Medo de dirigir

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Originalmente publicado em: GUILHARDI, H. J.; MADI, M. B.B.P.; QUEIROZ, P.P. e SCOZ, M.C. Sobre Comportamento e Cognição. Santo André,SP: ESETec, 2001, V. 8. pp. 1-13. Síndrome do Carro na Garagem Fobia ou Perfeccionismo? (Análise Funcional e Plano terapêutico) Marilza Mestre 1 UFPR Neuza Corassa 2 Psicóloga clínica - UTP RESUMO O presente artigo trata de uma pesquisa clínica realizada com clientes do CPEM ( Centro de Psicologia Especializado em Medos - Curitiba/PR), que procuraram atendimento psicológico em busca de auxílio ao medo de dirigir (Síndrome do carro na garagem, SCG). Esse transtorno causa problemas sociais àqueles que o apresentam e que só vêm em busca de ajuda quando a estratégia de fuga/esquiva por eles desenvolvida proporciona custo elevado em relação aos ganhos obtidos. Foram analisados 124 casos clínicos no período de 1 Psicóloga clínica (UFPR/1981); mestre em Psicologia Experimental (USP – SP/1996); doutoranda em História (UFPR/ término provável 2003); sócia fundadora do Centro de Psicologia Especializado em Medos (CPEM/Curitiba); professora de Psicologia na graduação e pós – graduação da PUC- PR e UTP (Tuiuti). 2 Psicóloga clínica (UTP/1989); sócia fundadora do Centro de Psicologia Especializado em Medos (CPEM/Curitiba); profesora de Psicologia na pós-graduação (capacitação de psicólogos do trânsito) da PUC-PR.

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dirigir automóvel

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Originalmente publicado em:

GUILHARDI, H. J.; MADI, M. B.B.P.; QUEIROZ,

P.P. e SCOZ, M.C. Sobre Comportamento e

Cognição. Santo André,SP: ESETec, 2001, V. 8.

pp. 1-13.

Síndrome do Carro na Garagem Fobia ou Perfeccionismo? (Análise Funcional e Plano

terapêutico)

Marilza Mestre1 UFPR

Neuza Corassa 2

Psicóloga clínica - UTP

RESUMO

O presente artigo trata de uma pesquisa clínica realizada com clientes do CPEM ( Centro de Psicologia Especializado em Medos - Curitiba/PR), que procuraram atendimento psicológico em busca de auxílio ao medo de dirigir (Síndrome do carro na garagem, SCG). Esse transtorno causa problemas sociais àqueles que o apresentam e que só vêm em busca de ajuda quando a estratégia de fuga/esquiva por eles desenvolvida proporciona custo elevado em relação aos ganhos obtidos. Foram analisados 124 casos clínicos no período de

1 Psicóloga clínica (UFPR/1981); mestre em Psicologia Experimental (USP – SP/1996); doutoranda em História (UFPR/ término

provável 2003); sócia fundadora do Centro de Psicologia Especializado em Medos (CPEM/Curitiba); professora de Psicologia na

graduação e pós – graduação da PUC- PR e UTP (Tuiuti).

2 Psicóloga clínica (UTP/1989); sócia fundadora do Centro de Psicologia Especializado em Medos (CPEM/Curitiba); profesora

de Psicologia na pós-graduação (capacitação de psicólogos do trânsito) da PUC-PR.

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setembro de 1997 a setembro de 2000, com os objetivos de : 1) Identificar o perfil psicológico da pessoa portadora de fobia de dirigir; 2) verificar se os dados, encontrados na clínica psicológica, de caracteristicas típicas do fóbico de dirigir, se aplicam a outros tipos de fobia. O procedimento usado foi a análise caso a caso das respostas dadas a dois inventários: Histórico de vida e Inventário de Medos; as respostas sofreram tratamento através da correlação matemática do percentual de suas respostas. Como resultados, foram obtidos: 1) delineamento do perfil do fóbico de dirigir (Síndrome do Carro na Garagem); 2) indícios de características comuns aos fóbicos em geral; 3) indícios de características de perfeccionismo evidentes nesse perfil. Além do relato de pesquisa, o artigo descreve como as autoras realizam a análise funcional desses casos e propõem plano terapêutico.

Palavras-chave: fobias, perfeccionismo, trânsito.

ABSTRACT

The present article treats of a clinical research accomplished with customers of CPEM (Center of Psychology Speciliazed in Fears – Curitiba/PR), that sought psychological attendance in search of the fear of driving (Syndrome of the car in the Garage, SGC). That upset causes social problems those that introduce him/it and that only come in search of help when the escape strategy/it avoids for them developed it provides high cost in relation to the obtained eamings 124 clinical cases were analyzed in the period of September from 1997 to September of 2000. The objectives of the study were: 1. To identify the psychological profile of the person bearer of phobia of driving; 2. Verify the data, found at the psychological clinic, of typical characteristics of the fobico of driving, the other phobia types are applied. The used procedure was the analysis case to I, married of the the answers given to 2 inventories: Historical of life and Inventory of Fears; the answers suffered treatment through the mathematical correlation of the percentile of your answers. As results obtained-if: 1) the delineamento of the profile of fobico of driving (Syndrome of the car in Garage); 2) indications of evident perfectionism characteristcs describes as the authors they accomplish the functional analysis of those cases and they propose therapeutic plan. Key words: phobias, perfection, traffic

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Segundo Watson (conforme citado por Millenson, 1975), o medo é uma das três

emoções básicas do ser humano. Trata-se de um estado corporal, uma reação

automática, que não necessita de aprendizagem e que visa gerar energia à

evitação ou afastamento de estimulação nociva ao ser (Ross, 1979). Seguir pela

vida requer sentir medo, e esse é um amigo precioso que mantém os animais

longe do perigo. A diferença entre os outros animais e o homem é que os

primeiros sentem, basicamente, medo de morrer e daquilo que ponha sua vida em

risco imediato. Quando vivem longe do ser humano, não se encontra no animal

medo do futuro.

Dois historiadores, Delumeau, 1996 e Duby, 1995, fazem uma análise dos medos

no ocidente entre os anos 1000 até o ano 2000 e apresentam um panorama

muito parecido, nesta virada de milênio, ao que ocorreu na virada do milênio

anterior. Os mesmos medos afetam o homem de agora em relação ao homem do

passado: medo da miséria, do outro, das epidemias, da violência, do além. Hoje,

acrescentamos um grande medo ao montante já existente: o medo da solidão. O

homem do passado acreditava em seus pares e sabia que podia contar com sua

família, seus amigos, seus “patrícios”. Nos períodos de fome, ficavam solidários;

na doença, se ajudavam; e mesmo quando segregados, isso ocorria em bando, e

dentro desse se auto-ajudavam. Hoje, esse medo de ficar só gera outros medos, tão

diversos quanto a história de cada homem.

O homem é o único ser que tem “medo do medo” e quando fica sob o

controle dessa emoção antecipatória de contingências prováveis (e temidas) ele

pode estar (e assim o é normalmente) agindo de forma adaptativa; porém, esse

novo sentimento, a ansiedade, pode ser geradora de um sofrimento sem medida.

Então, ansiedade seria o nome dado pela comunidade verbal para a emoção que

segue a percepção de que há ameaça de alguma punição. Ela antecede a perda e

tenta prevenir a frustração. Se tal perda já ocorreu, se já perdermos algo (ou

alguém) o que sentimos chama-se tristeza (Graeff, Guimarães e Deakin, 1993). A

ansiedade pode então surgir como sub-produto que visa alertar o organismo e

tentar evitar novas perdas.

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A ansiedade diz respeito à apresentação de reforçadores negativos e é vivenciada

como uma sensação de apreensão quanto a algum perigo futuro não bem delineado; é

uma experiência universal que tem como função a sobrevivência e pode se

manifestar de quatro maneiras: fuga, agressão (defesa agressiva), submissão (Bernick,

1989) e imobilidade (depressão).

Na ansiedade ocorrem mudanças:

• Fisiológicas: ritmo cardíaco, taxa respiratória, condutância cutânea...;

• Motoras: tremores musculares, hiperatividade, desorganização motora, baixo limiar

para respostas motoras (sobressaltos), evitação ou afastamento;

• Subjetivas: (acessíveis, graças ao relato verbal de pessoas que se dizem

ansiosas) apreensão, preocupação, previsão de ameaças e sensações de medo,

particulares ou generalizadas.

1. O CPEM e a percepção de um PADRÃO COMPORTAMENTAL em clientes

com FOBIAS

A fobia é um caso especial de medo. A diferença entre a fobia e o medo é que

o segundo diz respeito a uma emoção de aversão a algo que estando presente

ameaça o organismo. Na fobia existe um medo de objetos (ou situações) que, no

imaginário da pessoa, oferece perigo desmedido.

A diferença entre Fobia e a Ansiedade, segundo Falcone (1995), é basicamente

quantitativa; depende de quanto tempo dura o episódio de ansiedade, o quanto de

ansiedade a pessoa experimenta, a freqüência em que esta ocorre, em que nível o

comportamento evitativo disfuncional é precipitado pela ansiedade e como é a

avaliação dada pela pessoa que está ansiosa. Na fobia, há uma ansiedade

generalizada que se tornou específica no momento em que a pessoa identifica

em um determinado foco o objeto de sua aversão.

A DSM-IV (American Psychiatric Association, 1994) caracteriza a fobia em sub-

tipos: 1) Fobias Específicas (FE) , 2) Fobias Sociais ou generalizadas (FSG) e 3) a

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Fobia social circunscrita (FSC) . A SCG, segundo a ótica do CPEM, encaixa-se

nesse último caso.

Desde a fundação do CPEM3 , suas psicólogas vêm atendendo aos mais diversos

tipos de queixas em que o medo aparece como relato principal. Entre eles, o de

maior ocorrência é a Fobia de Dirigir, conhecido como SÍNDROME do CARRO

na GARAGEM (SCG), pois os seus portadores já possuem carro e carteira de

habilitação, mas fogem de dirigir deixando-o na garagem. Quando pensam em

fazê-lo, passam a sentir tremores nas pernas e mãos, perdem o fôlego, ficam

com placas vermelhas pelo corpo, suas mãos ficam geladas e pegajosas de suor,

dormem mal na noite anterior a dirigir e, mesmo sendo pessoas muito honestas,

se obrigam a “ inventar” desculpas que justifiquem o não dirigir, sofrem por não

fazê-lo e sofrem mais ainda se tentam fazê-lo.

Corassa (1996 a e b) ao longo de sua prática clínica foi registrando um padrão

típico do comportamento desses clientes. Eles se classificam basicamente em

dois grupos:

1. Grupo menor: é constituído de pessoas que já passaram por uma experiência

com acidente (em relação a elas mesmas, um familiar ou amigo);

2. Grupo maior: simplesmente o que aparece é um grau elevadíssimo de

ansiedade só de pensar em sair com o carro. As pessoas evitam, inclusive,

realizar coisas muito pequenas como abrir porta- malas do carro ou apanhar

qualquer objeto que tenham esquecido dentro do mesmo.

A hipótese clínica era de que as causas prováveis de tal padrão comportamental

fossem: a) histórico-culturais , com padrões de educação diferenciadas para os

gêneros: como a “direção” da vida era dada ao masculino e à mulher cabia

dependência desse ‘saber’; desta mesma forma, a mulher ficava exposta a regras

sociais onde só homens dirigiam e a ela era a passageira; outro padrão cultural

diferenciado era o referente à forma de brincar , em que as meninas se expunham às _____________________________________

3 1997 é a data da fundação do CPEM, no entanto Mestre vem tratando de fobias desde 1981 e Corassa desde 1989.

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contingências modeladoras com brinquedos ditos ‘femininos’, como bonecas, e os

meninos, aos brinquedos ‘masculinos’, como carrinhos; ainda mais: era esperado que

as mulheres se preocupassem com o bem estar do ‘outro’ e, dos homens, esperava-

se que fossem mais arrojados; b) filogenéticas, com diferenças cerebrais entre

mulheres e homens; até chegar-se à c) evolução tecnológica do último quartil do

século XX, que possibilitou que a força física fosse dispensável ao ato de

dirigir.

Analisando o relato clínico dessas pessoas, certas características aparecem

enquanto falam de suas vidas. Algumas são repetitivas para o fóbico em geral e

ajudam na compreensão do quadro por eles apresentado.

Perfil psicológico do fóbico 4

SCG (Medo de dirigir) Outras Fobias

Muito competentes Excesso de responsabilidade Detalhistas Necessidade de controlar “Olhar” do outro Dificuldade de receber críticas Organizadas Críticos Sensíveis aos sentimentos Inteligentes Elevada consciência social

Competentes Responsáveis Tende a ser detalhista Necessidade de controlar “Olhar do outro” Dificuldade de receber críticas Críticos Sensíveis aos sentimentos Inteligentes Consciência social

Ao identificar um padrão de comportamentos comuns entre os clientes que se

queixavam de fobia de dirigir, desde uma avaliação clínica, o CPEM realizou

uma pesquisa com 124 clientes que forneceram autorização para análise dos

dados coletados com eles. Graças a isso, pôde-se traçar um perfil fidedigno de

um padrão comportamental típico das pessoas que se queixam dessa Síndrome.

Foram utilizados como instrumento de coleta, então, além da avaliação clínica,

dois inventários: o de Medos, proposto por Wolpe (1976), e o Histórico de Vida,

proposto por Lazarus (1977). __________________ 4 Publicado anteriormente em 1996 e 1999.

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Dos 124, a maioria é constituída por mulheres; apenas 4 são do sexo masculino.

Todos são adultos, com idade variando de 21 a 76 anos, mas cuja média fica

por volta dos 40 anos. Desses, 66,6% são casados (entendendo-se por casado

qualquer relação em que o casal coabite debaixo do mesmo teto). A profissão e

a escolaridade também têm ampla diversidade , desde faxineira, salgadeira e babás

(com 1o grau) a advogados, jornalistas, professores universitários, médicos ; desde

aquelas que se formaram e deixaram de exercer a profissão após o casamento e

que se intitulam “donas de casa” até aqueles que têm pós-graduação e o

reconhecimento do mercado de trabalho. Noventa e cinco por cento deles têm o

carro e os que ainda não, já providenciaram poupança ou consórcio para fazê-lo.

Quanto à habilitação, 88% já a possuem e o tempo decorrido entre tirar a

habilitação e deixar de dirigir varia de 2 a 31 anos.

No inventário de Medos, os resultados mostram que para essas 124 pessoas, além

de se queixarem de temer dirigir, sentem aversão por: falar em público, 69,2%; ser

dominado, caçoado, ignorado, cheirar mal, rir ou chorar sem controle, 76,9%; ser

desaprovado, fracassar, parecer bobo, 85,3%; sentir-se rejeitado, pessoas que

maltratam outros, 92,4 % e perder o controle, cometer erros ou ser criticados ,

100%.

Do Histórico de Vida extraíram-se os seguintes dados em relação às alterações

autonômicas ou cognitivas: dores de cabeça, problemas estomacais e ou intestinais,

sentimento de covardia, 38,4%; aceleração cardíaca, tristeza, insônia, fadiga,

sentimento de inferioridade, 53,8%; solidão, timidez, terrores, sensação de

incompetência, suor excessivo nas mãos, conflito e culpa em relação ao dirigir,

61,5%; raiva e tremores nas mãos e pernas, 69,2%; ansiedade geral, 92,2% e

tensão muscular, 100%.

Os dados obtidos na pesquisa podem servir de auxílio na elaboração da análise

funcional (ou diagnóstico clínico) que irão permitir o sucesso na intervenção

terapêutica.

2. Análise Funcional

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Quando a pessoa procura o CPEM , via de regra o faz porque acredita que sua

queixa, de algum modo, está relacionada com medos. Mas qualquer que seja a

queixa, faz-se indispensável a operacionalização daquilo que essa pessoa relata.

Nesse momento, já se iniciou uma ANÁLISE FUNCIONAL, como a proposta por

Skinner. Há várias formas de proceder tal análise. Mestre (1991) descreve um

modelo por ela adaptado, em que obedece ao paradigma:

SD/∆∆∆∆ R K C

A contingência de três termos (Skinner, 1978) foi proposta como expl

controle da emissão do comportamento humano. Bernardes e

apresentam esse tipo de controle como as causas de ma

comportamento. Mestre (1991) diz que o primeiro passo é desc

comportamento se fala, antes de se poder saber o que o controla

comportamento que trouxe o cliente até a clínica, é sua queixa, o seu

pedido de ajuda que vem tateado de “n” formas. Nem sempre o rep

do cliente é claro a ponto de ao relatar se fazer compreender, nem

quase nunca) o repertório verbal do cliente é o mesmo do terap

requer-se que o terapeuta operacionalize a fala do cliente de mod

seu mando, que pode ocorrer por déficit ou por excesso comportamen

da SCG, quase sempre ela vem explícita , isto é, a pessoa chega se

que não consegue dirigir e isso é dito de uma forma que vem

sofrimento, com uma autocrítica que anula toda sua competência n

seu repertório e que só enxerga aquilo de que não é capaz, emb

primeira sessão evidenciem-se fatos em que se destacaram ou pela

pelo desempenho social. A análise continua com investigação do co

queixa (não dirigir) se insere.

S +/-

S +/-

S a

icação para o

Mayer (1982)

nutenção de

obrir de qual

, e R é o

mando , seu

ertório verbal

sempre (ou

euta, portanto

o a entender

tal. No caso

queixando de

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o restante de

ora desde a

profissão ou

ntexto onde a

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Faz-se necessário descobrirem-se as causas de manutenção dessa classe de

respostas que constitui a queixa. O S refere-se aos estímulos discriminativos que

o ambiente (interno ou externo ao organismo) controla de modo antecedente à

emissão dessa queixa e a eliciação de sentimentos correlacionados a ela. Por

exemplo, pode-se perguntar quais os sinais do ambiente que levam o sujeito da

ação ficar sob esse tipo de controle? Por exemplo, o que estava acontecendo com

a pessoa quando ela procurou ajuda?

O C significa as conseqüências que podem ocorrer de forma imediata ou em

médio e longo prazo após a emissão da resposta. Faz-se necessário descobrir quais

os ganhos e quais os custos dessa resposta. Os ganhos por inclusão, os

reforçadores positivos, pessoais ou sociais; os ganhos por exclusão, ou os

reforçadores negativos; esse comportamento como um todo afasta estimulação

aversiva? Mas sabe-se que é impossível ter ganhos sem custo, e sabe-se também

que a pessoa só procura ajuda quando esse custo for maior que os ganhos. Então

resta descobrir : quais são os custos que o cliente vem pagando? De que forma?

Será que, ao reduzir os custos , ele também não perderá os ganhos?

São ainda Bernardes e Mayer quem apontam para outro tipo de causa que se

deve ter em conta numa análise funcional. Trata-se das causas de origem. É

importante descobrir quem é essa pessoa que fala. Quais são os seus valores? No

que ela acredita? O que ela pensa e sente sobre si mesma e sobre o mundo?

Essa é a tarefa a ser feita na análise do O . Quais são suas características

biofísicas? Apresenta algum déficit orgânico? Quais são suas características? Aqui

é que a pesquisa realizada pelo CPEM pode auxiliar, na medida em que o

portador da SCG tem apresentado o padrão descrito; se o cliente em pauta

apresentar padrão similar, pode-se pensar em que ele feche o quadro característico

da Síndrome.

Por fim, resta investigar sua história, que, segundo Skinner (1981), deve ser

analisada desde três aspectos: filogenético ou o da evolução da espécie, que contém

a seleção natural que alguns comportamentos sofreram e que cumprem funções de

sobrevivência para o ser humano; a história pessoal (ontogenética) daquele que se

comporta: quais os esquemas de reforços e punições ao longo de sua vida?

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Quem foram os agentes dessas conseqüências passadas?; e a história do grupo

social: quais são os valores do grupo cultural ao qual o indivíduo pertence? Que

tipo de controle esse grupo exerce sobre o comportamento dessa pessoa? No

paradigma é a letra K, que segundo Keefe e colegas (1980) diz respeito ao meio

ambiente , o qual é uma constante na vida de todos os humanos. De novo a

pesquisa confirma os achados clínicos do CPEM. Os aspectos histórico-culturais

do cliente que apresenta a SCG corresponde à hipótese das causas geradoras que

aparecem em cada caso: considerando que a maioria das pessoas estão na média

dos 40 anos de idade e que o avanço tecnológico só nos últimos 10 anos

permitiu que a classe média pudesse ter mais de um carro, então havia uma

realidade de que as contingências de haver mulheres dirigindo era muito pouco

provável; também via de regra , vêm de uma estrutura familiar tradicionalista em

que o homem comandava o lar. Dentro dessa estrutura não lhes foi dado

“treinar” a psicomotricidade com brincadeiras que lhes desenvolvesse a

lateralidade, a orientação temporo-espacial e dissociação dos membros entre si,

habilidades essas necessárias a um motorista. Além disso, sua auto-estima foi

baseada na percepção que o ‘outro’ faria de si.

Quando se investigam esses dados, tem -se uma idéia do que é a queixa e o que a

controla; quem é a pessoa que se comporta e seu meio ambiente, pois quando

um comportamento se altera, modifica-se também as relações da pessoa com seu

meio.

Os instrumentos utilizados pelo CPEM para realizar tal avaliação são:

a) a Entrevista Clínica (Silvares e Gongorra, 1998), que ocorre num processo

contínuo ao longo da terapia e que é utilizada tanto na obtenção de dados,

como instrumento de observação e inquérito, como instrumento de persuasão e

mudança comportamental;

b) o Histórico de Vida do modelo de Lazarus (1977) e que o CPEM adaptou

após conhecer o perfil do fóbico que nos procura. Por exemplo, nele incluem-se

perguntas sobre ter ou não carteira de habilitação e há quanto tempo, se houve

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ou não “reciclagens”1 e frases inacabadas que revelem a existência ou não de

características do perfil descoberto pelo CPEM;

c) o Inventário de Medos, (o modelo encontrado em Wolpe , 1976) também

adaptado pelo CPEM. Quando o cliente assinala valor 4 e/ou 5, pede-se a ele que

sinalize na linha ao lado, qual o sentimento e/ou pensamento que ele tem a

respeito do item. Isso ajuda na demarcação dos temas fóbicos;

d) outro instrumento usado é o que o CPEM denomina de “Videograma”. O

material utilizado é composto de : folhas de sulfite e caneta ou lápis colorido.

Pede-se para a pessoa imaginar o “filme de sua vida” e quais são os pontos que

ela considera que são marcantes. Tanto os bons quanto os “não- bons”. A pessoa

deverá escolher uma cor que gosta para as coisas boas e uma cor que não gosta

para as “não-boas” . O desenho será feito com duas linhas quebradas em “picos”.

A linha superior contendo as coisas boas que já lhe ocorreram. A linha inferior

contendo os picos inversos das experiências que ela julga desagradáveis. Pode

ser feito em uma só folha, como pode-se utilizar mais de uma. Pode ser feito

dentro da sessão ou como tarefa de casa. O objetivo é auxiliar a visão do todo,

pela própria pessoa. Uma segunda parte desse instrumento é fazê-la refletir de

forma simbolizada no desenho, sobre suas metas, a curto, médio e longo prazo.

Nesse momento, alguns encobertos podem ser revelados: por exemplo, aparecerá

o motivo da consulta? Veio para dirigir e não o menciona como meta.

Após investigar-se tudo isso e descobrir o perfil do cliente em particular e se ele

se encaixa no perfil do fóbico de modo geral, é que então se pode pensar em

um plano terapêutico.

3. Plano Terapêutico

No caso do fóbico, se constatado que esse é do primeiro grupo, de reação a

acidentes traumáticos, pode-se pensar em tratá-lo com Dessensibilização

Sistemática, como proposto por Wolpe (1976).

Caso faça parte do segundo grupo (sem causa aparente) e não se enquadre no perfil

________________ 1 Reciclagem é o termo usado quando alguém já tem a carteira de habilitação e precisa repetir aulas de volante. O CPEM optou por usar este termo para todas as fobias que utilizem auxílio técnico de outros profissionais.

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psicológico, é conveniente desistir de Dessensibilização e tentar outras

estratégias, e aí cada caso será único e dependerá da habilidade do terapeuta

em criar alternativas ao tratamento.

Mas caso ele encaixe-se no segundo grupo e possua as características do perfil

fóbico delineado, principalmente os quesitos de ser detalhista, responsabilidade

aguçada e preocupação com o “ olhar” do outro , então pode-se pensar num

prognóstico favorável, caso utilize-se de Dessensibilização Assistemática (Variações

da Dessensibilização: Wolpe, 1976). Nessa forma de trabalhar, o terapeuta

aproveita constantemente as CRB2 (Kolemberg, 1997) para trabalhar mudanças

cognitivas, controle de contingências por conseqüências, treino assertivo e

aumento de empatia, além de análise de possíveis alternativas de solução de

problemas.

Os passos usados no Centro de Psicologia Especializado em Medos - CPEM para a

Dessensibilização Assistemática são:

3. 1. Treino em Relaxamento:

A ansiedade é uma constante na vida do fóbico e torná-lo menos ansioso é a

primeira necessidade do trabalho terapêutico. A adrenalina faz com que ele fique

numa prontidão de alerta que o impede de colocar-se sob efeito de contingências

que pudessem fazê-lo mudar suas antigas regras fóbicas. Quando se treina a

pessoa no relaxamento, ela começa a produzir, gradualmente, endorfinas endógenas

que bloqueiam a adrenalina e a pessoa permite-se entrar sob o efeito de novas

contingências, além de aumentar sua sensibilidade a tais efeitos.

Mestre (1979)6 adaptou o modelo de relaxamento de Jacobson (em Wolpe,

1976). Tal adaptação parte do pressuposto da lei da somação de subliminares de

Sherrington (em Millenson, 1975) , quer dizer, se o relaxamento muscular por si

só já é suficiente para produzir endorfinas, é de se esperar que o efeito seja

maior se somado a outros fatores de produção dessa mesma enzima. É sabido que

_____________________ 6 Mestre enquanto aluna de Psicologia fez adaptação como trabalho exigido para avaliação na disciplina de Psicoterapia Comportamental, a partir daí vêm aperfeiçoando tal adaptação a partir dos resultados relatados por seus clientes.

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a seleção natural dotou os humanos de algumas respostas reflexas de controle da

ansiedade: o velho “suspiro” é um exemplo disso. Quando se está triste, cansado

ou com medo, naturalmente o suspiro aparece; quando a emoção é a raiva,

aparece o “bufar” e a ansiedade que acompanha tais emoções tende a aliviar.

Então ensina-se ao cliente a suspirar enquanto procede o relaxar. Mas, outra

unidade é aí somada. Pede-se à pessoa que imagine um lugar seguro e agradável

para finalizar o exercício. Aí a idéia é retirada de Schultz ( em Wolpe 1976),

que pressupõe que quando as pessoas estão em lugares ou situações seguras elas

automaticamente produzem endorfinas e relaxam. Então a junção dos três

procedimentos, exercitados durante três semanas seguidas todo dia com repetição

de três vezes cada elemento, garantem o início do contracondicionamento com a

pessoa quase que completamente relaxada.

Com o passar do contracondicionamento, pode-se ir retirando o número de

exercícios. Na 4a semana, já pode se fazer duas vezes cada elemento do exercício

total; na 5a semana, uma vez cada elemento; na 6a semana, reduz-se para duas

vezes o exercício total; na 7a semana, uma vez semanal, e depois passa-se para

cada 15 dias, um mês e se a pessoa quiser conservar o efeito do relaxamento,

recomenda-se que o repita pelo menos uma vez cada elemento num período de

cada dois meses. O modelo usado é o descrito:

Relaxamento

1ª Parte: Respiração: imagine que seu pulmão contém um balão de “gás”, desses

de festa, e que ele vai até a barriga, você vai inspirar tentando encher o balão que

está na barriga para só depois encher o pulmão. (Ajuda se você colocar a mão

sobre a barriga, sentirá o “balão” encher e, ao suspirar, ajuda se você fizer

“barulho” com a boca como se fosse o esvaziar de um pneu).

A respiração deve acompanhar cada exercício, quando você inspirar, contrair;

quando expirar, relaxar. Inspirar. Expirar lentamente “até que o pulmão fique sem ar =

suspiro.”

2ª PARTE: fazer 3 x cada exercício

I. Mãos: Fechar fortemente ambas as mãos.Tencionar.

Abrir lentamente. Relaxar. Suspirar .

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II. Braços: Dobrar ambos os braços. Tencionar.

Abrir lentamente. Relaxar. Suspirar .

III.Ombros: Elevar os ombros em direção às orelhas. Tencionar.

Soltar lentamente. Relaxar. Suspirar .

IV.Pescoço: CUIDADO com torcicolos (vértebras) Giro Completo: Frente/

Direita/Trás/Esquerda. Suspirar.

V. Face: Faça uma careta bem forte, tencionar.Solte lentamente. Relaxe. Suspirar

VI. Pescoço: ( para lado oposto) Só um giro Completo. Suspirar .

VII . Tórax/Costas:

A) Dê um grande abraço em você mesmo .Tencionar. soltar lentamente. Suspirar .

B) “Estufe” o peito. Tencionar. Soltar lentamente. Suspirar .

VIII. Abdômen: Estufar a barriga o máximo que puder. Soltar lentamente. Suspirar .

IX Nádegas: Contrair as nádegas fortemente. Tencionar. Soltar lentamente. Suspirar .

X. Pernas/Pés:

A) Esticar suas pernas para a frente, apontar os pés p/ cima e contrair.

Soltar lentamente. Suspirar.

B) Esticar as pernas p/ a frente, aponte os pés p/ a frente ( pés de bailarina).

Soltar lentamente. Suspirar .

3a parte:

XI. Pensar num lugar seguro e/ou agradável. (cena segura) Suspirar.

A cena segura adequada ao cliente nem sempre é fácil de detectar, nem sempre

o que a pessoa julga agradável é seguro e vice-versa. É aconselhável pedir ao

cliente que a descreva com detalhes. Alguns chegam a trazer fotos, outros a

desenham (não esquecer que são detalhistas e se você apresenta uma descrição

que não corresponda ao que ele imaginou, isso pode ser um entrave ao invés de

ajuda).

Enquanto o treino no relaxamento prossegue, o terapeuta e o cliente começam

a focar o mando do cliente, fazendo-o relatar situações ligadas à fobia que

despertam o medo, e atribuindo valores a quanto de ansiedade elas provocam no

cliente. Aqui também o CPEM fez adaptações e se percebe a extrema importância

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do terapeuta estar atento às descrições do cliente evitando assim que a hierarquia

das situações geradora de ansiedade (que é única e própria de cada um) seja

ferida e todo o tratamento se perca.

3. 2. Construção da Hierarquia : Foco Fóbico

Em sessão, inicia-se uma lista – modelo com as dificuldades. Explica-se que

essa lista vai funcionar como um rascunho que a pessoa reformulará a cada vez

que lembrar de novos itens. Na sessão seguinte, a pessoa traz a lista e recebe

fichas catalográficas comuns, uma para cada item da lista. Como tarefa de casa

ela transcreverá em cada ficha o item e os sentimentos que a cena lhe desperta

quando ela imagina estar vivendo a situação. Na próxima sessão, terapeuta e

cliente procedem à avaliação em escala de Ansiedade. (Wolpe, 1976).

3. 3. “Treino Psicomotor”

Como essas pessoas de modo geral não submetem-se a contingências geradoras

de repertório comportamental, é comum apresentarem algum tipo de déficit motor,

não por algum tipo de deficiência perceptual ou habilidade motora, mas por falta de

treino, puro e simples. No caso da Síndrome do Carro na Garagem algumas

estratégias são necessárias: orientação temporo-espacial, dissociação de membros,

atenção diferencial a estímulos do trânsito ao invés do “olhar” do outro. Aí cabe à

criatividade do terapeuta montar estratégias específicas para cada cliente.

3. 4. Contra-condicionamento

Quando o relaxamento já está fazendo efeito (e isso pode ser medido pelo relato

de um sono melhor; de mais calma em situações de stresse de ordem diferente da

queixa; de melhor capacidade de raciocínio; de diminuição de tensão muscular;

de um melhor conhecimento de seu próprio corpo), e a construção hierárquica já

foi concluída, pode-se pensar em começar a quarta fase, que é subdividida em 3

etapas:

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16

3. 4 . a . Contra - condicionamento IMAGINÁRIO

Nessa fase induz-se a pessoa a relaxar e apresenta-se cada cena da hierarquia,

passo a passo. Aqui o cuidado anterior com a construção hierárquica é

fundamental, para não apresentarmos situações de maior ansiedade do que o

relaxamento pode controlar. As paradas, intercaladas em cada sessão, se fazem

importante porque é comum nessa fase surgirem encobertos dos quais o cliente

não havia se dado conta e que fazem parte de seu quadro fóbico.

Quando nessa fase o cliente relata não sentir mais ansiedade, é sinal de que

está pronto para a próxima etapa.

3. 4 .b. Contra-condicionamento SIMBÓLICO

Nessa, dependendo do foco fóbico, adaptam-se situações simbólicas (às vezes

concretas) àquilo que desperta o medo. No caso do dirigir pode-se usar um

simulador de direção, com ou sem filmes de trânsito, ou, na falta de um

simulador, pode-se usar um carro desligado.

Para medo de injeção, utiliza-se no CPEM, um “kit” contendo seringas e agulhas

de injeção, garrotes, agulhas de costura para o início; após o uso do “kit” pode-se

usar um filme com cenas graduais de injeção diferentes (muscular, intravenosa,

intradérmica);

Para medo de dentista, também se utiliza um filme especialmente criado para essa

fase. Para cada medo, criam-se instrumentos que de forma simbólica permitam a

exposição gradual do sujeito ao perigo potencial.

3. 4. C. Contra – condicionamento com EXPOSIÇÃO AO REAL:

“RECICLAGEM”

Essa última fase é quando passo a passo a pessoa é exposta ao foco fóbico.

Também aqui há três fases:

c1. Com presença de pessoa de segurança: essa pessoa é escolhida dentro da

realidade de cada caso: fobia de dirigir: instrutor de auto escola; fobia de injeção:

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terapeuta e técnico de laboratório; de dentista: terapeuta e dentista; de aviões ,

elevador, lugares altos e/ou abertos: alguém da família, amigo ou terapeuta.

c2. Sozinho, com meia independência: a pessoa de segurança está por perto mas

não junto;

c3. Sozinho.

A alta ocorre quando a pessoa considera ter atingido seus objetivos, mas

sempre deverá ter um acompanhamento por parte do terapeuta após a alta. O

CPEM tenta fazê-lo de modo sistemático pelo prazo de dois anos.

4. Conclusão

Trabalhando com fóbicos do dirigir, as autoras se viram obrigadas a ampliar seu

conhecimento de uma realidade social que é o trânsito, contexto onde ocorre o

drama do cliente que procura o CPEM. Nesse estudo, o que se encontrou foi

que esse é o maior e mais complexo ambiente democrático que o homem

ocupa7. Lá está o médico, o estudante , a feirante e o mecânico, o pós-graduado e o

analfabeto, o bombeiro e o bandido, o velho ancião e o jovem que recém tirou a

carteira, a pessoa pacata e feliz e o ansioso e beligerante. O que tem medo e o

que precisa fazer direção defensiva.

Para inserir no trânsito a pessoa com fobia foi necessário estudá-la. Foram constatados

três tipos básicos de comportamento neste espaço. os cautelosos são pessoas que

respeitam as normas de conviver e consideram o espaço do outro, da mesma maneira

que cuidam do seu; os conhecidos como donos do mundo: eles são briguentos ,

agitados, reclamões e agem como se os outros motoristas não soubessem nada e tudo

tivesse que girar em torno deles; os de comportamento encoberto: estes

comportamentos se verificam com pessoas que parecem adequadas no trabalho ou na

família. Porém, no trânsito se transformam, por não conseguirem se posicionar por elas ________________________

7 Corassa (1996, 1998 e 2000)

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mesmas, necessitam se fazerem fortes através de algo, geralmente para compensar uma

insegurança ou um sentimento de inferioridade. Agora imaginem-se os horários de

pico, como levar os filhos para a escola ou ir para o trabalho, em que vão junto

consigo os valores de sua família de origem , vão também suas preocupações com

a família atual. Seu lado profissional também estará aqui presente: é ele (a)

alguém que sente prazer ou tédio naquilo que exerce como ganha-pão? Como

está ele(a) administrando sua casa dentro da pós-modernidade em que os papéis e

funções masculina-feminina passam por transformações que geram crise, nem

sempre percebidas como crescimento? Sobra tempo na correria da vida, para

esse(a) motorista cuidar de si ? Do ponto de vista estético e da saúde? Não é

ele(a) alguém estressado por tantos afazeres? Onde anda o tempo para o lazer?

E o afetivo? Como anda a expressão das emoções pela pessoa amada (filhos,

namorados, pais, amigos)? O motorista ou o pedestre é alguém com todas essas

áreas do “ser pessoa” funcionando enquanto o trânsito corre.

Ao realizar a pesquisa, as autoras tinham como hipótese, baseadas em suas

observações clínicas, de que tais pessoas tenham desenvolvido tais características

ao longo de uma aprendizagem de fuga e ou esquiva do imprevisível e

incontrolável, através de uma auto-exigência que modelou um repertório de

comportamentos com desempenho dentro de padrões de perfeição. Os

comportamentos em que se percebem como fora desse padrão de aprovação,

tornam-se foco de evitação (é o caso do dirigir). À medida que o custo da fuga-

esquiva torna-se socialmente inviável, elas entram em conflito e buscam formas de

adaptação.

A hipótese então é a de um perfeccionismo antecedendo a fobia e ambos como

parte de uma cadeia de comportamentos modelados.

Ter presente esse padrão comportamental na análise funcional permite a

construção de plano terapêutico mais eficaz e personalizado. E os achados do CPEM

têm sido de ajuda também para entender o trânsito e colaborar para torná-lo melhor.

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19

O modo como o CPEM vem fazendo tal análise funcional e a proposta

terapêutica para casos de SCG devem, no entanto, ser adaptados a cada cliente e

suas necessidades.

Os achados do CPEM têm sido de ajuda também para entender melhor o

trânsito e colaborar para torná-lo melhor.

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