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Projeto - Vidas Secas A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso. A palavra foi feita para dizer.” Graciliano Ramos em entrevista a Joel Silveira, 1948 Este trabalho parte de um olhar detalhado e cuidadoso sobre o livro “Vidas Secas” e tem como objetivo ampliar as percepções dos estudantes quanto aos imaginários que teimam em habitar o sertão nordestino apesar de toda a evolução tecnológica numa era dita globalizada. Justifica-se pela urgência de refinar a capacidade de olhar e de ampliar os horizontes dos jovens quanto à diversidade cultural, para que exercitem, cada vez mais, o respeito à diversidade e a solidariedade. Apresenta-se como oportunidade para discussão sobre a especificidade da linguagem cinematográfica em relação ao texto escrito, num tempo em que a imagem tem ganhado novos espaços e em que muitos alunos acreditam que assistir a um filme substitui a leitura do texto escrito a partir do qual foi produzido. O trabalho que aqui se apresenta tem início com a análise do r omance “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, a partir da qual são introduzidos conceitos como Modernismo e discurso indireto livre; passa por sua adaptação para o cinema, por Nelson Pereira do Santos; amplia a temática a partir da intertextualidade com o fi lme “Abril Despedaçado, de Walter Salles; e, ao final, sinaliza para as muitas possibilidades de leitura de um mesmo texto, por meio da sugestão de artigos em que se apresentam análise comparativa do romance de Graciliano com o filme de Salles. A atividade está, assim, estruturada: PARTE 1 “Vidas Secas” – Graciliano Ramos - introdução em que se apresenta aspectos gerais do livro “Vidas Secas” e biografia do autor, coletados de diferentes fontes; - exercícios que conduzem o leitor a um olhar que extrapole o narrado; - estudo da linguagem em “Vidas Secas” – o discurso indireto livre. PARTE 2 “Vidas Secas” – Nélson Pereira dos Santos - apresentação da ficha técnica do filme “Vidas Secas” e algumas críticas sobre ele; - exercícios que propiciem o aluno a entrecruza a linguagem cinematográfica usada por Nélson Pereira dos Santos à de Graciliano Ramos; PARTE 3 “Abril Despedaçado” – Walter Salles - apresentação e crítica do filme “Abril Despedaçado”; - análise do filme por meio de questões elaboradas pelo viés das críticas reproduzidas;

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Projeto - Vidas Secas

“A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso. A palavra foi feita para dizer.”

Graciliano Ramos em entrevista a Joel Silveira, 1948

Este trabalho parte de um olhar detalhado e cuidadoso sobre o livro “Vidas Secas” e tem como objetivo ampliar as percepções dos estudantes quanto aos imaginários que teimam em habitar o sertão nordestino apesar de toda a evolução tecnológica numa era dita globalizada. Justifica-se pela urgência de refinar a capacidade de olhar e de ampliar os horizontes dos jovens quanto à diversidade cultural, para que exercitem, cada vez mais, o respeito à diversidade e a solidariedade. Apresenta-se como oportunidade para discussão sobre a especificidade da linguagem cinematográfica em relação ao texto escrito, num tempo em que a imagem tem ganhado novos espaços e em que muitos alunos acreditam que assistir a um filme substitui a leitura do texto escrito a partir do qual foi produzido. O trabalho que aqui se apresenta tem início com a análise do romance “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, a partir da qual são introduzidos conceitos como Modernismo e discurso indireto livre; passa por sua adaptação para o cinema, por Nelson Pereira do Santos; amplia a temática a partir da intertextualidade com o filme “Abril Despedaçado”, de Walter Salles; e, ao final, sinaliza para as muitas possibilidades de leitura de um mesmo texto, por meio da sugestão de artigos em que se apresentam análise comparativa do romance de Graciliano com o filme de Salles. A atividade está, assim, estruturada: PARTE 1 “Vidas Secas” – Graciliano Ramos - introdução em que se apresenta aspectos gerais do livro “Vidas Secas” e biografia do autor, coletados de diferentes fontes; - exercícios que conduzem o leitor a um olhar que extrapole o narrado; - estudo da linguagem em “Vidas Secas” – o discurso indireto livre. PARTE 2 “Vidas Secas” – Nélson Pereira dos Santos - apresentação da ficha técnica do filme “Vidas Secas” e algumas críticas sobre ele; - exercícios que propiciem o aluno a entrecruza a linguagem cinematográfica usada por Nélson Pereira dos Santos à de Graciliano Ramos;

PARTE 3 “Abril Despedaçado” – Walter Salles - apresentação e crítica do filme “Abril Despedaçado”; - análise do filme por meio de questões elaboradas pelo viés das críticas reproduzidas;

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- textos em que se apresentam analogia entre o romance “Vidas Secas” e o filme “Abril Despedaçado”.

Sugestões para interdisciplinaridade: Geografia: a questão da seca e suas implicações no nordeste brasileiro. História: décadas de 30 e 40 no Brasil; o comunismo no Brasil e o exílio de artistas brasileiros que manifestaram simpatia a esse regime. Artes: artistas modernistas brasileiros. Educação Física: as festas e danças do folclore nordestino

PARTE 1 “Vidas Secas” é o quarto romance do escritor brasileiro Graciliano Ramos, escrito entre 1937 e 1938, publicado originalmente em 1938 pela editora José Olympio.

Gênero: Romance "Vidas Secas"retrata a vida miserável de uma família de retirantes sertanejos obrigada a se deslocar de tempos em tempos para áreas menos castigadas pela seca. A obra pertence à segunda fase modernista, conhecida como regionalista, e é qualificada como uma das mais bem-sucedidas criações da época. O autor

“Os dados biográficos é que não posso arranjar, porque não tenho biografia. Nunca fui literato, até pouco tempo vivia na roça e negociava. Por infelicidade, virei prefeito no interior de Alagoas e escrevi uns relatórios que me desgraçaram.[...] Graciliano Ramos

Graciliano Ramos (1892-1953) nasceu na cidade de Quebrângulo, Alagoas, no dia 27 de outubro de 1892. Era o primogênito de quinze filhos, de uma família de classe média do sertão nordestino. Passou parte de sua infância na cidade de Buíque, em Pernambuco, e parte em Viçosa, Alagoas. Fez seus estudos secundários em Maceió. Não cursou nenhuma faculdade.

Em 1910, foi com a família morar em Palmeira dos Índios, Alagoas, onde seu pai abriu um pequeno comércio. Em 1914 foi para o Rio de Janeiro trabalhar como revisor dos jornais “Correio da Manhã” e “A Tarde”. Voltou para a cidade de Palmeira dos Índios, onde trabalhou com o pai, no comércio. Em 1927, foi eleito prefeito da cidade, assumindo o cargo em 1928. Mudou-se para Maceió, em 1930, onde assumiu a direção da Imprensa Oficial e da Instrução Pública do Estado.

Graciliano Ramos estreou na literatura em 1933 com o romance "Caetés". Nessa época, mantinha contato com José Lins do Rego, Raquel de Queiroz e Jorge Amado. Em 1934, publicou o romance "São Bernardo" e, em 1936, publicou "Angústia". Nesse mesmo ano, ainda no cargo de diretor da Imprensa Oficial e da Instrução Pública do Estado, foi preso sob acusação de participar do movimento de esquerda.

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De março de 1936 a janeiro de 1937, vive a época mais difícil de sua vida. Acusado de subversivo e comunista, passa dez meses de prisão em prisão sem saber do que o acusam, sem sequer ser ouvido em depoimentos ou processos. Após sofrer humilhações e percorrer vários presídios, foi libertado em janeiro de 1937. Essas experiências pessoais e dolorosas de sua vida, foram retratadas no livro "Memórias do Cárcere", publicado após sua morte. O romance "Vidas Secas", escrito em 1938, é a sua obra mais importante. Seus romances, histórias para crianças e artigos passam a ser reconhecidos como o maior legado literário desde Machado de Assis. Em 1945, filia-se ao Partido Comunista Brasileiro e, em 1952, viaja para a Rússia e países comunistas; o que presenciou nessa peregrinação está contido num outro livro: Viagem (1954). Em 1953, morre no Rio, vítima de câncer. Suas obras já foram traduzidas para o russo, francês, inglês, alemão. E, em 1964, o romance “Vidas Secas” ganhou versão cinematográfica pelas mãos de Nélson Pereira dos Santos.

É o principal ficcionista da literatura brasileira da década de 1930, que se caracterizou pela temática social, focalizando, entre outros, aspectos relativos ao Nordeste brasileiro, como a seca, o coronelismo e a exploração.Suas obras, embora tratem de problemas sociais do Nordeste brasileiro, apresentam uma visão crítica das relações humanas, que as tornam de interesse universal. É considerado o melhor ficcionista do modernismo e o prosador mais importante da segunda fase do Modernismo.

O romance "Vidas Secas" foi sua obra de maior destaque. Seus livros foram traduzidos para vários países. Seus trabalhos "Vidas Secas", "São Bernardo" e "Memórias do Cárcere" foram levados para o cinema. Recebeu o prêmio da Fundação William Faulkner, dos Estados Unidos, pela obra "Vidas Secas".

Texto adaptado. http://www.e-biografias.net/graciliano_ramos/ - Acesso em 20 jul. 2014.

Período A narrativa relaciona-se a um período particularmente complicado da política brasileira e mundial. No Brasil, estava em vigor a ditadura Vargas e a Europa vivia as tensões que resultariam na 2ª Guerra Mundial.

Os abalos sofridos pelo povo brasileiro em torno dos acontecimentos de 1930, a crise econômica provocada pela quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, a crise cafeeira, a Revolução de 1930, o acelerado declínio do nordeste condicionaram um novo estilo ficcional que se marcaria pela rudeza, por uma linguagem mais brasileira, por um enfoque direto dos fatos, por uma retomada do naturalismo, principalmente no plano da narrativa documental, temos também o romance nordestino, liberdade temática e rigor estilístico.

Os romancistas de 30 caracterizavam-se por adotarem visão crítica das relações sociais, regionalismo ressaltando o homem hostilizado pelo ambiente, pela terra, cidade, o homem devorado pelos problemas que o meio lhe impõe.

http://www.cpv.com.br/cpv_vestibulandos/livros/litobr5001.pdf - Acesso em 20 jul. 2014. http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/vidas-secas.html - Acesso em 20 jul. 2014.

http://www.mundovestibular.com.br/articles/270/1/VIDAS-SECAS---Graciliano-Ramos-Resumo/Paacutegina1.html - Acesso em 20 jul. 2014.

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Explorando vidas secas

http://jocumcontagem.org/artigos/vidas-secas-o-sertao-em-risco. Acesso em 20 jul. 2014.

1ª questão As contribuições advindas das teorias do discurso têm permitido entender que, no processo de produção, um texto não é o produto acidental da expressão individual de ideias. Ele é resultado da seleção de dados e fatos que passam ao status de versão a partir do momento que são organizados pelo autor. Trata-se de versão uma vez que esse sujeito responsável pela produção interfere, altera os fatos sobre os quais escreve, pois aciona, ainda que inconscientemente, seus conhecimentos, valores e crenças na arquitetura de sua redação, mesmo que ficcional. Muitas vezes, ainda que ele tente apagar, deixa pistas a partir das quais se pode desvelar aspectos subjetivos aparentemente ausentes em determinados textos. Dessas marcas, afloram os imaginários coletivos, uma vez que um indivíduo é sobredeterminado pela coletividade na qual se insere. Assim, o conhecimento do tempo e espaço no qual se inseria o autor por ocasião de sua produção podem ser tomados como parte da instrumentalização a partir da qual um texto pode apresentar novos sentidos aos olhos do leitor. PESQUISE, portanto, os itens a seguir, a fim de entender um pouco mais a obra de Graciliano Ramos: - Modernismo no Brasil - 2ª fase do Modernismo - Romance Regionalista - Literatura de denúncia 2ª questão O título do livro em análise, “Vidas Secas”, é arquitetado a partir da contraposição de duas ideias antagônicas: vida X seca, que merece um olhar mais atento do leitor, para que ele se sensibilize para a história de uma família que, apesar da opressão da natureza e das pessoas que os circundam, teimam em viver. O desvelamento da figuratividade de que se reveste o título propicia o descortinamento da saga dos muitos “fabianos” que povoam o sertão nordestino.

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figurativo [Do lat. tard. figurativu.]

Adjetivo. 1.Que figura; representativo, simbólico. 2.Art. Plást. Diz-se da manifestação artística comum a diferentes épocas, culturas e correntes estéticas, e que se manifesta pela preocupação de representar uma realidade sensível das formas acabadas da natureza: quadro figurativo. [Cf., nesta acepç.,abstrato (4).] 3.Art. Plást. Que é adepto do figurativismo ou lhe adota os princípios. ~ V. escrita —a. Substantivo masculino. 4.Artista figurativo. PESQUISE metáfora, metonímia, antítese, paradoxo e oxímoro e EXPLIQUE, a partir de sua leitura da obra, quais dessas figuras fazem-se presentes no título do romance em estudo.

“As obras de Graciliano Ramos, embora tratem de problemas sociais do Nordeste brasileiro,

apresentam uma visão crítica das relações humanas, que as tornam de interesse universal. Seus livros foram traduzidos para vários países.”

http://www.e-biografias.net/graciliano_ramos/ Acesso em 19 jul. 2014.

3ª questão

A- INDIQUE o valor semântico da palavra em destaque e JUSTIFIQUE seu uso no contexto

enunciativo em que se encontra B- EXPLIQUE por que o uso dessa conjunção aponta para algo especial na obra de Graciliano Ramos. 4ª questão JUSTIFIQUE, com base no que se informa no fragmento, o fato de os livros de Graciliano Ramos serem traduzidos para diferentes países. 5ª questão RELEIA a biografia do autor e ANALISE se parte da trajetória de Graciliano justifica o tema sobre o qual ele escreve. 6ª questão ANALISE o sumário reproduzido a seguir e EXPLIQUE por que se pode afirmar que a divisão dos capítulos já denuncia a falta de interação entre os membros da família de Fabiano.

SUMÁRIO

Capítulo

I Mudança

II Fabiano

III Cadeia

IV Sinha Vitória

V O menino mais novo

VI O menino mais velho

VII Inverno

VIII Festa

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IX Baleia

X Contas

XI O soldado amarelo

XII O mundo coberto de penas

XIII Fuga

7ª questão Em “Vidas Secas”, os personagens têm sonhos muitos distintos um do outro. INDIQUE o sonho de cada um deles e EXPLIQUE como a explicitação desses sonhos contribui para que se perceba o quanto cada personagem é diferente do outro, embora compartilhem o mesmo espaço, a mesa seca, a mesma miséria.

“Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas mancha verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia hora que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da caatinga.” Pág. 9

8ª questão EXPLIQUE o efeito que decorre do uso da palavra “infelizes”, como substantivo, no contexto enunciativo em que a palavra se insere. 9ª questão AVALIE se o efeito de sentido que decorre dessa estratégia de substantivação do adjetivo “infeliz” apresenta-se como coerente à trajetória de Fabiana e de sua família.

Quando o menino mais velho sentou, deitou-se no chão, exausto, Fabiano praguejou, deu-lhe algumas pancadas. [...]Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça”. Pág. 10

10ª questão EXPLIQUE, com base na leitura global do livro, qual é a desgraça de Fabiano. 11ª questão A- INDIQUE a figura de linguagem a partir da qual se constrói a expressão “coração grosso”. B- REESCREVA o último período do excerto substituindo a expressão “coração grosso” por outra que denote essa característica do personagem.

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“„Vidas Secas‟ é um dos maiores expoentes da segunda fase modernista, a do regionalismo. O diferencial desse livro para os demais da época é o apuro técnico do autor. Graciliano Ramos, ao explorar a temática regionalista, utiliza vários expedientes formais – discurso indireto livre, narrativa não-linear, nomes dos personagens – que confirmam literariamente a denúncia das mazelas sociais.”

http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/literatura/vidas-secas-analise-obra-graciliano-ramos-702012.shtml - Acesso em 18 jul. 2014.

12ª questão Levante uma HIPÓTESE que justifique a escolha do autor em relação aos meninos de Fabiano (mais velho e mais novo) não terem nome. 13ª questão EXPLI QUE se o fato de os filhos de Fabiano não ter nome contribui para que eles se apresentem como representação metonímica de todos os garotos que, como eles, sofrem as dores da seca. 14ª questão

“O poente cobria-se de cirros - e uma alegria doida enchia o coração de Fabiano. Pensou na família, sentiu fome. Caminhando, movia-se como uma coisa, para bem dizer não se diferençava muito da bolandeira de seu Tomás. Agora, deitado, apertava a barriga e batia os dentes. Que fim teria levado a bolandeira de seu Tomás? [...]Seu Tomás fugira também, com a seca, a bolandeira estava parada. E ele, Fabiano, era como a bolandeira. Não sabia porquê, mas era.”Pág. 14

http://clubedosentasitajai.blogspot.com.br/2012/11/os-engenhos-de-farinha.html - Acesso em 20 jul. 2014.

bolandeira

[Do esp. volandera.]

Substantivo feminino. 1.Bras. Grande roda dentada do engenho de açúcar; volandeira. 2.Bras. Tip. Placa de metal, geralmente de zinco, que constitui o fundo móvel da galé de bolandeira; moldandeira. 3.Bras. Tip. P. ext. Galé (2). 4.Bras. N. N.E. Máquina de descaroçar algodão. 5.Bras. N. N.E. Grande roda, puxada por animais, que move o rodete de ralar mandioca.

Indique uma HIPÓTESE que justifique a comparação de Fabiano a uma bolandeira.

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“Chegou-se à beira do rio. A areia fofa cansava-o, mas ali, na lama seca, as alpercatas dele faziam chape-chape, os badalos dos chocalhos que lhe pesavam no ombro, pendurados em correias, batiam surdos. A cabeça inclinada, o espinhaço curvo, agitava os braços para a direita e para a esquerda. Esses movimentos eram inúteis, mas o vaqueiro, o pai do vaqueiro, o avô e outros antepassados mais antigos haviam-se acostumado a percorrer veredas,afastando o mato com as mãos. E os filhos já começavam a reproduzir o gesto hereditário.” Pág. 17

vereda

(ê). [Do b.-lat. *vereda <veredu, 'cavalo de posta'.] Substantivo feminino. 1.Caminho estreito; senda. 2.V. atalho (2).

3.Fig. Rumo, caminho, direção. 4.Fig. Ocasião, momento, oportunidade: Naquela vereda, briguei muito. 5.Bras. N.E. Região mais abundante em água na zona da caatinga, entre as montanhas e os vales dos rios, e onde a vegetação é um misto de agreste e caatinga. 6.Bras. S. da BA V. planície. 7.Bras. GO Várzea que margeia um rio; várzea. 8.Bras. GO Clareira de vegetação rasteira. 9.Bras. MG C.O. Cabeceira e curso de água orlados de buritis, especialmente na zona são-franciscana. De vereda. 1. Logo, imediatamente, já.

15ª questão RELACIONE a movimentação repetida pelas diferentes gerações de vaqueiro, descrita no excerto, à trajetória dos bois que movimentam uma bolandeira. 16ª questão EXPLIQUE por que a movimentação do vaqueiro Fabiano parecia inútil ao narrador.

“Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se. Chegara naquele estado, com a família morrendo de fome, comendo raízes. Caíra no fim do pátio, debaixo de um juazeiro, depois tomara conta da casa deserta. Ele, a mulher e os filhos tinham-se habituado à camarinha escura, pareciam ratos - e a lembrança dos sofrimentos passados esmorecera. Pisou com firmeza no chão gretado, puxou a faca de ponta, esgaravatou as unhas sujas. Tirou do aió um pedaço de fumo, picou-o, fez um cigarro com palha de milho, acendeu-o ao binga, pôs-se a fumar regalado. - Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta. Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra. Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando: - Você é um bicho, Fabiano. Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer dificuldades.” Pág. 18

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17ª questão JUSTIFIQUE o conflito de Fabiano em relação à sua auto-percepção. 18ª questão EXPLIQUE em que momento da narrativa esse conflito desfaz-se.

“Lembrou-se de seu Tomás da bolandeira. Dos homens do sertão o mais arrasado era seu Tomás da bolandeira.Porquê? Só se era porque lia demais. Ele, Fabiano, muitas vezes dissera: -mais arrasado era seu Tomás da bolandeira. Porquê? Só se era porque lia demais. Ele, Fabiano, muitas vezes dissera: - "seu Tomás,vossemecê não regula. Para que tanto papel? Quando a desgraça chegar, seu Tomás se estrepa, igualzinho aos outros." Pois viera a seca, o pobre do velho, tão bom e tão lido, perdera tudo, andava por aí, mole. Talvez já tivesse dado o couro às varas, que pessoa como ele não podia aguentar verão puxado. Certamente aquela sabedoria inspirava respeito. Quando seu Tomás da bolandeira passava, amarelo, sisudo, corcunda,montado num cavalo cego, pé aqui, pé acolá, Fabiano e outros semelhantes descobriam-se. E seu Tomás respondia tocando na beira do chapéu de palha, virava-se para um lado e para outro, abrindo muito as pernas calçadas em botas pretas com remendos vermelhos. Em horas de maluqueira Fabiano desejava imitá-lo: dizia palavras difíceis, truncando tudo, o convencia-se de que melhorava. Tolice. Via-se perfeitamente que um sujeito como ele não tinha nascido para falar certo. Seu Tomás da bolandeira falava bem, estragava os olhos em cima de jornais e livros, mas não sabia mandar: pedia. Esquisitice um homem remediado ser cortês. Até o povo censurava aquelas maneiras. Mas todos obedeciam a ele. Ah! Quem disse que não obedeciam? Os outros brancos eram diferentes. O patrão atual, por exemplo, berrava sem precisão. Quase nunca vinha à fazenda,só botava os pés nela para achar tudo ruim. O gado aumentava, o serviço ia bem, mas o proprietário descompunha o vaqueiro. Natural. Descompunha porque podia descompor, o Fabiano ouvia as descomposturas com o chapéu de couro debaixo do braço, desculpava-se e prometia emendar-se. Mentalmente jurava não emendar nada, porque estava tudo em ordem, e o amo só queria mostrar autoridade, gritar que era dono. Quem tinha dúvida? Fabiano, uma coisa da fazenda, um traste, seria despedido quando menos esperasse. Ao ser contratado, recebera o cavalo de fábrica, perneiras, gibão, guarda-peito e sapatões de couro cru, mas ao sair largaria tudo ao vaqueiro que o substituísse.” Pág. 22

19ª questão EXPLICITE a contraposição que Fabiano estabelece entre conhecimento e seca. 20ª questão REESCREVA o período sublinhado em registro padrão. 21ª questão EXPLIQUE como Fabiano e os demais saudavam Seu Tomás. 22ª questão SINTETIZE a relação capital e força de trabalho que compõe o imaginário de Fabiano.

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“Qualquer dia o patrão os botaria fora, e eles ganhariam o mundo, sem rumo, nem teriam meio de conduzir os cacarecos. Viviam de trouxa arrumada,dormiriam bem debaixo de um pau. Olhou a catinga amarela, que o poente avermelhava. Se a seca chegasse, não ficaria planta verde. Arrepiou-se. Chegaria, naturalmente. Sempre tinha sido assim, desde que ele se entendera. E antes de se entender, antes de nascer, sucedera o mesmo - anos bons misturados com anos ruins. A desgraça estava em caminho, talvez andasse perto. Nem valia a pena trabalhar.” Pág.23

22ª questão COMPARE a trajetória de Fabiano à da bolandeira.

“Indispensável os meninos entrarem no bom caminho, saber em cortar mandacaru para o gado, consertar cercas, amansar brabos. Precisavam ser duros, virar tatus. Se não calejassem, teriam o fim de seu Tomás da bolandeira. Coitado. Para que lhe servira tanto, livro, tanto jornal? Morrera por causa do estômago doente e das pernas fracas.” Pág. 24

23ª questão RELACIONE o excerto à dualidade homem/bicho que atormentava Fabiano. 24ª questão RELEIA o capítulo “Cadeia” e EXPLICITE a visão de autoridade policial que habita o imaginário de Fabiano.

“Agora Fabiano conseguia arranjar as ideias. O que o segurava era a família. Vivia preso como um novilho amarrado ao mourão, suportando ferro quente. Se não fosse isso, um soldado amarelo não lhe pisava o pé não.” P. 37

25ª questão Imagine que Fabiano fosse um empresário de sucesso e reconstrua a metáfora presente no excerto ambientando-a no cenário urbano.

“O romance Vidas Secas, publicado em 1938, consegue a proeza de apresentar de maneira sintética uma visão da sociedade brasileira em seus níveis mais profundos. Há a dimensão social da exploração e da opressão política. Há a dimensão psicológica da repressão, fazendo surgir indivíduos marcados pela introspecção. E há, por fim, a dimensão natural da seca, flagelo nordestino.”

Fernando Marcílio Mestre em Teoria Literária pela Unicamp

http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/vidas-secas.html Acesso em 23 jul. 2014.

26ª questão FUNDAMENTE, por meio de exemplos, os argumentos apresentados por Marcílio. 27ª questão

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EXPLIQUE por que se pode afirmar que Fabiano e sua família são duplamente oprimidos: pela natureza e por mecanismos sociais opressivos. Muitos outros artistas, além de Graciliano Ramos, dedicaram sua arte ao sofrimento dos sertanejos nordestinos, como se observa a seguir.

CÂNDIDO PORTINARI, Criança Morta - 1944

CÂNDIDO PORTINARI, Retirantes -1944

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28ª questão PESQUISE sobre Cândido Portinari e estabeleça relação de semelhança entre seu trabalho e o de Graciliano Ramos.

Estudo da linguagem

Tipo de discurso: indireto livre

Foco narrativo: terceira pessoa

Dentre os livros de Graciliano Ramos, Vidas Secas é o único em 3ª pessoa. A utilização desse recurso se explica pela necessidade de manter a coerência, dada a limitação verbal dos personagens.

O narrador assume a fala de Fabiano, uma vez que, sem essa estratégia, o personagem que se sentia um bicho, não teria como se expressar. O discurso indireto livre é a solução para fazer chegar ao leitor os sentimentos dos personagens.

O DISCURSO INDIRETO LIVRE

O discurso indireto livre é resultado de um “arranjo” entre os discursos direto e indireto. Trata-se de um tipo misto, em que o narrador não se limita a reproduzir falas da personagem, como ocorre discurso direto, ou a relatar ao leitor o que ela teria dito, como no discurso indireto. A percepção do narrador funde-se à fala do personagem, sem que o leitor seja “avisado” por alguma marca, como verbo de fala, aspas ou verbos de fala, onde está o limite do que é percepção do leitor e o que é fala da personagem.

Formalmente, o discurso indireto livre é uma espécie de discurso indireto sem elos subordinativos, porém mantendo a feição original da fala ou do pensamento da personagem, com todas as suas implicações como interrogações e exclamações, de modo que preserva elementos da enunciação, tais como a oralidade e a emoção.

No trecho a seguir, extraído do capítulo “Fuga”, de Vidas secas, Graciliano Ramos emprega os três tipos de discurso, mesclando-os com extrema habilidade estilística.

Releia o excerto a seguir, identificando a transição de um tipo de discurso para outro:

[...] Em que estariam pensando?, zumbiusinha Vitória. Fabiano estranhou a pergunta e rosnou uma objeção. Menino é bicho miúdo, não pensa. Mas sinha Vitória renovou a pergunta – e a certeza do marido abalou-se. Ela devia ter razão. Tinha sempre razão. Agora desejava saber que iriam fazer os filhos quando crescessem.

– Vaquejar, opinou Fabiano. Pág.121-122

- O autor inicia o fragmento com a pergunta de sinha Vitória, em discurso direto, introduzido por um verbo carregado de expressividade (“zumbiu”, lembrando uma vespa no ouvido do marido);

- passa para o indireto narrativo nos dois períodos seguintes (“Fabiano estranhou a pergunta e rosnou uma objeção.”);

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- insere sutilmente o indireto livre, com a objeção rosnada de Fabiano (“Menino é bicho miúdo, não pensa.”);

- em seguida, retoma o indireto narrativo, para referir-se à indagação de sinha Vitória e à reação do marido (“Mas sinha Vitória renovou a pergunta – e a certeza do marido abalou-se.”);

- e volta ao indireto livre, com Fabiano novamente, dessa vez ruminando sobre a capacidade de raciocínio da mulher (“Ela devia ter razão. Tinha sempre razão.”).

O discurso indireto puro reproduz a indagação de sinha Vitória a respeito do futuro dos meninos (“Agora desejava saber que iriam fazer os filhos quando crescessem.”). A resposta de Fabiano projeta para o futuro dos filhos sua própria condição de vaqueiro e, plena de convicção, se faz em discurso direto e introduzido por um verbo de opinião, circunstâncias inusitadas na fala do monossilábico e reticente personagem (“– Vaquejar, opinou Fabiano.”). [...]

BIBLIOGRAFIA

BALLY, Charles. “Le styleindirect libre enfrançaismoderne”. In: Germanisch-RomanischeMonatschrift. Heilderberg, IV, 1912. CÂMARA JR., J. Mattoso. Ensaios machadianos. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1977. FREIXEIRO, Fábio. Da razão à emoção. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro / INL, 1971. GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. 10ª ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1982. RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 5ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1955. http://www.filologia.org.br/abf/volume3/numero1/05.htm - Acesso em 19 jul. 2014 (adaptado) 29ª questão PESQUISE sobre “discurso indireto livre” e acrescente as informações que julgar relevantes ao que se informa no texto anteriormente reproduzido. 30ª questão RELEIA o capítulo “Cadeia”, e TRANSCREVA um exemplo para cada um dos tipos de discurso relacionados a seguir:

DISCURSO

Direto

Indireto

Indireto livre

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PARTE 2

Vidas Secas

Filme de 1963 1.

Vidas secas é um filme brasileiro de 1963, do gênero drama, dirigido por Nelson Pereira dos Santos para a Herbert Richers. O roteiro é baseado no livro homônimo de Graciliano Ramos.

2.

Data de lançamento: 22 de agosto de 1963 (Rio de Janeiro)

Direção: Nelson Pereira dos Santos

Duração: 115 minutos

Roteiro: Nelson Pereira dos Santos

Música composta por: Leonardo Alencar 3.

Elenco: Átila Iório, Jofre Soares, Orlando Macedo, Gilvan Lima, Genivaldo Lima, Vanutério Maia, Arnaldo Chagas, Manoel Ordônio, Maria Ribeiro, Inácio Costa, Nabor Costa, Oscar de Souza, José Leite

Nélson Pereira dos Santos

Nascido em São Paulo em 1928 é considerado um dos mais importantes e inovadores cineastas do país. Formou-se em Direito e cursou o Institut de HautesÉtudesCinématographiques, em Paris. No final da década de 1940, passa a frequentar cineclubes e realiza curtas-metragens. Em 1953, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como jornalista a partir de 1957. Fez também assistência de direção, montagem, produção e trabalhou como ator.

Seu filme de estreia, Rio 40 Graus, de 1955, é considerado um marco no movimento de renovação da cinematografia brasileira que receberia a denominação de "Cinema Novo". Desde este momento, a preocupação social se tornaria um tema constante na obra de Nelson Pereira dos Santos. Rio Zona Norte (1957), seu segundo filme, foi um fracasso de bilheteria, além de haver sido mal recebido pela crítica. Logo depois, produziu em São Paulo O Grande Momento, com direção de Roberto Santos.

A trajetória de Nelson Pereira dos Santos se estendeu por vários estilos ao longo de sua carreira, alternando temáticas urbanas e rurais. A experimentação não naturalista foi adotada pelo diretor, que em alguns momentos afastou-se da marca do neo-realismo presente nos seus dois primeiros filmes. Dirigiu, no início da década de 1960, o filme Mandacaru Vermelho, e, em 1962, realiza o filme Boca de Ouro, baseado em peça homônima escrita em 1958 por Nelson Rodrigues. Em 1970, dirigiu Como era gostoso o meu francês, baseado nas aventuras de Hans Staden, prisioneiro dos Tupinambás no litoral vicentino do Brasil colonial, em cartas e relatórios dos cronistas da colonização, e em trabalhos de cientistas sociais e historiadores contemporâneos.

Nas décadas de 1970 e 1980, realizou quatro filmes que figuram como reflexões sobre a cultura popular brasileira. O Amuleto de Ogum, de 1974, enfatiza os ritos da umbanda. Tenda Dos Milagres(1975) e Jubiabá (1986), adaptações dos livros homônimas de Jorge Amado, são dramas sociais filmados na Bahia que têm como tema a miscigenação, a religiosidade, a moral e a

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construção da nacionalidade brasileira. E finalmente, A Estrada da Vida, de 1979, analisa a cultura brasileira pelo universo da música sertaneja.

Merecem destaque nesta trajetória suas duas adaptações da obra de Graciliano Ramos, Vidas Secas, de 1963, e Memórias do Cárcere, de 1984. O primeiro aborda a condição social e moral do homem brasileiro pela luta de uma família sem-terra que enfrenta a seca e a opressão socioeconômica para sobreviver. Memórias do Cárcere retrata o famoso escritor injustamente preso pela polícia durante o governo de Getúlio Vargas, sem qualquer processo ou culpa formada.

Continua a dirigir filmes durante a década de 1990, tendo realizado A terceira margem de rio (1993) e Cinema de lágrimas (1995).

Nelson Pereira dos Santos tornou-se professor de Técnica Cinematográfica na Universidade de Brasília a partir de 1965; e anos mais tarde lecionou na Universidade Federal Fluminense, em Niterói.

Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro pós 1930. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2001

Crítica

Vidas Secas: um dos precursores do Cinema Novo é uma grande adaptação da obra

literária homônima. Até hoje um grande filme.

Muitas das vezes a transposição da literatura para a 7ª arte tem a desejar em certos pontos, talvez pela extensão do livro que de certa forma se torna inviável para o cinema, talvez pela essencialidade e caracterização que é muito mais acessível e detalhista no papel. Esse não é o caso de Vidas Secas, obra máxima do alagoano Graciliano Ramos, adaptado para o cinema por Nelson Pereira dos Santos.

Em 1955 o cineasta filmou Rio 40 Graus, filme precursor que deu origem posteriormente a um dos principais movimentos cinematográficos brasileiros, o Cinema Novo. Gênero que tinha como uma de suas principais características expor a cultura, o folclore brasileiro como vertente máxima do cinema nacional. Foi somente oito anos depois, quando Nelson tinha seus 35 anos de idade, que lhe surgiu a oportunidade de adaptar a obra literária de Graciliano Ramos para o cinema e demonstrar toda a sua habilidade fílmica como diretor e roteirista.

O livro/filme conta a estória de uma família de retirantes nordestinos, composta por Fabiano (Átila Iório), sua mulher Sinhá Vitória (Maria Ribeiro) e seus dois filhos. Além destes, completam marginalmente a família, a lendária cachorra Baleia e um papagaio.[...]

Um detalhe importante para o entendimento do filme é uma análise semiótica sobre a cachorra Baleia, primeiro personagem a aparecer no filme e, de certo modo, o mais inteligente e humano da obra. Membro essencial da família, uma das únicas diversões aparentes dos meninos, é bastante discriminada, fica sempre com os restos de comidas, e se contenta com pouco. Ao final, muito magra e sem pelo, tem um fim trágico, polêmico e muito triste.

O contexto geográfico e histórico é muito similar a Deus e o Diabo na Terra do Sol, filme de Glauber Rocha e ícone máximo do Cinema Novo, porém Vidas Secas tem um tom mais realista, documental. Nos Estados Unidos Stanley Kubrick é considerado o grande adaptador de livros, de maneira genial passou 2001: Uma Odisséia no Espaço, Laranja Mecânica, O Iluminado entre

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outros para a sétima arte. No Brasil, o grande adaptador é Nelson Pereira dos Santos que, além de Vidas Secas, também adaptou para os cinemas Jubiabá, de Jorge Amado, Memórias do Cárcere e Tenda dos Milagres de Graciliano Ramos, além de Um Asilo Muito Louco, adaptação de O Alienista, livro de Machado de Assis.

Pouquíssimos diálogos, planos longos e lentos, focado na vida familiar e no convívio social, Vidas Secas, assim como expressão máxima da habilidade escrita de Graciliano Ramos, talvez o seja o melhor filme do cineasta Nelson Pereira dos Santos, com certeza o mais influente. Indicado à Palma de Ouro, um dos primeiros filmes do Cinema Novo em tese e na prática. Fotografia em preto e branco, característica que nos deixa com mais contraste à caatinga nordestina, enaltecendo a violência do sol. Infelizmente o filme não obteve sucesso imediato por aqui, demoraram cerca de três anos até circular pelos cinemas nacionais. Indicado pela British Film Institute como uma das 360 obras fundamentais em uma cinemateca, o filme luta para não cair no esquecimento popular.

“O sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos, como Fabiano, Sinha Vitória e os dois meninos." Graciliano Ramos

http://www.cineplayers.com/critica/vidas-secas/978. Acesso em 20 jul. 2014 http://fatea.br/fatea/cineclube/resenha-do-cinefilo-setembro-vidas-secas Acesso em 20 jul. 2014

31ª questão

EXPLIQUE o valor argumentativo da palavra em destaque no título transcrito a seguir.

“Vidas Secas: um dos precursores do Cinema Novo é uma grande adaptação da obra literária

homônima. Até hoje um grande filme.”

32ª questão ANALISE se a supressão da palavra em destaque, “Até”, altera a crítica presente no título. 33ª questão EXPLICITE a avaliação que se faz, ao final do último texto, em relação à crítica e ao público de cinema brasileiros. 34ª questão POSICIONE-SE em relação à seguinte percepção do crítico quanto à personagem Baleia:

“a cachorra Baleia, primeiro personagem a aparecer no filme e, de certo modo, o mais inteligente e humano da obra.”

35ª questão

“Transpor palavras de um livro para imagens em movimento não é uma tarefa fácil. Poucos conseguem fazer isso, combinando fidelidade ao texto original e apuro estético na concepção da

obra final.” http://fatea.br/fatea/cineclube/resenha-do-cinefilo-setembro-vidas-secas - Acesso em 18 jul. 2014.

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Assista ao filme “Vidas Secas”, com atenção às estratégias de que se vale Nelson Pereira dos Santos para adaptar a narrativa de Graciliano Ramos para o cinema, sem perder a fidelidade ao texto original.

Link para o filme:

http://graciliano.com.br/site/1963/08/filme-vidas-secas-1963-nelson-pereira-dos-santos/

Analisando a obra de Nelson Pereira dos Santos 36ª questão Atenha-se à primeira cena do filme e DESCREVA a estratégia a partir da qual se passa a ideia de que a andança da família de Fabiano foi longa. 37ª questão JUSTIFIQUE a opção do diretor pelo preto e branco, quando ele poderia optar pela filmagem em cores. 38ª questão EXPLIQUE se a falta de cor nas cenas que ocorrem na festa na cidade provocam o mesmo efeito que nas cenas em que Fabiano está no campo. 39ª questão EXPLIQUE como o diretor supre a ausência de um narrador onisciente e do discurso indireto livre a partir dos quais Fabiano ganha voz no livro. 40ª questão JUSTIFIQUE a sobreposição de falas de Sinha Vitória e Fabiano no momento em que estão à beira do fogo, pouco depois que se abrigam na casa que encontram abandonada. (Aos 19 min de filme) 41ª questão ANALISE se é transposto para a tela o dilema de Fabiano entre ser gente ou bicho. Em caso afirmativo EXPLIQUE como isso ocorre. 42ª questão EXPLIQUE as estratégias a partir das quais é transposta para a tela a admiração do menino mais novo em relação ao pai. 43ª questão AVALIE se a definição de inferno dada por Sinha Vitória ao filho mais velho aplica-se ao lugar onde viviam.

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45ª questão ANALISE se a composição da cena em que o menino mais velho reflete sobre o que seria inferno aponta para a possibilidade de o diretor haver estabelecido convergência entre o que seria o inferno e a situação em que a família de Fabiano vivia.

46ª questão EXPLIQUE como se constrói a crítica ao coronelismo, na película de Nelson Pereira dos Santos. 47ª questão Considere a cena inicial e a final para explicar o círculo vicioso em que Fabiano e tantos outros sertanejos do nordeste se encontram.

Para saber mais

Cultura

12 de abril de 2013 - 18h00

Os 50 anos de Vidas Secas, o filme

Obra-prima homônima de Graciliano Ramos, Vidas Secas, adaptado para a telona por Nelson Pereira dos Santos chega aos cinquenta revigorado pela humanidade de seu conteúdo e inovação de sua estética. Por Marcos Aurélio Ruy * Um dos próceres do Cinema Novo - movimento que revolucionou a cinematografia do Brasil na busca de entender o país e seu povo - Nelson Pereira dos Santos conseguiu em Vidas Secas (1963) estampar com rara felicidade a cara do Brasil das décadas de 1930/40 e ser fiel ao livro de Graciliano no que o livro tem de essencial: mostrar a luta do camponês nordestino para sobreviver as agruras do tempo e superar as adversidades impostas por um sistema cruel, onde prevalece a força dos donos da terra. Mostra a saga da família de Fabiano (Átila Iório) e sinhá Vitória, juntamente com os dois filhos e a cachorra Baleia na busca constante de vida melhor, numa vida árida em terras secas que expulsa a família camponesa do sertão para a cidade grande, para melhorar de vida e dar futuro para os filhos. O filme manteve a linguagem contida do livro, que, neste ano, completa 75 anos. Quase sem música, com poucos diálogos, mostra a dureza do sertão encravado na alma dos camponeses, sujeitos a um sistema que os desumaniza e os coloca em posição de inferioridade pela ignorância a que são submetidos. São analfabetos, de poucas palavras, sem grandes horizontes na vida. Toda o enquadramento das câmeras possibilita ao espectador perceber o quanto o homem é preso à terra e dela tenta tirar seu sustento, mas despossuído e submetido é explorado pelo dono da terra e humilhado pelo poder local dominado pelos coronéis.

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Com fotografia sem lentes artificiais, a película transmite a visão clara e seca do camponês que não vê saída e submete-se às ordens e à natureza, sem pestanejar. Mas nem filme nem livro são desesperançados como escreveu o jornalista estadunidense Vincent Canby, no New York Times. Para ele, o filme é “tão absoluto, tão desesperançado que é não somente um estado de ser, mas também algo tão incompreensível (para alguém que não conhece a realidade descrita) como outra dimensão no tempo”. Segundo Canby, Vidas Secas é “uma chamada para as armas”, para combater a pobreza descrita na obra. A película conseguiu captar a proposta do escritor em mostrar a aridez das relações humanas no sertão e aprofundar a interiorização dos personagens na busca de entender o que não conseguem pela vida que levam e são forçados a se submeter, numa relação dialética entre homem, natureza e o sistema explorador do trabalho. “Vidas Secas, o filme, foi fiel, na letra e espírito, ao livro de Graciliano Ramos. A mesma concisão, secura, despojamento, poesia, o mesmo tempo – quase silêncio – dos personagens. Que naquela vida de gente-bicho praticamente não se fala, as pessoas também vão se secando internamente”, diz Helena Salem no livro Nelson Pereira dos Santos: o sonho possível do cinema brasileiro. O próprio diretor explica seu modo de trabalhar essa adaptação ao contar que alcançou “uma liberdade formal muito grande” nas filmagens, mas acrescenta que respeitou “integralmente as duas partes da carta”, qual sejam: “nunca desvirtuar o pensamento do autor, respeitar, portanto, a essência do livro, e a segunda parte, não só referente ao condicionamento histórico, mas fazendo o possível para não alterar a estrutura narrativa que o autor elaborou. Isso porque a forma de contar uma história é determinada pela maneira de pensar”, acentua. Uma curiosidade mostra atualidade da obra. Quando o filme foi representante do Brasil no Festival de Cannes, na França, em 1964, a crítica francesa ficou abismada com a cena da morte de Baleia, muito realista, e acreditou que a cachorra tivesse sido sacrificada de verdade. Os cineastas tiveram que levar o animal para o festival onde, com status de celebridade, a cadela era levada em todas as apresentações dos integrantes do filme. Desfeito o mal-entendido, Vidas Secas foi muito elogiado. Esse fato mostra que essa onda de dar mais valor a bichos do que a pessoas vem de longa data... Os personagens portam-se quase como bichos, a sua humanidade desaparece em grande parte porque se igualam a bichos, mas apresentam humanidade, ainda que rudimentar, quando mostram seus sonhos, até mesmo a Baleia parece sonhar, só que os sonhos de Fabiano e de sinhá Vitória vão num crescer entre uma cama de couro e um futuro melhor para os filhos, quando sinhá Vitória afirma que eles vão para a escola e terão a chance de outra vida que não a de seus pais. Ela diz: “temuqui virá gente”. Fabiano rudimenta pensamentos de que está mais para bicho do que para homem, mas sonha em virar homem e andar de cabeça erguida, sem ter que obedecer sempre. Em várias passagens, ele se reporta ao patrão e aos poderosos chamando-os de brancos, para derrubar inclusive a ideia falsa da “democracia racial”. Os ricos eram os brancos. Sucesso de crítica, o filme não obteve o mesmo sucesso de público. Disparidade explicada por Darlene J. Sadlier em sua biografia do cineasta Nelson Pereira dos Santos, onde comenta a acusação feita pelo jornalista e crítico de cinema Ely Azevedo à “Metro Goldwyn Mayer Studios (MGM), que tinha contratos com os cinemas do Rio em que o filme foi brevemente exibido”. “Propositadamente tornado curta sua permanência nas salas”, justamente por temer “que seu

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sucesso pudesse provocar algo como uma abertura para uma indústria cinematográfica brasileira mais competitiva”, acrescenta. Situação semelhante vive a produção do cinema brasileiro ainda hoje com a predominância de multinacionais e o quase monopólio da Globo Filmes na produção e distribuição e, ainda, a predominância de salas dominadas por multinacionais também. A dificuldade e disparidade de público entre obras estadunidense em maioria e os filmes brasileiros ainda é enorme, mesmo com o aquecimento da s produções nacionais na última década. Dificilmente uma adaptação de obra literária consegue captar a essência de uma obra de maneira tão profunda como Nelson Pereira dos Santos conseguiu com Vidas Secas. O filme está inteiramente disponível no portal www.graciliano.com.br. Vale a pena assisti-lo completo e ler o livro para as inevitáveis comparações, e com esses clássicos do cinema e da literatura entender um pouco melhor o Brasil e a formação do povo brasileiro. Filme e livro mostram faces de um Brasil que ficou para trás em tamanha crueldade da exploração do homem do campo nordestino, mas estampam vários aspectos do brasileiro e das relações de classe no país, sempre em oposição aos interesses da classe trabalhadora, no que tange a uma vida menos desigual e mais justa. Mostram que o Brasil mudou e muito, mas ainda há muito que se mudar para o país chegar ao lugar tão sonhado por gerações de homens e mulheres que dedicaram a vida a construir uma nação mais humana.

http://www.vermelho.org.br/noticia/210813-11. Acesso em 18 jul. 2014.

PARTE 3

Abril despedaçado Ano: 2001

Gênero: Drama

Direção: Walter Salles

Roteiro: Daniela Thomas, Karim Ainouz, Sergio Machado

Elenco: Everaldo Pontes, Flavia Marco Antonio, José Dumont, Luiz Carlos Vasconcelos, Othon Bastos, Ravi Ramos Lacerda, Rita Assemany, Rodrigo Santoro, Wagner Moura

Produção: Arthur Cohn

Fotografia: Walter Carvalho

Trilha Sonora: Antonio Pinto

Duração: 105 min.

País: Brasil / França / Suíça

Cor: Colorido

Classificação: 12 anos

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38 anos depois da adaptação de “Vidas Secas”, Walter Sales lança “Abril Despedaçado”. A distância de quase quatro décadas entre os dois filmes não diminui a proximidade do drama vivido por Fabiano em relação ao vivido pelos Breves. A crítica foi unânime em relação à sensibilidade com que o diretor de “Central do Brasil” dirigiu seu novo trabalho. Reproduzimos a seguir a percepção de alguns críticos para que, guiados pelos olhos de especialistas, estejamos mais aptos a fruir “Abril despedaçado”. Crítica POR CELSO SABADIN

Cada cena é uma pintura. Cada diálogo é uma poesia. A luz mágica do diretor de fotografia Walter Carvalho e a direção fluente de Walter Salles (a mesma dupla de Central do Brasil) convidam a plateia a embarcar num tempo e numa geografia perdidos em algum lugar no sertão nordestino. Horizontes amplos. Diálogos longamente meditados. “Abril Despedaçado” tem uma estética própria, reflexiva, há anos luz de distância da era dos videoclipes. Entrar numa sala escura de cinema para apreciá-lo é como embarcar num Túnel do Tempo sensorial. Tudo começa com Pacu (o garoto Ravi Ramos Lacerda, estreante em cinema) tentando narrar a própria saga. Ele diz que tem uma história para contar, mas não consegue se lembrar de tudo. Provavelmente porque tem ainda outra história martelando dentro de sua cabeça, que não quer sair. Inspirado (e não exatamente baseado) no romance homônimo do escritor albanês Ismail Kadaré, “Abril Despedaçado” narra a luta entre duas famílias, no interior nordestino, nos primeiros anos do século 20. É uma guerra aberta, repleta de normas que soam ridículas aos ouvidos modernos, mas que foram exaustivamente pesquisadas antes de serem colocadas no roteiro. Em nome da terra, eles se digladiam, assassinam-se mutua e lentamente, geração após geração. A morte de um vale, por direito, a morte do outro, como num jogo de cartas marcadas onde não haverá vencedores. Há tréguas combinadas e braçadeiras negras que marcam a próxima vítima. Há a estúpida justificativa do assassinato pela honra e a cruel determinação de quem deve morrer, e quando. É o "olho por olho que cega o mundo" ao qual se referia Mahathma Gandhi. Porém, no novo século (o 20 e não o 21), este mórbido círculo vicioso terá de ser quebrado. A função caberá a Tonho, personagem de Rodrigo Santoro. Tonho é um rapaz de 20 anos, marcado para nunca fazer 21, que não conhecia o amor. Travado, resignado à própria sorte centenária, ele passa a conhecer o outro lado da moeda pela figura libertária de Clara (Flávia Marco Antonio, atriz vinda do circo que também faz sua estreia no cinema). Não por acaso, Clara é uma artista de circo. Circo, liberdade, criação, alegria. Elementos que se chocam frontalmente com o rude cotidiano de Tonho, um círculo vicioso de dor e tristeza ritmado pelo som melancólico do moinho de cana puxado por bois. O rapaz forçosamente terá de resolver esta dicotomia, custe o que custar. E custará caro. “Abril Despedaçado” é uma preciosidade. É Cinema na maior acepção da palavra: sons e imagens que se interligam com talento incomum para contar uma história preciosa. [...] “Abril Despedaçado” pode não ter sido indicado ao Oscar. E daí? É um filme obrigatório do cinema brasileiro.

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29 de abril de 2002 ____________________________________________ Celso Sabadin é jornalista e crítico de cinema da Rádio CBN. Às sextas-feiras, é colunista do Cineclick. [email protected]

Prêmios e indicações Recebeu uma indicação ao Globo de Ouro, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro; recebeu uma indicação ao BAFTA, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro; recebeu 5 indicações ao Prêmio Adoro Cinema 2002, nas seguintes categorias: Melhor Ator Coadjuvante (Ravi Lacerda), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Capa, Melhor Fotografia e Melhor Ficha de Filme.

http://www.cineclick.com.br/abril-despedacado - Acesso em 19 jul. 2014.

Dissecando a crítica 48ª questão Logo ao início do texto de Sabadin, lê-se:

“Horizontes amplos. Diálogos longamente meditados. “Abril Despedaçado” tem uma estética

própria, reflexiva, há anos luz de distância da era dos videoclipes.” EXPLICITE a diferença fundamental entre o filme de Walter Salles e videoclipes sob a ótica do crítico em análise.

49ª questão Segundo Celso Sabadin, o filme de Walter Salles foi “Inspirado (e não exatamente baseado) no romance homônimo do escritor albanês Ismail Kadaré, „Abril Despedaçado‟”. EXPLIQUE em que consiste a diferença entre um filme ser inspirado e ser baseado em um livro. 50ª questão EXPLICITE a relação que se faz entre cinema de qualidade e Oscar no seguinte excerto:

“„Abril Despedaçado‟ pode não ter sido indicado ao Oscar. E daí? É um filme obrigatório do

cinema brasileiro.”

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A Lei de talião: conceito e origem

Os primeiros indícios de consagração da Lei de talião foram encontrados no Código de Hamurabi por volta de 1700 a.C. no reino da Babilônia. Ao contrário do que muitos pensam talião não é um nome próprio, vem do latim talionis que significa como tal, idêntico. Neste sentido, a Lei consiste na justa reciprocidade do crime e da pena, sendo frequentemente simbolizada pela expressão “Olho por olho, dente por dente”.

Para muitos a penalidade [espelhada no ato] imposta pela Lei era cruel e severa, neste ponto é possível discordar, pois a Lei foi posta para trazer ordem e equilíbrio a Sociedade Mesopotâmica. Dessarte, “o mal causado a alguém deve ser proporcional ao castigo imposto: para tal crime, tal e qual a pena”. (MEISTER, 2007, p. 59) Não raro, a sociedade era dividida em categorias sociais, onde o escravo ficava em descrédito: “Se um homem livre fura o olho de um escravo ou lhe fraturou um osso, pagará uma mina de prata.” (HAMURABI, 198º)

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Para entendermos melhor os princípios da Lei de talião, segundo o Código de Hamurabi, observaremos algumas disposições da mesma: 196º – Se alguém arranca o olho a um outro, se lhe deverá arrancar o olho. 197º – Se ele quebra o osso a um outro, se lhe deverá quebrar o osso. 200º – Se alguém parte os dentes de um outro, de igual condição, deverá terpartidos os seus dentes. 202º – Se alguém espancar outro mais elevado que ele, deverá ser espancadoem público sessenta vezes, com o chicote de couro de boi. 209º – Se alguém atinge uma mulher livre e a faz abortar, deverá pagar dezsiclos pelo feto. 210º – Se essa mulher morre, se deverá matar o filho dele. [...] A Lei de talião já não se encaixa em nossa sociedade porque o Estado em que vivemos é racional e garante a todos o Direito à vida, e se é preciso fazer o justo segue-se a Lei.[...]

http://rafaelfernandesonlline.wordpress.com/2012/05/09/a-lei-de-taliao-conceito-e-origem/ Acesso em 23 jul. 2014.

51ª questão RELACIONE a Lei de talião às normas que regiam a vida dos Ferreiras e dos Breves. 52ª questão No texto de Celso Sabadin, lemos:

“Há a estúpida justificativa do assassinato pela honra e a cruel determinação de quem deve morrer, e quando. É o "olho por olho que cega o mundo" ao qual se referia Mahathma Gandhi.”

A- PESQUISE sobre quem é Mahathma Gandhi e AVALIE se sua percepção merece credibilidade. B- POSICIONE-se em relação à afirmativa de Gandhi, tendo em vista as relações entre as duas famílias rivais em “Abril despedaçado.

Simbolismo e tradição em “Abril Despedaçado” Por Ferraz, Ana Flávia de Andrade* "Pessoalmente, acho que, quando a gente inventa uma história, sempre consegue ir mais fundo na verdade. Sem compromisso com os fatos, torna-se possível sair da superfície dos acontecimentos e mergulhar em águas mais profundas, tentando atingir a essência do real. Mesmo. Do real completo: o dos fatos lá de fora e o dos valores e opiniões daqui de dentro" – Ana Maria Machado

A citação da escritora Ana Maria Machado nos remete claramente ao ambiente árido e inóspito, aos dramas familiares, ao respeito à tradição e conflitos pessoais narrados no filme de Walter Salles, Abril Despedaçado (2001). Sem se preocupar com a fidelização dos fatos- exigidos em narrativas documentais- Salles expõe a mais dura e cruel realidade. Esse “real completo”,

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marcado pela paisagem, fotografia, personagens e diálogos do filme, mostra cruamente os fatos desse espaço “lá de fora”. O cenário: sertão nordestino. Ainda que filmado no sertão baiano, a história dos Breves e Ferreira poderia ser ancorada em qualquer região do semiárido nordestino- e é! Não há fronteiras espaciais e tampouco temporais- o filme se passa em 1910, mas a temática ainda é atualíssima. Diretor de clássicos do cinema nacional, como Terra Estrangeira e Central do Brasil (esse último também em diálogo com as terras nordestinas no Brasil), Salles transpõe para o sertão nordestino brasileiro, com poesia, os dramas de duas famílias que perpassam gerações e se perpetuam pautado em um código de vingança em nome da honra. Baseado no romance homônimo albanês de Ismail Kadaré, ambientado no norte da Albânia, a trama gira em torno de duas famílias que lutam pela terra e envolvem seus sucessores em uma espiral de violência e vingança.

Apesar da crueza da temática, o que se vê é um filme belo, poético, repleto de simbolismos e – por que não?- esperançoso. Narrado por Menino ou Pacu (personagem vivido por Ravi Ramos Lacerda), o filme vai descortinando a trama de violência e desestruturando a tradição através das reflexões e ações do próprio Pacu. “Em terra de cego quem tem um olho é doido”, a fala do personagem simboliza que o mais sensato, quando ninguém enxerga a insensatez, é o único louco. E cabe a ele, a Pacu, o menino, romper com o círculo que- cedo ou tarde- lhe atingirá.

De um lado, portanto, temos o patriarcalismo rural e sua ordem, seus costumes austeros, sua disciplina – a força da tradição; de outro, o altruísmo do inocente, o desprendimento de um menino para quem a vida do irmão importa mais do que os preceitos da família – a força do sentimento fraternal rompe a linha do pai e desfaz a cadeia. E seu sacrifício, por opção, afirma a liberdade do sujeito face à ordem da repetição que nega qualquer escolha – “assim foi, assim será” (Xavier, 2007: 260)

Um objeto é recorrente no filme: a bolandeira. Datada do século XIX, a bolandeira, usada para moer a cana, marca a temporalidade em Abril Despedaçado. Num simbolismo que remete ao movimento cíclico do tempo e o poder da tradição – onde todos da família estão presos - a bolandeira também anuncia mudanças. Quando os bois começam a andar sem comandos e um deles não suporta o trabalho e para – o objeto expressa que o tempo está pedindo uma suspensão. E é logo após que Tonho cria coragem e vai viver seus últimos dias seguindo a dupla circense. Ainda que apaixonado, Tonho, pela honra da família, volta para cumprir sua sina. Sua volta coincide com o trabalho da família na bolandeira e Tonho assume seu lugar no círculo, até então, inquebrantável. “A gente parece boi. Roda, roda, roda e não sai do canto”, grifa o Menino Pacu.

Assim como se vê na bolandeira, no Menino-insensato-lúcido, nas camisas marcadas de sangue amarelo anunciando a não conformação da morte e o desejo de vingança do morto, Abril Despedaçado é um filme repleto de simbolismos e imaginários. Para o pensador Castoriadis (Barbier, 1994: 19-20), o imaginário se utiliza do simbólico para existir e não apenas para se exprimir. Assim também o simbólico pressupõe a capacidade imaginária quando vê outros significados na coisa, vê algo que ela não é, resignifica.

Nós falamos de imaginário quando queremos falar de algo inventado, ou quer se trate de uma invenção “absoluta” (uma história onde todas as peças são imaginadas) ou de um deslizamento, ou de um deslocamento de sentido, onde símbolos já disponíveis são investidos de outras significações distintas de suas significações “normais” ou canônicas (Catoriados apud Barbier, 1994:19-20)

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Libertado da sina pelo irmão Pacu, Tonho, em uma negação ao que o espera –a vingança pela morte do Menino – vai embora traçando um novo caminho. O simbolismo da bifurcação, onde o único percurso adotado, até então no filme, é o da esquerda, reforça novamente a tradição, a perpetuação, a prisão, a possibilidade negada de desvio. Quando Tonho escolhe o caminho oposto, aponta para a mudança, para a quebra na continuidade, para o novo. Abril Despedaçado é um filme que nos leva aos fatos “lá de fora” e que evoca os valores “daqui de dentro”.

* Jornalista, formada pela Universidade Católica de Pernambuco -UNICAP, em 1995, especialista em educação pela Universidade Federal Rural de Pernambuco -UFRPE e mestra em Comunicação e Estudos Sócio-Culturais pelo ITESO, México. Professora assistente da Universidade Federal de Alagoas e documentarista, já dirigiu mais de 15 produções, como Ipilé (classificado em terceiro lugar no "Festival Nacional de Vídeo de Teresina") e "Faz de conta que é mentira..." (segundo lugar no "Festival Nacional de Vídeo e Cinema da Paraíba" e primeiro lugar no "Festival de Vídeo de Teresina"). Atualmente coordena o Projeto de Pesquisa Ação: Cinema Árido- Analisando as Representações Sociais do Sertão no Cinema Brasileiro, na Universidade Federal de Alagoas. E-mail: [email protected]

BIBLIOGRAFIA:

BARBIER, René (1994). Sobre o imaginário. Brasília: Em Aberto.

XAVIER, Ismail (2007). "Humanizadores do inevitável". En: Revista ALCEU, São Paulo, Nº 15, V. 8, jul./dez, pp. 256 a 270.

http://www.asaeca.org/imagofagia/sitio/index.php?option=com_content&view=article&id=120%3Asimbolismo-e-tradicao-em-abril-despedacado-&catid=40&Itemid=84 Acesso em 18 jul. 2014.

RELEIA:

“Assim como se vê na bolandeira, no Menino-insensato-lúcido, nas camisas marcadas de sangue amarelo anunciando a não conformação da morte e o desejo de vingança do morto, Abril Despedaçado é um filme

repleto de simbolismos e imaginários.”

53ª questão ASSISTA ao filme “Abril Despedaçado” com atenção ao simbolismo a que se refere Ana Flávia Ferraz. 54ª questão INDIQUE o paradoxo que se percebe na caracterização do Menino. 55ª questão EXPLIQUE a dimensão da insensatez e a da lucidez de que se compõe o menino.

Releia o excerto a seguir:

“Apesar da crueza da temática, o que se vê é um filme belo, poético, repleto de simbolismos e – por que não?- esperançoso. Narrado por Menino ou Pacu (personagem vivido por Ravi Ramos Lacerda), o filme vai descortinando a trama de violência e desestruturando a tradição através das reflexões e ações do próprio Pacu. “Em terra de cego quem tem um olho é doido”, a fala do personagem simboliza que o mais sensato, quando ninguém enxerga a insensatez, é o único louco. E cabe a ele, a Pacu, o menino, romper com o círculo que- cedo ou tarde- lhe atingirá.”

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56ª questão A autora faz a seguinte avaliação:

“Apesar da crueza da temática, o que se vê é um filme belo, poético, repleto de simbolismos e – por que não?– esperançoso.”

Depois de assistir ao filme,POSICIONE-se frente à crítica transcrita anteriormente, com ênfase ao aspecto em relação qual Ana Flávia Ferraz não demonstra muita segurança: o filme ser “esperançoso”. 57ª questão Há um provérbio popular, segundo o qual “em terra de cego quem tem um olho é rei.” EXPLIQUE o significado desses dizeres. 58ª questão Para Pacu, “Em terra de cego quem tem um olho é doido”. JUSTIFIQUE a paráfrase do provérbio, tendo em vista a saga dos ferreiras e dos Breves. 59ª questão Como o filme de Salles, o texto de Ferraz é permeado por metáforas, como se percebe a seguir:

“Baseado no romance homônimo albanês de Ismail Kadaré, ambientado no norte da Albânia, a trama gira em torno de duas famílias que lutam pela terra e envolvem seus sucessores em uma espiral de violência e vingança.”

A- IDENTIFIQUE a figura a partir da qual se estrutura o fragmento sublinhado. B- EXPLIQUE o sentido que decorre da expressão em destaque. PELOS MUITOS CAMINHOS QUE CORTAM O SERTÃO NORDESTINO ENCONTRAM-SE “VIDAS SECAS” E “ABRIL DESPEDAÇADO” 60ª questão No capítulo “Mudança”, de “Vidas Secas”, lemos

“Pelo espírito atribulado do sertanejo passou a ideia de abandonar o filho naquele descampado. Pensou nos urubus, nas ossadas, coçou a barba ruiva e suja, irresoluto examinou os arredores. [...] Fabiano meteu a faca na bainha... Impossível abandonar o anjinho aos bichos do mato. Pág. 10

COMPARE essa atitude do Fabiano às do patriarca dos Breves e AVALIE qual deles mais se assemelha a um bicho. 61ª questão EXPLIQUE a figuratividade de que se reveste a bolandeira em “Abril despedaçado”

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62ª questão RELEIA o fragmento a seguir e, a partir dele, EXPLIQUE se o efeito que decorre da figura da bolandeira é o mesmo no filme de Walter Salles e no livro de Graciliano Ramos.

“Qualquer dia o patrão os botaria fora, e eles ganhariam o mundo, sem rumo, nem teriam meio de conduzir os cacarecos. Viviam de trouxa arrumada, dormiriam bem debaixo de um pau. Olhou a catinga amarela, que o poente avermelhava. Se a seca chegasse, não ficaria planta verde. Arrepiou-se. Chegaria, naturalmente. Sempre tinha sido assim, desde que ele se entendera. E antes de se entender, antes de nascer, sucedera o mesmo - anos bons misturados com anos ruins. A desgraça estava em caminho, talvez andasse perto. Nem valia a pena trabalhar.”Vidas Secas. Pág. 23

63ª questão COMPARE a infância dos meninos do Fabiano à do Menino. 64ª questão Considere a análise de Alessandra Salina reproduzida a seguir, para redigir um parágrafo argumentativo em que se apresente 3 convergências entre o drama da família de Fabiano e o dos Breves.

O contexto dessa história (“Abril despedaçado”) também denuncia a pobreza do sertão e principalmente os vários níveis de exploração e domínio estabelecidos. A família evidenciada no filme sobrevive da confecção da rapadura e enquanto o pai de família força o filho pequeno ao trabalho intenso também é explorado pelo dono da venda que passa a pagar menos pelo seu produto. O filme mostrou-se um recurso muito rico para observação e análise da violência, principalmente a psicológica. É importante ressaltar que outro personagem, Menino, é vítima constante de violência: apanha do pai, é proibido de brincar, obrigado a trabalhos forçados e presencia o assassinato de um dos irmãos. Outro aspecto positivo do filme é o fato de mostrar uma população que sofre violência e que possivelmente apenas intervenções amplas em seu contexto poderiam protegê-las, como o oferecimento de condições dignas de trabalho, moradia, acesso à escola, etc. SALINA, Alessandra.http://www.laprev.ufscar.br/sinopse-filmes/abril-despedacadoAcesso em 22 jul. 2014.

PARA SABER MAIS Comparativo: romance Vidas Secas de Graciliano Ramos com o filme Abril despedaçado de Walter Salles - http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/998837 Um olhar sobre a infância em Abril Despedaçado e-revista.unioeste.br › ... › Vol. 6, No 11 (2005) › Brun

Entre o belo e o trágico: Abril despedaçado e as representações do sertão no recente cinema

brasileiro - http://www.midianordeste.org.br/new/web/trabalhos/show/id_trabalho/12