À memória da minha querida amiga Eugénia Mota. Aos meus...
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memria daminha querida amigaEugniaMota.
Aosmeusfilhos:AnaseBernardo.
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NDICE
Dedicatria.....................................................................................................1
ndice................................................................................................................2
Introduo.......................................................................................................4
I.DagnesedoconceitosuaintroduoemPortugal..........................13
I.1.HistriaaoVivoemqueconsiste........................................................17
I.2.Asorigensdoconceito:ondesurgiu,emquecircunstncias,comque
motivaes......................................................................................................21
I.3.Comochegaatnsem1986...............................................................34
II. Primeiras intervenes de Histria Viva em Portugal: A aco da
APOM e de outras instituies precursoras na realizao de aces
baseadasnoconceitodeHistriaaoVivo.................................................41
III. A aco doGrupo deTrabalho doMinistrio da Educaopara as
ComemoraesdosDescobrimentosPortugueses..................................60
IV.Consolidaodeumaprticapedaggica.AHistriaVivaevoluo
doconceito....................................................................................................69
IV.1. Estratgias de Educao Patrimonial: A Histria Viva A Recriao
HistricaVisitascomOficina.........................................................................75
IV.2.OtrabalhodesenvolvidonoMuseudaCidadedeLisboa...................78
V.HistriaViva.Acriaodeumaindstria..............................................89
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V.1. Exemplo de uma empresa de animao cultural: A Cmara dos
Ofcios.............................................................................................................91
V.2. Companhia de Teatro Vivarte: actividades de reconstituio
histrica...........................................................................................................96
VI.Ofuturodoconceito:AHistriaViva....................................................98
VII.CasoemEstudo:HistriabrevedosServiosEducativosdoPalcio
NacionaldeQueluz:desdeosprimrdiosactualidade.......................122
VII.1.DuaspropostasdeprojectoscomrecursoHistriaVivaarealizarno
PalcioNacionaldeQueluz..........................................................................140
VII.1.1.DescobertadeumTema:AConchaRocaille............................140
VII.1.2. Representao do Quotidiano do Sculo XVIII nos Painis de
AzulejosdoCanaldeQueluz........................................................................143
Concluso...................................................................................................146
Bibliografia..................................................................................................150
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Introduo
O passado um imenso pedregal quemuitos gostariam de percorrer como se deuma autoestrada se tratasse, enquantooutros, pacientemente, vo de pedra empedra, e as levantam, porque precisam desaberoquehporbaixodelas.1
O presente trabalho centrase no estudo do conceito de Histria Viva:
origens, sua introduo em Portugal, primeiras intervenes, evoluo,
prticasactuaiseprojeces futuras,epor fimoestudodeumcaso:breve
histriadosServiosEducativosdoPalcioNacionaldeQueluz.
Tentaremos, no decorrer da dissertao, dar uma viso do percurso da
Histria ao Vivo em Portugal, desde a sua introduo, sob a aco da
AssociaoPortuguesadeMuseologiaem1986,at2009,anoemquenos
propomos concluir este trabalho de reflexo e de reunio da informao
existente sobre esta prtica. Apercebemonos que a documentao sobre
este tema, em Portugal, se observa escassa e muito dispersa e muitos
materiaisestodifceisdelocalizar,empartepornoteremsidopublicados,
ouporqueosqueforameditadosforamdistribudosemcontextosrestritos.
Atravs da realizao deste trabalho pretendemos sistematizar toda a
informao encontrada de forma a redigir um documento onde esta se
congregue, proporcionando um melhor conhecimento de um todo, a
possibilidade de reflexo sobre o temae seus fundamentos essenciais e o
renovardassuasprticas.
tambm nosso objectivo defender a importncia desta tcnica como
estratgiaadesenvolverpelasentidadesvocacionadasparaoensinoepara
adivulgaodopatrimniohistricoecultural:umdosmeiosaoalcancedos
serviosdeacoeducativa,entreoutrosrecursosdestinadosaospblicos
1SARAMAGO,Jos,AViagemdoElefante,Ed.Caminho,2008,p.35.
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dos museus, dos monumentos, das autarquias, incumbidos de divulgar
lugaresdememriapromovendoaculturadeumpascomoitodcadasde
Histria, com a dupla responsabilidade de a manter viva e ao alcance de
todossegundoospreceitoseorigorquelhesointrnsecas.
Aescolhadestetemafoibaseadaessencialmenteemduascircunstncias
precisas: o facto de termos trabalhado durante mais de dez anos nos
Servios de Educao e Extenso cultural do Palcio Nacional deQueluz,
onde desde 1989 foram postos em prtica projectos de animao cultural
baseados, inicialmente, no conceito de Histria ao Vivo sob motivao da
directora,Dra.SimonetaLuzAfonso.
Tendo trabalhado neste Servio entre 1991 e 2007 e feito parte da sua
coordenaodurantenoveanos,mantivemosumarelaodirectacomtodos
ospassosdesteedeoutrosmodosdetransmitiraHistria,desdequesurge
uma ideia, a partir de um determinado legado patrimonial ou de um facto
histrico que se pretende dar a conhecer, at avaliao e
consciencializaodasvalnciasdestemtododidctico.
Por outro lado, foi determinante para a nossa escolha o facto de termos
recebido,dasmosdaDra.ManuelaMota2,todooarquivoquetinhaemsua
posse sobre esta matria da introduo do conceito em Portugal, at ao
momento em que, difundida a tcnica da Living History aos muselogosportugueses e realizados muitos e diversos projectos nela baseados, se
considerou que estaramos em posse desta valiosa ferramenta de trabalho
para o ensino da Histria e divulgao do patrimnio histrico, cultural e
artstico.
Pretendemos, com o estudo a que nos propomos, sistematizar de forma
lineartodaainformaoquepossumoseaquelaondeestanoslevarda
gnese em Portugal evoluo do conceito, passando pela recolha e
organizao cronolgica das principais intervenes de Histria ao Vivo
realizadas sob orientao da APOM nos anos subsequentes ao da sua
introduo emPortugal terminando numa reflexo assente nos projectos
hoje realizadosemtornode lugareshistricos:osriscoseosbenefciosda
origem de uma indstria de lazer o trabalho de pesquisa histrica com os
2PresidentedaAssociaoPortuguesadeMuseologiaAPOM(entre1975e1991)eConservadoraPrincipaldoMuseuCalousteGulbenkian(entre1959e1991).
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museus e bibliotecase a defesadesta ideia enquanto actividade cientfica
terminandocomumareflexosobreohojeeofuturodaHistriaaoVivono
nossopas.
Propomonosassim,numprimeiromomento,reunirainformaoessencial
quetraaopercursodestatcnica,desdeassuasorigensemInglaterraat
sua introduo em Portugal: tendo como ponto de partida o Colquio
APOM/86 onde referida pela primeira vez em pblico a existncia da
tcnica de Histria ao Vivo seguindose o Colquio APOM/87 onde o
conceito divulgado a uma audincia mais alargada incluindo professores
queviriamautilizarcomdinmicaesta ferramentade trabalhoaexposioHistriaaoVivo:PropostasdeAnimaoCulturalsegundoaTcnicaLivingHistory, organizada pela APOM, de onde partiram uma srie de anteprojectos que viriam a realizarse primeira aco de Histria ao Vivo
realizadapelaAPOM:UmDiadePrimaverade1537naRibeiradasNaus,
realizadoem1988eporfim,comomeiodesistematizareregularasprticas
ataqui realizadas,acomunicaodeMariaManuelaMota:OMuseueo
Ensino da Histria3, que firmou esta tcnica de como ferramenta til na
divulgao do patrimnio ao servio de escolas, museus, autarquias e do
turismocultural.
AHistriaaoVivoummtododidcticocomumacomponenteldicaque
torna mais atractiva a assimilao dos conhecimentos que se pretende
comunicar.
Podemosconsiderarqueestatcnicadereconstituiodefactoshistricos
queconciliaoldicoeodidcticonoumaestratgianovanosentidoem
que foisendoutilizadaaolongodos temposcomfinsdistintos.Apreciemos,
por exemplo, certas festividades religiosas (que perduraram atravs dos
sculos), como a do Corpus Christi, que eram animadas com fingimentos,recorrendoafigurasquerepresentavamepisdiosbblicosquando,emcertos
momentos,erampostasemaco tambmfigurasmitolgicasealegricas,
onde o sagrado e o profano se confundiam. Estas personagens eram
3MOTA,MariaManuela,OMuseueoEnsinodaHistria,IXEncontrodeProfessoresdeHistria (CaldasdaRainha,15,16e17deMaiode1991):Comunicaes,Produzidopor:PatrimnioHistricoGrupodeEstudos,GrficadaPonte,CaldasdaRainha,1995,pp.99109.
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representadasporclrigosepelopovo:Desdemuitocedo,noentanto,queseentendeuestamanifestaoreligiosacomoumrepresentaoteatral,cujotemaseriaoTriunfodaFEucarsticasobreaheresia,ondetodososcrentespoderiam participar. Este facto foi muito bem aproveitado pelas massaspopulares catlicas que a transformaram no momento mais exuberante eextravagantedetodoocicloanualdasfestaslitrgicas.Aoparticiparnela,opovoaproximavasedirectamentedadivindade.Conviviamcomeladeformainteligvel, pois os ritos latinos das principais celebraes litrgicasprovocavamumcerto distanciamento entreDeus e os seus crentes.4 Noestar,tambmnestescasos,arecriaodeepisdiosbblicosaserutilizada
como mtodo pedaggico recorrendo a uma vertente ldica para melhor
entendimentoeproximidadecomessarealidadedosqueavivenciam?Posta
aoserviodaigrejaaolongodesculos,empocasemqueoanalfabetismo
no permitia ao grosso da populao ter conhecimento dos factos bblicos
seno atravs da oralidade, das artes plsticas e deste tipo de
representaesparateatrais,estatcnicadereconstituiodefactosmaisou
menos ficcionados, foi um mtodo eficaz para a propaganda e ensino da
religio catlica: A procisso, mais do que um momento de reflexo,assumiase, desde tempos remotos, como uma atraco, como umespectculo.(...)ParticipavamnelaaCmara,cidados,mesteresdacidade,membrosdocleroregularesecular,etc.,nofaltandoasdanas,invenes,autos,momices,truaniceseoutrasrepresentaes.5.Estas festas pblicas, cujas despesas eram suportadas em grande parte
pelos concelhos, eram orientadas pelas autoridades eclesisticas, pelos
representantesdosmesteres,pelosprincipaismembrosdosconcelhos,pelos
poder poltico e associaes particulares. Toda a cidade semobilizava em
funodeumespectculocujopalcoeraaprpriaruaeondeparticipavam
todosospoderesdanao.
MrioMartins nos seusEstudos deCulturaMedieval faz referncia a ummanuscritogtico,deautorannimo,datadode1435ondeseencontrauma
4Tedim,JosManuel,ArteEfmeraemPortugal,Lisboa,FundaoCalousteGulbenkian,2000,p.218.
5 Idem,p.217.
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descrio dos aprestos para a festa do Corpus Christi em Alcobaaobservandoseapreocupaocomos trajeseadereosautilizardurantea
cerimnia que passaremos a citar pela similaridade com os preparativos
usuaisnumaactividadedeHistriaViva:Em1435,oabadedeAlcobaa,D.Estvo deAguiar, ordenou quea festa doCorpusChristi fosse celebradanum domingo e no numa quintafeira. Mandou comprar a Leiria todos osjogosdestinadosprocisso (...):quatrocarasdeanjos,diademaseasastrs caras de patriarcas, diademase cruzespara osmesmosuma crocha,barba e chave para S. Pedro onze cabeleiras de apstolos, barbas ediademas para eles, alm dos instrumentos do seu martrio uma cara dediabo,vestidosparaele,botaseumacadeiadeferroumasayaebotasdeoutrodiabopequenoumaserpente,etc.6,seguindoseadescriodafestaedaspersonagens:Naprocisso,viamseanjosvestidosdealvas,cintos,amitos e dalmticas, com as suas caras e diademas. Nas mos tinhamalades.Ospatriarcasiamcomalvasecintaseamitosemanpulos,levandoasestolaslanadaspersobraodirecto.S.Pedro,dechavenamoecomasbarbas,hir revistidode todo, comoquandoquerdizeramissa.Quantoaosmais apstolos, de alva, cinto e amito, lanavam omanto por sobre oladoesquerdo,deixandoadescobertoobraodireito.Ev todoscomseusmarteirosebarbasediademas.S.Pauloempunhavaaespada,(...)esteheoregimentodadictafesta,emaisoutrosjogosmuitosquehih,quenonsomaqui scriptos porque se mudam cada huum anno.7. Observamos que jexisteaquiumembriodeproduo,feitapeloabadedeAlcobaa,porque
arecriaodecenasbblicas,ou,pelomenosdepersonagensdabblia,no
acontecedeformaimprovisada.Constataseapreocupaoemencomendar
os adereos que cada figura usar. Observase tambm que existe uma
indstriaqueosfornece,emLeiria,eocuidadoeminovaraapresentaode
muitosjogosdeanoparaano.
6 Martins, Mrio, O teatro litrgico na Idade Mdia peninsular, Estudos de CulturaMedieval, Lisboa, Verbo, 1969, p. 24, (excerto retirado de PEREIRA, Gabriel, TrechosPortuguesesdossculosXIVeXV,BoletimdaSegundaClassedaAcademiadasCinciasdeLisboa,t.5(Coimbra,1912),pp.330332).
7 Idem,p.2425.
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Osprocedimentosparaaorganizaodestetipodeiniciativasapresentam
se anlogas ao que nos nossos dias encontramos na preparao de uma
recriao histrica, participada pela comunidade de uma determinada
localidade.Tambmosobjectivosaquesepropemambasasiniciativasse
cruzamnosentidoemquerecorremaformasldicascomfimdidctico.So
umapelo e umamotivao ao conhecimento deumadeterminadamatria,
atravsdeimagensvivas,atractivasequefacilmenteperduramnamemria
dosqueasviveram.
Consideramosqueorecursoaestatcnica,quedvidaafactospassados
traduzidos numa apresentao a que podemos chamar recriao ou
reconstituio dosmesmos, um recurso que ao longo de centenares de
anostemvindoaserviranecessidadedeensinaredecomunicarfactos.
Temos observado que, tambm em cinema documental, em certos
programasde televisoaqueassistimos,porexemplodoCanalHistria,
se recorre a uma prtica similar: a recriao de determinados momentos
chaverepresentadosporactoresparailustrarfracesdopassadocomofim
deostornarmaisacessveisaosespectadores.
Estemeioaudiovisualtambmutilizadoemmuseus,monumentosestios
museolgicos para ilustrar de forma permanente acontecimentos a eles
associados,comoacontecenaFundaoBatalhadeAljubarrota,emque
apresentadoumfilmeondeseobservaareconstituiodabatalhaem1385.
Sabemos que este conceito se consolidou, tambm em outros pases do
mundo, nomeadamente em Inglaterra, tendose desenvolvido e tomado
diversas direces a partir da ideia inicial: servindo outras indstrias com
objectivos ldicodidcticos como exemplo a venda, em lojas demuseus
ingleses,franceseseitalianos,dejogos,rplicasdetrajesedeobjectosdas
pocasqueasexposiesfocam,proporcionandoscrianasqueosvisitam
a possibilidade de prolongareme de viveremem suas casas a informao
colhidaduranteasuavisitaaomuseuoumonumento.
A tcnica Living History um mtodo didctico para a divulgao eaprendizagem da Histria, da cultura, da memria de determinada poca
numdadocontexto,comrecursoexpressodramtica,sem,noentanto,se
tratardeteatroporquenosedefinemfalasrigorosas,emboraserecorraao
usodoguioqueservedeorientaoaoimprovisodosactores/animadores
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que encarnampersonagensdeumapocada formamais naturalpossvel,
comosenelavivessem.
Para a realizao de um projecto de Histria ao Vivo, necessrio, em
primeirolugar,aescolhadeumtemacombasenumtestemunhodopassado:
umapocahistrica,ummonumento,umapeadeummuseu,etc.,quese
pretende dar a conhecer, dandolhe vida. Tal implica um longo perodo de
investigao sobre o objecto a focar, demodoa animlo seguindo o rigor
histricodequeestimbudo.
Sepretendemosfocarumadeterminadapocahistrica,hqueescolhero
localapropriadoaoperodoarecriar.Esselocaldeverser,omaispossvel,
umcenriohistricoqueespelheessamesmapoca.
Apsaescolhadotemaedolocalondeserealizaraaco,necessrio
escolherapopulaoalvoaqueestasedestina.Definidosesteselementos
primordiais,dseincioaummomentofundamentaldoprojecto:apesquisa
histrica sobre a poca, o local, factos marcantes, costumes, figuras
histricas,linguagem,vesturio,literatura,msica,jogos,objectos,materiais,
alimentao tudo o que vir a servir para retratar com rigor a realidade
dessetempo,numdeterminadolocaldeacordocomotemaadesenvolver.
Realizadaa investigao inerenteaoprojecto seguesea organizaodo
dossierqueservirdesuporteatodososparticipantes:actores,professores,
alunos,etc.Essedocumentoescritopoderservirdebaseparaacriaode
um catlogo que informe, documente e ilustre o que a aco pretende
comunicar,paraqueosvisitantespossamtiraromaiorproveitodaquiloque
consideramossersimilaraumaexposio temporria.Um instrumentoque
conduzaopblicoequeperdureparautilizaesfuturas.
Tratandose de trabalhos realizados para escolas, esta documentao,
depois de organizada e adequada aos nveis de ensino que se pretende
abranger,deverserentregueaosprofessoresenvolvidosparaquepossam
preparar, na escola, os alunos que nela iro participar. Contudo, ser
proveitosocriar tambmcadernosatractivoscom textos, jogose imagensa
distribuirpelosalunos,empapelousuportedigital.
Oobjectivo fazercomque todososparticipantes imirjamnoespritoda
poca e do tema a explorar e se entusiasmem com o conhecimento dos
mesmos.
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Eisumbreveresumodumaprticaquevai,comoveremos,paraalmdo
ensinodaHistria.aprendera revernascoisasanossa identidade, criar
laos, sentir que nospertencemprovocandoo desejo deestar prximo, de
nos envolvermos com elas e de as protegermos: A educao comoaprendizagempermanente,apartirdatransmissodossaberes,doexemploe da experincia, tem, por isso, um papel crescente e fundamental nocombatepelasociedadedecultura,pelaculturadapazepeladefesaesalvaguarda de um Patrimnio comum, da humanidade, dos povos e daspessoas. Seguindo o ensinamento de John Dewey, que o nosso AntnioSrgio cultivou, tratase de entender a formao cvica no como umaantecmaraparaavida,mascomoumavivnciaquotidianada liberdadeedaresponsabilidade,edalenta,gradualepermanenteconstruoeducativa(...).8 este desejo de salvaguarda de um patrimnio comum, que tambm o ensinoda cidadania baseada no conhecimento daHistria e da
tradio, que se pretende estender atravs de laos de afecto, vivendoo,
sentindooecompreendendoo.
Odesenvolvimentodapresentedissertaono teriasidopossvelsemo
contributopreciosodealgumaspessoasaquemmanifestamosdesdejtoda
agratido:
Aomeuorientador,ProfessorDoutorFernandoGrilo,pelosensinamentos,
peloestmulo,motivaoeapoionaexploraodestetema
Dra.MariaManuelaMotaque nosofereceuo seuarquivo de longose
copiososanosde trabalho,sabedoriaededicaomuseologiaeprtica
daHistriaaoVivo,epeloapoiogentileesclarecidoduranteasconversas
quecomplementaramasdvidasentretantosurgidas
Dra.PaulaBrciaquenoscedeuumconjuntopreciosodedocumentos
editados e inditos, bem como longos momentos de conversa onde,
generosamente, partilhou com detalhe o seu conhecimento profundo e as
mltiplasexperinciasvividasatravsdoGrupodeTrabalhodoMinistrioda
EducaoparaaComissodosDescobrimentosPortugueses
8MARTINS,GuilhermedOliveira,Patrimnio,HeranaeMemriaAculturacomocriao,Gradiva,Lisboa,2009,p.17.
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Dra. Edite Alberto que gentilmente nos concedeu uma entrevista e
matriasescritassobreasuaexperinciade20anos,desdeque fundouo
ServiodeAnimaoePedagogiadoMuseudaCidadeataopresente
Ao Dr. Joo Neto que nos acolheu e transmitiu com entusiasmo
experincias, conhecimentos e prticas desenvolvidas no Museu de
Farmcia, pelo qual responsvel, para a comunicao com os diversos
pblicos,quealiserealizaatravsdemtodosdiversoseoriginais
AoCarlosCoxo,pelashorasdeconversaquenosconcedeusobreasua
experincia desde que comeou a trabalhar como animador cultural no
Palcio Nacional de Queluz, at formao e desenvolvimento da sua
empresa Cmara dos Ofcios, j com um vasto curriculum em recriaohistrica
A todos os amigos que ao longo destes trs anos de trabalho por ele
indagarameseinteressaram,contribuindocomasuatopreciosaamizade
A toda aminha famlia, comdestaque para osmeus pais, para aminha
irm,paraoPaulo,eparaosmeusfilhos,AnaseBernardo,pelashorasem
que estive ausente, pela pacincia, dedicao e afecto, sem os quais no
teriasidopossvelaconcretizaodestetrabalho.
Atodososmeusagradecimentossinceros.
Por uma questo de espao e de clareza de apresentao, decidimos
estruturaropresenteestudoemdoisvolumes, sendooprimeiroconstitudo
pelo texto crtico e o segundo formado pelos Apndices Documental e
Fotogrfico.
O Apndice Documental engloba 32 documentos sendo o ltimo em
suporteaudiovisual.Todoselesserelacionameilustramostemasexpostos
no texto crtico o Apndice Fotogrfico apresenta 29 figuras ordenadas e
numeradas sequencialmente, cada um delas ilustrando um determinado
aspectodescrito.
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I. DagnesedoconceitosuaintroduoemPortugal
Durante o tempo de pesquisa para a realizao do presente trabalho
constatmosquetantoemPortugalcomoemInglaterraeAmricadoNorte,
a informao sobre esta matria se encontrava muito dispersa e de difcil
acesso nos primeiros anos em que se comearam a praticar aces de
recriaohistrica.Apartirdosanos90dosculoXX,tantonoReinoUnido
comnosEstadosUnidosa tcnicadeLivingHistoryencontrouumlugarnomeiomuseolgicoealiceraresfirmesparaaconsolidaodoconceito.
Senoinciomuitasdaspublicaesexistenteseramdistribudasemmeios
privados ou editadas por pequenas editoras que faziam uma distribuio
restrita dos poucos exemplares impressos, hoje em dia o acesso
bibliografia sobre o tema, fora de Portugal, facilmente alcanvel
inclusivamenteatravsdesitescomoodoEnglishHeritage9 quesededicaintensamente a esta matria. Desde livros muito especficos sobre
alimentao e receitas, passando por publicaes sobre stios histricos
como castelos, palcios e legados arqueolgicos de Inglaterra, at vida
comum em diferentes pocas, encontramse com facilidade textos escritos
por investigadoresehistoriadores ingleses,acessveis tantoparaa infncia
como para leitores adultos, existindo tambm uma oferta diversificada de
publicaesparaodesenvolvimentodeprojectosderecriaohistrica.
Em Portugal no se observa o mesmo desenvolvimento em termos de
materiaiseditados.
Houve, durante os primeiros dez anos de Histria ao Vivo em Portugal,
algumas edies resultantes depesquisasmuito completas e inovadoras10,
9Cf. http://www.englishheritage.org.uk/
10SoexemplodepublicaespeloGrupodeTrabalhodoMinistriodaEducaoparaasComemoraes dos Descobrimentos Portugueses as que passamos amencionar: AA.VV.(Coord.PROENA,MariaCndida,PINTO,MariaJos),AEscolaeosDescobrimentosHistria Local, Grupo de Trabalho Ministrio da Educao para as Comemoraes dosDescobrimentosPortugueses,Lisboa,1991.BRCIA,Paula,BasPedaggicos:UtilizaoeContedo, Grupo de Trabalho do Ministrio da Educao para as Comemoraes dosDescobrimentos Portugueses, Editorial do Ministrio da Educao, s.d. BRCIA, Paula,ManualdeHistriaaoVivo,MinistriodaEducao,Lisboa,1990.BRCIA,Paula,MOTA,MariaManuela,VIANA,Teresa,APropsitodoSculoXVI,GrupodeTrabalhodoMinistrioda Educao para as Comemoraes dos Descobrimentos Portugueses, Lisboa, 1989.BRCIA, Paula, Brites e Joane vo de Aventura na Corte de D. Manuel, Editorial Vega,1991.BRCIA,Paula,BriteseJoanevodeAventuraemS.Tom,GrupodeTrabalhodo
http://www.english-heritage.org.uk/
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sobretudo sob a alada do Grupo de Trabalho doMinistrio da Educao
paraasComemoraesdosDescobrimentosPortugueses11,emboraoutros
MinistriodaEducaoparaasComemoraesdosDescobrimentosPortugueses,Lisboa,1996.BRCIA,Paula,BriteseJoanevodeAventuraemMacau,GrupodeTrabalhodoMinistriodaEducaoparaasComemoraesdosDescobrimentosPortugueses,Lisboa,2000. BRCIA, Paula, Histria ao Vivo, Forma: Sobre os DescobrimentosPortugueses,n36,DirecoGeraldeExtensoEducativaPublicaoparaformadoreseanimadores/monitores,EditorialdoMinistriodaEducao,Algueiro,Marode1990,pp.27,28. BRCIA, Paula, Lisboa BeiraRio Quatro Percursos para Descobrir a Lisboa doPassado, Grupo de Trabalho do Ministrio da Educao para as Comemoraes dosDescobrimentos Portugueses, Lisboa, 1998. BRCIA, Paula,Manual de Histria ao Vivo,Terramar e Grupo de Trabalho do Ministrio da Educao para as Comemoraes dosDescobrimentosPortugueses,Lisboa,1990.BRCIA,Paula,COELHO,Paula,MOTA,MariaManuela, (Reviso cientfica:CRUZ,MariaAugustaLima),APropsito daEmbaixada dosMeninos Japoneses Europa e da sua Passagem Por Portugal (Seleco de Textos) DocumentaodeApoioaoProjectodeHistriaaoVivorealizadonoPalcioNacionaldaVila,emSintra,emMaio/Junhode1993,GrupodeTrabalhodoMinistriodaEducaoparaasComemoraesdosDescobrimentosPortugueses,Lisboa,1993.GrupodeTrabalhodoMinistrio da Educao para as Comemoraes dos Descobrimentos Portugueses, AEscola e os Descobrimentos, Dossiers, Publimdia, Suplemento para distribuio com oExpresso,Lisboa,11deJaneirode1992.
11 O Grupo de Trabalho do Ministrio da Educao para as Comemoraes dosDescobrimentos Portugueses foi institucionalizado atravs do despacho conjunto n.15/ME/MAJ/89,de17deFevereirode1989noseguimentodaformaodeumacomissoquehaviasido institudaem14deJaneirode1988parapromoverascomemoraesdosdescobrimentos portugueses nos ensinos bsico e secundrio:Comisso doMinistrio daEducaoparaasComemoraesdosDescobrimentosPortugueses.RelativamenteaestaComisso, com a formao doGrupo de Trabalho registaramse alteraes significativas:(...)Primeiro, amudana oficial do nome segundo, nos considerandos estabelecese, deformaclara,queaespecificidadeeaimportnciadosectordaeducaoedasactividadesa desenvolver no mbito das Comemoraes dos 500 Anos dos DescobrimentosPortuguesesjustificamaexistnciadeumaestruturaautnoma(...).OGrupodeTrabalhocontinuaafuncionarnasinstalaesdaDirecoGeraldoEnsinoBsicoeSecundrioeadependerem termos logsticose financeirosda estruturadesteorganismo.MasdespachadirectamentecomoSecretriodeEstadodaReformaEducativa.AcomposiodoGrupodeTrabalhoalterada(...),ficandoassimconstitudo:LusAlbuquerque(presidente)ArturTeodorodeMatos(vicepresidente)MariadeFtimaBorges(secretriaexecutiva)AntnioAlvesFerronhaIsabelAladaMariaAugustaLimaCruzMariaCndidaProenaMariaJosPintoRuiLoureiroMariaAdliaGomesRibeiroExceptoasecretriaexecutiva,todososmembrosdoGrupodeTrabalhodesempenhamo
cargoemacumulaocomassuasactividadesprofissionaiseemtempoparcial.Foicriadoumsecretariado,comprofessoresdestacadosefuncionriosdaadministrao,paraapoiararealizao de projectos (...), In:AA.VV. (Coord.CRUZ,MariaAugusta Lima, JOO,MariaIsabel), A Escola e os Descobrimentos Sntese e Balano das Comemoraes (19882000), Grupo de Trabalho do Ministrio da Educao para as Comemoraes dosDescobrimentosPortugueses,Lisboa,2001,p.21.Conforme anunciado na Nota de Abertura da referida obra (Idem,p.11), o Grupo de
Trabalhocessouassuasfunesem31deAgostode2001.
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deigualvalornotenhamsidopublicadosmasapenasdistribudosemmeios
privados.ExistemtambmpublicaesdaAPOM,nomeadamentenombito
de colquios e conferncias realizados (Dra. Manuela Mota), onde ficaram
registadososprincpiostericosdatcnicadeHistriaaoVivo12.
Passada essa fase inicial, de dez anos sensivelmente, a matria terica
sobre o tema deixou de existir, ou se existe alguma, foi mais uma vez
distribudaemmeiosmuitorestritosaosquaisnotivemosacesso.
Paraarealizaodestetrabalho,noqueserefereaPortugal,basemonos
emdocumentosoriginaisdosarquivospessoaisdeMariaManuelaMotaede
PaulaBrcia,livrosnoeditados,dossiersdocumentais,filmesemvdeoque
nosforamgentilmentecedidospelasprincipaismentorasdaHistriaaoVivo
emPortugalDra.ManuelaMotaeDra.PaulaBrcia,ementrevistasque
nos concederam, na escassa documentao impressa existente, na nossa
experinciadecercadedezoitoanosatrabalharnestarea(tantonoPalcio
NacionaldeQueluzcomoparaoutrasentidadesmuseolgicaseautarquias)
eeminformaorecolhidaatravsdeentrevistasrealizadasadinamizadores
de aces de recriao histrica e de muselogos que tm ou tiveram
contactocomoconceitoesuaevoluo.Recorremostambminformao
disponvelnaInternet.
12 Quanto ao trabalho desenvolvido pela APOM, enunciamos as principais publicaes:AssociaoPortuguesa deMuseologia, Actas doColquioAPOM/86 Viver oPassado:MuseuseMonumentosaoserviodaComunidade,Faro,14deMaio1987AssociaoPortuguesadeMuseologia,ActasdoColquioAPOM/87AEscolavaiaoMuseu,LisboaPalcioGalveias,30deAbril 3deMaio1987AssociaoPortuguesadeMuseologia,Catlogo da Exposio: Histria ao Vivo: Propostas de Animao Cultural Segundo aTcnica Living History, 8 vols., APOM, Lisboa, 1987 Associao Portuguesa deMuseologia, Catlogo da Exposio: O Palcio de Esti: Vspera da Inaugurao dosJardins do Palcio 30 de Abril 1909, APOM, Lisboa, 1987 Associao Portuguesa deMuseologia,CatlogodaExposio:UmaPovoaoRural:CelebraodoMaioemSantaBrbaradeNexe,APOM,Lisboa,1987AssociaoPortuguesadeMuseologia,Catlogoda Exposio: Ns e os Romanos: Um Dia na Vila Romana de Milreu, Esti, Algarve,APOM,Lisboa,1987AssociaoPortuguesadeMuseologia,CatlogodaExposio:Faro1573:OPovoRecebeoRei,APOM,Lisboa,1987AssociaoPortuguesadeMuseologia,Catlogo da Exposio: OCastelo de S. Filipe Depois da Reconquista, 1640, Setbal,APOM, Lisboa, 1987 Associao Portuguesa de Museologia, Catlogo da Exposio:AcordarHistriaAdormecida:MuseudaFundaoRicardoEspritoSantoeSilva,APOM,Lisboa,1987AssociaoPortuguesadeMuseologia,CatlogodaExposio:UmAtaquedeCorsriosaoFunchal,APOM,Lisboa,1987.tambmdesalientaracomunicaodeMariaManuelaMotaondesoenunciadosos
traosbasilaresparaofuncionamentoedilogoprofcuosentreoMuseueaEscola:MOTA,MariaManuela,OMuseueoEnsinodaHistria,IXEncontrodeProfessoresdeHistria(CaldasdaRainha,15,16e17deMaiode1991):Comunicaes,Produzidopor:PatrimnioHistricoGrupodeEstudos,GrficadaPonte,CaldasdaRainha,1995,pp.99109.
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16
NorespeitanterealidadesobreestaprticaforadePortugalexiste,como
j referimos, muita bibliografia editada sobre os diversos temas que o
conceitoengloba,comfinstericoseprticos.
Para o desenvolvimento deste primeiro ponto do trabalho foinos
fundamental o apoio da Historical Management Associates, Ltd., que nos
envioude Inglaterrao livro20YearsofLivingHistory inBritain13,esgotadonospostosdevenda,equenoscomunicaramporescritototaldisponibilidade
paranosdartodasasinformaes,passadaserecentes,sobreotema.
Atravsdesta obra pudemos ler depoimentos de vrios especialistas que
estiveram envolvidos na introduo e consolidao da Living History comoprticamuseolgicanoReinoUnido.Paracomplementarestainformaode
base, consultmos outras edies inglesas, nomeadamente do English
Heritage, como Living History Reconstructing the PastWith Children14 eumasriedesitesdainternetondenospodemosinteirardodesenvolvimentoedasprticasactuaisemtornodestamatria.
Assim pudemos recolher informao sobre Living History em Inglaterra,ondesurgiuoconceito,eemPortugal,nossoobjectodeestudocomofimde
reunir e sistematizar o percurso aqui realizado. No decorrer do trabalho
sentimos a necessidade de nos aproximarmos das prticas e orientaes
seguidasnosEstadosUnidosdaAmrica,umavezqueabibliografiainglesa
remetemuitasvezesparaodesenvolvimentodestatcnicaalipraticada.
No nos alargmos por outros territrios do mundo para no nos
dispersarmos em relao ao nosso tema central: a Histria ao Vivo e a
Recriao Histrica em Portugal, mas ficmos cientes de que esta prtica
est presente um pouco por toda a Europa, continente americano,
nomeadamente, com grande desenvolvimento, no Canad e tambm na
Austrlia.
13 PEACHEY, Stuart, 20 Years of Living History in Britain, Stuart Press HistoricalManagementAssociates,Ltd.,Bristol,1997.
14 FAIRCLOUGH, John, REDSELL, Patrick, Living History Reconstructing the Past withChildren,EnglishHeritage,HistoricBuildings&MonumentsCommissionforEngland,1985.
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17
I.1.HistriaaoVivoemqueconsiste
AHistriaVivarecorreaotrabalhodeactores/animadoresformadosparao
efeitoobrigadosaoestudodospersonagensqueirodesempenhar,atravs
dolivrooudossierquerenetodaainformaorecolhidaduranteafasede
pesquisa, mas tambm assente num guio, em que no se definem falas
rigorosas, pois no se trata de representar mas sim de improvisar
encarnando personagens de uma poca da forma mais natural possvel.
Assim, este guio menciona horrios de tarefas caractersticas das
personagens,hbitosealinguagemdotempoaretratar.
Consoante as figuras que se pretende recriar, haver lugar a uma
distribuio de papis pelos actores. A entidade organizadora dever
colaborarnaconstruodospersonagenseverificarainterpretaodecada
actordemodoaqueoseudesempenhocorrespondaomaispossvelfigura
que representar.Porse tratardeum trabalhode improvisao,osactores
tmdeestarmuitobemdocumentadosecapazesderepresentarumapoca
cujos costumes, linguagem, gestos, somuito prprios e diversos daquela
emquevivem.
NosprimeirosanosdasuaintroduoemPortugal,defendiasequenuma
aco de Histria ao Vivo no existia pblico por no se tratar de um
espectculoquemassistiateriadesevestireencarnarumpersonagemda
pocaretratada.Passadosmaisdevinteanos,tendotrabalhadoestatcnica
com diversos tipos de populao alvo, consideramos que uma aco de
HistriaVivaouderecriaopodeatingirosresultadospretendidostantono
casodesedestinaraumdeterminadopblicoqueassistecomonocasode
todos os participantes terem de entrar na poca reproduzida, encarnando
umafigura.
Imaginemos que numa visita guiada aoMuseu da Cidade, um grupo de
alunos,aopassarpelacozinhasurpreendidocomumaconversadecriados
(do sculo XVIII) que ilustra e acrescenta informao do guia que os
conduz pelos espaos. Ou que numa das salas representativas do sculo
XVI, se encontra umgrupo demsicos, vestidos poca, que interpreta a
obraPuestosEstanFrenteaFrente,ououtramsicadessetempo.
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18
Consideramos que estes pequenos apontamentos de animao tambm
soumaformadeHistriaViva,aqueopblicopodeteracessodemodoa
que lhe sejam transmitidos conhecimentos sobre o vesturio, linguagem,
gestos, msica, etc., sem que participem activamente na aco. Estando
essesquadrosanimadosbemintegradosnoespaoenodiscursodoguiado
museu, so uma espcie de miragem, ou sonho que ali se concretiza de
modo a dar vida a um determinado momento ou dado histrico. Esta
ilustraovivavem,semdvida,firmarnamemriadessepblico,atravsde
imagens, os conhecimentos transmitidos pelo monitor do museu ou pelos
textosdomanualescolar.Este tipodeanimaocombasenaHistria,no
deixadeserenriquecedoraparaosvisitantesdaexposio,apesardenoa
integrarem como personagens, e tornasemais vivel para as escolas por
noexigirumapreparaoprviatocomplexacomoacontecianasaces
de Histria ao Vivo (segundo os preceitos originais) em que cada aluno
encarnavaumpersonagem.
Tendo conhecimento das dificuldades em financiar aces de grande
envergadura comoas realizadas pelaAPOMe peloGrupo deTrabalhodo
Ministrio da Educao para as Comemoraes dos Descobrimentos
Portugueses, em que necessrio pagar a animadores (actores, msicos,
bailarinos,etc.)construiradereoseoutroselementoscenogrficos,guarda
roupa,consideramos,actualmente,maisexequvelparaummuseupromover
actividades comquadros vivos15 que envolvam poucos recursos humanos.
15 Empregamos,nodecorrerdeste trabalho,adesignao quadrosvivos referindonosrecriaodecenashistricascomrecursodramatizao,combaseempesquisarealizadaapartirdetextosepinturasdapocaarecriar.Oconceitode tableauxvivants,muitocomumnossculosXVIIIeXIX, teveorigemna
prticadereconstituiocomrecursoaodrama,emqueumaoumaispessoasimitavamosgestos e modos de vestir de forma a reproduzir determinadas cenas ou personagenshistricas,literriasoupictricas,mantendoseestticasdurantealgunssegundos.EmfinaisdosculoXVIII,nopalciorealdeVersalhes,MadamedeGenlis(gouverneurdosfilhosdoDuquedeOrlees),encenoualgunstableauxvivantsapartirdepinturasdeJacquesLouisDavid. O objectivo destas dramatizaes no se resumia ao divertimento mas serviasobretudoaeducareinformar.O recurso tcnica dos tableauxvivantsmantmse activa nos nossos dias. Ludovica
Rambeli,em2008,levoucenanoMalatheatre,emNpoles,umespectculocomduraode 40 minutos intitulado Caravaggio XXI, em que um grupo de actores reproduziu 21quadrosvivosapartirde21pinturasdeMichelangeloMerisidaCaravaggio:Ashowoflargevisual impact, that puts on the stage a lot Caravaggio paints, with the tableaux vivantstechnology.TheMalatheatrecompany,betweenlightanddarkness,giveslifetothemodelsofroadandtothesubjectsofthedamnedgenius.ThemostattractiveworksofMichelangeloMerisifromCaravaggiorealizedundertheeyesoftheonlookers,usingthetableauxvivants
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19
Noentantonodeixamosdeconsiderarasrecriaesdegrandesdimenses
muitovaliosasepraticveis,tendoemcontaquesepodempromovercoma
colaboraodevriasentidades,numacooperaoentremuseus,Cmaras
Municipais, Juntas de Freguesia, escolas e comunidade local, recorrendo
tambm a patrocinadores, uma vez que estas aces requerem um longo
perododepreparaoincluindotodooprocessodesensibilizaojuntodas
diversas entidades envolvidas, investigao e elaborao de dossiers
documentais,construodeguardaroupa,etc.,oquesetraduznumelevado
investimentotemporalematerial.
Temos,hojeemdia,outrasvertentesdeanimaohistricadecorrentesda
introduo da tcnica de Histria ao Vivo em Portugal. Referimonos por
exemplosconhecidasFeirasMedievais,queobrigamaumamobilizaode
todaacomunidadedacidadeondeserealizam,eemqueoprocessodesde
aideiainicialataodiadaacofinal,podeocuparvriosmesesdeumano,
nasuapreparao.
Hoje em dia, ao contrrio do que se fazia nos primeiros anos em que o
conceito foraintroduzidoemPortugal,existepblicoqueassistesemterde
encarnarumafiguradepocaparapoderparticiparnaaco,comoacontece
navisitaaumaexposio.Deummodogeralacidade,praa,monumento
ououtroespaoondeserealizeaaco,estabertoatodososquequeiram
conhecerumpoucomaissobreapocaemqueaquelelegadohistricofora
construdoevividonasuaorigem.
Todavia, como meio de transmisso e de comunicao da Histria
destinada ao pblico escolar, a Histria ao Vivo utilizada em projectos de
grandes dimenses como a recriao de feiras de poca, leva a um
technology.With littlematerialsandsimpleobjects, theactorsof theMalatheatrecompany,under thedirectionofLudovicaRambelli, give life to themodelsof roadand to thesacredsubjects and profanes immortalized from the large genius damned of the art. Betweenatmospheresof lightsandmusic, theproductionof themodels inposeculminateswith thecreative instantof the lastaccomplishmentofeverypainting, it iscomposedunder the lookkidnapped of the onlookers, that participate to the event andwork in the space, choosingwhateverpointof viewallow themtopick themetamorphosisof theplots caravaggeschefrompainttopaint.,In:http://.metacafe.com/watch/2309000/caravaggio_xxi_21_tableaux_vivants_from_paintings_of_michelangelo_merisi_da_caravaggio/(cf.:http://www.malatheatre.com/).Adefinio(hist.)doOxfordEnglishDictionaryparatableauxvivantsaseguinte:figuresposed,silentandimmobile,fortwentyandthirtyseconds,inimitationofwellknownWorksofartordramaticscenesfromhistoryandliterature..
http://.metacafe.com/watch/2309000/caravaggio_xxi_21_tableaux_vivants_from_paintings_of_michelangelo_merisi_da_caravaggio/http://www.malatheatre.com/
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conhecimentomaisaprofundadoquandoosestudantesso levadosaviver
essa poca como participantes na mesma, sendo o espao onde esta se
realiza, vedado aos que no encarnem personagens do tempo retratado,
comoaconteceuporexemplonumdosgrandesprojectosdeHistriaaoVivo
promovido pela APOM: ...e outra vez conquistemos a distncia, que
assentousobreotemadosdescobrimentoscomarecriaodasvsperasda
partida de uma armada para a ndia, realizado na Ribeira das Naus, que
iremosdescreveradiante.
MasaHistriaViva,hojeemdia,nosedestinaapenasaopblicoescolar,
tambm uma forma eficaz de promover o turismo cultural de uma
determinada regio. E nestes casos tornase muito difcil fazer com que o
pblicoparticipesemserapenasvisitanteobservador.
Sobo nossoponto de vista, ao longo dosanos quedecorreramdesdea
introduo desta tcnica de divulgao dopatrimnio at hoje, houve uma
evoluoecriaramsenovospblicosinteressadosneste tipodeproduto.O
quenoimplicaque,nestanovaformaderecriareviveraHistria,seesteja
a corromper o conceito inicialmente defendido. O que se mantm
fundamental o rigor histrico que tem de ser respeitado na realizao e
concretizaodosprojectos.Comefeito,estatcnicadetrabalharaHistria
foi, desde o incio, bem sucedida, tendo vindo a ser solicitada para um
nmerodesituaescadavezmaisamplo,demodoaterdeseadaptars
necessidadesdaquelesqueapromovemequedelausufruem.
Comesta prticamantemosViva aHistria e oPatrimnio, tantas vezes
ignoradoseolvidados.Eladadaaconhecerde forma ldicaeaoalcance
dosmaisdiversospblicosindependentementedograudeconhecimentoou
nvel cultural dos que dela usufruem ou que com ela aprendem a amar e
respeitaramemriaculturaletradiesdeumpovooudeumaregio,oude
umstiohistricoquaseesquecido.
AHistriaaoVivo,a recriaohistrica,aanimaohistrica,so formas
de traduode factosde tempospassados, tornandoosacessveisa todos
ostiposdepblicos,mesmoaosquedizemnogostardeHistria.
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21
I.2.As origensdo conceito:ondesurgiu, emquecircunstncias, com
quemotivaes
IntheearlydaysofhistoricalreenactmentandLivingHistory inBritainaGreatdealofresearchwasundertakenbymanyintelligentpeople. A considerable number moved onafterafewyearstootherinterestsandtheirknowledgewaslostwiththem.16
Antes de passarmos ao desenvolvimento do tema proposto neste ponto,
sentimosanecessidadedefazeralgumasconsideraessobreovocabulrio
especficoutilizadopelosinglesesenorteamericanos,cujatransposiopara
o portugus pode gerar dificuldades por no se encontrar uma traduo
exactaparaalgumasdasdesignaes.
Na bibliografia tanto proveniente de Inglaterra como dos Estados Unidos
so usados termos como reenactor, reenactment, firstpersonhistoricalinterpretation,roleplay,quesurgemrecorrentementeassociadosLivingHistory.Otermoreenactorusadoparareferiroactor/animadorqueinterpreta
aces passadas durante acontecimentos reais, ou que encarna no tempo
presenteavidadealgumdeoutrapoca,comoseestivesseavivernessa
mesmapoca. Reenactment o acto deencarnar umapersonagemdopassado,vivendoo.
Quando se fala emfirstperson interpretation ou firstperson historicalinterpretation estse a designar a aco no sentido teatral em que oactor/animador vive um tempo passado como se da sua vida se tratasse,
falando na primeira pessoa. Este intrprete da histria tem como objectivo
primeiroode informaropblicoacercadavidanoutraspocas,atravsda
demonstrao e daexposio, encarnandoumpersonagemdomodomais
autnticopossvel.Estadesignaoestdirectamenteligadacomumaoutra:
thirdpersoninterpretation,igualmenteutilizadaparacomunicaropassado
16PeacheyStuart,20YearsofLivingHistoryinBritain,StuartPressHistoricalManagementAssociates,Ltd.,Bristol,1997,p.19.
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em aces de reconstituio histrica: The twomajor types of interactiveliving history interpretation are firstperson and thirdperson. Thirdpersoninterpretationisthemostcommonformofinterpretervisitorinteraction.Usingthis method, interpreters, often dressed in period attire, describe,demonstrate, illustrate, and compare their subject in ways that effectivelycommunicate its meaning to visitors. Interpreters refer to the past as thepast..17
Roleplay referese aco dos que praticam a recriao histricaencarnando personagens: In the prototypical form of interactive historicalroleplay, interpreters recreate the daily activities, thoughts, and behavior ofreal (or composite) historical people.Presentationsmay be spontaneous orbuiltaroundscenarios,themes,orspecificevents..18
Comosepodeobservartodosestestermossecruzamparadefiniraaco
de reproduzir personagens e circunstncias passadas, em que os
actores/animadoresassumemumaoutravidaduranteo tempodarecriao
histrica deuma forma to real quanto nos permitido recriar atravsdas
fontes e estudos da Histria, sendo alguns deles sinnimos: Themethodfeaturedinthisbookisrecognizedbyseveralnamesamonginterpreters:firstperson interpretation, roleplaying, and character interpretation. All referinterchangeably to the same style. Interactive historical characterinterpretation and Interactive historical roleplay (or roleplaying) areadditional synonyms, personally concocted but descriptively literal.Incidentally, these termsarevirtuallyunknown to thepressandpublic,whofrequently refer to character interpreters as actors, actorhistorians, orguides..19
Nalnguaportuguesanotemospalavrasouexpressesquetraduzamdo
ingls directamente estas designaes. Assim, optmos por usar as
expresses actor/animador para nos referirmos a reenactor, ao longo
17 ROTH, Stacy F., Past into Present Effective Techniques for FirstPerson HistoricalInterpretation,TheUniversityofNorthCarolinaPress,ChapelHill&London,USA,1998.pp.1113.
18 Idem,p.13.
19 Ibidem.
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deste captuloonde descritaa origemda tcnica e do conceitodaLivingHistory.ArecriaohistricaemInglaterracomeouacidentalmentenosanos60do
sculoXX,comacriaodeumapeapublicitriaparaolanamentodeum
livro de Peter Young sobre a guerra civil inglesa. Partindo desta ideia, a
RoundheadAssociationeaKingsArmyintheWestficarammotivadaspelo
desejo de recriar, comexactido, eventos histricos recorrendo actuao
de personagens vestidas com trajes de poca, incidindo, inicialmente,
sobretudonossculosXVIeXVII.
OelementoprincipaldaRoundheadAssociation,queincentivouoarranque
destaprticafoioDr.CharlesKightlyque,em1976,desafiouosproprietrios
deDonningtonHall,emLinclnshireacederemasuamansoparaarecriao
deumabatalha.Nodecorrerdeumaprimeirareuniohouveosentimentode
que retratar uma batalha se tornava um tema um pouco limitado e, pelo
desejoderealizaremumtrabalhocomumnvelaprofundadodeinvestigao,
resolveram reconstituir o quotidiano de uma dada poca (sculo XVII)
naquela herdade, onde entrariam todos os membros da famlia da casa
senhorialnasuaorigem.Assim,aideiainicialdereconstituirumabatalhafoi
postadelado.
Durante o desenrolar do processo foi necessrio criar uma organizao
onde fossem centradas todas as questes prticas exigidas para
concretizaodoprojecto,nomeadamenteaaberturadeumacontabancria,
oqueconduziuformaodaThePracticalHistorySociety.
Foram construdas rplicas de engenhos e materiais com base numa
cuidada pesquisa baseada emmanuais de agricultura para a reconstruo
dospostosondeserecuperaramequipamentosruraiscomoofornodopo.
Este grupo tinha umconhecimento vago deque j se tinha feito algo do
gneroemWilliamsburg,nosEstadosUnidos,contudooconceito inicialdeLivingHistory teveasuaorigemem Inglaterra,em1977e1978quandoosJarvises disponibilizaram a sua casa senhorial e toda a propriedade em
redor.
Aprimeiraacodecorreuduranteumasemanaeestevedisponvelpara
escolasnosdiasteiseparaopblicoemgeralduranteo fimdesemana.
Participaram cerca de 500 a 600 crianas por dia, entrando divididos em
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grupos de 20/30 participantes. Estes pequenos grupos eram recebidos
entrada por um actor/animador (reenactor) que encarnava o papel de um
dosmembrosda famlia (interpretaonaprimeirapessoa).Nestaalturaos
alunos ainda no tinham acesso ao que se passava no interior murado,
sendoento conduzidospor umguia que os fazia recuar no tempoat ao
ambiente do sculo XVII, e que os levava a seguir um percurso onde se
encontravam15postosdinamizadospor80actores/animadores.Estaaco
foiconseguidacomsucessopelaRoundheadAssociationtendosecumprido
o objectivo de comunicar aos visitantes a vida humilde dos agricultores e
camponesesdesetecentosnaquelaregio.
O pblico do fimdesemana entrava livremente no recinto, sem visita
guiada.Osmentoresdoprojecto fizeramestaopoconsiderandoqueno
haveria muita afluncia de visitantes num lugar remoto e pouco povoado
comoLincolnshire.Mas, ao contrrio doesperado,motivados pelos relatos
entusiastasdascrianasquetinhampercorridooespaoduranteasemana,
vieramcercade4000visitantesaolocal.
Em 1978 repetiuse a experincia emDonnington, seguida de uma outra
emKentwellHall,emSuffolk,ondeparticiparam150performers.Partidodestesprojectospioneiros,diversas ideiassurgiramnosentidode
secomprarerestaurarumaquintaabandonadaemLincolnshire,adaptando
aparaa recriaodeoutrosperodosdahistria, contudoestas ideiasno
foramavanteporfaltadeapoiodogoverno.Smaistardealgunsdelesforam
postosemprticapororganizaesqueseforamconstituindonosentidode
implementaroconceitodeLivingHistory.Em 1980 realizouse uma outra aco na propriedade de Littlecote, em
Wiltshire, recriando a vida rural de setecentos. O evento teve um enorme
sucessoerepetiusenosdoisanosqueseseguiram.
Em 1985, pelas comemoraes do 300 aniversrio da rebelio de
Monmouth, foramconstrudosumaaldeiaeumacampamentonas terrasde
Royal Bath para a reconstituio do facto histrico tanto na sua vertente
blicacomodavidadopovoaotempodarebelio.Duranteos5diasemque
decorreuaaco,passarampelaaldeia20000visitantes.
Outros eventos comemorativos se seguiram, assentes no novo conceito,
incluindo as celebraes da Armada em Littlecote e Basing, tendose
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integrado aqui as comemoraes dos300 anos daGloriousRevolution em
GuildhallSquare,emLondres.
A partir desta altura realizaramse inmeros eventos por todo o pas, em
propriedadesdoEnglishHeritage,comoaindahojeacontece.
Algunsdoselementosqueparticiparamnosprimeirosprojectospostosem
prtica consideram que em certos casos as aces de Living Historydegeneraramparaumentretenimentosobreumtemahistrico.Masaindah
entidadescapazesdeosexecutarcomorigordesejado.
Em1984,emGosport,numvalecomumbosquedeantigoscarvalhos,foi
construda uma aldeola efmera propositadamente para se accionarem
projectos de recriao histrica durante dois anos. Para estas aces, os
voluntrioslocaisreceberamformaonosentidodenelasparticiparemede,
posteriormente,daremcontinuidadeaactividadesdestegnero.
Este conceito foi continuado noutras localidades rurais, onde se foram
realizando aces inspiradas nestas primeiras, abordando a vida rural dos
sculosXVIeXVII.
Osgruposescolares,aolongodopercursodelineadoemcadaumadelas,
visitavameparticipavamnastarefasdosdiversosncleosqueabordavamos
vriosaspectosdavidaruralnessaspocas:osofcios,ocultivodeplantas,
o tratamento dos animais e a confeco de trs refeies que eram
preparadasedistribudasaolongodecadadia.
MuitosdestesprojectospostosemprticanosprimrdiosdaLivingHistoryem Inglaterra eram dinamizados por voluntrios que recebiam formao
atravsdeseminriossobreasmaisdiversasreasadesenvolver:desdeos
hbitos da poca at confeco de guardaroupa e calado para os
eventos. Os seusmentores eram habitualmente historiadores empenhados
emrevitalizarointeressepeloconhecimentoeestudodaHistria,bemcomo
portradieseaspectosculturaisextintos.Maistarde,comeouseasolicitar
a prestao de actores/animadores profissionais para encarnar os
personagensnestasaces.
Foramfeitasexperinciasemqueopblicoentravalivrementenosrecintos
eoutrasemqueeramconduzidosporguias,masficouclaroqueasegunda
versoeramais vivel porque, se algunselementos dopblicomantinham
longas conversas comos actores que encarnavampersonagens, amaioria
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inibiase emal entrava nos espaos em exposio, no retirando o devido
proveitodavisita.Poroutrolado,ofluxoconstantedevisitantes,dificultavaa
realizao da introduo sobre o tema exposto e a vertente educacional
perdiavalor.Umoutrofactornegativoemvisitasnoguiadaseraofactode,
muitas vezes, o actor ficar rodeado de pblico que ocultava o seu
desempenho,perdendoseoimpactevisualdesejado.
Algunsdoselementosque jhaviamcriadoprojectosdeHistriaaoVivo
reuniramse no sentido de pedirem apoio ao posto de turismo de Greyhill
paraaobtenodeumespaoondepudessemcontinuara trabalharnesta
matria. Isto foi conseguido e construdas as habitaes idealizadas pelo
grupo segundo uma investigao rigorosa, restaurando runas com pedras
originais.Otrabalhoficouconcludoem1988.
OnmerodepessoasquehaviamparticipadonosprimeirosprojectosdeLivingHistoryrealizadosentrefinaisde70einciosde80(dosculoXX)jera razovel, entre performers, responsveis de conservao e outrosparticipantes.Por todoomundoo conceitohaviasidodisseminadoatravs
da Forest School Camps, da International Voluntary Service, da Bath
University Archaeological Club, da Bristol Conservation Volunteers e
Manchester Wildlife Trust. Todas estas entidades estiveram ligadas s
primeirasacesdeLivingHistory.OutroexemplodesucessofoiarecriaodeKentwellHallemSuffolk,onde
foramrealizadasacesdeHistriaaoVivodesde1979,dentrodosmoldes
atrs descritos. Em 1985 o evento englobava a participao de 150
actores/animadoreseavisitaduravatrshorasemeia,percorrendoseentre
20a25postosdeactividades.
At finais dos anos 80 Kentwell foi um enorme sucesso em termos
didcticoseemnmerodevisitantes,tantoparaescolascomoparaopblico
em geral. A partir dos anos 90, com o impulso da heritage industry, pdeassistirsea inmeroseventosderecriaohistricaespalhadospormuitos
lugareshistricos,algunsdelesmontadosemdimensesmaisreduzidasdo
queosprimeirosecomrecursoaactoresprofissionais.
Actualmente existem produes televisivas muito sofisticadas e
informativas.Contudo,oqueacrescenaHistriaaoVivoemrelaoasestas
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a possibilidade de interaco entre as personagens e o pblico,
estimulandoasemoes.
As exibies constantes da heritage interpretation, como lhe chamam
tambm os ingleses, provocou no pblico um nvel de exigncia cada vez
maior no que respeita sofisticao dos eventos e aumentou o grau de
expectativaporpartedosvisitantes,quenosprimrdiosdaLivingHistorynoexistiam.Todaviaasescolascontinuamaprocuraresteseventose,paraos
professores,tornouseumhbitoilustrarempartesdosprogramasescolares
com estas visitas.Os alunos revelam hoje uma preparao superior que
tinhamanteriormente,masnovivemasacescomoentusiasmoquese
observavanoincio.
Como j foi referido, os primeiros projectos de Histria ao Vivo eram
dinamizadas por actores/animadores que representavam cenas histricas,
vestidoscomtrajesdapocaretratadaereproduzindoomododavidacivil.
Houvetambmareproduodedanas,msicaealgumasbatalhas,desde
oincio.
Asbatalhas,apartirdeumdadomomento,passaramatermuitaadeso,
sendohojeumaprticacomum.
AtcnicadeLivingHistorytemsidoempregueemmuitoslocaisdiferentes:museus,runaselugaresdesabitados,algunsdelesreconstrudosdeacordo
comaspesquisas feitas,sobretudodossculosXVIeXVII,montadoscom
fortificaes ou residncias rurais. Formaramse tambm pequenos grupos
quesedeslocamsescolasexibindoacesdeLivingHistory,oschamadosroadshows.
Umoutro passo importante nahistria daLivingHistory em Inglaterra foiorganizao,em1985deumaGuerraCivilInglesaemLincoln,porumgrupo
de amigos entusiasmados com esta tcnica que formaram a History Re
enactment Workshop20. O evento envolveu cerca de 100 participantes,
incluindoactoresdeanimaohistricaefoiconsideradoumsucesso.ABBC
filmouaacoparaoprogramaDistractedTimes.
Nasequnciadesteprojecto,foiorganizadoumencontronoNationalArmy
Museum, emLondres, onde se avanou com ideias para umanova aco.
20http://www.historyreenactment.org.uk/
http://www.historyreenactment.org.uk/
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Durante o encontro a Napoleonic Association e a Ermine Guard fizeram
apresentaesdosseusmtodos,oqueprovocouodesejodeseencontrar
um novo conceito de recriao histrica, talvez inspirado nos mtodos
usados em Plimoth Plantation21 e em outros eventos de histria ao vivo
postos em prtica nos Estados Unidos e no Canad. Essencialmente
introduziuse o conceito de firstperson interpretation, emque o interprete
(actorouvoluntrio formadoparaoefeito)sevesteeencarnaosgestosdo
seu antepassado histrico, combinando o mais possvel o padro da
ocorrnciahistricacomumaformadeapresentaoomaisrealistaquese
consiga.
Oseventoscentraramsetantoquantopossvelnoslocaisoriginais,como
intuito demostrar como vivia a gente vulgar e, atravs do fazer devolver
vidaaumacasaoumonumentohistrico.
Esta prtica deparouse com algumas dificuldades no incio, mas com o
decorrer do tempo realizaramse eventos de grande prestgio pelo History
ReenactmentWorkshop.Em1986estegrupotomoupartenumeventopara
aSemanadosMuseus,inseridonoRoyalFestivalHall.Emquesepesquisou
e preparou uma recriao baseada em Southwork no ano de 1672. Esta
aco foi reconhecida pelo ArtsMinister e peloDirector do ArmyMuseum,
queconvidouogrupopararealizarumlongoestgiode14semanas,entre
1988 e 1989, a apresentar no museu. A publicidade generalizada a partir
destes eventosmilitares gerou uma srie de convites para a realizao de
acesassentesnahistriasocialpostosemprticaemcasashistricaspor
todoopas.
QuandooHistoryReenactmentWorkshopseformouem1985,fixouseum
perodoparaarecriaohistricadecemanos:entre1585e1685,mascom
o desenvolver dos trabalhos alargaram o perodo de pesquisa e recriao
paraosculoXVIII.
Osparticipantesnasacesorganizadaspelogrupofrequentam workshopsondetreinamainterpretaoaovivocomprticasregulareseondesefixam
os critrios de apresentao. Estas aces incluem formao em histria,
com o estudo de textos dos mais proeminentes historiadores. Estes
21http://www.plimoth.org/
-
29
workshops no se destinam ao pblico em geral, mas frequente haverelementosexterioresaogrupoqueospresenciamporpartilharemointeresse
pelosperodoshistricosemfoco.
A History ReenactmentWorkshop criou os Red Tee Shirters que do
apoio durante as recriaes histricas.Vestidos com roupas actuais, esto
incumbidosdepassarinformaogeralehistrica,oudeconduzirosgrupos
pelospercursosdevisita,servindotambmparaencorajarainteracoentre
osactoreseopblico.
Entre 1985 e 1997 a HistoryReenactmentWorkshop organizou eventos
nosmaisdiversoslugareshistricosentrepropriedadesdoperodoTudore
palciosreais,comoobjectivodeapresentarumavisodavidapassadade
gentevulgarenoapenasfocadaemfigurasreais,oquetornaasrecriaes
mais realistas provocando no pblico a reaco de compararem as suas
prpriasvidascomasdosseusantepassados.
Relacionadocomo trabalhode recriaohistricadesenvolvidoao longo
destes primeiros anos, surge, na Amrica do Norte, o conceito de Living
History Museums. Esta designao usada para descrever um stio
histrico restaurado ou reconstitudo onde se pratica a firstperson
interpretation parapossibilitar aos visitantes umcontacto intenso comuma
determinada poca, participando na vida quotidiana encarnada pelos
actores/animadores. Em Inglaterra dse preferncia aos nomes open air
museum, folkmuseum ou workingmuseum para designar stios com
estascaractersticas.
O criador deste conceito museolgico foi o etngrafo Artur Hazelius que
fundou Skansen22 (cf. Apndice Documental Documento 1), o primeiro
openair folkmuseumdomundo,emEstocolmo,abertoaopblicodesde
1891. A sua ideia partiu da destruioprovocada pela industrializao dos
anos80dosculoXIX,queapagouumagrandepartedavidarural.Skansen
tornouseoveculodepreservaodeelementosmateriaiseculturaisdeste
patrimnio em extino. Por toda a Europa e Amrica as pessoas
reconheceram perdas similares e tentaram captar a ideia de Hazelius
recriando o passado usando variaes sobre o conceito de Skansen,
22http://www.skansen.se/
-
30
inserindo,emalgunscasosainterpretaonaprimeirapessoacomomeiode
comunicao com o pblico. O recurso a actores/animadores era parte
integrante dos primeiros museus Norte Americanos inspirados neste
conceito, fundadosdesdeosprimrdiosdosculoXX:OldSalemem1913
Greenfieldem1929ColonialWilliamsburgem1932, soalgunsexemplos.
NaEuropadestetempo,oconceitodeopenairmuseumnofoilogobem
acolhido, considerandose que poderia degenerar numa banalizao da
Histria.OWelshFolkMuseum,emInglaterra,abriuaopblicoem1948com
um torneiro residente especialista em madeira, o que foi, nos anos 80,
consideradoimportanteparaodesenvolvimentodanovamuseologiainglesa.
TalcomoHazeliuscompreendeuanecessidadedepreservarummodode
vidae tradiesdestrudospelaindustrializao,noReinoUnido,cemanos
depois, reconheceuse a importncia deste patrimnio perdido e uma nova
vaga de museus iniciou uma reflexo sobre este assunto que resultou na
criaodemuseusaoarlivreportodoopas,dinamizadoscomatcnicada
HistriaViva.
Osucessodestanovatcnicamuseolgicaprovocouanecessidadedese
escrevereeditartextosparaasuadivulgao,promooedesenvolvimento.
Em incios dos anos 80 do sculo XX foi fundado o The Living History
Research Group. O objectivo principal era encorajar a investigao e
disseminaodainformaorelevantesobreosculoXVIIatravsdatcnica
da Living History. Os elementos que fundaram este grupo vinhamessencialmente da Roundhead Association, da Kings Army e da Kirstie
Buckland.Asuaprincipalactividadefoiaelaboraodeumsimposium anual,
sustentado primeiro pela universidade de Bristol e mais tarde pela Trent
Polytechnic. Cada simposium continha o resultado de discusses que
aconteciam durante dois dias de encontro entre membros do grupo, reenactors eespecialistas convidados.Tratavase asmais diversasmatrias,desde cermica, culinria, medicina at descrio de performancesmemorveis que eram publicadas juntamente com dissertaes resultantes
de pesquisas consideradas interessantes. Alguns destes elementos de
investigao eram publicados em forma de livro, por via privada ou por
-
31
pequenas editoras como a Stuart Press da Historical Management
Associates,Ltd.23
ALivingHistoryprovocouemvrioseditoresodesejodepublicaremsobretemas relacionadossobreestamatria,abordando temasmuitoespecficos
comoaalimentao,ovesturio,usosecostumes,assuntosmilitares,ofcios
depocaspassadas,etc.
A Stuart Press foi fundada em 1992 com a poltica original de publicar
apenas sobre temas no militares uma vez que este era o assunto mais
fomentado por outras editoras. Um dos seus fundamentos era encorajar
novos escritores a publicarem textos sobre temas relacionados ou
interessantesparaaprticadaHistriaaoVivo.
Em 1979 surgiu a Living History Register Newsletter, uma revista
internacionaldestinadaatodososactoreseentusiastasdaHistriaaoVivo,
fossem eles participantes ou espectadores interessados. A revista
distribuda gratuitamente e enviada anualmente para todos os registados.
ComeouporpublicarapenassobreosculoXVII,mastevenecessidadede
alargar a informao a outros perodos que entretanto foram sendo
abordados em recriaes histricas. Surgiram muitos grupos a
desenvolveremacessobreoperodoromano,sobreaidademdia,sobre
a2guerramundialeasociedadedosanos40,earevistaviuseobrigadaa
corresponder aos interesses de todos estas pocas recriadas. O editor,
Roger Emmerson, definiu Living History como an attempt to recreate the
23 Historical Management Associates Ltd was formed in 1987 to utilise many years ofhistoricalacademic researchandhandsonexperienceof livinghistoryand replicabuildingconstruction.Theinitialaimwastoprovideahistoricalconsultancyandprojectmanagementservicetomuseumsandhistoricalinterpretationsites.AtthesametimeworkstartedontherestorationofanentirehistoricallandscapeattheGrayhillHistoricalFarm.()Thecompanyhas travelled theworld todevelopsources forawide rangeofhistorical styleartefactsstillbeingmanufacturedbycraftsmenaroundtheworld,fromcooperedjugstoaxeheads,skinstoaromaticspices,horseharness tohandcarvedspoons.These itemsarenot replicasbutworking objects made to be used by local populations which correspond to those usedhistoricallyinEngland.AfterwritingbooksforPartizanPressintheearlyyearsthecompanystarted its own publishing arm, Stuart Press in 1992 which now publishes around 250volumesofhistoricalmaterial.Ourprinciple is towrite thebooksweneedandnobodyelsehasproduced,concentratingoncontentratherthangloss.,In:http://www.stuarthmaltd.com/
http://www.stuart-hmaltd.com/green_valley_farm.phphttp://www.stuart-hmaltd.com/artefacts.phphttp://www.stuart-hmaltd.com/stuart_press.php
-
32
ordinary life of another period in history in real time, at un accessible level,withaviewtoeducationandrevelation24.Arevistacobretodootipodeeventosderecriaohistricaeeraanica,
em 1997, que promovia o contacto com um alargado nmero de
historiadoresaovivofomentandoatrocadeartigossobreasmaisdiversas
pocas, levando necessidade de edio de dois nmeros anuais um
primeiro que cobria todos os eventos de Histria ao Vivo e os artigos
resultantesdainvestigaofeitaparacadaumdeleseumsegundonmero
contendoinformaosobrereenactmenteLivingHistory,outrosmateriaisdeinvestigao histrica para trabalhos futuros e um dirio sobre as
oportunidadesdestinadaseducaoeinvestigao.
O conceito de Living History tornouse parte integrante da interpretaohistricaeficouinstitucionalizadoemInglaterraemfinaisdosanos90.Muitos
stios histricos e museus oferecem agora esta oportunidade didctica s
escolas e a outros visitantes, cuja prtica proporciona um mximo de
benefciosatravsdestemultisensorialmeiodecomunicao.
Consultmos os meios disponveis na internet, onde nos aparecem
inmeros sites revelando uma vasta lista de programas dinamizadosanualmente nos museus ingleses. Entre estes destacamos o do Royal
GunpowderMills25queapresentainformaosobreassociaesegruposde
histriaaovivoedieslinksprogramaseprojectosacessveisaopblico,
museus e edies diversas relacionadas sobre o tema. (cf. Apndice
DocumentalDocumento2).
Hoje so muitas vezes actores formados nesta rea que substituem os
historiadoresnacriaodeprojectosquesevorepetindoaolongodoano.
Houveumagrandemudananaatitudedereflexoeoreconhecimentona
profisso de muselogo sobre a qualidade e o valor desta tcnica de
comunicaopatrimonial.Contudo,porvezesosmuseusinglesestendema
uslacomoummeiodeatrairummaiornmerodevisitantes,descurandoo
seuaspectoprimordial:aeducao.
24PeacheyStuart,20YearsofLivingHistoryinBritain,StuartPressHistoricalManagementAssociates,Ltd.,Bristol,1997,p.21.
25http://www.royalgunpowdermills.com/
http://www.royalgunpowdermills.com/
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33
O English Heritage26 tem sido a instituio que mais tem dinamizado
projectosdehistriaaovivoeediescomelarelacionadas.
Hojeemdiaapresentaumavastaprogramaodeeventoshistricos,entre
os quais o Festival of History que acontece anualmente noms de Julho,
envolvendomais de 1000 actores/animadores em 50 espectculos dirios.
(cf.ApndiceDocumentalDocumento3).
Desenvolve tambmuma largaactividadedepesquisa e conservao do
patrimnio histrico e arquitectnico e dispe de uma srie de recursos
destinados ao ensino e educao, desde programas para escolas, a
publicaes: An extensive array of books for everyone, ranging fromspecialist titles on Conservation and Archaeology to Guidebooks for allEnglishHeritagepropertiesandsites,27 einformaoacessvelatravsdainternet: We hold many databases of information online which you cansearch from thecomfort of your ownhome.Aswell as lotsof photographicdatabaseswhichcanbe found inPhotoCollections.OurPastscapewebsitehousesaninventoryofarchaeologicalsitesandhistoricbuildingsinEngland.YoucanalsovisitourpublicsearchroomattheNationalMonumentsRecord(NMR)inSwindon..28
Foi atravsdaaco deEnglishHeritageque, desde 1986, se deramos
primeirospassoseacompanhamentoporpartedemembrosdestainstituio
paraaintroduodatcnicaLivingHistoryemPortugal.
26 OTheHistoricBuildings andMonumentsCommission for England,mais conhecido porEnglish Heritage uma instituio nogovernamental fundada em 1984, responsvel porcercade400monumentosestioshistricosdopatrimnioinglsabrangendoumperododepresenahumanade5500anos.DesdeWindmillHillinWiltshire(c.4000a.C.),incluialgunsdosmais famosos stios histricos ingleses desde a prhistria, passando pelos perodosromanoemedieval,TudoreVitoriano,atsmansesdosculoXIX.Aintenoprimeiradestainstituiofoiaderestauraredarvidaastiosemonumentos
que,nosendodeprimeiroplano,estavamumpoucoesquecidospelopodercentral,assimcomoastradiesquearapidezeodesenraizamentodavidamodernatinhamfeitoquaseesquecer., In BRCIA, Paula, Histria ao Vivo, Forma: Sobre os DescobrimentosPortugueses,n36,DirecoGeraldeExtensoEducativaPublicaoparaformadoreseanimadores/monitores,EditorialdoMinistriodaEducao,Algueiro,Marode1990,pp.27,28.
27http://www.englishheritage.org.uk/
28 Idem.
http://www.english-heritage.org.uk/server/show/nav.1506http://www.pastscape.org/homepage/http://www.english-heritage.org.uk/server/show/nav.1530http://www.english-heritage.org.uk/
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34
I.3.Comochegaatnsem1986
MinhaEx.maequeridaAmigaGraves coisas me pede na sua carta e delas sou cada vez mais
incapaz.Umaade prepararoume lembrar doquedigoquandomelevam a falar em alguma reunio: o que no fao de improviso mepareceabsurdo.O resultado que, depois, nem recordo o que disse.Mas acho que
podemosprcomobreveresumoqueadvogueiafusodaescolaedoMuseu, para que ambos deixassem de ser coisas mortas e a todos,desdecrianasavelhos,desdeignorantes(quemo)asbios(quemo)servissemdeestmuloparaamaremavida(...).DeopiniofinaldoColquiodireioseguinte:Foioprimeiroqueviemqueo objectivoessencialnoeracadaum
brilharfoiumpassolargodecisivodeumparatrsadormecidoaumdesperto futuro lanouse a Histria Viva e se lhe derem ps paracaminharseoquisermosningumsealeijar.Equeremos.(...).29
AAssociaoPortuguesadeMuseologiateveumprimeirocontactocomo
conceitodeLivingHistory,emfinaisde1985,atravsdeumdosmembrosdadireco, Doutor Fernando Antnio Baptista Pereira que, tendo participado
numestgiosobremuseologiaemLondres,trouxeanovidadeparaaAPOM
eparaomuseuemSetbal,porqueestavaresponsvel.
Esta tcnica despertou, desde logo,o interessedealgunsmembros da
APOM, nomeadamente o de Maria Manuela Mota, que era na altura
presidentedaAssociaoequeseempenhounasuaintroduo,divulgao
edesenvolvimentoem Portugal.
EmMaiode1986,soborientaodeMariaManuelaMota,foiorganizadoo
ColquioAPOM/8630,comofimdedaraconhecernonossopasoconceito
deLivingHistory.Com o apoio do British Council,MichaelCorbishley e PatrickRedsell do
EnglishHeritageparticiparamnoAPOM/86 como fimdenoscomunicarem
29CartaenviadapeloProfessorAgostinhodaSilvapresidentedaAssociaoPortuguesadeMuseologia (Dra.ManuelaMota)em4/8/87, In:AssociaoPortuguesadeMuseologia,ActasdoColquioAPOM/87AEscolavaiaoMuseu,LisboaPalcioGalveias,30deAbril3deMaio1987,p.35.
30AssociaoPortuguesadeMuseologia,ActasdoColquioAPOM/86ViveroPassado:MuseuseMonumentosaoserviodaComunidade,Faro,14deMaio1987.
-
35
asbasesdequepartiramparaaprticadestatcnicadeensinodaHistria,
os programas ento a decorrer, e a anlise dos resultados obtidos em
Inglaterra.
Do Brasil veio a museloga Maria de Lurdes Barreto que lanara uma
experinciapilotonoseupas, comoapoiodos tcnicos ingleses,partilhar
com conservadores de museus e monitores de Servios os resultados da
iniciativa.
Aotodoreuniramse120participantes:directores,conservadoresepessoal
tcnicosuperiordemuseusdocontinenteeilhasdirectoreseconservadores
demuseusdoBrasilpresidentesdasAssociaesBrasileiradeMuseologia
edeMuselogosdaBahiarepresentantesdoEnglishHeritage.
A iniciativa teveosapoiosdaSecretariadeEstadodaCulturaatravsdo
seu Delegado na Regio Sul e do Gabinete de Relaes Culturais
InternacionaisInstitutoBritnicoemPortugalRegiodeTurismodoAlgarve
CmaraMunicipaldeFaro,comaparticipaoassduadoseuVereadordos
MuseusArquivoDistritaldeFaroMuseuAlmiranteRamalhoOrtigoMuseu
Arqueolgico e Lapidar Infante D. Henrique Universidade do Algarve
InstitutodeEstudosIslmicosdoAlgarveeoCoralOssnoba.
O Colquio APOM/86 Colquio de Museologia em Faro, que se
desenrolou no Museu Arqueolgico e Lapidar Infante D. Henrique, visou
promover a intensa colaborao entre os museus e as escolas,
proporcionando pistas para projectos culturais adaptados aos curriculaescolares, segundo uma tcnica inovadora e atractiva para o estudo da
Histria, sob uma planificao bem definida dos projectos criados em
parceriaentreconservadoresdemuseuseprofessores,comoenvolvimento
dascomunidadeslocais.
ComointuitodedaraconheceraHistriavivendoa,estatcnicarecorre
animao cultural e ao trabalho de actores que monitorizam os diversos
ncleos de animao onde as crianas so integradas representando,
tambmelas,personagensdotempoarecriar.Acrianaaprendebrincando
atravs da dramatizao de uma dada circunstncia histrica numa
encenao to prxima quanto possvel da realidade: vivendo e
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36
compreendendo como era e terse operado o salto para dentro daHistria.Elapassaasaberporqueparticipou.31.A tcnica deHistria aoVivo pretendiapromover a aberturadoMuseu
comunidade, tornandoo umponto deencontro cultural dinmico, vivo: Os
nossos Museus teem de se tornar cada vezmais um centro de animao
onde a comunidade se encontre para aprender e ensinar atravs do
testemunhomaterial32,criandonosnossos jovensogostoeinteressepelo
conhecimentodaHistria.
No ltimo dia do Colquio, nove grupos de trabalho apresentaram
anteprojectos,todoselesbaseadosnopatrimnioetradioalgarvios:1) Arqueologia Romana: reconstituio de um dia na vida dos Senhores da Villa
romana de Milreu, com uma manh nas termas, a vida dentro e fora da casa,
finalizandocomumarefeioservidaaocasal,maneiraclssica
2) FortalezasCosteiras:recriaodoataquedoscorsriosinglesesfortalezadeFaro(finaisdosculoXVI):ambientedeumapraaforteemvsperadeataque
3) OAlgarveeaExpanso:Trabalhosarealizarcomescolas:estudoeelaboraodemapas histricos construo de uma rplica de caravela preparativos de uma
viagemeestudodastcnicasdenavegaovisitaaumbarcomodernocomotermo
decomparaocomosdosculoXVI.
4) OPalciodeEstoi:ReviveroambientefestivodainauguraodosjardinsdopalcioemMaiode1903,comaparticipaodosgruposlocaisdramtico,coral,musical,e
outros
5) UmaPovoaoRural SantaBrbara deNexe:Combase nas culturas locais osalunosde5e6anos,sobotemaAJorna,participamactivamentenavidarural:
apanha de frurtos o seu tratamento a Festa das Almas: confeccionando e
vendendodoces regionais:Destinadoaos alunosentre16e18anos,oestudoda
arquitectura,artesanato,folclorelocais.
6) ARiaFormosa:Estudodageografia,caractersticasfsicas,meiohumano,faunaeperigosqueameaamesteecosistema,atravsdeesquemasdevisitas,passeiosa
p,levantamentosdepropostasdesalvaguardaaseremfeitaspelosalunos
7) OConventodasClarissas:(MuseuArqueolgicoInfanteD.Henrique):RecriaodavisitadeD.Sebastioaoconventoem1573,comduasacessimultneas:opovo,
no exterior do convento, engalanando a praa para avisita rgia e a entrega das
chavesaomonarcanointeriorodesenrolardavidamonstica,apenasperturbada
pelavisitadomonarca.Terminariacomfestejospopularesemhonradorei.
31 Idem,p.1.
32 Idem,p.2.
-
37
8) ACidade deFaro:Reconstituio de dois correiosdiferentes no incio do sculoXVIII, salientando as difceis comunicaes comoAlgarve nessa poca: o correio
expresso,vindoporterra,comarespostaaumapetiodoReinodosAlgarveseum
correio normal por via martima e a orientao de um forasteiro que pretende
alcanar o terreiro da feira de Santa Iria. Estudo damalha urbana de Faro nesta
poca.
9) AGastronomiaAlgarvia:Estudodagastronomiaemdiferentes fasesdahistriadoAlgarve:pocaromana islmicasculosXVI,XVII,XVIII,XIXe1986.Preparao
dosalimentosediferentesformasdeosapresentar,servirecomer.
Nofinaldocolquiodeterminousequesecontinuariaadesenvolverotema
daHistriaaoVivo,comonovaformadeensino,noColquioAPOM/87.
Este realizouse entre 30 de Abril e 3 deMaio, no PalcioGalveias, em
Lisboa,sobottuloAEscolavaiaoMuseu.
Neleparticiparam:Arqt.o VictorReis,VereadordoPelourodaCulturadaCmaraMunicipaldeLisboaDr.BairroOleiroVicePresidentedoInstitutoPortugusdoPatrimnioCulturalDr.aNatliaCorreiaGuedesPresidentedoICOM.Representantesdos:InstitutoBritnicoFundaoLusoAmericana
JuventudeePatrimnioDirectores de Museus, Adidos Culturais das Embaixadas acreditadas emLisboa, (...)33 e professores, onde se inclua Paula Brcia que viria a serumadasprincipaisdinamizadorasdestatcnicaemPortugal.
Este10colquiodaAPOM teveaparticularidadede,pelaprimeiravez,
ser aberto aos professores dos diferentes graus de ensino (educadores e
professores do ensino prprimrio, primrio, unificado, secundrio e
universitrio):CientedoimportantepapelquecabeaosMuseusnaculturaeeducao da sociedade nomeadamente ao nvel escolar, a Direco daAPOM desenvolveu intensa actividade para proporcionar o encontro entreProfessoreseMuselogosafimdequeseoiam,seconheameprocuremcolaboraremnovosmtodosdeensinoededifusocultural.34
33 AssociaoPortuguesadeMuseologia,ActasdoColquioAPOM/87AEscolavaiaoMuseu,LisboaPalcioGalveias,30deAbril3deMaio1987,p.9.
34 Idem,p.10.
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38
Combasenocolquiorealizadonoanoanterior(1986)paraassociadosda
APOM, onde se formaram 9 grupos de trabalho que, partindo do acervocultural,monumentaleartsticodeFaroearredores,esboaramoutrastantaspropostas de animao pela tcnica deHistria aoVivo (...),35 surgiu aideiadeseorganizarumaexposioondeseapresentassemaspropostasj
formuladas.Aexposio,intitulada:HistriaaoVivo:PropostasdeAnimaoCulturalsegundoaTcnicaLivingHistory,esteveabertaaopblicoentre30deAbrile23deMaio,tendosidofeitoumcatlogodivididoem8volumesem
queacapadecadaumdelesumapeadeumpuzzlequerevela,quandomontado,ummsicodeumapocapassadatocandopercusso.
Cada um dos volumes corresponde a um projecto apresentado na
exposio: NS E OS ROMANOS: um dia na Vila Romana de Milreu O
PALCIO DE ESTOI: vspera da inaugurao dos jardins do Palcio, em
1903UMAPOVOAORURAL:CelebraodaPrimaveranodia1deMaio
em Sta. Brbara de Nexe FARO, 1573: sobre a visita histrica de D.
SebastioaoConventodas IrmsClarissasAGASTRONOMIAALGARVIA
na poca romana, islmica medieval, no sc. XVI e na actualidade UM
ATAQUEDECORSRIOSAO FUNCHAL, sobre um ataque de ingleses
fortaleza de S. Tiago, no sculo XVI ACORDAR A HISTRIA
ADORMECIDA: No Museu da Fundao Ricardo Esprito Santo e Silva, a
recriao da vida lisboeta em finais de setecentos O CASTELO DE S.
FILIPE DEPOIS DA RECONQUISTA, sobre a sua reorganizao aps a
expulsodoexercitoespanhol,em1640.36
Um dos volumes do catlogo destinase apresentao da tcnica de
HistriaaoVivoporManuelaMota,PatrikRedselleJohnFaircloughquede
novo estiveram em Portugal para partilharem os seus conhecimentos e
experincias realizadas em Inglaterra eMaria deLourdesP.H.Barreto do
Brasil.
Ao longo de vrios anos a APOM esteve empenhada em promover,
divulgar e pr em prtica o novo conceito atravs de colquios, edies,
35 Idem,p.12.
36 InformaesretiradasdoCatlogodaexposioHistriaaoVivo:PropostasdeAnimaoCulturalsegundoaTcnicaLivingHistory.
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39
acesdesensibilizaoearealizaodediversosprojectosdeHistriaao
Vivo,algunsdosquaisdescreveremosnopontoIIdestetrabalho.
A designao Living History foi traduzida para o portugus comoHistriaaoVivo,segundosugestodeFernandoAntnioBaptistaPereira37
eficouregistadacomoumaprticacomregrasbemdefinidas:AdesignaoHistria ao Vivo foi adoptada pela Direco da APOM para indicar estatcnica de animao e s poder ser utilizada mediante autorizao daAssociao..38Destinavasesobretudo,equaseexclusivamente,acrianascom idades compreendidas entre os 9 e os 12 anos de idade que,
acompanhadas pelos seus professores, participavam nestas aces,
encarnandopersonagensdapocaestudada,dividasempequenosgrupos,
orientadaspormonitoresquedesempenhavamospersonagensprincipais.
De um modo geral, as aces de Histria ao Vivo abraavam grandes
projectos, desenrolandose em vrios meses, sendo os dias finais durante
uma ou duas semanas, e abarcando um nmero vasto de crianas que
viveriam um dia no passado. Por princpio, os espaos eram vedados ao
pbliconoparticipante,oquesignificaquequem tinhaacessoao localda
recriaoteriadeestarvestidopocaeencarnarumpersonagemquelhe
tinhasidodestinadosegundoum guio.
Muitos foram os temas abordados pelo pas fora em projectos
desenvolvidoscomoapoiodaAPOM,qualmuitasentidadessevierama
juntarcomgrandedinamismo,entreelasaCmaraMunicipaldeLisboaeo
GrupodeTrabalhodoMinistriodaEducaoparaasComemoraesdos
Descobrimentos Portugueses, como viremos a demonstrar no seguimento
destetrabalho.
SegundoJooNeto39,actualpresidentedaAPOMedirectordoMuseuda
Farmcia,estaassociaoviveu,entreosanosde1980e inciosdosanos
37 InformaocedidaporMariaManuelaMotaduranteumadasentrevistasquegentilmentenosconcedeu.
38 AssociaoPortuguesadeMuseologia,ActasdoColquioAPOM/87AEscolavaiaoMuseu,LisboaPalcioGalveias,30deAbril3deMaio1987,p.26.
39TivemosoprivilgiodeconversarcomoDr.JooNetoquenosconcedeugentilmenteumaesclarecedora entrevista no s sobre a Associao Portuguesa de Museologia, a qualpreside,comosobreoMuseudaFarmciaeasactividadesdoServioEducativo,squaisfaremosreferncia,oportunamente,nodecorrerdestetrabalho.
-
40
90 do sculo XX, um momento relevante da sua existncia, tanto pelos
elementos que dela faziam parte, como pela imperativa necessidade de
renovar o papel doMuseu em Portugal, aco que coube APOM nessa
altura.
Actualmente, a associao est numa fase de procura de um lugar e de
umaviaparaagir.Dasactividadesquepromove,asquemaissedestacam
so as entregas dos Prmios Anuais de Museologia: O Melhor Museu
Portugus A melhor Exposio O Melhor Catlogo O Melhor Servio de
ExtensoCulturalaMelhorPeaJornalsticasobreaactividademuseolgica
emPortugal.
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41
II. Primeiras intervenes de Histria Viva em Portugal: A aco da
APOM e de outras instituies precursoras na realizao de aces
baseadasnoconceitodeHistriaaoVivo
UmadasfinalidadesdocolquioAPOM/87,mencionadonopontoanterior,
foi a de levar cada participante a reflectir sobre o conceito de Educao
Patrimonial, (traduo do ingls Heritage Education), ali apresentado, demodoaseremdesenvolvidas,emcadareadeaco,actividadessimilares,
procurando uma participao pluridisciplinar frutuosa entre o Museu e a
Escola para uma nova forma de ensino e motivar principalmente os
MinistriosdaEducaoedaCultura,assimcomoasCmarasMunicipaise
outras entidades com o intuito de se gerar uma maior dinmica da aco
culturalemMuseuseMonumentosaoserviodaeducao.
Desde essa data eclodiram ideias e foram postos em prtica diversas
aces educativas assentes neste conceito com o fim de se amplificar a
utilizao de Museus e Monumentos na Educao: Os monumentos eobjectos do Patrimnio cultural possibilitam uma experincia concreta, noverbal,directa.Oobjectonoum recurso,masuma realidade,porvezesnicafontesobreviventedosignificado.Acresce que uma experincia vivida, participada, uma fonte de
conhecimentos indelveis os objectos tornamse inteligveis, teis,transmitem uma mensagem maior quando deixam de ser simplesinformaesesetornamvivnciaconcreta(...).A tcnica de Living History um estmulo para que os Professores
procurem utilizar o Patrimnio da sua rea em conjunto com osConservadores dos Museus, recorrendo participao da comunidade(...)40.OscolquiosdaAPOMlanaramoconceitoeaHistriaVivaemPortugal
comeoua tomar lugar,peloentusiasmodeprofessoresemuselogosque
desde logo aderiram ideia, a tornarse prtica em certos ncleos
40AssociaoPortuguesadeMuseologia,CatlogodaExposio:HistriaaoVivo:PropostasdeAnimaoCulturalsegundoaTcnicaLivingHistory,8vols.,APOM,Lisboa,1987.p.6.
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42
museolgicoseafinsconvertendosenumaferramentadetrabalhoaodispor
dasescolas.
AresponsvelpeloServioEducativodaFundaoRicardoEspritoSantoe
Silva(F.R.E.S.S.)MargaridadeLancastre41,sobpropostadeManuelaMota
levou a cabo, em Maio de 1987, a actividade cultural e educativa nas
instalaesdopalcio:UmdianoPalcioAzurara,apresentadanaexposioHistriaaoVivo,noPalcioGalveias:Nansiadepoderdemonstraraosparticipantes do Colquio APOM 87, um projecto de Histria ao Vivo emfuncionamento, contactei em Dezembro ltimo o Servio Educativo daFundao Ricardo Esprito Santo Silva a fim de tentar a sua adeso aoprojecto.O entusiasmo e a adeso foram espontneos e totais em todo oMuseuenaAdministrao.Aboladenevecomeouarolar,possodizerquesetemmexidocuseterramasoprojectoavanae,senopossvelnempedagogicamenteaconselhvelqueparticipantesdoColquioassistamaodesenrolar da aco feita com as crianas, iremos no entanto ao MuseudaquelaFundaoaprendercomose faz ouvindoaSr.D.MargaridadeLencastrerelatarnososaltoseosbaixosdestaaventuraemAlfama.42
Entre25e29deMaiodeusevidaaalgunsespaosinterioreseexteriores
do palcio das Portas do Sol, reconstituindo a vida quotidiana de finais do
sculoXVIII,dandoaconhecerscrianasdasescolas locais,com idades
compreendidasentreos9eos13anos,avidadeh200anosatrs,atravs
da sua participao como personagens desse tempo, vivendo um dia em
finais de setecentos. Encarnaram cozinheiros, criados, marceneiros,
jardineiros, cocheiros, etc., acompanhadas por monitores adultos
encarregues de orientar as actividades de cada grupo. (cf. Apndice
FotogrficoFiguras1,2e3).
41CoordenadoradoServioEducativodaFRESSe,posteriormente,PresidentedoConselhoDirectivo da Associao Acordar Histria Adormecida, instituio sem fins lucrativos que,partindo da ideia de Histria ao Vivo, levou a cabo projectos destinados infnciadesenvolvendo pequenas histrias a partir da Histria. Esta associao foi constitudaformalmenteem1989dando,maistardeorigemcriaodoMuseudasCrianas,peloqualMargaridadeLancastreresponsvel.
42 AssociaoPortuguesadeMuseologia,ActasdoColquioAPOM/87AEscolavaiaoMuseu,LisboaPalcioGalveias,30deAbril3deMaio1987,p.12.
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A actividade foi noticiada pela imprensa escrita: Dirio de Notcias O
SculoCorreiodaManheDirioPopulardivulgaramepresenciaramcom
entusiasmo esta aco de Histria ao Vivo. (cf. Apndice Documental
Documento4)
Tambmem1987,oServioEducativodosMuseusMunicipaisdoPorto,
aderem ao projecto Histria ao Vivo, com o apoio da APOM, recriando a
chegadadoreiD.JooIaoPorto,em1387,aquandodoseucasamentocom
D.FilipadeLencastre.
Durante uma semana, estevemontada umaOficinaMedieval comsala
debanquete,copaecozinha,ondeseencenouobanquete.
AanimaoteveinciocomocortejoemqueoreifoirecebidopeloBispo
D. Joo no Pao Episcopal. Neste cortejo, dirigido pelo capeloda rainha,
participaramreis,fidalgos,pagens,escudeiros,conduzidosporumjogralque
tocavaadufe.
Na cozinha, guarnecida de presuntos, salpices e ramos de loureiro, os
participantes(criados,escudeiroseromeiros)puderamfabricaropo,asopa
eoqueijo, fazer lume, lavara loiaemgrandesselhas,comerasopasem
talheres,tendodeusaropoparalevaremoslegumesboca.
Ocasal realeos fidalgosqueosacompanhavam tomaramo repastoem
mesas corridas. Participaram 40 personagens crianas de escolas
preparatriasdoPortoquetiveramoportunidadedevivenciaronotvelfacto
histrico que se passara hprecisamente seiscentos anos, aco