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    OpinioA mulher negra e o acesso sade28/07/2015

    Dados mostram que existe diferena no atendimento de sade entre mulheres negras e brancas.

    Mulheres negras, por exempl o, recebem menos tempo de atendimento mdico e compem 60%

    das vtimas da mortal idade materna no Brasi l

    Por Lorena Morais*, no blog Populao Negra e Sade

    Aguardei ansiosa pelo Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenhacelebrado em 25 de julhopara escrever sobre ns mulheres negras, principalmente as gestantes.Meu desejo que esta reflexo valha no somente para hoje, mas para todos os dias.

    A minha luta enquanto mulher negra comeou quando consegui me observar e me entender

    enquanto tal. Hoje a responsabilidade muito maior devido criana que carrego no ventre e todas

    as escolhas que fiz e fao para minha gestao e parto.

    Tudo comeou com o seguinte questionamento: como se d o acesso e tratamento da sade

    mulher negra gestante no Brasil? A partir da fiz uma reflexo sobre o acesso sade de qualidade e

    os desafios que ns, mulheres negras, enfrentamos diariamente.

    Pesquisei artigos cientficos e busquei dados que justificassem minha dvida e conclu que nos

    sistemas de sade brasileirosseja pblico ou particularexiste o racismo institucionalizado, quesempre colocapessoas de grupos raciais ou tnicos discriminados em situao de desvantagem noacesso a benefcios gerados pelo Estado e por demais instituies e organizaes (CRI apud Goese Nascimento, p. 572, 2013).

    SUS sem Racismo

    Em novembro de 2014, o Ministrio da Sade lanou uma campanha contra o racismo no Sistema

    nico de Sade (SUS), SUS sem Racismo, com o objetivo de conscientizar a populao e osprofissionais de sade a respeito do racismo presente no atendimento mdico. Os dados mostraram

    que existe uma diferena no atendimento entre mulheres negras e brancas com as seguintes

    estatsticas: mulheres negras recebem menos tempo de atendimento mdico que mulheres brancas e

    compem 60% das vtimas da mortalidade materna no Brasil. Em relao ao parto, somente 27%

    das negras tiveram acompanhamento, ao contrrio das brancas que somam 46,2%, alm de outras

    diferenas quando se trata anestesias, tempo de espera e informaes ps-parto, como aleitamento

    materno.

    Atendimento pr-natal da mulher negra

    Durante a minha gestao, vivi e ouvi relatos que constatam esta realidade. No meu primeiro

    atendimento mdico pr-natalparticularfui obrigada junto com meu companheiro a esperar ahora que o profissional quisesse chegar com a seguinte afirmao: Comea a marcara partir de xhoras, mas ele no tem hora pra chegar. No atendimento, me senti um lixo, pois ele mal me olhoue no momento que fiz alguns questionamentos me indicou remdios e no explicou quais mudanas

    que aconteciam no meu corpo que geravam as alteraes. Ao sair chorei muito e disse que no era

    obrigada a me submeter a este tipo de atendimento.

    Busquei outro profissional pelo SUS, muito frio no atendimento, receitou uma srie de remdios e

    no respondeu as minhas dvidas. Novamente procurei outro obstetra, neste caso particular, pormseu comportamento machista me inquietou muito no consultrio. Ao mesmo tempo ouvi relatos de

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    pacientes (negras) que confirmaram sua atitude e diziam que ele ainda as chamava de gorda efeia. Decidi que este profissional no merece meu dinheiro e nem meu beb esta energia!

    Por fim, o melhor atendimento que encontrei foi em uma Unidade Bsica de Sade, pelo SUS, com

    uma enfermeira, me, humanista, que respondeu e explicou as minhas dvidas, ficou o tempo

    necessrio comigo no consultrio, entendeu e orientou humanamente minhas decises para o parto.

    Ao mesmo tempo em que passei por tudo isso, encontrei gestantes e parturientes negras querelataram momentos de sofrimento em hospitais, negligncia, destrato, abandono, falta de

    orientaes e umA srie de violncias obsttricas das quais algumas estavam cientes, porm nada

    podiam fazer e outras desconheciam seus direitos e consideravam as atitudes mdicas louvveis,

    como a episiotomia sem consentimento (corte na regio do perneo) e manobra de Kristeller

    (expulso do beb subindo na barriga).

    Desafios

    As desigualdades raciais determinam o acesso aos servios de sade e limitam o cuidado. Porintermdio do racismo, as desigualdades so causadoras de doenas e agravos que resultam nas

    iniquidades raciais em sade. E, para as mulheres negras, outros fatores agregados, como o

    sexismo, expem a uma situao de vulnerabilidade e violam o direito sade e ao acesso

    qualificado (Goes e Nascimento, p. 578).

    Penso que nosso desafio por uma sade de qualidade e sem racismo/sexismo grande. Estamos

    submetidas a esse tipo de atendimento principalmente devido a falta de informao e direitos. O que

    podemos fazer divulgar a existncia do racismo institucional e denunciar para que campanhas e

    aes estratgicas atinjam os profissionais e a populao para que este fato no se torne invisvel.

    Minha contribuio enquanto mulher negra e atualmente gestante mostrar que ns somos fortes o

    suficiente no para aguentar uma violncia obsttrica, mas para sermos as protagonistas do nosso

    parto.

    Fontes

    GOES, Emanuelle; NASCIMENTO, Enilda. Mulheres negras e brancas e os nveis de acesso aos

    servios preventivos de sade: uma anlise sobre as desigualdades. Sade em Debate, vo.l 37, n. 99,

    Rio de Janeiro, 2013.

    SUS sem Racismo, pgina no Facebook. Disponvel em: http://facebook.com/SUSnasRedes

    ARRAES, Jarid. Mulher negra e sade: a invisibilidade adoece e mata!. Revista Frum Semanal,dezembro 2014. Disponvel em:http://revistaforum.com.br/digital/176/mulher-negra-e-saude-

    invisibilidade-adoece-e-mata/

    *A baiana Lorena Morais jornalista e proprietria da marca Encrespando

    http://revistaforum.com.br/digital/176/mulher-negra-e-saude-invisibilidade-adoece-e-mata/http://revistaforum.com.br/digital/176/mulher-negra-e-saude-invisibilidade-adoece-e-mata/http://revistaforum.com.br/digital/176/mulher-negra-e-saude-invisibilidade-adoece-e-mata/http://revistaforum.com.br/digital/176/mulher-negra-e-saude-invisibilidade-adoece-e-mata/http://revistaforum.com.br/digital/176/mulher-negra-e-saude-invisibilidade-adoece-e-mata/http://revistaforum.com.br/digital/176/mulher-negra-e-saude-invisibilidade-adoece-e-mata/