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Design, Arte, Moda e Tecnologia. São Paulo: Rosari, Universidade Anhembi Morumbi, PUC-Rio e Unesp-Bauru, 2010 87 Resumo Este artigo apresenta o Método de Ensino de Desenho Coletivo de Caracteres Tipográficos, O MECOTipo, e discute alguns resultados obtidos com a sua implantação em duas circunstâncias distintas, uma delas ideal e outra desfavorável. A efetividade do método é avaliada a partir da análise de projetos de fontes digitais desenvolvidas entre os anos de 2009 e 2010 por alunos de cursos de graduação em design. A resultante dessas experiências e de outras, brevemente narradas no texto, indicam ajustes e incrementos que podem ser promovidos. Palavras-Chave: tipografia; desenho; fontes digitais e método ANALISANDO O MECOTipo Leonardo A. Costa Buggy; Me.: Universidade Federal de Pernambuco [email protected]

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ResumoEste artigo apresenta o Método de Ensino de Desenho Coletivo

de Caracteres Tipográficos, O MECOTipo, e discute alguns

resultados obtidos com a sua implantação em duas circunstâncias

distintas, uma delas ideal e outra desfavorável. A efetividade do

método é avaliada a partir da análise de projetos de fontes digitais

desenvolvidas entre os anos de 2009 e 2010 por alunos de

cursos de graduação em design. A resultante dessas experiências

e de outras, brevemente narradas no texto, indicam ajustes e

incrementos que podem ser promovidos.

Palavras-Chave: tipografia; desenho; fontes digitais e método

AnAlisAndo o MECoTipo

Leonardo A. Costa Buggy; Me.: Universidade Federal de Pernambuco

[email protected]

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Analisando o MECOTipo

o desenho de caracteres tipográficos e a coletividadeA composição tipográfica de uma palavra é regulada por uma mecânica cuja dimensão

é assegurada pelos espaços e corpos dos tipos de metal. Essa lógica se estende às linhas

e colunas que caracterizam uma página de texto e relaciona-se com os elementos visíveis

quando impressos.

Nessa condição, o tamanho e a posição desses elementos podem ser especificados

com precisão por meio de um sistema de medidas próprio dos tipos móveis (SMEIJERS,

1996).

A aplicação de tais princípios de funcionamento foi herdada pela tipografia digital,

assegurando-lhe similar relação entre os grafismos dos caracteres e seus espaços.

O enfoque do MECOTipo diz respeito unicamente ao desenho das formas tipográficas

não contemplando sua articulação. As operações referentes ao preparo e geração de arquivos

digitais necessários a instalação das fontes em sistemas operacionais não são compreendidas.

Em outras palavras, a programação que dá ânimo ao sistema de medidas que combina letras,

números e demais sinais usados pela escrita não é abordada.

Todavia, os procedimentos contemplados pelo método consideram fortemente uma

perspectiva humanizada do desenho que conjuga o pensamento de pelo menos três autores

na sua essência.

O primeiro deles, Freinet (1977), entende o desenho como produto de uma habilidade

resultante do processo natural da tentativa experimental no qual o homem busca crescer,

suplantar obstáculos, afirmar sua personalidade e se perpetuar. O segundo, Moreira (1987),

ressalta-o simplesmente como linguagem; a primeira escrita do homem, que o permite lançar-

se à frente, projetar-se. Por fim, o último e mais pragmático afirma que: “O desenho é um

processo de criação visual que tem propósito.” (WONG, 1998, p.41).

Ao explorar recursos que incluem tanto os traços gestuais quanto a lógica modular na

concepção de caracteres, o MECOTipo reúne aspectos emotivos e racionais do desenho para

estimular os designers interessados na produção tipográfica contemporânea. Mais que isso,

o método considera o desenho de caracteres tipográficos, ou de tipos, um projeto de design.

Esse tipo de projeto é uma atividade complexa e precisa. É difícil alterar substancialmente

a forma das letras sem prejudicar a sua legibilidade. De qualquer modo, no campo das formas

estabelecidas existem muitas possibilidades de variações estruturais tais como: inclinação do

eixo, serifa, peso, altura de x e contraste (CHENG, 2006).

A amplitude dos dados encerrados nessa atividade assemelha-se a da construção de

um sistema de identidade visual, sinalética ou mesmo embalagem. O desenho de caracteres

tipográficos é tão laborioso quanto qualquer outro plano para resolução de questões imputadas

ao design.

Para entender esse preceito é preciso compreender o status quo de uma vertente do

design em particular. O atual contexto cultural e tecnológico no qual se insere o design gráfico

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permite que um profissional experimente grande quantidade de idéias em um curto espaço

de tempo. Muitas vezes é possível gerar diversas alternativas para a solução de um mesmo

problema.

Essa prerrogativa atua sobre a tipografia interferindo em dois níveis de compreensão

que relacionam-se entre si: a micro-tipografia, que abrange o desenho das letras e os detalhes

de sua conformação, e a macro-tipografia, que abrange a composição de palavras, linhas,

colunas e páginas, justificação, tamanhos, hierarquia de conteúdos, etc. (HEITLINGER, 2006;

WILLBERG; FORSSMAN, 2007).

Assim, numa realidade povoada de opções infindáveis para escolha e uso de uma

fonte, o desafio do designer passa a ser eliminar as piores soluções e achar a mais adequada

sem, contudo, perder-se nas diferentes possibilidades (STOLTZE, 1997).

Muitos editores de grandes publicações buscam diferenciar seus produtos, dentre

outros aspectos, pelo desenho tipográfico. Hendel (2003) chega a afirmar que o tipo da letra

tem tanta influência sobre outras partes da página que, enquanto não definido, interrompe o

fluxo do projeto. Desse modo, a construção de uma fonte digital pode ser interpretada como

um projeto de design que muitas vezes antecede o desenvolvimento de outros, mas que em

nada difere em valor ou grau de complexidade.

Curioso é observar que a multidisciplinaridade e a ação conjunta são prerrogativas

para a atuação de várias equipes de desenvolvimento dentro das empresas de design.

Powell (1998) trata da atividade do design executada de forma coletiva, definindo pelo menos

dois papéis: gerente de design e demais membros de uma equipe. O autor ainda trata de

motivação e adequação de tarefas ao perfil de cada sujeito, discorrendo sobre capacidades

e realizações de grupos de produção nas páginas do seu artigo ‘A organização da gestão de

design’ publicado no Design Management Journal durante o final dos anos 1990.

Projetar coletivamente é uma ação comum a prática profissional contemporânea do

design. Ainda assim, sua adoção contraria boa parte do que se tem escrito sobre metodologia

de desenho tipográfico. Fugir do individualismo, discutir abertamente problemas e trabalhar em

comum com outrem no mesmo projeto é uma proposta que permitiu-se ser lançada a conta

de um novo estado de ânimo da tipografia, sobretudo verificado no âmbito nacional. “Assim

como muitas outras áreas do saber, a tipografia, nas últimas décadas parece atravessar um

momento de revisão de valores e redefinição de territórios.” (FARIAS, 2000, p. 13).

Frente a tal ajustamento coloca-se o MECOTipo, uma alternativa metodológica que

não pretende ser única ou mesmo tomada como modelo absoluto. Lembrando o caráter

introdutório de sua obra e revelando sua intenção, Buggy (2007, p. 12) esclarece: “Esse método

pretende apontar um caminho, com algumas possibilidades, e informar o mínimo necessário

para percorrê-lo.”. Do mesmo modo, outros autores também apontam seus caminhos.

Sobre o grau de acerto desses métodos de desenho de caracteres, Cheng (2006) chama

atenção para o fato de não existir um único processo correto para criar fontes. Mas, ao passo

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que reconhece a eficácia e a diversidade das metodologias, a professora da Universidade de

Washington também as revela como individuais, únicas e cambiantes em função dos projetos.

Mesmo que contraditórias, as diversas perspectivas do desenho tipográfico são sentidas

como certas por seus proponentes. Todas são igualmente válidas, atestadas pelo sucesso

profissional de cada designer. Essas vozes, recorrentemente conflitantes, são testemunhas

de um simples fato: grande parte dos tipógrafos assimila o processo de desenhar tipos como

uma atividade profundamente pessoal e subjetiva, ainda que nem todos concordem com isso

(EARLS, 2002).

O MECOTipo toma parte nesta recusa e nega a imposição da individualidade e da

subjetividade como recursos únicos do desenho de caracteres. A eles, somam- se coletividade

e objetividade para enriquecer e facilitar o processo de aprendizado.

o MECoTipoConsiderações de ordem pedagógica e técnica estão envolvidas na concepção do

MECOTipo criando condições para a sua reprodução (BUGGY, 2007). Estas considerações

fundamentam os postulados do método, os quais organizam-se em: parâmetros teóricos/

metodológicos e parâmetros práticos.

Os parâmetros teóricos/metodológicos preocupam-se em assegurar as condições

adequadas para a implementação dos parâmetros práticos que sugerem uma seqüência

de experimentos, ou exercícios específicos, na qual à medida em que a complexidade dos

desafios propostos aumenta, os designers em formação envolvidos são levados a produzir

coletivamente.

Para que tais parâmetros funcionem em conjunto há um programa de aulas que

coordena a aquisição do conteúdo teórico e técnico com a seqüência de experimentos. Esse

programa pode ser ajustado, sem perder suas características, adaptando-se aos participantes

e às mudanças ocorridas durante o desenrolar das aulas.

O MECOTipo também possui um sistema de avaliação próprio desenvolvido a partir da

formulação dos postulados que compõem os parâmetros práticos para analisar os resultados

obtidos a partir da sua execução. Projetado para avaliar desenhos de caracteres de fontes

display, esse sistema resulta em afirmações lingüísticas compreensíveis que valorizam e

orientam os designers em formação.

Todo o conteúdo teórico dedicado ao desenho de tipos necessário a uma boa evolução

durante a vivência dos experimentos ainda está contemplado pelo método. Trata-se de um

compêndio a respeito da constituição e percepção das formas de caracteres tipográficos.

Dado a complexidade do sistema de avaliação e o volume do compêndio ambos não

serão apresentados neste trabalho. Apenas o reflexo de suas configurações comporá, mais

a frente, a análise dos resultados apresentados pelo emprego do método e as propostas de

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revisão do mesmo. Caberá a seguir, tão somente, uma descrição paramétrica do MECOTipo.

São quatro os postulados que constituem os parâmetros teóricos/metodológicos

propostos pelo autor do Método de Ensino de Desenho Coletivo de Caracteres Tipográficos.

Postulado 1: Contexto e participação do professor.Próprio de uma atividade educacional, recomenda-se que tal método seja implementado em sala de aula em condições habituais do sistema de ensino superior em design, com carga horária mínima de 48 horas e ideal de 60 horas. A observação do contexto natural auxilia no entendimento da realidade dos designers em formação e no seu desenvolvimento pessoal e coletivo. Esse tipo de observação em grupo, mediada pelo professor, permite avaliar o processo produtivo por meio de instrumentos educacionais. [...]

Postulado 2: Utilização do compêndio e outros artefatos.A utilização do compêndio gerado por Buggy auxilia na aquisição de conhecimento teórico e técnico necessário à atividade do desenho tipográfico. Esse instrumento de apoio didático se faz necessário visto que reúne um conjunto de informações que fornecem subsídios para a realização dos experimentos propostos pelo método. Todavia, conhecimentos introdutórios ao universo tipo-gráfico, tais como história e ‘anatomia’ são essenciais para a compreensão da estrutura dos caracteres, arquétipo e suas relações formais, de maneira que possam caracterizar a idéia de conjunto tipográfico para a configuração de uma fonte digital.Outros artefatos podem ser utilizados como apoio ou em substituição ao compêndio, desde que a integridade de seu conteúdo seja preservada. [...]

Postulado 3: Auto-avaliação do professor.Para uma compreensão regulatória de todo processo produtivo de desenho de caracteres tipográficos é recomendado que o professor desenvolva os exercícios propostos nos parâmetros práticos, para que possa experimentar todas as fases do método. Esta etapa, considerada de auto-avaliação do professor, o torna apto para todos os níveis de complexidade inerentes ao desenho de caracteres tipográficos. [...]

Postulado 4: Avaliação dos designers em formação.Todos os procedimentos devem contar com a colaboração ativa dos designers em formação, sempre que possível, e estar subordinados a produção e participação dos mesmos em sala de aula.A produção deve concentrar-se no alcance dos objetivos propostos pelos postulados que constituem os parâmetros práticos do MECOTipo. O alcance de tais objetivos deve levar em conta aspectos pré-determinados a serem analisados, bem como seus respectivos critérios. Cada critério implica em uma pergunta que pode ser respondida através de uma afirmativa ou uma negativa. Uma afirmativa obtida implica em um peso próprio que terá uma expressão numérica refletida para cada objetivo. Esta expressão posicionará um objetivo em uma escala de pontos constituída por faixas de valores associadas a conceitos que reunidos expressarão a avaliação de cada exercício.

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A participação deve ser verificada através da consulta ao diário de classe que deve refletir o monitoramento diário das atividades e da lista de freqüência. (BUGGY, 2007, p. 19-21).

Os parâmetros práticos do MECOTipo também são formados por quatro postulados.

Cada um deles diz respeito a um exercício a ser realizado individualmente ou de forma coletiva.

Postulado 1: O desenho individual de um ‘a’ numa folha de papel A4.Os designers em formação devem desenhar a mão livre uma letra ‘a’ caixa-baixa em uma folha de A4. Papel, lápis grafite, borracha e canetas hidrográficas de várias espessuras de ponta devem ser distribuídos em quantidade suficiente para todos. Nenhuma restrição de tempo, forma, tamanho ou de qualquer outra natureza deve ser apresentada para execução deste desenho.Após a conclusão, cada trabalho deve ser identificado com o nome de seu autor. [...]

Postulado 2: O desenho individual de letras caixas-baixas, letras caixas-altas e de números através de módulos pré-determinados.Neste experimento se faz necessário que os designers em formação desenhem individualmente 62 caracteres para uma mesma fonte display. Números, letras caixas-altas e caixas-baixas devem resultar da composição de até 3 módulos distintos atrelada a uma malha de construção formada por um conjunto de retas perpendiculares.Esses módulos são projetados sob a orientação do professor para combinar-se de modo a solucionar a caracterização de traços retos, curvos e em diagonal dos caracteres. Por sua vez, a malha de construção deve conter um sistema de linhas guia capaz de alinhar os caracteres, fornecendo-lhes, ao mesmo tempo, proporções semelhantes para ascendentes, descendentes, altura de ‘x’ e altura das caixas-altas.O MECOTipo adota um sistema de derivação de arquétipos tipográficos que considera caracteres-chave a partir dos quais outros se originam para orientar a produção dos desenhos solicitados.O desenho individual de letras caixas-baixas, letras caixas-altas e de números através de módulos pré-determinados pelos designers em formação pode ser realizado manualmente com o auxílio de réguas e dos mesmos instrumentos de desenho utilizados durante o primeiro experimento. Contudo, recomenda-se o uso de computadores equipados com softwares para manipulação de vetores e digitalização de imagem. [...]

Postulado 3: O desenho coletivo de ‘n’, ‘o’, ‘H’ e ‘O’ caracteres de uma fonte de acordo com um tema predefinido.Para o terceiro experimento os designers em formação devem ser arranjados em grupos de até 5 indivíduos. Cada grupo terá que definir um tema capaz de fornecer aspectos que influenciem o estabelecimento de valores para peso de hastes, largura de letras retangulares, largura de letras redondas, altura de caixa-alta e altura de caixa-baixa. Essa influência também deve estender-se à configuração das junções de curvas com retas e acabamento de hastes

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verticais para o desenho de 4 caracteres específicos, ‘n’, ‘o’, ‘H’ e ‘O’.Os temas que fornecerão os aspectos a serem explorados no desenho dos caracteres devem ser obtidos da seguinte forma: os designers em formação são convidados a enumerar, individualmente, 10 temas de interesse pessoal em uma folha de papel. Uma vez concluídas essas listas, os grupos devem ser reunidos para que seus membros possam confrontar suas sugestões, buscando recorrências e/ou semelhanças até a obtenção de listas menores compostas por 5 temas de interesse comum. Cada grupo terá uma lista através da qual elegerá um único tema a ser trabalhado. Os grupos promoverão ‘recortes’ de seus temas e redigirão breves textos descritivos, que irão permitir o destaque dos aspectos mais relevantes da visão particular desses designers a respeito dos temas escolhidos.Do mesmo modo que no segundo experimento, uma malha de construção deve ser utilizada para auxiliar na manutenção da largura e espessura de hastes dos caracteres e determinar o posicionamento da linha de topo, linha média, linha de base, linha de fundo e, quando desejado, linha de versal. Neste caso, é sugerido para todos uma malha única constituída a partir da segmentação em 72 unidades do quadratim.A execução manual dessas atividades é desaconselhada, sob pena de prejuízo ao programa de aula originalmente adotado pelo MECOTipo. [...]

Postulado 4: O desenho coletivo de 100 caracteres de uma fonte de acordo com um tema predefinido.O último experimento consiste numa expansão do terceiro experimento realizada com o apoio do sistema de derivação de arquétipos tipográficos utilizado durante o segundo experimento.Novos grupos devem ser formados para que desenhem conjuntos de 100 caracteres através de novos temas. O processo de obtenção desses temas, caracterização dos atributos de correlação e adoção da malha de construção do quadratim é o mesmo do terceiro exercício e os caracteres ‘n’, ‘o’, ‘H’ e ‘O’ devem ser produzidos inicialmente seguidos por ‘p’, ‘h’, ‘a’. ‘e’, ‘c’, ‘j’, ‘v’ e ‘k’, nesta seqüência.O desenho de sinais de pontuação, acentos e outros tipos de caracteres presentes no conjunto solicitado deve ser realizado mediante a observação de similares encontrados em fontes já publicadas por autores consagrados.Do mesmo modo que no terceiro experimento, a execução manual dessas atividades é desaconselhada. (BUGGY, 2007, p. 30-42).

Em função de sua natureza, esses postulados ainda enumeram e descrevem objetivos

para melhor formular os desafios propostos pelo método. O quadro a seguir esclarece essa

relação:

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Postulados objetivosO desenho individual de um ‘a’ numa folha de papel A4.

• Estabelecer um contato inicial com o desenho de caracteres sob um ponto de vista prático;• Explorar o potencial da força de trabalho;• Gerar uma primeira reflexão acerca do desenho de caracteres.

O desenho individual de letras caixas-baixas, letras caixas-altas e de números através de módulos pré-determinados.

• Estabelecer um segundo contato, mais intenso e complexo, com o desenho de caracteres sob um ponto de vista prático;• Verificar a produtividade frente ao desafio proposto;• Proporcionar a compreensão das possibilidades das relações de semelhança e diferença entre os desenhos dos caracteres de uma fonte, em especial as letras;• Exercitar a geração de soluções para traços retos, curvos e em diagonal;• Proporcionar a compreensão da proporção do peso das hastes dos caracteres de uma fonte.

O desenho coletivo de ‘n’, ‘o’, ‘H’ e ‘O’ caracteres de uma fonte de acordo com um tema predefinido.

• Desenvolver coletivamente um tema capaz de fornecer aspectos que orientem a composição das características do desenho de uma fonte;• Desenhar coletivamente ‘n’, ‘o’, ‘H’ e ‘O’ a partir do tema gerado;• Explorar a equalização visual da espessura dos traços dos caracteres desenhados;• Explorar a uniformização do desenho das extremidades dos traços dos caracteres;• Explorar a uniformização das proporções entre altura e largura dos caracteres.

O desenho coletivo de 100 caracteres de uma fonte de acordo com um tema predefinido.

• Desenvolver coletivamente um tema capaz de fornecer aspectos que orientem a composição das características do desenho de uma fonte;• Desenhar coletivamente um conjunto de 100 caracteres a partir do tema gerado;• Explorar a equalização visual da espessura dos traços dos caracteres desenhados;• Explorar a uniformização do desenho das extremidades dos traços dos caracteres (serifas, esporas, terminais, incisões, etc.);• Explorar a uniformização das proporções entre altura e largura dos caracteres;• Explorar a uniformização da largura dos espaços internos e intervalos dos caracteres.

Quadro 1: Postulados que definem os parâmetros práticos do MECOTipo e seus respectivos objetivos.

Cabe destacar que para cada um dos objetivos acima listados o método aponta

aspectos que devem ser verificados para aferir seu alcance. Do mesmo modo, cada aspecto

está ligado a critérios de avaliação específicos.

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Alguns resultadosDois conjuntos de desenhos para fontes obtidos pelo Prof. Me. Leonardo A. Costa

Buggy entre 2009 e 2010 através da execução do MECOTipo serão apresentados e discutidos.

O primeiro conjunto é resultado da disciplina Tipografia 2 ministrada aos alunos do Curso

de Graduação em Design Gráfico da Faculdades Integradas Barros Melo durante o primeiro

semestre de 2009. Essa introdução ao desenho tipográfico realizou-se em 38 horas/aula

regularmente integralizadas na matriz curricular do citado curso.

O segundo conjunto também é formado pelos últimos trabalhos apresentados na

disciplina Desenho Tipográfico ministrada aos alunos de graduação do Curso de Design do

Centro Acadêmico do Agreste da UFPE durante o primeiro semestre de 2010. Diferente do que

ocorreu na primeira circunstância, a segunda contou com 60 horas, condição ideal prevista

para a reprodução do programa de aulas do método.

Desse modo, é importante destacar que o primeiro postulado dos parâmetros teóricos/

metodológicos foi infringido na disciplina Tipografia 2.

Próprio de uma atividade educacional, recomenda-se que tal método seja implementado em sala de aula em condições habituais do sistema de ensino superior em design, com carga horária mínima de 48 horas e ideal de 60 horas. (BUGGY, 2007, p. 19).

Não houve como fugir da imposição da carga horária definida pela estrutura do

curso da instituição particular de ensino e o déficit de 10 horas/aula foi compensado com

acompanhamento online via e-mails e orientações informais.

De toda sorte, o método adequou-se àquela realidade adversa. Os exercícios aplicados

em separado no ano de 2007 atestaram valer a pena investir na experiência transgressora.

A despeito das diferenças entre as condições de convivência e tempo verificadas em

cada instrução, seus resultados serão apresentados neste artigo conforme entregues por seus

autores.

Todos os conjuntos de desenhos serão tratados daqui por diante como fontes e

identificados através de um número que sucederá uma sigla usada para identificar a instituição

na qual o trabalho foi desenvolvido. A ordem numérica adotada expressa um juízo qualitativo.

Ela relaciona as fontes de forma decrescente quanto a obtenção de conceitos positivos

segundo o sistema de avaliação proposto pelo método.

Trabalhos que atingiram o mesmo conceito serão identificados com o mesmo número,

diferenciando-se apenas pela adição de letras ao final de suas nomenclaturas. Ao contrário

dos números, a atribuição dessas letras é aleatória e não expressa qualquer valor.

A sigla FIBAM será adotada para designar os trabalhos realizados na Faculdades

Integradas Barros Melo e a UFPE para os realizados na Universidade federal de Pernambuco.

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identificação FonteFIBAM 01

FIBAM 02

FIBAM 03

FIBAM 04a

FIBAM 04b

Quadro 2: Fontes desenvolvidas na Faculdades Integradas Barros Melo.

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identificação FonteUFPE 01a

UFPE 01b

UFPE 02

Quadro 3: Fontes desenvolvidas na Universidade Federal de Pernambuco.

Breves comentários sobre os resultados apresentadosA Fonte FIBAM 04b foi projetada por um grupo de 03 (três) indivíduos, as demais fontes

do primeiro conjunto, desenvolvido na Faculdades Integradas Barros Melo, foram projetadas

por grupos que utilizaram 05 (cinco) participantes, o limite sugerido pelo MECOTipo.

Acredita-se que esta diferença tenha afetado significativamente o projeto dessa fonte,

sobretudo pela condição adversa de tempo em que se deram as aulas do método.

Mesmo sob essas condições pôde-se observar a produção da Fonte FIBAM 01, um

projeto que atingiu conceito máximo.

Alertados sobre o nível de dificuldade do projeto pretendido, o grupo responsável pela

Fonte FIBAM 02 assumiu os riscos e decidiu levar a cabo seus caracteres sem serifa com

contraste de eixo inclinado. Apesar de inconstante, o resultado lhes garantiu a segunda melhor

avaliação na turma.

A maior parte dos problemas da Fonte FIBAM 03 concentrou-se na não observação da

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descendência das formas dos caracteres.

Os problemas da Fonte FIBAM 04a associaram-se em grande parte ao não uso de

traços diagonais no projeto.

Tanto a Fonte FIBAM 03 quanto a Fonte FIBAM 04a utilizaram fortemente o processo

modular proposto no Postulado 2 dos parâmetros práticos do MECOTipo, fugindo do cerne do

Postulado 4. Todavia, esta adoção desvirtuou o projeto da Fonte FIBAM 04a. O abandono de

curvas e diagonais imposto pelos módulos usados interferiu profundamente nos arquétipos de

letras como ‘D’, ‘O’, ‘G’, ‘B’, ‘A’, ‘M’, N’ e ‘X’, só para citar algumas maiúsculas. A construção

dos caracteres também prendeu-se com rigor as possíveis combinações de módulos sugerida

pela derivação de formas indicada pelo método para o desenho individual de letras caixas-

baixas, letras caixas-altas e de números através de módulos pré-determinados.

Além de apresentar sérios problemas de compatibilização de largura entre os caracteres,

aspecto também verificado em menor intensidade na Fonte FIBAM 03, a Fonte FIBAM 04b

apresentou uma grande distorção de peso entre os traços de caixas altas e baixas acentuada

pela proporção mal planejada entre as dimensões dos dois alfabetos. As junções de curvas

com retas também mostraram-se deficientes de modo evidente nesta última fonte.

Ao contrário do que ocorreu na experiência realizada em 2009 o menor grupo constituído

para o trabalho final da disciplina Desenho Tipográfico realizou o melhor trabalho dentre

todos os apresentados em 2010. A Fonte UFPE 01a foi projetada por um grupo de 02 (dois)

indivíduos. Originalmente composto por 05 (cinco) alunos o grupo sofreu com a desistência

de 03 (três) membros na reta final do semestre letivo. Mesmo assim, conseguiu desenvolver

um bom projeto.

A carga horária máxima de aulas prevista pelo MECOTipo pode ter suprido a deficiência

desse grupo, que pôde ser acompanhado presencialmente pelo docente mais do que o grupo

desfalcado de 2009.

A Fonte UFPE 01b apresentou mais problemas na constância do peso de seus

caracteres e combinações de curvas com retas. Não se pode deixar de observar a acentuada

falta de harmonia na definição das larguras dos caracteres caixas altas desse projeto.

Deficiências na constância do peso e combinações de curvas com retas também foram

observadas na Fonte UFPE 02. Neste projeto elas mostraram-se bastante acentuadas.

O projeto de muitas das fontes apresentadas revelou fugas dos arquétipos de diversos

caracteres. As condições mais recorrentes foram: a completa substituição de arquétipos de

letras maiúsculas por arquétipos de minúsculas para definição das formas dos desenhos; a

adoção de arquétipo de letras manuscritas; a deformação de arquétipos circulares aproximando-

os de retângulos; o não uso de diagonais e o estreitamento de formas.

Esse último efeito, em particular, pode ser claramente evitado com o apuro do conteúdo

a respeito de proporções dos caracteres. Os demais estão relacionados a decisões de projeto

e/ou equívocos cometidos pelos participantes dos grupos que não se relacionam a deficiências

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no conteúdo transmitido.

As relações horizontais entre os arquétipos podem ser melhor explicitadas no compêndio

e durante as aulas do método. Desse modo, novos aspectos podem ser incorporados para

aferir o alcance do sexto objetivo do quarto postulado prático do MECOTipo (explorar a

uniformização da largura dos espaços internos e intervalos dos caracteres). Atualmente apenas

o equilíbrio entre os espaços internos e externos dos caracteres desenhados é considerado. É

possível adotar-se também dois aspectos sugeridos por Cabarga (2004). Consistência, ritmo

e regularidade na disposição das hastes é um deles e o equilíbrio e consistência entre a

largura das letras outro. O primeiro associa-se mais indiretamente ao objetivo, o segundo está

intimamente ligado a ele.

De modo geral, as fontes em análise foram assim avaliadas:

Projeto Conceito geral de avaliação obtidoFonte FIBAM 01 Superou o objetivo

Fonte FIBAM 02 Alcançou o objetivo

Fonte FIBAM 03 Alcançou com ressalvas o objetivo

Fonte FIBAM 04a Não alcançou o objetivo

Fonte FIBAM 04b Não alcançou o objetivo

Fonte UFPE 01a Alcançou o objetivo

Fonte UFPE 01b Alcançou o objetivo

Fonte UFPE 02 Alcançou com ressalvas o objetivo

Quadro 4: Avaliação das fontes analisadas.

Os conceitos gerais de avaliação uniformizam o desempenho no alcance dos objetivos

propostos pelos experimentos do MECOTipo, reunindo-os em um só objetivo que pode ser

superado, alcançado, alcançado com ressalvas ou não alcançado (BUGGY, 2007). Assim,

dos 08 (oito) projetos avaliados, 01 (um) superou o objetivo do quarto experimento, 03 (três)

alcançaram o objetivo, 02 (dois) alcançaram com ressalvas o objetivo e outros 02 (dois) não

alcançaram o objetivo.

Em condições ideais de execução do método 66,666% dos trabalhos finais apresentados

obtiveram êxito. Os 33,333% restantes o fizeram com ressalvas.

Já em condições adversas, ainda que 20% tenham mostrado resultados que superaram

as expectativas, apenas 40% obtiveram êxito livre de ressalvas ao desenhar coletivamente 100

caracteres de uma fonte de acordo com um tema predefinido. Outros 20% dos trabalhos finais

apresentados com a implantação de um programa de aulas com 38 horas obtiveram êxito

parcial.

Independente da carga horária de aulas ministradas e do modo como as fontes

desenhadas atingiram seu objetivo, o MECOTipo revelou um índice de 75% de sucesso

quando observado o desempenho dos trabalhos finais realizados nos primeiros semestres de

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2009 e 2010 em diferentes instituições de ensino superior de design.

Considerações finaisO MECOTipo é produto de um ciclo de dez anos de pesquisa, iniciado em 1996 e

concluído em 2006, no programa de mestrado em design da UFPE. Ao longo deste trajeto

excelentes resultados foram computados pelo método. Desde 2003 a sua competência vem

sendo atestada de forma científica. Os primeiros testes realizados para a dissertação do Prof.

Me. Leonardo A. Costa Buggy confirmaram a eficácia do método. O caráter coletivo inovador

desse conjunto de meios para desenhar fontes tipográficas é responsável em grande parte

por seu sucesso.

Após três anos de implantação da atual configuração do Método de Ensino de

Desenho Coletivo de Caracteres Tipográficos mostra-se adequado revisar tanto o conteúdo

do compêndio utilizado em sala, como seus parâmetros práticos. Essa revisão deve-se na

medida em que os estudos para o incremento e melhoria do método não foram cessados e

têm revelado boas perspectivas para o ensino tipográfico.

Experiências realizadas em duas circunstâncias correlatas às que produziram os

resultados apresentados e discutidos neste artigo sugerem que ampliar a quantidade de

exercícios pode ser uma boa opção para dar início a essa revisão.

Durante o segundo semestre de 2008 o pesquisador ministrou 38 horas/aula de

macro-tipografia e história a alunos do Curso de Graduação em Design Gráfico da Faculdades

Integradas Barros Melo. Na ocasião foram adotados jogos de desafio para promover a fixação

do conteúdo teórico exposto sobre aspectos da micro-tipografia relevantes a macro-tipografia,

tais como: contraste, dimensão do olho e estilos.

Um ano mais tarde, no segundo semestre de 2009, o mesmo ocorreu durante 60

horas/aula sobre o mesmo assunto ministradas a alunos de graduação do Curso de Design

do Centro Acadêmico do Agreste da UFPE.

Os resultados obtidos foram promissores na medida em que a seleção de atividades

conquistou grande simpatia do alunado e de fato contribuiu para a apreensão dos conteúdos.

Assim, preservar os exercícios já propostos e incluir mais atividades de menor complexidade

e caráter lúdico deve trazer um significativo incremento ao MECOTipo.

Uma certa inconstância pode ser observada ao analisar-se os produtos finais de cada

oportunidade de execução do método apresentada neste trabalho. A aptidão dos designers

em formação é um fator que a princípio diferencia os desenhos de caracteres tipográficos.

Pode-se reconhecer isso após apreciar o desenvolvimento de certos grupos de alunos ao

longo do período em que foram ministradas as aulas em questão.

As diferenças observadas entre os resultados obtidos por alunos mais desenvoltos

e talentosos e outros menos podem ser minimizadas mediante a exploração do sentimento

verificado durante a implantação do segundo parâmetro prático. A alegria desencadeada pelo

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desafio de compor letras e números com módulos orientados por uma malha é semelhante

a observada durante um jogo de tabuleiro. Logo, acredita-se que divertimentos nos quais

os alunos façam prova da sua habilidade devem contribuir para a efetividade do método

otimizando e equalizando seus resultados.

Pequenos jogos de desafio pessoal que disponham de recursos estimulantes e

recreativos podem ser incorporados ajudando a fixar conceitos como contraste, tamanho

do corpo, altura de x e peso. O entendimento desses conceitos permite uma maior fixação

de outros como fonte, estilo e família tipográfica, o que assegura uma melhor atuação dos

membros de um grupo quando postos para atuar coletivamente.

Os exercícios individuais propostos por Darricau (2005) que estimulam a associação e

a hierarquização de formas tipográficas através do estabelecimento de conexões gráficas por

meio de círculos e traços, ou ordenação numérica são bons exemplos de breves atividades

com esse espírito. Eles contribuem para o aprendizado de conceitos ligados a tipografia e

podem ser adotados pelo MECOTipo sem descaracterizar sua estrutura, encaixando-se nos

intervalos da seqüência dos exercícios já propostos.

Também o uso de jogos coletivos pode ser estimulado como recurso didático. O baralho

Type Trumps desenvolvido por Banks (2008) é um bom exemplo. Cartas contendo imagens e

informações sobre fontes bem difundidas ao longo da história são divididas igualmente entre

jogadores que passam a competir entre si através dos valores atribuídos às características de

cada uma. Aquele que possuir o maior valor relativo a característica escolhida para competir

a cada rodada ganha as cartas dos demais. O objetivo é conquistar todo o baralho. O Type

Trumps funciona conforme as regras do jogo que conhecemos como Super Trunfo. Trata-se

de uma adaptação para o universo tipográfico.

Explorar aspectos da anatomia dos caracteres em jogos dessa natureza pode prestar-

se bem ao alcance dos fins pretendidos pelo MECOTipo. Preservar o bom estado de ânimo e

a ação conjunta dos envolvidos no processo de aprendizado é fundamental para que se possa

motivá-los a concluir os projetos tipográficos coletivamente.

Rever os parâmetros práticos certamente impactará os teórico/metodológicos e o

sistema de avaliação. A inclusão de jogos educativos e de desafio corresponde a adoção de

uma nova perspectiva conceitual que terá reflexos na formulação dos postulados que regem

as condições necessárias a implantação do método.

Todavia, para promover essas melhorias é preciso testar os jogos ou outros recursos

equivalentes durante a execução do método. O preparo desse experimento implica, entre

outras coisas, na remodelação do sistema de avaliação para tornar mensurável os resultados

e compará-los com os já obtidos com a última versão do MECOTipo.

Reconhece-se uma excelente oportunidade para simplificar e tabular em meio eletrônico

esse sistema que tem-se mostrado de difícil uso. Devido à sua complexidade muito tempo é

consumido na avaliação do desempenho dos participantes. O docente tem de comprometer-

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se gravemente com o processo de ensino quando fora de sala para assegurar a integridade

dos conceitos que indicam o alcance de metas. Muitas vezes isto não é possível em virtude de

outros compromissos pedagógicos assumidos nas instituições de ensino superior.

No tocante ao compêndio, muito pode ser melhorado. Talvez esta seja a ação em

prol dos melhoramentos do método que mais demande tempo, a depender da intenção em

preservar ou não seu caráter introdutório. Independente desta possível mudança, diversos

textos merecem ser incorporados atualmente. Tanto de autores já citados como de não citados.

Entre os já citados deve-se reincidência a Adams, Bringhurst, Cheng, Frutiger e Ruder.

Todos podem contribuir para melhor descrição do processo de derivação de formas verificado

entre letras e números, por exemplo.

Já entre os não citados, destacam-se Darricau, Earls, Cabarga, Gill, Lawson, McLean,

Smeijers, Straus, Tracy e Willen. Em linhas gerais esses autores podem contribuir com mais

detalhes sobre espaçamento, pares de kerning, controle de vetores, aspecto dos caracteres e

conceituação de caligrafia, letreiramento e tipografia.

Por fim, após breve análise dos resultados obtidos com o MECOTipo durante o período

de 2007 a 2010 pode-se propor as seguintes recomendações:

- testar a inclusão de parâmetros práticos que gozem de uma prerrogativa didática

lúdica;

- rever e ampliar o compêndio;

- gerar um caderno de exercícios que acompanhe a versão revista e ampliada do

compêndio;

- rever os objetivos dos parâmetros práticos em uso;

- simplificar o sistema de avaliação para melhor integrá-lo ao novo quadro de parâmetros

práticos;

- ajustar os parâmetros teóricos/metodológicos a nova realidade que compreende o

uso de jogos educativos e cargas horárias menores que 48 horas.

ReferênciasTYPE TRUMPS. Manchester: Rick Banks/Face34, 2008. 1 baralho (30 cartas), preto e vermelho,

em caixa 6,5 cm x 9 cm x 1,5 cm.

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