A MÍDIA E SEUS EFEITOS SOBRE O MEDO SOCIAL · 1 em várias partes do planeta, até porque o medo,...

12
277 Capítulo 4 - Segurança Pública César Vinicius Kogut - SESP Wânia Rezende Silva - UEM 1 Introdução O objetivo do presente trabalho é identificar se a mídia exerce influência sobre o medo social, pois entre as diferentes instituições acusadas por criar e sustentar o medo, a mídia ocupa indiscutivelmente um dos primeiros lugares. BAIERL (2004), em seu livro “Medo Social” menciona: O medo social é um medo construído socialmente, com o fim último de submeter pessoas e coletividades inteiras a interesses próprios e de grupos, e tem sua gênese na própria dinâmica da sociedade. Medo produzido e constituído em determinados contextos sociais e individuais, por determinados grupos ou pessoas, com vistas a atingir determinados grupos ou pessoas, com vistas a atingir determinados objetivos de subjugar, dominar e controlar o outro, e grupos através da intimidação e coerção. Esse medo leva determinadas coletividades territorializadas em determinados espaços a temer tal ameaça advinda desses grupos (BAIERL, 2004, p. 48). O medo, como sentimento, tem como objetivo evitar perigos e servir como sinal de alerta a qualquer ação imprudente, esta pesquisa foca como alvo a mídia, que, por atingir cotidianamente um grande e variado público, pode, algumas vezes, ditar formas de comportamento humano, muitas vezes não desejadas. As reações ao medo podem, por colocarem pessoas em estado de alerta, trazer conseqüências das mais diversas, algumas de reclusão e submissão até outras voltadas à violência, como resposta a estímulos externos. Ao encontrar na bibliografia pesquisada relatos de comportamentos individuais ou coletivos transformados pela mídia, pode-se notar que o objeto da pesquisa tem sido matéria de estudo em várias partes do planeta, até porque o medo, por ser comportamento natural humano, sofre as conseqüências da evolução da mídia, tendo em vista a facilidade com que se transmitem informações em nível local e global. O desenvolvimento de pesquisa de campo com a aplicação de questionários com questões fechadas e abertas para região de Apucarana, Paraná, busca verificar a realidade local em relação ao medo social derivado da influência da mídia. Por ser uma cidade de médio porte, não impactada por grandes crimes, nem por ser muito violenta, talvez apresente resultados diversos a uma pesquisa feita em local onde os índices criminais sejam mais elevados. Um dos fins do Estado, com certeza, é atuar para a redução do medo e do estresse social. Assim, os operadores do sistema de segurança pública são fundamentais no esforço para a redução. Deste modo lógico, faz-se, então, necessário que medidas de capacitação para o relacionamento operador de segurança pública/mídia sejam elaboradas, para que o Estado possa fazer frente a uma das suas finalidades, como a citada acima. 2 Medo: A Mídia e o Medo Social O medo é um sentimento humano, uma emoção, que visa instintivamente à proteção contra quaisquer formas de perigo que nos sejam apresentadas. Explorado das mais diversas maneiras, o medo serve para manipular, coagir, direcionar condutas, ou seja, explorar o ser humano de acordo com a vontade de quem tem o poder de gerá-lo. Para FOUCALT (2001), as cerimônias de suplícios dos condenados deviam ser conhecidas, pois de nada adiantava seu segredo; era importante e necessário que o espetáculo transmitisse terror, assim os assistentes serviriam de testemunhas e A MÍDIA E SEUS EFEITOS SOBRE O MEDO SOCIAL

Transcript of A MÍDIA E SEUS EFEITOS SOBRE O MEDO SOCIAL · 1 em várias partes do planeta, até porque o medo,...

Page 1: A MÍDIA E SEUS EFEITOS SOBRE O MEDO SOCIAL · 1 em várias partes do planeta, até porque o medo, Introdução ... da sociedade. Medo produzido e constituído em ... em que vivemos

277Capítulo 4 - Segurança Pública

Gestão de Políticas Públicas no Paraná

César Vinicius Kogut - SESPWânia Rezende Silva - UEM

1 Introdução

O objetivo do presente trabalho é identificar se a mídia exerce influência sobre o medo social, pois entre as diferentes instituições acusadas por criar e sustentar o medo, a mídia ocupa indiscutivelmente um dos primeiros lugares.

BAIERL (2004), em seu livro “Medo Social” menciona:

O medo social é um medo construído socialmente, com o fim último de submeter pessoas e coletividades inteiras a interesses próprios e de grupos, e tem sua gênese na própria dinâmica da sociedade. Medo produzido e constituído em determinados contextos sociais e individuais, por determinados grupos ou pessoas, com vistas a atingir determinados grupos ou pessoas, com vistas a atingir determinados objetivos de subjugar, dominar e controlar o outro, e grupos através da intimidação e coerção. Esse medo leva determinadas coletividades territorializadas em determinados espaços a temer tal ameaça advinda desses grupos (BAIERL, 2004, p. 48).

O medo, como sentimento, tem como objetivo evitar perigos e servir como sinal de alerta a qualquer ação imprudente, esta pesquisa foca como alvo a mídia, que, por atingir cotidianamente um grande e variado público, pode, algumas vezes, ditar formas de comportamento humano, muitas vezes não desejadas.

As reações ao medo podem, por colocarem pessoas em estado de alerta, trazer conseqüências das mais diversas, algumas de reclusão e submissão até outras voltadas à violência, como resposta a estímulos externos.

Ao encontrar na bibliografia pesquisada relatos de comportamentos individuais ou coletivos transformados pela mídia, pode-se notar que o objeto da pesquisa tem sido matéria de estudo

em várias partes do planeta, até porque o medo, por ser comportamento natural humano, sofre as conseqüências da evolução da mídia, tendo em vista a facilidade com que se transmitem informações em nível local e global.

O desenvolvimento de pesquisa de campo com a aplicação de questionários com questões fechadas e abertas para região de Apucarana, Paraná, busca verificar a realidade local em relação ao medo social derivado da influência da mídia. Por ser uma cidade de médio porte, não impactada por grandes crimes, nem por ser muito violenta, talvez apresente resultados diversos a uma pesquisa feita em local onde os índices criminais sejam mais elevados.

Um dos fins do Estado, com certeza, é atuar para a redução do medo e do estresse social. Assim, os operadores do sistema de segurança pública são fundamentais no esforço para a redução. Deste modo lógico, faz-se, então, necessário que medidas de capacitação para o relacionamento operador de segurança pública/mídia sejam elaboradas, para que o Estado possa fazer frente a uma das suas finalidades, como a citada acima.

2 Medo: A Mídia e o Medo Social

O medo é um sentimento humano, uma emoção, que visa instintivamente à proteção contra quaisquer formas de perigo que nos sejam apresentadas.

Explorado das mais diversas maneiras, o medo serve para manipular, coagir, direcionar condutas, ou seja, explorar o ser humano de acordo com a vontade de quem tem o poder de gerá-lo.

Para FOUCALT (2001), as cerimônias de suplícios dos condenados deviam ser conhecidas, pois de nada adiantava seu segredo; era importante e necessário que o espetáculo transmitisse terror, assim os assistentes serviriam de testemunhas e

A MÍDIA E SEUS EFEITOS SOBRE O MEDO SOCIAL

Page 2: A MÍDIA E SEUS EFEITOS SOBRE O MEDO SOCIAL · 1 em várias partes do planeta, até porque o medo, Introdução ... da sociedade. Medo produzido e constituído em ... em que vivemos

278 A Mídia e Seus Efeitos Sobre o Medo Social

Gestão de Políticas Públicas no Paraná

garantia de punição, sentindo-se necessariamente influenciadas pelo medo.

Por ser um sinal de advertência, um sinal de perigo, o medo apresenta-se de diversas formas. Manifesta-se, muitas vezes, individualmente, estimulado por um perigo esperado ou repentino, mas também pode manifestar-se coletivamente, sendo estruturado, através de reações comunitárias, a determinado estímulo.

Embora este trabalho seja direcionado para as reações coletivas de medo, BAIERL (2004) traz em sua obra uma citação de conceito do que seja o medo individual.

O medo (individual) é uma emoção de choque, freqüentemente precedida de surpresa, provocada pela tomada de consciência de um perigo presente e urgente que ameaça, cremos nós, nossa conservação. Colocado em estado de alerta, o hipotálamo reage por uma mobilização global do organismo que desencadeia diversos tipos de comportamentos somáticos e provoca, sobretudo, modificações endócrinas (DELUMENAU, 1996, p. 23 apud BAIERL, 2004, p. 40).

Sentido individual ou coletivamente, o medo é fenômeno de paralisação do censo normal da vida, altera relações de formas e espaços, traz à tona uma imagem duvidosa, reflete insegurança, tristeza e dá noção de fragilidade.

Portanto, uma das missões fundamentais do Estado é a de produzir ações necessárias para a redução do medo, minimizar o problema para oferecer melhores condições de vida à população. Corroborando essa idéia, segundo BAIERL (2004), o papel do Estado seria não de subjugar pelo medo, mas de libertar os indivíduos desse sentimento, para que vivam em segurança.

O medo, produzido e construído a partir da forma como a violência vem se manifestando na sociedade, cria novas alternativas de sociabilidade, alterando o modo de ser e de agir das pessoas, dos grupos, das comunidades e movimentos populares em seu cotidiano.

A difusão de notícias inescrupulosas, somadas à facilidade existente atualmente na cobertura jornalística, tenta dar sustentação à idéia de que o mundo está pior hoje do que no passado. No entanto, uma observação simples sobre o momento em que vivemos pode claramente mostrar que nos encontramos em situação confortável quando acessados vários indicadores, dos quais citamos,

como exemplo, a expectativa de vida, onde a cada ano se atinge uma longevidade maior, causando até problemas previdenciários devido a isso, o acesso a educação, com escolas sendo construídas e cada vez mais alunos sendo a elas conduzidos. Sendo assim, não devemos pensar que a situação está pior, como alguns sensacionalistas e pessimistas pregam, mas que mesmo longe do ideal, hoje estamos melhor do que ontem.

A mídia, além de servir como suporte da democracia e ser também responsável pelo amplo conhecimento daquilo que acontece em nível global, tem importante missão quanto à melhoria da qualidade da vida humana. Informações sobre saúde, habilitação, política e tantas outras sevem para nos colocar dentro do contexto comunitário. A mídia, além de divulgar notícias sobre informações gerais, tem, ainda, como enfatizado por MARTY (2004), o papel protestativo, alertando a opinião, a fim de que, grandes afastamentos de normas não sejam cobertos pelas práticas complacentes ou omissas das instâncias oficiais.

PIEDADE JUNIOR (1993, p. 106) afirma que “qualquer grupamento humano, por viver em estado de natural liberdade, terá de suportar uma taxa de criminalidade e conseqüentemente de vitimização”. É obvio, no entanto, que estas taxas criminais devem ser de conhecimento público e possuir ou estar dentro de um limite aceitável.

E quais são os limites aceitáveis? Ora, se não existe ainda em grande parte do país uma democrática troca de informações entre os órgãos de segurança e a população, difícil então é de se falar o que é aceitável em termos de taxas de criminalidade. Neste contexto, a mídia ocupa um papel de interlocutora e até direcionadora de quais sejam os limites criminais suportáveis, mas isso nem sempre ocorre buscando a diminuição do medo social; pelo contrário, conforme OLIVEIRA (2005, p. 19), “quanto mais ‘apelativa’ a matéria veiculada, maiores têm sido as chances de que isto se reverta em incremento de audiência e do patrocínio”.

Certo, porém, é afirmar que a sobrevivência dos órgãos de imprensa e demais empresas ligadas à prestação de informações depende como qualquer outra atividade de suporte financeiro. É possível pensar que, se não buscar lucro, procurar-se-á, no mínimo, a manutenção equilibrada das contas do órgão ou empresa. Andando para o foco policial, vemos rotineiramente a mídia trazendo notícias desagradáveis, até porque, segundo NIXON (apud GLASSNER, 2003, p. 39), “[...] as pessoas reagem ao

Page 3: A MÍDIA E SEUS EFEITOS SOBRE O MEDO SOCIAL · 1 em várias partes do planeta, até porque o medo, Introdução ... da sociedade. Medo produzido e constituído em ... em que vivemos

279Capítulo 4 - Segurança Pública

Gestão de Políticas Públicas no Paraná

medo, não ao amor. Eles não ensinam isso na catequese, mas é a realidade [...]”.

É fácil observar em nosso país a existência de diversos tipos de mídia especializada ou se especializando no gênero policial, o qual cresce devidamente ancorado pelo sensacionalismo.

Pesquisas mostram que não existe relação causal entre o sentimento de medo e a criminalidade, seja ela de maior ou menor intensidade.

Trabalhos estatísticos conduzidos em vários países comprovaram que os grupos sociais mais suscetíveis de sentir medo da criminalidade não constituem as mais freqüentes vítimas de delitos. A intensidade do medo não depende do real aumento da criminalidade, e sim da imagem que a mídia e o governo difundem sobre a criminalidade e também da situação psicológica e social das pessoas (SABADELL, 2003, p.14).

A mídia policial encontra apoio na quantidade infinita de possíveis medos e perigos que a sociedade tem a escolher. Ao selecionar alguns desses perigos ou medos, pode-se influenciar com maior ou menor amplitude o medo social.

GLASNER (2003) comenta sobre a influência da mídia sobre a comunidade, citando um estudo elaborado por George Graber (reitor da Faculdade de Comunicação de Snnembrg, Universidade Pensilvânia, EUA), onde verificou-se com propriedade, que as pessoas que assistem rotineiramente a programas de televisão possuem uma tendência maior do que as outras em acreditar que a comunidade ou bairro onde vivem é insegura, procurando meios adicionais de segurança, com fechaduras e cadeados e também ficam mais suscetíveis a aceitarem ações policiais de repressão, como ainda apenamentos criminais mais severos.

Se o reflexo da televisão aumenta a necessidade pessoal ou familiar em melhor se proteger, reforçando a sua estrutura habitacional, amparando ou aceitando passivamente, algumas vezes, a abusos policiais, causa, ainda, outros males, por contribuir com o aumento do medo social. Verifica-se que, segundo MUZZKAT (2003, p. 131), “o medo da violência foi o principal fator que contribuiu diretamente com a evasão escolar”.

Se as taxas de criminalidade, como dito anteriormente, devem ser suportadas pela comunidade, e elas são controladas com maior

ou menor eficácia pelos operadores de segurança pública, agindo sobre este controle, algumas variáveis, tais como, efetivo policial, estrutura material, tamanho da comunidade, estrutura escolar e de empregos e outras, porque então temos algumas vezes o aumento do medo social?

Na mídia, encontra-se uma das possíveis respostas a esta questão:

Os telejornais sobrevivem com base em manchetes alarmistas. Nos noticiários locais, onde os produtores vivem à custa da máxima ‘se tem sangue, não tem pra ninguém’, histórias sobre drogas, crimes e desastres constituem a maioria das notícias levadas ao ar. Os noticiários vespertinos das principais redes de TV são um pouco menos sangrentos, mas, entre 1990 e 1998, quando o índice de homicídios do país caiu 20%, o número de histórias sobre assassinatos nas redes aumentou 600% (sem contar matérias sobre O. J. Simpson) (GLASSNER, 2003, p. 31).

Pode-se observar então, que a bibliografia aponta vários estudos que indicam a existência de influências da mídia sobre o cotidiano das pessoas de uma comunidade.

3 Resultados da Pesquisa

A pesquisa de campo contou com uma amostra de 164 questionários aplicados em uma população de 110.000 habitantes, a qual gera um percentual de certeza em torno de 80%.

Verifica-se que a religião se interliga de maneiras complexas com outros elementos da sociedade e da cultura. Agindo como fator de integração, controle social, contribuindo com a moral individual e coletiva, a pesquisa procurou também saber como diferentes ritos religiosos sentiam-se influenciados pela mídia.

A religião, como elemento central da cultura dá forma e orientação à ação, ao sentimento e ao pensamento do homem. Estabiliza as orientações humanas, seus valores, suas aspirações e seus ideais de ego. (O’DEA, 1969, P. 163).

A primeira questão pede para que o entrevistado identifique como classifica o grau de segurança na comunidade de Apucarana, Paraná, tendo o resultado total mostrado que 59,50% acharam à cidade razoavelmente segura; 5,60% muito segura; 22,60% pouco segura e 12% acham-na insegura.

Page 4: A MÍDIA E SEUS EFEITOS SOBRE O MEDO SOCIAL · 1 em várias partes do planeta, até porque o medo, Introdução ... da sociedade. Medo produzido e constituído em ... em que vivemos

280 A Mídia e Seus Efeitos Sobre o Medo Social

Gestão de Políticas Públicas no Paraná

Figura 1 - Como você identifica a segurança na sociedade em que vive?

Figura 2 - Como você identifica a segurança na sociedade em que vive?

consideram a segurança em um grau razoável, aproximando-se, portanto, das respostas de evangélicos e católicos. Nota-se também, quanto aos outros quesitos da pesquisa, sensível diferença na opinião dos ritos religiosos pesquisados.

No critério de rito religioso, observa-se, no entanto, que os pesquisados evangélicos acham em 63,10% a segurança razoável e os católicos pensam da mesma forma, em 58,20%; observa-se também, dentro daqueles que não seguem nenhum rito religioso, que 60,66% dos entrevistados

Figura 3 - Como você identifica a segurança na sociedade em que vive?

Page 5: A MÍDIA E SEUS EFEITOS SOBRE O MEDO SOCIAL · 1 em várias partes do planeta, até porque o medo, Introdução ... da sociedade. Medo produzido e constituído em ... em que vivemos

281Capítulo 4 - Segurança Pública

Gestão de Políticas Públicas no Paraná

Figura 4 - Como você identifica a segurança na sociedade em que vive?

como mais importante; 31% classificam a Falta de Policiamento; 19%, o Policiamento Inadequado e 11%, a influência da Mídia.

Perguntado quais são os fatores que mais influenciam o pesquisado no seu comportamento quanto à segurança, 39% consideram o quesito Lei

Figura 5 - Quais fatores (em ordem de importância) influenciam no seu comportamento quanto à segurança?

Figura 6 - Quais fatores (em ordem de importância) influenciam no seu comportamento quanto à segurança?

Page 6: A MÍDIA E SEUS EFEITOS SOBRE O MEDO SOCIAL · 1 em várias partes do planeta, até porque o medo, Introdução ... da sociedade. Medo produzido e constituído em ... em que vivemos

282 A Mídia e Seus Efeitos Sobre o Medo Social

Gestão de Políticas Públicas no Paraná

O que ficou evidente, no entanto, foi que os entrevistados do rito evangélico dão maior atenção às leis - 46% - como fator de influência do que os católicos - 38%-, sendo que a mídia exerce influência

em 10% e 12%, respectivamente. No entanto, os ateus são aqueles que se sentem mais influenciados pela mídia, com um índice muito maior que católicos e evangélicos, ou seja, 33,3 %.

Figura 7 - Quais fatores (em ordem de importância) influenciam no seu comportamento quanto à segurança?

Figura 8 - Quais fatores (em ordem de importância) influenciam no seu comportamento quanto à segurança?

Querendo saber se o entrevistado acompanha rotineiramente o noticiário policial de sua cidade.

As respostas ao questionário mostraram que 65,39 % dos entrevistados o faziam.

Figura 9 - O Senhor (a) acompanha rotineiramente o noticiário policial de sua cidade?

Page 7: A MÍDIA E SEUS EFEITOS SOBRE O MEDO SOCIAL · 1 em várias partes do planeta, até porque o medo, Introdução ... da sociedade. Medo produzido e constituído em ... em que vivemos

283Capítulo 4 - Segurança Pública

Gestão de Políticas Públicas no Paraná

Figura 10 - O Senhor (a) acompanha rotineiramente o noticiário policial de sua cidade?

Foi observado, de 66,30% dos católicos, que 63,10% dos evangélicos e 55,60% dos

ateus acompanham o noticiário policial em Apucarana-PR.

Figura 11 - O Senhor (a) acompanha rotineiramente o noticiário policial de sua cidade?

Figura 12 - O Senhor (a) acompanha rotineiramente o noticiário policial de sua cidade?

Na continuidade da avaliação, o questionário quis saber se o acompanhamento do noticiário cria alguma influência no dia-a-dia do entrevistado,

e 59,73% citam que realmente sentem-se influenciados pela mídia.

Page 8: A MÍDIA E SEUS EFEITOS SOBRE O MEDO SOCIAL · 1 em várias partes do planeta, até porque o medo, Introdução ... da sociedade. Medo produzido e constituído em ... em que vivemos

284 A Mídia e Seus Efeitos Sobre o Medo Social

Gestão de Políticas Públicas no Paraná

Figura 13 - A divulgação de notícias policiais onde os crimes acontecem com maior freqüência influencia no seu ritmo de vida diário?

Figura 14 - A divulgação de notícias policiais onde os crimes acontecem com maior freqüência influencia no seu ritmo de vida diário?

Observou-se, no entanto, diferença entre católicos, evangélicos e ateus, pois a alteração do ritmo diário, segundo respostas dos católicos, atinge

a cifra de 60,10% nos evangélicos, 52,00% nos católicos e 77,77% nos ateus, sendo estes, portanto, muito atingidos pela influência da mídia.

Figura 15 - A divulgação de notícias policiais onde os crimes acontecem com maior freqüência influencia no seu ritmo de vida diário?

Page 9: A MÍDIA E SEUS EFEITOS SOBRE O MEDO SOCIAL · 1 em várias partes do planeta, até porque o medo, Introdução ... da sociedade. Medo produzido e constituído em ... em que vivemos

285Capítulo 4 - Segurança Pública

Gestão de Políticas Públicas no Paraná

Figura 16 - A divulgação de notícias policiais onde os crimes acontecem com maior freqüência influencia no seu ritmo de vida diário?

Perguntado como deveria ser tratada a divulgação de notícias que relatam crimes hediondos de grande comoção social e apelo jornalístico, registrou-se que 51,12% dos entrevistados acham necessário que a imprensa tenha menos sensacionalismo, com censura de imagens, visando, principalmente, a preservação de familiares de vítimas e, em alguns casos, que a divulgação aconteça somente depois de concluídas as investigações sobre o fato constatado. Portanto, 48,12% são favoráveis à divulgação sem nenhuma restrição, opinando somente em alguns casos, que explore-se também os possíveis resultados das ações praticadas. Ao avaliar sob o foco religioso, constatamos diferenças significativas: enquanto 59,37% dos evangélicos admitem alguma forma de censura sobre o noticiário, o índice cai para 48,52% dentre os católicos, os quais, conseqüentemente, são favoráveis à divulgação plena, sem censura, em 51,48% dos casos contra 40,63% dos evangélicos. Ateus consideram a necessidade de censura em 45% das entrevistas.

3.1 Atuação dos Operadores de Segurança Pública na Redução do Medo Social

O policial militar, ao atuar, seja no serviço operacional ou administrativo, regularmente se defronta com situações ou ocorrências que são alvo da exploração da mídia. Considerando que algumas dessas situações são exploradas de modo sensacionalista, deve, então, o policial militar estar preparado para que suas atitudes naquele momento sejam adotadas para minimizar os

Seguindo, a próxima questão quis saber quais eram, em ordem de prioridade, os efeitos sentidos pelos entrevistados. Os quesitos apresentados foram: aumento do estresse, sensação de medo, sensação de pânico, alteração de trajetos, alteração de horários de alguns afazeres, dar maior atenção no que se passa a sua volta, aumento da agressividade e possíveis mudanças na estrutura habitacional. Revelou-se, aí, que a sensação de medo imperou como resposta mais visada pelos entrevistados: 24% dos evangélicos e 26% nos católicos. Em segundo plano, os católicos apresentam como maior importância 26% no quesito dar maior atenção ao que se passa ao redor, o rito evangélico em escala de importância, como segunda opção, registrou no quesito aumento de estresse e passar a dar maior atenção ao que se passa ao lado. Embora o número de entrevistados ateus (nove) não possa oferecer uma margem de confiança adequada, notou-se que as respostas quanto ao medo, estresse e mudanças de comportamento seguem uma tendência igual nos ritos católicos e evangélicos, porém, curiosamente apareceu como segunda, terceira e quarta prioridades citações quanto ao aumento da agressividade do entrevistado, como fonte de resposta ao estímulo da mídia. Os demais quesitos observados são destacados de modo uniforme. Nota-se, no entanto, nos ritos católicos e evangélicos, que os quesitos aumento da agressividade e mudança de estrutura habitacional recebem expressivas votações quando citados em 7º e 8º lugares como fator de influência sentida pelo entrevistado. Os católicos (31%) e (15%) dos evangélicos sentem pouca influência no aumento de sua agressividade.

Page 10: A MÍDIA E SEUS EFEITOS SOBRE O MEDO SOCIAL · 1 em várias partes do planeta, até porque o medo, Introdução ... da sociedade. Medo produzido e constituído em ... em que vivemos

286 A Mídia e Seus Efeitos Sobre o Medo Social

Gestão de Políticas Públicas no Paraná

reflexos negativos sobre a sensação de segurança ou de medo da comunidade atingida pelo fato, ou fatos acontecidos. Algumas ações podem agir positivamente contribuindo para a redução do estresse social determinado pelo medo da violência.

Procurando capacitar-se como profissional, visando sempre transmitir sensação de tranqüilidade à comunidade de onde opera, o policial militar, além do conhecimento profissional que lhe é peculiar, há de buscar conhecer e compreender o cotidiano dos veículos de comunicação de massa e, também, ter a compreensão de temas ligados à violência em evidência na comunidade e na mídia, para que saiba direcionar melhor suas ações no momento em que for preciso dar uma entrevista, isolar um local de crime, conduzir algo ou alguém sobre mira da mídia e outras atitudes que achar necessárias no momento. É importante também que operador de segurança pública tenha condições de ter uma visão de conjunto da evolução e do momento criminal de sua área de atuação, para assim dinamizar seu raciocínio quando estiver repassando informações à mídia.

Tratando dados ou acontecimentos criminais em evidência de modo isolado em relação aos demais dados ou ocorrências conhecidas, as ações desenvolvidas no momento do contato policial militar e população devem visar atitudes positivas que apresentem quais possíveis medidas de prevenção serão tomadas para que tais fatos não se repitam, diminuindo-se, desta forma, a pressão da mídia sobre a sociedade.

Existem normas na Polícia Militar quanto à possibilidade ou não de concessão de entrevistas do policial, as quais sendo observadas, notadamente asseguram um bom direcionamento na relação polícia/imprensa. No entanto, mesmo aqueles momentos onde há a necessidade real da prestação de informações à mídia, deve o policial somente prestá-las quando sentir-se seguro e preparado para tal.

4 Conclusão

O medo social desordena a vida pessoal e comunitária. Ele tem o poder de alterar trajetos, ritmos e horários. Tem conseqüências sobre a

vida familiar, de vizinhança, e sobre as relações de amizade, atuando até sobre os contornos da geografia urbana, exigindo, assim, do cidadão um maior controle pessoal sobre os itens acima referidos, aumentando nocivamente o estresse e diminuindo, portanto, a qualidade de vida das pessoas.

A influência da mídia sobre tais alterações comportamentais é clara. GLASSNER (2003) relata que em pesquisa realizada nos Estados Unidos na década de 90, constatou-se que 76% das pessoas entrevistadas que consideravam a violência como um problema sério nunca foram vítimas de nenhum tipo de crime.

A mídia exerce pressão sobre o medo social. Censurá-la não é, no entanto, uma solução lógica. Espetacularizar notícias não contribui para a resolução do problema criminal. Age sobre o medo. Diminui nossa qualidade de vida. Uma cobertura de qualidade não exige que se ignorem os atos de violência, mas pode apresentar em um discurso ético e contextualizado sobre o tema a elaboração de um discurso jornalístico responsável.

Algumas sugestões sobre o comportamento jornalístico ético aparecem na obra “O Grito dos Inocentes, Série Mídia e Mobilização Social”, volume 5 (2003), onde se propõem, basicamente, o comportamento ético, o fim do anonimato do repórter, um não ao julgamento precipitado, o controle de títulos sensacionalistas e uma maior especialização e aprofundamento do conhecimento do operador de mídia em relação aos complexos temas ligados ao medo e à violência.

O medo social não se restringe, é claro, ao fator violência, mas também a outros fatores como possibilidade de epidemias, de catástrofes e outros, mas é evidente que o fator criminal é, hoje, a fonte principal de meios a influir sobre o sentimento de medo no meio coletivo.

Portanto, operadores de segurança pública devem, como o relatado neste artigo, serem comprometidos com ações pró-ativas, voltadas à redução de medo e estresse social, além de oferecerem, dentro do possível, sensação de segurança, que representa vida, alegria e confiança.

Page 11: A MÍDIA E SEUS EFEITOS SOBRE O MEDO SOCIAL · 1 em várias partes do planeta, até porque o medo, Introdução ... da sociedade. Medo produzido e constituído em ... em que vivemos

287Capítulo 4 - Segurança Pública

Gestão de Políticas Públicas no Paraná

Referências

ANDI - AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DOS DIREITOS DA INFÂNCIA. O grito dos inocentes, série mídia e mobilização social. São Paulo, 2003.

AIERL, L. F. Medo social: da violência visível ao invisível da violência. São Paulo: Corty, 2004.

CAION, J. L. Violência e contemporaneidade. Porto Alegre: Artes e Ofícios Editora Ltda., 2005.

FARIS JUNIOR, J. Manual de criminologia. 3. ed. Curitiba: Juruá Editora, 2004.

FOUCAULT, M. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. 24. ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

GLASSNER, B. Cultura do medo. São Paulo: W11 Editores. 2003.

HAY, L. Aprendendo a vencer o medo. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.

MARTY, M. D. Os grandes sistemas de política criminal. São Paulo: Manole, 2004.

MUSKKAT, M. E. Mediação de conflitos: pacificando e prevenindo a violência. São Paulo: Summmus Editorial, 2003.

NASCIMENTO, J. F. B. Curso de criminologia. São Paulo: Juarez de Oliveira Ltda., 2003.

O’DEA, T. J. Sociologia da religião. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1969.

OLIVEIRA, C. S. Violência e contemporaneidade. Porto Alegre: Artes e Ofícios Editora Ltda., 2005.

PIEDADE JUNIOR, H. Vitimologia: redução no tempo e no espaço. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1993.

PREVIDELLI, J. J. & CANONICE, B. C. F. Manual para elaboração de trabalhos acadêmicos – Monografias, TCCs, Trabalhos de Estágio,

Projetos de iniciação científica com base nas novas normas da ABNT. Maringá: Unicorpore, 2006.

SABADELL, A. L. A Violência Multifacetada: estudos sobre a violência e a segurança pública. Belo Horizonte: Del Rey, 2003.

SCNNETT, R. A corrosão do caráter. 10. ed. Rio de Janeiro: Record, 2005.

SOARES, O. Criminologia. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1986.

Page 12: A MÍDIA E SEUS EFEITOS SOBRE O MEDO SOCIAL · 1 em várias partes do planeta, até porque o medo, Introdução ... da sociedade. Medo produzido e constituído em ... em que vivemos

288 A Mídia e Seus Efeitos Sobre o Medo Social

Gestão de Políticas Públicas no Paraná