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06 em foco ANA certificada pela APCER 31 ambientes Chegaram os estacionamentos ecológicos Nº03 OUTUBRO 2008 MAGAZINE Crise dos combustíveis: que impacto para o transporte aéreo?

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06 em focoANA certificada

pela APCER31 ambientes

Chegaram os estacionamentos

ecológicos

Nº03 OUTUBRO 2008

MAGAzINE

Crise dos combustíveis: que impacto para o transporte aéreo?

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passageiros eram, para muitos aeroportos, simples estatísticas. Felizmente esta relação tem vindo a equilibrar-se, o que agora terá que acontecer ainda mais depressa. Como se tem visto, as companhias aéreas são as mais directa e rapidamente afectadas pela crise. Para compensar, temos que oferecer e ir buscar ainda mais valor aos passageiros. Significa que os aeroportos têm que evoluir ainda mais rápido de meras zonas de passagem para zonas de bem-estar. É o que, há vários anos, a ANA já vem fazendo. Neste novo cenário, tem uma razão ainda mais forte para seguir no mesmo caminho.

O DESAFIO DOS COMBUSTÍVEIS

editorial

variação do preço dos combustíveis traz importantes desafios ao mundo, ao país e ao sector aeroportuário em particular. Não tendo a

veleidade de ter soluções, permito-me contribuir com um olhar sobre o tema, de três perspectivas distintas.

Primeira, todo este tema da crise do petróleo mina a crença nos mercados livres, de concorrência aberta e informação perfeita, nas economias de mercado. À luz das teorias económicas clássicas, as variações dos últimos meses não deveriam ter ocorrido. Mesmo que a procura suba mais do que oferta, não há razão para os preços variarem assim. A teoria também pressupõe que os agentes económicos são racionais. Mas, na realidade, nem a informação nem os mercados são perfeitos, nem os agentes actuam racionalmente. O que dá que pensar sobre as soluções, quando mesmo em economias de mercado os mercados funcionam mal e assimetricamente.

Segunda, a crise do petróleo, mais que um problema, deve ser vista como uma oportunidade. Para Portugal, é a ocasião de repensar a sua dependência energética, criando indústrias líderes nessa área, poupando, criando novos hábitos, encontrando soluções. Enfim, evoluindo como sociedade e como país. É uma necessidade que já existia, faltava era o sentido de urgência e a mobilização.

Terceira, sobre o impacto no nosso sector. Os aeroportos têm dois grandes grupos de clientes – as companhias aéreas e os passageiros. Houve um tempo em que só as primeiras contavam a sério: os

A CRISE DO PETRÓLEO, MAIS QUE UM PROBLEMA, TEM QUE SER ENCARADA COMO UM DESAFIO E UMA OPORTUNIDADE

Alda Borges CoelhoConselho de Administração

da ANA

A

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_sumário

editorial 03

08em foco

As companhias aéreas e aeroportos estão a adaptar- -se às implicações que a alta

do petróleo traz ao sector. Avizinha-se um Inverno

rigoroso para todos.

chegadas 14

20entre vidas

A um mês da primeira participação da ANA no

Salão Imobiliário de Lisboa, Pedro Beja Neves faz um balanço dos projectos em

curso e anuncia a criação de um fundo de investimento

imobiliário.

inovação 24

insights 27

ambientes 31

follow me 34

38partidas

Por mais vezes que lá se vá, Roma continua a seduzir como na primeira vez. E,

além de eterna, Roma está agora mais moderna e

cosmopolita que nunca.

lifestyle 42

aldeia global 48

50passageiro frequente

Margarida Rebelo Pinto conta como uma semana de

puro relax na ilha do Sal se transformou numa aventura

na hora do regresso.

14Onde a Ria é mais bonita

06ANA

certificada pela APCER

44Degustar

sem pressa

PROPRIEDADE: ANA - Aeroportos de Portugal SA Rua D - Edifício 120 - Aeroporto de Lisboa 1700-008 Lisboa - PortugalTel (+351) 218 413 500 - Fax: (+351) 218 404 231 [email protected]ÇÃO: Octávia CarrilhoPROJECTO GRÁFICO E EDITORIAL: HamletRua da Pedreira Italiana Nº 1 Lote 152760-092 Caxias Tm. 967 073 [email protected]ÇÃO: Cláudia Silveira EDIÇÃO: Cláudia Silveira e Jayme KopkeDESIGN: Miguel Baião e André RemédiosFOTOGRAFIA: Um Ponto Quatro Carlos Ramos e Paulo AndradePUBLICIDADE: HamletRua da Pedreira Italiana Nº 1 Lote 152760-092 Caxias Tm. 967 073 248IMPRESSÃO: CTPRua Vieira da Silva, N 45 1350-342 LisboaPERIODICIDADE: TrimestralTIRAGEM: 5 000 exemplaresDEPÓSITO LEGAL: 273250/08ISSN: 1646-9097

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ANA, João Farinha, responsável pela coordenação do projecto, refere que “a ANA tem agora o conhecimento e as ferramentas necessárias para implementar melhorias que continuem a permitir que a organização se posicione entre as mais eficazes, com grande capacidade de adaptação a um mercado cada vez mais exigente e competitivo”.

O Sistema de Gestão Integrado continuará a ser alvo de auditorias quer internas, quer externas, que visam confirmar não só a conformidade com as normas adoptadas mas também a melhoria contínua.

ois anos após o início da implementação do Sistema de Gestão Integrado na ANA, a empresa viu reconhecido o esforço pela Associação Portuguesa

de Certificação (APCER) com a certificação simultânea nas vertentes de Qualidade, Ambiente, Saúde e Segurança no Trabalho e Responsabilidade Social. Tornou-se assim a primeira e única empresa de gestão aeroportuária no mundo a atingir este marco.

Além do reconhecimento público pelo esforço de uma melhoria contínua e de uma cultura orientada para a satisfação do cliente, a certificação agora obtida atesta o alinhamento da ANA com as melhores práticas internacionais do sector, já que a certificação abrange todas as vertentes da Gestão de Actividades Aeroportuárias, ou seja, os negócios aviação e não-aviação.

Depois de em Junho ter sido atribuída a certificação em Qualidade, em Setembro foi a vez das restantes áreas serem certificadas pela APCER, segundo as normas ISO9001, ISO14001, OSHAS18001 e SA8000. É o culminar de um

ANA CERTIFICADA PELA APCER

trabalho que teve início em Outubro de 2006 com a implementação do Sistema de Gestão Integrado (SGI). Um esforço que contou com uma grande participação dos colaboradores e que, com a ajuda permanente do consultor seleccionado pela ANA, a VP Consulting, permitiu caracterizar, harmonizar, monitorizar e documentar os principais processos internos.

A aplicação de um sistema deste género visa sistematizar e normalizar os processos de actuação da empresa, tendo em vista melhorar o funcionamento e o serviço prestado ao cliente. Isto, por sua vez, resulta numa melhor imagem perante a comunidade envolvente e os vários parceiros de negócio. No caso da

ANA, a implementação do SGI assume uma importância especial na óptica da futura privatização.

Levar a cabo um projecto desta envergadura é algo bastante complexo. É preciso harmonizar inúmeras actividades, com um envolvimento permanente dos colaboradores e a clarificação das responsabilidades de cada um. No caso da ANA, foi criado um modelo comum de processos para os vários aeroportos, através de uma Equipa de Melhores Práticas que continuará a apoiar os negócios aviação e não-aviação desde o licenciamento

até à avaliação da satisfação do cliente. O modelo escolhido, o AIRPRO – Airport Process Reference

Model, fundamenta-se na cadeia de processos dos vários serviços prestados pela ANA. Como resultado, a empresa tem hoje uma ferramenta que permite gerir processos e procedimentos internos de uma forma harmonizada.

O SGI da ANA é um projecto inovador em Portugal, ao integrar as quatro vertentes agora certificadas. Para que tivesse êxito, as pessoas foram fundamentais. A sua implementação em apenas um ano e meio só foi possível com a colaboração das diferentes áreas da empresa, apoiadas pela VP Consulting, empresa líder na gestão de processos.

O director do Gabinete para a Gestão da Qualidade da

AO OBTER EM TEMPO RECORDE A CERTIFICAçãO DO SEU SISTEMA DE GESTãO INTEGRADO, QUE ENGLOBA QUATRO REFERENCIAIS NORMATIvOS – QUALIDADE, AMBIENTE, SAúDE E SEGURANçA NO TRABALHO E RESPONSABILIDADE SOCIAL – A ANA TORNOU-SE NA PRIMEIRA E úNICA EMPRESA DE GESTãO AEROPORTUáRIA DO MUNDO A CONSEGUIR A CERTIFICAçãO SIMULTâNEA NESTES REFERENCIAIS.

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_em foco

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elo menos 4 aeroportos de primeiro nível inauguraram este ano novas infra-estruturas. Foi o caso do Singapura Changi T3, o Aeroporto de Beijing T3, o Shangai Pudong

T2 e também de Heathrow, que abriu o seu T5. Mas a actual conjuntura da indústria da aviação leva a crer que o crescimento não é a tendência para os tempos mais próximos.

Desde que o preço do petróleo rompeu a barreira dos 130 dólares por barril, as companhias aéreas um pouco por todo o mundo procuram soluções para reduzir custos

e aumentar receitas. Basta abrir o jornal para diariamente vermos notícias sobre companhias que reduzem frequências e frotas, cobram no transporte das bagagens, aumentam taxas de combustível, fundem-se com outras e, nas piores situações, despedem funcionários.

Claro que, se as companhias aéreas apertam o cinto, isso reflecte-se na actividade dos aeroportos. Os últimos dados sobre o tráfego de passageiros, de Julho, dão já conta de um abrandamento. A Fraport, gestora do Aeroporto de Frankfurt, registou uma queda de 2,4% face ao mesmo mês de 2007. As mesmas notícias vêm da Aéroports de Paris, com uma quebra de 0,5% (mais acentuada no Aeroporto de Paris-Orly), e da BAA, gestora dos aeroportos

ingleses, com menos 1,7%. Já Barajas, em Madrid, perdeu 2,7% de passageiros, a queda mais acentuada desde o Verão de 2002.

Os dados do Airports Council International (ACI), estes relativos a Junho, revelam um “modesto crescimento de 2,1% no tráfego de passageiros nos aeroportos a nível global”. Esta desaceleração no crescimento é atribuída aos altos preços dos combustíveis.

Com a diminuição da procura e os custos das companhias a aumentar, estas preferem voar para os aeroportos maiores,

COMBUSTÍVEIS: A ORDEM É POUPAR

AS COMPANHIAS AÉREAS E AEROPORTOS ESTãO A ADAPTAR-SE A UMA NOvA FASE NO SECTOR QUE PARECE ESTAR APENAS NO COMEçO. AS IMPLICAçõES DA ALTA DO PETRÓLEO E OS ELEvADOS CUSTOS DOS COMBUSTívEIS TêM OBRIGADO A POUPAR E A PROCURAR NOvAS FONTES DE RECEITAS. PREvê-SE UM INvERNO RIGOROSO PARA A AvIAçãO.

P

DesDe que o preço Do petróleo

rompeu a barreira Dos 130 Dólares

por barril, as companhias aéreas

um pouco por toDo o munDo procuram

soluções para reDuzir custos e

aumentar receitas

onde as rotas são mais lucrativas, e optam por eliminar serviços em duplicado para aeroportos próximos. Por isso os aeroportos mais afectados começam por ser os mais pequenos e secundários.

Foi o que aconteceu com o Aeroporto Internacional de Ontário, em Los Angeles, que até há pouco tempo estava a bater

recordes de crescimento. Nos últimos meses foi o mais afectado, no sul da Califórnia, pela crise dos combustíveis, com muitas companhias domésticas a reduzirem ou eliminarem as operações para o aeroporto, preferindo voar para o Aeroporto Internacional de Los Angeles.

O grande desafio que se coloca agora aos gestores dos aeroportos é encontrar soluções para arrecadar mais receitas. A American Association of Airport Executives

O Airbus A380, que gasta menos combustível por passageiro e transporta até 800 pessoas, pode ser uma mais valia para os novos tempos.

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pub

Lojas, restaurantes, imobiliário: com combustiveis mais caros, os aeroportos

reforçam os negócios não-aviação.

_em foco

(AAAE) criou já uma “task force” com mais de 70 aeroportos de todos os Estados Unidos para encontrar soluções para o novo cenário que a alta dos combustíveis coloca aos aeroportos. O grupo vai desenvolver recomendações para uma política energética nacional e eventualmente propor uma política nacional para o serviço aéreo.

Num memorando recentemente enviado a todos os colaboradores da companhia norte-americana Continental Airlines, o CEO e o presidente anunciaram que “a indústria da aviação está em crise”. Dizem Larry Kellner e Jeff Smisek que “o seu modelo de negócio não funciona com o actual custo do combustível e o nível de capacidade existente no mercado. Em resposta a isso temos de fazer mudanças.”

Louis Gallois, presidente da European Aeronautic Defence and Space (EADS),

que detém a Airbus, afirmou que a alta do petróleo vai transformar completamente o sector. “Haverá certamente mudanças para os fabricantes de aeronaves assim como haverá mudanças sérias nas companhias aéreas, nos aeroportos e no controlo do tráfego aéreo”, prevê o executivo.

A factura do combustível tem causado um impacto maior nas “low cost” do que nas companhias convencionais. Com os custos dos combustíveis a atingirem valores impensados, o modelo de negócio das companhias aéreas de baixo custo encontra maiores dificuldades. Depois de a Ryanair anunciar que 20 aviões vão ficar no chão no Inverno, foi a vez de a Easyjet comunicar que pretende suspender algumas rotas. A Spanair foi mais longe e já despediu funcionários.

As companhias menores ou mal administradas foram as primeiras a sucumbir. Cerca de duas dúzias faliram nos últimos seis meses e, com o Inverno a aproximar-se,

Restrições ao transporte de bagagem tendem a aumentar

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espera-se que até 2010 cerca de 70 aeroportos estejam aptos para trabalhar com este superjumbo.

Apesar de estarem dependentes das companhias aéreas, os aeroportos têm vindo a diversificar as suas fontes de receitas. Os negócios não-aviação (lojas, estacionamento, publicidade, imobiliário), em contínuo crescimento em todo o mundo, serão certamente uma das formas de equilibrar as finanças enquanto a situação provocada pelo elevado preço do petróleo não se alterar.

s aeroportos são necessariamente afectados pela alta do petróleo. Uma situação que aconselha prudência e ajustamentos ao modelo de negócio, como nota o

Director de Estratégia e Marketing Aeroportuário da ANA.Face à evolução previsível do tráfego, Leonel Horta

Ribeiro considera fundamental a racionalização dos custos, a inovação e a optimização operacional. “Temos uma estratégia clara para cada aeroporto que gerimos, continuaremos a antecipar as necessidades dos clientes e a fazer uma aposta ainda mais forte nos negócios não-aviação”.

Quanto aos investimentos, pelo menos em Lisboa a estratégia não deverá mudar: “a expansão da Portela é imprescindível para a sua sobrevivência até à abertura do novo aeroporto, em 2017”.

O cenário aponta para uma diminuição da oferta, devido à redução de capacidade das companhias aéreas, e da procura, com o aumento das tarifas e taxas de combustível. Uma situação que poderá ameaçar os “hubs” com elevado tráfego de transferência. Também é de esperar que as transportadoras acentuem a pressão sobre os aeroportos, quer quanto à performance operacional, quer nos preços. “Neste contexto, nota Horta Ribeiro, continuaremos a estabelecer parcerias para a promoção do tráfego e para o aumento da atractividade dos nossos destinos”.

Do ponto de vista financeiro, é natural que se reduzam quer os proveitos de tráfego, quer os comerciais, com destaque para o retalho. Horta Ribeiro reconhece que estes efeitos, “conjugados com a rigidez da estrutura de custos, afectarão os resultados das empresas aeroportuárias”.

O segmento “low cost”, o mais afectado pela crise, tem uma expressão relevante nos aeroportos da ANA. Nos últimos cinco anos as low cost cresceram perto dos 30% anuais. No final do 1º semestre, a quota de mercado era de 27,4% do total de passageiros.

Aliás, no top 5 das companhias aéreas que operam em Portugal figuram as duas principais “low cost” da Europa: a EasyJet e a Ryanair. Mas, por aí, Horta Ribeiro não está preocupado. “São clientes com uma destacada liderança na Europa e no mundo e têm condições para sobreviver à crise que fazem inveja a muitas transportadoras tradicionais”.

Por outro lado, as fusões entre companhias, que resultam em duplicação de rotas, já levaram ao cancelamento de algumas operações. Faro, Lisboa e Porto perderam rotas com a compra, pela Air Berlim, da LTU, da Deutsche BA e da Germania Express. O mesmo deve acontecer após a fusão da Vueling e da Clickair.

“É imprescindível aprofundar o diálogo com os clientes deste segmento e criar condições para a sua fidelização e crescimento nos nossos aeroportos, sem perder de vista que o alargamento da base de clientes é essencial”, diz Horta Ribeiro.“No final sobreviverão os mais fortes e a ANA vai proteger-se o melhor que puder para a travessia da tempestade, para estar na linha da frente no próximo ciclo de crescimento económico.”

O Director de Estratégia e Marketing Aeroportuário da ANA considera importante que os governos, transportadoras e aeroportos, em conjunto, antecipem soluções para cenários de petróleo caro. “Se este requisito se aplica à generalidade dos países, para Portugal é absolutamente estratégico”.

PRUDêNCIA ATÉ PASSAR A TEMPESTADE

O céu é o limite?Nos úlimos dois anos o petróleo esteve sempre a subir

$40

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Ouma época em que as viagens aéreas caem, tudo indica que este número tende a crescer.

Para fazer frente aos prejuízos as companhias lançaram mão de várias estratégias. As medidas mais drásticas vieram do outro lado do Atlântico. Em resultado da crise têm tido menos dinheiro para fazerem “hedging” (fixar antecipadamente o preço) nas suas compras de petróleo, e por isso têm estado mais expostas aos recentes aumentos. A American Airlines, a Continental Airlines e a United Airlines estão a retirar da circulação aviões mais velhos e planeiam cortes conjuntos de até 12 mil postos de trabalho.

Por terem feito “hedging”, e também por grande parte das suas receitas serem em euros e comprarem o combustível num enfraquecido dólar americano, as transportadoras europeias têm alguma vantagem. Mesmo assim, empresas como a Air France, a TUIfly e a Air Berlin também estão a reduzir rotas e frotas. Do plano definido pela TAP para aumentar receitas e reduzir custos faz parte a supressão de 60 voos semanais, já a partir de Outubro.

A redução do peso para economizar combustível tem sido outra medida seguida por diversas companhias. Algumas já começaram a transportar o mínimo de água possível e outras consideram a hipótese de criar uma sobretaxa para passageiros com uns quilos a mais. A Air India foi mais longe e já transferiu os comissários mais “fortes” para postos em terra. Numa tentativa de voar mais leve, a Germanwings removeu até os manuais da tripulação, que pesavam cerca de 10 quilos, e substituiu-os por exemplares electrónicos.

Outra medida adoptada é a redução da velocidade. Mesmo que a viagem demore um pouco mais, poupam-se muitos milhares no final do ano.

A competição travada ao longo dos anos pelos dois maiores fabricantes de aeronaves – a Airbus e a Boeing – para desenvolverem aviões capazes de fazer travessias muito longas sem escalas parece agora sem sentido. O transporte de combustível extra que é necessário para estes voos sem paragens acarreta gastos que agora se querem evitar.

Para já, a Airbus parece sair a ganhar, já que o seu A380 consome relativamente menos combustível por passageiro

apesar De estarem DepenDentes Das companhias aéreas, os aeroportos têm vinDo a Diversificar as suas fontes De receitas. os negócios não-aviação, em contínuo crescimento em toDo o munDo, serão certamente uma Das formas De equilibrar as finanças

(pode transportar até 800 pessoas). Uma mais-valia preciosa se considerarmos que pode levar até 10 anos até uma nova geração de aviões alimentados com biocombustíveis estar pronta para descolar.

No entanto, não é qualquer aeroporto que pode receber um avião com as dimensões do A380. Com 73 metros de comprimento, 24,1 metros de altura e um peso máximo à descolagem de 560t, exige, além de pistas mais largas, outras condições logísticas para o seu estacionamento e para o embarque e desembarque de passageiros e bagagem. De acordo com a Airbus,

Set 2006

Dez 2006 Mar 2007Jun 2007

Dez 2007

Mar 2008

Jun 2008

Set 2008

Previsão

Os biocombustíveis poderão ser uma forma de resolver a dependência da aviação dos preços do petróleo. Mas tão depressa não serão uma realidade.

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_chegadas

açoteia é um terraço que existe no cimo das casas algarvias e que assume a função do telhado. Um elemento arquitectónico

introduzido pelos árabes e que servia tanto para o aproveitamento da água da chuva como para secar a fruta. Além, claro, do seu carácter de espaço de lazer.

O poeta algarvio João Lúcio, falecido em 1918, mandou construir no meio do pinhal da sua Quinta de Marim, em Olhão, um excêntrico chalé, cheio de pormenores exóticos e detalhes simbólicos. É exactamente da açoteia dessa casa, após a subida de um lanço de escadas encaracoladas, que se alcança uma das melhores visões da Ria.

O verde dos pinheiros de Marim que rodeiam o chalé une-se ao azul da Ria, espraiada à nossa frente, numa comunhão de cores que se atraem e completam. Hoje convertido em ecoteca, o chalé está aberto ao público e merece bem uma visita.

É DIFíCIL DIzER ONDE, AO LONGO DOS SEUS 60 QUILÓMETROS DE ExTENSãO, PARALELOS à COSTA DO ALGARvE, A RIA FORMOSA É MAIS BONITA, OU A PARTIR DE ONDE SE DESFRUTA A MELHOR vISTA SOBRE OS CANAIS, DUNAS, SAPAIS, ILHAS E ILHOTAS QUE COMPõEM ESTE SINGULAR ECOSSISTEMA. NãO É UMA TAREFA FáCIL, MAS ENTRE ANDANçAS PARA A FRENTE E PARA TRáS NO SOTAvENTO ALGARvIO, NA FAMOSA EN 125, ELEGEMOS TRêS LOCAIS PRIvILEGIADOS QUE PERMITEM PERCEBER POR QUE A RIA FORMOSA É, DE FACTO, UM LUGAR úNICO.

A

O chalé do poeta algarvio João Lúcio, em Marim, e a vista que se desfruta da sua açoteia.

ONDE A RIA É MAIS BONITA

A ponte de madeira e a Ria na zona do Ancão

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_chegadasÉ também em Olhão que está localizada a sede

do Parque Natural da Ria Formosa e o Centro de Educação Ambiental de Marim. Nesta zona restrita o visitante pode ficar a conhecer uma amostra representativa dos valores culturais e naturais da Ria Formosa. Ao longo de um percurso de 3 quilómetros, existem vestígios romanos dos tanques de salga de peixe, um moinho de maré, uma barca antiga que fazia o transporte do peixe para as fábricas de conserva, um observatório de aves e um aquário.

Para experimentar vivenciar a rotina dos que vivem à beira da Ria é preciso visitar Olhão, conhecida como a sua capital. Pelo menos caminhar um pouco pela marginal e sentir o movimento do porto, de onde saem os barcos que fazem a ligação a algumas das ilhas-cordão, como a Armona, a Fuzeta e a Culatra. Esta última tem três núcleos populacionais, a povoação piscatória da Culatra, o Farol (por ali estar situado o Farol de Stª Maria) e os Hangares.

Durante os meses de Verão o movimento é grande e a população aumenta significativamente, devido à procura das praias, mas no resto do ano o cenário é tranquilo e mais propício a uma visita.

oi criado em 1987 e ocupa uma área de cerca de 18.000 hectares dentro dos concelhos de Loulé, Faro, Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António.

Antes disso, porém, já um tratado inter-governamental de 1971, conhecido como Convenção de Ramsar por ter decorrido nesta cidade iraniana, classificara a área como Zona Húmida de Interesse Internacional.

Paraíso para os observadores de aves, sobretudo no Inverno aqui abrigam-se espécies do Norte e do Centro da Europa. O símbolo do Parque é o raro camão, um passaroco azul pernilongo e de bico encarnado que em Portugal só se encontra aqui. Outro habitante do Parque, quase extinto na Europa, é o camaleão.

A área é interessante também a nível botânico, sobretudo pela vegetação das zonas de duna e sapal. Por outro lado, a Ria assumiu também ao longo dos anos uma enorme importância económica devido à variedade de peixe, marisco e bivalves. A extracção de sal é outra actividade económica de relevo, sendo particularmente famosa a flor de sal da Ria Formosa, apreciada pelos gourmets.

PARQUE NATURAL DA RIA FORMOSA

Na Península do AncãoO início da Ria está definido na Península do Ancão (a que muita

gente chama de “ilha de Faro”). Aqui existe um extenso areal que mesmo no Verão é difícil lotar e que faz desta uma das melhores praias de todo o Algarve.

Nesta área de rara beleza foi construída uma ponte em madeira para os peões quase até à beira de água, dita a mais longa da Europa, para evitar o pisoteio sobre as dunas. É de cima deste extenso passadiço que se tem outra fantástica vista sobre a Ria.

Apesar da pressão humana ser já bastante considerável, esta zona é um pequeno santuário de vida selvagem e não é preciso muita sorte para observar garças, flamingos e corvos-marinhos nos lagos de água salgada que ali se formaram.

Para quem gosta de caminhar, existe um percurso que é muito frequentado pelos habitantes de Faro para passear, correr ou apenas pelo contacto com a natureza. Começando na estrada para a Península, a partir do Aeroporto de Faro, e terminando na Quinta do Lago, são quilómetros de paisagens dunares, salinas, lagoas, pássaros raros, uma vegetação variada e um cheiro a maresia que nos envolve. A melhor forma de terminar este passeio é, sem dúvida, um mergulho nas águas amenas da praia do Ancão.

O charme de Cacela velhaDepois de Tavira e antes do finalzinho da Ria, que termina

em Manta Rota, já no concelho de Vila Real de Santo António, estende-se a Península de Cacela. E numa elevação em frente à Ria Formosa e ao mar fica a centenária aldeia de Cacela Velha, antigo ponto de passagem de navegadores gregos e fenícios e poiso de romanos e árabes.

Na aldeia caiada ainda restam algumas moradias de arquitectura tradicional algarvia do século XVIII e não existem casas que não encaixam no cenário. Tudo ali faz sentido. Além de uma igreja de origem medieval, um poço, ruínas islâmicas e vestígios de fornos romanos, pouco mais há para ver. Mas não por acaso guardámos Cacela Velha para o fim do dia. Das muralhas da fortaleza assiste-se a um pôr-do-sol que nos tira as palavras.

Outro bom motivo para terminar aqui o périplo pela Ria são os (poucos) restaurantes que existem na aldeia e onde o marisco faz as delícias de muitos fiéis que, ano após ano, fazem fila depois da praia por um lugar. Também por isto, a melhor altura para saborear umas amêijoas com uma cerveja gelada é fora de época. Mesmo com temperaturas mais baixas, com o pôr-do-sol pode sempre contar.

Os flamingos na Ria na zona do Ancão.

Os passadiços de madeira evitam o pisoteio das dunas.

A extracção de sal continua a ser uma importante actividade económica na Ria Formosa.

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Um pôr-do-sol em Cacela velha.

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ajudar o trabalho de preservação da natureza e de educação ambiental da comunidade”, nota Francisco Pita, da Divisão de Marketing do Aeroporto de Faro.

O aeroporto tem conjugado a sua actividade operacional e, em particular, a segurança aeronáutica, com a biodiversidade da sua envolvente. Uma tarefa considerável, já que só em 2007 foram processados 5,47 milhões de passageiros e um total de 40.253 movimentos de aeronaves comerciais.

Hoje operam em Faro, numa base regular, mais de 30 companhias aéreas, a maioria das quais “low cost”. Os passageiros oriundos do Reino Unido representam 59% do total dos passageiros anuais, seguindo-se os alemães (10%), irlandeses (9%) e holandeses (8%).

Para responder ao crescimento do tráfego a ANA tem vindo a ampliar e modernizar o Aeroporto de Faro de forma equilibrada. A última fase de desenvolvimento terminou em 2001 com a ampliação do terminal, a renovação de equipamentos e a automação do sistema de tratamento de bagagens. Na mesma altura foi construída uma nova área de rent-a-car e melhorados os acessos ao aeroporto. Operacional desde Julho de 2003 está também um moderno sistema de aterragem por instrumentos.

Actualmente o Aeroporto de Faro tem capacidade para processar 22 movimentos de aeronaves por hora, o que corresponde a um fluxo anual de seis milhões de passageiros. Os próximos desenvolvimentos vão assentar na expansão da placa de estacionamento de aeronaves e numa nova expansão do terminal, para adequar a capacidade ao crescimento esperado da

procura turística da região.Inaugurado em Julho de

1965, o Aeroporto de Faro revelou-se desde o início como um factor determinante para o desenvolvimento económico do Algarve. Suportado sobretudo pelo crescimento da procura turística, o tráfego do aeroporto desenvolveu-se rapidamente nas décadas de 80 e 90. Ao longo de 41 anos de operação passaram por Faro mais de 95 milhões de passageiros.

elo trabalho de preservação do património natural com o qual o aeroporto tem fronteiras, o Parque

Natural da Ria Formosa foi identificado como uma das entidades centrais na sua estratégia de responsabilidade social. “Apoiar o Parque Natural da Ria Formosa é uma forma de

AEROPORTO DE FARO

ACOMPANHA CRESCIMENTO

TURÍSTICO

A IMPORTâNCIA DA BIODIvERSIDADE E D E M I N I M I z A R O S I M PAC T E S DA ACTIvIDADE AEROPORTUáRIA ASSUME UM RELEvO ESPECIAL NA POLíTICA DE AMBIENTE DA ANA QUANDO FALAMOS DO AEROPORTO DE FARO, SITUADO EM PLENA RIA FORMOSA.

P

O Aeroporto de Faro mantém uma activa política de apoio ao Parque Natural da Ria For-mosa, onde está localizado.

em 2007 foram

processaDos 5,47 milhões

De passageiros e um total De 40.253

movimentos De aeronaves

comerciais.

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_entre vidas

ssim à partida, a relação não é muito evidente. Quando Pedro Beja Neves afirma que o hipismo, um desporto que

pratica há mais de 20 anos, é importante para a sua actividade profissional, o comentário faz levantar o sobrolho. Mas o Director de Imobiliário da ANA apressa-se a explicar: “É um desporto que obriga a ter determinação. Temos que dominar 600 quilos de músculos com luvas de seda, temos que dizer ao cavalo para ir para onde nós queremos e não para onde ele quer. E ele às vezes não quer. Mas, no fim, temos de vencer”.

Esta mesma firmeza com que domina um puro sangue árabe, Pedro Beja Neves colocou na actuação à frente da Direcção de Imobiliário, onde está desde a sua criação, há 8 anos. Foi um trabalho de raiz já que a empresa não tinha uma política de desenvolvimento imobiliário e mesmo a legislação que existia não era propícia à actividade. A alteração do prazo de ocupação de terrenos situados nos aeroportos por parte

AVANÇAR A GALOPEENQUANTO PREPARA A PRIMEIRA PARTICIPAçãO DA ANA NO SALãO IMOBILIáRIO DE LISBOA, PEDRO BEJA NEvES FAz UM BALANçO DOS ANOS à FRENTE DA DIRECçãO DE IMOBILIáRIO E NãO TIRA OS OLHOS DO FUTURO. NO HORIzONTE PRÓxIMO ESTá A CRIAçãO DE UM FUNDO DE INvESTIMENTO IMOBILIáRIO, UMA DAS SUAS PRINCIPAIS BANDEIRAS. A DETERMINAçãO DESTE ECONOMISTA DE 49 ANOS ESTá PATENTE EM TODAS AS FACETAS DA SUA vIDA, SEJA NO TRABALHO, EM CIMA DE UM CAvALO OU AO LEME DE UM vELEIRO.

dos privados, de 20 para 40 anos, foi uma vitória da Direcção liderada por Beja Neves.

Ultrapassado o entrave legal, os projectos puderam finalmente sair do papel e é com grande expectativa que se antevê a primeira participação da ANA no Salão Imobiliário de Lisboa, já no próximo mês. A feira surge como uma boa oportunidade para dar a conhecer ao mercado os planos que existem em cada um dos aeroportos geridos pela ANA e também para captar novos parceiros e inquilinos.

“Vamos aproveitar para chamar a atenção do mercado para o facto de que a ANA está firme como promotor imobiliário naquelas que são as suas responsabilidades dentro dos aeroportos, e chamar a atenção dos investidores em geral para os aeroportos como espaços privilegiados para o investimento, espaços que comportam escritórios, centros comerciais, retail parks, hotéis e outras estruturas que já existem em aeroportos internacionais”, explica Beja Neves.

E projectos não faltam, de facto. Em Lisboa estão em fase de concurso público dois modernos edifícios de escritórios que estarão na vanguarda das tecnologias em termos de sustentabilidade ambiental. É um empreendimento que está a suscitar grande interesse nos meios imobiliários dada a crescente vocação do Aeroporto de Lisboa para a instalação de empresas e negócios. Ainda numa fase embrionária está o plano de

lançamento de um concurso para a construção e exploração do primeiro hotel situado no perímetro do aeroporto.

No Porto, existe já uma licença estabelecida para uma unidade hoteleira e, na mesma parcela de terreno, está a ser equacionada a construção de uma área comercial. Entretanto, já está em construção um posto de abastecimento de combustíveis que vem preencher uma lacuna existente no aeroporto.

Ainda no Porto, está em preparação a candidatura da plataforma logística do Aeroporto Francisco Sá Carneiro ao Portugal Logístico, o plano governamental para aumentar a rede de platafor-mas logísticas nacionais através de parcerias público-privadas e que é uma grande aposta de Beja Neves.

Para o Aeroporto de Faro foi concedida uma licença de construção de um hotel com 90 a 120 camas e a execução do projecto já arrancou. Atendendo à localização, à proximidade da Universidade do Algarve e à crescente procura da região para variados

“a mesma firmeza com que Domina um puro sangue árabe, peDro beja neves

colocou na actuação à frente Da Direcção De

imobiliário, onDe está DesDe a sua criação, há 8 anos.”

“vamos chamar a atenção Dos

investiDores para os aeroportos como espaços

privilegiaDos para o investimento, espaços

que comportam escritórios, centros

comerciais, retail parks, hotéis, etc.”

Brevemente será lançado um concurso para a construção

e exploração do primeiro hotel situado no perímetro do

Aeroporto de Lisboa.

Pedro Beja Neves é praticante de hipismo há 23 anos. Um desporto que afirma ser importante para a

sua actividade profissional.

A

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Fora da ANA, atracção pelos desafios e pelo domínio da força fazem com que divida os fins-de-semana entre o Clube de Campo, onde exercita o passo, trote e galope, e o Estuário do Tejo onde procura contornar ventos, marés e correntes a bordo de um veleiro. No fim, diz Beja Neves, o objectivo é sempre o mesmo: manter a estabilidade e rumar em segurança até um porto seguro.

Outro porto onde espera chegar é a casa de família que está a recuperar na Beira Alta. Um regresso às origens e um sonho de reforma: dedicar-se à agricultura. Mas pensa melhor: “Não, à agricultura não. Ao gado, ao queijo e ao azeite”. Seja como for, será uma reforma conduzida com determinação.

_entre vidas

eventos, nacionais e internacionais, Beja Neves acredita na viabilidade de um pequeno centro de escritórios na mesma parcela de terreno do hotel. “É uma oportunidade de negócio interessante porque oferece diversas frentes, não só servir o universo aeroportuário mas também a componente de lazer dada a região em que está situado”.

No âmbito do projecto de expansão do Aeroporto de Faro está também prevista a construção de uma área comercial, embora esteja ainda em estudo a localização e a vocação do “mix” comercial.

O Aeroporto de Faro é neste momento alvo de um estudo pioneiro, liderado por Augusto Mateus, que visa determinar o real potencial de atracção do aeroporto, num raio de 20 quilómetros. “Pretendemos saber o que pode

o aeroporto atrair em termos de negócio e que medidas devem ser tomadas pelos municípios envolvidos por estas áreas no sentido de protegerem determinadas parcelas de terreno para actividades que o desenvolvimento do aeroporto, estamos certos, vai proporcionar”, explica, acrescentando que o estudo deverá ter consequências nos próprios Planos Directores desses municípios.

Beja Neves aproveita para defender outra das suas bandeiras: a criação de um fundo de investimento para a dinamização do negócio imobiliário dentro dos aeroportos e não só. “O investimento pode e deve também ser feito em áreas num raio de 5 a 10 quilómetros do

aeroporto, áreas que por diversos motivos possam ser consideradas estratégicas para atrair investidores que necessitem da proximidade do aeroporto. O fundo pode ser útil até como adquirente destas parcelas, salvaguardando assim o seu uso”.

O fundo a criar será também em parceria, um fundo misto, portanto, com o propósito de desenvolver o património imobiliário no perímetro dos aeroportos. “Estou convicto de que o timing de lançamento do fundo coincidirá, no final deste ano, com o lançamento das conclusões do estudo de Augusto Mateus”. A convicção de Beja Neves vai mais longe: “A criação deste fundo poderá também ser importante para a defesa de idênticos terrenos na área do novo aeroporto de Lisboa”.

Outro projecto que a Direcção tem em mãos actualmente é o aproveitamento dos terrenos adjacentes ao Aeroporto de Santa Maria, nos Açores. “Fomos incumbidos de procurar um empreendimento que promova desenvolvimento, riqueza e bem-estar na ilha. E penso que a aposta deverá ser no

"o investimento poDe e Deve também ser feito em áreas num raio De 5 a 10 quilómetros Do aeroporto, áreas que por Diversos motivos possam ser consiDeraDas estratégicas para atrair investiDores."

turismo, que tem vindo a assumir um papel mais relevante em Santa Maria”.

O desafio que se coloca é o aproveitamento do parque habitacional do aeroporto em conjunto com os terrenos antigamente atribuídos à “fuel farm” (onde estavam os depósitos de combustível para os reabastecimento dos aviões em escala). Beja Neves acredita que as casas do parque habitacional podem ser um atractivo importante para a exploração dos terrenos, que são adjacentes ao mar e têm um enorme potencial, nomeadamente, para a construção de um campo de golfe.

Por tudo o que está a acontecer, 2008 pode marcar uma viragem no negócio do Imobiliário da ANA, sobretudo após o Salão Imobiliário de Lisboa. Aos 49 anos, este economista, que transitou da FUNDIMO, a Sociedade Gestora de Fundos de Investimento Imobiliário da Caixa Geral de Depósitos, para encarar o desafio de gerir um promotor imobiliário com características muito especiais, olha com expectativa para os tempos que aí vêm.

fora Da ana, a atracção pelos Desafios e pelo Domínio Da força fazem com que DiviDa os fins-De-semana entre o clube De campo, onDe exercita o passo, trote e galope, e o estuário Do tejo onDe procura contornar ventos, marés e correntes a borDo De um veleiro.

Está em estudo o aproveitamento turístico do parque habitacional e dos terrenos adjacentes

ao Aeroporto de Santa Maria, nos Açores.

A vela e a recuperação de uma casa de família na Beira Alta são outras das actividades a que Pedro Beja Neves tem dedicado os tempos livres.

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“O facto de a ANA ter sido convidada para integrar este grupo, formado por utilizadores finais, coloca-a numa posição bastante privilegiada em termos de aquisição de conhecimentos”, nota Pedro Reis, da Direcção dos Serviços Técnicos, que participou em Munique no terceiro workshop do grupo. “Vai permitir à empresa manter-se a par do ‘estado de arte’ das novas soluções tecnologias aeronáuticas, uma vez que tem acesso aos resultados obtidos ao longo deste projecto”.

_inovação

e as hospedeiras souberem antecipadamente o que cada passageiro deseja comer na hora da refeição, se o peixe ou a carne, isso reduzirá

consideravelmente a carga de trabalho tanto da tripulação de cabine como da empresa de catering. Além de aumentar a satisfação do passageiro que não corre o risco de, quando chegar a sua vez, o salmão já ter esgotado.

Este é apenas um dos beneficios que devem resultar do E-Cab, um grande projecto de investigação tecnológica actualmente a decorrer sob a liderança do maior construtor aeronáutico europeu, a Airbus.

Outra melhoria é nos serviços dentro do avião. A novidade passa por permitir a ligação ao mundo exterior em pleno voo através da televisão, audio e vídeo sob encomenda, do acesso ao e-mail, à Internet e à vídeo- -conferência, baseados na tecnologia da rede 3G.

Apesar do nome complicado – Enabled Cabin and Associated Logistics for Improved Passenger Services and Operational Efficiency – este é um projecto que pretende facilitar e agilizar. E para isso integra diversas soluções para toda a cadeia logística envolvida no transporte aéreo.

Nas últimas décadas, com o aumento do volume de passageiros e de mercadorias no transporte aéreo e com a elevada complexidade dos aeroportos, a eficiência e a qualidade da viagem acabaram por ser comprometidas. Com o E-Cab, o objectivo é inverter esta tendência, melhorando o conforto dos passageiros, facilitando as acções da tripulação e a eficiência da companhia aérea e do aeroporto.

A NOVA GERAÇÃO DE SERvIçOS A BORDO

ENCOMENDAR A REFEIçãO NO MOMENTO DA RESERvA, SABER ExACTAMENTE DE QUANTO TEMPO DISPOMOS ATÉ AO EMBARQUE E CONSULTAR O E-MAIL DURANTE O vOO NãO SãO REALIDADES MUITO DISTANTES. A AIRBUS LIDERA UM MEGA-PROJECTO EUROPEU QUE DESENvOLvE NOvOS SERvIçOS PARA OS PASSAGEIROS AÉREOS.

O projecto debruça-se sobre várias etapas da viagem de avião. Além do catering e dos serviços a bordo, também o handling e as informações que os passageiros recebem numa aerogare sairão beneficiados.

A tecnologia RFID – Radio Frequency Identification – suportará processos logísticos que vão contribuir para a redução da carga de trabalho. No caso do handling, a RFID vai permitir soluções de gestão automatizada das bagagens e carga, útil também para as companhias

S

aéreas conseguirem informações precisas sobre o que transportam.

No limite, a infra-estrutura de comunicação integrada desenvolvida no projecto E-Cab abre às companhias aéreas, aeroportos e prestadores de serviços a possibilidade, durante o voo, de trocar de informações via “web services” com o passageiro.

Este projecto decorre no âmbito do 6.º Programa-Quadro da Comissão Europeia, cuja prioridade temática é “Aeronáutica e Espaço”, e inclui 30 parceiros de 13 países, tanto empresas como instituições de ensino e investigação.

A ANA, tal como a Portway, foi convidada para integrar o “E-Cab External Advisory Group”, um grupo de consultores externos.

A consulta de e-mails a bordo será uma realidade dentro de pouco tempo.

Escolher a refeição no momento da reserva pode tornar mais eficiente o serviço de bordo.

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_inovação

ano de 2007 tornou-se um ano chave para a gestão da inovação em Portugal, com o lançamento de uma iniciativa da COTEC

Portugal - Associação Empresarial para a Inovação. O Desenvolvimento Sustentado da Inovação Empresarial é um programa que, através de uma série de projectos, criou uma referência nacional para uma gestão organizada da inovação empresarial.

A iniciativa passa pela avaliação das capacidades de inovar das empresas e pela possibilidade de certificar o seu sistema de gestão da inovação. Numa primeira fase, que decorreu no ano passado, a COTEC certificou 15 empresas- -piloto portuguesas, entre elas a PT, a Martifer, a Mota-Engil, a Renova, a SAG, a Bial e a Somague.

Neste momento, e até 2010, a iniciativa está em fase de difusão e implementação generalizada junto das 100 empresas associadas da COTEC, entre as quais a ANA. Além destas, a COTEC pretende também alargar o seu sistema de inovação a mais 500 Pequenas e Médias Empresas.

Integrado no programa, a COTEC lançou o projecto Innovation Scoring, uma ferramenta gratuita online de auto-diagnóstico da capacidade de inovação das empresas, que lhes permite identificar áreas para potencial melhoria através do preenchimento de um questionário sobre o tema.

A ANA, através do Gabinete de Inovação e Projectos Tecnológicos Especiais, tem vindo progressivamente a organizar-se em torno deste

INOVAR POR SISTEMA

O PROCESSO DE INOvAçãO DAS EMPRESAS É HOJE FUNDAMENTAL PARA CADA UMA SE DIFERENCIAR DOS SEUS COMPETIDORES. ALGO QUE É NECESSáRIO FAzER DE FORMA CONTINUADA, TODOS OS DIAS, A TODA A HORA. É ESSE O OBJECTIvO DA INICIATIvA DESENvOLvIMENTO SUSTENTADO DA INOvAçãO EMPRESARIAL, DA COTEC, QUE QUER CHEGAR A 650 EMPRESAS ATÉ 2010. A ANA Já ESTá ENTRE ELAS.

referencial e em breve procurará adoptar e implementar o modelo de gestão da inovação estabelecido nesta iniciativa.

Para já, estão em curso a contabilização das actividades de inovação desenvolvidas na empresa e a resposta ao questionário de Innovation Scoring. A criação de uma estratégia de comunicação para a gestão da inovação é também uma prioridade para a ANA. Recorde-se que a empresa lançou recentemente dentro da sua intranet as Comunidades de Prática – uma importante ferramenta de partilha e difusão do conhecimento e da inovação no interior da empresa.

A COTEC Portugal é uma associação empresarial sem fins lucrativos fundada em Abril de 2003 por iniciativa do então Presidente da República, Jorge Sampaio. A sua missão é promover o aumento da competitividade das empresas localizadas em Portugal, através do desenvolvimento e difusão de uma cultura e de uma prática de inovação.

numa primeira fase, que Decorreu no ano passaDo, a cotec certificou 15 empresas-piloto portuguesas, entre elas a pt, a martifer, a sag, a mota-engil, a bial, a renova, e a somague.

O

(passageiros tap executive, tap plus ou detentores dos cartões Gold e Silver do Programa Victoria e do cartão TAP Corporate).

Esta nova facilidade reveste-se de especial importância para a companhia aérea portuguesa que tem vindo a fazer uma forte aposta no segmento das viagens de negócio. A TAP criou nos últimos tempos uma série de produtos e serviços direccionados a este perfil de passageiros, que valorizam conforto, rapidez e flexibilidade.

O corredor Green Way está disponível, no Terminal 1 do Aeroporto de Lisboa, junto ao novo Espaço Premium da TAP: uma inovadora estrutura, inaugurada em Junho, que oferece aos passageiros do segmento business da companhia um atendimento exclusivo, com check-in e atendimento diferenciados e uma maior rapidez e eficiência no embarque.

Entretanto, os aeroportos estão em negociações com outras companhias para que adiram a este novo serviço de valor acrescentado.

CHAMA-SE GREEN WAy O NOvO CANAL DE EMBARQUE PRIORITáRIO DISPONívEL NOS AEROPORTOS DE LISBOA, PORTO E FARO. TRATA-SE DE MAIS UMA INOvAçãO A PENSAR NO CONFORTO DOS PASSAGEIROS E NA RAPIDEz DO SERvIçO.

orque o tempo dos passageiros é um bem precioso e a rapidez do serviço um factor decisivo para o sucesso da actividade aeroportuária, a ANA

desenvolveu um novo serviço de valor acrescentado que, mantendo os elevados padrões de segurança, agiliza o embarque nos aeroportos nacionais.

O Green Way é um canal de embarque prioritário, com mais conforto e com menos tempo de espera, criado a pensar nos passageiros cujo estilo de vida ou actividade profissional não se coaduna com filas de espera. Com um novo serviço de controlo de segurança e de raio-X prioritários, o acesso à sala de embarque fica mais rápido e facilitado.

O novo serviço está disponível desde Junho a passageiros definidos pelas companhias aéreas aderen-tes (os passageiros da classe executiva, por exemplo) nos Aeroportos de Lisboa, Porto e Faro.

Para ter acesso a este serviço os passageiros deverão entrar em contacto com a companhia aérea com a qual vão viajar, que por sua vez se encarregará de efectuar as diligências necessárias.

A estreia fez-se no Aeroporto de Faro, com a companhia “low cost” inglesa Jet 2. Já em Lisboa, a primeira companhia a disponibilizar o Green Way aos seus passageiros foi a TAP que, desde 11 de Agosto, o colocou à disposição dos seus clientes Premium

P

FUGIR ÀS FILAS

Um caminho prioritário para passageiros sem tempo a perder

_insights

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cliente final de um aeroporto é o mesmo de um supermercado ou de uma sala de cinema. É claro que

o serviço que procura – neste caso, um voo para qualquer parte do mundo – é um pouco mais complexo. Mas o cliente espera ser bem atendido, no aeroporto, como noutro lugar qualquer.

O forte crescimento do Aeroporto de Lisboa nos últimos anos, sobretudo devido ao elevado número de transferências, transformo-o num “hub” sem que tivesse havido tempo ou oportunidade para preparar esta mudança. Falhas de pontualidade e a bagagem “left behind” (diferente de bagagem perdida, que são uma minoria) são os principais problemas que, de uma forma recorrente, lhe são apontados.

Mas o serviço aos passageiros num aeroporto implica uma sequência de processos desenvolvidos em conjunto por vários prestadores de serviços – o gestor aeroportuário, as transportadoras aéreas, o handler, as autoridades e forças de segurança, etc. – não podendo por isso eventuais falhas ser atribuídas a um único interveniente. Pelo contrário, o desempenho de cada um influi na maior ou menor qualidade do serviço geral.

Com isto em mente, criou-se no Aeropor-to de Lisboa um grupo de trabalho que envolveu as principais empresas e entidades que têm influência directa na assistência ao passageiro. A ANA, a TAP, a Groundforce e o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras uniram esforços numa “task force” que recebeu o nome de Acção Integrada de Melhoria de Serviço. Durante as 24 semanas de duração do projecto, o AIMS entrou no léxico dos

_insights

De 2007 para 2008 houve uma redução superior a 50% no número de bagagens “left behind”. Em relação à pontualidade na partida, a percentagem dos voos com atraso igual ou menor do que 15 minutos na saída situou-se nos 70% no primeiro semestre deste ano. Uma melhoria significativa relativamente aos anos anteriores em que a média foi mais baixa.

No apoio ao passageiro, foram identi-ficadas algumas dificuldades na chamada porta “Foxtrot”, onde é feito o controlo dos passaportes: a pequena dimensão da sala, a excessiva acumulação de pessoas no controlo de passaporte entre as 6h e as 10h e uma deficiente orientação das pessoas para as filas.

Após as observações no terreno testaram- -se algumas soluções. A colocação de baias para acomodar mais pessoas nas filas e evitar o bloqueio da sala nas alturas de picos, a colocação de um elemento do SEF para direccionar as pessoas e o melhoramento

MENOS TEMPOS DE ESPERA E UM AMBIENTE MAIS CONFORTávEL TORNAM A ExPERIêNCIA NO AEROPORTO MAIS POSITIvA. DURANTE 6 MESES AS EMPRESAS E ENTIDADES QUE LIDAM DIRECTAMENTE COM OS PASSAGEIROS NO AEROPORTO DE LISBOA UNIRAM ESFORçOS NESSE SENTIDO. NO FINAL, FICOU PROvADO QUE A UNIãO FAz MESMO A FORçA.

O

POR UM AEROPORTO AMIGO DO PASSAGEIRO

colaboradores das empresas com uma conotação muito positiva, pelos resultados já alcançados.

A colaboração entre as várias entidades deu- -se através de grupos de trabalho, reuniões diárias e semanais, “brainstormings” e uma comunicação transversal. Foram traçadas prioridades como a melho-ria do processamento de bagagem, o apoio ao passageiro e a melhoria da operação interna do aeroporto.

Gerido e acompanhado pela Proudfoot Consulting , que já tinha efectuado trabalhos semelhantes noutros aeroportos, o projecto visava efeitos imediatos, perceptíveis nos níveis de satisfação e conforto dos passageiros que passavam por Lisboa. E por aí, pode dizer-se que é uma batalha ganha.

da sinalética de transferências e chegadas resultaram numa maior organização e maior fluidez do movimento de passageiros.

Verificou-se também um aumento de utilizadores do sistema RAPID, uma inovadora tecnologia de reconhecimento de passageiros portadores de passaporte electrónico. Também se revelou fundamental a presença dos chamados “pontos verdes”, colaboradores que separam e encaminham os passageiros no controlo de fronteira, esclarecendo-os quanto à utilização do RAPID. Estes colaboradores tiveram formação na utilização dos passaportes electrónicos e na distinção entre países Schengen e não-Schengen..

O Terminal de Bagagem em Transferência recebeu alterações e melhoramentos para atingir os níveis de capacidade e qualidade de processamento que um verdadeiro “hub” exige. “Houve um grande esforço do aeroporto para fornecer condições e melhorias ao nível do tratamento da bagagem. Os envolvidos no processo sentaram-se diariamente à mesa para identificar problemas e arranjar

A pontualidade e a bagagem “left behind” eram os principais problemas apontados ao Aeroporto de Lisboa. Com este projecto o movimento de passageiros ganhou mais fluidez.

em relação à pontualiDaDe na partiDa, a percentagem Dos voos com atraso igual ou menor Do que 15 minutos na saíDa situou-se nos 70% no primeiro semestre Deste ano

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uando chegaram ao mercado português, em 2000, foram vendidos apenas quatro automóveis

híbridos. No ano passado venderam-se dois mil. A recente escalada do preço do combustível terá certamente influenciado

esta subida mas, por outro lado, devemos acreditar que a consciência ambiental dos portugueses está também a aumentar.

Uma das principais formas de fazer frente ao aquecimento global do planeta é a redução e compensação das emissões de carbono. Muitas empresas estão, por acordos internacionais como o Protocolo de Quioto, obrigadas a isso. Não é o caso da ANA que, no entanto, há algum tempo optou por implementar medidas ambientais na gestão das suas actividades.

“Identificámos as preocupações crescentes das pessoas, dos nossos clientes, e dentro dos nossos

negócios elegemos o estacionamento como uma área em que podemos intervir porque está ao nosso alcance”, explica Nuno Brilha, da Direcção de Projectos Especiais da ANA.

Depois de ter lançado um programa de compensação de emissões, em colaboração com a consultora E.Value, responsabilizando-se pelas emissões dos gases com efeitos de estufa produzidos nos estacionamentos, a empresa achou que podia fazer mais.

“Decidimos recompensar os amigos do ambiente”, anuncia Nuno Brilha para explicar a ideia de criar o EcoParking. Desde 1 de Agosto que quem conduzir um automóvel híbrido e se deslocar a um dos aeroportos do continente não precisa gastar tempo à procura de vaga para estacionar. Cada um dos parques de estacionamento da ANA em Lisboa, Porto e Faro tem 3 vagas reservadas a veículos híbridos. Além de uma tarifa reduzida (menos 10% no pagamento, efectuado nas caixas manuais e mediante a apresentação do livrete do veículo).

“É um projecto inovador porque não existe noutros estacionamentos. Sendo uma empresa grande, com visibilidade, na ANA acreditamos que também nos cabe este papel de pioneirismo e de despertar as consciências”, diz Nuno Brilha.

Há actualmente 3 marcas que comercializam em Portugal veículos híbridos, a Toyota, a Honda e a Lexus, num total de 5 modelos. Apesar do preço mais elevado destes automóveis, o grande argumento é o baixo consumo nas cidades.

Q

_insights _ambientes

O Honda Civic Hybridé um dos cinco modelosde automóveis híbridosactualmente à vendaem Portugal. Em 2007a Honda vendeu 1484unidades deste modeloface às 468 vendidasem 2006.

De 2007 para 2008 houve uma redução de mais de 50% na bagagem “left behind”

E VOCÊ, NÃO TEMUM CARRO vERDE?Há CADA vEz MAIS PORTUGUESES PREOCUPADOS COM AS EMISSõES DE CARBONO E QUE PONDERAM ISSO NA HORA DE COMPRAR UM CARRO. ENQUANTO OS vEíCULOS ELÉCTRICOS NãO CHEGAM AO MERCADO É NOS HíBRIDOS QUE RECAI A ESCOLHA DOS MAIS ECO-CONSCIENTES. A ANA TAMBÉM DECIDIU RECOMPENSAR OS AMIGOS DO AMBIENTE.

para poupar tempo.Nos meses de Verão, para responder ao aumento

de fluxo, foram tomadas medidas para aumentar a capacidade de estacionamento de aeronaves, garantir transferências mais rápidas dos passageiros e bagagem, desviar passageiros de determinadas áreas para outras consoante os momentos do dia e as alturas de pico.

Concluído em Agosto, a altura do ano em que tradicionalmente se atingem picos de operação, o projecto deixou satisfeitos tanto os envolvidos como os passageiros. Os responsáveis das empresas e entidades envolvidas são unânimes ao destacar a importância da concertação de esforços na resolução dos problemas.

Para Guilhermino Rodrigues, presidente do Conselho de Administração da ANA, o projecto serviu, desde já, para dar “uma nova perspectiva na qualidade do serviço prestado”.

Ao fim de 24 semanas no terreno, o Director-Adjunto do Aeroporto de Lisboa destaca a nova metodologia para conduzir processos daqui para a frente. “Deu-se o salto qualitativo que todos pretendiam, há motivação e um novo estado de espírito para ultrapassar os problemas”, disse João Nunes.

Também o presidente da TAP se declarou bem impressionado com os resultados conseguidos. “Era um projecto difícil que exigia de todos a percepção dos problemas dos outros. Os benefícios para a operação do aeroporto já se sentem, os números mostram uma situação completamente diferente de há um ano atrás. Hoje temos passageiros mais satisfeitos”, disse Fernando Pinto.

soluções”, conta Sérgio Miranda, responsável dos terminais de bagagem da ANA e “team leader” deste grupo de trabalho.

Também Fernando Melo, administrador da Groundforce, acredita que mesmo com as condições adversas, “é possível fazer mais e tornar o Aeroporto de Lisboa num aeroporto ainda melhor e amigo do passageiro”.

Outra ferramenta importante disponível para agilizar os processos na aerogare é o Self Check-in da TAP, disponível a todos os passageiros da companhia, mesmo com bagagem. Algumas máquinas foram recolocadas e foram feitas correcções no funcionamento para tornar a utilização mais amigável.

Ao fim de três meses, a operação da TAP, por exemplo, apresentava já significativas melhorias nos tempos de espera no check-in, na pontualidade das partidas, nos tempos de entrega de bagagem e no número de bagagem “left behind”. Américo Costa, director do Serviço ao Cliente da TAP, mostra-se satisfeito com os resultados obtidos e nota que, apesar “das nuances difíceis de ultrapassar do aeroporto, é preciso ter mais ideias para melhorar o serviço ao passageiro”.

Para melhorar o fluxo de passageiros também nas máquinas de Raio-X foram testadas algumas medidas como um vídeo e folhetos informativos com os procedimentos a efectuar. Porque ter passageiros informados é meio caminho andado

O selo Carbono zero Parking, especialmente desenvolvido para o projecto EcoParking ANA, representa a primeira certificação da marca Carbonozero para Estacionamento Eco em Portugal.

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á três meses que o Aeroporto de Faro conta com um inovador meio de transporte para uso operacional. Um carrinho de golfe, vulgarmente conhecido por caddy,

foi adaptado com painéis solares no topo que convertem a luz directa do sol em electricidade e alimentam o veículo.

Se há zona de Portugal onde o sol brilha praticamente todo o ano é no Algarve. São mais de 3000 horas de sol por ano. Aliás, na União Europeia, Portugal é, depois da Grécia e da Espanha, o país com maior potencial de aproveitamento de energia solar. Um potencial que João Fernandes, engenheiro do Departamento de Manutenção do Aeroporto de Faro, decidiu aproveitar neste projecto-piloto.

“A ideia é consciencializar as pessoas sobre a utilização das energias renováveis no nosso quotidiano, levando-as a questionarem-se sobre como gastamos a nossa energia”, explica. Apesar da ideia ter sido sua, João Fernandes contou com a ajuda de colegas do Aeroporto de Faro para os trabalhos de alteração do veículo.

“Os painéis solares têm capacidade de carregar 4 litros ou amperes por hora. Logo, desde que esteja estacionado ao sol, está sempre a carregar. A carga das baterias permite ao veículo ter uma autonomia de 35 km a uma velocidade máxima de 30 km/hora”, explica o engenheiro.

Após ter analisado as viaturas do seu sector, concluiu que circulam a uma media de 30 km/hora e normalmente não mais de 10 km por dia. “Ou seja, irei usar apenas 33% da capacidade das baterias diariamente. A carga total das baterias é de 120 amperes e sabendo que o painel carrega a 4 amperes por cada hora ao sol, irei precisar de 10 horas para carregar novamente o veiculo na sua totalidade”.

Desde que começou a ser usado, para a deslocação de pessoas e cargas (até 150 kg), já circulou mais de 190 km e ainda não foi preciso recorrer à energia da rede eléctrica, tendo bastado o sol algarvio.

Um automóvel híbrido é um veículo que possui mais de um motor, sendo que cada um usa um tipo de energia diferente para funcionar. O modelo mais comum é o que combina o motor a explosão com um motor eléctrico: um utiliza energia proveniente da queima de combustível e o segundo utiliza energia eléctrica.

Entretanto, aguarda-se com expectativa a chegada dos carros eléctricos a Portugal, que segundo o acordo assinado entre o Governo e a Nissan-Renault deverá acontecer em 2010. A autonomia estimada para este novo veículo é de 160 km, muito acima dos 80 a 100 km da concorrência.

O objectivo do acordo é criar as condições para que o carro possa ser usado em larga escala, com uma rede ampla de estações de carga para os veículos a nível nacional.

O veículo poderá ser reabastecido de três formas diferentes: em casa, ligado à corrente numa ficha eléctrica convencional (6 horas), carregando a bateria numa estação (cerca de 30 minutos), ou trocando a bateria gasta por uma nova, o que demora entre 5 a 10 minutos.

A escolha do consórcio por Portugal aconteceu numa altura em que o Governo aposta em assumir a liderança no desenvolvimento sustentável e na diversificação de fontes de energia renováveis.

UM CADDy SOLAR EM FARO

H

Nos aeroportos de Lisboa, Porto e Faro há lugares exclusivos para carros híbridos. A sua localização minimiza a circulação dentro do parque, diminuindo a emissão de CO2.

O Nissan Mixim marcará a chegada a Portugal de uma nova geração de automóveis: os eléctricos. Estima-se que a autonomia para este veículo seja de 160 quilómetros.

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uando chegamos a um aeroporto prontos para viajar e procuramos nos painéis a indicação do balcão de check-in para o nosso voo, não

pensamos duas vezes, aliás, nem uma, sobre o trabalho necessário para que aquela informação ali esteja, actualizada ao segundo. No entanto, se um dia lá chegarmos e os painéis estiverem apagados, já somos capazes de dedicar um tempo ao tema. Depois de nos indignarmos, claro.

Os 160 painéis na aerogare, as 200 portas com controlo de acessos e as 256 câmaras de vigilância são uma amostra dos equipamentos que o Serviço de Sistemas de Informação do Aeroporto do Porto tem a seu cargo. Um trabalho complexo, minucioso e, sobretudo, permanente, que se prende com sistemas vitais do aeroporto.

Nuno Braga é Técnico Especialista em Electrónica e uma das 9 pessoas responsáveis pela manutenção de todos estes sistemas. “A nossa principal função é a manutenção. Cabe-nos garantir o bom funcionamento dos equipamentos, para que avariem o menos possível”.

Com a diversidade de sistemas e equipamentos existentes, não há muitos tempos mortos no seu dia-a-dia. Além dos displays com informação de voos, tem a seu cargo a gestão de dispositivos como o Sistema de

_follow me Detecção de Incêndios, as máquinas de Raio X e os pórticos de segurança, o Sistema Automático de Controlo de Acessos, entre outros.

Mesmo a música ambiente que ouvimos no aeroporto passa pelas suas mãos. “Cerca de 800 novas músicas são carregadas a cada dois meses. Ainda assim, as pessoas que trabalham diariamente no aeroporto queixam-se da repetição”. A música, tal como as mensagens de áudio na aerogare e nos microfones nas portas de embarque são emitidos pelo Sistema de Chamada Colectiva.

Para que tudo esteja operacional existem as manutenções planeadas e as não-planeadas, que é o mesmo que dizer, intervir quando algo avaria. As interven-ções profundas, geralmente manutenções correctivas, têm de ser feitas durante a noite para não interferir com o normal funcionamento do aeroporto. “Às vezes é difícil prever quanto tempo irá demorar determinada operação, pode prolongar-se até de manhã... E aí entra um pouco de stress porque temos de terminar antes de as companhias começarem a operar”, conta Nuno Braga.

Além de preenchido, é um trabalho não isento de riscos. Para efectuar a reparação do painel informativo de partidas, que se encontra suspenso no 3º piso do aeroporto, foi necessário recorrer a uma grua. Nada de especial se, por condicionantes do piso, a máquina não fosse um exemplar especial, mais leve, das mesmas que se utilizam para efectuar restauros em igrejas ou mosteiros. Foi içado a 20 metros do chão, para ficar ao nível do painel, mas não contava com as oscilações de quase um metro para cada lado. “Foi bastante radical”, recorda.

Mas no local onde passa grande parte do tempo existe bem menos adrenalina. As

áreas técnicas podem ser consideradas o cérebro do aeroporto, como a Sala Telecom, onde estão todas as linhas fornecidas pela PT, ou a Sala de Equipamentos de Segurança a partir de onde se tem acesso a todos os dispositivos de segurança do aeroporto. A mais impressionante é,

Q

É UM TRABALHO DE BASTIDORES MAS NEM POR ISSO MENOS IMPORTANTE. PELO CONTRáRIO, A TAREFA DE NUNO BRAGA É zELAR PELO BOM FUNCIONAMENTO DOS EQUIPAMENTOS ELECTRÓNICOS DO AEROPORTO DO PORTO. MESMO QUE PARA ISSO TENHA DE vIvER UMA ExPERIêNCIA QUASE RADICAL A 20 METROS DO CHãO.

os 160 painéis na aerogare, as 200 portas no aeroporto e as 256 câmaras De vigilância são uma amostra Dos equipamentos que o serviço De sistemas De informação Do aeroporto Do porto tem a seu cargo.

no entanto, a Sala de Emergência, onde ficam os monitores das câmaras de segurança e onde há sempre alguém, 24 horas por dia, de olhos postos nos écrans.

“Como tenho que me deslocar com frequência e as coisas ficam muito longe umas das outras, o tempo aqui no aeroporto passa muito depressa”. Apesar do horário, pode ser chamado a qualquer hora, do dia ou da noite, tal como um médico. Mas as avarias acontecem geralmente às sextas-feiras às 5 horas da tarde”, brinca.

TUDO A FUNCIONAR

O Serviço de Sistemas deInformação é responsável

por uma grande variedade deequipamentos no Aeroporto

do Porto.

Uma avaria no painel informativo dePartidas, suspenso no 3º piso da

aerogare, implica o recurso a uma gruae alguma coragem por parte do

técnico que faz a reparação.

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_follow me

O SENHOR DOS PáSSAROS

Quando um avião tem de “borregar” a aterragem porque há um cão na pista ou uma gaivota a sobrevoar o espaço, isso implica mais combustível gasto e mais tempo de espera. E se há lugar onde tempo é dinheiro, esse lugar é um aeroporto.

Na realidade, o termo falcoaria nem é o mais correcto para referir este serviço. “A falcoaria refere-se à caça, ao uso dos falcões para caçar”, explica António Carapuço, responsável pelo serviço. “O termo mais correcto é ‘aves de presa’ porque

aqui o que se pretende não é a captura, mas sim o afastamento dos animais”, explica este ex-caçador que desde que descobriu a falcoaria, há 15 anos, nunca mais disparou uma arma. A captura apenas se aplica em situações de animais, cães ou outros, que cruzem a pista. O abate nunca é considerado, até porque o uso de armas ou venenos está proibido.

Moram actualmente no Aeroporto de Lisboa 9 falcões peregrinos e 2 Harris Hawk, uma espécie semelhante ao açor, natural do continente americano. Por serem atletas, as aves são mantidas sob um rígido programa de manutenção, com treinos e idas diárias à balança. O treino baseia-se no que em psicologia se designa por “reforço positivo”, ou seja, a presença de uma recompensa aumenta a probabilidade do comportamento pretendido. Por recompensa entenda-se comida.

Além de um apito, os animais estão familiarizados com uma série de gestos codificados que são particularmente úteis no ambiente barulhento de um aeroporto. Outra ferramenta usada pelos

falcoeiros é o rol, uma armação em forma de ferradura forrada a couro onde se prende um pedaço de carne e que é usada para chamar os falcões em voo.

O serviço de gestão de avifauna tem em permanência uma ou duas pessoas que fazem a observação de aves. “Há outros pares de olhos que nos ajudam, como a Torre, os Follow Me e o Supervisor Operacional do Aeroporto”, explica António Carapuço, adiantando que a zona das pistas é, obviamente, a mais sensível.

Há alturas específicas em que o risco é maior e, por isso, a atenção redobrada. É o caso da Primavera, com a chegada das andorinhas, e o início do Inverno, quando as gaivotas vêm do Norte da Europa à procura de temperaturas mais amenas. “Estamos muito próximos do mar e do rio Tejo e as gaivotas são aves de grande porte, susceptíveis de causar um dano considerável na turbina de um avião”.

Outra “praga” são os estorninhos, que por voarem em bandos realmente grandes também exigem muita atenção. No caso concreto de Lisboa, os pombais que existem em redor do aeroporto também não ajudam. Para minimizar as ocorrências, o corte de vegetação e a eliminação de espécies vegetais mais atractivas é fundamental, sobretudo nas zonas circundantes às áreas de movimento dos aviões.

Em caso de avistamento de uma potencial ameaça, a torre é sempre avisada. “Depois há que avaliar a trajectória da ave e tentar perceber se representa um perigo real ou não”. A última palavra é tanto da torre como dos pilotos. São eles que, alertados para a situação, decidem se a manobra se faz ou não. Claro que a tendência é não correr riscos. Caso seja preciso actuar, os falcões precisam de 3 a 4 minutos para se porem em campo.

moram actualmente no aeroporto De lisboa 9 falcões peregrinos e 2 harris hawk, uma espécie semelhante ao açor, natural Do continente americano.

O recurso à falcoaria para manter os céus limpos é uma técnica usada em vários aeroportos no mundo, com

resultados bastante satisfatórios em termos de segurança operacional. Embora só em casos excepcionais os problemas causados por aves ou por animais que atravessam a pista possam ser realmente graves, os custos inerentes a essas situações são de evitar.

O

Uma simples andorinha

pode causar sérios danos

à aviação.

ENQUANTO PARA A MAIOR PARTE DE NÓS OS BANDOS DE ANDORINHAS QUE ANUNCIAM A PRIMAvERA SãO UM SINAL DE ALEGRIA, PARA ANTÓNIO CARAPUçO SãO UMA DOR DE CABEçA. E PARA OS FALCõES DO SERvIçO DE GESTãO DE AvIFAUNA DO AEROPORTO DE LISBOA SãO PRENúNCIO DE MUITO ExERCíCIO.

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ROMA

_partidas

té há pouco tempo Roma não fazia parte do lote das cidades europeias modernas e progressistas, procuradas pelos adeptos

das últimas tendências e dos movimentos de vanguarda. Pelo contrário, os motivos que atraíam muita gente a Roma eram outros. A sua atmosfera romântica, celebrizada pelo cinema, as compras na Via Veneto, o Papa, mas sobretudo o vasto testemunho do seu passado distante. E, frequentemente, uma vez em

mais eterna que nunca

É DIFíCIL DIzER O QUE MAIS IMPRESSIONA EM ROMA. SE A OPULêNCIA DO vATICANO, A INTEMPORALIDADE DO FÓRUM, A CONFUSãO DE vESPAS E FIATS QUE TRANSFORMAM NUM DESAFIO A TAREFA DE ATRAvESSAR A RUA, A IMPONêNCIA AvASSALADORA DO COLISEU OU O PREçO DE UM “CAFFE LATTE” NUMA DAS FANTáSTICAS ESPLANADAS DA CIDADE.

Roma deparavam com museus fechados para restauros intermináveis, os portões de locais arqueológicos trancados e igrejas intransponíveis.

A

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40 41

_partidas

Na última década esse panorama alterou-se. Uma modernidade galopante apoderou-se de Roma, desafiando Papas, gladiadores e imperadores. Não arriscamos dizer que as pessoas vão a Roma à procura do cenário trendy e cool de cidades como Londres, Berlim ou Amesterdão, mas para lá se caminha. Como confirmará em conversa com qualquer residente, Roma está também mais acessível, organizada e viva do que nunca.

A cidade tem vindo a descobrir a sua própria faceta mais cosmopolita, com novos museus, hotéis modernos, restaurantes de fusão e clubes sofisticados. Aliás é só prestar alguma atenção às pessoas que caminham nas ruas para ver que há mais do que o clássico turista ávido pelo circuito Coliseu – Panteão – Fontana de Trevi. Roma ganhou a simpatia de jovens de todo o mundo que dão outro colorido à cidade. Basta ir até ao Campo dei Fiori – onde todas as manhãs há um mercado de peixe e verduras – depois do pôr-do-sol para confirmar isso mesmo: as esplanadas enchem-se de gente nova, italianos e muitos estrangeiros.

Claro que a grandeza do seu passado

clássico, restaurado e mais acessível depois do Jubileu católico de 2000, continua a ser a principal razão porque todos os anos milhões de pessoas aqui vêm. Conhecida como “A Cidade Eterna” pela sua história milenar, Roma espalha-se pelas margens do rio Tibre e pelas suas sete colinas, tal como Lisboa. Palatino, Aventino, Campidoglio, Quirinale, Viminale, Esquilino e Celio são os sugestivos nomes dessas encostas onde os vestígios da história se revelam em cada canto.

Roma surpreende e emociona a todo o momento. E a melhor forma de nos deixarmos encantar é sair caminhando. A cada meia dúzia de passos somos confrontados com uma obra de arte, a Coluna de Trajano, o Fórum Romano. Ao fundo da Avenida dos Fóruns Imperiais ergue-se, avassalador, o Coliseu, e por muitas imagens que tenhamos visto nada nos prepara para essa visão. Andamos mais um pouco

e chegamos à celebrada Fontana de Trevi, à Piazza Navona, ao Panteão.

Quem arriscar desviar-se um pouco dos circuitos mais turísticos e atravessar para a margem oeste do rio vai encontrar mais uma surpresa chamada Trastevere. Este é um bairro tipicamente romano (os seus habitantes consideram-se os verdadeiros romanos) de ruelas estreitas, roupa pendurada a secar, gente que fala alto para a vizinha que está na janela em frente e lambretas aceleradas.

No Trastevere – assim chamado por ficar “para lá do Tibre”, que em italiano se diz Tevere – foram surgindo alguns dos melhores restaurantes da cidade, bares, lojas de roupa e de decoração, o que o torna muito apetecível aos forasteiros. Nas noites de fim-de-semana, a praça com o mesmo nome enche- -se de gente, os habitués e aqueles que estão apenas de passagem. Bebe-se, conversa-se, ri-se, até que o burburinho se espalha pelas ruazinhas à volta.

Em Roma, uma alternativa à caminhada é o metro. O automóvel, acredite, está fora de questão. Quem procura a rede de metro não deixa de se surpreender com as singelas duas linhas que o compõem, a A e a B. Mas é simples a explicação para uma rede subterrânea tão reduzida. Existem mais de dois mil anos de história no subsolo romano e, além dos engenheiros, há também arqueólogos nas equipas das obras. E é um trabalho moroso. O mesmo se passa com a construção de estradas e esgotos nos subúrbios, que têm anos de atraso devido ao enorme número de achados que vão interrompendo as obras e que inevitavelmente acabam com qualquer orçamento.

Para além do seu passado glorioso, Roma é também uma cidade de prazeres simples. A mesma emoção de sentir a força de séculos de história turbulenta debaixo dos pés à medida que caminhamos pode comparar-se à singela explosão de prazer ao saborear um “gelato de zabaione” num dia quente. Numa qualquer piazza ou sentado numa das muitas escadarias romanas.

a ciDaDe tem vinDo a Descobrir a sua

própria faceta mais cosmopolita,

com novos museus, hotéis moDernos,

restaurantes De fusão e clubes

sofisticaDos.

COMO IRA TAP voa diariamente do Porto para Roma com saída às 09h35 e chegada ao destino às 13h40. A partida no sentido inverso faz-se às 14h30 com chegada ao Porto às 16h35. A partir de Lisboa a TAP tem 5 ligações diárias com Roma. Para mais informações consulte o site www.ana.pt. O Aeroporto Internacional Leonardo da Vinci, também conhecido por Aeroporto de Roma – Fiumicino, fica a 37 km do centro da cidade. O comboio Leonardo Express liga o aeroporto à estação central de Roma Termini em cerca de meia hora e a viagem custa €9,50.

Quem vai a Roma quer ver o Papa. Ou, pelo menos, o vaticano.

O Castelo de Sant’Angelo é um dos cartões postais da Cidade Eterna.

Segundo a tradição, quem deitar uma moeda sobre o ombro, de costas para a Fontana de Trevi, voltará à Roma.

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no ouro tradicional do Minho, os tops elaborados a partir dos lenços minhotos,

a reprodução das pedras da calçada — destacam-se os tradicionais cavaquinhos

(os mesmos que originaram o ukelele havaiano), as molduras de Siza Vieira

e as premiadíssimas garrafas de Luís Royal.

Ao contrário das outras lojas Alma Lusa, no espaço do aeroporto há também música e literatura portuguesas. “Pelo aeroporto passam pessoas de todas as nacionalidades e de todas as origens, sendo portanto o local ideal para divulgar a nossa cultura. Sentimo-nos

um pouco como embaixadores do nosso país, daí a selecção de produtos”, diz Ana Sousa Dias.

Por tudo isto, a Alma Lusa é a última oportunidade para o viajante de adquirir um objecto de design genuinamente português antes de embarcar.

rojectar uma imagem con-temporânea de Portugal, sem nunca esquecer as

raízes culturais, foi a missão que a proprietária da Alma Lusa abraçou há oito anos atrás, quando abriu a primeira loja na Rua de S. Bento, em Lisboa. Agora, Ana Sousa Dias encontrou no Aeroporto de Lisboa uma localização à medida dos seus propósitos.

Mais do que uma loja, a Alma Lusa é um projecto com o objectivo claro de dar a conhecer o que vão fazendo os portugueses ao nível do design industrial, artesanal, gráfico, ecológico e também na moda. “Queremos dar oportunidade a designers de editar, expor e comercializar projectos que de outra forma não seriam conhecidos, contribuindo de uma forma directa para o desenvolvimento de empresas”, explica Ana Sousa Dias, convicta da relevância do projecto para a divulgação da cultura portuguesa.

Além dos produtos da marca Alma Lusa — a colecção de ourivesaria portuguesa inspirada

uma boa solução para quem gosta de boas marcas mas não tem muita paciência para andar de loja em loja: as mais conceituadas “griffes” internacionais

de pronto-a-vestir reunidas num único espaço. Esse é o conceito da nova Loja Multimarcas do Grupo Brodheim na renovada área comercial do Aeroporto de Lisboa.

Hugo Boss, Burberrys, Timberland, Gant, Furla, Trussardi Jeans, Under Colors of Benetton, são algumas das etiquetas que se podem encontrar nesta loja onde estão disponíveis as últimas tendências da moda para toda a família.

O Grupo Brodheim conta com uma vasta experiência na representação das maiores marcas internacionais para o mercado português. Uma história com mais de 60 anos que começou quando Erich Brodheim, refugiado da 2ª Guerra Mundial, veio para Portugal e começou por vender para o exterior produtos portugueses de qualidade.

Atento ao aparecimento de novidades que representassem oportunidades de negócio, detectou no mercado francês uma novidade chamada fecho éclair e conseguiu a importação para Portugal desse artigo que se revelou revolucionário para toda a indústria têxtil. Esse é o momento que marca a entrada de Erich Brodheim no universo da moda e do retalho de pronto-a-vestir. Começou a procurar representações de produtos que, pelo seu prestígio, qualidade e inovação, pudessem responder aos anseios do consumidor português.

Depois da morte de Erich foi o seu filho Ronald que assumiu os destinos do Grupo, que actualmente representa em Portugal algumas das principais marcas internacionais no sector da moda. São algumas dessas “griffes” que estão disponíveis na nova loja no Aeroporto de Lisboa.

Depois da renovação ocorrida no início do ano, a área comercial da área restrita de partidas tornou-se mais funcional e confortável, com mais lojas, mais marcas e novos conceitos, também ao nível da alimentação. As mudanças não vão ficar por aqui e, em 2010, a área total das zonas comerciais será de cerca de 13 mil metros.

_lifestyle

P

ÉQUEM DEIxAR PORTUGAL PELO AEROPORTO DE LISBOA TEM AGORA à DISPOSIçãO ALGUM DO MELHOR DESIGN QUE SE FAz POR Cá. A ALMA LUSA ABRIU UMA LOJA ONDE MOSTRA, LADO A LADO, TRABALHOS DE DESCONHECIDOS E DE NOMES CONSAGRADOS COMO SOUTO MOURA E SIzA vIEIRA.

PORTUGAL DE CORPO E ALMA

AS MELHORES MARCAS

NUM SÓ ESPAÇO

ERICH BRODHEIM TROUxE O FECHO ÉCLAIR PARA PORTUGAL Há DÉCADAS ATRáS. FOI O PONTO DE PARTIDA PARA UM PERCURSO DE SUCESSO NA REPRESENTAçãO DAS MELHORES MARCAS DE ROUPA INTERNACIONAIS. MUITAS ESTãO AGORA DISPONívEIS NO AEROPORTO DE LISBOA, NUM úNICO ESPAçO.

hugo boss, burberrys, timberlanD, gant, furla, trussarDi jeans, unDer colors of benetton, são algumas Das etiquetas que se poDem encontrar nesta loja onDe estão Disponíveis as últimas tenDências Da moDa para toDa a família.

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com um ambiente harmonioso e sofisticado, onde pode saborear a sua refeição com todo o tempo do mundo.

Na carta do La Pausa vai encontrar opções como a costeleta de borrego ou o tornedó e, nos peixes, os lombinhos de salmão ou de atum. Para terminar da melhor forma, opte por uma espetada de frutas ou por um delicioso crepe com gelado.

Este espaço tem apenas 46 lugares, o que lhe garante sempre um ambiente tranquilo. Mediante marcação prévia, o restaurante disponibiliza também uma área reservada onde terá maior privacidade para, eventualmente, fechar um negócio. Funciona das 12h às 15h e das 19h às 22h.

O La Pausa está situado no piso 3 do Aeroporto do Porto, na área pública de partidas, perto da loja Espaço Cota.

_lifestyle

DEGUSTAR SEM PRESSA

O TEMPO É DAS COISAS QUE MAIS ESCASSEIAM HOJE EM DIA. NO CORRE-CORRE DO QUOTIDIANO Já POUCO PARAMOS PARA SABOREAR O QUE vALE REALMENTE A PENA. A PROPOSTA DO RESTAURANTE LA PAUSA É QUE PáRE UM BOCADO E DESFRUTE.

em tudo nos aeroportos tem de ser feito a correr. Aliás, não há nada pior do que comer à pressa. Depois

de Lisboa, o conceito do restaurante La Pausa chegou também ao Aeroporto do Porto, oferecendo dois espaços distintos para quem tem mais ou menos tempo.

O self-service é o local indicado para uma pequena pausa com uma refeição mais rápida e ligeira. A principal dificuldade aqui vai ser escolher entre a diversificada oferta do buffett. Este espaço tem capacidade para 88 lugares e está aberto das 6h até às 23h.

Se chegou mais cedo ao aeroporto ou se tem algum tempo para gastar (e fome para saciar) então é caso de optar pelo restaurante à carta, um espaço requintado

N

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_shopping

UM REGRESSO COM ESTILO

SETEMBRO É INvARIAvELMENTE TEMPO DE PENSAR NAS CRIANçAS E PREPARá-LAS PARA O RETORNO à ESCOLA. NUMA RONDA PELOS AEROPORTOS SELECCIONáMOS ALGUNS PRODUTOS E ACESSÓRIOS PARA QUE ESSE REGRESSO SEJA FEITO EM GRANDE ESTILO. COMO ELES MERECEM.

Kit de colorir €12

Lápis de colorir €6

Marcadores €6Na Imaginarium, no Aeroporto de Lisboa

Letras magnéticas €7

Números magnéticos €7Na Imaginarium, no Aeroporto de Lisboa

Bolsa Disney €38,60Carteira €18,10Porta-moedas €12,00Na Lune Bleu, nos Aeroportos de Lisboa, Porto e Faro

Mala Disney €38,60Na Lune Bleu, nos Aeroportos de Lisboa, Porto e Faro

Mala Hello Kitty €48,30Estojo escolar €12,70Carteira €23,40Caixa de óculos €16,80Na Lune Bleu, nos Aeroportos de Lisboa, Porto e FaroPião €2,50

Na Imaginarium, no Aeroporto de Lisboa

Relógios €17 cadaNa Imaginarium, no Aeroporto de Lisboa

Perfume Hulk €12,90Perfume Iron Man €12,90Nas lojas Just for Travellers, nos Aeroportos de Lisboa, Porto, Faro e Açores

Perfumes Agatha Ruiz de la Prada €16 cadaBatons Agatha Ruiz de la Prada €18Nas lojas Just for Travellers, nos Aeroportos de Lisboa, Porto, Faro e Açores

Garrafas Sigg Kidz €15 e €16Nas lojas Just for Travellers, nos Aeroportos de Lisboa, Porto, Faro e Açores

Perfumes My Scene (Chelsea e Westley) €15 cadaMy Scene Lip Set €4Nas lojas Just for Travellers, nos Aeroportos de Lisboa, Porto, Faro e Açores

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Dubai Airport anunciou que a primeira fase de operação do novo terminal do Aeroporto Internacional do Dubai

deverá iniciar-se já em Outubro. Está previsto um “soft opening” que decorrerá em quatro fases de forma a garantir que os sistemas e os processos funcionem nos mais altos padrões de eficiência.

O novo T3 é um terminal “dedicado” da Emirates Airlines, a principal companhia aérea dos Emirados Árabes Unidos, e foi concebido para que a experiência dos passageiros seja o mais fácil e rápida possível.

Segundo o Sheik Ahmed Bin Saeed Al Maktoum, presidente da Autoridade da Aviação Civil do Dubai e CEO da Dubai Airport, “o T3 vai ter um papel importante no progresso económico do Dubai e reafirmar a imagem da cidade enquanto um emergente ‘hub’ global”.

chatice de tirar o computador pessoal da mala nas máquinas de raio-X nos aeroportos pode estar a chegar

ao fim, pelo menos nos Estados Unidos. De acordo com a Associated Press, a Transportation Security Administration dos EUA pediu a alguns fabricantes de malas que desenvolvessem pastas para computadores com materiais que não prejudicam a imagem do equipamento quando analisado numa máquina de raio-X.

A Mobile Edge, a Skooba Design e a Targus estão entre as marcas que vão produzir as malas “checkpoint friendly”, que deverão chegar brevemente ao mercado. O objectivo é reduzir as filas nos pontos de segurança dos aeroportos.

BAA, operadora dos aeroportos britânicos, poderá ter que vender três dos seus sete aeroportos do Reino

Unido devido a uma posição dominante no mercado, referiu a Comissão da Concorrência, citada pela BBC News. O órgão regulador está a recomendar que a operadora venda dois dos três aeroportos - Heathrow, Gatwick e Stansted - que detém no sudeste do país.

A Comissão da Concorrência considera também que não deve ser permitido à BAA continuar a deter aeroportos simultaneamente em Glasgow e Edimburgo.

A BAA, por seu lado, já disse que não pretende vender Heathrow, o seu maior aeroporto. A decisão final sobre o futuro da operadora será tomada em Abril do próximo ano, de acordo com a BBC News.

A BAA tem sido fortemente criticada pelo serviço prestado ao cliente e por atrasos nos seus aeroportos, especialmente em Heathrow.

s aeroportos britânicos de Stansted e de Manchester dispõem actual-mente de máquinas que fazem o

reconhecimento facial dos passageiros e comprovam a sua identidade, no âmbito de um novo plano de segurança do governo local. A nova tecnologia pretende também ajudar a reduzir os congestionamentos nos aeroportos do Reino Unido.

As máquinas fotografam os passageiros e comparam as imagens com a fotografia digital dos passaportes. Caso o projecto venha a revelar-se um sucesso, o governo britânico pretende substituir progressivamente os funcionários do sector de imigração dos aeroportos, noticiou o Daily Telegraph.

O projecto já recebeu, no entanto, críticas que dizem que a tecnologia não é totalmente fiável, podendo fazer com que passageiros inocentes sejam incomodados indevidamente.

s aeroportos de Paris ofereceram durante o Verão aulas de dança gratuitas nos terminais dos seus

aeroportos (Paris - Charles de Gaulle e Paris - Orly) para ajudar os passageiros a entrar no espírito das férias, noticiou a Reuters. Quem voasse para Cuba, por exemplo, podia aprender salsa, e quem voasse para Nova Iorque podia aprender hip-hop.

As lições tinham 15 minutos e funcionaram com a utilização de auscultadores, através dos quais os passageiros ouviam as músicas e as instruções dos professores. As aulas decorreram durante os fins-de-semana. As outras opções eram as danças orientais, mambo, jazz moderno, rock, tango, salsa e hip-hop.

AEROPORTOS DOS EUA ACEITAM PASTAS PARA COMPUTADORES

BAA PODERÁ TER DE vENDER AEROPORTOS

MáQUINAS RECONHECEM ROSTOS NOS AEROPORTOS BRITÂNICOS

O A A A

AEROPORTOS DE PARIS PõEM PASSAGEIROS A DANÇAR

T3 DO AEROPORTO INTERNACIONAL DO DUBAI ABRE EM OUTUBRO

O

Aeroporto de Luanda Rumo a Pequim, sem atrasos Tráfego de passageiros sempre a crescer As obras no Aeroporto de Bangalore Air Show do Dubai em 2008

_aldeia global

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partisse sem mim. Meia hora depois, carreguei as malas para a sala da polícia do aeroporto onde fui detida.

Nunca, em toda a minha vida, me vira numa situação daquelas. Quando era miúda, o máximo de irregularidades que cometi foi atirar ovos a transeuntes de um terraço em frente ao Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho, onde andava. Mas tinha 15 anos e era Carnaval, todos nós passamos por estas pequenas tropelias. Já tinha estado algumas vezes numa esquadra, mas como queixosa, nunca como detida. Apesar de tudo aquilo me assustar, não posso negar um delicioso sabor a aventura. Eu, detida em Cabo Verde! Uma aventura para contar aos netos, daqui a três décadas, pensei eu. Só que o comandante, ao contrário do agente que fizera a detenção, não era nem calmo, nem cordial, nem simpático e não estava com vontade nenhuma de me facilitar a vida. Foi pior a emenda que o soneto quando lhe disse que era jornalista. O tipo deitou as mãos à cabeça e começou com uma lenga-lenga sob a forma de uma espécie de teoria da conspiração sobre o meu regresso a Lisboa. Chegou a insinuar que talvez eu tivesse posto uma bomba a bordo, para depois regressar a terra e outros disparates que revelavam uma imaginação fértil e algo absurda. As horas passavam e o interrogatório continuava. Mas como sou uma pessoa cheia de sorte, tinha conhecido uns dias antes a Maria João Silveira, uma cabo-verdeana lindíssima e muito simpática que é hoje apresentadora de televisão e que não tinha também conseguido embarcar. A Maria João, no seu crioulo e usando do bater das suas pestanas que faz tremer uma estátua, lá explicou ao comandante que eu não representava nenhum perigo, que só queria regressar ao meu país e foi deixando cair, como quem não quer a coisa, quem eram os amigos influentes dela no governo.

Ao fim de 12 horas, já era madrugada, o comandante deixou-me regressar ao hotel e foi a partir desse dia que a Maria João e eu ficámos amigas para sempre. Se não fosse ela, teria provavelmente passado uma ou duas noites detida na esquadra. Mas quando regressei ao conforto do hotel que me ofereceu o resto da estadia prometi a mim própria nunca mais pisar a placa de um aeroporto nem brincar às meninas do James Bond. Sempre é melhor escrever livros. Não se ganha tanto, mas também não se arrisca a pele.

_passageiro frequente

á dez anos fui passar uma semana a Cabo Vede. Aquelas típicas férias de sol e mar, com peixe grelhado e lagosta à mistura, danças de

mornas pela noite fora e uma vida santa numa ilha onde não acontece absolutamente nada. O bom de partir, é, muitas vezes, poder voltar, e foi aqui que as coisas se complicaram. Por distracção, esqueci-me de confirmar a reserva no voo que me iria trazer a Lisboa e qual não é o meu espanto quando, ao chegar ao aeroporto me diz o senhor do check-in que o voo está completamente cheio, que me vai ser impossível naquele dia voltar para Lisboa.

Eu já tinha atingido o ponto de rebuçado da estadia em Cabo Verde, tinha trabalho à minha espera em Lisboa e nem quis acreditar no que estava a ouvir. Eu tinha que regressar naquele dia, desse por onde desse. E como nem sempre meço as consequências dos meus actos e o aeroporto da ilha do Sal tem a mesma segurança que um serviço público em Lisboa, passei disfarçadamente pelo local das bagagens e pisei a placa, direitinha ao avião que estava de partida. Entretanto as malas estavam já no porão e eu fazia tenções de não sair do grande pássaro gigante, numa tentativa desesperada de regressar ao lar e acabar com o pesadelo.

O comandante acolheu-me com fria simpatia, sentindo que estava a infringir a lei e não soube muito bem o que me dizer. Até tinha lugar para me levar e estava quase convencido, quando um polícia local invadiu a aparelho e me pediu delicadamente para o acompanhar por infracções várias. Não tive outro remédio senão descer do passaroco que entretanto já estava a aquecer os motores, enquanto pedia encarecidamante a um funcionário que retirasse as minhas malas do porão, porque uma coisa eu já tinha percebido: é que o avião se ia embora, mas eu não.

A sinhora istá ditida – protestava o polícia, perante o meu desplante em dar ordens aos carregadores. Mas como quem tem lata tem quase tudo, respondi como toda a coragem que consegui:

- Detida sim, mas não sem as minhas bagagens!E o polícia, que até era simpático e estava a

cumprir o seu dever, condescendeu e deixou-me orientar as operações para que minha bagagem não

DETIDA EM CABO vERDE

Margarida Rebelo Pinto ESCRITORA

H

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