A Metodologia da Problematização em três versões no contexto da didática e da formação de...

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Metodologia da Problematização, Navas Berbel

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    O foco deste artigo a Metodologia da Problematizao com o Arco de Maguerez situa-se no mbito da Didtica, tendo em vista a formao de professores. Isso porque se trata de uma metodologia de en-sino (com pesquisa) bastante promissora, por suas caractersticas, para o desenvolvimento de futuros prossionais crticos e criativos, quando sensibilizados para uma atuao consciente, informada e consequente em seu meio, desde os momentos de sua formao.

    O contato inicial com o Arco de Maguerez se deu por meio de Juan Diaz Bordenave e Adair Martins Pereira, em seu livro Estratgias de ensino aprendizagem, e que foi por mim utilizado pela primeira vez em 1992, como caminho metodolgico em um projeto especial de ensino na rea da sade, na Universidade Estadual de Londrina (UEL).

    Em meu modo de entender e tal como o tenho utilizado a partir de 1992, as aes para o desenvolvimento do processo partem de um re-corte da realidade, associada temtica a estudar. Da observao analtica e crtica dessa parcela da realidade extrado um problema relevante para o estudo. Seguem-se as denies dos aspectos do problema a estudar, o estudo propriamente dito de tais aspectos, que preparam para as ltimas etapas, das hipteses de soluo e da aplicao de uma ou mais dessas hi-pteses na realidade de onde se extraiu o problema. Tal processo tem sido descrito e divulgado em diferentes oportunidades, no detalhamento de suas caractersticas e de sua utilizao, com diferentes objetos de estudo associados aos elementos da Didtica e da formao de professores.

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    Sentindo a necessidade de uma explicao terica para fun-damentar o esquema do Arco para alm de seu anncio no livro de Bordenave e Pereira (1982), j que no tinha notcias da parte de seu idealizador Charles Maguerez , passei a associ-lo com o conceito de prxis, depois com os ensinamentos de Paulo Freire e tambm com caractersticas da dialtica.

    Paralelamente adeso intelectual e afetiva no sentido de va-lorizar o seu potencial em relao Metodologia, havia, pois, uma gran-de inquietao em conhecer as origens do Arco e seus fundamentos te-ricos. Empenhei-me, ento, a partir de 2009, em aprofundar ainda mais o conhecimento a respeito dos fundamentos dessa metodologia. Traduzi essa necessidade num problema a investigar, orientado pela seguinte questo: levando em conta as caractersticas do Esquema do Arco, de Charles Maguerez, o que o fundamenta? Que teorias da educao e/ou concepes de

    conhecimento pode melhor explic-lo? Para o estudo, entre outros objetivos que fazem parte de anlise

    que no ser aqui apresentada em sua totalidade, busquei delinear as ca-ractersticas bsicas do Arco de Maguerez e as explicaes iniciais de que dispunha, como ponto de partida para o estudo. Busquei identicar por meio desse estudo, entre as teorias da Educao, as que se apresentam mais prximas das caractersticas da Metodologia da Problematizao (M.P.) e em que referncias se apoiam tais explicaes, alm de estabe-lecer as possveis relaes entre tais referncias e as caractersticas do Esquema do Arco de Maguerez.

    Utilizei para o estudo como um todo, como mtodo de investi-gao, os trs graus ou momentos de elaborao, conforme Karel Kosik (2002), assim sintetizados:

    < minuciosa apropriao da matria, pleno domnio do material, nele includos os detalhes histricos aplicveis, disponveis; < anlise de cada forma de desenvolvimento do prprio material; e < investigao da coerncia interna, ou da determinao da uni-dade das vrias formas de desenvolvimento.

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    Na primeira parte do relato de pesquisa, da qual lancei mo para

    as consideraes que passo a apresentar, descrevo as trs verses de expli-

    cao para o Arco de Maguerez que identiquei:

    1) O Arco explicado por Charles Maguerez (1966, 1970);

    2) O Arco de Maguerez na segunda verso de explicao e uso, por

    Bordenave e Pereira (1982); Bordenave (1989; 1998);

    3) O Arco de Maguerez utilizado na Metodologia da Problema-

    tizao, como o terceiro exerccio de explicao (BERBEL, 1995,

    1996). Com isso, desenvolvi parte do primeiro momento de in-

    vestigao proposto por Kosik e alcancei o primeiro objetivo es-

    pecco do estudo, conforme detalhado a seguir.

    O Arco de Maguerez em suas trs verses de

    explicao: esclarecimentos iniciais

    Como j dito anteriormente, meu primeiro encontro de traba-

    lho com o Arco ocorreu em 1992, ao utilizar o livro de Bordenave e Pereira

    (1982), cuja primeira edio data de 1977. Na sequncia, acessei outro

    texto de Bordenave (1989), mais sinttico, mas ao mesmo tempo comple-

    mentar em relao a alguns aspectos do tratamento do Arco de Maguerez

    no livro, relativos s implicaes/consequncias de seu uso.

    Trabalhei durante vrios anos, buscando elaborar a compreen-

    so do processo, que acabou ganhando alguns toques especcos oriundos

    de minha leitura e interpretao particulares. Em 2003, tive acesso a parte

    de um relatrio assinado por Maguerez, em 1970, para a Coordenadoria

    de Assistncia Tcnica Integral (CATI), da Secretaria da Agricultura do

    Estado de So Paulo, no qual descreve a sua proposta.

    Percebi, naquele momento, que me encontrava diante de trs

    verses de entendimento do Arco: a de seu autor Maguerez , a de

    Bordenave e a de Berbel. Cerca de seis anos depois, conheci um livro de

    Maguerez publicado em 1966. Tive, ento, uma fonte mais remota, que

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    me possibilitou outra viso da origem do Arco e de sua aplicao, que na-quele momento inicial fora junto a uma populao distinta da descrita no relatrio de 1970. Um ponto comum, no entanto, que permeia as verses explicativas, o seu uso como caminho metodolgico voltado para a for-mao prossional, inicial ou continuada.

    Elegi ento, para apresentao dessas descobertas e suas anli-ses, o critrio de cronologia, no do meu contato, mas da existncia desse objeto de estudo o Arco de Maguerez , estrutura bsica orientadora do caminho que denomino, desde 1994, de Metodologia da Problematizao.

    Assim, passei a analisar, em primeiro lugar, o que descobri por ltimo o texto (livro) escrito por Charles Maguerez, de 1966, em que relata a experincia de cerca de seis anos utilizando a sua proposta de for-mao. Nesse caso, de prossionais adultos analfabetos para o trabalho em minas de carvo ou de petrleo, na agricultura ou na indstria, em pases em desenvolvimento, ou recm-ingressos no grupo de pases independen-tes, que envolvem a Europa e pases da frica. Na sequncia, analiso uma parte de um relatrio concludo em 1970, pelo prprio Maguerez, como resultado de uma consultoria prestada no Brasil, que teve como alvo um diagnstico do treinamento de tcnicos agrcolas do Estado de So Paulo. Essas duas fontes de informaes compem a primeira verso de explicao para o Arco de Maguerez, por Maguerez, que hoje se pode conhecer.

    Para a segunda verso de explicaes do Arco, analiso elemen-tos extrados de trs fontes. A primeira o livro de Bordenave e Pereira Estratgias de ensino/aprendizagem , cuja primeira edio ocorreu em 1977 quando o Arco de Maguerez veio a pblico para os prossionais da educao e /ou da formao de professores. Nessa obra, os autores descrevem a apli-cao do Arco na elaborao de textos com contedos didtico-pedaggicos que utilizaram em cursos de especializao para prossionais da agronomia e outros, que se preparavam para a docncia no ensino superior. Textos e atividades so descritos pelos autores e aqui sintetizados os aspectos que mais diretamente atendem aos meus objetivos e objeto de anlise.

    Na sequncia, analiso caractersticas de um segundo texto que vem assinado por Juan Diaz Bordenave (1989), no qual ele prprio se

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    encarrega de salientar aspectos do Arco que devem interessar aos que dele fazem uso como caminho metodolgico de formao prossional. Constatei que algumas alteraes vo ocorrendo entre a proposta primei-ra e a sua utilizao pelos autores desses dois textos e as explicito. Como terceira fonte, apresento um relato de alguns fragmentos histricos a res-peito de como Juan Diaz Bordenave se envolveu com o Arco de Maguerez, extrados de apontamentos de uma palestra feita por ele, atendendo a meu convite, em 1998, e que me foram disponibilizados. Essa terceira fonte bastante elucidativa de aspectos que fazem parte de minhas inda-gaes sobre suas elaboraes.

    E chego terceira verso de explicaes para o Arco de Maguerez: a de Berbel. Na busca de compreender o Arco e contribuir para a com-preenso do Arco por outros prossionais da educao, que atuam ou preparam-se para isso, fui procedendo leitura e releitura do processo e associando-o a ideias de autores que pareciam satisfazer parte de mi-nhas inquietaes por respostas a uma lacuna at ento percebida quanto aos fundamentos tericos dessa proposta. Nesse sentido, num primeiro artigo, intitulado Metodologia da Problematizao: uma alternativa meto-dolgica apropriada para o ensino superior (BERBEL, 1995), apresento, en-tre outros aspectos, uma comparao entre o Mtodo de Resoluo de Problemas e a Metodologia da Problematizao com o Arco de Maguerez. Essa anlise comparativa foi exposta antes em Berbel (1994) e aprofun-dada em artigo na revista Interface (BERBEL, 1998c). Em seguida, trago aspectos de duas associaes realizadas, uma com a noo de prxis, a partir de Adolfo Snchez Vsquez (BERBEL, 1996, 2007), outra com as ideias/ensinamentos de Paulo Freire (BERBEL, 1999), autor este indicado em primeiro plano no livro de Bordenave e Pereira, quando introduzem sua obra e apresentam o Arco de Maguerez.

    Entre meu primeiro contato com o Arco de Maguerez em 1992 e esta proposta de investigao para conhec-lo com mais profundidade em seus fundamentos epistemolgicos, fui utilizando a Metodologia da Problematizao em minha prtica docente, orientando trabalhos/estu-dos na disciplina Didtica e fundamentos do ensino superior e em minha

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    prtica investigativa e de orientao de pesquisa de meus alunos. A cada novo texto escrito e divulgado, sempre sintetizo algumas ideias bsicas a respeito das caractersticas de suas etapas e de seu signicado, buscando avanar um pouco em termos da compreenso de seu potencial pedaggi-co. Com isso, a terceira verso de explicao para o Arco e para sua utiliza-o foi se fortalecendo.

    Esse conjunto de verses explicativas, construdas e reconstru-das em torno do Arco, e alguns apontamentos que vou fazendo quanto aos aspectos de aproximao e afastamento entre as trs verses, perce-bidos na (re)leitura dos mesmos, constituem o foco do estudo realizado e aqui sintetizado neste artigo.

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    2) oferecendo-se um ensinamento global e integrando-se a aquisi-o da lngua, da sua leitura e de sua escrita, aprendizagem da imagem e do desenho, o ensino de conhecimentos gerais, tcni-cas, tecnologias, aritmticas e aprendizagens manuais, realiza--se uma transformao dos esquemas de pensamento, no senti-do favorvel promoo prossional;

    3) assegurando-se a realizao desse ensinamento global por um instrutor advindo do mesmo meio que seus alunos e de um nvel de instruo imediatamente superior, obtm-se uma maximiza-o da comunicao entre o monitor e o aluno.

    Ainda com relao ao monitor, este deveria ser formado como um ensinante, levando-o a adquirir previamente noes gerais que poderiam fazer-lhe falta. Para facilitar a tarefa do monitor, de uma parte, cada uma das sesses do programa (texto e meios pedaggicos) era estabelecida pre-viamente, em detalhes, e, de outra parte, buscava-se constituir pequenos grupos de alunos de caractersticas homogneas (MAGUEREZ, 1966).

    O formato do esquema de progresso pedaggica, citado por Ma-guerez (1966), apresenta um Arco, em que OR = Observao da Realidade, primeira etapa, seguida de OM = Observao da Maquete. A terceira eta-pa a de DS = Discusso [terico-prtica]. Depois vem EM = Execuo na Maquete e, por ltimo, ER = Execuo na Realidade.

    Tal esquema se repete no documento de 1970, de cuja anlise so percebidas indicaes de um trabalho muito mais centrado nos executores da proposta que em seus pblicos-alvo. Alm disso, as atividades propos-tas parecem muito mais informativas da parte dos monitores ou tcnicos e reprodutivas da parte dos aprendizes, que re*exivas por estes ltimos, distanciando-se das aplicaes que teOIP buscado realizar e orientar por meio da utilizao do Arco, seja no ensino, seja na pesquisa, e tambm da segunda verso de uso e explicao, com Juan Daz Bordenave.

    A anlise da segunda verso de explicao realizou-se princi-palmente por meio das trs fontes impressas, j mencionadas. No livro Estratgias de ensino aprendizagem, assinado por Bordenave e Pereira (1982),

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    encontra-se o Esquema do Arco que viria a utilizar depois, com pequena alterao em seu desenho. Nesse esquema, as etapas so: Observao da realidade e elaborao do problema; Pontos-chave; Teorizao; Hipteses de soluo; Aplicao realidade. Observei uma adaptao do Arco origi-nal, sendo que a segunda etapa, de Observao da maquete, passa para Pontos-chave. A terceira etapa permanece de Discusso, ento, dos pon-tos-chave, e a quarta etapa, antes de Execuo na Maquete, passa para Hipteses de Soluo, o que se justica pela alterao de pblico-alvo. Bordenave e Pereira iniciaram seu uso do Arco para a formao continuada de prossionais j graduados, para prepar-los para a docncia.

    Em 1989, num texto assinado por Bordenave, o autor compara trs pedagogias: a da transmisso, a do condicionamento e a da problema-tizao, e traz outras explicaes para o Arco. Em 1998, a terceira fonte foi um texto com apontamentos para uma palestra que Bordenave proferiu na UEL como convidado e na qual tratou do Mtodo da Problematizao: fundamentos tericos e aplicaes no ensino superior. Tais apontamentos me foram disponibilizados e nele identiquei um relato de como foi o encon-tro de Juan Diaz Bordenave com o Arco de Maguerez e seu modo de lidar com ele.

    Com a anlise do terceiro texto de Bordenave, cou bastante evidente um misto de in*uncias tericas que marcam seu trabalho em relao ao Arco de Maguerez. Mencionou as ideias de Paulo Freire, algu-mas ideias de Jean Piaget, o acesso que teve ao que compreendeu como trs expresses do construtivismo:

    < a aprendizagem por descoberta, inspirada nas ideias de Jean Piaget; < a concepo sociointeracionista da aprendizagem sustentada nos estudos de Lev Vygotski e desenvolvida por Jerome Bruner; e < a aprendizagem signicativa de David Ausubel. Por ltimo, por sua armao, o prprio autor constatou que a educao pro-blematizadora encontrava fundamentao epistemolgica no pensamento dialtico.

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    A terceira verso de explicao para o Arco de Maguerez (BERBEL, 1995, 1996, 1998a, b, 1999, 2004) apoiou-se bastante em Bordenave e Pereira, inclusive na forma e elementos do Arco. DepoJs ganhou nova con-sistncia terica e epistemolgica pela associao explcita do caminho metodolgico com o conceito de prxis e suas caractersticas, de Adolfo Snchez Vzquez (1977), e com ideias de Paulo Freire (BERBEL, 1999), apropriadas de alguns de seus livros (FREIRE, 1980, 1983). Percebia muita anidade com essas ideias, conjugando-as para ir caracterizando os usos e orientaes em minha prtica pedaggica e de orientao de pesquisa.

    A partir do contedo das trs verses explicativas para o Arco analisadas, foi possvel constatar, entre outros aspectos, que cada uma delas tinha uma populao-alvo diferente; que as trs verses apresenta-vam-se com preocupao pedaggica, de formao, de educao de seres humanos, com aes didticas distintas; que a problematizao ou a ela-borao de problemas no estava presente na primeira verso do Arco, e as decises eram centradas nos elaboradores da proposta. J, na segunda verso, os problemas eram elaborados pelos professores/autores do livro, diferentemente da terceira verso, que pensada e utilizada para promo-ver esse aprendizado aos alunos. Nesse caso da terceira verso , os alu-nos so posicionados como protagonistas principais de todo o processo, desde a observao da parcela da realidade e denio do problema de estudo at a realizao de algum grau de interveno naquela parcela da realidade, com a nalidade de contribuir para a sua transformao. Foi possvel reconhecer que Maguerez buscava ultrapassar a concepo tradi-cional de formao, assim como Bordenave e Pereira, j que estes ltimos apontam para uma pedagogia e uma prxis problematizadora.

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    de seis anos com a formao prossional de adultos analfabetos, surpreen-deu-me sobremaneira, pois pude perceber que fui recriando um caminho que, apoiado no que foi apresentado por Bordenave e Pereira (1982), foi ganhando novas explicaes e signicados, diferentes da proposta original.

    Foi possvel conrmar que a populao alvo e a rea de atuao dos formadores a que se referia o trabalho de Maguerez no eram as da educao escolar. No entanto, a preocupao pedaggica estava presente, j que se tratava de um tipo de educao (no formal, no escolar, de cam-po, tcnica, entre outras caractersticas).

    Sabia que o Esquema do Arco havia sido emprestado/transposto da rea da Agronomia para a de formao de professores nessa rea e ou-tras, como Veterinria, Zootecnia e Engenharia Florestal, por Bordenave e Pereira. Descobri, no entanto, que, antes disso, nas suas origens pri-meiras, Maguerez construiu e aplicou o Arco para resolver o problema da formao prossional de adultos analfabetos. Com isso, superou propos-tas que se apropriavam, para esse tipo de pblico, de procedimentos uti-lizados com crianas na escola primria ou mtodos vlidos nos antigos imprios coloniais, como armou o autor, visando a contribuir para gerar possibilidades de promoo ulterior do pessoal assim formado.

    A proposta inicial consistiu de um processo bastante ativo e detalhadamente programado com antecedncia, para cada situao, de modo a ser conduzido por monitores. Inovador em vrios aspectos, com-parado com o sistema tradicional de formao, buscava garantir o sucesso dos seus objetivos pelos princpios elaborados e impregnados, para serem seguidos em toda a programao.

    Como j armado, reconheo todo o valor dessa proposta, que mostra ter uma base slida de conhecimentos da realidade focalizada e dos contedos a serem ensinados/aprendidos, alm de um percurso me-todolgico bastante vlido para fazer avanar o desenvolvimento de es-quemas de pensamento de seus aprendizes, iniciando pela observao at chegar execuo de aes relacionadas a determinados temas.

    Pude perceber que, embora pudessem estar implcitos no con-tedo e na forma de trabalhar, no se encontra no livro de Maguerez a

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    meno da formulao de problemas no processo com os grupos, seja pelos monitores, seja pelos aprendizes. Constatei tambm que nessa primeira verso de explicao do Arco, as decises eram centradas nos elaborado-res da proposta pedaggica de transferncia de tecnologia. Isso me sur-preendeu, contrariando minha expectativa, ao compar-la com as outras verses de explicao para o Arco de Maguerez.

    Hoje posso armar, portanto, que a congurao que vinha uti-lizando a que resultou da adaptao/reinterpretao do Arco feita por Juan Diaz Bordenave e no a transposio da congurao original de Maguerez. Mantendo alguns princpios propostos por Maguerez (1970), como participao ativa dos envolvidos e dilogo constante entre eles, re-gistrados no relatrio de sua assessoria no Brasil, e visando a responder ao desao de resoluo de problemas, Bordenave e Pereira (1982) tra-duzem os momentos da situao com tcnicos agrcolas para situaes de resoluo de problemas de ensino, por prossionais das cincias da terra que se preparavam para serem professores. Armam esses autores (BORDENAVE; PEREIRA, 1982, p. 10):

    a aprendizagem tornou-se uma pesquisa em que o aluno passa de uma viso sincrtica ou global do problema a uma viso analtica do mesmo, atravs de sua teorizao, para chegar a uma sntese provisria, que equivale compreenso. Dessa apreenso ampla e profunda da estrutura do problema e de suas consequncias, nascem hipteses de soluo que obrigam a uma seleo das mais viveis. A sntese tem continuidade na prxis, isto , na atividade transfor-madora da realidade.

    Destaco dessas explicaes os trs momentos signicativos de sncrese, anlise e sntese, que esto presentes na proposta de Maguerez (1970), embora ele tenha utilizado os termos tese, hiptese e sntese, quando armou: as duas primeiras fases representam a tese, a terceira a hiptese e as duas ltimas a sntese (MAGUEREZ, 1970, p. 62). Tais momentos so tambm destacados por Bordenave e Pereira e se mantm em meu trabalho, mesmo que no utilize essa nomenclatura.

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    Alm disso, destaco o realce da pesquisa como atividade essen-cial para a aprendizagem dos envolvidos: isso que passei a entender pela aplicao do Arco e sobre o que no encontrei nfase na proposta original, muito mais centrada na gura do tcnico, em seus conhecimentos e em suas decises.

    Maguerez chamou a ateno para a importncia de um esquema pedaggico e de um esquema de raciocnio para conduzir todo o processo. Bordenave e Pereira passam a considerar a importncia de pautar o processo num paradigma epistemolgico como orientador do trabalho do educador com seus alunos, mesmo que revisado constantemente, pelo confronto com o dina-mismo da realidade, possivelmente o paradigma epistemolgico dialtico.

    Aconselham ainda, estes ltimos, que o professor no se perca entre os aspectos especicamente didticos, esquecendo-se de seu papel de educador. Entendo que esse fato o que o levaria a olhar mais longe, para as nalidades e perspectivas mais amplas de sua atuao. Embora no muito explcitas, algumas caractersticas progressistas esto deline-adas no documento assinado por Maguerez em 1970 e outras mais so evidenciadas em Bordenave e Pereira, perpassadas, com estes, pela pro-blematizao dos temas em estudo e pela prxis transformadora.

    Do conjunto de indicaes pedaggicas extradas do Documento escrito por Maguerez (1970) e que davam sustentao proposta repre-sentada pelo Arco, alguns aspectos se mantm no que entendo e trabalho hoje. Por exemplo, a ideia de partir do concreto, caminhar para o abstrato e retornar ao concreto, sentido esse que anuncio com outras palavras: par-timos da realidade (observao da realidade), passamos por um amplo processo

    de estudo e re*exo (discusso sobre o terico e o emprico etc.) e retornamos

    para a realidade (execuo efetiva na realidade), com algum grau de interven-

    o. Nesse caminho, enfatizo a importncia da participao, do envolvi-mento dos grupos que se deseja atingir, seja em situao de ensino (com pesquisa), seja de pesquisa, com o mesmo princpio anterior, de partir da realidade concreta, vivida, para ento desencadear o processo de re*exo que culmina com alguma ao transformadora na mesma parcela da reali-dade tomada como ponto de partida.

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    Em Maguerez (1966, 1970), a quarta etapa era dedicada Exe-cuo da Maquete, que Bordenave transformou em Aplicao no Modelo, ou ao Teste de Hipteses, para denir a hiptese a ser aplicada na fase seguinte. Tenho explicado e realizado essa etapa de modo distinto, estimu-lando a elaborao criativa do maior nmero de possibilidades, de alter-nativas, de hipteses de soluo, dentre as quais sero selecionadas as que vo ser aplicadas realidade na ltima etapa.

    Outros aspectos foram sendo por mim reelaborados, a partir de meu entendimento inicial, e continuado pela minha re*exo sobre a prtica, in*uenciada por vrias crenas a respeito de como deveria ser uma forma ideal ou adequada de trabalhar com o Arco pedagogicamen-te, numa perspectiva crtica de formao de professores. Bordenave e Pereira se posicionaram muito mais prximos dessa perspectiva do que o fez Maguerez, no entanto justicava-se a busca de uma anlise mais profunda a respeito para trazer mais luz ao entendimento inicial do Arco, o que desenvolvo na segunda parte da investigao, a ser ainda divulgado.

    O mistrio a respeito das origens do Arco de Maguerez foi afasta-do. Novas explicaes foram construdas e, se Bordenave e Pereira deram um sentido novo para o Arco, aplicando-o na elaborao de material did-tico para a formao de professores, tambm realizei um processo de rein-terpretao da proposta de Bordenave e Pereira em vrios aspectos, cujo resultado o que hoje ensino. como tambm, oriento trabalhos e aplico em minhas pesquisas, ou seja, um processo de apropriao e (re)elaborao de uma proposta, enquanto dou a esta, na prtica, vida, principalmente na realizao e orientao de pesquisas (BERBEL, 2004) de temas da didtica e da formao de professores.

    Exemplo disso pode ser conferido em artigo de Colombo e Berbel (2007), em que se pode encontrar a descrio de cada etapa do Arco, regis-trando-se um passo a passo das aes a serem realizadas por participantes de estudos que seguem a Metodologia da Problematizao com o Arco de Maguerez. Nas aes de cada etapa, a nfase est no trabalho ativo do participante, posicionado como protagonista principal de todo o proces-so, desde a observao da parcela da realidade e denio do problema de

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    estudo at a realizao de algum grau de interveno naquela parcela da realidade, a m de contribuir para a sua transformao, como resultado do novo entendimento do problema pelo(s) sujeito(s) do estudo.

    Nesse percurso, o professor ou orientador assume um papel im-portante na conduo metodolgica do processo e no como fonte central de informao ou de deciso das condutas, a cada momento. O aluno ou o orientando em pesquisa quem deve aprender e desenvolver-se, sob a conduo do professor ou orientador. Isso requer do professor, que elege essa metodologia para o trabalho com seus alunos, uma intencionalidade clara e persistente, no sentido da formao, muito mais que da informa-o, que sempre se faz presente. esse o sentido pedaggico que propo-nho com a Metodologia da Problematizao com o Arco de Maguerez em processos de formao de professores, consciente de que se trata de um grande desao.

    Com aspectos como esses, portanto, fui distanciando-me da proposta original de Maguerez (1966, 1970) e tambm, de certa forma, da proposta de Bordenave e Pereira (1982), embora sempre reconhecendo sua in*uncia decisiva como fonte inspiradora de minhas elaboraes.

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    Recebido: 21/10/2011

    Received: 10/21/2011

    Aprovado: 10/12/2011

    Approved: 12/10/2011