Moral Provisória - Descartes
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Você lembra do desenho “Caverna do Dragão”?
A série animada de TV que fez parte da infância da maior parte dos jovens
de hoje, mostra a história de seis crianças americanas dos anos 1980 que tentam
voltar ao seu mundo após chegarem ao Reino de Dungeons & Dragons (ou Caverna do
Dragão) em um passeio de montanha russa. Lá, eles enfrentam o Vingador que tenta
roubar-lhes as armas mágicas que receberam quando chegaram ao Reino pelas mãos
do Mestre dos Magos que é uma espécie de sábio que orienta os jovens em suas
aventuras.
A estadia dos seis jovens no Reino é passageira, é como um viver provisório.
Veremos que para Descartes a sua ideia de Moral também é provisória...
O que os jovens heróis
mais querem é encontrar uma
saída do Reino e poder voltar
para suas casas.
Mas você já viu o episódio
final da série “Caverna do
Dragão”? Nós também não! Na
verdade, ele nunca chegou a ir ao ar. Mas isso não significa que não podemos pensar
em um...
Para Começo de conversa...
... E O QUE ISSO TEM HAVER COM
FILOSOFIA
Têm
tudo
haver! Vejamos...
Quando os nossos jovens heróis chegaram aqui
no Reino, e eu pude dar-lhes as armas mágicas, eles
estavam assustados porque, de onde vieram, as
coisas eram diferentes. Eles nunca tinham usada
armas mágicas ou enfrentado os perigos do Vingador
– meu filho rebelde – ah! Quanta decepção para um
pai...
VOCÊ já se perguntou o que faria no lugar deles?
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Como agiria se você também fosse “jogado” em uma realidade diferente da que você
estava acostumado? Os valores e os critérios que você usava para decidir o que
fazer, permaneceriam os mesmos? Como saber o que é certo a fazer?
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?
Mas como eu dizia, tudo era novo e eles
tiveram que se comportar e agir de maneira
diferente do que estavam acostumados na terra de
onde vieram. É claro que, o caráter deles não tinha
mudado, mas a realidade tinha... Agora, me
responda:
Quando o assunto é como agir, comportamento
humano e saber o que é certo a fazer, nós estamos
falando de um dos temas mais importantes da
Filosofia... estamos tratando de Ética!
Vários filósofos ao longo da história trataram
desse tema e alguns formularam teorias inteiras sobre
o assunto.
Mas o que é Ética?
Dentro da filosofia, trata-se do ramo que busca investigar o
comportamento humano e conhecer a diferença entre bem e mal,
certo e errado, permitido e proibido, virtude e vício. Está ligada a
capacidade de julgar o valor de atos e das condutas e de agir em
conformidade com os valores morais.
Os valores morais são aqueles critérios estabelecidos pela cultura para
julgar as ações humanas e que podem mudar com o tempo.
René Descartes pode ser considerado o primeiro filósofo moderno
que tratou do assunto. Sua teoria conhecida com “Moral provisória
cartesiana” é importante ainda hoje.
René Descartes nasceu em La HayeenTouraine, 31 de
março de 1596 e faleceu em Estocolmo, 11 de fevereiro de 1650. Ele foi um filósofo, físico e
matemático francês considerado um dos primeiros pensadores da Idade Moderna.
Notabilizou-se, sobretudo por seu trabalho revolucionário na filosofia e na ciência,
mas também obteve reconhecimento matemático por sugerir a fusão da álgebra com
a geometria - fato que gerou a geometria analítica e o sistema de coordenadas que hoje
leva o seu nome.
Descartes, por vezes chamado de "o fundador da filosofia moderna" e o "pai
da matemática moderna", é considerado um dos pensadores mais importantes e influentes
da História do Pensamento Ocidental. Inspirou contemporâneos e várias gerações de
filósofos posteriores; boa parte da filosofia escrita a partir de então foi uma reação às suas
obras ou a autores supostamente influenciados por ele. Muitos especialistas afirmam que,
a partir de Descartes, inaugurou-se o racionalismo da Idade Moderna.
Descartes não escreveu exatamente sobre Ética, mas é possível
encontrar um lugar para ela dentro da sua obra:
Provável primo distante de Descartes René Descartes, filósofo
A FILOSOFIA de Descartes é chamada de racionalista porque toda a sua
reflexão está enraizada naquilo que é racional, ou seja, naquilo que se apresenta à
razão como “idéias claras e distintas”. Sua filosofia é dedutiva. Diz Descartes:
“A filosofia toda é como uma árvore, cujas raízes fazem a metafísica, o tronco é a física, e os
galhos que saem desse tronco são todas as outras ciências que se reduzem a três principais, a
saber, a medicina, a mecânica e a moral, entendo a mais elevada e mais perfeita moral, que,
pressupondo um inteiro conhecimento das outras ciências, é o último degrau da sabedoria.
Ora, como não é das raízes, nem do tronco das árvores que se colhem os frutos, mas apenas
das extremidades de seus galhos, assim, a principal utilidade da filosofia depende daquelas
suas partes que só se pode aprender por último.” (Os Princípios da Filosofia)
Se a moral só pode ser deduzida de uma metafísica e também de
uma física completas que precisam ser compreendidas racionalmente
que é o mesmo que dizer que elas sejam científicas; Ora, quer dizer que
a moral pressupõe um conhecimento integral das outras ciências – da
raiz e do tronco da árvore da sabedoria -, justamente porque a mais
perfeita moral é o último grau da sabedoria – os frutos. A perfeição da
vida depende da mais perfeita moral. A função da filosofia é
estabelecer o conhecimento integral das outras ciências, mas
Descartes ainda não tinha terminado essa tarefa... Suas dúvidas ainda
permaneciam.
Não existe a possibilidade de se formular uma moral definitiva no
estágio da dúvida, no estágio da elaboração das ciências que são
anteriores. Mas para viver, a moral se faz necessária desde já,
enquanto se constrói o conhecimento das outras ciências. Enquanto
tinha dúvidas, DESCARTES precisava de uma moral provisória para
viver. Já que não tem Moral Definitiva, pode ser Moral Provisória.
Moral Pepsi
“Enquanto houver dúvida, a moral é
provisória”.
Comente a frase anterior. Por que
Descartes estabelece uma Moral Provisória?
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Onde houver Dúvida... que eu leve a fé...
O trecho acima é da famosa “Oração de São Francisco”. Descartes não
acredita que a “fé” seja a solução para seu problema de “Dúvida”. Se fossemos
reescrever o trecho acima de acordo com o pensamento racionalista de
Descartes, qual das opções abaixo melhor representariam sua forma de
raciocínio dedutivo:
a) Onde houver Dúvida que eu leve a paz.
b) Onde houver Dúvida que eu leve o amor.
c) Onde houver Dúvida que eu leve a verdade.
d) Onde houver Dúvida que eu leve o erro.
!Agora Responda!
São Francisco
A Muleta e o Alojamento Enquanto eu não tiro a moral da dúvida, eu preciso ter uma
moral provisória para viver. Devo estar em contato com a
sociedade, com outros homens sob determinadas leis e
costumes, num certo país.
O objetivo da moral provisória é permitir
a Descartes ocupar-se com a busca da
verdade, ou seja, do conhecimento das
outras ciências. Ela fornece um
alojamento temporário durante a
construção do edifício do conhecimento.
Segundo ele, antes de se iniciar a
reconstruir a casa que se habita, não basta
apenas derrubá-la, nem preparar materiais e
arquitetos, nem aprendermos nós mesmos a
arquitetura e nem traçarmos o seu plano. É
sim necessário para Descartes: “ter-se
provido de outra (casa) qualquer onde a
gente possa alojar-se comodamente durante
em que nela se trabalha”.
A moral provisória é necessária para que o homem saiba como agir,
enquanto não se tem um juízo claro e distinto de como conduzir suas
ações.
A moral provisória faz-se necessária enquanto Descartes
está envolvido no projeto da construção da ciência verdadeira.
Ela é como uma muleta para um período passageiro. Apesar
que é bem verdade que Descartes nunca terminou sua
investigação acerca das outras ciências, portanto, nunca concluiu
a Moral Definitiva.
Descartes estabeleceu 4 “Máximas”, ou seja, 4 regras da Moral Provisória,
vejamos quais são elas:
ALOJAMERNTO DE FÉRIAS
MOMENTO DE SABEDORIA
A primeira máxima é mais ou menos assim: “Siga o que os mais sábios têm a dizer!”
Se Descartes tivesse conhecido o Mestre dos Magos, ou até mesmo Mestre
Yoda do Star Wars, ele teria seguido sua vida de acordo com tudo que esses
baixinhos falassem... A primeira Máxima consistia em “obedecer às leis e aos
costumes do país, retendo constantemente a religião em que Deus concedeu a graça
de ser instruído desde a infância, e governando-se, em tudo o mais, segundo as
opiniões mais moderadas e as mais distanciadas do excesso, que fossem comumente
acolhidas em prática pelos mais sensatos daqueles com os quais teria de viver”.
Apesar das incertezas das crenças anteriores, é
melhor levar uma vida sensata e moderada. Para que isso
aconteça, é melhor seguir diretrizes, ou seja, obedecer às
leis, aos costumes de seu país e à religião que Deus lhe
concedeu a graça. Seguir também as ações das pessoas mais
sensatas e moderadas significa que é mais provável que as
mesmas sejam mais corretas do que ações extremas. Pois
geralmente, as pessoas falam coisas e agem do modo
diferente na prática. Essas são ações imoderadas e
insensatas. Logo, uma pessoa moderada e sensata age e vive
de acordo com elas. A moderação e a sensatez, no caso, podem
ser consideradas meios para não se desviar do reto caminho.
PARA REFLEXÃO: LEMBRA QUANDO TE DISSERAM PARA OUVIR OS MAIS
VELHOS? VOCÊ CONCORDA QUE É IMPORTANTE?
Olá meu jovem, que bom vê-lo por aqui! Estou acostumado a ver gente
como você e como esse Descartes aí, que precisa de orientações pra agir na vida. Lá na Caverna do Dragão, eu já dizia... mas parece que ninguém mais sabe que é importante ouvir os mais
velhos?
A segunda máxima diz respeito ao indivíduo ser firme em suas ações e não
dar crédito a opiniões duvidosas:
Você confiaria num cara
como esse para ser
Deputado Federal?
Diz Descartes: "minha segunda máxima consiste em ser o mais firme
e o mais resoluto possível em minhas ações, e em não seguir menos constantemente
do que se fossem muito seguras as opiniões mais duvidosas; sempre que eu me tivesse
decidido a tanto".
Mesmo que não se tenha certeza de tal verdade, deve-se tomar a atitude
mais provável. Pelo menos se está a meio caminho andado, é ainda melhor do que se
tivesse indiferente, irresoluto, sem tomar atitude alguma. Urge uma firmeza de ação
nesta máxima. A segurança moral livra a consciência de arrependimento e de
remorsos, fruto de irresoluções. Para ele o que não pode é ficar sem agir, ser
indiferente. É bom agir conforme aquilo que lhe parece mais correto ou “menos
errado”.
Você concorda com a segunda máxima de Descartes? Quando é que uma
opinião é duvidosa para você? Você conseguiria agir de acordo com algo que você não
tem certeza se é o correto a fazer porque lhe parece a melhor opção?
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CUIDADO! O Vingador pode se esconder sobre
muitas formas!
A terceira máxima refere-se ao controle de desejos: vencer a si próprio e
controlar os próprios pensamentos.
Diz Descartes: “Minha terceira máxima era a de procurar sempre antes vencer a
mim próprio do que à fortuna, e de antes modificar os meus desejos do que a ordem
do mundo; e, em geral, a de acostumar-me a crer que nada há que esteja inteiramente
em nosso poder, exceto os nossos pensamentos, de sorte que, depois de termos feito
o melhor possível no tocante às coisas que nos são exteriores, tudo em que deixamos
de nos sair bem é, em relação a nós, absolutamente impossível”.
Aqui, Descartes valoriza o
autocontrole racional, ou seja, eu
é que comando os meus desejos e
isso que é o segredo da
felicidade.
O que está em nosso poder são
nossos pensamentos. Deve-se
desejar apenas as coisas que
estão em nosso poder de alcance
e não aquilo que está além
dele...porque existem coisas que
não estão ao nosso alcance.
Esta regra pressupõe uma disciplina de nossas
ações porque nossos desejos e nossas paixões
nos ditam justamente o contrário e atrapalham
nossa paz interior nos fazendo desejar o
impossível.
Responda com sinceridade: Você considera-se alguém com controle dos seus
desejos e paixões?
a) Dominador! Descartes ia ter que aprender comigo!
b) Muito, Só desejo quando eu quero – ou quando encontrar o gênio da lâmpada
c) Sou equilibrado.
d) Meus desejos me possuem e a razão tá de férias!
e) Existe alguma coisa na vida para além das paixões e desejos??
Mais uma Opinião: Dominar a si mesmo é um exercício da razão que tenta sobrepor-se aos
desejos e paixões. Não é uma coisa que se aprende de um dia para um outro. Nem algo
totalmente possível de ser feito. O mais importante é não pender para os exageros e manter-se
no equilíbrio.
A gente sempre quis
ir pra Caverna do
Dragão... Já que não
rolo, estamos
improvisando!
A quarta máxima é a última da Moral Provisória. Descartes fala
da última máxima:
“Enfim, para a conclusão dessa moral, deliberei passar
em revista as diversas ocupações que os homens exercem
nesta vida, para procurar escolher a melhor; e, sem que
pretenda dizer nada sobre as dos outros, pensei que o melhor
a fazer seria continuar naquela mesma em que me achava, isto
é, empregar toda a minha vida em cultivar minha razão, e
adiantar-me, o mais que pudesse, no conhecimento da
verdade, segundo o método que me prescrevera”.
Nesta última máxima, Descartes depois de refletir sobre as profissões,
todos os trabalhos da vida, chega a conclusão de que a melhor ocupação é a dele, ou
seja, ocupar-se em cultivar a razão e principalmente na busca da verdade. O negócio
é ser filósofo!
Descartes encontra-se satisfeito, honroso e feliz de seguir a sua vocação; a
procura da verdade segundo a razão. Para ele, a quarta máxima consiste em continuar
a sua busca pela verdade, ou seja, pelo conhecimento das ciências para um dia poder
estabelecer uma Moral Definitiva baseada nas verdades conhecidas.
Mas a gente sabe que isso nunca aconteceu, Descartes morreu antes disso...
Aliás, não foi a única coisa que não aconteceu...o fim da série “Caverna do Dragão”,
também não...
Junto com um colega aí do lado, em dupla, pensem em
um final que vocês dariam para a série “Caverna do
Dragão” e escreva o resumo de como esse final seria:
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AGORA É A SUA VEZ!
Colocando em PRÁTICA... 1) Se liga no som! A música “O Meio e O Fim” da banda Rosa de Saron diz:
“É o fim!” É o final que você quer saber? / Me conte o seu passado, e saberei seu
futuro/De que vale o ouro se ele não compra a alma?/ A moral é imoral se não
há o bem para o outro/
Relacione o trecho da música com o conceito de Ética visto no início do capítulo
sobre a Moral Provisória de Descartes e responda: o que quer dizer o trecho “A
moral é imoral se não há o bem para o outro”?
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_______________________________________________________ 2) Analise o quadrinho abaixo e depois responda:
Qual das máximas de Descartes está mais relacionada com o episódio que a charge
ilustra?
a) A primeira, porque o filho aprende do pai que é mais velho e sábio um dos
costumes da sociedade;
b) A segunda, porque o pai é firme na ação de mostrar a corrupção para o filho;
c) A terceira, porque o político parece não estar no controle de seus desejos e paixões
desordenadas;
d) A quarta, porque o pai está em busca da verdade do que ocorre com a educação,
saúde e moradia do futuro do filho.
3) Por que para Descartes é importante para a Moral Provisória que ele continue sendo
filósofo como dita a quarta máxima? Você concorda com as razões dele?
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4)Imagine que alguém quer convencê-lo a votar no candidato a Deputado Federal
a seguir:
Mas, você não está certo disso e só pode argumentar utilizando a segunda máxima
da Moral Provisória de Descartes. Como você argumentaria? Chame um colega
de classe ou o professor e defensa o seu voto consciente!
5) A primeira máxima da Moral Provisória de Descartes nos lembra a importância
das tradições, dos mais velhos, etc... Podemos dizer que essa máxima foge ao
racionalismo apregoado por Descartes? Por que?
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6) Por que para Descartes é importante ter uma Moral Provisória enquanto não há
uma Moral Definitiva?
a) Porque é ela que é capaz de controlar os desejos e paixões que impedem o
homem de ser feliz;
b) Porque nunca houve Moral Definitiva, então ele elaborou uma provisória
mesmo;
c) Porque enquanto não há uma Moral definitiva se está vivendo e é preciso saber
como agir no hoje da vida;
d) O mesmo motivo pelo qual o último episódio da “Caverna do Dragão” não foi
ao ar.
7) Responda em poucas palavras qual é o segredo da felicidade segunda as
máximas de Descartes:
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