A panela de dinheiro

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Acampamento na noite de primeiro de abril - A panela de dinheiro Imagem obtida em:http://gmpedras.blogspot.com.br/2012/04/panela-de-pedra-ii.html Todos ali sobre o lúmen da fogueira regateira que iluminava o rosto de todos. Pequenas histórias saíam do povo que se exibia pelos sustos vividos pelas pseudoexperiências vividas. Tio Jango o mais eloquente dos contadores de histórias se exibia por ter sido testemunha de muitas. A mais surpreendente foi a que viveu em uma de suas viagem pelo mundo. Dizia ele: Olha amigos. Com os olhos arregalados de quem havia se assustado muito pelo testemunho ocular de algo assustador. Não quero por medo em vocês. Mas, existe muita coisa que nós não imaginamos nesta vida... Tudo o que narrei até aqui, foi verdade. Todavia, uma de minhas histórias, tem o

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Um conto ficcional. Mas, com certeza, todos da Região do Sul em algum momento já ouviu falar de tal lenda...

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Acampamento na noite de primeiro de abril - A panela dedinheiro

Imagem obtida em:http://gmpedras.blogspot.com.br/2012/04/panela-de-pedra-ii.html

Todos ali sobre o lúmen da fogueira regateiraque iluminava o rosto de todos. Pequenas histórias saíam dopovo que se exibia pelos sustos vividos pelaspseudoexperiências vividas. Tio Jango o mais eloquente doscontadores de histórias se exibia por ter sido testemunha demuitas. A mais surpreendente foi a que viveu em uma desuas viagem pelo mundo. Dizia ele:

• Olha amigos.

Com os olhos arregalados de quem havia se assustado muitopelo testemunho ocular de algo assustador.

• Não quero por medo em vocês. Mas, existe muita coisa que

nós não imaginamos nesta vida... Tudo o que narrei até aqui,

foi verdade. Todavia, uma de minhas histórias, tem o

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tempero do inimaginável. Isso aconteceu em 1975, quando

contava com 18 anos. Fiquei sabendo de uma panela de

dinheiro enterrada em um descampado perto da Serra do

Rio Jordão. Que teria sido enterrada pelos Jesuítas

aproximadamente em 1750. Ali não havia ruínas das

Missões. Sabíamos não por mapas, nem por histórias de

hipóteses do ocorrido pelo descentes da região. E sim, pelo

que muitos já haviam vivido quando passavam por aquelas

aragens, principalmente nas noites de lua cheia do mês de

agosto. Quando uma das vítimas foi assombrada por uma

tribo fantasma que implorava que fosse desenterrado aquilo

que os prendiam ali... Uma caçarola de barro carregada de

moedas de ouro. Este sobrevivente sóbrio, que teve a

sensibilidade de encarar aquilo como verdade, convocou-me

para aquela empreitada, pois sabia que eu era homem que

acreditava naquilo por já ter vivido muitas histórias – que a

maioria das pessoas não acredita. E de pronto, aceitei, por

também acreditar naquele homem que merecia todo meu

crédito.

• Amigos... saímos com pás, picaretas, enxadas, dois rosários

em cada bolso e nosso santinho de devoção. Pois, sabíamos

que teríamos que rezar muito. O que ali ganhássemos

teríamos que repartir parte com quem realmente precisava

para abençoá-lo. Esta era a regra básica para quem era

caçador experiente de panelas de dinheiro. Chegamos ao

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local em uma noite muito límpida. Não estava frio, embora a

nossa região seja considerada uma das mais frias do sul,

aqueles anos o inverno era terrível, como vocês sabem, mas

apesar disso aquela noite estava agradável. Deixamos nossos

carros na estrada, pois não dava para chegar de carro até lá.

Pulamos uma cerca de arame. E poucos metros depois,

escutamos algo estranho. Paramos. Parecia um mugido.

Mas, não enxergamos nada. Então, seguimos nosso destino.

Como saberíamos o local? Meu amigo narrou que era

próximo a um velho ipê. Seria naquele local

aproximadamente. Teríamos que trabalhar a noite inteira

até o amanhecer. Pois, pela lenda, diz-se que tem que retirá-

la até o por do sol. Então teríamos que nos apressar.

Chegamos ao assustador ipê. Digo isso, por que naquele

momento o achava assim. Ele já foi fazendo um buraco sem

ao menos pensar, tive a impressão de sabia onde era. Poucas

pazadas, desistiu. Eu, confesso. Fiquei naquele momento

somente olhando e pensando. Onde será ao certo? Não havia

uma lógica para aquilo. Mas... era jovem. Não me importaria

em viver aquela “loucura”. Comecei a cavocar usando minha

lógica. Se tiver próximo do tesouro, algo ocorrerá. Depois de

um certo tempo, de quase limpar a grama que cercava o ipê,

ocorreu algo muito estranho. O barulho do boi voltou.

Paramos... olhamos para os lados e não havia nada.

Concluímos que aí era a pista que esperávamos. Começamos

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a aprofundar nossa procura. Fizemos um buraco de dois

passos quadrados. Quando já estava pelo nosso joelho,

outros brulhos de bichos se juntaram ao mugido do boi.

Agora haviam porcos e cachorros. Além do barulho de

arbusto quebrando. Mas... não haviam arbustos ali. Era só

um descampado. O tempo começou a fechar. E, em um

repente, começou a chover com muitos raios e trovões.

Choveu com vento. E sombras horríveis assombraram nossa

noite. Ouvimos o canto da tribo em uma língua que não

conhecíamos. Mas à medida que nós afundávamos nosso

buraco o canto tornou-se uma canção religiosa – ou pelo

menso parecia assim - com sotaque parecido com o

português e algo perto do castelhano. Sentimos cheiro de

erva-mate queimada. Chegou ao auge da cantoria. E, tudo se

silenciou. Paramos um momento. Olhamos para a paisagem

agora coberta pela cerração. Tremíamos. Nos olhamos. Nos

interrogamos. Seguiríamos aquela empreitada? Certo de que

estávamos próximos ao tesouro continuamos. Um canto

continuou. Barulho de cavalos começaram a passar próximo

a nós como um estouro. Abaixamo-nos e aos poucos

pusemos a cabeça fora do buraco para ver o que estava

ocorrendo. Nada acontecia de diferente a não ser a cerração

que aparentava mais brilhante agora já revelando a copa de

alguns pinheiros ao longe. Cavava freneticamente enquanto

meu amigo descasava – quando bati em algo que parecia

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uma caixa. Com as mãos, descobrimos, sim era uma caixa de

madeira. Muito dura não parecia oca, parecia ser preenchida

com concreto. Pegamos algo que parecia uma alça de corda

que amarrava a caixa... Tiramos a terra que a cercava.

Tentamos abri-la. Tentamos movê-la. Mas... a chuva voltou.

Agora mais forte. Os bichos e as cantorias voltaram também

mais fortes. A cerração cobriu o buraco e agora não

enxergávamos mais a caixa, só a sentíamos. O buraco

começou a encher de água. E quando não era mais possível

permanecer ali – devido a ela, nos retiramos. Com a

decepção dos grandes guerreiros, combinamos retornar pela

manhã. Voltaríamos para casa. Quando amanhecesse

voltaríamos mais equipados, com baldes para retirada da

água. Neste momento desacreditávamos da lenda, ou coisa

parecida. Víamos somente a lógica, o real. E assim,

cansados, muito cansados nos retiramos quase não

encontrando o rumo à estrada.

A esta altura, todos prestavam muita atenção.Aparentemente ninguém parecia duvidar. Mas... em seusinteriores. O causo assumia uma vivacidade pungente, aindamais com a eloquência do contador que gesticulava muito eimpunha a voz nos momentos certos de tensão.

Todos atônitos e reticentes, viam o contador de histórias

olhando ao longe.... como se estivesse desgastado somente

pelo esforço de tentar lembrar do ocorrido. E logo após uma

pausa. Continuou:

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• Voltamos quando amanheceu o dia. Pulamos a cerca de

arame. Olhamos o provocador pé de ipê. E, para nosso

espanto, um olhar a cara do outro sem nada dizer, e como se

não fosse possível contar isso para ninguém – com medo de

se ter tido como louco – olhamos para o chão atônitos - e

toda a grama que recobria aquele lugar estava como se

nunca tivesse sido remexida.

(Marcio J. de Lima)