A Moral de Rene Descartes

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A MORAL DE DESCARTES Joel Bonin 1 RESUMO O presente trabalho visa abordar a importância do trabalho de pesquisa filosófica de Descartes, no que se refere à dimensão ética. Descartes inaugura um novo tempo no âmbito filosófico de sua época, entretanto seu modo de raciocinar não escapou por completo do contexto histórico no qual viveu. Por isso, a dissociação entre corpo e alma, o problema metafísico da prova da existência de Deus e as explicações filosóficas baseadas ainda na Escolástica (mesmo se seu desejo era o de superá-la) nos levam a crer que seu modo de filosofar era fruto, enfaticamente, de um processo hermenêutico-reflexivo contextualizado. Entretanto, Descartes ao escrever, já no final de sua vida, O Tratado das Paixões da Alma, revela-se muito mais um verdadeiro professor de vivências, de experiências e ensinamentos práticos do bem viver do que um filósofo ou matemático propriamente dito. Sua preocupação nesta etapa da vida é a de tentar encontrar modos assaz eficazes para se conquistar uma vida boa, ou seja, modos de viver que nos levem a sermos éticos e, conseqüentemente, felizes. Nesta perspectiva, Descartes ensina que a generosidade é a virtude, por excelência, e que só ela pode ser “o remédio para todos os nossos excessos”. Palavras-chave: Ética e Felicidade Generosidade e Paixões 1 INTRODUÇÃO René Descartes é conhecido por ser um dos principais pensadores do Pré- Iluminismo. Por suas obras e seu pensamento, é considerado o precursor do Racionalismo Moderno. Sua obra foi e ainda é respeitada por todos os pensadores que o sucederam, principalmente pelo fato de ter sido um homem que tentou dar uma guinada epistemológica que superasse o pensamento filosófico-escolástico, mesmo que, muitos pesquisadores justifiquem que os argumentos cosmológico- 1 Mestrando em Filosofia pela UNIOESTE – Campus de Toledo - PR

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A MORAL DE DESCARTES

Joel Bonin1

RESUMO

O presente trabalho visa abordar a importância do trabalho de pesquisa filosófica de Descartes, no que se refere à dimensão ética. Descartes inaugura um novo tempo no âmbito filosófico de sua época, entretanto seu modo de raciocinar não escapou por completo do contexto histórico no qual viveu. Por isso, a dissociação entre corpo e alma, o problema metafísico da prova da existência de Deus e as explicações filosóficas baseadas ainda na Escolástica (mesmo se seu desejo era o de superá-la) nos levam a crer que seu modo de filosofar era fruto, enfaticamente, de um processo hermenêutico-reflexivo contextualizado. Entretanto, Descartes ao escrever, já no final de sua vida, O Tratado das Paixões da Alma, revela-se muito mais um verdadeiro professor de vivências, de experiências e ensinamentos práticos do bem viver do que um filósofo ou matemático propriamente dito. Sua preocupação nesta etapa da vida é a de tentar encontrar modos assaz eficazes para se conquistar uma vida boa, ou seja, modos de viver que nos levem a sermos éticos e, conseqüentemente, felizes. Nesta perspectiva, Descartes ensina que a generosidade é a virtude, por excelência, e que só ela pode ser “o remédio para todos os nossos excessos”.

Palavras-chave:

Ética e Felicidade

Generosidade e Paixões

1 INTRODUÇÃO

René Descartes é conhecido por ser um dos principais pensadores do Pré-

Iluminismo. Por suas obras e seu pensamento, é considerado o precursor do

Racionalismo Moderno. Sua obra foi e ainda é respeitada por todos os pensadores

que o sucederam, principalmente pelo fato de ter sido um homem que tentou dar

uma guinada epistemológica que superasse o pensamento filosófico-escolástico,

mesmo que, muitos pesquisadores justifiquem que os argumentos cosmológico-

1 Mestrando em Filosofia pela UNIOESTE – Campus de Toledo - PR

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ontológicos de Descartes acerca da prova da existência de Deus estejam

fundados no pensamento escolástico de seu tempo.

Descartes é conhecido principalmente por ter publicado o “Discurso do

Método” e “Meditações Metafísicas”. Nestes textos, sua preocupação principal se

redunda a tentar explicar o porquê da importância da dúvida metódica e do “cogito

ergo sum”. Contudo, um texto escrito por ele, quase no final de sua vida, não é

muito conhecido, comentado ou debatido nos espaços acadêmicos. A obra

“Paixões da Alma”, a qual queremos nos referir, entretanto, revela um dos

aspectos fundamentais da vida humana, que Descartes conseguiu entender no

tempo certo: como devemos viver, como devemos agir, enfim, qual é telos de

nossas ações neste mundo e nesta vida? Descartes demonstra, neste mesmo

período, um interesse muito peculiar pela pesquisa biológica de nosso corpo e de

que maneira pode existir uma relação direta entre nossas ações empíricas e

nossa razão.

Descartes, além de ter sido um grande filósofo, foi também um grande

pesquisador em outras áreas da ciência. Ele é famoso pela elaboração de cálculos

matemáticos e pelo seu grande conhecimento da anatomia humana. Segundo tal

conhecimento, Descartes tentou descobrir qual a relação entre nosso corpo (res

extensa) e nossa alma (res inextensa) e como podia ser possível que nosso corpo,

mesmo imperfeito ou causador de inexatidões, contribuísse para que nossa alma

guiasse a nossa vida humana e nossas relações interpessoais. Descartes, apesar

de ser entendido como um racionalista, revela-se muito metafísico desde o início

de sua vida como filósofo, pois apesar de ser contra qualquer saber não advindo

da razão, aceitou a existência de um Deus que não o enganasse ou não o

deixasse nas trevas do saber incerto (Meditações Metafísicas). Ele diz:

Todavia, há muito que tenho no meu espírito certa opinião de que há um Deus que tudo pode e por quem fui criado e produzido tal como sou [...] Pelo nome de Deus entendo uma substância infinita, eterna, imutável, independente, onisciente, onipotente e pela qual eu próprio e todas as coisas que são [...] foram criadas e produzidas (MM. 9 e 22).

Ou seja, se Deus fosse mau ou não representasse o Bem Supremo, seria

em si contraditório com o seu Ser, pois o mal seria sua negação e, por

conseguinte, seu não-Ser. Sem tal certeza, Deus seria mutável e imperfeito; e isso

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contraria os princípios fundamentais da filosofia cartesiana. Dessa forma, é papel

fundamental na filosofia cartesiana, a presença de um Deus como “demiurgo”,

como feitor da harmonia humana, conservador de nossas idéias inatas. Neste

ponto, é possível notar uma grande semelhança de Descartes e Platão, no que se

refere à defesa de um mundo inteligível perfeito, que sirva de modelo de

referência para este mundo sensível. Porém, vale lembrar que Platão era grego,

politeísta e co-fundador de um sistema de pensamento que serviu de base para a

grande maioria dos pensadores monoteístas-cristãos até o final do século XV;

Descartes, católico e monoteísta, tentou dar uma nova orientação para o

pensamento de sua época ao encetar as pistas para um pensar mais racionalista

e universal.

Sob este olhar de pesquisa, tentaremos desenvolver o tema acerca de uma

noção cartesiana de ética, não tanto embasada nos problemas referentes à

relação anatômica entre corpo e alma, mas essencialmente sobre o agir humano,

na busca de um telos último da ação entendida por Descartes. Contudo, é

inevitável uma breve abordagem sobre este ponto: o homem, ser composto por

duas substâncias distintas, corpo e a alma. E é sobre isso que discutiremos agora.

2 POR QUE DESCARTES PREOCUPA-SE COM A RELAÇÃO CORPO-ALMA?

Segundo Gilles-Gaston Granger, o homem para Descartes “participa a um

tempo do reinado da extensão, onde tudo é mecanismo, e do reinado do

pensamento, que o introduz na moral e na religião. Mas depende ainda de um

terceiro reinado, que é o da união entre a alma e o corpo”. (Introdução a Obra

Escolhida de Descartes, pp. 24).

Segundo Granger, Descartes durante toda a sua vida de pesquisador,

tentou resolver esta questão essencial para sua filosofia, a saber: como pode

haver uma ligação entre aquilo que é imperfeito (corpo) e aquilo que é perfeito

(alma). Como vimos, Granger expressa sinteticamente a visão cartesiana do

corpo: onde tudo é mecanismo. Neste ponto, Descartes diz que o corpo humano e

o corpo de qualquer outro animal são semelhantes, pois apenas correspondem

igualmente a consecução de atividades autômatas, tais como a de um relógio. E

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quando estas findam, o corpo (res extensa) simplesmente pára de funcionar. Ele

diz:

[...] a morte nunca sobrevém por culpa da alma, mas somente porque alguma das principais partes do corpo se corrompe; e julguemos que o corpo de um homem vivo difere de um homem morto como um relógio, ou outro autômato (isto é, outra máquina que se mova por si mesma), quando está montado e tem em si o princípio corporal dos movimentos para os quais foi instituído, com tudo o que se requer para a sua ação, difere do mesmo relógio, ou outra máquina, quando está quebrado e o princípio de seu movimento pára de agir. (PA. Art. 6).

Esta visão efetivamente utilitarista do corpo é vista como um meio para se

justificar racionalmente a desimportância do corpo. Ou seja, para Descartes, o

corpo, aparentemente, é apenas um executor das intencionalidades da alma, ou

talvez, um receptáculo aprisionador da alma. É verdade também que o

pensamento cartesiano entende que, devido à imperfeição corporal, a alma pode

ser enganada ou desvirtuada do seu fim último. A alma, outrossim, pode ser ainda

encarada como a sede da razão e da moral, pois as vontades corpóreas são

dissimuladoras da vontade da alma. Essa distinção na filosofia cartesiana entre

corpo e alma é fundamental para se entender sua moral. Lívio Teixeira diz:

A idéia da separação da alma e do corpo é fundamental no sistema de Descartes. Ela é em primeiro lugar a conquista inicial do método. O ‘cogito’ significa que podemos conhecer com plena certeza a existência da alma, enquanto a dúvida ainda continua a pairar sobre a existência do corpo e dos corpos em geral (TEIXEIRA, 1990, p. 85).

Não é à toa que Descartes denomina a alma como a parte do homem que

lhe fornece a possibilidade de pensar e estar no mundo. A res cogitans (o homem

como coisa que pensa, orientado pela alma) lhe dá a certeza de que o cogito ergo

sum é possível. Aliás, nas Meditações Metafísicas, Descartes tenta demonstrar

justamente este ponto, a saber, o de que só pode existir corpo se a alma o

preceder, ou melhor, se pode haver corpo se a alma assim compreender. Para

tanto, Descartes fala da cêra produzida por uma colméia de abelhas. Esta cêra

pode sofrer inúmeras mutações e elas já estão impressas em seu interior, porém a

idéia de cêra permanece em nosso pensamento/imaginação2. E isto só se torna

2 Para Descartes, imaginação é um ato do pensamento. “A imaginação, pois, pressupõe a existência dos corpos e também a união de um certo corpo com a minha alma. É isso que faz com que, sendo uma forma de pensamento, a imaginação não se confunde com o entendimento: ‘ela depende de alguma coisa diferente de

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possível graças a nossa capacidade intelectual de uma “redução eidética”3 do

objeto e não porque nossos sentidos capturaram a idéia do objeto, pois segundo

Descartes, só sou capaz de compreender o mundo que está a minha volta “pelo

poder de julgar que reside em meu espírito, aquilo que acreditava ver com meus

olhos” (MM. 14).

Este olhar cartesiano para o problema da dissociação e associação entre

alma e corpo possui um fim que é o de justificar o seu método, pois como vimos,

para ele, a existência de Deus tem fundamental importância em sua metafísica.

Assim pode-se acreditar que Deus, em si, em sua grandiosidade, jamais

tomou figura humana tal qual como ele é: a res extensa jamais foi personificada,

do ponto de vista cartesiano, pela figura divina. Desse modo, Deus não pode ser

encarado ou aceito como uma entidade personificada, que adquiriu um corpo tal

qual como o nosso. Sendo assim, o único modo de ligar o humano com o divino se

dá pela alma, que como foi dito anteriormente, é sede da razão e, agora, de Deus.

A imutabilidade de Deus garante esta tese, pois o pensamento, depois de ter

passado pelo crivo da dúvida metódica e hiperbólica, só pode ficar alocado em um

espaço hermeticamente seguro e este lugar, certamente, não pode ser corpóreo.

Contudo, o reflexo do corpo na alma pode ser considerado como aceitável. Sobre

isso, Lívio Teixeira diz:

O grande argumento de Descartes, porém, em favor da união substancial4 é o já mencionado fato, a experiência de que a alma não está apenas alojada no corpo, como um piloto em seu navio, mas está de tal modo unida ao corpo que sente as suas dores etc. [... Outrossim] para Descartes, a matéria, criação de Deus, não pode ser má em si mesma, do ponto de vista do conhecimento, ela pode ser conhecida cientificamente pela geometria e pela física. (TEIXEIRA, 1990, p. 92, 108).

Ao chegarmos a esta conclusão, novas idéias subjacentes a ela vão

brotando: se existe alguma distinção clara e nítida entre corpo e alma, há também

a noção de que ambos co-existem, como relata Lívio Teixeira: “[...] não só a

existência do nosso próprio corpo, mas a existência de um corpo unido a nossa

alma [...]”. Segundo sua interpretação de Descartes, existem duas origens meu espírito’, isto é, o corpo. Contudo a imaginação não pode só por si provar a existência dos corpos: apenas permite formular a conjectura”. (TEIXEIRA, 1990, p. 87). 3 Segundo a fenomenologia de Husserl. 4 Entre corpo e alma.

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possíveis que nos auxiliam a compreender e a superar esta dicotomia, advinda

das idéias confusas que os sentidos nos provêm cotidianamente. Teixeira explana

seu ponto de vista partindo da idéia de que não se pode compreender Descartes

sem o entendimento claro acerca destas origens, porque elas podem revelar um

caráter de possibilidade de superação das idéias confusas adquiridas pelos

sentidos do corpo, se bem entendidas. São elas: “a) as que provêm da aceitação

de tradições e hábitos não-criticados5 [...]; b)as que vêm da união da alma com o

corpo”.

Segundo Descartes, a primeira parte é bem mais fácil de ser superada

justamente porque parte do princípio da dúvida impiedosa contra todo nosso

passado adquirido com base em idéias falsas ou incertas. Nosso intento deve ser

o de questionar, como verdadeiros torturadores diante de prisioneiros de guerra,

todo conhecimento tido como verdadeiro e indubitável. Contudo, a incerteza, por

mais que seja redimida, é um malogro inevitável, pois na medida em que

avançamos rumo às certezas indubitáveis, novos problemas aparecem. Dentre

eles, os que envolvem a união corpo-alma.

Lívio Teixeira, por fim, levanta várias hipóteses para a solução deste

inextrincável problema cartesiano, a saber, o de como responder, de modo

suficiente, ao problema desta união re-estudada por Descartes6, pois por mais que

o mesmo tente dar uma resposta filosoficamente satisfatória, seu objetivo não

chega a ser alcançado, pois como afirma Teixeira:

Descartes, ao contrário, não pretende resolver o problema, apenas o propõe: alma e corpo são substâncias distintas que se encontram unidas substancialmente no homem. [...] Quanto à sua origem, ela resulta de um ato da vontade de Deus. Mas explicação racional da união não é possível: estamos em um plano em que só são possíveis as idéias confusas. Na verdade, os textos de Descartes mostram que com a apresentação da glândula pineal como a sede da alma, ele não pretendeu resolver o problema da interação entre as duas substâncias. Porque a glândula é sem dúvida uma parte do nosso corpo [...] encerrando uma sorte de contradição, ou a afirmação de que existem elementos no homem que são

5 Para tanto, Descartes afirma logo no início da 1ª Meditação Metafísica: “Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados, não podia ser senão mui duvidoso e incerto; de modo que me era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente desde os fundamentos, se quisesse estabelecer algo de firme e de constante nas ciências. (MM. p. 117). 6 Dentro desta perspectiva, os tomistas foram uns dos primeiros que tentaram resolver este problema.

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de natureza intermédia, nem bem corpóreos, nem bem espirituais. (TEIXEIRA, 1990, p. 98).

Enfim, a solução da glândula pineal como sede da alma não é entendida

como uma justificativa racional satisfatória justamente porque esta explicação é

anatômica e não ter caráter filosófico em si. Entretanto esta explicação ganha

corpo quando se entende que “‘a razão de ser do sistema cartesiano estava

porém, em ensinar-nos a pensar a extensão como se nossa alma não estivesse

unida ao corpo’, isto é, pensar a extensão com o entendimento e não com as

sensações e imaginações que vêm do plano da união da alma e do corpo”.

(TEIXEIRA, pp. 94).

Sendo assim, se tentarmos responder a pergunta que intitula este capítulo,

vemos que a preocupação cartesiana no que tange a união corpo-alma não está

tanto em dar uma resposta cabal à união através do subterfúgio argumentativo da

glândula pineal, mas sim em compreender que o corpo deve ser assimilado pelo

entendimento, pela razão alojada na alma e que esta precede o corpo, pois este é

enganoso, pelo fato das sensações e imaginações serem enganosas. E é aí que

reside sua preocupação: buscar a superação de nossos enganos dando à alma, a

função “de pilotar nosso navio corporal”, mesmo que o problema dualista corpo-

alma não tenha encontrado uma explicação assaz convincente7.

3 COMO VIVER MORALMENTE BEM, SEGUNDO DESCARTES.

Após a tentativa de solucionar o problema da relação entre corpo e alma,

Descartes se debruça sobre o problema de como se deve viver. É interessante

notar que logo após a complexa solução entre estas substâncias “assez claires et

distinctes”, todas as idéias de Descartes se voltam para a compreensão de uma

vida pautada em ações morais ou imorais, aceitáveis ou reprováveis, dignas de

louvor ou repúdio, seja subjetiva ou objetivamente falando. Segundo muitos

7 Ou seja, ainda permanece a dúvida da intencionalidade cartesiana de explicar a ligação corpo-alma, pois ainda perduram muitas dúvidas quanto a este problema. Para tanto, há quem julgue que uma explicação possível seria a de justificar que a glândula pineal funcionaria tal como um “sinal de fax” do corpo para a alma.

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pesquisadores, foi no final de sua vida, que Descartes conseguiu entender o

verdadeiro fim último de toda vida humana: a moral. Para tanto, sua obra mais

expressiva neste campo do conhecimento filosófico, chamada “Paixões da Alma”,

revela seu lado mais pragmático, porém não menos metafísico.

A obra está dividida em artigos, ao todo 212, que variavelmente explanam

acerca das paixões corporais e das paixões espirituais, e de como o corpo influi na

alma e vice-versa. A obra trata também e principalmente em sua última parte,

sobre como o corpo e a alma sofrem influências externas do ambiente ao qual

está exposta e de como o homem deve discernir o modo de agir perante tais

influências.

Antes, porém, é importante ressaltar que a moral cartesiana não possui o

mesmo rigor epistemológico que estava presente nas obras anteriores, apesar de

que muitos autores concordam com a idéia de que o principal intento da filosofia

cartesiana é o de buscar a sagesse em primeiro lugar. Segundo eles, o grau mais

elevado da vida do homem está posto na simbiose entre ciência e virtude, isto é, a

sagesse (sabedoria) é “a ciência com a virtude, juntando as funções da vontade

com as do entendimento”. Teixeira diz:

“A sagesse compreende um perfeito conhecimento de todas as coisas que o homem pode saber, tanto para a conduta da vida, como para a preservação da saúde e a invenção de todas as artes. Essas três aplicações práticas, Descartes as considera todas de grande importância: todas são galhos da mesma árvore da Filosofia e o seu valor relativo para Descartes, dependerá, talvez, das circunstâncias”. (TEIXEIRA, 1990, p. 102).

Contudo, se levanta uma questão importante para o entendimento da

filosofia prática de Descartes: desde o princípio da elaboração de sua filosofia, um

dos seus objetivos mais evidentes foi o de esclarecer que, sem um procedimento

bem estruturado de questionamento das verdades tidas como certas e

indubitáveis, o conhecimento não poderia ser considerado como certo ou

científico. Com outras palavras: a dúvida hiperbólica foi adotada por Descartes,

como método infalível para se encontrar um conhecimento efetivamente correto do

mundo. E o ponto de partida para tal empreendimento foi a descoberta do cogito

ergo sum. Com tal conclusão, muitos pesquisadores do pensamento cartesiano,

compreenderam que seu pensamento moral pudesse ser considerado como um

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sistema ético-filosófico científico ou definitivo, pois a moral de Descartes poderia,

com base nestas idéias, ser induzida a uma “moral que permitiria deduzir, de um

certo número de princípios verdadeiros e de conhecimentos certos sobre o

universo e o homem, normas infalíveis de conduta”.

Contudo, por incrível que pareça, o pensamento moral cartesiano não

escapa da lógica da sagesse, pois para a sagesse duas coisas são requeridas: o

conhecimento de tudo o que é bom e a vontade para estar sempre disposto a

segui-lo. Estas prerrogativas são essenciais, pois a ciência pode ser uma tarefa

destinada para poucos homens, mas a virtude é uma “dádiva divina” que pode ser

praticada por todos os homens de vontade. “Só o esforço da vontade, diz

Descartes, está ao alcance de todos os homens, ‘visto que o entendimento de

alguns não é tão bom como o de outros’. E o que faz com que o homem possa ser

‘perfeitamente sábio’ não é o conhecer, mas a vontade de conhecer” (TEIXEIRA,

p. 103). Com isso, podemos entender que o objetivo da sagesse segundo

Descartes, não é cientifico, mas moral-racional.

É justamente sobre este olhar que o filósofo francês escreveu o Tratado das

Paixões, obra tão importante para uma compreensão ampla de seu sistema

filosófico. Ou seja, neste trabalho sua preocupação maior é a seguinte: como

podemos descobrir, sem irresolução, os desígnios pragmáticos e metafísicos de

nosso agir. Como diz Teixeira, sobre esta obra: “versando assunto moral,

poderíamos considerar que é o coroamento de todo aquele esforço que ele

anuncia desde o início de sua carreira, no sentido de buscar o conhecimento de

tudo o que fosse útil à vida” (TEIXEIRA, 1990, p. 151).

Dentre todas as paixões que Descartes vai estudar minuciosamente nesta

obra, algumas são sintetizadas e elevadas a um nível superior de valor. Vale a

pena ressaltar que nesta obra, Descartes, de certo modo, tenta tal qual um médico

legista fazer uma verdadeira autópsia da relação corpo-alma e de como qualquer

homem, cientista ou camponês, pode viver bem, pois segundo ele, um dos passos

mais importantes no caminho do conhecimento moral não está no sujeito em si,

mas no modo como ele se depara com outros sujeitos ou com o objeto do

conhecimento. Descartes considera a admiração um ponto-chave para tal. No

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artigo 77, por exemplo, ele diz que, verdadeiramente, os mais inclinados à

admiração são aqueles que “embora possuam um senso comum assaz bom, não

têm todavia, em grande conta sua própria suficiência”.

Além da admiração, as paixões consideradas por Descartes como

imprescindíveis para uma vida boa e equilibrada são: o amor, o ódio, o desejo, a

alegria e a tristeza. Estas paixões, como se pode ver, apresentam um caráter

antagônico entre si. Porém para Descartes, todas elas são importantes, pois estas

paixões não são em si nem más nem boas. Tudo depende do modo como elas

são vividas. O amor em excesso, por exemplo, pode ser altamente prejudicial

tanto para o corpo quanto para a alma, segundo ele. Tudo depende do modo

como o vivenciamos. Por esta perspectiva, a lógica cartesiana está realmente

orientada para a sagesse, ou seja, para cada virtude a devida medida.

Sendo assim, tentaremos em breves palavras evidenciar a importância e o

valor de cada uma delas (as paixões).

Por seu turno, a admiração já foi mencionada no parágrafo acima, porém é

de suma importância acrescentar que Descartes deixa claro que o pontapé inicial

para o conhecimento se dá por meio da admiração. A novidade é a causa da

admiração, que proporciona em nós a geração do entendimento dos objetos.

Porém, Descartes explica que o excesso da admiração gera em nós o espanto,

que nos impede de apreender o real conhecimento acerca das coisas, pois nos

deixa paralisados e não motivados ao conhecimento. Ficamos apenas

boquiabertos. Ou seja, se nos deixamos levar pelos excessos, nos autopunimos.

Para Descartes, as paixões podem ser entendidas também como virtudes, como

pensavam Platão e Aristóteles. O excesso e o defeito são repugnáveis. A

diferença paira sobre o fato de que Descartes acredita no telos das paixões

negativas (ódio, tristeza e espanto decorrente do excesso de admiração).

No que se refere ao amor, Descartes diz que esta paixão é originada,

quando por meio da admiração, compreendemos que a pessoa ou objeto

admirado é bom e nos trará algum bem. Além disso, Descartes explica que o amor

pode ter três representações básicas: a afeição, a amizade e a devoção. A afeição

se liga à idéia de que sentimos um amor maior a nós do que ao objeto. Na

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amizade, existe um amor equânime entre o sujeito-objeto ou entre o sujeito-

sujeito; e na devoção, há um amor maior ao objeto do que ao sujeito ou de um

sujeito para outro sujeito.

No que se refere ao ódio, Descartes diz que é uma emoção causada pela

repulsa aos objetos que se apresentam nocivos. A nocividade dos objetos faz com

que os repulsemos e daí surja o ódio. Com relação ao ódio, Descartes dá mais

atenção para as explicações anatômicas, tentando demonstrar as conseqüências

negativas desta paixão, quando a desenvolvemos excessivamente. Chama-nos a

atenção à explicação do art. 98, que trata sobre o vômito como conseqüência do

ódio elevado. Além disso, para Descartes, ódio é uma coisa só. O ódio pode ser

entendido como algo uno e sem ramificações. Ele só distingue o horror do ódio,

como aversão aos objetos feios, contudo, ódio é sinal de fechamento e repulsa a

tudo aquilo que se apresenta como aversivo. Outrossim, não há ódio sem tristeza.

A tristeza, por sua vez, para Descartes, é um langor (fraqueza)

desagradável no qual consiste a incomodidade que a alma recebe do mal. A

tristeza é resultado da inaceitação do mal em nós, pois ele nos incomoda e por

isso nos entristece. Desse modo, a tristeza nos causa dor e insatisfação. Nos

chama a atenção o fato de que, para Descartes, a fome pode provocar muita

tristeza (art. 110). Penso que, através do art. 116, ele vai tentar justificar o art. 110,

pois a tristeza nos “faz parecer pálidos e descarnados, principalmente quando a

tristeza é grande” e por isso notamos esta correlação entre fome e tristeza. Para

Descartes, a tristeza também existe em nós como paixão, pois como vimos, ele a

explica psicofisiologicamente, assim como, todas as outras. Enfim, o conceito

cartesiano de tristeza pode ser resumido da seguinte forma: melancolia e saudade

do bem.

O desejo para Descartes é, de forma bem simples, um olhar futuro do amor

(é por isso que a admiração é um passo importante para o conhecimento. O

conhecimento desperta em nós o desejo de conhecermos mais e,

conseqüentemente, este desejo gera em nós o amor, seja pelos objetos ou pelos

sujeitos). É a espera confiante do amor que virá. É “desejar” que o amor seja

sempre nosso maior bem. Porém, essa espera não pode ser inerte, mas ativa. A

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aspiração de viver e de unir-se a alguém de outro sexo é, para Descartes, a

resposta mais sublime e perfeita do desejo, pois é resultado da admiração e do

amor.

A alegria, por sua vez, é o gozo do bem. É a agradável emoção que resulta

do bem que acreditamos possuir. Mais uma vez, Descartes quer evidenciar as

aparências fisiológicas que a alegria provoca em nós. Isso fica claro no art. 115

(além de muitos outros), quando ele fala do rubor que a alegria nos causa. A

alegria nos conduz a uma vida direcionada para a virtude e o bem, pois nos leva

ao conhecimento verdadeiro, o que é bom, desde que não haja excesso (art. 141).

Para concluir, em suma, Descartes tenta resolver o problema das paixões,

apresentando a generosidade como o remédio para todos os excessos, pois para

se alcançar à plenitude desta vida, é necessário que a vivamos segundo as

virtudes, ou seja, devemos evitar os excessos e os defeitos. A generosidade é,

para Descartes, a melhor virtude que podemos ter. Nas cartas de Descartes a

Chanut8, ele diz: “A generosidade, por implicar o conhecimento do verdadeiro

valor do homem, o livre-arbítrio9, é o meio de nos curar da cólera, sem que

possamos ser acusados de covardia. A gente só se livra da cólera livrando-se da

excessiva auto-estima e da suscetibilidade à injúria daí decorrente”. Ou seja, a

generosidade é um “santo remédio”, pois nos coloca em nosso devido lugar, pois

nos ensina “a estima a nós próprios e o respeito ao outro”.

De acordo com Teixeira,

“A generosidade – amor-próprio fundado no conhecimento – é a consciência clara de que a única coisa que verdadeiramente nos pertence e por cujo uso devemos ser louvados ou condenados é o livre-arbítrio, acompanhado de uma firme e constante resolução de bem usar dele. Em suma, a generosidade é uma forma de sagesse, uma nova expressão da virtude. Não é, pois, de admirar que ela apareça como chave e remédio contra os excessos e desregramentos das paixões”. (TEIXEIRA, 1990, p. 245).

Descartes surpreende a grande maioria de seus leitores justamente por

este ponto: a moral cartesiana, além de possuir um aspecto que envolve a

8 Nota de rodapé, da pág. 400, art. 203, extraída da carta de Descartes à Chanut, de 1º de Novembro de 1646. 9Ainda neste sentido, Descartes compreende que “Deus propõe e o homem, por intermédio de seu livre-arbítrio, dispõe. Desse modo, Deus não é o culpado dos meus erros nem dos meus pecados. Sou eu que me engano, sou eu que peco. Meu livre-arbítrio me faz merecedor ou culpado” (http://www.mundodosfilosofos.com.br/descartes2.htm).

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dimensão subjetiva e objetiva do agir, tem consigo um aspecto racional, porém

não-científico. Racional, pois foi pela “[...] aplicação rigorosa do método que ele

chegou a discriminar as diversas substâncias10 [...] e pela noção de virtude,

esforço para bem agir segundo os melhores juízos e também esforço para bem

pensar”. E não-científico, pois o conhecimento das paixões não pode ser

propriamente científico, mas apenas racional, na busca dos melhores juízos

possíveis. Teixeira afirma que Descartes faz, na segunda parte do Tratado das

Paixões, “uma enumeração ou classificação das paixões, de acordo com os

critérios intelectuais que não visam, entretanto, a uma ordem científica, mas

somente uma explicação preliminar, capaz de proporcionar um fio condutor para

pôr alguma ordem na massa confusa das paixões”.

Ou seja, o principal intento desta obra cartesiana no que se refere ao

conhecimento possível, está baseado, pelo que pudemos observar, mais em uma

racionalidade moral-existencial-pragmático-metafísica do que em uma ciência

matemática indubitável válida ad eternum e concebida por Deus. Seu telos moral

é, assim como para Aristóteles, a felicidade. “O bom funcionamento do corpo, as

ligações harmoniosas entre os espíritos animais e os pensamentos humanos são

altamente desejáveis. A moral surge, então, como uma técnica da felicidade [...]”,

resultante da vontade e do livre-arbítrio, que por sua vez, conclui Descartes, são

efeitos da verdadeira sagesse.

4 CONCLUSÕES

A filosofia cartesiana aprendida nos bancos escolares dos cursos

universitários de Filosofia, na grande maioria das vezes, está voltada para uma

formação matemático-científica, onde Descartes é visto como um filósofo

extremamente racionalista e direcionadamente metafísico. Direcionadamente no

sentido de que precisava agir de tal modo para não ser perseguido pelos poderes

da Santa Inquisição de outrora. Sobre isso, Dainé Collinson diz:

Seu O mundo, completado em 1634, que oferecia uma teoria científica sobre as origens e funcionamento do universo, teve sua publicação

10 Corpo, alma e a união psicofísica entre ambas.

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14

adiada, porque expunha o sistema copernicano de astronomia, e o filósofo havia observado a recente condenação de Galileu. (COLLINSON, 1989, p. 100).

Aqui, contudo, não quero afirmar que seu pensamento é resultado de uma

arquitetura epistemológica voltada apenas para salvá-lo deste poder eclesiástico

impiedoso. Mas o certo é que o aprendizado filosófico apresentado pela grande

maioria dos professores foge de uma explanação acerca do conteúdo moral do

pensamento cartesiano. Normalmente, somos introduzidos no pensamento

cartesiano sob os cuidados da Teoria do Conhecimento ou da Metafísica, mas

nunca ou raramente em um conteúdo ético.

Na pesquisa elaborada, foi possível a constatação de que Descartes foi um

homem efetivamente capaz de ter um Weltschaunung para além do que seu

tempo. A explicação da sede da alma na glândula pineal foi uma descoberta

interessante, pois hoje sabemos da importância, graças aos avanços científicos na

área da medicina, desta glândula para o bom funcionamento do ciclo cicardiano de

nosso corpo, o que de um modo ou de outro, já estava implícito na descoberta

cartesiana.

Além disso, as implicações psicossomáticas entre corpo e alma, apesar de

Descartes vê-las como duas substâncias claras e distintas, são de fundamental

importância para o entendimento contemporâneo de nossa vida, seja a nível

privado ou público e de como podemos compreender melhor a influência das

relações interpessoais em nossa vida pessoal. Esta preocupação demonstra um

profundo conhecimento não só filosófico em si, mas pragmático, ou seja,

Descartes soube hermeneuticamente, através de seu conhecimento científico e

empírico, dar respostas as seguintes questões: como que as relações entre minha

interioridade e minha exterioridade agem sobre meu corpo? Como devo me

comportar para ter uma vida boa?

De fato, o pensamento moral cartesiano como paradigma filosófico

ultrapassa o cogito ergo sum, pois sua filosofia prática, pode ser equiparada com a

filosofia prática aristotélica, pois ambas entendem que o fim último de todo agir

está voltado para a prática do bem e a busca do Sumo Bem, que por fim, nos leva

a felicidade. Viver segundo tais orientações é, como ele mesmo diz, viver

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orientado pela sagesse, que por sua vez, orienta as paixões da alma: “a sabedoria

é principalmente útil neste ponto, porque ensina a gente a tornar-se de tal forma

seu senhor e a manejá-las com tal destreza, que os males que causam são muito

suportáveis, tirando-se mesmo certa alegria de todos”. (PA, art. 212). Aliás, é

importante lembrar que o pensamento cartesiano, de modo algum, se orienta

pelos juízos sintéticos a priori, como preconiza Kant.

Em suma, o agir cartesiano está voltado para uma maneira de pensar onde

que a virtude é resultado sim de uma ação praticada reiteradas vezes, pois “razão

e vontade estão unidas na virtude, em busca do maior contentamento que é

possível na vida – eis a moral de Descartes, que é, sem dúvida, uma forma de

eudemonismo”. (TEIXEIRA, 1990, p. 247). E tal conclusão só pode ser alcançada

se o Tratado das Paixões for lido e compreendido como um dos pilares

indispensáveis da constituição do edifício filosófico tão bem construído e

elaborado por René Descartes, durante sua brilhante carreira como filósofo laico-

renascentista e como precursor do Iluminismo francês.

5 REFERÊNCIAS

GRANGER, Gilles-Gaston. Introdução a Descartes – Obra Escolhida. Tradução de

J. Guinsburg e Bento Prado Jr. Clássicos Garnier – Editora Difusão Européia do

Livro, São Paulo, 1962.

DESCARTES, René. Meditações Metafísicas. Tradução de J. Guinsburg e Bento

Prado Jr. Clássicos Garnier – Editora Difusão Européia do Livro, São Paulo, 1962.

___________, _____. As Paixões da Alma. Tradução de J. Guinsburg e Bento

Prado Jr. Clássicos Garnier – Editora Difusão Européia do Livro, São Paulo, 1962.

TEIXEIRA, Lívio. Ensaio sobre a moral de Descartes. 2ª ed. Editora Brasiliense.

São Paulo, 1990.

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http://www.mundodosfilosofos.com.br/descartes2.htm

COLLINSON, Dainé. 50 grandes filósofos. Tradução de Maurício Waldmann e Bia

Costa. 2ª ed. Editora Contexto, São Paulo, 2004.

6 ABREVIATURAS

MM. – Meditações Metafísicas.

PA. – Paixões da Alma.