A Rainha Das Ciencias
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1 Resumos Literários – Conhecimento Específico A Rainha das Ciências – Gilberto Geraldo Garbi
A Rainha das Ciências Gilberto Geraldo Garbi
1 - OS PRIMÓRDIOS DA MATEMÁTICA
A primeira pergunta que nos surge ao
iniciar o estudo da História da Matemática
é: “Quando, como e onde começou a
Matemática? Da mesma forma que as duas
anteriores, esta questão não encontra uma
resposta fácil, mas podemos obter bons
indícios olhando sumariamente as histórias
do Universo, da vida sobre a Terra e da
dramática trajetória do Homem desde o seu
surgimento. Com o surgimento da
Agricultura, chegamos a um marco crucial
na História da Humanidade. Ao aprender a
cultivar as plantas para delas obter
alimentos e insumos, o homem deu início à
primeira grande revolução em sua forma de
viver.
A Agricultura permitiu o aumento mais
rápido da população, fixou o Homem à terra
e obrigou-o a organizar-se socialmente de
forma mais complexa: foi preciso aprender
a planejar e a dividir o trabalho, assim como
a compartilhar a terra e seus frutos. O
Homem foi forçado também, a
compreender melhor os ciclos das estações
do ano e contar o tempo por meio de
calendários. Isso o levou a observar os
astros e a aprimorar sua percepção sobre
aquilo a que chamamos número.
Se fizesse sentido dar uma resposta
menos imprecisa sobre como e quando
começou a Matemática, poderíamos dizer
que foi com o início da Revolução Agrícola,
por volta de 9000 a.C.
Tal resposta, entretanto, deve ser recebida
com muita cautela porque se sabe, por
exemplo, que muitos milênios antes
daquela revolução já existia razoável
volume de comércio entre pessoas e tribos
e nenhum comércio se faz sem rudimentos
de Aritmética.
Nas raízes da escrita sempre estiveram
presentes as necessidades de se efetuar
assentamentos numéricos, em especial os
referentes à produção, estoques,
transações comerciais e arrecadação de
impostos. Alguns especialistas, inclusive,
acreditam que a escrita foi criada
primordialmente para tornar possíveis os
registros numéricos. Somente mais tarde
passou a ser utilizada para os relatos
históricos dos povos e de seus soberanos
2 - MESOPOTÂMIOS, EGÍPCIOS E CHINESES
Sobre egípcios e mesopotâmios, é
preciso inicialmente esclarecer um detalhe
importante: enquanto o Egito foi um país
independente, ao longo de pelo menos três
milênios, até ser conquistado pelo rei persa
Cambises, em 525 a.C.. Já a Mesopotâmia
foi sempre uma região muito conturbada
por guerras entre diversos povos da região,
cada um impondo-se temporariamente
sobre seus antecessores.
A invenção da escrita, em meados do
quarto milênio a.C., deu grande impulso à
Matemática. Os escribas foram os primeiros
a adquirir conhecimentos sobre os
números, até porque era a eles que as
pessoas certamente recorriam sempre que
enfrentavam algum problema mais difícil.
Por sua vez, foram os arquitetos e
construtores primitivos os pioneiros na
solução das questões básicas da Geometria.
É fácil compreender que as primeiras
soluções de problemas aritméticos e
geométricos deram-se de maneira prática,
sem preocupações com formalidades
teóricas. Foi assim, por experimentação,
indução e algum raciocínio, que a
Matemática começou.
É fato que os mais antigos
documentos, indubitavelmente
matemáticos, que chegaram até nós são
tabletes sumérios de barro cozido, datando
2 Resumos Literários – Conhecimento Específico A Rainha das Ciências – Gilberto Geraldo Garbi
de aproximadamente 2200 a.C., mas como
os egípcios escreviam sobre papiros
facilmente degradáveis, eles podem ter
produzido documentos ainda mais antigos e
que se perderam. É preciso lembrar,
entretanto, que existem tabletes sumérios
de cerca de 3500 a.C., quando ainda eram
usados símbolos anteriores aos
cuneiformes, que já traziam registros
numéricos.
Os babilônios já sabiam resolver
equações do primeiro e do segundo graus
(estas pelo método do “completamento do
quadrado”), conheciam a propriedade geral
dos triângulos retângulos hoje chamada de
Teorema de Pitágoras, calculavam
corretamente certas áreas e volumes,
calcularam a diagonal de um quadrado de
lado unitário com a excelente aproximação
1,414213 (provavelmente por algum
método iterativo), etc.
Alguns documentos que chegaram até
nós mostram que, no começo do segundo
milênio a.C., o nível de conhecimentos
egípcios já era bastante elevado. Dois
destes documentos tornaram-se
particularmente célebres e contêm, ambos,
diversos problemas de Aritmética e
Geometria com suas respectivas soluções. O
primeiro deles é o chamado Papiro de
Ahmes (ou Rhind), escrito por volta de 1650
a.C. pelo escriba Ahmes e descoberto no
século XIX pelo egiptólogo escocês A. Henry
Rhind. O segundo mais importante
documento matemático deixado pelos
egípcios é o chamado Papiro de Moscou.
3 - TALES, DE MILETO
A Jônia, um conjunto de colônias nas
ilhas e no litoral da Anatólia, foi o
verdadeiro berço da Filosofia e da
Matemática dedutiva. As causas de um dia
haver surgido de lá uma verdadeira febre
intelectual em todas as direções em que o
pensamento humano pode se voltar
constituem, talvez, o maior mistério da
História da Civilização.
Também na Magna Grécia a Filosofia e
a Matemática desenvolveram-se antes que
Atenas acordasse para elas.Na cidade Jônia
de Mileto (hoje em território pertencente à
Turquia), viveu um homem admirável, mais
tarde considerado um dos Sete Sábios da
Grécia Antiga, chamado Tales. Ele é
considerado o primeiro filósofo e o primeiro
matemático grego e é provável, mas não
aceito unanimemente, que tenha vivido
entre 640 a.C. e 564 a.C.
Embora a Filosofia, a Astronomia e a
Matemática fossem suas paixões, a
atividade rotineira de Tales era o comércio.
Nenhum de seus trabalho chegou até nós
no original, de modo que é impossível
avaliar como suas provas foram construídas
ou mesmo se elas poderiam ser aceitas
modernamente, mas o importante, o
lançamento da semente da Matemática
Dedutiva, já havia sido feito.
4 – PITÁGORAS, DE SAMOS (E, DEPOIS,
CROTONA)
A cerca de 50 quilômetros de Mileto,
na ilha Jônia de Samos, nasceu o homem
que veio a emprestar seu nome ao mais
conhecido dentre todos os teoremas da
Matemática: Pitágoras.
Também sobre ele o que se conta é um
misto de fatos e lendas, sendo muito difícil
distinguir uns dos outros. O período em que
transcorreu sua vida não é conhecido com
exatidão, mas conjectura-se que tenha sido
de 586 a.C. a 500 a.C. Alguns autores
antigos afirmam que houve contato pessoal
entre Pitágoras e Tales, mas outros
historiadores têm dúvidas sobre isso.
Entretanto, é certo que Pitágoras foi
fortemente influenciado pelas ideias de
Tales.
A região de Anatólia onde se situava Mileto estava, em meados do século VI a.C.,
3 Resumos Literários – Conhecimento Específico A Rainha das Ciências – Gilberto Geraldo Garbi
vivendo um período de grande turbulência em razão dos movimentos de formação e expansão do império Persa. Samos ainda resistiu até 520 a.C. mas, percebendo tal clima de insegurança e detestando o tirano Polícrates, que governava a ilha, Pitágoras deixou-a e, após passar algum tempo no Egito e, talvez, na Mesopotâmia, mudou-se para a cidade de Crotona, ao Sul da península italiana. Naquela cidade da Magna Grécia Pitágoras fundou, por volta de 540 a.C., uma escola voltada ao estudo da Filosofia, das Ciências Naturais e da Matemática. Embora Tales tenha sido o primeiro a
declarar que as verdades matemáticas
devem ser provadas pelo raciocínio,
acredita-se que foram os pitagóricos os
primeiros a produzir demonstrações
razoavelmente rigorosas.
A irmandade dos pitagóricos tornou-se
muito poderosa e influente em Crotona até
que a população revoltou-se contra ela.
Pitágoras foi forçado a refugiar-se na cidade
de Metaponto, também na Magna Grécia,
onde, diz-se, que morreu assassinado
durante uma rebelião popular.
5 – OS PRÉ–PLATÔNICOS
A crença de que o mundo era formado
por números inteiros e por relações entre
eles estava muito arraigada na filosofia dos
pitagóricos. Um dia, no entanto, estudando
qual deveria ser a medida da diagonal do
quadrado e supondo que ela pudesse ser
expressa pela relação entre dois inteiros,
chegou-se a um absurdo. Estabeleceu-se,
então, outra forma de se referir a uma
relação entre grandezas que não possa ser
expressa por um número racional é dizer
que as duas grandezas não admitem uma
unidade comum de medida, ou seja, que
elas são incomensuráveis.
O inesperado aparecimento dos
irracionais causou forte impacto entre os
pitagóricos porque, até então, todas as
provas dos teoremas envolvendo
proporções e semelhança haviam suposto
que, dados dois segmentos, duas áreas ou
dois volumes quaisquer, sempre existia
entre suas medidas uma relação exprimível
por meio de números inteiros. Várias lendas
surgiram a respeito desse episódio.
Uma delas diz que os pitagóricos
lançaram Hipasus ao mar, afogando-o por
haver revelado a estranhos aquele fato
desconcertante. Outra diz que Hipasus
morreu em um naufrágio, castigado pelos
deuses pelo mesmo motivo.
6 – OS TRÊS PROBLEMAS CLÁSSICOS
A Trissecção do Ângulo, a Quadratura
do Círculo e a Duplicação do Cubo passaram
para a História como Os Três Problemas
Clássicos e geraram uma infinidade de
estudos que ajudaram a promover avanços
na Geometria. Entretanto, a civilização
grega desapareceu sem que as soluções
fossem encontradas. Somente no século
XIX, passados mais de 23 séculos, os
matemáticos modernos resgataram a honra
de seus colegas gregos, provando que as
soluções não foram encontradas
simplesmente porque as construções são
impossíveis com régua e compasso (a rigor,
a trissecção do ângulo é possível apenas em
casos particulares, como 90°, 180°, etc.,
sendo impossível de uma forma geral).
7 – PLATÃO E SEUS DISCÍPULOS
Platão (427 a.C. – 347 a.C.), cujo
verdadeiro nome era Arístocles, foi um dos
mais brilhantes, lúcidos e nobres espíritos já
produzidos por nossa espécie. Acima
de tudo um grande filósofo, Platão soube
reconhecer o valor da Matemática não
apenas por ser indispensável à
compreensão do mundo físico mas,
4 Resumos Literários – Conhecimento Específico A Rainha das Ciências – Gilberto Geraldo Garbi
também, por habituar seus praticantes a
conduzir o raciocínio de maneira lógica.
8 – EUCLIDES E OS ELEMENTOS
Em 338 a. C., Filipe II da Macedônia
venceu as tropas reunidas de Atenas e
Tebas e conseguiu colocar sob seu comando
a maioria das cidades-estados gregas.
Entretanto, Filipe II foi assassinado e o
trono coube a seu filho de apenas 20 anos,
ex-aluno de Aristóteles, que entrou para a
História como Alexandre, o Grande, o maior
general da Antiguidade. Em 334 a.C.,
Alexandre atravessou o Helesponto e, em
sete anos, conquistou a Pérsia e chegou ao
Norte da Índia. O Egito foi tomado em 332
a.C. e ali, no delta do Nilo, ele fundou uma
cidade portuária que recebeu o nome de
Alexandria. Alexandre morreu em 323 a.C.
Seu império foi dividido entre os três
maiores de seus generais: Seleuco (Síria,
Mesopotâmia, Anatólia e planalto da
Pérsia), Antígono (Grécia continental e
Macedônia) e Ptolomeu (Egito). Assim
começou o Helenismo, a disseminação da
cultura grega no Oriente Próximo.
Por volta de 300 a.C., Ptolomeu,
estimulado por um filósofo chamado
Demétrio, de Falero, decidiu fazer de
Alexandria um grande centro do saber e da
cultura. Mudando-se para Alexandria,
idealizou criar ali um centro de estudos
muito superior aos de outras cidades do
mundo grego, em especial dotando-o de
uma grande biblioteca. Com o apoio de
Ptolomeu, Demétrio começou a atrair para
Alexandria os maiores pensadores do
mundo grego e foi assim que, por volta de
300 a.C., um matemático de nome Euclides
passou a ensinar a Geometria ali.
Pouco se sabe sobre Euclides. Com
segurança, podemos apenas dizer que foi
diretor da área de Matemática do Museu de
Alexandria, que lá ensinou os Elementos e
outros livros e que esteve no auge de sua
genialidade por volta de 300 a.C. Parece,
também, não haver dúvidas quanto aos
objetivos de Euclides ao escrever seus
Elementos, em 13 livros: tratava-se de
material didático para o ensino de
Geometria (elementar) aos iniciantes.
9 – ARQUIMEDES, DE SIRACUSA
Arquimedes, nascido em 287 a.C. na
cidade de Siracusa, na ilha da Sicília, foi o
maior gênio da Antiguidade. Seus feitos nos
campos da Matemática e da então
incipiente Física foram admiráveis e
credenciavam-no a integrar o seleto rol dos
três maiores matemáticos de todos os
tempos, junto a Isaac Newton (1642 – 1727)
e Carl Friedrich Gauss (1777 – 1855).
Arquimedes foi o inventor da polia
composta, por meio da qual uma força
menor pode ser multiplicada (às custas da
redução da velocidade de deslocamento) de
modo a superar outra maior.
Arquimedes morreu em 212 a.C., aos
75 anos, vitimado pela 2ª guerra Púnica,
entre Roma e Cartago. O rei de Siracusa
colocou-se ao lado de Cartago e, em
consequência, a cidade foi atacada pelos
exércitos de Roma, comandados pelo
general Marcelo.
No que diz respeito aos navios
romanos, puseram-se ao lado das muralhas
litorâneas para que os soldados as
escalassem, “gigantescos postes saíram dos
muros sobre os navios e afundaram alguns,
soltando sobre eles grandes pesos. Outros
foram levantados para o ar por um braço de
ferro... e mergulhados no fundo do mar”.
“Ao final, os romanos foram reduzidos a tal
estado de alarme que bastava verem um
pedaço de corda ou uma peça de madeira
aparecer por cima da muralha para
começar a gritar: ‘cuidado, Arquimedes está
5 Resumos Literários – Conhecimento Específico A Rainha das Ciências – Gilberto Geraldo Garbi
apontando uma de suas armas contra nós”’.
(Plutarco)
Em toda a História, ele representa o
matemático que esteve tantos séculos à
frente de seu tempo. É pouco provável que
isso venha a se repetir, mesmo no mais
longínquo futuro. Quem lê sobre a vida e a
obra de Arquimedes fica compelido a
afirmar que ele possuiu a maior mente
matemática de todos os tempos, mas é
impossível prová-lo por critérios objetivos.
Entretanto, também por critérios objetivos,
é impossível assegurar que alguém o tenha
superado.
10 – APOLÔNIO, DE PERGA
A Universidade de Alexandria teve seu
nome ligado a muitos matemáticos e
astrônomos de grande valor. Três deles,
verdadeiros gigantes da Matemática,
caracterizaram o período que, mais tarde,
veio a ser chamado de a Idade de Ouro
daquela escola: Euclides, Arquimedes e
Apolônio.
Apolônio nasceu em 262 a.C., na
cidade de Perga, ao Sul da Anatólia, e
provavelmente estudou em Alexandria,
sendo certo que ali lecionou por algum
tempo. Foi nessa fase que realizou seus
melhores trabalhos, vindo a adquirir
reputação tão elevada que, ainda em vida,
já era conhecido como O Grande Geômetra.
Apolônio foi também astrônomo e
sabe-se que várias de suas obras foram
perdidas, podendo-se apenas avaliar o
conteúdo de algumas delas através de
referências feitas posteriormente por
outros. Sua obra prima Cônicas, pela qual é
mais lembrado, chegou até nós quase
completa. Aquele volumoso tratado foi
composto em oito livros, contendo mais de
480 proposições rigorosamente
demonstradas sobre a elipse, a hipérbole e
a parábola. Sete de tais livros chegaram até
nós, quatro em grego e três em árabe,
contudo, um foi perdido. Com base em
indicações de Papus, que viveu mais de
cinco séculos depois, o grande astrônomo
inglês Edmond Halley (1656-1742) fez-lhe
uma restauração parcial.
Apolônio foi o primeiro a empregar os
termos elipse, hipérbole e parábola e a
mostrar que elas podem ser geradas
seccionando-se um cone duplo por meio de
um plano de inclinação variável em relação
a seu eixo. Quando, a partir do
Renascimento, a Matemática recebeu
vigoroso impulso, célebres geômetras como
Fermat, Descartes, Pascal e, em especial,
Isaac Newton, beberam fartamente das
cristalinas águas das obras de Apolônio,
principalmente suas Cônicas.
Muitas das históricas demonstrações
dadas por Newton nos Principia, sobre os
movimentos elípticos dos astros do Sistema
Solar, utilizaram propriedades das secções
cônicas que haviam sido reveladas 19
séculos antes pelo O Grande Geômetra.
11 – NOVE SÉCULOS DA UNIVERSIDADE DE
ALEXANDRIA
A mais antiga das universidades
européias, a de Bolonha, na Itália, foi
fundada em 1088. De lá até agora (2010)
transcorreram 922 anos. A Universidade de
Alexandria atravessou séculos turbulentos,
entremeados por períodos de tranquilidade,
e viveu fases de glória, decadência e
reerguimento, até ser definitivamente
fechada pelos conquistadores árabes no
ano 641 d.C. A duração de sua existência
foi, portanto, cerca de 940 anos, o que
demonstra que, somente por volta do ano
2028, a mais velha das universidades da
Europa terá vivido um período tão longo
como aquele em que a escola de Alexandria
manteve-se em atividade. Este fato
admirável, sobre o qual os livros pouco
6 Resumos Literários – Conhecimento Específico A Rainha das Ciências – Gilberto Geraldo Garbi
comentam de, fala por si mesmo sobre o
que aquele núcleo de saber legou para as
gerações futuras e explica o grande número
de sábios da Antiguidade que passaram por
ele.
Já no primeiro século de existência a
Universidade viveu sua Idade de Ouro, com
Euclides, Arquimedes e Apolônio. Também
da mesma época foi o grande astrônomo
Aristarco, de Samos (circa 310 a.C. – 230
a.C.). Também na fase áurea viveu o célebre
Erastótenes, de Cirene (275 a.C. – 195 a.C).
Por volta de 140 a.C., destacou-se na
Universidade um grande geômetra e
astrônomo, de nome Hiparco. Nascido em
Niceia em 180 a.C. e falecido em 125 a.C.,
Hiparco é considerado o criador da
Trigonometria.
Em 31 a.C. o Egito tornou-se uma
província do Império Romano e a
Universidade enfraqueceu-se ainda mais.
Somente um século após a tomada do Egito
por Roma a Universidade veio a produzir
um novo gênio, na pessoa do grande Herão,
de Alexandria. Tratava-se de homem de
vastos conhecimentos, não apenas na
Matemática mas, também, na
Astronomia,Física e Engenharia. Vários de
seus trabalhos chegaram até nós, mas ele é
mais lembrado hoje pela chamada Fórmula
de Herão, que permite calcular a área de
um triângulo conhecidas as medidas dos
três lados.
Viveu Menelau, poucas décadas depois
de Herão, cujas melhores obras parecem
ter sido produzidas por volta de 100 d.C..
Sabe-se que escreveu um tratado sobre
cordas de um círculo, ou seja, sobre a antiga
Trigonometria. Tal obra perdeu-se, mas seu
precioso tratado Esférica foi salvo por
tradutores árabes e nos mostra o quão
talentoso foi seu autor.
Cerca de meio século após Menelau,
por volta de 150 d.C., trabalhou na
Universidade um grande gênio, de nome
Klaudius Ptolemanios, atualmente
conhecido por Cláudio Ptolomeu. Vários de
seus tratados sobreviveram, versando sobre
Geografia, Cartografia, Astrologia,
Astronomia, Matemática e Música. Seu
trabalho mais importante chama-se Coleção
Matemática, um volumoso tratado de
astronomia matemática também conhecido
por Almagesto.
Quase um século após Cláudio
Ptolomeu, acredita-se que por volta de 250
d.C., um grande talento matemático
floresceu na Universidade. Ele é conhecido
por Diofante de Alexandria e sua grande
contribuição se deu nos campos da Álgebra
e da Teoria dos Números.
Cerca de 50 anos depois de Diofante,
por volta de 300 d.C., trabalhou na
Universidade um geômetra de excepcional
talento, conhecido como Papus, de
Alexandria. Papus é com justiça considerado
o último dos grandes geômetras gregos. Se
a Idade de Ouro da Universidade foi o século
de Euclides, Arquimedes e Apolônio, o
século de Diofante e Pappus foi sua Idade de
Prata, o verdadeiro canto de cisne daquela
célebre escola.
Depois de Papus, a decadência da
Universidade não mais cessou. Nesta fase
final, viveram os comentaristas que se
tornaram importantes como fontes de
informações, mas sem o talento dos
grandes vultos do passado. Os principais
foram Têon, Hipácia, Proclo, Simplício e
Eutócio.
O Egito caiu em 641 d.C., sob o Califa Omar, que fechou definitivamente o farol do saber que brilhara em Alexandria por quase um milênio. Uma longa e escura noite caiu sobre a ciência do Ocidente e, por pelo menos seis séculos, a Europa esteve fora do mapa mundial dos avanços matemáticos.
7 Resumos Literários – Conhecimento Específico A Rainha das Ciências – Gilberto Geraldo Garbi
12 – ÁRABES, HINDUS, CHINESES E A
EUROPA MEDIEVAL
Enquanto o Império romano do
Ocidente ruía e o Islã erigia seu grande
reino, na Índia, a Matemática vivia um
período de especial florescimento. Muito
antes, por volta de 3000 a.C., quando os
egípcios e sumérios construíam as bases de
suas notáveis civilizações, um povo
igualmente desenvolvido habitou o norte da
Índia, em Mohenjo Daro. Suas cidades
dispunham de ruas pavimentadas, redes de
água e esgoto, piscinas públicas e banheiros
nas residências. Os campos eram irrigados,
uma escrita própria fora criada e um
intenso comércio estimulava a economia da
região. É quase certo que uma civilização
assim evoluída possuía muitos
conhecimentos práticos de Aritmética e
Geometria.
Por meio do contato com outros povos
e por iniciativa própria, a Índia desenvolveu-
se na Astronomia e na Matemática e o fez
tão bem que veio a ensinar o mundo a
utilizar o instrumento com que hoje
trabalhamos na Aritmética: o sistema
posicional de numeração na base dez,
empregando dez símbolos, um dos quais, o
zero. É importante e justo, entretanto,
ressaltar que os maias, na América Central,
já usavam um sistema posicional com um
símbolo para o zero por volta do século V
d.C., provavelmente antes dos hindus.
O mais importante dos clássicos
matemáticos da China antiga denomina-se
Kiu-chang Suan-shu (Aritmética em Nove
Seções) e, como ocorre com os demais, sua
idade é conjectural: supõe-se que seja
contemporâneo do I-king e do Chou Pei
(século XII a.C.). A partir da virada do
século XV para o XVI, uma verdadeira febre
pelo estudo das ciências, a começar pela
Matemática, passou a varrer países como a
Itália, a França, a Inglaterra, a Alemanha e a
Holanda: finalmente, o gênio matemático
da Europa conseguira libertar-se da garrafa.
13 – O NASCIMENTO DE UMA NOVA
MATEMÁTICA
Um milênio se passou desde o fim da
matemática grega até o início do século XVI.
Nesse longo período, pouquíssimo de
realmente novo foi criado em Matemática.
Em 1473, em Torun, na Polônia, nasceu
Niklas Koppernigk, ou Nicolau Copérnico, o
homem que desencadeou uma revolução
que se propagou por todas as áreas do
saber. Em 1506 começou a desenvolver um
sistema astronômico com base em suas
observações dos corpos celestes. Logo
constatou que a hipótese geocêntrica, de
Aristóteles e Cláudio Ptolomeu, não era
compatível com a realidade e que a teoria
dos egípcios era uma forma artificial de se
ajustar os fatos àquela hipótese.
Sabendo das dificuldades de aceitação
do heliocentrismo, já que a Bíblia colocava a
Terra e o Homem no centro do Universo e
que a Igreja, abalada em 1517, pelo cisma
protestante, tornara-se extremamente
sensível a tudo o que pudesse parecer
heresia, ele continuou suas pesquisas em
silêncio. Na mesma época em que
Copérnico revolucionava a Astronomia, a
Álgebra também passava, no norte da Itália,
por profundas transformações.
No mesmo período, e na mesma
região, viviam dois matemáticos cujos
nomes entraram para a História: Girolamo
Cardano (1501 – 1576) e Nicolò Fontana
(1500 – 1557), apelidado Tartaglia.
Galileu nasceu em Pisa, em 15 de
fevereiro de 1564, o primogênito dentre os
sete filhos de um culto comerciante. Aos
dezessete anos entrou na Universidade de
Pisa para estudar Medicina e logo passou a
criticar os conceitos médicos e fisiológicos
herdados de Aristóteles e Galeno. Sua
passagem pela medicina foi breve e ele logo
8 Resumos Literários – Conhecimento Específico A Rainha das Ciências – Gilberto Geraldo Garbi
a deixou, levado pela paixão pela
Matemática e pela Física. Em pouco tempo
Galileu captou a essência daquelas ciências
e começou a meditar sobre elas, formando
sua própria visão física do Universo.
Em 1611, foi recebido pelo Papa,
novamente, falou à cúpula da Igreja sobre
suas descobertas astronômicas que
divulgava livremente em livros e palestras.
Não tardaria muito para que a situação
mudasse drasticamente e ele passasse a ser
perseguido pelo clero em razão de seus
trabalhos científicos.
Outro gênio da Matemática e da
Astronomia, foi Johannes Kepler. Kepler
nasceu, em 1571, em uma cidadezinha da
Alemanha, chamada Weil der Stadt, e viveu
cerca de seis décadas atormentado por
muitos problemas. Nascido
prematuramente, filho de um aventureiro
irresponsável, Kepler escapou da morte por
varíola aos quatro anos e guardou para
sempre as cicatrizes deixadas em seu corpo.
Dotado de uma inclinação inata pela
Matemática e pelas ciências, conseguiu
estudar em um seminário e na Universidade
de Tübingen.
Em 1594, Kepler passou a ensinar
Matemática em um seminário protestante
em Graz, na Áustria. Acreditando que o
Universo era regido por leis matemáticas e
afirmando que a Geometria fazia parte da
mente de Deus, Kepler buscava uma
roupagem matemática com que vestir suas
observações do Sistema Solar.
Dois grandes discípulos de Galileu
foram Bonaventura Cavalieri (1598 – 1647)
e Evangelista Torricelli (1608 – 1647).
Bonaventura Cavalieri, nascido em Milão,
foi professor da Universidade de Bolonha
por 18 anos e escreveu volumosa obra nos
campos da Matemática, Óptica e
Astronomia. O trabalho pelo qual ele é hoje
mais lembrado denominou-se Geometria
Indivisibilibus (1635) e nele Cavalieri expôs
seu método para o cálculo de áreas ou
volumes de certas figuras delimitadas por
linhas ou superfícies curvas. Evangelista
Torricelli (1608 – 1647), mais conhecido por
seus estudos no campo da Física, onde
inventou o barômetro, também, foi um
grande matemático.
14 – DESCARTES, FERMAT E PASCAL
Na virada do século XVI, que já
produzira gênios como Copérnico, Tartaglia,
Cardano, Ferrari, Bombelli, Viète, Napier,
Galileu, Kepler, Torricelli, Cavalieri e
Desargues, o destino ainda fez nascer na
França três gigantes – Descartes, Fermat e
Pascal.
René Descartes nasceu em La Haye,
Touraine, em 31 de março de 1596, filho de
um jurista bem sucedido. As condições
materiais da família permitiram que
Descartes jamais tivesse que lutar por seu
sustento mas, ao contrário do que se
poderia imaginar, muito cedo ele deu início
a uma incessante luta pelo enriquecimento
do espírito.
Em 1617, Descartes mudou
bruscamente o rumo de sua vida,
integrando-se ao exército holandês em
Breda, para adquirir outros conhecimentos
sobre o mundo.
Descartes desligou-se do exército em
1621 e mudou novamente o foco de suas
atenções, visitando vários países da Europa
do Norte e a Itália, retornando a Paris em
1625. Os quatro primeiros anos desta fase
de sua vida foram dedicados à construção
de sua filosofia, profundamente
influenciada pelas descobertas do
Renascimento, em especial na Astronomia.
Como alguns princípios deveriam ser
assumidos, Descartes considerou que a
existência do ser estar inquirindo o
Universo poderia ser aceita como verdade
absoluta, daí decorrendo sua famosa frase:
9 Resumos Literários – Conhecimento Específico A Rainha das Ciências – Gilberto Geraldo Garbi
“Penso, logo existo” (“Cogito, ergo sum”).
Ao final, Descartes produziu uma complexa
filosofia em que: o mundo é formado por
espírito e matéria, o Universo não passa de
matéria em incessante movimento e os
fenômenos naturais são explicáveis pelo
movimento da matéria.
Na mesma época em que viveu
Descartes, outro célebre francês, Pierre de
Fermat (1601? – 1665), dedicou seu
excepcional talento ao estudo amadorístico
da Matemática e nela deixou sua marca de
gênio. O título que a posteridade lhe
outorgou, O Príncipe dos Amadores,
espelha bem o afeto e a admiração que
Fermat grangeou junto às gerações de
profissionais que o sucederam nos últimos
quatro séculos.
Durante décadas Fermat envolveu-se
em pesquisas sobre temas então
atualíssimos, como Óptica, Teoria das
Probabilidades e aquilo a que hoje
chamamos de Cálculo Diferencial mas,
dentro de seu leque de interesses, a Teoria
dos Números ocupava o centro do palco.
Dominando o grego antigo, não teve
dificuldade em estudar geômetras clássicos
como Apolônio e Papus, até que lhe caiu
nas mãos a versão em Latim e Grego da
Aritmética, de Diofante, publicada na
França por Bachet de Méziriac, em 1621.
Dissecando os teoremas que Diofante
encontrara 13 séculos antes, Fermat foi
adicionando às margens do livro preciosos
comentários contendo suas próprias
descobertas e inovando em relação ao
grego.
E foi um de tais comentários marginais
que deu origem ao que veio mais tarde a
ser chamado de O Último Teorema de
Fermat, questão que ocupou as melhores
mentes matemáticas do mundo durante
três séculos e meio, até ser resolvida em
1993 pelo inglês Andrew Wiles.
Em 19 de junho de 1623, quando
Descartes e Fermat estavam,
respectivamente, com 27 e 22 anos, nasceu
na cidade de Clermont Ferrand um menino
chamado Blaise Pascal, cuja curta e
turbulenta vida foi marcada pela
genialidade nas Ciências Exatas, pelo
misticismo religioso, pela profundidade
filosófica, pela doença e por intensos
sofrimentos físicos e mentais.
Sabendo que a Matemática costuma
absorver de tal maneira o espírito daqueles
que por ela se apaixonam, a ponto de
negligenciarem outros campos igualmente
importantes da formação intelectual,
Étienne procurou manter o menino
afastado dela o quanto lhe foi possível.
Enquanto isso educou-o dentro de uma
orientação humanística, fazendo-o estudar
Latim, Grego e os autores clássicos. Mas a
curiosidade de Blaise em saber o que era a
Matemática fazia com que ele sempre
questionasse o pai sobre o tema, sem
jamais receber resposta.
Desde os sete anos Pascal vivia em
Paris e, aos catorze, passou a frequentar,
junto com o pai, as reuniões matemáticas
semanais que Mersenne promovia em sua
casa. Foi ali que, aos dezesseis anos,
conheceu Desargues, que estava revelando
ao mundo as técnicas da Geometria
Projetiva. Desargues explicou-lhe do que se
tratava e estimulou-o estudar as cônicas por
meio dela. A resposta de Pascal foi
imediata: em pouco tempo produziu um
trabalho, denominado Essay pour les
Coniques (Ensaio sobre as Cônicas), onde
apresentou um dos mais belos teoremas de
toda a Geometria.
15 – FAÇA-SE NEWTON! E TUDO FOI LUZ...
Isaac Newton, nascido em
Woolsthorpe, Inglaterra, em 1642 e falecido
em Londres em 1727, é generalizadamente
10 Resumos Literários – Conhecimento Específico A Rainha das Ciências – Gilberto Geraldo Garbi
considerado o maior intelecto já produzido
pela Humanidade no âmbito das Ciências
Exatas. Suas realizações no campo da Física
e da Matemática foram de tal maneira
importantes que não há exagero em
creditar-se a ele a criação do arcabouço
físico-matemático dentro do qual começou
a ser construída a civilização tecnológico-
industrial em que vivemos hoje.
Dentre os inúmeros gênios que nossa
espécie conseguiu gerar, Newton é o único
que pode ostentar os galardões de
pertencer simultaneamente aos grupos dos
maiores físicos e dos maiores matemáticos
de todos os tempos. Ninguém, antes ou
depois dele, teve tanta perspicácia e
sensibilidade em penetrar nos segredos do
Universo, através de experiências que
requeiram excepcional talento e habilidade,
e em utilizar a Matemática como um facho
de luz em sua caminhada desbravadora.
Na Matemática suas criações mais
lembradas, pela incomparável importância,
foram os Cálculos Diferencial e Integral, mas
ele deixou também grandes contribuições
em áreas como o Cálculo Numérico, Séries
Infinitas, Álgebra, estudos diversos sobre
curvas, leis da potenciação (Binômio de
Newton), etc. Na Física, sistematizou as leis
da Dinâmica (o que permitiu estudo
abrangente dos corpos em movimento),
formulou a Lei da Gravitação Universal,
sistematizou a Óptica e concebeu a Teoria
das Cores. Para levar a cabo de suas
pesquisas, projetou e construiu
pessoalmente, valendo-se de sua grande
habilidade manual, complexos instrumentos
científicos, em particular telescópios e
lentes.
Gottfried Wilhelm Leibniz, nascido em
Leipzig, Alemanha, em 1646, e falecido em
Hannover, em 1716, foi uma das mais
brilhantes inteligências de todos os tempos.
Reconhecido posteriormente como um
verdadeiro gênio universal, pela
abrangência de sua cultura, Leibniz foi
jurista, diplomata, estudioso da teoria
política, filólogo, filósofo, historiador,
lógico, geólogo, teólogo, inventor de uma
máquina de calcular e matemático de
altíssimo nível.
A Geometria Analítica, o conceito de
função, o método de Fermat para o traçado
de tangentes, os estudos de Cavalieri sobre
os “indivisíveis”, tudo apontava para uma
nova modalidade de cálculo que
sistematizasse a operação a que Eudóxio,
dois mil anos antes, denominara
“exaustão”. Leibniz percebeu tal momento
histórico, captou o espírito matemático da
época e entrou por um caminho que o
conduziu aos Cálculos Diferencial e Integral.
Em 1676, durante uma missão
diplomática a Londres, Leibniz, que já
trabalhava nas questões dos Cálculos,
visitou a Royal Society e teve acesso a uma
cópia do manuscrito De Analysi, de Newton.
Hoje os especialistas acreditam que, mesmo
tendo tido acesso ao De Analysi, Leibniz
concebeu suas idéias sobre os Cálculos
independentemente da influência de
Newton. Embora tenham chegado aos
mesmos resultados, Newton e Leibniz
deram à questão tratamentos muito
diferentes, inexistindo qualquer evidência
de plágio.
No mesmo ano em que Leibniz
anunciava ao mundo a criação dos Cálculos,
1684, ocorreu um fato que veio a afetar
profundamente o restante da vida de
Newton e dar à Ciência um impulso
decisivo. Por volta dos anos 1660, Newton
sabia que as forças de atração entre os
astros eram inversamente proporcionais
aos quadrados das distâncias mas, nada
havendo publicado, outros astrônomos e
físicos continuaram a estudar os
movimentos celestes na tentativa de
entender suas leis. Isaac Newton faleceu em
20 de março de 1727, antes de completar
11 Resumos Literários – Conhecimento Específico A Rainha das Ciências – Gilberto Geraldo Garbi
85 anos, debilitado pela gota, por
inflamações pulmonares e por pedras na
bexiga.
Mesmo sem os modernos meios de comunicação, toda a Inglaterra e os centros científicos da Europa logo receberam a notícia e choraram sua perda. A nobreza do país, à qual ele também havia sido alçado pelas mãos de uma rainha, decidiu proporcionar-lhe funerais à altura de sua grandeza e de sua importância na história da civilização.
Newton está sepultado em local de
destaque na Abadia de Westminster, entre
reis, nobres, poetas e outras personalidades
do Império Britânico. Em torno dele,
descansam Michael Faraday, o gênio da
eletricidade, George Green, grande
matemático do século XIX, Lord Kelvin,
físico, James Clerck Maxwell, que previu
matematicamente a existência das ondas
eletromagnéticas, e Paul Dirac, um dos
maiores físicos nucleares do século XX. A
poucos passos desta constelação repousa
Charles Darwin, o naturalista que formulou
a teoria da evolução das espécies. Assim, Sir
Isaac Newton, o prematuro e póstumo filho
de um lavrador analfabeto, após uma longa
e fecunda vida em que incansavelmente
buscou desvendar os segredos do Universo,
finalmente encontrou repouso eterno
naquele pequeno pedaço de Paraíso.
16 – EULER, O MESTRE DE TODOS NÓS
Uma entre as várias maneiras possíveis
de se começar a apresentação da vida e da
obra do grande Leonhard Euler (1707 –
1783), talvez a mais sintética seja dizer que
ele foi um furacão que varreu o território da
Matemática durante a maior parte do
século XVIII e que, nas quase seis décadas
de sua vida, matematicamente produtiva,
dominou o cenário mundial das Ciências
Exatas, sem que qualquer outra das grandes
figuras da época pudesse disputar-lhe o
cetro. Euler é, sem dúvida, e de longe, o
matemático que mais obras produziu em
todos os tempos, cobrindo todas as áreas
então conhecidas da Matemática e criando
outras que não haviam sido sequer
vislumbradas por seus antecessores. Ao
final da vida, Euler havia escrito cerca de
900 tratados, livros e estudos, cuja
velocidade de produção jamais conseguiu
ser acompanhada pelos editores ou jornais
acadêmicos dedicados àquele tipo de
publicação. Euler escreveu sobre Álgebra,
Geometria, Teoria dos Números, Topologia,
Cálculo, Equações Diferenciais, Geometria
Diferencial, Cálculo das Variações, Música,
Astronomia, Mecânica, Engenharia,
Acústica, Mecânica Celeste, entre outros
assuntos. Com a aparente facilidade de que
falava Plutarco, referindo-se a Arquimedes.
François Arago, físico e matemático francês
da mesma época, apelidou-o de
“encarnação da análise” e costumava dizer
que “Euler calcula com a mesma facilidade
com que as pessoas respiram e as águias
pairam no ar”.
17 – GAUSS, O PRÍNCIPE DOS
MATEMÁTICOS
Para qualquer pessoa familiarizada
com a Matemática, o nome de Carl
Friedrich Gauss (1777 – 1855) é sinônimo de
genialidade suprema, de talento
inexplicável, de raciocínio lógico em seu
estado mais puro. Titã, Colosso de Rodes,
Príncipe dos Matemáticos, foram alguns dos
codinomes que seus colegas, com
justificado respeito e admiração,
concederam-lhe ao longo de uma das mais
espetaculares carreiras já vistas nas Ciências
Exatas. É entendimento geral que apenas
dois outros gigantes da Matemática podem
ombrear-se a Gauss: Arquimedes e Newton.
Gauss foi o mais precoce dentre todos
os gênios, um verdadeiro Mozart da Rainha
das Ciências. Filho de um honrado, mas
inculto trabalhador braçal da cidade de
Brunswick, Alemanha, ele tinha pouco mais
12 Resumos Literários – Conhecimento Específico A Rainha das Ciências – Gilberto Geraldo Garbi
de três anos quando mostrou ao pai um
erro que este cometera ao calcular o
quanto deveria pagar a alguns pedreiros
que o auxiliavam. Também com essa idade
começou a perguntar aos adultos os
significados das várias letras e rapidamente
alfabetizou-se por si mesmo. Sua mãe,
Dorothea, apesar da pequena escolaridade,
era muito inteligente e logo percebeu o
valor daquele tesouro que trouxera ao
mundo.
É amplamente conhecida a maior
façanha matemática de Gauss quando,
ainda menino, tendo sido enviado à escola
aos sete anos, aos nove começou a receber
aulas de Aritmética de um obscuro
professor primário chamado Büttner. Certo
dia, ele mandou as crianças somarem os
inteiros de 1 a 100, esperando, com isso,
mantê-los ocupados por bastante tempo.
Para sua surpresa, o garotinho Gauss,
depois de poucos minutos, dirigiu-se à mesa
do professor e entregou-lhe uma pequena
lousa com o resultado correto: 5.050.
Büttner percebeu que seu jovem aluno não
reagia como as outras crianças, mas, ao
contrário, raciocinava como um verdadeiro
matemático. Passou então a entregar a ele
livros mais avançados e encarregou seu
assistente de 17 anos, Johann Martin
Christian Bartels, também apaixonado pela
Matemática, de orientar o garoto.
Bartels conseguiu conquistar para seu
jovem amigo as atenções de um
matemático de nome Zimmermann e este
apresentou-o, aos 14 anos, à autoridade
máxima da região, o Duque Ferdinand, de
Brunswick. O Duque, generoso e
esclarecido, reconheceu o grande valor de
Gauss e decidiu conceder-lhe um patrocínio
que se estendeu por muitos anos. Como
Euler, ele era também um gênio linguístico
e já dominava o Grego, o Latim, o Inglês, O
Francês e o Dinamarquês.
Ao chegar a Göttingen, Gauss estava
totalmente tomado por sua paixão pela
Teoria dos Números, certamente
influenciado pelo que lera em Euler (Gauss
sempre dizia: A Matemática é a Rainha das
Ciências e a Teoria dos Números é a Rainha
da Matemática).
No dia 30 de março de 1796,
Gauss deu início a um diário onde passou a
registrar sinteticamente suas melhores
ideias, muitas delas jamais cogitadas
anteriormente por outros e que abriram
novos campos para a pesquisa Matemática.
Ao todo, foram 146 anotações, a última
delas de nove de julho de 1814.
O diário somente foi
descoberto 43 anos após sua morte, junto a
um de seus netos, e a comunidade
matemática ficou perplexa ao constatar que
muito do que se imaginava terem sido
realizações modernas já havia sido pensado
por ele décadas antes (duas de suas
anotações não foram compreendidas até
agora).
É quase impossível sumarizar tudo o
que Gauss produziu nos campos das
matemáticas pura e aplicada, mas podemos
acrescentar que ele conduziu a Geometria
Diferencial iniciada por Euler a níveis muito
altos, realizou intensos trabalhos
geodésicos; publicou uma obra-prima sobre
Astronomia; desenvolveu pesquisas sobre
eletricidade e magnetismo; estudou as
funções de variáveis complexas. Ele fez,
também, uma corajosa, profunda e
inovadora incursão pela Geometria,
tornado-se o primeiro matemático a
desenvolver um sistema logicamente
coerente em que o postulado das paralelas
não mais obedecia à formulação euclidiana.
Gauss entrou conscientemente naquele
estranho território antes de qualquer outro
geômetra. Seu desinteresse em publicar o
que descobrira acabou permitindo que dois
outros matemáticos divulgassem trabalhos
13 Resumos Literários – Conhecimento Específico A Rainha das Ciências – Gilberto Geraldo Garbi
equivalentes antes dele e fossem aclamados
criadores das geometrias não-euclidianas.
Gauss morreu aos 78 anos, em sua
casa, no observatório de Göttingen, ainda
desfrutando plenamente de seus
incomparáveis dotes intelectuais. Dentre as
inúmeras homenagens que recebeu, uma
foi muito especial, por ter vindo do Rei
George V, de Hannover. Da mesma forma
que a rainha Anne, da Inglaterra, elevara
Newton à nobreza, concedendo-lhe o título
de Cavaleiro do Império Britânico, o
mencionado monarca mandou cunhar uma
medalha em que o reino oficializava o título
que o mundo já havia informalmente
outorgado a nosso herói. Contendo em uma
face a nobre efígie de Gauss perfilado, na
outra a medalha exibe estas palavras:
GEORGIUS V
REX HANNOVERAE
MATHEMATICORUM
PRINCIPI
(Jorge V, rei de Hannover, ao Príncipe dos
Matemáticos)
18 - MATEMÁTICOS FRANCESES PRÉ E PÓS
REVOLUÇÃO
Excetuada a Grécia Antiga, nenhum
país produziu tantos matemáticos de
renome quanto a França. Além de ser
impossível medi-las objetivamente, gênios
como Newton e Leibniz, que mudaram os
rumos da História com a invenção dos
Cálculos, e Gauss, cuja monumental obra
dispensa comentários, distorcem toda
tentativa de comparação. Mas é indiscutível
que a França desempenhou um papel
decisivo na criação da Matemática
Moderna.
20 – GEOMETRIAS NÃO-EUCLIDIANAS
A expressão “Geometrias Não-
Euclidianas” costuma provocar uma falsa
ideia de extrema dificuldade. A maioria dos
livros não tem contribuído para dissipar
esta impressão: os que falam
genericamente sobre o tema, enunciando
estranhas propriedades sem prová-las,
parecem considerar os leitores incapazes de
compreender as demonstrações enquanto
os volumosos tratados que entram em
minúcias causam desânimo já à primeira
folheada.
Os primeiros teoremas não-euclidianos
foram achados pelo padre jesuíta italiano
Girolamo Giovanni Saccheri (1667 -1723).
Nascido em San Remo, foi professor de
retórica, filosofia e teologia em Milão,
Turim e Pávia. Em Milão teve contato com
grandes matemáticos italianos da época,
entre eles o famoso professor Tommaso
Ceva, irmão de Giovanni, o descobridor do
Teorema de Ceva. Foi assim que conheceu
os Elementos, apaixonou-se por eles e
desenvolveu seu agudo raciocínio lógico.
Sabendo de tentativas feitas anteriormente,
no sentido de demonstrar o quinto
postulado, em especial a do árabe Nasir Ed-
din, publicada com comentários pelo inglês
John Wallis (1616 – 1703), Saccheri resolveu
encontrar por si mesmo uma prova. Pouco
antes de morrer, depois de longos anos de
estudos, publicou suas conclusões em um
célebre livro chamado “Euclides ab omni
naevo vindicatus” (Euclides livre de todas as
máculas). Seu livro terminou de forma
melancólica porque ele entrara bastante em
um novo mundo, passeara por ele e
retornara não acreditando em sua
existência.
O esforço de Saccheri, entretanto, não
foi perdido porque outros matemáticos
leram sua obra e tentaram ir mais adiante.
Um deles foi o suíço Johann Heinrich
14 Resumos Literários – Conhecimento Específico A Rainha das Ciências – Gilberto Geraldo Garbi
Lambert (1728 – 1777), famoso por ter sido
o primeiro a demonstrar a irracionalidade
do número π.
É provável que Gauss tenha lido os
trabalhos de Saccheri e Lambert, mas é
impossível afirmá-lo. Cartas escritas entre
1813 e 1831 mostram que ele deduzira,
sem encontrar contradições, vários
teoremas daquilo a que inicialmente
chamou de Geometria Anti-Euclidiana,
depois Geometria Astral e, finalmente,
Geometria não-Euclidiana. Uma de suas
conclusões foi que naquela geometria a
soma dos ângulos de um triângulo é menor
do que dois retos. Entretanto, para evitar
polêmicas ou por ainda recear que seus
raciocínios contivessem alguma falha, ele
nada publicou e sempre pedia o máximo de
confidencialidade a seus correspondentes,
quando escrevia sobre o assunto.
Além do plano, existem outras
superfícies de curvatura constante e nula
em todos os pontos, por exemplo as
superfícies cônicas ou cilíndricas. Assim,
tomados três pontos quaisquer sobre uma
superfície cônica e unindo-os por
segmentos de geodésicas, fica formado um
triângulo (não-retilíneo) cuja soma dos
ângulos internos é igual a dois retos, como
nos triângulos retilíneos sobre o plano.
A Esfera, por sua vez, é uma superfície
de curvatura constante e positiva em todos
os pontos e, assim, a soma dos ângulos
internos dos triângulos esféricos é sempre
maior do que dois retos, como já sabiam os
gregos. Haveria superfícies de curvatura
constante e negativa? A resposta é sim. Um
exemplo é a chamada Pseudo-esfera,
superfície gerada pela rotação da Tractriz
em torno de sua assíntota (na Tractriz a
tangente por um ponto qualquer sobre ela
forma, entre o referido ponto e o
cruzamento dela com o eixo dos x, um
segmento de comprimento constante).
Infelizmente, para quem está
começando a estudar as Geometrias não-
Euclidianas, sua representação sobre uma
folha de papel introduz distorções
inevitáveis: as retas, por exemplo, ora são
desenhadas como as retas euclidianas, ora
são desenhadas como linhas curvas. Isso
provoca um choque no leitor, uma vez que
ele, com razão, acha que todas as retas,
dentro de uma mesma geometria, devem
ser iguais. É uma pena, mas a representação
das Geometrias não-Euclidianas sobre uma
folha de papel é tão distorcida como, por
exemplo, a de um tubo euclidiano sobre a
mesma folha, e precisamos nos acostumar
com esse fato.
21– AS IMPOSSIBILIDADES DOS TRÊS
PROBLEMAS CLÁSSICOS
O que ocorreu com os três problemas
clássicos é um belo exemplo da
perseverança dos matemáticos e da
necessidade que, às vezes, se tem de
esperar por séculos ou mesmo milênios de
evolução da Matemática, até que uma
questão seja definitivamente esclarecida.
22 – BOOLE, CANTOR E DEDEKIND
Durante mais de um milênio, a Álgebra
foi vista apenas como um conjunto de
regras relativas às operações aritméticas
com números e às manipulações dos
símbolos que representam números e
aquelas operações. Em meados do século
XIX, entretanto, o matemático inglês
George Boole (1815 – 1864) mostrou que a
Álgebra poderia libertar-se dos números e
trabalhar também com outros tipos de
entes, por exemplo, os conjuntos e as
proposições da Lógica.
George Boole nasceu em Lincoln,
Inglaterra, filho de um pequeno e simples
lojista. Aos 16 anos, pressionado pela falta
de recurso dos pais, conseguiu um emprego
15 Resumos Literários – Conhecimento Específico A Rainha das Ciências – Gilberto Geraldo Garbi
como professor primário, função que
exerceu durante três anos. Precisando
aprender alguma Matemática para ensinar
a seus alunos, resolveu pesquisá-la nos
livros que conseguia encontrar e logo deu-
se conta de que era dotado de grande
talento natural para as Ciências Exatas. Em
pouco tempo, e por si mesmo, avançou a
ponto de poder entender as difíceis obras
de Laplace e Lagrange. Em essência, ele
percebeu que as manipulações algébricas
não necessitam restringir-se ao âmbito dos
números porque baseiam-se em princípios
lógicos aplicáveis de forma muito mais
ampla.
George Ferdinand Ludwig Philip Cantor
nasceu em São Petersburgo, Rússia, em
uma família profundamente religiosa. Seu
pai era um judeu convertido ao
protestantismo e sua mãe, também
descendente de judeus convertidos e hábeis
na música, já nasceu católica. Dela, Cantor
herdou dons artísticos, tendo sido um
talentoso desenhista, como o comprovam
alguns trabalhos que deixou. A influência
das várias visões religiosas da família parece
ter sido decisiva no misticismo de Cantor e
em sua forma peculiar de enxergar o mundo
e a Matemática.
Aos 11 anos, mudou-se para Frankfurt
e foi na Alemanha que estudou e passou
quase toda a vida. Diplomado em
Matemática, Física e Filosofia pela
Universidade de Berlim, onde foi aluno de
Weierstrass, ele conseguiu apenas tornar-se
professor na despretensiosa Universidade
de Halle. Seu sonho de ensinar em Berlim,
então um dos melhores centros
matemáticos do mundo, jamais se realizou,
principalmente devido à forte oposição que
Leopold Kronecker (1823 – 1891) fazia a
suas ideias nada convencionais.
Depois de realizar pesquisas na Teoria
dos Números e nas Séries Trigonométricas,
ele voltou suas atenções para os conjuntos
infinitos e nessa área, a partir de 1870,
passou 25 anos produzindo trabalhos de
grande importância e originalidade. Cantor
casou-se em 1874, no mesmo ano em que
provou a não-enumerabilidade do
Contínuo. Durante sua lua-de-mel em
Interlaken, ele conheceu o matemático
Richard Dedekind (1831 – 1916) que, como
ele, cultivava ideias consideradas
excêntricas e era rejeitado pelo alto mundo
acadêmico da Matemática alemã.
Dedekind, como Gauss, nasceu em
Brunswick, filho de um professor de Direito.
Em 1850 ele foi admitido na Universidade
de Göttingen, como estudante de Física e
Matemática, e ali foi um dos mais
talentosos alunos de Gauss. Em 1862 ele
retornou a Brunswick, para ensinar no
Colégio Técnico local e nessa modesta
posição permaneceu durante 50 anos.
A maioria dos trabalhos de Dedekind
procurou fornecer uma compreensão
rigorosa sobre a natureza dos números
reais. Embora não tenha sido o primeiro a
perceber a dificuldade, logo no início de sua
carreira ele constatou que, exceto quanto
aos números inteiros e aos racionais, a
fundamentação lógica da teoria dos
números reais era frágil ou mesmo
inexistente.
Dedekind morreu aos 84 anos, de
causas naturais, mantendo-se ativo física e
mentalmente até o final. Então, de seu
humilde posto de professor de um colégio
técnico, ele já havia, pacientemente,
conquistado o reconhecimento de seus
pares e se tornado um símbolo da escola do
rigor matemático.
23 – A MATEMÁTICA CONTEMPORÂNEA
Muitas pessoas mesmo com bons
conhecimentos, costumam perguntar se
existem hoje gênios matemáticos como no
passado: onde se encontram? quem são
16 Resumos Literários – Conhecimento Específico A Rainha das Ciências – Gilberto Geraldo Garbi
eles? a que tipo de atividade se dedicam?
ainda resta algo de importante a ser
realizado na Matemática?
A primeira e a segunda parte da
pergunta são fáceis: sim, vivem hoje gênios
tão brilhantes como os do passado e eles,
de um modo geral, estão em universidades,
institutos de pesquisas científicas, agências
governamentais dos países ricos e em
grandes corporações. Nenhum dos gênios
atuais adquiriu a popularidade de um
Newton, um Gauss ou um Euler e a maioria
permanece incógnita fora de suas
comunidades. Depois de Einsten, o físico-
matemático Stephen Hawking é um dos
raros que o público sabe quem é (a ponto
de comprar milhões de exemplares de seus
incompreensíveis livros). Aliás, ele ocupa
em Cambridge a mesma cátedra que já
pertenceu a Newton e isso fala por si só.
Mas os gênios de hoje são desconhecidos
porque se dedicam a tipos tão abstrusos de
Matemáticas que é impossível explicá-las
aos leigos.
Já que somos incapazes de descrever o
que fazem atualmente os gênios da
Matemática, talvez o melhor seja mostrar
alguns exemplares marcantes do que foi
feito no século XX. Comecemos por um
tema que recebeu muita atenção nas
décadas que antecederam e sucederam a
passagem ao século XX: A Axiomática.
Vimos que muita Matemática havia sido
construída sobre bases frágeis e que era
preciso revisar certos conceitos e axiomas.
A surpreendente descoberta da
possibilidade de serem construídas outras
geometrias, além da euclidiana, entretanto,
alertou os geômetras. Adiantemos, pois,
que essa questão convenceu os geômetras
de que aqui estava faltando um postulado,
hoje conhecido como o Princípio da
Continuidade.
O italiano Giuseppe Peano (1858 –
1932) apresentou seus célebres axiomas da
Aritmética, mostrando que toda Análise
pode ser construída a partir deles.
Aprofundando ainda mais as bases da
Aritmética, Bertrand Russell (1872 – 1970) e
Alfred North Whitehead (1861 – 1947)
procuraram provar que toda a Matemática
pode ser construída exclusivamente por
meio das leis da Lógica.
Estas duas provas de consistência,
entretanto, eram condicionais, ou relativas,
e os matemáticos do início do século XX
desejavam obter provas absolutas da
consistência dos axiomas da Aritmética e da
Geometria. Foi ao procurar por elas que um
jovem gênio lógico-matemático austríaco,
de 25 anos, chamado Kurt Gödel (1906 –
1978), que abalou o mundo ao enterrar o
sonho de Hilbert e outros de se realizar uma
axiomatização completa e consistente de
todos os campos da Matemática. Ela
costuma ser chamada de “teorema da
incompletude” por implicar que todo o
sistema axiomático consistente é
necessariamente incompleto, ou seja,
incapaz de permitir as provas de todas as
verdades da área em estudo.
Falemos um pouco sobre o papel da
Matemática contemporânea na realização
do verdadeiro milagre que são as
comunicações, em voz, imagem e dados,
que hoje cobrem os mais remotos pontos
do Planeta. Os trabalhos teóricos do gênio
escocês, o físico-matemático James Clerk
Maxwell (1831 – 1879), podem ser
considerados um dos marcos históricos
dessa revolução.Em 1876, um escocês que
fora professor de surdos no Canadá e
radicado nos Estados Unidos, de nome
Alexander Graham Bell (1847 -1922),
inventou o telefone, transmitindo a voz por
meio de correntes elétricas sobre fios. Duas
décadas depois, em 1895, utilizando ondas
eletromagnéticas, Guglielmo Marconi (1874
– 1935) criou o rádio, com o que a voz
17 Resumos Literários – Conhecimento Específico A Rainha das Ciências – Gilberto Geraldo Garbi
passou a ser transmitida a distâncias muito
grandes.
Em 1906 o americano Lee De Forest
(1873 – 1961) inventou o triodo e
desencadeou a revolução da Eletrônica,
inicialmente voltada às comunicações, mas
que, rapidamente, se fez presente em todas
as áreas da tecnologia.
Citá-los todos seria exaustivo e
mencionar apenas alguns poderia ser
injusto. Deste modo, vamos eleger um deles
para simbolizar todo aquele admirável
grupo de heróis: o gênio matemático norte-
americano Claude Shannon (1916 – 2001),
do Massachusetts Institute of Technology,
cuja Teoria Matemática da Informação
fundamentou grande parte dos avanços
feitos nas modernas comunicações.
24 – AS MULHERES E A MATEMÁTICA
Uma importante contribuição de René
Descartes à civilização raramente é
lembrada: seus livros de Filosofia estão
entre os primeiros que despertaram nas
mulheres, já na segunda metade do século
XVII, o interesse pelas Ciências. E foi um
escritor cartesiano, François Poulain de La
Barre, quem afirmou, em seu livro
Del’égalité des deux sexes, 1673: “A mente
não tem sexo”. Embora em pequeno
número, mulheres começaram a assistir a
conferências sobre Ciência e Filosofia e não
tardou para que algumas, mais brilhantes e
corajosas, também se dispusessem a
entreter plateias falando sobre o tema. Foi
neste clima que notabilizou-se Gabrielle
Émilie Le Tonnelier de Breteuil. Filha de um
barão, casou-se, aos 19 anos, com o
Marquês Du Châtelet e continuou a estudar
os antigos clássicos da literatura, os
filósofos notáveis à época – Descartes,
Locke e Voltaire – e a Matemática. Seu
marido não compartilhava tais interesses e
ela veio encontrar sua alma-gêmea em
Voltaire, com quem manteve um longo e
furtivo relacionamento intelecto-amoroso.
Mme.du Châtelet não foi um gênio
científico ou uma criadora de novações
matemáticas mas, com sua brilhante
inteligência e com o prestígio de seu nome,
mostrou à Europa da época que as
mulheres tinham plenas condições de
aprender ciência de alto nível. Sua tradução
dos Principia, difícil empresa para qualquer
matemático e à qual dedicou enormes
esforços, ficou concluída pouco antes de
seu falecimento, com apenas 43 anos, ao
dar à luz um filho.
Em 1678, em Pádua, Elena Lucrezia
Piscopia tornou-se a primeira mulher a
receber um título universitário na Itália. Foi
necessário esperar mais de quatro décadas
até que uma segunda doutora italiana
surgisse, agora em Bolonha. Ela foi Laura
Catharina Bassi (1711 – 1778), a filha
prodígio de um advogado cujos demais
filhos haviam todos morrido.
Vida análoga teve a maior matemática
que a Itália já produziu até hoje, Maria
Gaetana Agnesi (1718 – 1799), outra
menina prodígio que se tornou célebre. Seu
pai, um professor de Matemática em
Bolonha e que teve 20 filhos, ofereceu-lhe
todos os estímulos e oportunidades para
que ela estudasse. Assim que começou a
fazer descobertas próprias, Sophie passou a
assinar seus trabalhos sob o pseudônimo
masculino de Antoine LeBlanc.
Na primeira metade do século XIX, a
escocesa Mary Fairfaix Somerville (1780 –
1872) tornou-se famosa por seus feitos na
Matemática. Nascida em uma família rica,
quando menina ela bisbilhotava às
escondidas as aulas de Geometria que seu
irmão recebia de um professor que ia a sua
casa. Conta-se que, para ter em mãos o livro
de Euclides, teve que pedir ao irmão que
comprasse para ela, uma vez que a
18 Resumos Literários – Conhecimento Específico A Rainha das Ciências – Gilberto Geraldo Garbi
Geometria não era bem-vista como leitura
para moças. Aos 24 anos, casou-se com um
homem rico que, como o marido de
Mme.du Châtelet, era incapaz de
acompanhá-la intelectualmente.
Mary não necessitou encontrar uma
versão escocesa de Voltaire, pois o marido
morreu três anos depois, deixando-lhe uma
herança e a liberdade de continuar seus
estudos matemáticos.
Quando falamos sobre os primórdios
dos computadores Charles Babbage (1792 –
1871) foi apresentado como um notável
pioneiro, cujo verdadeiro valor somente foi
reconhecido modernamente. É importante,
também, dizer que Babbage teve uma
colaboradora: Ada Lovelace (1815 – 1852),
uma mulher brilhante e versada em
Matemática, com quem ele discutia as
soluções dos problemas técnicos e que o
ajudou muito em suas pesquisas e,
também, na administração de suas finanças.
A próxima heroína da Rainha das
Ciências surgiu na Rússia dos Czares e foi a
célebre Sofia Korvin-Krukovsky
Kovalevskaia, também conhecida como
Sonja Kovalevsky. Nascida em Moscou em
1850, em uma família abastada e culta, cuja
governanta era inglesa, Sofia teve a
oportunidade de aprender Matemática no
próprio ambiente em que vivia.
Dentre as grandes potências científicas
do mundo à época, a Alemanha foi a última
a produzir um grande gênio matemático
feminino. Mas o fez ao melhor estilo
alemão, apresentando aquela que é, por
muitos, considerada a maior matemática
até hoje: Amalie Emmy Noether (1882 –
1935). Filha de Max Noether, um
matemático da Universidade de Erlanger.
Ali ela iniciou seus estudos, doutorando-se
com a tese Sobre Sistemas Completos de
Invariantes para Formas Biquadradas
Ternárias. Sua especialidade era Álgebra
Superior, campo em que deixou
importantes e originais contribuições. Mais
tarde, ela foi estudar em Göttingen, à época
o melhor centro de pesquisas matemáticas
do mundo, liderado por David Hilbert.
Alguns professores chegaram a dizer que os
militares alemães ficariam escandalizados
ao saber que, em Göttingen, os alunos
tinham que aprender Matemática aos pés
de uma mulher.
Hilbert não se deixou demover por
esse tipo de argumento e contratou Amalie,
dizendo: “Não vejo como o sexo da
candidata possa ser um argumento contra
sua admissão. Afinal, nós somos uma
universidade e não uma casa de banhos”.
Bibliografia:
A Rainha das Ciências: um passeio histórico
pelo maravilhoso mundo da matemática
Gilberto Geraldo Garbi
3ª edição ver. e ampl.
São Paulo: Editora Livraria da Física
2009