construda sobre bases frgeis e que era

    preciso revisar certos conceitos e axiomas.

    A surpreendente descoberta da

    possibilidade de serem construdas outras

    geometrias, alm da euclidiana, entretanto,

    alertou os gemetras. Adiantemos, pois,

    que essa questo convenceu os gemetras

    de que aqui estava faltando um postulado,

    hoje conhecido como o Princpio da

    Continuidade.

    O italiano Giuseppe Peano (1858

    1932) apresentou seus clebres axiomas da

    Aritmtica, mostrando que toda Anlise

    pode ser construda a partir deles.

    Aprofundando ainda mais as bases da

    Aritmtica, Bertrand Russell (1872 1970) e

    Alfred North Whitehead (1861 1947)

    procuraram provar que toda a Matemtica

    pode ser construda exclusivamente por

    meio das leis da Lgica.

    Estas duas provas de consistncia,

    entretanto, eram condicionais, ou relativas,

    e os matemticos do incio do sculo XX

    desejavam obter provas absolutas da

    consistncia dos axiomas da Aritmtica e da

    Geometria. Foi ao procurar por elas que um

    jovem gnio lgico-matemtico austraco,

    de 25 anos, chamado Kurt Gdel (1906

    1978), que abalou o mundo ao enterrar o

    sonho de Hilbert e outros de se realizar uma

    axiomatizao completa e consistente de

    todos os campos da Matemtica. Ela

    costuma ser chamada de teorema da

    incompletude por implicar que todo o

    sistema axiomtico consistente

    necessariamente incompleto, ou seja,

    incapaz de permitir as provas de todas as

    verdades da rea em estudo.

    Falemos um pouco sobre o papel da

    Matemtica contempornea na realizao

    do verdadeiro milagre que so as

    comunicaes, em voz, imagem e dados,

    que hoje cobrem os mais remotos pontos

    do Planeta. Os trabalhos tericos do gnio

    escocs, o fsico-matemtico James Clerk

    Maxwell (1831 1879), podem ser

    considerados um dos marcos histricos

    dessa revoluo.Em 1876, um escocs que

    fora professor de surdos no Canad e

    radicado nos Estados Unidos, de nome

    Alexander Graham Bell (1847 -1922),

    inventou o telefone, transmitindo a voz por

    meio de correntes eltricas sobre fios. Duas

    dcadas depois, em 1895, utilizando ondas

    eletromagnticas, Guglielmo Marconi (1874

    1935) criou o rdio, com o que a voz

  • 17 Resumos Literrios Conhecimento Especfico A Rainha das Cincias Gilberto Geraldo Garbi

    passou a ser transmitida a distncias muito

    grandes.

    Em 1906 o americano Lee De Forest

    (1873 1961) inventou o triodo e

    desencadeou a revoluo da Eletrnica,

    inicialmente voltada s comunicaes, mas

    que, rapidamente, se fez presente em todas

    as reas da tecnologia.

    Cit-los todos seria exaustivo e

    mencionar apenas alguns poderia ser

    injusto. Deste modo, vamos eleger um deles

    para simbolizar todo aquele admirvel

    grupo de heris: o gnio matemtico norte-

    americano Claude Shannon (1916 2001),

    do Massachusetts Institute of Technology,

    cuja Teoria Matemtica da Informao

    fundamentou grande parte dos avanos

    feitos nas modernas comunicaes.

    24 AS MULHERES E A MATEMTICA

    Uma importante contribuio de Ren

    Descartes civilizao raramente

    lembrada: seus livros de Filosofia esto

    entre os primeiros que despertaram nas

    mulheres, j na segunda metade do sculo

    XVII, o interesse pelas Cincias. E foi um

    escritor cartesiano, Franois Poulain de La

    Barre, quem afirmou, em seu livro

    Delgalit des deux sexes, 1673: A mente

    no tem sexo. Embora em pequeno

    nmero, mulheres comearam a assistir a

    conferncias sobre Cincia e Filosofia e no

    tardou para que algumas, mais brilhantes e

    corajosas, tambm se dispusessem a

    entreter plateias falando sobre o tema. Foi

    neste clima que notabilizou-se Gabrielle

    milie Le Tonnelier de Breteuil. Filha de um

    baro, casou-se, aos 19 anos, com o

    Marqus Du Chtelet e continuou a estudar

    os antigos clssicos da literatura, os

    filsofos notveis poca Descartes,

    Locke e Voltaire e a Matemtica. Seu

    marido no compartilhava tais interesses e

    ela veio encontrar sua alma-gmea em

    Voltaire, com quem manteve um longo e

    furtivo relacionamento intelecto-amoroso.

    Mme.du Chtelet no foi um gnio

    cientfico ou uma criadora de novaes

    matemticas mas, com sua brilhante

    inteligncia e com o prestgio de seu nome,

    mostrou Europa da poca que as

    mulheres tinham plenas condies de

    aprender cincia de alto nvel. Sua traduo

    dos Principia, difcil empresa para qualquer

    matemtico e qual dedicou enormes

    esforos, ficou concluda pouco antes de

    seu falecimento, com apenas 43 anos, ao

    dar luz um filho.

    Em 1678, em Pdua, Elena Lucrezia

    Piscopia tornou-se a primeira mulher a

    receber um ttulo universitrio na Itlia. Foi

    necessrio esperar mais de quatro dcadas

    at que uma segunda doutora italiana

    surgisse, agora em Bolonha. Ela foi Laura

    Catharina Bassi (1711 1778), a filha

    prodgio de um advogado cujos demais

    filhos haviam todos morrido.

    Vida anloga teve a maior matemtica

    que a Itlia j produziu at hoje, Maria

    Gaetana Agnesi (1718 1799), outra

    menina prodgio que se tornou clebre. Seu

    pai, um professor de Matemtica em

    Bolonha e que teve 20 filhos, ofereceu-lhe

    todos os estmulos e oportunidades para

    que ela estudasse. Assim que comeou a

    fazer descobertas prprias, Sophie passou a

    assinar seus trabalhos sob o pseudnimo

    masculino de Antoine LeBlanc.

    Na primeira metade do sculo XIX, a

    escocesa Mary Fairfaix Somerville (1780

    1872) tornou-se famosa por seus feitos na

    Matemtica. Nascida em uma famlia rica,

    quando menina ela bisbilhotava s

    escondidas as aulas de Geometria que seu

    irmo recebia de um professor que ia a sua

    casa. Conta-se que, para ter em mos o livro

    de Euclides, teve que pedir ao irmo que

    comprasse para ela, uma vez que a

  • 18 Resumos Literrios Conhecimento Especfico A Rainha das Cincias Gilberto Geraldo Garbi

    Geometria no era bem-vista como leitura

    para moas. Aos 24 anos, casou-se com um

    homem rico que, como o marido de

    Mme.du Chtelet, era incapaz de

    acompanh-la intelectualmente.

    Mary no necessitou encontrar uma

    verso escocesa de Voltaire, pois o marido

    morreu trs anos depois, deixando-lhe uma

    herana e a liberdade de continuar seus

    estudos matemticos.

    Quando falamos sobre os primrdios

    dos computadores Charles Babbage (1792

    1871) foi apresentado como um notvel

    pioneiro, cujo verdadeiro valor somente foi

    reconhecido modernamente. importante,

    tambm, dizer que Babbage teve uma

    colaboradora: Ada Lovelace (1815 1852),

    uma mulher brilhante e versada em

    Matemtica, com quem ele discutia as

    solues dos problemas tcnicos e que o

    ajudou muito em suas pesquisas e,

    tambm, na administrao de suas finanas.

    A prxima herona da Rainha das

    Cincias surgiu na Rssia dos Czares e foi a

    clebre Sofia Korvin-Krukovsky

    Kovalevskaia, tambm conhecida como

    Sonja Kovalevsky. Nascida em Moscou em

    1850, em uma famlia abastada e culta, cuja

    governanta era inglesa, Sofia teve a

    oportunidade de aprender Matemtica no

    prprio ambiente em que vivia.

    Dentre as grandes potncias cientficas

    do mundo poca, a Alemanha foi a ltima

    a produzir um grande gnio matemtico

    feminino. Mas o fez ao melhor estilo

    alemo, apresentando aquela que , por

    muitos, considerada a maior matemtica

    at hoje: Amalie Emmy Noether (1882

    1935). Filha de Max Noether, um

    matemtico da Universidade de Erlanger.

    Ali ela iniciou seus estudos, doutorando-se

    com a tese Sobre Sistemas Completos de

    Invariantes para Formas Biquadradas

    Ternrias. Sua especialidade era lgebra

    Superior, campo em que deixou

    importantes e originais contribuies. Mais

    tarde, ela foi estudar em Gttingen, poca

    o melhor centro de pesquisas matemticas

    do mundo, liderado por David Hilbert.

    Alguns professores chegaram a dizer que os

    militares alemes ficariam escandalizados

    ao saber que, em Gttingen, os alunos

    tinham que aprender Matemtica aos ps

    de uma mulher.

    Hilbert no se deixou demover por

    esse tipo de argumento e contratou Amalie,

    dizendo: No vejo como o sexo da

    candidata possa ser um argumento contra

    sua admisso. Afinal, ns somos uma

    universidade e no uma casa de banhos.

    Bibliografia:

    A Rainha das Cincias: um passeio histrico

    pelo maravilhoso mundo da matemtica

    Gilberto Geraldo Garbi

    3 edio ver. e ampl.

    So Paulo: Editora Livraria da Fsica

    2009