A Paquera Na Era Da Conexão

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7/25/2019 A Paquera Na Era Da Conexão http://slidepdf.com/reader/full/a-paquera-na-era-da-conexao 1/3 A Paquera na Era da Conexão Paquera que se refere aqui é o ato entre duplas que antecede a aproximação carnal com ímpetuo sexual. Entendida hegemonicamente como o ritual social e psicológico que apresenta indicativos de que os envolvidos e as envolvidas possuem interesse de naturea erótica uns nos outros! a paquera ser" inserida na realidade técnológica que comp#e o imagin"rio popular. $epois do %m da segunda guerra mundial! período em que se deu o marco da evolução do computador! a estrura social passou a ser diretamente in&uenciada pelo uso recorrente do mesmo! assim como a moderna rede mundial de computadores e sua populariação passou a ser primordial na reali ação de tarefas cotidianas da sociedade desde as mais complexas! como a produção de mais tenologia como das menos difíceis! como o preparo de uma receita culin"ria. Com a presença da internete como utilit"rio '"sico( humano! nosso planeta que ostentava seus 'ilh#es de metros quadrados %cou pequeno. ) que era longe! %cou perto* o que era lento! %cou r"pido e o que era difícil %cou f"cil. As grandes negociaç#es políticas e a manutenção do poder esta'elecido se intensi%caram* a própria concepção de poder foi alterada e a informação passou a ser o mais valioso capital* A nova realidade do instant+neo e do imediato pediu revisão das noç#es de tempo e espaço para que todas as esferas da vida pudessem contar com novos paradigmas que dessem conta da realidade. A própria racionali ação da realidade física como matéria at,mica foi questionada e o que antes era "tomo! agora é tam'ém onda! inclusive nossos corpos. ) ato de paquerar tradicional! o cara a cara! acontece de uma forma quase m"gica -ou 'iológica. Experi ncia conhecida de todos e todas! utensílio presente na 'agagem de vivncias de 'oa parte dos su/eitos! conta com detalhes peculiares característicos da situação0 ) encontro de olhos! o leve corar! uma aceleração nos 'atimentos cardíacos! um 'rilho diferente no olhar... a externalliação comportamental dos est"gios internos que não são as mesmas para todos os indivíduos e em alguns casos até mesmo a velha e conhecida paixão. 1ituaç#es como essas! tidas como relaç#es inquestionavelmente humanas! tam'ém foram atingidas pelo processo de massi%cação da tecnologia! portanto o que antes contava com dois animais humanos e uma conexão também humana para acontecer! passou a contar com uma ferramenta arti%cial0 o computador. 2ais além! a conexão entre dois corpos apresentou a possi'ilidade de ser su'stituída pela conexão online entre duas m"quinas. 3uma perscpectiva antropológica! temos talve uma alteração de%nitiva na

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A Paquera na Era da Conexão

Paquera que se refere aqui é o ato entre duplas que antecede a aproximaçãocarnal com ímpetuo sexual. Entendida hegemonicamente como o ritual sociale psicológico que apresenta indicativos de que os envolvidos e as envolvidaspossuem interesse de nature a erótica uns nos outros! a paquera ser"inserida na realidade técnológica que comp#e o imagin"rio popular. $epoisdo %m da segunda guerra mundial! período em que se deu o marco daevolução do computador! a estrura social passou a ser diretamentein&uenciada pelo uso recorrente do mesmo! assim como a moderna redemundial de computadores e sua populari ação passou a ser primordial nareali ação de tarefas cotidianas da sociedade desde as mais complexas!como a produção de mais tenologia como das menos difíceis! como o preparode uma receita culin"ria.

Com a presença da internete como utilit"rio '"sico( humano! nosso planetaque ostentava seus 'ilh#es de metros quadrados %cou pequeno. ) que eralonge! %cou perto* o que era lento! %cou r"pido e o que era difícil %cou f"cil.As grandes negociaç#es políticas e a manutenção do poder esta'elecido seintensi%caram* a própria concepção de poder foi alterada e a informaçãopassou a ser o mais valioso capital* A nova realidade do instant+neo e doimediato pediu revisão das noç#es de tempo e espaço para que todas asesferas da vida pudessem contar com novos paradigmas que dessem contada realidade. A própria racionali ação da realidade física como matériaat,mica foi questionada e o que antes era "tomo! agora é tam'ém onda!inclusive nossos corpos.

) ato de paquerar tradicional! o cara a cara! acontece de uma forma quasem"gica -ou 'iológica. Experi ncia conhecida de todos e todas! utensíliopresente na 'agagem de viv ncias de 'oa parte dos su/eitos! conta comdetalhes peculiares característicos da situação0 ) encontro de olhos! o levecorar! uma aceleração nos 'atimentos cardíacos! um 'rilho diferente noolhar... a externalli ação comportamental dos est"gios internos que não sãoas mesmas para todos os indivíduos e em alguns casos até mesmo a velha econhecida paixão. 1ituaç#es como essas! tidas como relaç#esinquestionavelmente humanas! tam'ém foram atingidas pelo processo demassi%cação da tecnologia! portanto o que antes contava com dois animaishumanos e uma conexão também humana para acontecer! passou a contarcom uma ferramenta arti%cial0 o computador. 2ais além! a conexão entredois corpos apresentou a possi'ilidade de ser su'stituída pela conexão onlineentre duas m"quinas.

3uma perscpectiva antropológica! temos talve uma alteração de%nitiva na

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cultura ocidental! onde a técnica humana e seu instinto cientí%coressigni%cou uma certa realidade dada. 1e o ato de paquera cara-a-cara é'iológico! ou explicado 'iologicamente! dando o devido valor ao inconscientedos invíduos que se externali a em manifestaç#es claras de am'os osenvolvidos ou envolvidas ou ainda envolvida e envolvido e em um dado

momento histórico esse processo vai contar com uma muleta! umcomputador ou um celular! temos aqui um paradoxo pertinente a disciplina.Em termos mais o'/etivos! somos indu idos a nos questionar comoo'servadores a relação entre cultura e 'iologia na produção de realidade. Apertin ncia dessa re&exão é real reconhecendo que talve ainda falteesclarecimento so're o peso cultural do ato de paquerar.

4m alguém que se interesse por outro alguém! ainda que timidamente nãoqueira demonstrar! ter" que se utili ar de técnicas para ocultar a realidade.)'servemos que a realidade nessa situação estaria dentro do su/eito! masesse é um caso em que o corpo humano apresenta sinais de seu estadointerno e esses sinais podem ser aprendidos pelos paqueradores, tanto quesão reprodu idos de forma consciente como uma mensagem clara para oalvo de seu executor. 5e'er diria que temos aqui um compartilhamento desentidos! temos a consci ncia de alguém falando 6 consci ncia de outrem!portanto! uma relação social7cultural. Perce'a que ao olhar para um su/eito 8!eu % escolha 'aseada em meus pressupostos individuais! % uma escolhaconsciente e essa consci ncia é culturalmente construída! mas o processoque se segue! ou a resposta ao meu comportamento cultural é de ordem'iológica0 o 'rilho dos olhos! o leve corar-se! o leve inchaço nos l"'ios 9...:.Portanto se eu e o su/eito x dermos continuidade ao processo! conversarmos

e acontecer nosso primeiro 'ei/o! voltamos para a terra da cultura. 2ais alémainda! quando tivermos uma relação sexual! seguimos para o 'iológico! emseguida! se nos casarmos! para o cultural.

) que acontece é que a humanidade por intermédio da cultura! constrói arealidade nos paradigmas 'iológicos e o que começa na paquera com acultura se encerra na reprodução de forma 'iológica. Esse processo deintercalamento entre o esta'elecido pela nature a e o esta'elecido pelacultura de nada mais é que o processo de acasalamento na manutenção econtinuidade da exist ncia. 1e formos adiante! se su/eito x e eu tivermos%lhos o 'iológico não tem ra ão de continuar atuando e tudo que se segue é

de ordem cultural. ) oque se segue na vida moderna é o divórcio ou ao'rigatoriedade de manter uni#es de apar ncia.

A importancia dessa perspectiva! aplicada ao nosso o'/eto! que se limita aprimeira etapa do acasalamento ! a paquera! é compreender que o cen"riomudou e continua mudando. 3ossos estímulos culturais acontecem em umoutro sentido. ) que a realidade espera de nós e o que nos prop#e! não émais su%ciente nos caminhos 'iológicos. A modernidade iniciou seu processo

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de troca de pardigma! portanto a forma de paquerar espera outra resposta "seu estímulo. )s /ovens não paqueram mais para se casarem! os menos

/ovens! não se casam mais para terem %lhos e a função do sexo em nossasociedade é predominantemente cultural! e não mais a procriação. Estamos!quanto mulheres e homens modernos! mudando o curso da realidade e talve

da evolução. 3ão precisamos mais sermos reféns do amor rom+ntico e nemda coercitividade da nature a que determina que o homem nasce! cresce! sereprodu e morre. A técnologia nos oferece o poder de produ ir formasculturais de lidar com o 'iológico. A grande verdade é que a humanidade nãoprecisa mais do sexo para continuar existindo quanto matéria e esse é onosso grande golpe na 'iologia vestida de patriarcado.

A industria de soft;ares parece ter entendido isso quando nos apresenta oTinder ! um aplicativo de paquera que locali a pessoas por nível decompati'ilidade 'aseado em curtidas puxadas do face'oo< e por dist+ncia. Aexist ncia do Tinder e o sucesso dele! estando presente na maioria doscelulares de /ovens com acesso a smartpohnes vem nos di er que existempessoas que /" incorporaram em seu cotidiano o novo /eito de se paquerar.Ele vem nos di er ainda que existem mulheres que sexualmente procuramoutras mulheres ou t ambém mulheres* e homens que procuram outroshomens ou7e também mulheres. Ele vem nos di er ainda que o ato depaquerar não é mais pedaço de um processo de relacionamento monog+micoe patriarcal e sim um processo fechado! um processo em que seu estímulo sevolta para ele mesmo. ) processo de tecnologi ação de nossa culturaressigni%cou a paquera.

=denti%car essa mudança de comportamento nesse recorte! consiste emisolar um fragmento da realidade! no caso a paquera e iden%car no todo ondese encaixam as tend ncias identi%cadas no fragmento. 1e pensarmos asociedade de forma estruturada e dividi-la em econ,mico! social e político!tenderemos a pensar a sociedade como uma unidade constituída porengrenagens o que 'astaria identi%car o sentido de apenas uma engranagempara entender como é oo uncionamento do todo! portanto! identi%car o realsentido do fragmento é acessar o espírito da sociedade e apontar para quelado é o movimento da mesma.