A missão no coração da vida cristã - combonianos.pt · iniciativa da Igreja Católica...

6
Publicação BIMESTRAL N.º 249 setembro-outubro 2017 ISSN 0871-5688 O PREÇO - 0,10 (IVA incluído) P. e Dário Balula Chaves [email protected] A missão no coração da vida cristã A cabadas as férias, a Igreja inicia o novo ano pastoral. É hora de deitar mãos ao trabalho. A partir de setembro, temos pela frente programas pastorais com muitas celebrações e atividades de catequese e de formação cristã a realizar a nível nacional e nas várias dioceses e paróquias. Nas paróquias por onde passam, os missionários notamos com alegria que que há muitos cristãos bem formados que participam ativamente na vida das comunidades cristãs, como ministros da eucaristia, leitores, membros do coro e outras tarefas. Fazem-no com alegria e com grande espírito de fé e de serviço. Por outro lado, às vezes parece que há pessoas que vão à igreja só quando lhes convém, guiadas por um certo egoísmo espiritual para pedir a Deus que satisfaça os seus caprichos pessoais. São sintomas da doença da alma que é reduzir a vida cristã a uma prática ritualista e exterior sem incidência na vida concreta. São cristãos que acreditam num deus tapa- -buracos ou para-raios. Todavia, ser cristão é viver uma rela- ção pessoal com Jesus e um estilo novo de vida de amor e de serviço, segundo os valores do evangelho. O cristão é amigo de Jesus e seu missionário Na mensagem para o Dia Mundial das Missões, que este ano se celebra a 22 de outubro, o Papa Francisco afirma que a missão está ao centro da fé cristã e que a Igreja é, por natureza, missionária; se assim não for, deixa de ser Igreja de Cristo, não passando de uma mera associação entre muitas outras. Quer isto dizer que a missão da Igreja não é a propagação de uma ideologia religiosa, nem mesmo um código de bom comportamento, mas, acima de tudo, uma relação de amizade com a pessoa de Jesus que enche o coração de paz e de felicidade. Pelo batismo, o cristão torna-se amigo de Jesus e missionário da sua presença no mundo. Em virtude do batismo, o cristão é animado por uma es- piritualidade de êxodo contínuo. Trata-se de estarmos dispostos a sair do próprio comodismo para chegar a todas as peri- ferias que precisam da luz do Evangelho. Na mesma mensagem, Francisco faz um apelo aos jovens para se deixarem Missionários combonianos e cristãos da paróquia de Lilanda, em Lusaca (Zâmbia) fascinar pela pessoa de Jesus, de modo a concretizarem os ímpetos do coração ao serviço da humanidade. O papa lembra também que o Dia Mundial das Missões é a ocasião propícia para as comunidades cristãs participarem com a oração, a comunhão dos bens e com a sua pessoa na resposta às necessidades da evangelização. Que a Virgem Maria, neste ano do centenário das suas aparições em Fáti- ma, nos ajude a dizer «sim» à urgência de fazer ressoar a Boa Nova de Jesus no mundo atual. Além-Mar

Transcript of A missão no coração da vida cristã - combonianos.pt · iniciativa da Igreja Católica...

Publicação BIMESTRAL

N.º 249 setembro-outubro 2017

ISSN 0871-5688 PREÇO - 0,10 (IVA incluído)

P.e Dário Balula [email protected]

A missão no coração da vida cristã

Acabadas as férias, a Igreja inicia o novo ano pastoral. É hora de deitar

mãos ao trabalho. A partir de setembro, temos pela frente programas pastorais com muitas celebrações e atividades de catequese e de formação cristã a realizar a nível nacional e nas várias dioceses e paróquias.

Nas paróquias por onde passam, os missionários notamos com alegria que que há muitos cristãos bem formados que participam ativamente na vida das comunidades cristãs, como ministros da eucaristia, leitores, membros do coro e outras tarefas. Fazem-no com alegria e com grande espírito de fé e de serviço.

Por outro lado, às vezes parece que há pessoas que vão à igreja só quando lhes convém, guiadas por um certo egoísmo espiritual para pedir a Deus que satisfaça os seus caprichos pessoais. São sintomas da doença da alma que é reduzir a vida cristã a uma prática ritualista e exterior sem incidência na vida concreta. São cristãos que acreditam num deus tapa--buracos ou para-raios.

Todavia, ser cristão é viver uma rela-ção pessoal com Jesus e um estilo novo de vida de amor e de serviço, segundo os valores do evangelho.

O cristão é amigo de Jesus e seu missionárioNa mensagem para o Dia Mundial das Missões, que este ano se celebra a 22 de outubro, o Papa Francisco a/rma que a missão está ao centro da fé cristã e que a Igreja é, por natureza, missionária; se assim não for, deixa de ser Igreja de Cristo, não passando de uma mera associação entre muitas outras.

Quer isto dizer que a missão da Igreja não é a propagação de uma ideologia religiosa, nem mesmo um código de bom comportamento, mas, acima de tudo, uma relação de amizade com a pessoa de Jesus que enche o coração de paz e de felicidade. Pelo batismo, o cristão torna-se amigo de Jesus e missionário da sua presença no mundo. Em virtude do batismo, o cristão é animado por uma es-piritualidade de êxodo contínuo. Trata-se de estarmos dispostos a sair do próprio comodismo para chegar a todas as peri-ferias que precisam da luz do Evangelho.

Na mesma mensagem, Francisco faz um apelo aos jovens para se deixarem

Missionários combonianos e cristãos da paróquia de Lilanda, em Lusaca (Zâmbia)

fascinar pela pessoa de Jesus, de modo a concretizarem os ímpetos do coração ao serviço da humanidade. O papa lembra também que o Dia Mundial das Missões é a ocasião propícia para as comunidades cristãs participarem com a oração, a comunhão dos bens e com a sua pessoa na resposta às necessidades da evangelização.

Que a Virgem Maria, neste ano do centenário das suas aparições em Fáti-ma, nos ajude a dizer «sim» à urgência de fazer ressoar a Boa Nova de Jesus no mundo atual.

Além-Mar

2 FAMÍLIA COMBONIANA

JUSTIÇA E PAZ

Amar com obras

Ir. Bernardino Frutuoso

O Dia Mundial dos Pobres foi ins-tituído pelo Papa Francisco na carta apostólica Misericordia et misera, pu-blicada no encerramento do Jubileu da Misericórdia (novembro de 2016). Esta iniciativa da Igreja Católica assinala-se no penúltimo domingo do ano litúrgi-co (19 de novembro, em 2017). Com esta data o Santo Padre pretende «es-timular, em primeiro lugar, os crentes. Pede que reajam à cultura do descarte e do desperdício, assumindo a cultura do encontro» e a estar mais perto dos «últimos e os mais carenciados», como consequência da «predileção de Jesus pelos pobres». Mas também quer que «todos, independentemente da sua pertença religiosa», se abram «à parti-lha com os pobres em todas as formas de solidariedade, como sinal concreto de fraternidade». E acrescenta: «Deus criou o céu e a terra para todos; foram os homens que, infelizmente, ergueram fronteiras, muros e recintos, traindo o dom originário destinado à humani-dade sem qualquer exclusão.»

Na mensagem para este ano – in-titulada «Não amemos com palavras, mas com obras» – o papa insiste no «escândalo» da pobreza. «Infelizmente, nos nossos dias – enquanto sobressai cada vez mais a riqueza descarada que se acumula nas mãos de poucos privilegiados, frequentemente acom-panhada pela ilegalidade e a explora-ção ofensiva da dignidade humana –, causa escândalo a extensão da pobreza a grandes sectores da sociedade no mundo inteiro», escreve Francisco.

A mensagem pontifícia sublinha que o atual cenário de desigualdades

e pobreza não pode deixar ninguém «resignado». «À pobreza que inibe o espírito de iniciativa de tantos jo-vens, impedindo-os de encontrar um trabalho, à pobreza que anestesia o sentido de responsabilidade, induzin-do a preferir a abdicação e a busca de favoritismos, à pobreza que envenena os poços da participação e restringe os espaços do pro5ssionalismo, hu-milhando assim o mérito de quem trabalha e produz: a tudo isso é preciso responder com uma nova visão da vida e da sociedade», sublinha o papa.

Francisco a5rma que «o amor não admite álibis: quem pretende amar como Jesus amou, deve assumir o seu exemplo, sobretudo quando somos chamados a amar os pobres». O pon-

tí5ce pede uma «nova visão da vida e da sociedade» e a5rma que os pobres «não são um problema», mas antes um recurso para «acolher e viver a essência do Evangelho».

O Santo Padre apresenta o pai--nosso como uma oração que implica «partilha, comparticipação e respon-sabilidade comum» e aponta sugestões concretas para viver o Dia Mundial dos Pobres. Pede às comunidades católi-cas que se empenhem na criação de «momentos de encontro e amizade, de solidariedade e ajuda concreta», além de sugerir que se convidem para as Missas deste domingo «os pobres e os voluntários» que os ajudam.

A mensagem do Papa Francisco para o primeiro Dia Mundial dos Pobres sublinha que o atual cenário de desigualdades e pobreza

não pode deixar ninguém «resignado».

© P

ixabay

FAMÍLIA COMBONIANA 3

para a missão em portugal e na europa

P.e Claudino Gomes [email protected]

Do aeroporto de Telavive, o grupo de missionários combonianos com longos anos de missão a participar no curso de renovação foi conduzido ao alojamento. Pernoitavam em território palestino. O autocarro estacou diante do muro.

A segregação israelita

É enorme. O muro que separa Israel da Palestina é uma barreira de 763 qui-lómetros de comprimento. Placas de betão de uns oito metros de altura. Sen-sores eletrónicos. Vedações, trincheiras e largas zonas de exclusão. Centenas de humilhantes pontos de bloqueio. Isola cerca de 450 000 pessoas. Corta os campos agrícolas e os acessos a eles, às escolas, a melhores cuidados de saúde, aos templos (cristãos e muçulmanos). Protege os israelitas que impunemente roubam as nascentes da água, destroem os meios de vida dos palestinos e be-duínos e os condenam à pobreza e à emigração. Declarado ilegal, em 2 de agosto de 2004, pelo Tribunal Interna-cional da Haia, todavia, a propaganda o5cial diz que «o muro protege Israel de ataques terroristas».

Há, então, o terrorismo mau (dos palestinos) e o terrorismo bom (do Estado-exército de Israel)? Palestinos e beduínos também declaram aquela como «a nossa Terra», a sofrer a «ocu-pação militar israelita».

«O muro faz com que quem está do outro lado não tenha rosto. Do outro lado, é o mal», dizia o reitor do Seminário Maior de Belém. Na realidade, o muro é um elemento da

política de exclusão dos não hebreus e de ocupação militar. Serve para anexar território palestino, destruindo as aldeias e proteger os mais de 500 mil hebreus dos colonatos – que são cidades construídas na terra roubada. Aumentam a descontinuidade do ter-ritório palestino. Tornam impossível a existência pací5ca de dois Estados soberanos.

Muro e colonatos revelam o veneno do racismo sionista. Este cria sistemas jurídicos, militares e físicos de exclusão do tipo apartheid. Israel oprime os palestinos na Faixa de Gaza e na espar-tilhada Cisjordânia e as Comunidades dos Beduínos no deserto da Judeia.

Exclusão, não; encontro, sim

Visitámos os beduínos em Jahalin com Aziza e Ines, as corajosas irmãs missionárias combonianas que a eles se dedicam. Israel destrói-lhes as aldeias com os bulldózers. As Irmãs

Peregrinação à terra da segregaçãoVisitar a Palestina e Israel suscita sentimentos contraditórios. Conforme o olhar que observa e o ouvido que escuta. O grupo formado por missionários combonianos ia atento ao grito dos oprimidos. Mais do que pedras e ruínas, interessavam povos e pessoas.

e os Rabis pelos Direitos Humanos procuram defendê-los. Método: a luta não violenta.

Em Belém, participei no protesto de apoio aos milhares de palestinos pre-sos, em greve de fome. Reivindicavam condições básicas de humanidade, nas prisões israelitas.

Um sacerdote palestino dizia: «Uma teologia que legitime a ocupação está muito longe da doutrina cristã da justiça e da igualdade entre os povos.» E o Papa Francisco apela para que se promova «uma educação na qual a exclusão e o choque de uns com outros sejam substituídos pela inclusão e o encontro».

Para conhecer melhor a questão pa-lestina, sugiro o acesso à página www.kairospalestine.ps e ler «A moment of truth».

Alé

m-M

ar

6 FAMÍLIA COMBONIANA

linha direta

Um grupo de jovens de Portugal, Itália, Polónia e Inglaterra participa-ram, de 31 de julho a 9 de agosto, na primeira edição do Campo de Férias 2017, organizado pelos Missionários Combonianos em Inglaterra.

Os jovens acamparam na pa-róquia de Roehampton, na cidade de Londres, caracterizada pelo seu ambiente cosmopolita e multiétnico. A paróquia é composta por uma maioria de imigrantes de primeira e segunda geração da Ásia (Filipinas e Índia), África (Nigéria, Gâmbia, RD Congo), América (Jamaica,

Formadores combonianos em assembleiaOs padres e irmãos missionários combonianos respon-

sáveis pela formação dos candidatos à vida missionária no Instituto estiveram reunidos em assembleia de 9 a 30 de julho, na casa comboniana da Maia. Os mais de 40 partici-pantes, de diferentes culturas e línguas, vieram de 41 países da África, América, Europa e Ásia, onde os Combonianos têm missões.

O momento signi5cativo e inspirador do encontro foi a visita ao Santuário de S. Bento da Porta Aberta. Deu o mote para o que se deseja na formação comboniana: uma formação para a missão de “portas abertas”. Abertos às riquezas que temos, damos e recebemos por sermos uma família, a família comboniana, que S. Comboni quis unida e a trabalhar em comunhão; abertos à Igreja Universal e missionária, partilhando a riqueza de diferentes culturas e experiências de fé.

Campo de férias comboniano internacionalColômbia, México e Peru). Os jo-vens viveram dez dias preenchidos com oração, reflexão e trabalho em três áreas: com os sem-abrigo na estação ferroviária de Victoria, no centro de Londres, que tem o maior grupo de pessoas sem-teto na Europa; visitaram a Bakhita House, na arquidiocese de Westminster, onde as mulheres resgatadas do tráfico humano estão alojadas; e testemunharam o trabalho da Igreja Anglicana e da Igreja Católica com Grupos de Justiça e Paz em favor dos mais pobres.

Estatuto EditorialO jornal Família Comboniana é uma publicação

bimestral de inspiração missionária. Pretende promo-ver os valores da paz, da justiça, da solidariedade e do respeito pelo ambiente e os direitos humanos. Quer dar a conhecer os problemas mundiais (sociais, eclesiais, económicos e políticos), especialmente os dos países menos desenvolvidos, informar sobre o trabalho dos missionários portugueses em Portugal e espalhados pelo mundo e alimentar a vocação histórica universalista e solidária. Deste modo, a Família Comboniana é um elo

com todos os missionários e um instrumento de coo-peração missionária. O jornal Família Comboniana é associado da Missão Press e da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã (AIC). Não tem 5ns lucrativos. É distribuído por assinatura (não se vende nas bancas) no âmbito nacional a partir de Lisboa e das outras casas dos Missionários Combonianos em Portugal.

Como publicação jornalística, respeita os princípios deontológicos e a ética pro5ssional dos jornalistas, assim como a boa-fé dos leitores.

FAMÍLIA COMBONIANA 7

Quatro palavras-chave da missão comboniana

Para nós, Missionários Combonia-nos, celebrar signi5ca fazer memória das nossas origens e da história que o Senhor está a traçar connosco e com os povos que encontramos no nosso caminho. Recordar não é um exercí-cio de arqueologia, mas um processo vivo de agradecimento ao Senhor e entrega con5ante do nosso futuro nas suas mãos. Recordar é partir de novo, renovados.

Quatro disposições renovadoras

Os Combonianos encontramo-nos perante desa5os: envelhecimento dos missionários, quebra de vocações, no-vos paradigmas de missão e alteração do nosso papel no seio das Igrejas lo-cais. E sentimos que a recon5guração do nosso Instituto passa por quatro caminhos:

1. Mística: Não é apenas questão de redescobrir o gosto da oração, mas desenvolver uma espiritualidade da presença de Deus na história dos po-vos e nos rostos das pessoas. A fé e a esperança dos pobres ensinam-nos esta mística, sem a qual corremos o risco de de5nhar e de perder o sentido do nosso caminho missionário.

2. Humildade: Conscientes dos nossos limites e fragilidades, sentimo--nos chamados a passar do protagonis-mo ao testemunho. Hoje, não conta só «fazer missão», mas antes e sobretudo «ser missão». Não bastam as palavras e as obras, há muitas pessoas capazes

de falar e de fazer, por vezes melhor do que nós. O desa5o que se nos apre-senta é mostrar com a nossa vida o tesouro do Evangelho que guardamos no coração.

3. Fraternidade: É o desejo de nos amarmos mais uns aos outros. “O nosso sistema formativo está muito desequilibrado: prepara missionários com uma grande cabeça – ricos em intelectualidade – e com um coração atro5ado – pobres em humanidade. É imperioso partilharmos mais as experiências pessoais de Deus – a au-toridade de Jesus vinha disso mesmo: Ele não ensinava teologia, partilhava a experiência do Abba (Papá) das longas noites de contemplação em lugares ermos. É fácil falar sobre desporto, po-lítica, sobre os outros... e torna-se tão

difícil expressar o Deus que habita no mais profundo de nós mesmos! A vida comunitária não deve ser vista como funcional (trabalhamos melhor juntos) nem como segurança (cama, mesa e roupa lavada para os «consumidores de comunidade»). A forma como vivemos é a primeiro Evangelho que anuncia-mos. Somos presente de Deus uns para os outros, não somos estranhos nem pesos a suportar”, concretizou o P.e José Vieira, superior provincial de Portugal, no seu blogue.

4. Ministerialidade: Temos neces-sidade de ser mais bem quali5cados nos diversos campos da evangelização, trabalhando em equipa com todos os agentes da Família Comboniana, da Igreja local e com parceiros estratégi-cos da sociedade civil.

Missionários combonianos, procedentes das diversas missões em que estão presentes na África, América, Ásia e Europa, reuniram-se em Roma para celebrar os 150 anos do Instituto com um simpósio. Na mensagem final, sugerem-se quatro palavras-chave da identidade e missão da Família Comboniana na Igreja e no mundo atual.

8 FAMÍLIA COMBONIANA

Jovens em missão (JIM)

FAMÍLIA COMBONIANAPropriedade: Missionários Combonianos do Coração de Jesus Pessoa Colectiva n.º 500139989Diretor: Bernardino Frutuoso (CP 10020)Redação: Fernando Félix (CP 2838)/Carlos Reis (CP 4073)Gra&smo: Luís FerreiraArquivo: Amélia Neves

Redação e Administração: Calç. Eng. Miguel Pais, 91249-120 LISBOARedação: Tel. 213 955 286 E-mail: [email protected]: Manuel Ferreira HortaAdministração: Fax: 213 900 246E-mail: [email protected]

Nº de registo: 104210Depósito legal: 7937/85Impressão:Jorge Fernandes, Lda.Rua Quinta do Conde Mascarenhas, 92825-259 CHARNECA DA CAPARICATiragem: 29.500 exemplares

Que alegrias levas da missão em Lisboa e Camarate?É uma lista muito extensa de alegrias, porque estes doze anos em Portugal, seis em Lisboa na animação missionária e na pastoral juvenil e outros seis em Camarate e Apelação, foram muito enriquecedores. Levo a alegria de ter podido aprender a viver e a partilhar a vida missionária, trabalhando em equipa, e a fé em Jesus Cristo.

Sinto-me, por exemplo, grato a Deus pela oportunidade de trabalhar com a equipa da pastoral juvenil e com os jo-vens, desde os encontros do Fé e Missão até às peregrinações a pé a Fátima. Tenho presente muitos testemunhos de jovens que me animam na minha vida missionária.

Em Camarate e Apelação há um mosaico de raças e cul-turas. Ali, entre a manutenção dos equipamentos do Centro Social e Paroquial, o grupo sociocaritativo e a pastoral, há um emaranhado de coisas para fazer. A brincar, costumo dizer que «gosto de trabalhar mais com as máquinas do que com as pessoas, porque as máquinas têm sempre razão». Mas é mais desa5ante e bonito trabalhar com as pessoas. Neste âmbito, destaco a alegria do trabalho com a catequese, os escuteiros, os jovens e no projeto Jovem Despertar, que é um trabalho feito por voluntários, para acompanhar as crianças e os adolescentes nos tempos pós-escolares para os ajudar na sua formação integral.

Outra alegria que levo é a de testemunhar milagres de solidariedade, partilha e generosidade, que fazem acontecer a vida e manter a esperança. Não foi nos livros que aprendi a viver a fé e a amar os mais débeis, mas na caminhada da vida e de cada pessoa que encontrei. Guardo a experiência de caminhar como as pessoas, estar a seu lado, viver a vida tornando-me um irmão, ser próximo, como o bom sama-ritano. Muitas vezes, senti-me incapaz diante da realidade e da situação de vida das pessoas, mas sei que não somos os salvadores, simplesmente caminhamos ao lado das pessoas, animando e incentivando.

Que esperas encontrar na missão em Moçambique, e em que serviços te sentes preparado para colaborar lá?Não sei o que espero encontrar em Moçambique. É uma rea-lidade que desconheço, por ser a primeira vez que vou para África. Estudei na Colômbia e trabalhei doze anos no Brasil. Contudo, não estou preocupado. O futuro a Deus pertence. Sinto algum receio de não estar à altura da responsabilidade e de não poder responder aos anseios e situações do povo ao qual sou enviado, porém, estou disponível para a novidade e para a surpresa. Com a oração de muitos, a ajuda de Deus, a força do Espírito Santo e a proteção de Nossa Senhora, desejo cumprir as palavras de Maria «fazei o que Ele vos disser!».

Que dirias aos jovens, colaboradores e amigos? Não parto sozinho, levo-vos a todos no coração.. O que sou e o que possa fazer devo-o a Deus e a muitos dos que cá 5cam. Vocês são verdadeiros missionários. Rezemos uns com e pelos outros. Vivam com alegria, esperança, amor e fé. Cuidem-se e sejam felizes em Cristo.

«Vivo tornando-me irmão de cada pessoa»

Alé

m-M

ar

O irmão José Neto é natural de Vila dum Santo, Viseu. Está de partida para Moçambique. À Família Comboniana lembrou as suas alegrias em vinte e oito anos como missionário e falou das expectativas para a sua estreia em África.