A Narrativa Historiográfica Na Modernidade Contemporânea

13
Anais do IV Colóquio Internacional Cidadania Cultural: diálogos de gerações 22, 23 e 24 de setembro de 2009 Campina Grande, Editora EDUEPB, 2009 – ISSN 2176-5901 1 A NARRATIVA HISTORIOGRÁFICA NA MODERNIDADE CONTEMPORÂNEA: ENTRE A ERRANÇA CÉTICA E A PESQUISA ÉTICA Joachin de Melo Azevedo S. Neto * RESUMO: O presente trabalho tem como foco discutir as tensões que permeiam os diálogos entre a geração de pesquisadores que é adepta das teses que, com a virada lingüística, nivelaram História e ficção romanesca e os adeptos de uma terceira via entre o realismo e o nominalismo lingüístico, formada, principalmente, por pesquisadores que vivenciaram alguns dos chamados traumas da modernidade. No campo desse debate, destaco os posicionamentos do historiador italiano Carlo Ginzburg e do filósofo da linguagem Paul Ricouer, pois ambos sugerem, por meio de um debate muito sofisticado, elementos suficientes para a refutação do ceticismo dito pós-moderno, no campo da narrativa historiográfica. PALAVRAS-CHAVE: virada lingüística – historiografia – ética – literatura – modernidade ABSTRACT: This paper focuses on discussing the tensions that permeate the dialogue between the generation of researchers who are supporter of the thesis that the linguistic turn, grade history and fiction romanesque and supporters of a third way between realism and nominalism language, formed mainly by experienced researchers who called some of the traumas of modernity. In the field of debate, highlight the positions of the Italian historian Carlo Ginzburg and the philosopher of language Paul Ricouer because both suggest, using a very sophisticated discussion, sufficient for the refutation of skepticism said post-modern, in the field. of historiography narrative. KEY WORDS: linguistic turn - historiography - ethics - literature - modern RESUMÉ: Ce papier se concentre sur l'examen des tensions qui imprègnent le dialogue entre la génération de chercheurs qui sont en faveur de la thèse que le tournant linguistique, le grade, l'histoire et les romans de fiction et les partisans d'une troisième voie entre * Mestrando em História pelo Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), orientando do Prof. Dr. Gervácio Batista Aranha e bolsista pela CAPES. E-mail: [email protected]

description

A narrativa historiográfica na modernidade contemporânea

Transcript of A Narrativa Historiográfica Na Modernidade Contemporânea

Anais do IV Colquio Internacional Cidadania Cultural: dilogos de geraes22, 23 e 24 de setembro de 2009 Campina Grande, Editora EDUEPB, 2009 ISSN 2176-5901 1 A NARRATIVA HISTORIOGRFICA NA MODERNIDADE CONTEMPORNEA: ENTRE A ERRANA CTICA E A PESQUISA TICA Joachin de Melo Azevedo S. Neto* RESUMO: Opresentetrabalhotemcomofocodiscutirastensesquepermeiamosdilogos entreageraodepesquisadoresqueadeptadastesesque,comavirada lingstica,nivelaramHistriaeficoromanescaeosadeptosdeumaterceiravia entreorealismoeonominalismolingstico,formada,principalmente,por pesquisadoresquevivenciaramalgunsdoschamadostraumasdamodernidade.No campodessedebate,destacoosposicionamentosdohistoriadoritalianoCarlo GinzburgedofilsofodalinguagemPaulRicouer,poisambossugerem,pormeiode um debate muito sofisticado, elementos suficientes para a refutao do ceticismo dito ps-moderno, no campo da narrativa historiogrfica. PALAVRAS-CHAVE:viradalingsticahistoriografiaticaliteratura modernidade ABSTRACT: This paper focuses on discussing the tensions that permeate the dialogue between the generationofresearcherswhoaresupporterofthethesisthatthelinguisticturn, gradehistoryandfictionromanesqueandsupportersofathirdwaybetweenrealism and nominalism language, formed mainly by experienced researchers who called some ofthetraumasofmodernity.Inthefieldofdebate,highlightthepositionsofthe Italian historian Carlo Ginzburg and the philosopher of language Paul Ricouer because bothsuggest,usingaverysophisticateddiscussion,sufficientfortherefutationof skepticism said post-modern, in the field. of historiography narrative. KEY WORDS: linguistic turn - historiography - ethics - literature - modern RESUM: Ce papier se concentre sur l'examen des tensions qui imprgnent le dialogue entre la gnration de chercheurs qui sont en faveur de la thse que le tournant linguistique, le grade, l'histoire et les romans de fiction et les partisans d'une troisime voie entre *MestrandoemHistriapeloProgramadePs-GraduaoemHistria(PPGH)daUniversidadeFederaldeCampina Grande(UFCG),orientandodoProf.Dr.GervcioBatistaAranhaebolsistapelaCAPES.E-mail: [email protected] Anais do IV Colquio Internacional Cidadania Cultural: dilogos de geraes22, 23 e 24 de setembro de 2009 Campina Grande, Editora EDUEPB, 2009 ISSN 2176-5901 2 leralismeetlenominalismelangue,formprincipalementpardeschercheurs expriments qui ont appel des traumas de la modernit. Dans le domaine du dbat public,soulignerlespositionsdel'historien italienCarloGinzburget lephilosophede lalanguePaulRicouerparcequelesdeuxsuggrer,aumoyend'unediscussiontrs sophistique,suffisantepourlarfutationdescepticismeditpost-moderne,dansle domaine de l'historiographie narrative. MOTS CLS: linguistic turn - historiographie - ethique - literature - modern O presente trabalho tem como foco discutir as tenses que permeiam os dilogos entreageraodepesquisadoresqueadeptadastesesque,comavirada lingstica,nivelaramHistriaeficoromanescaeosadeptosdeumaterceiravia entreorealismoeonominalismolingstico,formada,principalmente,por pesquisadoresquevivenciaramalgunsdoschamadostraumasdamodernidade.No campodessedebate,destacoosposicionamentosdohistoriadoritalianoCarlo GinzburgedofilsofodalinguagemPaulRicouer,poisambossugerem,pormeiode um debate muito sofisticado, elementos suficientes para a refutao do ceticismo dito ps-moderno, no campo da narrativa historiogrfica. Pretendodiscutir,apesardaslimitaesdeespaoimpostaspelaformatao que um artigo impe, os principais argumentos de Ginzburg e Ricouer contra o que os citados autores acusam de ceticismo ps-moderno. A principal inteno deste trabalho buscarcontribuircomumareflexosobreospossveiscaminhosquelevemos historiadoresasuperaremessadicotomiacontempornea,nocampodadisciplina, entreosdeterminismosdorealismoeoceticismoradical,talqualexaltado atualmentepornomesrelevantesnaHistoriografianacional,comoDurvalMuniz Albuquerque Jr. NotextoSinais:razesdeumparadigmaindicirio(1989),CarloGinzburg discorresobreaconstruodeumparadigma,nombitodasCinciasHumanas,a partirdosculoXIX,quepodesugerirnovaspossibilidadestericasemetodolgicas diantedapolarizaoentreracionalismoeirracionalismo,ouseja,mimeseseanti-mimeses nas cincias humanas. ApartirdeartigosdeIvanLermolieff(pseudnimodocrticoitaliano dearteGiovanniMorelli)publicadosemumarevistaalem,porvolta de 1874 a 1876, Ginzburg atenta para as propostas metodolgicas de analise das pinturas aconselhadas por Morelli, que despertaram vrios debates e estabeleceram critrios seguros para se distinguir entre uma obraoriginaleumacpiafalsificadadosquadrosdosmestresda pintura italiana. Anais do IV Colquio Internacional Cidadania Cultural: dilogos de geraes22, 23 e 24 de setembro de 2009 Campina Grande, Editora EDUEPB, 2009 ISSN 2176-5901 3 OmtododeMorelliparasedistinguiroriginaise cpias,partiadopressuposto dequeprecisonosebasear,comonormalmentesefaz,emcaractersticasmais vistosas, portanto mais facilmente imitveis dos quadros, masatentar para indcios, ospormenoresmaisnegligenciveisemenosinfluenciadospelascaractersticasda escola a queo pintor pertencia (GINZBURG,1989, p. 144).Napoca, Omtodo de Morelli auxiliou a nomear vrias obras de mestres da pintura europia no assinadas e aumacatalogaomaisprecisadessasobras,porm,foi,posteriormente,bastante criticadonoscrculosdeartepelaformadeterministaqueaparentavaparaalguns. Ginzburg,apesardetambmverqueomtododeMorellitraduzumapostura modernaemrelaoarte,buscaporimplicaesmaisprofundas,deordem filolgica, encontradas no mtodo morelliano. Nesse sentido, partindo das consideraes de Wind sobre as semelhanas entre o mtodoindiciriodeMorellieaposturadetetivescadopersonagemderomances policiaisSherlockHolmes,criadopeloinglsArthurConanDoyle,Ginzburg(1989,p. 145)consideraqueoconhecedordeartecomparvelaodetetivequedescobreo autor do crime (do quadro) baseado em indcios imperceptveis para a maioria. Ainda seguindoosrastrosdoraciocniodeWind,Ginzburgchegaaoterceiroautorque completariaatraderesponsvelporumasofisticaointelectualdeumparadigma queencontrasuasorigensemperodosmaisremotosqueadofimdosculoXIX: trata-se do pai da psicanlise Freud.Para Ginzburg (1989, p. 148), Freud foi influenciado numa fase muito anterior a descobertadapsicanlisepelomtodomorelliano,atravsdaleituradeseustextos sobrearteitaliana,seapropriandodessemtodoparadesenvolverogostopela analiseinterpretativaderesduos,aspectosperifricos,pormreveladoresdas personalidades.Dessemodo,pormenoresnormalmenteconsideradossem importncia, ou at triviais baixos, forneciam a chave para aceder aos produtos mais elevados do esprito (GINZBURG, 1989, p. 150). Nesse caso, o eixo que interliga a trade Morelli, Holmes e Freud a assertiva de que as possibilidades de elucidao em tornode uma problemtica so ampliadas na medidaemqueoinvestigadorsejadaarte,dacriminologiaoupsique,estejaatento parasinaisoupistasquesodeixadaspeloseuobjeto:pistas:maisprecisamente sintomas (no caso de Freud), indcios (no caso de Holmes) e signos pictricos (no caso deMorelli)(GINZBURG,1989,p.150).Dentrodesseprisma,existiaumarelao mais reveladora da afinidade entre trs intelectuais que atuaram em esferas do saber diferentes:apesardesedestacaremnombitodahistriadaarte(Morelli),da psicanlise(Freud)eliteratura(ConanDoyle),ostrsautorestiveramemcomuma Anais do IV Colquio Internacional Cidadania Cultural: dilogos de geraes22, 23 e 24 de setembro de 2009 Campina Grande, Editora EDUEPB, 2009 ISSN 2176-5901 4 atuaoemcursosdeMedicina.Nessesentido,oparadigmaindicirionadamais queumaextensodomodelodasemiticamdica:adisciplinaquepermite diagnosticarasdoenasinacessveisobservaodiretanabasedesintomas superficiais, s vezes irrelevantes aos olhos do leigo (GINZBURG, 1989, p. 151). Porm,paraGinzburg(1989,p.151),apesardoparadigmaindicirionas CinciasHumanastersidogestadoapartirdomtodosemiticoaplicadanos pacientes pelos mdicos, que buscam preciso no veredicto sobre a sade do paciente apartirdossintomasapresentadospelomesmo,omtodoindicirioacompanhaos homensdesdeostemposmaisimemoriaisdahistria,ouseja,desdequandoo homemaprendeuareconstruirasformasemovimentosdaspresasinvisveispelas pegadasnalama,ramosquebrados,bolotasdeesterco,tufosdeplos,plumas emaranhadas,odoresestagnados.Aprendeuafarejar,registrar,interpretare classificar pistas infinitesimais. Comparando a forma que o paradigma indicirio adquire na modernidade com a formadeumtapete,cujosfiosepistemolgicosentrecruzam-seformandofiguras interligando o antigo e o moderno que constroem essa aparncia mrfica para o saber indicirio, Ginzburg (1989, p. 171) comea a desfiar esse tapete, pois uma coisa analisar pegadas, astros, fezes (...), catarros, crneas, pulsaes, campos de neve ou cinzasdecigarro.Outraanalisarescritas,pinturasoudiscursos.Apartirda, Ginzburg recorre a diversos conceitos cunhados por Marx para pensar os modos que o saber individualizante foram usados pela ordem dominante, durante a consolidao do capitalismo industrial, para dar inicio a criminalizao da luta de classes,colocando emprticaum projetogeral,maisoumenosconsciente,decontrolegeneralizadoe sutil sobre a sociedade (GINZBURG, 1989, p. 173). Finalizandosuasreflexescomumaindagaosobreaflexibilidadedo paradigmaindicirio,Ginzburgconsideraqueosaberindiciriovolvel,tendode adaptar-se a cada circunstncia em que aplicado, seja na analise morelliana da arte, naselucidaesdetetivescasdeHolmes,nainterpretaoanalticadapsiquede Freud,duranteaconsolidaodaordemburguesaounogestodocaadorquequer encontrarsuapresaseguindosuaspegadasemumafloresta.Assim,aintuio indiciria une estreitamente o animal homem as outras espcies animais. NaobraRelaesdefora:histria,retrica,prova(2002),Carlo Ginzburgressaltabemquealiteratura,enquantoobjetoesttico, destinada, por meio de uma tradio moderna, a agradar e a comover, desdepblicosmassificadosatleitoresintelectualmentemais exigentes,umdoscamposqueoscticosnominalistasmaisse sentem vontade para se referirem aos textos historiogrficos. Para o autor, essa postura : Anais do IV Colquio Internacional Cidadania Cultural: dilogos de geraes22, 23 e 24 de setembro de 2009 Campina Grande, Editora EDUEPB, 2009 ISSN 2176-5901 5 (...)simplistaporqueexamina,normalmente,soprodutofinal literriosemlevaremcontaaspesquisas(arquivsticas,filolgicas, estatsticas,etc.)queotornarampossvel.Deveramos,pelo contrrio,deslocaraatenodoprodutoliterriofinalparaasfases preparatrias,parainvestigarainteraorecproca,nointeriordo processodepesquisa,dosdadosempricoscomosvnculos narrativos. (GINZBURG, 2002, p. 114) A idia de que a escrita uma construo esttica que parte geralmente de uma iniciativa individual, mas que possui um rico potencial cognitivo no que diz respeito representaodedeterminadosaspectosdavidasocialnolevadaemcontapelos cticos.Estesresgatamumanoopuristadaliteratura,naqual,encerrando-sena dimensolingstica,aartenoapresentaconexescomocontextonoqualfoi produzida. Portanto, o que est em questo no tratar a literatura como uma espcie de narrativa inferior narrativa historiogrfica ou algo ameaador, segundo a opinio de DurvalMunizAlbuquerqueJr.,oshistoriadoresquenosoadeptosdonominalismo fazem.1Oprpriottulodacoletneadeartigosdoautornaqualestcontidaessa opiniochama-seHistria:aartedeinventaropassado(2007):trata-sedeuma ntidaprovocaoaessedebatecontemporneoentrehistriaefico.Porm, importante ter certa cautela com essa noo de que o historiador inventa o passado, pois, conforme j advertiu Sandra J. Pesavento (1997, p. 820), o historiador (...) no cria vestgios do passado (no sentido de uma inveno absoluta), mas os descobre ou lhes atribui um sentido, conferido-lhe o estatuto de fonte. Abolirasfronteirasentrehistriaefico,comopropeDurvalMuniz,siria desembocaremumaespciedeirracionalismoesttico,empobrecendoas especificidadesdeambasasreas.Deixandodeladoessapropostairresponsvel, praticamente anrquica, pode-se refletir de maneira mais coerente, sobre as fronteiras queexistementrenarrativaliterriaehistricaetambmsobreosdeslocamentos possveisentreessessaberes,pois,comumente,ohistoriadortantoprecisarecorrer as artimanhas do estilo para tornar a pesquisa inteligvel aos seus pares e ao pblico queseinteressapelarea,quantooliteratosentenecessidadedeinseriremsua trama uma inscrio histrica. 1NoartigoAhoradaestrela:HistriaeLiteratura,umaquestodegnero?,publicadoemHistria:aartedeinventaro passado(2007),DurvalMunizchegaaindagarporqueoshistoriadorestememtantoaliteratura.Falaremumpossvel medoqueoshistoriadorestemdaliteratura,talqualonutridoporRanke,nacontemporaneidade,umtremendo maniquesmo. Ao se referir aos outros historiadores que fizeram escolhas diferentes das teorias do discurso e do ceticismo ps-modernocomoseestivessemaindanotempodaescolametdica,nosculoXIX,DurvalMunizqueestsendo anacrnico, alm de radical. Anais do IV Colquio Internacional Cidadania Cultural: dilogos de geraes22, 23 e 24 de setembro de 2009 Campina Grande, Editora EDUEPB, 2009 ISSN 2176-5901 6 Anoodequeahistriaumamodalidadedefico,mascontrolada, passvel de questionamentos, pois ao meu ver, muito mais coerente do que encarar a histriacomoromanceverdico(PESAVENTO,1997,p.820),conceitobastante hbrido,seriaconceberahistriaenquantoumsaber,quepassveldeconstruese desconstrues,noperdesuascaractertisticasenquantoformadeconhecimento humano. Escrever histria, mas que inventar o passado, antes de tudo uma busca pela compreensodosespaosembrancodotempoeportornarooutrointeligvelaos contemporneos.Tamanharesponsabilidadenoseriapassveldeprticasomente atravsdaimaginaoartstica,aqualoliteratopodeentregar-seaseubelprazer. Evidentemente, essa entrega a criatividade artstica no tem nada de negativa ou de condenvel no caso doofcio do literato, masno caso do historiadoresse aspecto da elaborao da narrativa submetido a certas preocupaes heursticas diferentes das de um escritor romancista, por exemplo. Evidentemente, Sandra Pesavento admite no artigo Fronteiras da fico: dilogos da histria com a literatura (1997), do qual foi retirada a citao anterior, a presena deumaimaginaocriadoraqueimbuiaproduohistoriogrficadesignificadoe coerncia. A autora realiza todo um esforo terico para discutir os limites no ofcio do historiador que filtram o uso dessa imaginao, inclusive, elencando a prpria consulta asfontescomoumdessesfiltros,masterminaporconsideraranarrativa historiogrficacomoficocontrolada,oquecontradizseusesforosargumentativos em defesa das hierarquias de verossimilhana do texto historiogrfico. OresgatedeNietzsche,umverdadeirosantopadroeirodops-modernismo (Cf.BLACKBURN,2006,p.129),queseencontra,porexemplo,nasposturasde lingistascomoRolandBartheseHaydenWhitealgopassveldecompreenso.O elogiodeNietzscheaTucdides,quandoohistoriadorgregonarraoepisdiodo massacre dos habitantes da ilha de Milo, na Guerra do Peloponeso, que se rebelaram contraAtenas,remeteaumadiscussoentreasrazesdajustiaeasrazesdo poder. Como ir mostrar Dionsio de Halicarnasso, 300 anos depois, os testemunhos de Tucdidessobreoevento,pormaisrealistasquesepretendam,nopossuem credibilidade,poiseleestavaexiladonaTrcia,jamaispodendoterpresenciado diretamenteouindiretamenteodilogoentremlioseatenienses.Omassacrecom requintes de crueldade promovido pelos atenienses que Tucdides narrou uma forma deatacarosistemapolticoqueoexilou,embasadoemumaarteparaseduzira maioria com argumentos atraentes e falaciosos (GINZBURG, 2002, p. 18). Anais do IV Colquio Internacional Cidadania Cultural: dilogos de geraes22, 23 e 24 de setembro de 2009 Campina Grande, Editora EDUEPB, 2009 ISSN 2176-5901 7 NosdilogosentreScratesePlatocomosretricos,sobretudooquebebiam da mesma fonte que Grgias, Carlo Ginzburg evidencia como essas arengas remetiam a uma competio de dimenso mais srias: osretricos, como Clicles, acusados de demagogia, defendendo uma forma de democraciaimposta ainda pela fora, de cima para baixo, no sabiam o que era poltica na viso dosfilsofos. Veremos como essa discusso remete a Nietzsche e os citados cticos nominalistas. Nietzsche,duranteajuventude,aoenveredarpelafilologiaclssica,irtomar comopontodepartidaparasuasreflexesumasriedetemticasencontradasem Clicles,comoodomniodomaisfortesobreomaisfracodeterminadoporumalei da natureza (...), a moral e o direito como projees dos interesses de uma maioria de fracos; a submisso injustia definida como moral para escravos (GINZBURG, 2002, p. 22). Nietzsche vai modernizar o embate entre retricos e Scrates, afirmando que a idia de verdade uma iluso que encontra coerncia apenas na linguagem.A verdade enquanto um exrcito mbil de metforas, expressada atravs de um estilonarrativoquepoderiaconvencerumamultidoaacreditarnasmaistnues mentiras, como percebida em Nietzsche irofomentar seurelativismo em torno da idia de estilo e sua crtica aos preconceitos antropocntricos. Para Ginzburg (2002, p. 31)impossvelcompreenderaridicularizaoqueofilsofofazsobreadescoberta do conhecimento humano e as circunstnciasde seurompimentocom Schopenhauer sem contextualiz-lo em uma crise de cepticismo moral, provocada pelo rompimento com o universo religioso protestante do qual sua famlia fazia parte, pela sua rejeio nos meios acadmicos e pelo atesmo militante que assumiu. Nessesentido,Nietzscheirdesmontarasconcepesdeverdadecalcificadas por Lutero e que fundamentavam o cristianismo protestante alemo de que o verbo verdade. Nietzsche ir responder a pergunta feita por Pilatos a Cristo: Oqueaverdadeento?Umbatalhomveldemetforas, metonmias,antropomorfismos,enfimumasomaderelaes humanas, que foram enfatizadas potica e retoricamente, transpostas, enfeitadas,eque,apslongouso,parecemaumpovoslidas, cannicas e obrigatrias. (NIETZSCHE, 1996, p. 37) Eisaagnesedahostilidadenietzschianaaocristianismo.Estamosagoranos anos 70 do sculo xx. Paul de Man faz uma apropriao do teor de Acerca da verdade edamentiraeelaboraumtextoquesetornaumadasmatrizesdo desconstrucionismo.Noencontroondeocitadotextoapresentado,RobertGates cobradePauldeManumamaiorrelaoentreafilosofiadeNietzschecomalguns impasses polticos vividos na poca, como a Guerra do Vietn e com o prprio Reich. A Anais do IV Colquio Internacional Cidadania Cultural: dilogos de geraes22, 23 e 24 de setembro de 2009 Campina Grande, Editora EDUEPB, 2009 ISSN 2176-5901 8 respostadePauldeManqueafilosofiadeNietzschesitua-seapenasnonvelda ironia e que essas questes no encontram ressonncia em seu pensamento. 2 Nesse sentido, Ginzburg (2002, p. 34) realiza um arguto resgate do Paul de Man anti-semitadadcadade40queandoudivulgandotextosdeteorpreconceituosos. Paul de Man se valer de uma mscara enquanto tradutor de Jorge Luis Borges, para oingls,paraocultarumpassadoqueparaeleseriaapenasmotivodeculpae vergonha.EsseceticismodePauldeMan,emborasofisticadoexistencialmente frgil.EssatentativadesesperadadefugadahistriaalmejadaporDeManse enquadra historicamente (GINZBURG, 2002, p. 35). A fuga da realidade que De Man realizatemdimensesmaistrgicasemSarahKofmanqueapsescreverumlivro sobreNietzscheeametfora,ondenarrasuainfnciadegarotajudiasubmetidaao jugo do nazismo, nos guetos, comete suicdio. EmboraSobreaverdadeeamentiranosentidoextra-moraltenhainspiradoo relativismo em sua acepo mais radical nas cincias humanas, a referncia mor dos protagonistasdaviradalingsticaparasereferiremhistriaotextoSobrea utilidadeeosprejuzosdahistriaparaavida(2000),deNietzsche:sujeitaas imprevisibilidadesdossujeitos,ahistriavistacomoumjogodeforas contraditrias que tanto podem estar em harmonia com a vida, como em conflito. Ao contrriodeenxergarosentidohistricodamodernidadeenquantoumprogresso,o filsofo alemo ressalta que o progresso apenas uma faceta de um percurso mltiplo do mundo, opondo-se as concepes romnticas, idealistas e cientificistas da histria. ParaNietzsche,astrsesferasconceituaisnasquaisencontramosarelao entrehistoriaevidaso:1)Ahistriamonumental:modalidademarcadapelo sentimento de nostalgia e uma apatia ferrenha pelo presente. 2) A histria tradicional: nessamodalidade,ohistoriadorousujeitohistriconopassariadeummero antiquriocolecionadordefatos.3)Ahistriacrtica:mesmoqueessamodalidade possadesembocaremumpessimismoprofundoquandopautadaemumabuscapor justia, , para Nietzsche, a nica forma de pr a histria a favor da vida. 2 No ensaio em que exerce uma crtica ao ceticismo nietzschiniano, Simon Blackburn (2006) considera que a desconfiana de Nietzsche em relao a categorias conceituais fechadas em si perfeitamente plausvel e que essa crtica a noo de verdadedofilsofo,podeserinterpretadacomo,naverdade,umacrticaaunilateridadedopensamento.MasS. Blackburn evita cair no ceticismo irracional a partir da premissa de que vrias perspectivas, vrias noes sobre um mesmo acontecimentoeoprivilgiohumanodepoderconstruirversesdiferentesdeummesmofatonoimplicaqueeleno aconteceu e ento no devemos, necessariamente, cair nesse tipo de niilismo. Uma forma muito pertinente de escapar do ceticismo determinista pluralizar a realidade, criando diversas possibilidades interpretativas para a mesma. Anais do IV Colquio Internacional Cidadania Cultural: dilogos de geraes22, 23 e 24 de setembro de 2009 Campina Grande, Editora EDUEPB, 2009 ISSN 2176-5901 9 De forma bastante didtica, Noli Melo Sobrinho, na apresentao comentada da ediobrasileiradosEscritossobrehistria,deNietzsche,resumeosprincipais argumentosqueembasaramaempreitadadofilsofocontraoestatutocientficoda Histria em sua poca: (...)osobjetosdahistrianopodiamefetivamenteseralvo deum tratamentocientfico,porqueeramproduesdacultura,expresses dosseusvaloresedassuasiluses.Apesardaspretenses cientificistasdoshistoriadores,osentidohistricoconsistiaemuma apreciaoantropomrficadosacontecimentos,umainterpretao transfiguradora,umaperspectiva,umainterpretaoquenopodia reivindicarparasinemaobjetividadedosfatos,nemasua neutralidadediantedascoisaspassadas:nohfatos,hapenas interpretaes, e nenhuma interpretao definitivamente adequada realidadeouneutradiantedela:sempresefaladealgumlugar,a partir de certos valores, em circunstncias diversas do ambiente e do nimo. (MELO SOBRINHO, 2005, p. 45) Segundo Paul Ricouer, essa reflexo intempestiva de Nietzsche, que endossa sua contestao gigantesca da modernidade, acaba se tornando um panfleto em defesa de uma histria justiceira. Contribuindo para a difuso de uma m interpretao do tema hegelianosobreofimdahistriaequerecepcionadapeloscticosps-modernos comoummodeloepistmico,capazdeabalaraspretensescientficasdo conhecimentohumano,Sobreautilidadeeosprejuzosdahistriaparaavida remete, conforme j foi dito, a uma: (...) espcie de tipologia que tornou famoso esse ensaio de Nietzsche, adistinoentrehistriamonumental,histriaaomodoantiqurio (antiquarische) e histria crtica, no de modo algum uma tipologia (...)epistemolgica.Aindamenosrepresentaelaumaprogresso ordenadaemfunodeumaformarainha,comoahistriafilosfica emHegel(assim,oterceirotermodeNietzscheocupaosegundo lugar em Hegel, o que tem sua importncia. Talvez at a tripartio de Nietzsche tenha uma relao irnica com a de Hegel). Trata-se, a cada vez, de uma figura cultural e no de um modo epistemolgico [grifos do autor]. (RICOUER, 2007, p. 401) nesse sentido que podemos perceber que os cticos relativistas ao posarem de portadoresdeumaverdadeiranovidadeepistemolgica,nosanos60,combaseem umanovaleituradeNietzsche,estavammunidosdeumasriedemotivos extracientificos,pessoais.Derrida,aotecersuacriticaaoestruturalismodeLevi-Strauss,almejandoabster-sedequalquerdesejodeescolha,seguindoosrastrosde Nietzsche,encantamaisaindaosherdeirosdoscolonizadoreseosherdeirosdos colonizados(GINZBURG,2002,p.36).Ginzburgencontranopensamentodesse filosofofrancsvestgiosdaretricadainocnciamoderna,quetentaredimiros crimes do Ocidente. Aidiadequenarrativahistricaenarrativaficcionalnosedistinguem bastante cmoda para quem quer, de uma forma at desesperada, se libertar de um Anais do IV Colquio Internacional Cidadania Cultural: dilogos de geraes22, 23 e 24 de setembro de 2009 Campina Grande, Editora EDUEPB, 2009 ISSN 2176-5901 10 passadoresponsvelpormomentosdedesencantamentospolticoseexistenciais, comocoloca,deformaincisiva,CarloGinzburg.Nofoiaoacasoquenocasodo Brasil,apsaquedadoMurodeBerlineadivulgaodoscrimescometidospelo stalinismo,muitosintelectuais,ferrenhamenteadeptosdeumahistoriografiaque depositavatodassuasesperanasnosdesfechosdeumalutadeclassesque favoreceria os excludos, buscaram refgio e explicaes para a histria, que foi capaz de lhes pregar uma pea to cruel, no pensamento nominalista. Paraexemplificaroquantodeintenespolticasexistenonivelamentoentre histriaefico,possocitarDurvalMuniz,noartigoHistria:aartedainventaro passado,queintitulaasuaobra,defendendoacondiodeumasupostaps-modernidadecomoanossacondiohistrica,anossaepisteme(AlbuquerqueJr, 2007, p. 55). Aqui temoso autor que fala em morte das metanarrativas,elaborando eleprprioumasriedemetanarrativasparaexplicaragenealogiadaps-modernidade, de forma bastante estruturalista, inclusive, quando chega a depositar no fato do ataque atmico sofrido pelo Japo, na II Guerra Mundial, e a inveno do chip as razes maiores dessa ps-modernidade. Essasgeneralizaessobastanteperigosas.Nemtodososhistoriadores partilhamdessacrenanoirracionalismooutrabalhamcomaanaliselingusticadas fontes.Nessecaso,cticosestoaquelesqueescolheramonominalismocomolugar epistmicoparaescreverhistoriograficamente.Comorepresentantebastante gabaritadodessatendncia,DurvalMunizbuscadefender,namaispuratradio poltica,umlugarinstitucionalquefaasuavozserouvidaeassimiladanoespao acadmico.Eisaumntidoexemplodeusodaschamadasrelaesdefora,que sempreestopresentesemdisputasacadmicas.Ditodeoutromodo,oquequero exporqueexistemvriaspossibilidadesdeabordagenshistoriogrficas,nempor issomenosvlidas,quepartemdehiptesesediretrizesbastanteantagnicasasda episteme dita ps-moderna. NoensaioRumoaumahermenuticadaconscinciahistrica,PaulRicoeur realizaumexercciocomplexodereflexosobrearelaoentrearealidadedo passado com o nosso presente inacabado e as expectativas para o futuro. Acatando a noo, que me parece mais sensata, de que, por sermos seres afetados pelo passado, amodernidadetrata-sedeumprojetoaindainacabado,Ricoeur(2007,p.372)se posiciona justamente (...) contrao adgio que pretende queo futuro seja em todos os aspectos aberto e contingente, e o passado univocadamente fechado e necessrio, sugerindoqueprecisotornaressasexperinciasmaisdeterminadasenossa experincia mais indeterminada. Anais do IV Colquio Internacional Cidadania Cultural: dilogos de geraes22, 23 e 24 de setembro de 2009 Campina Grande, Editora EDUEPB, 2009 ISSN 2176-5901 11 No quero entrar no mrito do debate que envolve as diversas crticas realizadas por intelectuais de diferentes matizes ao jargo acadmico de ps-modernidade 3, pois acatar esse desafio desviaria bastante a proposta original desse capitulo. O que chamo aatenoparaque,valendo-sedeumaportetericoeconceitualemNietzschee Hayden White, Durval Muniz utiliza o discurso da existncia de uma ps-modernidade ,enquantocontextohistricomarcadopelocinismoedesiluso,parageneralizar queestamoscticosquantopossibilidadedeseconheceropassadoeque pensamos, hoje, o passado como inveno, de que fizeram parte sucessivas camadas de discursos e prticas (ALBUQUERQUE Jr, 2007, p. 61). PaulRicouerbastantecontundentequando,partindodeumacontestaoao conceitodedescontinuidadepresentenaArqueologiadosaber,deMichelFoucault, concebe que a possibilidade de uma ruptura brusca com o passado possvel somente noplanodasepistemologiase,mesmoassim,asrupturasepistemolgicasno impedemqueassociedadesexistamdemaneiracontnuaemoutrosregistros institucionaisououtrosdoqueosdossaberes(RICOUER,2007,p.375).Essa postura sofista ligada oposio entre discurso e realidade social, tratada, sobretudo, como poltica, refutada por Ricoeur, que prope que a linguagem seja pensada nas condies sociais de seu exerccio, ao invs de dissociada delas: (...)recolocandoalinguagem,emqueahermenuticaparece encerrar-se,numaconstelaomaior,quetambmcomportao trabalho e a dominao; aos olhos da crtica materialista que se segue, aprticadalinguagemrevela-secomoasedededistores sistemticasqueresistemaocorretivaqueumafilologia generalizada oqueahermenuticapareceser,em ltimaanalse aplica mera m compreenso inerente ao uso da linguagem, uma vez arbitrariamente separada da sua condio social de exerccio. assim queumapresunodeideologiapesasobretodapretensode verdade. (RICOUER, 2007, p. 385) AindarecorrendoaPaulRicoeur,emsuacrticaanoodedescontinuidade histrica,endossadoporessahistoriografia,pretensamenteps-moderna,pode-se pensarqueaprprialinguagem,terrenopreferidodoscticosparacriticarema 3 Como ponto de partida para os interessados nesse debate, recomendo a leitura da obra Tudo que slido desmancha no ar (1986), de Marshall Berman. Na obra mencionada, o autor analisa a modernidade enquanto um conjunto de experincias vivenciadas ao longo de cinco sculos em um mbito de constantes paradoxos, deconflitos,contradies, inflexesetransformaes.Paraofilsofo,amodernidadepodeser divididaem trs fases: a primeira vivenciada ao longo do sculo XVI at o XVIII na qual os embries da modernidade se desenvolveram.Nasegunda,nosculoXIX,ocorremdiversasrevoluesdembitossociais,polticase culturais;sopresenciadososprimeiroschoquesentretransformaoecontinuidades.Naltimafase,a partir do sculo XX, a modernidade expande-se constantemente gerando uma fragmentao que desliga as pessoasdaprpriaidiademodernidade.Conclui-se,portanto,quealgunstericosconsideramcomops-moderno um tempo marcado ainda por caractersticas e contradies bastante modernas. Anais do IV Colquio Internacional Cidadania Cultural: dilogos de geraes22, 23 e 24 de setembro de 2009 Campina Grande, Editora EDUEPB, 2009 ISSN 2176-5901 12 historiografia,elaprpriaumsistemadecdigosnoqualestcontidotodauma tradio e relao de herana com o passado. Assim,comoexemplodeumapropostaepistmicabastantediferentedaps-moderna,ahermenuticadaconscinciahistricapropostaporRicoeur(2007,p. 390) est pautada, sobretudo, alm das noes de tradio e herana temporal, na de rastro.Orastroseriaumamarcaquenodeixadvidasemrelaocontinuidade entrepresenteepassado,designandopelamaterialidadedamarca,aexterioridade dopassado,asaber,suainscrionotempodouniverso.Amanipulaodesses rastrospelohistoriadorparasetornaremfontesdecifrveis,documentais,estaria ligadaanecessidadehumanada crticadastradies.Masestano,afinal,seno umavariantenoestilodatradicionalidade.Acercadessaspreocupaesentre elaborarnexosplausveisentreosrastrosdeumatradiohistricaeopresente, tambm se englobam questes como as polticas da justa memria e de dvida com o passado,almdastensesentreelaboraonarrativa,consultaehermenuticadas fontes,que,comojfoisalientado,nosolevadasasriopeloscticosps-modernos. Comosepodeperceber,asdisputascontemporneasqueenvolvemodebate entrenarrativaficcionalehistoriogrficaenvolveminteressespolticos,intelectuais, moraise,inclusive,disputaspelodireitoamemria.Literaturaehistriatmuma origemcomum,queserianalendaenomito,naantiguidadeclssica.Oque evidenciadocomonovidadeepistmica,ditaps-moderna,trata-sedeumaleitura moderna dos debates entre os sofistas e os filsofos na Grcia Antiga. Ascrticasaquidirecionadasnovisamdesmerecertodaacontribuioqueo desconstrucionismoforneceuahistoriografiacontempornea,pois,seassim procedessem,seigualariamaoradicalismocomoqualosmaiscticossevalemdo relativismocomoestratgiaretricanasCinciasHumanas.Momentosdecisivosna historiografiaaconteceramquandoentraramempautaasdiscussessobrea dimensodiscursivadahistriaesobreolugarsocialqueohistoriadorocupaao fazer/escreverhistria.Porm,emtempodecrises,dasmaisdiversasordens, necessrioagoraumasriedereflexessobreosexcessoscometidospelos relativistas em seus cultos a dessacralizao do saber. Tambm se torna importante frisar que, mesmo sendo categorias narratolgicas diversas,literaturaehistriapodemseentrecruzar,principalmentenaescrita memorialsticaedetestemunho,poissendognerosdiferentesissonoimplicaque soopostosumaooutro.Pode-seperceberquenuncahouveumaformadefico pura: historiadores e literatos, apesar de construrem modalidades textuais diferentes, Anais do IV Colquio Internacional Cidadania Cultural: dilogos de geraes22, 23 e 24 de setembro de 2009 Campina Grande, Editora EDUEPB, 2009 ISSN 2176-5901 13 noabremmodecertaspretensescognitivas,notocantearepresentaodavida social, embora partindo de interesses nem sempre convergentes BIBLIOGRAFIA: ALBUQUERQUE Jr. Durval Muniz. A hora da estrela: Histria e Literatura, uma questo de gnero?. In: Histria: A arte de inventar o passado.So Paulo: EDUSC, 2007. _____.Ahistriaemjogo:aatuaodeMichelFoucaultnocampodahistoriografia. In: Anos 90, Porto Alegre, v. 11, n. 19/20, jan./dez. 2004. (pp. 79-100) BLACKBURN, Simon. Nietzsche: o astuto desmascarador. In: Verdade: um guia para perplexos. Traduo de Mariliene Tombini. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2006. (pp. 127-74). BARTHES,Roland.Orumordalngua.TraduodeMarloLaranjeira.2.ed.So Paulo: Martins Fontes, 2004. CHARTIER, Roger. Figuras retricas e representaes histricas. In: beira da falsia: a histria entre certezas e inquietude. Traduo de Patrcia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRES, 2002.CERTEAU, Michel de. A operao historiogrfica. In: A escrita da histria. Traduo deMariadeLourdesMenezes.RiodeJaneiro:ForenseUniversitria,1982.(p.65-119) GINZBURG, Carlo. Relaes de fora: histria, retrica, prova. Traduo de Jnatas Batista Neto. So Paulo: Companhia das Letras, 2002. _____.Sinais:razesdeumparadigmaindicirio.In:Mitos,emblemas,sinais: morfologiaehistria.TraduodeFredericoCarotti.SoPaulo:Companhiadas Letras, 1989. (pp. 143-80). NIETZSCHE,Friedrich.Sobreaverdadeeamentiranosentidoextra-moral.In: Nietzsche: vida e obra. Traduo de Rubens Figueiredo Torres Filho. So Paulo: Nova Cultural, 1996. (pp. 51-60) PERRONE-MOISS, Leyla. Ps-estruturalismo e desconstruo nas Amricas. In: ____. (org.).Dopositivismoadesconstruo:idiasfrancesasnaAmrica.SoPaulo: Editora da Universidade de So Paulo, 2004. WHITE,Hayden.Asficesdarepresentaofactual.In:Trpicosdodiscurso: ensaiossobreacrticadacultura.TraduodeAlpioCorreiadaFrancaNeto.So Paulo: EDUSP, 1994.