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    A Mscara e a Face: proposta de instrumento de mediao eanlise crtica de uma obra de arte em educao no-formal.

    Maria Helena Rosa Barbosa

    Mestranda do PPGAV/ UDESCArte-educadora do MASC

    ResumoEste artigo apresenta algumas reflexes sobre a educao no-formal, a mediao nomuseu de arte e, tambm, o estudo de uma obra de arte do acervo do MASC Museu de Arte de Santa Catarina, para o qual se utilizou a proposta do instrumentode mediao e anlise crtica de uma imagem, elaborada pela Professora DoutoraTerezinha Sueli Franz.Palavras-chave: Mediao em Museu de Arte. Educao no-formal. Instrumento demediao. Anlise crtica.

    AbstractThis article presents some reflections about the non-formal education, the mediation ina museum of art and, also, one work of art study that is located in Santa CatarinaMuseum Arts collection, for which was utilized the instrument proposal of mediationand critical analysis of an image, elaborated by the Phd Professor Teresinha SueliFranz.Keywords: Mediation instrument. Mediation in Museum of Art. Non-formal education.Critical analysis.

    Autores, como Hernndez (2000) e Franz (2003), que teorizam dentro

    dos preceitos da arte-educao ps-moderna, salientam que qualquer

    educador que trabalha em educao formal ou no-formal deve estar atento s

    questes socioculturais para ajudar os estudantes a terem uma compreenso

    mais crtica da arte, da cultura visual e do meio em que vivem. Acerca dessa

    questo, Hernndez (2000, p.53) expe que As obras artsticas, os elementos

    da cultura visual so, portanto, objetos que levam a refletir sobre as formas de

    pensamento da cultura na qual se produzem.

    Na educao no-formal, especificamente o educador que trabalha em

    museu de arte deve estar ciente das diferentes interpretaes, isto , das

    mltiplas leituras que o pblico pode fazer de uma obra de arte. A respeito

    disso, Efland, Freeman e Stuhr (2003, p.74) afirmam que:

    Alguns crticos ps-modernos consideram que os espectadores deuma obra de arte a interpretam ou lem desde perspectivas to

    distintas que a partir de sua experincia visual constroem de fatoobras diferentes que podem chegar a parecer-se pouco ou nada coma inteno original do artista. (Traduo minha).

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    De acordo com essa concepo, no ensino da arte na educao ps-

    moderna, entende-se que uma obra de arte, criada em qualquer contexto

    histrico com seus respectivos valores estticos, pode estar aberta a mltiplas

    interpretaes, ou seja, ser lida e interpretada por diversas perspectivas que

    no esto somente na obra, mas tambm no seu entorno. Isso se d porque

    uma obra pode suscitar diversos questionamentos em diferentes contextos e

    culturas, e ser estudada a partir de uma pedagogia crtica e de uma

    abordagem cultural.

    Giroux (1997), fundamentado nas idias de Paulo Freire, afirma que uma

    pedagogia crtica deve estar pautada em prticas pedaggicas que

    possibilitem aos professores e aos estudantes exercerem [...] o papel crtico e

    reflexivo de intelectuais transformadores (p.125). Tambm, embasado nas

    idias de Paulo Freire, Ramos (2004) prope que a educao em museus seja

    trabalhada a partir de objetos geradores, por meio de uma pedagogia do

    dilogo para que educadores e estudantes tenham [...] uma abertura de

    visibilidade, o alargamento da percepo e [...] um relacionamento mais

    crtico com as exposies museolgicas (p.62). Essa proposta, para o autor,

    exige que o educador faa mais pesquisas sobre os objetos, pois s assim ele

    poder provocar o dilogo e possibilitar uma reflexo mais crtica.

    J Hooper-Greenhill (1998) diz que os museus so espaos perfeitos

    para a aprendizagem, mas, para que isso acontea, necessrio que os

    educadores entendam que a forma mais elementar de trabalhar com os

    objetos com o uso de perguntas (p.206). A autora ainda explana que,

    assim,

    [...] as pessoas podem sentir que os objetos do museu esto sendo

    investigados e resultam interessantes e transcendentes, que sabemcomo reagir diante deles e que saem enriquecidos e renovados coma experincia de trabalhar com eles. (HOOPER-GREENHILL, 1998,p. 210, traduo minha).

    Percebe-se que propostas educativas no museu, nas quais se prioriza

    trabalhar a partir dos objetos e do dilogo, exigem uma postura diferenciada do

    educador, tanto em relao ao seu planejamento quanto na sua interao com

    o pblico. Diante dessas concepes, primordial a realizao da visita

    mediada, na qual o educador abre espao para que o pblico tenha voz por

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    meio do lanamento de questes que instiguem os visitantes a um olhar mais

    atento para a obra, a fim de que eles falem sobre suas prprias interpretaes,

    como tambm levantem outros questionamentos e reflitam sobre as questes

    socioculturais que as obras suscitam. Ser mediador em uma exposio no

    museu no tarefa fcil, mas sim um desafio para todos aqueles que

    entendem que esse espao um local de apropriao do conhecimento e

    reflexo sobre as questes que envolvem os saberes dos visitantes e suas

    relaes com o mundo em que vivem.

    Educao para uma compreenso crtica da arte

    O ensino da arte na educao ps-moderna tem provocado algumas

    mudanas tanto em educao formal quanto na no-formal. Diversos autores

    como Hernndez (2000; 2007), Giroux (1998), Efland, Freeman e Stuhr (2003),

    tm apresentado as mais variadas propostas a partir dos Estudos Culturais e

    da Pedagogia Crtica. J, no Brasil, a arte-educadora Teresinha Sueli Franz

    apresenta uma proposta de ensino da arte a partir da imagem, pautada na

    abordagem cultural, conforme a proposta compreenso crtica da cultura

    visual, de Fernando Hernndez (2000; 2003) e na Pedagogia Crtica.

    Franz apresenta o resultado da pesquisa de sua tese de doutorado,

    realizada a partir da pintura Primeira Missa no Brasil, de Victor Meirelles, no

    livro Educao para uma compreenso crtica da arte(2003). De acordo com a

    autora,

    A educao para a compreenso tem como uma de suas principaispreocupaes partir da realidade pessoal, social e cultural de quemaprende. [...] e, em contrapartida, que aprendam a usar os novosconhecimentos para melhorar seu mundo individual e social. (FRANZ,

    2003, p. 141).

    Alm disso, tambm assegura que o educador que se prope a

    trabalhar com uma imagem da arte ou da cultura visual, em sala de aula, em

    museus e outros espaos expositivos, precisa entender que a imagem se

    apresenta como um objeto de estudo interdisciplinar e transdisciplinar, porque

    [...] uma obra de arte pode servir de tpico gerador para realizarestudos que visem a desenvolver elevados nveis de reflexo e

    compreenso sobre arte, histria, antropologia e sobre a vidaindividual e social dos educandos. (FRANZ, 2003, p. 142).

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    Sendo assim, o educador que souber estabelecer as relaes entre as

    diversas reas do conhecimento ao interpretar uma obra de arte ou outra

    imagem da cultura visual, conseqentemente, ir ensinar a problematizar um

    tpico gerador1, de forma a possibilitar muitas reflexes para que seus alunos

    cheguem a uma efetiva compreenso da imagem.

    No mesmo livro, Franz expe o resultado da pesquisa realizada, com

    um determinado grupo de adultos, sobre a compreenso ou interpretao da

    pintura Primeira Missa no Brasil. A partir do estudo, determina cinco mbitos

    de compreenso nos quais se do as interpretaes de uma obra de arte, isto

    , pelo mbito histrico/ antropolgico, mbito esttico/ artstico, mbito

    biogrfico, mbito crtico/ social e mbito pedaggico. Associa, tambm,esses mbitos a quatro nveis de compreenso, ou seja, aos nveis

    ingnuo, de principiante, de aprendiz e de especialista, a fim de [...]

    identificar as qualidades de uma boa compreenso, assim como os problemas

    que prejudicam uma compreenso coerente [de uma obra de arte] (FRANZ,

    2003, p.237).

    Franz constatou que, dentro dos cinco mbitos de compreensode

    uma obra de arte, os quatro nveis de compreenso so variveis, ou seja,podendo acontecer de uma pessoa apresentar uma compreenso de

    especialista, num determinado mbito, e de ingnuo, em outro. Ela, portanto,

    apresenta estratgias didticas dentro de cada um dos mbitos, a fim de

    possibilitar ao aluno ou educador avanar na compreenso de uma obra de

    arte nos respectivos mbitos de compreenso porque, para a autora,

    Olhar as pinturas [as obras de arte/ as imagens da cultura visual]como representaes sociais, e no puramente estticas, o que nospermite entend-las em vrios mbitos de compreenso quetranspassam disciplinas como a Histria (social e cultural), aAntropologia, a Esttica, a Pedagogia e a biografia dos indivduos.(FRANZ, 2003, p. 139-140).

    Em vista disso, Franz prope que a escola e todos os educadores

    envolvidos com a educao formal e no-formal estejam voltados para o

    ensino da compreenso da arte por meio de problematizaes, pesquisas,

    estudos e estabelecimento de relaes entre as diferentes reas do

    conhecimento. E, tambm, que essa forma de ensinar e de aprender, por meio

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    de imagens da cultura visual e da arte, tenha como finalidade possibilitar que o

    aluno exera seu papel no mundo de sujeito sensvel, crtico e social.

    Instrumento de mediao e anlise crtica de uma obra de arte

    Alm da proposta de mediao realizada com uma pintura histrica

    (2003), Franz produziu com Thais P. Gralik (2006) o artigo intitulado

    Instrumento de Mediao e Anlise Crtica de uma Imagem, no qual elas

    selecionam uma imagem da cultura visual, especificamente de HQ (histria em

    quadrinhos), para demonstrar aos educadores como possvel realizar

    estudos crticos e educar para a compreenso com imagens que fazem

    parte do cotidiano dos alunos.

    Tendo como referncia os trabalhos citados de Franz, apresenta-se

    uma proposta de mediao, estruturada conforme os mbitos de

    compreenso, propostos pela referida autora, com uma obra do acervo do

    MASC Museu de Arte de Santa Catarina. A obra selecionada para a

    estruturao do instrumento de mediao e anlise crtica de uma obra de

    arte partiu, primeiramente, do interesse em explorar os mbitos propostos por

    Franz com uma escultura moderna, que pertence ao acervo de um museu, bem

    como suas possibilidades no ensino da arte em educao no-formal.

    O ponto de partida, para iniciar o instrumento de mediao,

    selecionar a obra e realizar algumas pesquisas bsicas, como: o ttulo da obra;

    o nome e vida do artista; o material que foi usado na produo da obra; o

    perodo em que foi produzida e o acervo ao qual pertence. medida que se

    obtm esses dados, j possvel estruturar outras questes que levem a uma

    pesquisa mais ampla sobre a obra e suas relaes socioculturais.

    A obra de arte A Mscara e a Face

    A escolha da obra de arte deve-se ao fato de ela ser a primeira escultura

    integrante do acervo do MASC Museu de Arte de Santa Catarina e ter sido

    doada pessoalmente pelo artista a um museu pblico, como tambm por

    suscitar questes socioculturais.

    A escultura A Mscara e a Face, de Bruno Giorgi, foi doada pelo

    artista, em novembro de 1949, para o MAMF Museu de Arte Moderna deFlorianpolis (atual MASC Museu de Arte de Santa Catarina). Giorgi esteve

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    na cidade a fim de entregar uma encomenda do

    governo do estado o busto de Rui Barbosa,

    instalado na Praa XV de Novembro2, e fazer a

    doao da escultura ao museu recm-criado

    (maro de 1949). Conforme foto da capa e

    entrevista com o artista, publicada na Revista Sul

    n 10, a obra era intitulada O Rosto e a

    Mscara. (BALLSTAEDT, 1949). A Revista Sul

    (publicada de 1948 a 1957) foi uma produo

    local, editada por um grupo de artistas,

    intelectuais e escritores catarinenses que

    formavam o CAM Crculo de Arte Moderna

    (fundado em 1947), conhecido como Grupo Sul.

    Esse grupo tambm teve um papel relevante na

    criao do MAMF (atual MASC). (FRANZ; LAUS,

    1987).

    Nascido a 13 de agosto de 1905, na cidade

    de Mococa, interior de So Paulo, Bruno Giorgi

    viveu a maior parte de sua infncia e juventude na

    Itlia, pois, como seus pais eram de origem italiana, voltaram para a terra natal

    quando ele estava com apenas seis anos de idade. Sua formao artstica se

    deu, primeiramente, em Roma onde iniciou estudos de desenho e pintura na

    dcada de 20. Em 1935, ainda em Roma, foi extraditado para o Brasil por se

    envolver em movimentos antifascistas. Retornou Europa em 1937 e fixou-se

    em Paris onde freqentou as academias La Grande Chaumire e Ranson,

    sendo que nesta ltima conheceu o escultor Aristide Maillol que passou a serseu orientador. Na capital francesa, conviveu com artistas como Marino Marini,

    Charles Despiau e Henry Moore.

    Giorgi voltou para o Brasil em 1939, estabeleceu-se na cidade de So

    Paulo e conviveu com artistas do movimento moderno. No entanto, a convite

    do ministro Gustavo Capanema, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1943.

    Nessa cidade, realizou sua primeira escultura para espao pblico, intitulada

    Monumento Juventude Brasileira (1947) que se encontra nos jardins doantigo Ministrio da Educao e Sade, atual palcio Gustavo Capanema (Rio

    GIORGI, BrunoMococa, SP, 1905 Riode Janeiro, RJ, 1993A MSCARA E A FACE [s.d.]Gesso, 90 x 34 x 18Doao do artistaAcervo MASC

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    de Janeiro). Participou de Bienais de Veneza e de So Paulo, sendo que, na

    edio da Bienal de 1953 (SP), ganhou o prmio de melhor escultor nacional.

    Embora tenha produzido obras em bronze e mrmore sem referncia

    ao mundo objetivo, Giorgi realizou uma intensa produo caracterizando a

    figura humana de forma estilizada. (PONTUAL, 1987, p. 139). Na produo

    escultrica de Giorgi, a figura feminina foi um dos temas constantes. Apesar da

    originalidade nas solues formais presentes no trabalho do artista, possvel

    perceber a influncia das resolues de Maillol em algumas de suas obras,

    como tambm de Henry Moore em outras. Em meados da dcada de 1940, o

    artista afastou-se das influncias de Maillol [...] em busca de uma sntese

    maior da figura [...], na qual enfatizava [...] um carter mais linear, mais

    delgado [...]. Assim, suas solues formais se aproximam mais do trabalho de

    Henry Moore com o qual ele [...] travaria um intenso dilogo a partir dos anos

    50. (CHIARELLI, 1998, [s.p.]).

    Giorgi realizou, desde a dcada de 1940, vrias obras para espaos

    pblicos por meio de encomendas institucionais. Algumas se tornaram

    verdadeiros cartes-postais, como Os Candangos (1960), na Praa dos Trs

    Poderes, e Meteoro (1967), no lago do edifcio do Ministrio das Relaes

    Exteriores, em Braslia. Sua ltima obra pblica foi Integrao (1989) para o

    Memorial da Amrica Latina (So Paulo), pois veio a falecer, no dia 07 de

    setembro de 1993, no Rio Janeiro. Sua sade j se encontrava debilitada, uma

    vez que o p de mrmore, material com o qual trabalhava sem proteo de

    uma mscara, j vinha comprometendo seus brnquios h algum tempo.

    Deixou uma extensa produo, no somente de obras em espaos pblicos,

    mas tambm esculturas de pequeno e mdio porte que pertencem a

    colecionadores e acervos de museus.

    Os mbitos de Compreenso

    De acordo com os postulados de Franz, pode-se partir de qualquer um

    dos diferentes mbitos para se compreender uma imagem, mas, como o

    objetivo que o educador perceba o quanto uma obra de arte pode suscitar

    questes a serem investigadas, essencial iniciar pelo mbito pedaggico.

    Importa salientar que, medida que se obtm mais informaes sobre a obra,estabelecem-se relaes e formulam-se questes que so conectadas a

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    outros mbitos. preciso, no entanto, estar ciente de que, embora se possa

    levantar uma srie de questes que possibilitaro respostas objetivas, outras,

    dependendo do mbito, levaro a respostas completamente subjetivas.

    mbito pedaggico

    Nesse mbito, o educador explora o que pode ser trabalhado com

    os alunos a partir da obra selecionada. No contato do educador com a

    imagem, ele formula vrias questes que sero seu ponto de partida para

    desenvolver um projeto de estudo que possibilite aos alunos compreenderem

    a arte. Assim, o educador, j em posse de alguns dados, formula questes,

    como: Que contedos podem ser explorados a partir da obra A Mscara e a

    Face?; Quem o artista, em que poca viveu e que outras obras produziu?;

    Como a obra passou a fazer parte do acervo do MASC?; Como trabalhar a

    compreenso da obra em uma visita mediada no museu?; Que relaes

    podem ser estabelecidas entre a obra com outras reas do conhecimento e

    saberes no-sistematizados?; Que relaes intertextuais podem ser exploradas

    a partir da obra?; Que textos e outras imagens podem ajudar a compreender

    melhor a obra?.

    Essas so algumas das possveis perguntas diretamente ligadas ao

    trabalho do educador no museu. Ele, contudo, deve formular outras questes

    que incitem um olhar mais aguado para a prpria obra e que devem ser

    utilizadas no momento da mediao, conforme a idade, a escolaridade,

    nveis de compreenso e necessidade do pblico. Para que a observao seja

    instigadora, formulam-se perguntas como: O que a obra representa?; O que

    chama mais ateno na obra?; Que caractersticas determinam o sexo das

    figuras humanas?; Qual a expresso na face das duas figuras humanas?.No se pode esquecer que, em uma mediao, o pblico tambm

    poder levantar questes completamente diferentes daquelas que o educador

    formulou. Essa interao do pblico que possibilita uma troca de

    conhecimentos e faz com que a visita ao museu seja, realmente, um momento

    de aprendizagem e troca de saberes, inclusive para o educador (mediador).

    mbito Esttico/ ArtsticoOs artistas, em diferentes pocas e culturas, esto sujeitos a

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    determinados valores constitudos por uma sociedade para produzirem suas

    obras. Alguns rompem com esses valores e criam outros que acabam por

    serem assimilados e constitudos em novos que passam a ser valorizados e

    aceitos pela sociedade. Pesquisar e estudar essa transformao o que

    possibilita uma melhor compreenso da produo artstica nos diferentes

    contextos e culturas. Questes, como as que seguem, permitem ampliar

    conhecimentos e, assim, compreender melhor a obra nesse mbito: As figuras

    humanas obedecem a normas rgidas de representao do real ou so

    estilizadas?; O que escultura?; Que materiais o artista utilizou para produzir a

    obra?; Qual a diferena entre escultura popular, acadmica, moderna e

    contempornea?; O que arte pblica?; Quais os elementos da linguagem

    visual perceptveis na obra?; Que influncias de outros artistas modernos

    possvel perceber na obra?; Que relaes podem ser estabelecidas entre a

    obra e outras produes artsticas produzidas pelo homem em diferentes

    culturas?.

    mbito Histrico/ Antropolgico

    Explorar a obra nesse mbito permite um olhar mais apurado sobre o

    momento histrico em que a obra foi produzida, sobre a vida e obra do artista,

    a sociedade em que ele viveu, bem como os significados que a obra carrega

    pertinentes a nossa e a outras culturas. Questes, como as seguintes, podem

    levar a uma maior compreenso: Por que o ttulo da obra foi modificado?; Por

    que Bruno Giorgi produziu muitas obras sob encomenda do estado?; Quais as

    obras pblicas mais conhecidas do artista?; O que uma mscara e para que

    serve?; A maquiagem tambm pode ser considerada uma mscara?; Para qual

    finalidade alguns povos usavam e ainda usam mscaras?.

    mbito Crtico/ Social

    Pensar de uma forma crtica sobre a sociedade em que vivemos o que

    possibilita esse mbito. As questes devem ser formuladas visando extrair, a

    partir da obra, reflexes que tenham pertinncia com a sociedade e a cultura

    em que se vive. Assim, formulam-se perguntas, como: O que o ttulo da obra

    nos fala sobre identidade na sociedade atual?; Ser que as pessoas podemestar mascaradas mesmo no usando o objeto mscara?; A maquiagem

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    modifica a imagem que uma pessoa nos passa? E a roupa?; A figura feminina

    longilnea, representada na obra, permite-nos refletir sobre a condio da

    mulher hoje e o culto s formas esguias?; Qual era o papel da mulher na

    sociedade brasileira na poca em que a obra foi produzida? E hoje?.

    mbito Biogrfico

    Esse mbito permite que se formulem questes que propiciem ao

    sujeito estabelecer uma relao entre a obra e sua histria pessoal, seus

    valores e crenas. Assim, as reflexes podem ser suscitadas a partir das

    seguintes questes: Voc j usou uma mscara? Em qual situao? Como se

    sentiu?; Voc acha que a publicidade, as novelas, os filmes influenciam as

    pessoas a serem mascaradas nas suas relaes pessoais e profissionais?.

    Consideraes finais

    Algumas das questes, formuladas nos referidos mbitos, podem ser

    exploradas no momento da mediao com o pblico, porm o educador deve

    estar atento aos nveis de compreenso das diferentes pessoas, como tambm

    de suas faixas etrias, para no lanar questes complexas demais que

    impeam a abertura para o dilogo, a reflexo e apropriao do conhecimento

    no espao do museu.

    importante enfatizar que, embora o instrumento de mediao e

    anlise crtica seja uma proposta que sistematiza o trabalho do educador ao

    que antecede o trabalho com o pblico, ela no pode servir como receita, com

    passos a serem seguidos em frente obra de arte durante a mediao.

    Serve, portanto, como um referencial porque, em uma mediao, respeitam-

    se os diferentes nveis de compreenso do pblico, prioriza-se o dilogo e,dessa forma, os mbitos acabam se entrecruzando. Sendo assim, o educador

    deve estar atento para as perguntas que o pblico faz, para poder propor

    questes que auxiliem o pblico a encontrar respostas para seus prprios

    questionamentos, como tambm o ajudem a compreender melhor uma obra de

    arte dentro do contexto social em que foi produzida e no qual est inserida.

    Uma mediao no um monlogo e sim um dilogo no qual se deve estar

    atento ao tempo de falar e ouvir, de problematizar, refletir e contextualizar.Para que uma visita ao museu possa alcanar todo seu potencial

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    educativo, fundamental que ela seja tambm planejada com uma certa

    antecedncia pelo professor. Ele deve, portanto, trabalhar contedos

    relacionados com a obra ou a exposio, anteriormente, na escola, para que os

    estudantes possam estabelecer relaes com seus outros saberes, tenham

    uma maior apropriao do conhecimento no momento da mediao e saiam

    do espao museal com muitas reflexes que os levem a buscar mais respostas

    sobre a arte e o mundo em que vivem.

    A proposta aqui apresentada de instrumento de mediao e anlise

    crtica com uma obra de arte do MASC, fundamentada nas idias de Franz,

    s um pouco do quanto pode ser mais dinmico e consistente o trabalho do

    educador de museu. No entanto, para realizar a proposta, o educador precisa

    de tempo hbil, ou seja, que as exposies com obras do acervo sejam

    planejadas com antecedncia para possibilitar toda uma pesquisa e preparo

    do educador, no somente para a mediao e assessoria ao professor, como

    tambm para a produo de um material educativo que possa ser distribudo s

    escolas. O instrumento de mediao de grande relevncia por possibilitar

    uma maior compreenso do prprio educador de museu sobre os objetos que

    so sua ferramenta de trabalho.Tambm de ampliar sua viso no que

    caracteriza a sua responsabilidade social em educar para uma compreenso

    crtica da cultura material em um espao de educao no-formal.

    Notas_______________________1 O termo tpico gerador apresentado por Franz e est fundamentado nas idias de Perkins, Blyte e

    Wiske (FRANZ, 2003, p. 167-172) e tambm nas idias de Paulo Freire de palavra geradora, citadaspela autora.

    2 Atualmente, no se encontra na Praa XV de Novembro e seu destino desconhecido. Instituiescompetentes esto tomando providncias para localizar o paradeiro do busto.

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    Maria Helena Rosa Barbosa

    Licenciada em Educao Artstica pela UDESC, em 1994. Arte-educadora do

    MASC Museu de Arte de Santa Catarina. Mestranda do PPGAV Programa

    de Ps-Graduao em Artes Visuais Linha de Pesquisa: Ensino das Artes

    Visuais, CEART/ UDESC, sob orientao da Professora Doutora Sandra

    Regina Ramalho e Oliveira.