A luta contra as inovações e os modismos na igreja · Entretanto, de acordo com a retórica...

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QD 07 - Área Especial 01 Cruzeiro Velho (61) 3964-8624 / 3233-2527 www.adcruz.org/ebd Presidente: Pastor João Adair Ferreira Dirigente e Consultor Doutrinário: Pastor Argileu Martins da Silva Superintendente: Presbítero Jorge Luiz Rodrigues Barbosa Lição 09 29 de Maio de 2011 A luta contra as inovações e os modismos na igreja Texto Áureo "Todas estas coisas estão fadadas ao desaparecimento pelo uso, porque são baseadas em preceitos e ensinamentos dos homens". Cl 2.22 Verdade Aplicada O Evangelho santo deve ser mantido na simplicidade; e a adoração não precisa de inova- ções e modismos, mas de fé e obediência humilde. Objetivos da Lição Mostrar a importância do conhecimento bíblico para refutar as novidades doutrinárias perniciosas. Destacar a mensagem cristocêntrica e de salvação eterna como princípio bíblico imutável. Conscientizar o crente do perigo das inovações e modismos que descaracterizam as igrejas cristãs. Textos de Referência Gl 1.8 Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Gl 1.9 Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos pregar evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema. Gl 1.11 Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, Gl 1.12 porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo. PORTE E POSTURA

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QD 07 - Área Especial 01 Cruzeiro Velho

(61) 3964-8624 / 3233-2527

www.adcruz.org/ebd

Presidente: Pastor João Adair Ferreira Dirigente e Consultor Doutrinário: Pastor Argileu Martins da Silva Superintendente: Presbítero Jorge Luiz Rodrigues Barbosa Lição 09

29 de Maio de 2011

A luta contra as inovações e os modismos na igreja

Texto Áureo

"Todas estas coisas estão fadadas ao desaparecimento pelo uso, porque são baseadas em preceitos e ensinamentos dos homens". Cl 2.22

Verdade Aplicada

O Evangelho santo deve ser mantido na simplicidade; e a adoração não precisa de inova-ções e modismos, mas de fé e obediência humilde.

Objetivos da Lição

► Mostrar a importância do conhecimento bíblico para refutar as novidades doutrinárias perniciosas. ► Destacar a mensagem cristocêntrica e de salvação eterna como princípio bíblico imutável. ► Conscientizar o crente do perigo das inovações e modismos que descaracterizam as igrejas cristãs.

Textos de Referência

Gl 1.8 Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Gl 1.9 Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos pregar evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema. Gl 1.11 Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, Gl 1.12 porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo.

PORTE E POSTURA

Portai-vos de modo que não deis escândalo... portai-vos varonilmente... Somente deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo... 1 Coríntios 10.32; 16.13 e Filipenses 1.27 Apesar de meu pai ser alfaiate e minha mãe gostar de costurar, nunca me animei com corte e costura. Confesso que eu tinha tudo para aprender esse ofício. Mas Deus, que me chamou ao santo ministério, fez com que — substituindo a letra "c" por "p" — me preocupasse com o porte e a postura. Ao longo desta obra, tenho enfatizado a necessidade de o expoente da Palavra de Deus ter compromisso com o Deus da Palavra, a fim de pregar com fervor e sentimento uma mensagem bíblico-cristocêntrica. Outra tônica tem sido a necessidade de o pregador valorizar a Hermenêutica e interpretar os textos sagrados corretamente, não sendo como um papagaio, que apenas repete o que ouve. Entretanto, de acordo com a retórica clássica, a pregação eficaz e persuasiva deve possuir três elementos, representados por três palavras gregas — logos: o conteúdo verbal da mensagem, incluindo-se arte e lógica na sua exposição; pathos: o fervor, a paixão, o sentimento e a eloquência do pregador; e ethos: o caráter percebido do orador. Vemos esses três elementos em 1 Tessalonicenses 1.5: "porque o nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra [logos], mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção [pathos], assim como sabeis ter sido o nosso procedimento [ethos] entre vós e por amor de vós" (1 Ts 1.5, ARA). Este último será a ênfase deste capítulo. Além disso, discorrerei sobre a necessidade de os pregadores de hoje não se esquecerem da simplicidade e acerca das práticas que devem ser evitadas no púlpito, antes, durante e depois da pregação. SER MODERNO SEM SER MUNDANO? Alguns irmãos me pediram que eu desse um parecer sobre um artigo que circula na Internet, pelo qual certo pregador discorre sobre o seu novo visual e procura distinguir os termos "mundano" e "moderno". Farei uma breve análise do texto, omitindo o nome do seu autor, haja vista eu não ter como objetivo expor pessoas, e sim esclarecer o povo de Deus, combatendo heresias e modismos contrários ao evangelho de Cristo. Examinei, pois, o artigo, intitulado "Ser moderno sem ser mundano", e exponho aqui um sucinto parecer. Antes, porém, para ser honesto, e como profissional da área editorial, reconheço que o texto que li, no site do tal pregador, é relativamente fluente e bem escrito. Parabenizo, pois, o seu autor pela clareza de sua exposição, mas... Causou-me estranheza o fato de, ao longo de sua explanação, o tal pregador falar pouco do Senhor Jesus Cristo. A bem da verdade, há apenas uma referência direta a Cristo no artigo, além de outra anexa à sua assinatura. Apesar disso, ele faz questão de afirmar que é pentecostal! Por que eu estranhei? Porque o apóstolo Pedro, na primeira pregação pentecostal, pregou a Cristo (At 2.22,36). Filipe, em Samaria, pregou a Cristo (At 8.5). Paulo pregou a Cristo (1 Co 1.22,23). Um pregador verdadeiramente pentecostal prega a Jesus Cristo, e não se preocupa em falar tanto de si mesmo. DAVID BECKHAM? Não entendi o porquê de o tal pregador fazer questão de justificar-se quanto a pequenos caprichos, como aparar as unhas, pintar os lábios (?), mudar a cor do cabelo... Sinceramente, ao ler essa parte do artigo, pensei: "Estou mesmo lendo uma palavra de

um pastor pentecostal, ou um texto de um metrossexual, como o jogador inglês David Beckham?" Admirei-me desta afirmação: "As pessoas que têm me assistido ultimamente, quer pela TV ou em pregações, devem ter notado que a unção, a glória de Deus e a presença do Espírito Santo continuam sobre o ministério que o Senhor me confiou. Os sinais, a salvação das almas continuam, se não iguais, maiores do que antes". Por que eu estranhei? Porque o homem de Deus que, de fato, é ungido por Ele não precisa de autoafirmação. É Deus quem dele dá testemunho (Mt 3.17). Todos constataram que o rosto de Moisés brilhava, mas ele mesmo não sabia disso! Também estranhei a razão da defesa que o tal pregador faz da ideia de que, como a vida na Terra é extremamente curta, devemos aproveitá-la ao máximo. Isso pode ser válido para uma pessoa que não teme a Deus e apega-se a bens materiais. Para nós, que servimos a Jesus Cristo, a nossa Cidade está nos Céus (Fp 3.20,21). Somos peregrinos e forasteiros neste mundo (1 Pe 2.11). Podemos partir para a eternidade a qualquer momento. Daí a Palavra de Deus dizer: "Louco, esta noite te pedirão a tua alma, e o que tens preparado, para quem será?" (Lc 12.20). COSTUMES MUNDANOS 3 X 0 COSTUMES ASSEMBLEIANOS Admirei-me do fato de o tal pregador considerar exagerada a atitude de um pastor de certa cidade, o qual pediu-lhe para não pregar de calça jeans. Ele considerou tal procedimento antagônico em relação ao de outro pastor, que o chamou para tomar um banho de mar usando um short. É óbvio que a Assembleia de Deus, como todas as denominações históricas, possui as suas tradições ou usos e costumes. E a etiqueta, nesse caso, pede que um pregador convidado se apresente de terno e gravata. Isso não é um mal dessa denominação. Afinal, como nos apresentamos perante um juiz? E numa audiência com o Presidente da República? Como se vê, incoerente seria dar um mergulho de terno e pregar de short dentro de um templo, não é mesmo? Incomodei-me com o fato de o tal pregador criticar os costumes de sua denominação, assumindo, ao mesmo tempo, os costumes que prevalecem no mundo! Afinal, se é costumeiro na Assembleia de Deus os obreiros vestirem terno e gravata, o que dizer de caprichos como passar gel nos longos cabelos, usar cavanhaque e vestir calça jeans surrada e camiseta de grife, além de usar lente de contato que muda a cor dos olhos? Ora, isso é um tipo de "visual" costumeiramente adotado por cantores e atores do mundo! De acordo com a Palavra de Deus, ainda que a aparência não seja mais importante do que o nosso "homem interior" (1 Sm 16.7; Mt 23.25-28; 2 Co 4.16), o Senhor se preocupa, sim, com ela (1 Tm 2.9; Sl 103.1,2; 1 Ts 5.23). Daí o apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, ter afirmado que os servos devem se sujeitar aos seus senhores, "não defraudando; antes, mostrando toda a boa lealdade, para que, em tudo, sejam ornamento da doutrina de Deus, nosso Senhor" (Tt 2.10). Eis a razão de nos preocuparmos com porte e postura: somos "ornamento da doutrina de Deus". A GRIFE DE JOÃO BATISTA Se o pregador João Batista vivesse hoje, como seria o seu "visual"? Tudo bem, tudo bem... Eu sei que não vestiria pêlo de camelo. Quanto ao cinto de couro, creio que esse acessório ele até usaria. E sua alimentação? É claro que não comeria gafanhotos e mel

silvestre. No entanto, tenho certeza de que ele procuraria coisas compatíveis. Não seria extravagante quanto ao traje e à alimentação. Aliás, tenho tido o desprazer de conhecer alguns obreiros que apreciam, além da carne (churrasco), a obra da carne chamada glutonaria. Comem, comem, comem... E, parecendo insaciáveis, comem mais, e mais, e mais, e mais um pouco... Não precisamos comer mel silvestre e gafanhotos, mas também não temos a necessidade de exagerar, não é mesmo? Voltando ao artigo, estranhei, finalmente, a afirmação do tal pregador de que ele é moderno, e não mundano, haja vista ter demonstrado desconhecer princípios elementares da Palavra de Deus. Afinal, há coisas que, a despeito de não serem pecados, propriamente, prejudicam a nossa comunhão com Deus, sendo embaraços na vida do obreiro (Hb 12.1). CUIDADO COM OS EMBARAÇOS DESTA VIDA Como já vimos, nas Escrituras há pelo menos sete grupos de coisas que, conquanto não sejam necessariamente pecaminosas, atrapalham a nossa comunhão, principalmente no caso de um pregador. Coisas inconvenientes (1 Co 6.12a). Tudo nos é lícito, mas certas coisas não convém, principalmente a um obreiro. É conveniente um pregador adotar um "visual" excessivamente moderno, a ponto de levar ele próprio a se justificar por isso? Coisas que dominam (1 Co 6.12b). Há atitudes e procedimentos que, em princípio, não aparentam ser pecaminosos, mas tornam-se dominadores, como é o caso do cuidado excessivo com a aparência. O que levaria um pregador do evangelho — que se diz pentecostal — a preocupar-se tanto com uma questão considerada secundária pelo Senhor Jesus (Lc 12.22-31)? Coisas que não edificam (1 Co 10.23). Concordo que pode não ser pecado adotar um "visual" moderninho. Porém, isso edifica? E, se não é edificante, até que ponto não é pecado? Não quero complicar as coisas, porém tudo o que um obreiro faz, publicamente, deve visar à salvação de almas e a edificação do povo de Deus. Coisas que não passam no crivo de Filipenses 4.8. Tudo o que fazemos deve ser submetido a esse crivo. Devemos perguntar se o que fazemos é verdadeiro, honesto, justo, puro, amável, de boa fama, etc. Todos os pregadores devem se colocar diante do espelho, que é a Palavra de Deus (Tg 1.22-24). Coisas que parecem pecado (1 Ts 5.22). Usar certos trajes pode não ser pecado. Contudo, a nossa comunhão com Deus e o nosso testemunho diante dos homens são tão importantes quanto a nossa pregação, a ponto de a Palavra de Deus mencionar a aparência do mal. Se algo que praticamos parece pecado, o sinal amarelo acabou acender. Cuidado! Coisas que embaraçam (Hb 12.1; 2 Tm 2.4). O obreiro do Senhor não pode se deixar embaraçar com as coisas desta vida. E não há dúvidas de que o assunto do artigo em questão envolve certas circunstâncias um tanto embaraçosas, não é mesmo? Coisas semelhantes às mencionadas em Gálatas 5.19-21. Não nos esqueçamos de que, além das obras citadas diretamente como sendo da carne, há outras, não mencionadas ali expressamente, porém igualmente perigosas e pecaminosas, chamadas

de "coisas semelhantes a estas" (v.21). Não estaria o cuidado exagerado com a aparência associado a uma delas? A SIMPLICIDADE DO PREGADOR Quem prega a Palavra de Deus precisa ter em mente que apartar-se da prudência e da simplicidade que há em Cristo é uma escolha errada (Ef 5.15; 2 Co 11.3). Lembremo-nos do que Jesus disse aos seus mensageiros: "Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e símplices como as pombas" (Mt 10.16). Há obreiros que, em vez de agir com simplicidade, sem extravagâncias, recorrem à excentricidade dramática! Preferem o ritualismo, o formalismo e o artificialismo; são verdadeiros atores. É claro que não precisamos adotar uma imobilidade sepulcral, porém devemos nos portar com sabedoria diante das igrejas de Deus (1 Co 10.32), a fim de que sejamos exemplo em tudo (1 Tm 4.12). Como deve ser a nossa postura no púlpito, ao pregar o evangelho? O Mestre Jesus — nosso maior exemplo (Jo 13.15) — simplesmente expunha a Palavra de Deus: "E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo: Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus" (Mt 5.2,3). CONTADORES DE HISTÓRIAS... Há animadores que dizem, com a boca cheia: "Eu não sou pregador. Sou um contador de histórias. Eu falo do jardim, e o público sente o cheiro das flores. Falo do Céu, e todos ficam desejosos de morar lá..." Que modéstia, hein?! Teatralizam ao extremo. Sentam-se ou se deitam no púlpito; usam as pessoas como coadjuvantes; e fazem gracejos ou brincadeiras de mau gosto. Esquecem-se de que a sua missão é apenas expor a Palavra de Deus, e não chamar a atenção para si (Jo 1.22,23; 3.30). Por que não expor a Palavra do Senhor com naturalidade, sem gesticulação excessiva e uso abusivo de recursos do tipo olhe-para-o-seu-irmão-e-diga-isso-ou-aquilo? Não quero, com isso, incentivar você, caro pregador, a ser uma estátua. Não! Há expoentes que, ao transmitir a mensagem, não empregam nenhum recurso homilético: apenas movem a boca, fixando o olhar em uma única direção. Isso também é ruim! Para ser simples, não é necessário abrir mão da personalidade e da ousadia no falar (At 9.29). Seja autêntico. A linguagem do obreiro também deve ser simples, não rebuscada. Não é preciso empregar palavras bonitas, difíceis e raras (1 Co 2.4,5). O pregador deve falar de tal modo que seja entendido até pelas crianças (Mc 10.13-16). Você pode até empregar uma palavra que não seja usual, porém explique o seu significado. Caso contrário, embora todos admirem o seu belo português, ficarão sem entender o que quis dizer. O OBREIRO E A LINGUAGEM Outro erro que os pregadores devem evitar é empregar expressões chulas, mesmo com a boa intenção de querer falar a linguagem do povo. Um dia desses ouvi um pregador dizendo: "Irmãos, Jesus nunca deu uma mancada. Nós sempre damos mancada, mas Ele nunca deu mancada". Ora, isso é linguagem de um pregador do evangelho? Não podemos confundir simplicidade com falta de zelo com as coisas sagradas.

Evite linguagem de baixo nível, não digna de uma tribuna santa (Tt 2.8). Gírias e expressões populares, salvo exceções, devem ser descartadas. Por que "salvo exceções"? Porque, às vezes, valer-se de uma ou outra expressão popular pode facilitar na comunicação ou exemplificação de uma verdade. Mas isso é uma exceção. Em geral, o emprego de linguagem excessivamente coloquial não é bom. Infelizmente, muitos crentes — inclusive obreiros — não se preocupam com a linguagem. Não leem nem se aperfeiçoam no vernáculo; acham que basta orar e jejuar. É claro que essas ferramentas, no campo espiritual, são insubstituíveis, todavia conhecer bem a língua materna e estar bem preparado na arte de falar são elementos indispensáveis ao pregador (2 Tm 2.15; l Tm 4.13). "NÃO GOSTO DE CULTO" Um certo pregador, ao ser convidado para um grande congresso, pediu para ficar no hotel até momentos antes da pregação. Mas o pastor não gostou dessa solicitação e mandou o motorista buscá-lo bem antes do horário combinado. Completamente à vontade, o pregador também não gostou e disse ao irmão encarregado de levá-lo que não iria. Quando este lhe perguntou por que não queria ir antes, ouviu dele a surpreendente resposta: "Não me leve a mal, meu irmão. Eu não gosto de culto. Meu negócio é pregar". Os pregadores — principalmente os mais famosos — deveriam ser os melhores crentes, posto que são referenciais para o povo. Deveriam orar, cantar os hinos congregacionais, prestar atenção quando alguém está testemunhando, etc. No entanto, tem acontecido exatamente o contrário. Eles chegam em cima da hora para pregar, como se fossem astros; não cultuam a Deus; só comparecem para apresentar o seu show. É um péssimo costume chegar quase na hora da pregação... Chegue cedo para o culto. Pregador também — e principalmente — é crente! É claro que, por outro lado, há "cultos" em que é melhor não participar mesmo! Eu, como pregador, sofro muito, pois gosto de chegar no início da reunião... Ah, como é difícil suportar as intermináveis cantorias! Um dia desses, fiquei tão irritado, que desabafei ao microfone: "Caros irmãos, precisamos ter desejo de ouvir a Palavra de Deus. Cheguei aqui no início da reunião. E, depois de mais de duas horas de cânticos, o dirigente ainda diz que chegou a hora mais importante do culto?" Por incrível que pareça, a tal igreja me convidou de novo! Ah, e o dirigente me passou o microfone no horário nobre! OUTROS ERROS QUE OS PREGADORES DEVEM EVITAR Como o púlpito é um lugar de reverência, consideremos algumas atitudes que devem ser evitadas antes de o pregador assumir o microfone. Haja vista não pregarmos apenas com palavras. Conversar com os companheiros. Sabemos que existem exceções; porém, há obreiros que conversam à vontade no púlpito; brincam, riem, fazem gestos... Será que não percebem que há várias pessoas olhando para eles? O povo observa os que estão em lugar de destaque. Por isso, Paulo alertou: "Em tudo te dá por exemplo de boas obras..." (Tt 2.7). Assentar-se deselegantemente. É preciso ter cuidado com isso. A cadeira do púlpito não é o sofá da nossa sala! Não é um lugar para relaxar. Aliás, o pregador, embora sentado, deve estar atento, pronto, preparado, sabendo que poderá entrar em ação a qualquer momento. Não é hora de descansar, e sim de vigilância e sintonia com o Espírito Santo.

Apresentar-se com o colarinho e a gravata desajeitados. Lembro-me de que certa vez um obreiro chegou à congregação com a gravata por cima do colarinho. Tentei ajudá-lo, para que não passasse por uma situação constrangedora; ele, curiosamente, disse que gostava de usar a gravata daquela forma! Bem, há gosto para tudo, mas o obreiro não pode se dar ao luxo de fazer tamanha extravagância. É claro que todos riram dele... Também não era para menos, não é mesmo? Como um pregador assim terá influência positiva sobre aqueles que o "ouvem"? Coçar-se como se estivesse em casa. Imagine a cena: um obreiro coçando-se à vontade... Alguém diria: "Que papelão!" Tomemos cuidado para não nos tornarmos motivo de riso, prejudicando, assim, a nossa boa conduta diante da congregação. Tamborilar na cadeira em que está assentado. Você já notou como alguns companheiros se portam no púlpito? Ficam tamborilando na cadeira... Isso não é um bom exemplo para o rebanho de Deus (1 Pe 5.2,3). Falar ao celular. Entendo que o telefone celular hoje tornou-se uma coisa comum, acessível a quase todas as pessoas. Entretanto, atendê-lo em público, mesmo em uma emergência, é um péssimo exemplo. Tenho visto obreiros atenderem aos seus celulares no púlpito com a maior tranquilidade... E ainda falam alto, riem, discutem, etc. O que fazer? Ora, se não for possível desligar o aparelho, use a opção "vibrar", disponível em quase todos os aparelhos. Um dia desses, se eu não tivesse adotado tal procedimento, teria passado por um grande vexame. Durante a pregação, meu telefone — que estava no bolso do paletó — "tocou" sete vezes! EVITE ERROS AO MICROFONE Contar testemunhos ou experiências em vez de pregar a Palavra. Há pregadores que pensam que pregar a Palavra é ficar contando testemunhos. Isso não é pregação! A exposição tem de ser bíblico-cristocêntrica. Um ou outro testemunho pode até ser empregado para reforçar uma verdade das Escrituras; apenas isso. Nesse sentido, qual foi o conselho de Paulo a Timóteo? "Conjuro-te pois diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino, que pregues a palavra (...) Porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina..." (2 Tm 4.1-3). O apóstolo incentivou o jovem pregador a contar experiências? Não! Mandou-o pregar a Palavra! Confundir a pregação com palestras motivacionais. Infelizmente, muitos expoentes ignoram o que é pregação (1 Co 1.23; 2.1-5). Não pregam sobre o sangue de Jesus, a ressurreição, a Segunda Vinda de Cristo e a santificação do crente. Seus temas favoritos são: "Seja um vencedor usando o pensamento positivo", "Você é aquilo que pensa", "Suas palavras têm muito poder", etc. Não faça isso! Fale de Jesus Cristo, pois é no nome dEle que há poder (Mc 16.15-18). Citar episódios, expressões ou pessoas da Bíblia desconhecidos dos ouvintes. Um pregador foi convidado para pregar na China para pessoas não-crentes. Ao saudar a todos com rápidas palavras, ouviu quase meia hora de interpretação! Ele dissera aos chineses, que nada conheciam da Bíblia: "Eu venho a vós em nome do Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó", obrigando o intérprete a explicar quem era cada uma das personagens citadas!

Contar piadas ou dizer gracejos ao auditório. Já vimos que isso não é bom. É claro que uma e outra ilustração divertida não prejudicam a exposição da Palavra. O problema está no uso abusivo desse recurso. Aliás, os fatos engraçados só deveriam ser empregados quando houvesse uma aplicação séria por trás deles. Caso contrário, o pregador torna-se um humorista, um mero animador de auditórios. Animar o auditório. Há pregadores que, sinceramente, abriram mão do seu ministério de expor as verdades de Deus, para agradar o povo. Mesmo antes de ler a Bíblia — alguns nem isso fazem mais — pedem para as pessoas se cumprimentarem, se abraçarem, profetizarem isso ou aquilo... Ora, precisamos dar um basta nisso! Pregação é exposição da Palavra (Sl 119.130; Tt 2.1), e não interação com o público! Entendo até que, em uma palestra, isso seja viável, porém estamos falando de pregação expositiva. Pregar com as mãos no bolso ou ajustar e suspender a calça enquanto fala. Às vezes, fazemos algumas coisas por mania ou cacoete. Não me tenha mal; a minha intenção ao escrever sobre isso é orientar. No entanto, pregar com as mãos no bolso ou ficar suspendendo a calça não fica bem para um obreiro. "EU NÃO SOU UM SHOW-MAN" Falar "atropelando" as palavras. Alguns pregadores, querendo parecer pentecostais, tropeçam nas palavras. Não queira "acender o fogo" por conta própria. Isso é obra do Espírito Santo! Apenas fale a Palavra com clareza, como fizeram Pedro, Estêvão e Paulo (At 2.22-36; 7.2-56; 17.22-31). Tenha cuidado, para que todos ouçam a sua voz. A pregação deve ser ouvida claramente por todo o auditório. Mas, para isso, é preciso ter boa dicção, pronunciar com clareza as palavras e articular bem as sílabas. O que adianta o aparelho de som estar bem regulado, se você não pronuncia as palavras com clareza? Gritar. Não é preciso fazer isso! Basta falar com a clareza e a entonação necessárias. O que é entonação? É a elevação e a diminuição da voz, com ênfase nas expressões e palavras-chave. Digamos que você cite a passagem de João 14.6. Quando disser que o caminho, a verdade e a vida é Jesus, faça isso de modo convicto, com expressividade. Atacar pessoas presentes, de modo "indireto". O povo vibra quando os pregadores voltam-se para os obreiros assentados na tribuna e verberam contra eles. Num culto de que participei, certo animador de auditórios demonstrou estar tão irritado pelo fato de eu nada sentir durante a sua performance, que chegou ao ponto de lançar o próprio paletó ao chão e berrar ao microfone: "Pare de me olhar com cara de delegado! Eu não sou show-man". Imagine se fosse... Falar sem expressividade. As ideias e sentimentos são comunicados pela voz. O tom baixo expressa coisas graves, tristes, enquanto o alto, prazer, alegria, entusiasmo. A gesticulação também tem importante papel, compreendendo a posição, o movimento, a expressão fisionômica e o uso dos olhos. É preciso ter cuidado para não se adotar o que chamo de imobilidade sepulcral. Não há necessidade de o pregador ficar olhando para cada pessoa. No entanto, olhar para o teto ou para o chão o tempo todo é uma grande barreira da comunicação. Tenha cuidado com isso. Ao pregar, olhe para a frente; fixe o olhar no auditório. Quando for preciso dirigir-se a um grupo em específico — por exemplo, o coral ou a mocidade —, olhe para eles. Veja como Jesus tinha esse cuidado: "E, levantando ele os olhos para os seus discípulos, dizia: Bem-aventurados..." (Lc 6.20). PÚLPITO NÃO É PALCO!

Diante do exposto, quero enfatizar que o púlpito — embora muitos hoje o estejam transformando em palco — é um lugar sagrado. Dele se ministra a Palavra do Senhor: "E Esdras, o escriba, estava sobre um púlpito de madeira, que fizeram para aquele fim; (...) E Esdras abriu o livro perante os olhos de todo o povo..." (Ne 8.4,5). Que não subamos nele, se não estivermos preparados. Valorizemos, pois, o privilégio que temos de ser mensageiros do Senhor, pregando a Palavra — e somente a Palavra — com temor e tremor. Afinal, não são todos que receberam esta chamada específica. Num sentido, todos devem ser pregadores (Mc 16.15), mas eu me refiro ao ministério (Ef 6.11). Assim, que, à semelhança de Paulo, você reconheça esse dom de Deus (2 Tm 1.11). Em resumo, "... cumpre o teu ministério" (2 Tm 4.5). Bibliografia Ciro Sanches Zibordi

A IMPORTÂNCIA DA EPÍSTOLA AOS GÁLATAS NA ATUALIDADE

De início, pode-se considerar difícil achar muita relevância atual numa Epístola dirigida a uma situação específica num grupo de igrejas cristãs do primeiro século, ameaçado por um perigo que pertencia essencialmente ao mundo daqueles tempos: o perigo de o cristianismo tornar-se estultifícado como um ramo do judaísmo. Por mais direto e poderoso que tenha sido o apelo histórico de Paulo a fim de libertar os cristãos da circuncisão judaica, esta questão já é assunto liquidado. Em poucas das demais Epístolas de Paulo, ou talvez em nenhuma delas, o argumento é tão estreitamente ligado a uma questão historicamente superada quanto nesta Epístola. Mesmo assim, a despeito do seu cenário histórico local, sua apresentação de princípios cristãos eternos tem sido reconhecida. Esta foi, sem dúvida, o motivo de sua conservação e de sua inclusão incondicional no cânon cristão. Antes de discutir a importância da Epístola para o século XX, será valioso considerar três exemplos históricos notáveis da sua aplicação a condições alteradas, a fim de ilustrar a busca contínua de relevância, sob vários pontos de vista. Foi na primeira metade do século II que Márciom lançou seu grande desafio à igreja cristã ao estabelecer tema organização rival, que mesmo assim alegava estar mais perto da verdadeira posição apostólica. Este não é o lugar adequado para discutir a natureza da heresia marcionita, mas é digno de nota que ele colocou a Epístola aos Gaiatas encabeçando sua lista de Epístolas paulinas, por formar a base da sua abordagem anti-judaica. Márciom, portanto, considerava a questão da circuncisão como sendo típica de um antagonismo geral ao judaísmo. A despeito do fato de que a exegese de Márciom era falha, sua alta estima por esta Epístola é um testemunho relevante à necessidade sentida, não apenas pelos ortodoxos, mas também pelos hereges, de compreenderem a Epístola de modo a encontrar nela uma aplicação geral ou contemporânea. De muito maior relevância é o papel desempenhado por esta Epístola na Reforma, especialmente no pensamento e nos escritos de Martinho Lutero. Seu comentário da Epístola é uma exposição notável da doutrina da Reforma, e em muitas das suas outras obras a influência desta Epístola é inegável. Na sua batalha feroz contra as doutrinas papistas ele via nesta Epístola uma ilustração do seu próprio papel na situação. Considerava os judaizantes como exemplos dos legalistas na religião; e, portanto, como exemplos de qualquer sistema religioso em que a aproximação de Deus tinha como base exigências legalistas. Lutero sabia por experiência própria que o sistema monástico

representava uma escravidão tão grande quanto a situação confrontada pelos gálatas. A justificação pela fé foi a resposta de Paulo à situação deles e veio a ser igualmente a resposta de Lutero. Não é de admirar que este se tornasse o tema principal da sua pregação. O tratamento dado a esta Epístola por Lutero, embora fortemente condiciona-do pelos seus próprios problemas contemporâneos, aponta o caminho para a relevância moderna da Epístola. O cristianismo legalista tem-se manifestado de muitas formas desde os dias de Lutero, mas o exegeta moderno não pode achar outra maneira mais eficaz para tratar do mesmo. Permanece tão verídico hoje quanto era naquela época que qualquer forma de legalismo leva à escravidão e toda e qualquer forma de escravidão é estranha ao cristianismo conforme Paulo o entendia. O estudante moderno da Epístola aos Gálatas deve ficar profundamente agradecido a Martinho Lutero por ter descoberto sua verdadeira relevância. Nosso terceiro exemplo pertence à era da crítica moderna. O crítico de Tübingen, F. C. Baur, assim como Márciom, achou esta Epístola muito a seu gosto, a ponto de fornecer-lhe um padrão eficaz, conforme pensava, para medir a autenticidade das demais Epístolas paulinas. Sua premissa fundamental de uma antítese entre o cristianismo paulino e petrino, uma vez adotada, foi ilustrada basicamente por meio desta Epístola. Esta abordagem, no entanto, estava muito distante da interpretação tradicional, e pode ser citada como representando a crítica radical do século XIX que continua ainda a ter certa repercussão em nosso próprio século. A teoria de antítese, desenvolvida por Baur, não é mais praticamente considerada hoje, mas foram poucos os que durante todo o período da crítica moderna não concordaram com sua opinião elevada da carta de Paulo aos Gálatas. Vale a pena notar que uma abordagem recente às Epístolas de Paulo, muito semelhante ao tipo de crítica de Baur, também estabelece Gálatas como a norma para medir a autenticidade. A. Q. Morton começa seu estudo das cartas de Paulo (cf. Christianity and the Computer (1964) 24ss.), asseverando que a Epístola aos Gálatas é demasiadamente individualista para ser uma falsificação, e, portanto, fornece um exemplo admirável para o estudo estatístico do estilo de Paulo. Como resultado desse estudo, Morton declara que dentre todas as Epístolas de Paulo, somente cinco são autênticas. Seu método e suas conclusões podem ser questionados, mas sua alta opinião desta Epístola não será discutida. Estas ilustrações da adaptação da nossa Epístola segundo pontos de vista totalmente diferentes nos lembram do perpétuo interesse que há nela, e fornecem em alguns casos uma advertência contra o uso de pressuposições errôneas na sua exegese. É apropriado considerar se esta Epístola tem qualquer relevância especial para os meados do século XX e se pode ser ainda considerada uma das maiores âncoras da fé cristã. Este estudo nos levará a uma consideração da aplicação moderna dos princípios mais importantes enunciados por Paulo na Epístola. (a) Uma advertência séria contra o legalismo. Não há dúvida que os judaizantes na Galácia eram pessoas sinceras, acreditando honestamente que o melhor procedimento possível para os gentios era serem circuncidados de modo a se tornarem membros genuínos do povo da Aliança e leais seguidores do sistema legal judaico. Isto era tanto mais confirmado em suas mentes pelo fato de os cristãos gentios reconhecerem como suas as Escrituras judaicas e pelo apelo constante a essas Escrituras na exegese da Igreja primitiva. Para os cristãos judaicos sinceros parecia, portanto, natural, que os gentios devessem ser absorvidos pelo judaísmo. Estavam tão condicionados a uma abordagem legalista que não enxergavam os seus perigos e nem mesmo a ameaça fatal que ela representava para a existência do próprio cristianismo.

Os legalistas modernos não são menos sinceros nem menos errados. Esta Epístola deve ser considerada um desafio para todos os que fazem parte da Igreja Crista professa, no sentido de examinarem seus princípios básicos. Ninguém negaria que na sua história passada a igreja tenha sido seriamente enfraquecida pelo formalismo, e não há razão para duvidar que o formalismo religioso continua como uma ameaça básica à prospe-ridade da Igreja. Qualquer abordagem do cristianismo que dependa da observância rígida de regras externas como meio de salvação, não está em melhores condições do que aquela que os gálatas corriam o perigo de adotar. O rápido declínio na frequência à igreja na Grã-Bretanha durante o século XX tem sido parcialmente devido à insatisfação cada vez maior com uma abordagem simplesmente formalista. Se o cristianismo não consiste em mais do que a presença formal no lugar de culto, sua deficiência no mundo complexo da segunda metade do século XX torna-se imediatamente aparente. O declínio na frequência à igreja é na maior parte das vezes uma condenação da Igreja e não da presente geração. Que mensagem o apóstolo Paulo teria dado numa situação dessas? Visto existir uma ligação estreita entre a questão da circuncisão e o formalismo religioso em qualquer época, pode ser seguramente esperado que sua resposta seria a mesma. Na sua maneira de pensar, a salvação só poderia resultar da fé pessoal, o que tornava o cristianismo um fator vivo e poderoso. Sempre que a doutrina da justificação pela fé é tanto proclamada como aceita, o cristianismo torna-se uma influência dinâmica nos afazeres humanos, tanto individual como coletivamente. Mesmo assim, o método legalista tem seus atrativos. Se o caminho para a justiça consiste em deveres bem definidos que podem ser verificados, é uma questão mais simples para o indivíduo aplicar-se de todo o coração a semelhante procedimento fixo, do que exercer a disciplina de uma fé pessoal. Além disto, forçosamente surgirá confusão se a consciência individual for sobrecarregada com assuntos em demasia. Os judaizantes na Galácia podiam indicar a Lei como seu padrão e esperar obediência à mesma. Paulo substitui tal conceito com o fruto do Espírito, e já não apela para um código legal, mas, sim, a um organismo vivo. Para o apóstolo, havia uma forte antítese entre eles, mas na Igreja moderna as antíteses fortes tendem a ser enfraquecidas na tentativa de encontrar uma base comum para a unidade eclesiástica. Paulo não conseguia conceber como uma abordagem formalista pudesse fazer parte de uma fé pessoal. É muito provável que uma das tarefas mais urgentes da Igreja moderna seja considerar a relevância da doutrina da justificação pela fé como uma base para a unidade eclesiástica. Um estudo desta Epístola, devido à tendência moderna cada vez maior de desconsiderar a obra dos Reformadores, é de especial importância. No caso de a doutrina dos Reformadores não ter lugar na teologia moderna, esta Epístola, na mesma conformidade, terá menor significado. A totalidade do seu argumento doutrinário é tão integrante à doutrina dos Reformadores que se torna impossível reter a Epístola e rejeitar a doutrina. Não há dúvida alguma de que qualquer tentativa no sentido de transpor o abismo entre as Igrejas Protestantes e a Igreja de Roma deverá ine-vitavelmente começar com a desvalorização da obra dos Reformadores. Seria bastante difícil realizar tal coisa com integridade do ponto de vista histórico, mas é impossível fazê-lo caso a importância permanente da Epístola deva ser mantida. A não ser que a justificação deixasse de ser inteiramente pela fé e fique provado que Paulo estava enganado, não pode haver união essencial entre os grupos de cristãos que acreditam que a aceitação diante de Deus é mediada pela fé em Cristo e aqueles que impõem exigências tais como a da absolvição sacerdotal. (b) Outra tendência dos tempos modernos é o crescimento da libertinagem. A ideia de um código ético ao qual se possa razoavelmente esperar que os membros da sociedade

se conformem está sendo desprestigiada. A liberdade do indivíduo tornou-se mais importante do que o bem-estar da sociedade como um todo. Até que ponto esta Epístola transmite uma mensagem para uma época que está sendo cada vez mais dominada pela nova moralidade? À primeira vista, pode parecer que as referências de Paulo à liberdade que obtivemos em Cristo apoiam a reivindicação da liberdade individual. Paulo não está porém nesta Epístola do lado dos novos moralistas. Ele deixa perfeitamente claro que a liberdade não deve ser usada como ocasião para a carne (5:13). Pelo contrário, o ensino de Paulo acerca da carne é uma resposta suficiente para aqueles que desejam abolir restrições morais consagradas pelo tempo. Muita coisa pode ter-se alterado no padrão das realizações intelectuais e culturais do homem, mas a "carne", como Paulo a compreendia, ainda permanece sem mudança. O conceito da verdadeira liberdade para a era espacial não é diferente daquele que satisfazia as necessidades dos tempos de Paulo. Por esta razão, a relevância moral desta Epístola não pode ser ressaltada em demasia. Ao invés de afrouxar os padrões, o apóstolo favorece o inverso. O tipo de cristianismo que ele defendia faz exigências rigorosas ao homem, a despeito do seu antilegalismo. A exigência principal é o exercício do amor. É o primeiro entre os frutos do Espírito (5:22). E o antídoto às obras da carne (5:19ss.). É a salvaguarda contra o uso errado da liberdade cristã, uma vez que considera o serviço prestado aos outros de maior valor do que a autossatisfação (5:13-14). Está disposto a carregar os fardos dos outros (6:2) e a dedicar-se à prática do bem em benefício do próximo (6:9-10). Ele é além disto acompanhado por outros frutos do Espírito (5:22). A total negação da carne é expressa vividamente por Paulo na sua declaração: "Estou crucificado com Cristo" (2:19). Não se trata, pois, de qualquer padrão ético incompleto, já superado pelo homem moderno, a ponto de não mais precisar de tais exortações. A situação é bem diversa. O desafio de Paulo à sua época aplica-se melhor ainda à nossa. Se menos liberdade de auto expressão e mais das tremendas exigências e responsabilidades da vida cristã conforme retratadas nesta Epístola fossem ensinadas aos adolescentes, os problemas que nossa sociedade enfrenta seriam drasticamente reduzidos. A falta de disciplina moral não pode deixar de produzir uma colheita cada vez maior daquilo que o apóstolo chama de "obras da carne". Não há outra resposta à delinquência crescente em nossos dias senão a resposta encontrada por Paulo — a crucificação da carne, com as suas paixões e concupiscências (5:24). (c) Uma pesquisa importante é descobrir até que ponto o modo como Paulo tratou da situação dos gálatas foi ditatorial e se sua atitude pode fornecer qualquer padrão para o século XX. Quanto à primeira pergunta, não se pode negar que Paulo mostrou-se incisivo. Não havia questão de complacência ou meios-termos no caso. Paulo vê o assunto como uma questão de vida ou morte, e não hesita em empregar a franqueza de linguagem. Não havia dúvida em sua mente quanto à impossibilidade de coexistência pacífica dentro da Igreja gentia entre um partido que exigia a circuncisão e outro que prescindia dela. Ele via claramente que o primeiro grupo não representava de modo algum o cristianismo puro, devendo ser portanto, vigorosamente excluído. O movimento moderno pró união da Igreja faria bem em refletir, antes de mostrar-se demasiadamente generoso na sua atitude para com grupos de pontos de vista diferentes, se existe qualquer perigo de comprometer a posição cristã verdadeira conforme o conceito da Igreja apostólica. O apóstolo Paulo acreditava na necessidade de adotar uma atitude firme nas questões de doutrina bem como nas de disciplina, pois somente assim uma Igreja forte poderia ser edificada. Como é natural, há uma diferença entre a geração de Paulo e a nossa no que diz respeito à autoridade. Ele podia reivindicar uma autoridade apostólica que nenhum líder moderno pode reivindicar. Mesmo assim, a única base segura para a liderança teológica e moral na Igreja do século XX é uma confirmação da autoridade do testemunho apostólico.

(d) Outro fator de interesse considerável é o uso feito por Paulo do Antigo Testamento nesta Epístola, e sua importância para as abordagens modernas. O uso de Paulo pode ser resumido em três categorias. A primeira é a citação direta. Ele faz isso um pouco menos frequentemente na Epístola aos Gálatas do que em algumas das suas outras Epístolas, mas quando o faz fica evidente que cita o mesmo com autoridade. Ao discutir a posição de Abraão, Paulo personifica a Escritura (3:8), considerando que ela possuía o poder da previsão. Esta transferência da presciência de Deus para a Escritura é altamente relevante por revelar o conceito de Paulo de que quando a Escritura fala, fala com a voz de Deus. Há algo desta autoridade por detrás da fórmula: "Está escrito" (ou "permanece escrito", conforme a tradução de Lutero). Ela é usada em 3:10 para uma citação de Deuteronômio 27:26, referindo-se à maldição da lei. Outra passagem do mesmo livro (Dt 21-23) é introduzida por meio da mesma fórmula (3:13). Ocorre outra vez em 4:21 e 4:27 no decurso da exposição da alegoria acerca de Agar e Sara, e nesta última ocasião para uma citação de Isaías 54:1. No mesmo contexto o apelo é feito àquilo que a Escritura diz (4:20) numa citação de Gênesis 21:10-12. Na parte prática da Epístola há um só citação direta (5:14 de Lv 19:18). Às vezes a Escritura é citada sem qualquer fórmula introdutória, como, por exemplo, em 3:6,11. O segundo uso do Antigo Testamento é visto nas alusões indiretas. Às vezes, não passa de um possível eco da linguagem do Antigo Testamento como em 1:15, onde a linguagem relembra Isaías 49:1 e Jeremias 1:5; ou 2:16 onde as palavras são um eco de Salmos 143:2. Nas deduções feitas do uso do singular ao invés do plural, em 3:15-16, Paulo toma por certo que seus leitores terão conhecimento da promessa veterotestamentária a Abraão e ao seu descendente (singular). Em Gálatas 6:16 parece haver uma alusão à linguagem de Salmos 125:5. Estes exemplos são evidência da alta estima que Paulo tinha pela linguagem da Escritura, e da maneira como ela influenciava a linguagem dele. O terceiro uso da Escritura é aquele da alegoria, da qual o incidente de Sara e Agar é um exemplo. O método de Paulo de deduzir princípios espirituais de incidentes do Antigo Testamento ao tratá-los como sendo alegóricos realmente acha aqui o seu exemplo mais notável. Na verdade, ele quase não faz uso dele em outras partes das suas Epístolas, o que deve levar à cautela antes de chegar à conclusão de que o método era normal no ensino de Paulo. Mesmo assim, o fato de ele tê-lo usado é evidência suficiente de que o considerava válido. É importante, no entanto, notar uma clara distinção entre o uso que Paulo fazia da alegoria e o de Filo, porque, diferentemente deste último, Paulo trata as personagens desta alegoria como sendo históricas. De fato, a discussão depende mais do relacionamento histórico entre Sara e Agar e Isaque e Ismael do que do significado alegórico deduzido. Surge o problema de até que ponto o uso que Paulo fez do Antigo Testamento deve ser normativo para a exegese moderna. Há uma tendência para desconsiderar a alegoria por ser um método não-científico, e o apelo ao Antigo Testamento como autoridade é igualmente rejeitado. Mas, será o método de Paulo assim tão antiquado? No caso de existir qualquer continuidade entre o cristianismo e a antiga ordem — e não se pode negar que Cristo e seus apóstolos acreditavam que havia — o exegeta moderno deve ficar tão certo quanto Paulo acerca do método de interpretação a seguir. Na base em que Paulo trata o incidente de Sara e Agar, fica evidenciado que em sua opinião a Escritura transmitia uma interpretação tanto literal quanto alegórica. Em certo sentido, a relevância do evento histórico deve ser encontrada numa repetição de circunstâncias análogas, também na história, mas com um grupo diferente de personagens. Não há dificuldade em ver o relacionamento entre Isaque e Ismael como sendo uma representação daquele que havia entre o espírito de liberdade da abordagem de Paulo e o

espírito de escravidão dos judaizantes. Este método está muito removido da alegorização altamente imaginativa daqueles Pais primitivos que se deixaram influenciar pelo pensamento grego. Na epístola de Barnabé, por exemplo, o número dos servos de Abraão torna-se simbólico de um modo completamente estranho ao contexto histórico. CONCLUSÃO Caso a igreja moderna deva ter qualquer associação com a igreja apostólica, não é necessário dizer que o conteúdo desta Epístola continua sendo tão importante hoje quanto o foi sua contribuição à igreja do primeiro século. Ela tem sido descrita, com razão, como sendo a carta magna da liberdade cristã, e enquanto seus ensinamentos forem obedecidos, o cristianismo jamais ficará sujeito a qualquer tipo de servidão. Fonte: http://www.ebdareiabranca.com/EICristo/EICristoLicao03Ajuda1.htm

A APOSTASIA DOS GÁLATAS (1:6-10)

6. Admira-me: no lugar das ações de graças usuais o apóstolo dá vazão a uma expressão irrestrita de assombro, chamando a atenção para um assunto sobre o qual seus sentimentos eram claramente profundos. tão depressa: parece que a referência diria respeito à rapidez com que os gálatas estavam aceitando um evangelho falso, e neste caso o evento referido deve ser o começo do falso ensino. É possível, naturalmente, identificar o evento como sendo a ocasião em que se converteram, e a causa do assombro de Paulo seria então a rapidez com que abandonaram o evangelho verdadeiro. A referência pode estar também ligada à última visita do apóstolo. Mas a primeira destas interpretações se enquadraria melhor no contexto estejais passando: o verbo é pitoresco, usado tanto para uma revolta militar quanto para uma mudança de atitude. O apóstolo pensa nos leitores em termos de quem mudou de partido. Era um caso sério de apostasia. Outro evangelho estava exigindo uma lealdade que deveria ter sido exclusiva do evangelho verdadeiro. O assombro de Paulo diante de tal acontecimento é facilmente entendido. daquele que vos chamou: não resta praticamente dúvida de que esta frase se refere a Deus Pai. O partido da oposição entre os gálatas certamente teria ficado surpreso ao ficar sabendo que na verdade estava se afastando do próprio Deus. Seu entusiasmo centralizava na lei de Deus; como, pois, era possível dizer que estavam desertando dEle? Paulo teria compreendido isto muito bem, porque ele mesmo imaginara estar prestando um serviço a Deus enquanto perseguia a Igreja. Este tipo de ilusão é um dos mais difíceis de lidar porque contém um forte elemento de convicção piedosa. Mas no momento em que se reconheça que o entusiasmo religioso para com a lei de Deus pode acabar transformando-se numa deserção do próprio Deus, há esperança de que a verdadeira natureza do evangelho venha a ser discernida. na graça de Cristo: alguns manuscritos omitem "de Cristo", mas quase toda evidência o apoia. De qualquer maneira, a palavra "graça" subentende uma ligação com Cristo. A escolha da palavra "graça" por Paulo, pretende provavelmente contrabalançar a ênfase dada à "lei" pelos apóstatas. Eles devem aprender que Deus os chamou pela graça e não pela lei. Sua falha em compreender isto fora um erro fundamental. A preposição (en) pode ser entendida como sendo instrumental (= por meio de), embora isto não esgote o significado aqui. Pode também sugerir a esfera em que a chamada torna-se efetiva, ou

até referir-se à entrada numa nova condição. Neste último caso en representaria eis, mas esta possibilidade é mais artificial que as demais. Uma vez que o apóstolo estava pensando na mudança de posição dos gálatas, certo significado local em en se adaptaria melhor ao contexto. A implicação é que os gálatas, com seu evangelho diferente, estavam saindo da graça para dentro da qual tinham sido chamados. para outro evangelho: o adjetivo expressa uma diferença de tipo, e, portanto, diferencia o evangelho dos falsos mestres daquele pregado por Paulo. Mas em que sentido o evangelho deles é diferente? Não há evidência de que houvesse qualquer disputa quanto aos fatos do evangelho. A diferença consistia na variação das aplicações desses fatos. Sem dúvida, os falsos mestres acreditavam firmemente que sua posição representava na verdade o evangelho, mas Paulo indica que a aplicação do mesmo feita por eles representa, na realidade, um evangelho essencialmente diverso. 7. o qual não é outro: parece que Paulo se corrige aqui, como se reconhecesse repentinamente que aquilo que acabara de dizer pudesse dar a impressão de que estava disposto a atribuir a palavra "evangelho" a qualquer outra forma de ensino. Na realidade, não pode haver outro evangelho, se "evangelho" for entendido como descrição do caminho divino da salvação em Cristo. Aquilo que estas outras pessoas estão ensinando é uma perversão (Duncan). Paulo tem uma idéia clara daquilo que queria dizer com "evangelho", mas não se deve supor que fosse uma noção particular sua, pois neste caso, suas palavras não teriam peso. Com toda probabilidade, havia uma definição geralmente aceita daquilo que era básico ao conceito. A Igreja moderna tornou-se menos clara quanto à natureza do evangelho, mas faria bem em meditar a importância que Paulo atribui aqui às distinções entre o evangelho verdadeiro e o falso. há alguns que vos perturbam: em outras ocasiões Paulo se refere aos oponentes sem mencioná-los pelo nome (cf. Gl 2:12; 1 Co 4:18; 2 Co 3:1; 10:2). Os leitores os identificariam imediatamente. A palavra usada aqui para "perturbar" (tarassontes) pode referir-se à agitação física, distúrbio mental, ou atividade subversiva. Usada em conjunto com a metáfora de deserção, o último destes três sentidos é preferível. perverter: o termo (metastrephõ) significa transferir para uma opinião diferente, daí, mudar o caráter essencial de uma coisa. A palavra não precisa subentender degeneração, mas onde aquilo que é mudado é bom, a mudança deve envolver a idéia da perversão, como aqui. Não se trata de uma simples distorção do evangelho; mas, sim, de dar-lhe uma ênfase que virtualmente o transformava em outra coisa. Desta maneira, Paulo demonstra sua compreensão magistral dos princípios por detrás da política dos falsos mestres. Uma salvação dependente da circuncisão; e, por implicação, das observâncias legais, não era de modo algum um evangelho verdadeiro, mas uma perversão. Vale a pena notar que Paulo coloca sobre os falsos mestres a responsabilidade pela anomalia, ao demonstrar que eles mesmos querem (thelontes) perverter. o evangelho de Cristo: posto que no grego o artigo é usado com o nome de Cristo, o genitivo deve ser considerado uma definição do evangelho num senso específico. Era o evangelho que pertencia ao Messias, mas aqueles que o pervertiam professavam serem zelosos pelas suas reivindicações messiânicas ao insistirem numa aplicação essencialmente judaística. O genitivo também poderia ser entendido como uma descrição do evangelho que Cristo proclamava (i. e., um genitivo subjetivo, cf. Williams), mas a primeira interpretação está mais em harmonia com o contexto. 8. Mas, ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do céu: Paulo está antecipando aqui uma objeção. Os falsos mestres poderiam alegar que aquilo que acaba de descrever

como sendo o evangelho de Cristo realmente é o evangelho de Paulo. É bem possível terem dito aos gálatas não haver razão para o evangelho de Paulo estar certo e não o deles, especialmente no caso de estarem alegando tratar-se do mesmo evangelho. Mas o apóstolo assevera com forte ênfase que o único evangelho autêntico é aquele originalmente pregado por ele. Nem o próprio Paulo nem um anjo poderia alterá-lo. O evangelho não era de Paulo, mas de Cristo. Este fato o tomava imutável. que vá além: ou "contrário a" (RSV), não é a única interpretação das palavras gregas (par’ho), embora seja quase certamente correta aqui. Paulo está pensando nas afirmações dos falsos mestres, como sendo absolutamente contrárias à verdade do evangelho. Isto é expresso de modo ainda mais enfático do que a referência à perversão no versículo anterior. As palavras podem significar "além de", e neste caso o anátema seria contra acréscimos ao evangelho puro, como, por exemplo, nas tradições dos homens. Alguns dos primeiros protestantes interpretavam assim a expressão na sua denúncia do apelo católico romano à tradição eclesiástica, como sendo equivalente à Bíblia. Num certo sentido, Paulo talvez estivesse pensando na exigência da circuncisão, feita por estes mestres, como sendo um acréscimo ao evangelho originalmente pregado aos gálatas, mas a forte acusação sugere que Paulo considera as ações deles como sendo a antítese direta do evangelho verdadeiro. anátema: a palavra anathema é relacionada com o hebraico herem, usado para aquilo que era dedicado a Deus, usualmente para a destruição. Alguns têm suposto que a palavra era usada entre os judeus para expressar a excomunhão (assim Williams). No uso neotestamentário é uma expressão forte, indicando separação de Deus. Ela subentende a desaprovação de Deus. Realmente, "anátema" é o contraste máximo com a graça de Deus. Seu uso aqui como uma asseveração contra os que pervertem o evangelho, reflete a avaliação de Paulo quanto à gravidade do ponto de vista deles. Não se tratava de uma explosão irada pelo fato de estarem abandonando aquilo que Paulo pregara. Não era uma questão de prestígio pessoal, mas a própria essência do evangelho estava em jogo. Se os falsos mestres estavam diretamente contradizendo o evangelho da graça de Cristo, não haveria qualquer possibilidade de evitarem incorrer no forte desagrado de Cristo. É de certo modo estranho que Paulo se expressasse tão violentamente antes mesmo de delinear a natureza da perversão, mas isso demonstra a intensidade das apreensões do apóstolo acerca do problema. Na Igreja primitiva o caráter sagrado do evangelho era mais plenamente apreciado do que tem sido frequentemente o caso na história subsequente da Igreja. Nos tempos modernos tem havido uma forte tendência no sentido de confundir as personalidades com o conteúdo do evangelho, mas a inclusão do próprio Paulo ou mesmo de um anjo na possibilidade de um anátema torna indisputavelmente clara a superioridade da mensagem sobre o mensageiro. Para o uso semelhante de um anátema, cf. 1 Co 12:3; Rm 9:3. 9. Assim como já dissemos...: este versículo é quase uma repetição exata do v. 8. Mas, por que Paulo se repete? Ele não poderia deixar de impressionar os leitores com um senso de solenidade ao pronunciar o anátema duas vezes. A única mudança é a substituição de "que recebestes" por "que vos tenhamos pregado". O enfoque muda, portanto, dos mensageiros para os ouvintes. Os dois juntos refletem o aspecto cooperativo da origem de cada nova comunidade de crentes. Paulo não só pregou pessoalmente o evangelho, mas este foi também plenamente reconhecido por aqueles que o receberam. A palavra proeirèkamen pode referir-se àquilo que fora dito por Paulo na sua última visita às igrejas da Galácia (assim Duncan), ao invés de à declaração do versículo anterior. Diz-se que esta última interpretação é excluída pelo uso de arti (agora) na frase seguinte (e agora repito), visto que a declaração deste versículo pareceria estar separada por um intervalo daquilo que Paulo dissera previamente (Lightfoot). Se

isto for correto, os gálatas não têm desculpa alguma. Sabiam que um evangelho contrário envolveria um anátema, mas persistiram na sua atividade subversiva. daquele que recebestes: o verbo usado aqui expressa a comunicação do ensino cristão autorizado. O próprio Paulo já estivera na situação de recipiente neste processo, conforme 1 Coríntios 15:3ss. deixa claro, a despeito daquilo que diz no v. 12 (veja o comentário abaixo). É preciso mais do que pregar o evangelho, ele precisa ser recebido. O processo da transmissão é completo somente quando os homens reconhecem que a mensagem pregada é o evangelho de Deus, e uma vez que isto tenha sido feito, não têm desculpa para desviar-se dele. 10. Porventura procuro eu agora o favor dos homens? O "agora" desta declaração reforça o "agora" no v. 9. Subentende que Paulo está respondendo a uma acusação de que seus motivos se alteraram desde a primeira ocasião em que pregou a eles. Sua pergunta retórica sugere que a acusação de procurar proveito próprio estava sendo feita contra Paulo, sem dúvida com a intenção de desacreditá-lo e, portanto, refutar sua in-fluência. "Procurar favor" (peithō) significa, no contexto, "conciliar", e a ideia parece ser que Paulo, ao afrouxar a exigência da circuncisão para os convertidos gentios, estava facilitando a entrada dos interessados no cristianismo. Em resumo, ele procurava agradar ao povo. ou o de Deus? Talvez pareça estranho que Paulo declarasse como segunda alternativa a ideia de procurar ganhar o favor de Deus, se é que o verbo deve ser entendido neste sentido. É melhor tomar por certo que esta segunda parte da pergunta significa: Estou procurando a aprovação de Deus? Parece haver uma pressuposição distinta de que o ser humano tem uma escolha direta entre agradar a homens ou agradar a Deus, e os que fazem a primeira opção não podem fazer também a segunda. Era da máxima importância para Paulo demonstrar que estava nesta última categoria. ou procuro agradar a homens? A primeira das perguntas retóricas é repetida para ênfase adicional, com uma mudança significativa do verbo, de "conciliar" para "agradar" (areskein). É mais do que repetição que está envolvida. O primeiro verbo refere-se a tornar simples para os homens aceitarem o evangelho, ao passo que este verbo sugere o emprego da lisonja tendo em vista a obtenção da popularidade. Se... não seria servo de Cristo: a ideia de Paulo como interesseiro pode ser imediatamente refutada por um apelo à sua experiência. A escravidão a Cristo tinha a probabilidade de levar à popularidade? A palavra usada (doulos) sugere tal servidão a Cristo que qualquer ideia de popularidade seria totalmente estranha. Paulo usa a mesma descrição da sua categoria na saudação da Epístola aos Romanos (cf. também Tt 1:1). Fonte http://www.ebdareiabranca.com/EpistolaGalatas/EGalatasLicao02.htm

O Problema "Porque, se alguém for pregar-vos outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, com razão o sofrereis" (2Co 11.4)

O grande problema das igrejas da Galácia afetava não só a fé daqueles irmãos, mas era uma ameaça aos fundamentos da fé cristã e a sobrevivência do próprio cristianismo como vimos na lição anterior. Cremos que você percebeu a gravidade do problema enfrentado por Paulo na Galácia. É maravilhoso sermos edificados, hoje através da inspiração divina concedida a Paulo ainda que seu problema-motivação para escrever a epístola tenha sido algo indesejável e, talvez, nem imaginado que viesse a acontecer com o cristianismo em seu início. O alvo do ataque dos judaizantes, inimigos do apóstolo, era triplo: a pessoa de Paulo, seu apostolado e sua mensagem. Os opositores de Paulo conseguiram fazer com que os crentes gálatas vivessem "outro evangelho", ou seja, queriam que os gentios observassem a Lei de Moisés como condição para salvação. Os legalistas mexeram no cerne do evangelho. O centro do evangelho é a salvação tão somente pela graça, da qual decorre uma vida espiritual espontânea sem a imposição do legalismo, uma fé viva sem o atendimento às formalidades legalistas. Consequentemente, eles estavam impedindo os gálatas de viverem a liberdade em Cristo, transferindo para o homem a honra e a glória que pertencem exclusivamente a Deus. Na verdade, era um tentativa diabólica de neutralizar á eficácia do evangelho. Na verdade o que estava acontecendo nas igrejas da Galácia? Quem eram os respon-sáveis pela crise espiritual nas igrejas da Galácia? Até que ponto esses problemas afetavam o cristianismo? Vamos relembrar. I. As Cartas Paulinas 1. Entendendo Gálatas. Temos, às vezes, dificuldade para entender os fatos bíblicos, como este de Gálatas, por não termos mais informes. Imagine você ouvindo um conhecido a conversar por telefone com outra pessoa, do outro lado da linha. Se você de antemão conhecer o assunto da conversa, pelas respostas e argumentos da pessoa que está ao seu lado é possível saber, em parte, do que se passa naquele momento. Em Gálatas, estamos ouvindo o apóstolo como numa linha telefônica, entendendo o assunto com a ajuda de algumas informações provenientes de Atos dos Apóstolos e das demais epístolas, mas sem saber o que se passa do outro lado da linha. 2. Carta ou epístola? Pergunta feita na aula passada. A palavra grega para ambas é epistole, proveniente do verbo epistello que significa "enviar para, enviar uma carta, expedir uma ordem de comando, anunciar". Uma carta, segundo o padrão da época, apresentava cinco partes: saudação, uma oração pela saúde do destinatário, ação de graças, tema da carta e finalmente lembranças aos amigos e parentes. Já a epístola tem alcance geral, dirigindo-se a todo aquele a quem possa interessar, é como um discurso e pressupõe sua publicação. II. A Situação do Apostolo 1. O apostolado de Paulo (v.l). A expressão "(não da parte dos homens, nem por homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos)" é atípica nos prefácios das epístolas paulinas. É comum: "apóstolo de Jesus Cristo" ou "apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus" (1 Co 1.1); ou como servo de Jesus Cristo (Fp 1.1). O apóstolo costuma elogiar seus destinatários nos prefácios de suas epístolas. A ausência de elogios aqui mostra que alguma coisa incomum estava acontecendo.

2. O alvo dos ataques inimigos. Paulo tinha muitos opositores, e seria até infantilidade de nossa parte supor que um homem com a personalidade e na posição espiritual do apóstolo Paulo, liderando um grande movimento de revolução do pensamento religioso de sua geração, não tivesse oposição. Paulo era alvo dos bombardeios de seus inimigos. Esses opositores eram os falsos mestres, tanto internos como externos (2 Co 11.26). O ataque deles era triplo: Paulo, seu apostolado e sua mensagem. 3. Condições para o apostolado. Quanto ao apostolado, seus opositores pareciam levar vantagem, por não ser ele um dos doze que conviveram com Jesus. Talvez soubessem dos requisitos apresentados pelo apóstolo Pedro (At 1.21-25). Havendo Paulo sido um perseguidor da Igreja antes de sua conversão, talvez eles tentassem com isso excluí-lo da lista dos apóstolos. 4. A defesa de Paulo. A essas acusações ele rebateu veementemente. A ênfase que ele dá a origem de seu apostolado no v.l mostra que o único que tem autoridade de constituir apóstolos é o Senhor Jesus. Além disso, ele afirma quatro vezes ter visto o Senhor (1 Co 9.1; 15.8; 2 Co 4.6; Gl 1.15,16). Atos dos Apóstolos apresenta Paulo como apóstolo (14.14). Seus oponentes por certo conheciam algo da história do apostolado, mas ignoravam o que está escrito em 1 Co 12.28 e Ef 4.11 sobre os apóstolos que o Senhor constitui sobre a sua Igreja. III. Os Opositores de Paulo 1. O espanto do apóstolo (v.6). Tão logo Paulo retornou de sua viagem ficou sabendo que os irmãos da Galácia estavam agora vivendo outro evangelho e isso deixou o apóstolo estupefato e atônito. A expressão "maravilho-me" (metatithesthe), no original, referia-se a alguém que desertava do exército ou se rebelava contra ele. No sentido atual é "deixar, abandonar, desertar, mudar de pensamento, virar a casaca". Em outras palavras, aqueles irmãos estavam abandonando a fé. 2. Nos dias atuais. Eles ouviram dos apóstolos Paulo e Barnabé a fiel palavra da pregação do evangelho quando estiveram entre eles, receberam o Espírito Santo, sentiram grande gozo e a alegria da salvação. Agora trocam Paulo por aventureiros desconhecidos, portadores de mensagens diabólicas. Como esse povo podia tão facilmente ser levado pelo erro? Parece que é tendência ainda hoje ser mais fácil induzir alguém ao erro do que levá-lo à verdade. Tais pessoas conhecem o seu pastor, sua história, sua origem, sua família, seu trabalho e sua dedicação à igreja, seu cuidado com o rebanho. Trocam esse homem de Deus por estranhos que sequer conhecem sua origem. 3. Quem eram os opositores de Paulo? (v.7). Eram falsos mestres, legalistas judeus, e por isso chamados de judaizantes. Palavra proveniente do verbo grego ioudaizo "viver como judeu, viver de acordo com as normas religiosas dos judeus" (Gl 2.14). Esses judeus, agora ingressos no cristianismo, queriam que os gentios observassem a lei de Moisés como condição para salvação "Se não vos circuncidardes, conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos" (At 15.1). Esses homens saíram de Jerusalém por sua própria conta. Tiago disse que não os enviara, portanto não podiam representar a igreja mãe, de Jerusalém (At 15.24). IV. O Anátema 1. O "outro evangelho" (v.8). A palavra "outro", aqui, é heteros que significa "outro de natureza diferente"; não é a mesma coisa que "outro" da mesma natureza (como o do

v.7, allos). Isso afasta a hipótese de o evangelho pregado pelos opositores de Paulo ser meramente um evangelho "corrompido, distorcido ou pervertido", mas sim outra coisa. O apóstolo foi categórico ao chamar a falsa doutrina desses legalistas de "outro evangelho", isto é, sem vínculo com o Cristo ressuscitado, revelado no Novo Testamento. 2. Ilustração desse "outro evangelho". Digamos que você usou sua senha para acessar Sua conta bancária e digitou corretamente todos os números, menos o último. Será que isso permitirá o acesso à sua conta, ou você consegue se aproximar dela ou terá uma visão parcial de seu saldo? De maneira nenhuma! Isso porque, para o computador não se trata de uma senha parecida ou próxima da sua, mas é reconhecida como outra se-nha. Essa "nova" senha não serve para nada. Esses legalistas de que trata a epístola aos Gálatas mexeram no cerne do evangelho. 3. O pronunciamento do anátema (vv.8,9). "Anátema" significa "maldição". O fato de o apóstolo amaldiçoar duas vezes esses legalistas mostra a seriedade do assunto. Estavam propagando outro evangelho, privando os cristãos da liberdade com que Jesus nos libertou, transferindo para o homem a honra e a glória que pertencem exclusivamente a Deus, oferecendo a salvação por meio de recursos humanos. Eis porque Paulo foi tão contundente com esses legalistas. 4. Agradar a Deus ou aos homens? (v.10). Esse versículo mostra que os acusadores do apóstolo diziam que Paulo procurava agradar aos gentios pregando-lhes uma mensagem e da mesma forma aos judeus, pregando-lhes outro evangelho. O apóstolo declara que seu compromisso era com Deus. Concluindo, podemos e devemos, portanto, tomar muito cuidado quando alguém diz que o problema da Galácia era meramente uma tentativa dos primeiros cristãos de transformar a igreja numa sinagoga, em uma época de transição. Era muito mais que isso. Era uma tentativa diabólica de neutralizar a eficácia do evangelho, e Paulo pelo Espírito entendeu toda a situação com clareza meridiana, e deu tudo que tinha pela defesa do evangelho. Que essa lição sirva para os legalistas de hoje que querem acrescentar algo mais que a fé em Jesus para a salvação. Trechos da epístola aos Romanos e as descrições de Atos 11 e 15 reforçam a principal razão de Paulo ter escrito aos gálatas: a Igreja cristã primitiva estava sendo dividida por controvérsias legalistas. A interpretação de Gálatas deve ser dividida em duas partes: a primeira, histórica (estudo à luz das circunstâncias históricas - cultura, costumes, aspectos geográficos e sociais e problemas religiosos locais); a segunda, é teológica (considera-se os seguintes fatos: 1. a Bíblia é a Palavra de Deus; 2. que ela constitui um todo orgânico, do qual cada livro em particular é parte integrante; 3. que o Antigo e o Novo Testamentos se relacionam como tipo e antítipo, profecia e cumprimento, origem e perfeito desenvolvimento; e 4. que não somente as afirmações explícitas da Bíblia, mas também aquilo que se pode deduzir dela por boa e necessária consequência constitui a Palavra de Deus). Aos convertidos dentre as comunidades judaicas e dentre os povos gentios por toda a Ásia Menor, especialmente na Galácia, era ensinado pelos judaizantes que havia ne-cessidade do sistema de boas obras para a salvação, ou pelo menos, do jato inicial, da circuncisão, e que o crente se mantém perfeito através da observância da lei. Como Paulo não ensinava isso, eles (tanto os judaizantes, quanto, os seus seguidores, muitos dos crentes gálatas) o reputavam um herege dos mais perigosos que pretendia destruir a obra de Moisés. Para eles, Paulo era adversário de Moisés. Essa gente estava certa de que Deus falara por intermédio de Moisés; mas não podia ter a mesma certeza de que

Deus falava por meio de Paulo. E mais, lançavam uma sombra de dúvida sobre o seu apostolado, procurando abertamente pô-lo em descrédito. O "outro evangelho” quer dizer: Não tinha absolutamente a mesma qualidade ou caráter que o evangelho de Cristo. Já o evangelho que Paulo pregou aos gálatas não era di-ferente do que pregara em outros lugares; pois ele lhes proclamou "...Jesus Cristo... como crucificado..." (3.1) e como aquele que foi ressuscitado "dentre os mortos" (1.1). Essa mensagem constituía seu evangelho essencial, conforme ele mesmo assegura em 1 Coríntios 1.23 e 15.1-11. É a mensagem que conta, não o mensageiro. Até mesmo o mais respeitado mensageiro deve ser amaldiçoado se trouxer uma mensagem falsa - se trouxer outro evangelho que não seja o evangelho de Cristo. Fonte: http://www.ebdareiabranca.com/EpistolaGalatas/EGalatasLicao02Ajuda1.htm

QUEM DISSE QUE NÃO PODEMOS JULGAR? Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus? 1 Pedro 4.17 Quase todos os cristãos bem informados admiram Martinho Lutero, considerando-o o protagonista da Reforma Protestante. Não obstante, ninguém hoje quer que outra pessoa faça o que ele fez... Onde estão os reformadores — pregadores, ensinadores, escritores, articulistas, etc., homens e mulheres que tenham coragem de alertar o povo de Deus? Diante das contundentes análises contidas nesta obra, pelas quais tenho abordado, com temor a Deus e à luz da Bíblia, os desvios em relação ao verdadeiro evangelho, alguns leitores, embora concordem no todo ou em parte com o que leem, podem estar se perguntando: "Cabe a nós julgar o que fazem os nossos irmãos? Quem somos nós para julgar?" Alguém também poderá dizer: "Somos o único exército que mata os seus soldados". Este é um clichê muito usado hoje em dia por super-pregadores e cantores-ídolos, com o objetivo de incentivar os crentes a não submeterem a julgamento o que ouvem. Entretanto, à luz da Palavra de Deus, podemos, sim, e devemos julgar tudo quanto vemos, ouvimos e sentimos. AS SETE "MARAVILHAS" DO MUNDO "EVANGÉLICO" Em julho de 2007, o Cristo Redentor foi eleito uma das sete maravilhas do mundo! O símbolo do Rio de Janeiro, que acolhe a chegada de turistas do mundo todo à chamada cidade maravilhosa, assumiu seu lugar na nova lista de Maravilhas do Mundo ao lado de seis outras obras: a Grande Muralha da China; a cidade helenística de Petra, na Jordânia; a cidade inca de Machu Picchu, no Peru; a pirâmide de Chichen Itzá, no México; o Coliseu, antiga arena de combates em Roma; e o túmulo do Taj Mahal, na Índia. Mas, você sabia que existem também as sete "maravilhas" do mundo "evangélico", isto é, as que mais fascinam boa parte das pessoas que dizem servir a Deus, na atualidade? Quais são elas? Prosperidade. Esta, sem dúvida nenhuma, está em primeiro lugar, apesar de o Senhor Jesus ter dito: "Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça..." (Lc 12.13-31). Dizem

os super-pregadores e cantores-ídolos: "Muitos criticam quem fala de prosperidade. Mas eu não falo sobre prosperidade; eu vivo prosperidade. Eu não ando mais de fusquinha; tenho tudo do bom e do melhor. Se você quiser ser como eu, passe a ofertar sempre com a maior nota que tiver em sua carteira". Fazer o quê? O povo é manipulável, e muitos líderes não têm coragem de combater esses que mercadejam a Palavra. Mas não se engane. Deus haverá de julgá-los, a menos que se arrependam. Ecumenismo. O alvo hoje em dia não é pregar a verdade como ela é, e sim unir forças pelo bem comum. A doutrina divide. Temos de nos unir. Por isso, a cada dia surgem igrejas para todos os gostos... Já existem até igrejas "evangélicas" lideradas por "pastores" que abdicaram do seu chamamento másculo! Sabe qual é o lema deles? "O Senhor é o meu Pastor e me aceita como eu sou". Que "maravilha", não é mesmo?! Teologicocentrismo. O negócio é não abrir mão das convicções teológicas, ainda que elas não tenham apoio da Palavra de Deus! Se Calvino falou, está falado! Ainda que as ideias de algum teólogo sejam contrárias à Palavra de Deus, não importa! Você não acha isso "maravilhoso"? A Bíblia fica em segundo plano. O que vale é o que os nossos teólogos preferidos dizem! Farisaísmo. Esta "maravilha" também deve estar bem cotada por aqueles que se dizem conservadores, mas são, na verdade, extremistas. Sabemos que ser conservador à luz da Palavra de Deus é correto (Ap 3.11; 2 Tm 1.13; 1 Tm 6.20), porém os pseudo-conservadores apreciam bastante a prática de "coar mosquitos" e "engolir camelos" (Mt 23.24). Antropocentrismo. Canções e falações — tidas como hinos e pregações — da moda colocam o ser humano no centro de todas as coisas. "Determine a sua vitória", "Você nasceu para ser um vencedor", "Profetize para você mesmo e diga isso e aquilo". Estas são algumas das frases preferidas do mundo "evangélico". Não tenho dúvidas de que o humanismo ou antropocentrismo é uma das "maravilhas" daqueles "servos de Deus" que vão aos cultos só para receber, receber, receber... O negócio hoje é buscar a "restituição", invadir o terreno do Inimigo e pegar de volta tudo o que ele roubou, além de quebrar maldições... Extravagância. Não há dúvidas de que os shows, com muita dança, diversão, gritos frenéticos, etc, façam parte desta lista de "maravilhas evangélicas". E junto com eles as "baladas" gospel, as festas jesuínas, etc. Mas, como nos dias dos profetas Isaías e Amós, Deus não recebe esse "som dos adoradores extravagantes" (Is 29.13; Am 5.23). John F. MacArthur Jr. disse, acertadamente: "As Escrituras dizem que os primeiros cristãos viraram o mundo de cabeça para baixo (At 17.6). Em nossa geração, o mundo está virando a igreja de cabeça para baixo" (Com Vergonha do Evangelho, Editora Fiel, p.52). Experiencialismo. Numa época em que super-pregadores visitam o "Céu" e falam diretamente com "Deus Pai", "Jesus", "Paulo", "Maria", anjos, etc, ninguém precisa mais ler um livro tão "desatualizado" como a Bíblia, não é? Hoje muitos seguem aos seus impulsos e recebem mensagens "proféticas" de galinhas ou ordem do "Espírito" para andar como um leãozinho, marcam a vinda de Jesus para um sábado de 2007, distribuem dentes de ouro, ministram a unção do riso e o "cair no Espírito"... Que "maravilha"! Alguém poderá perguntar: "Em que lugar ficou o evangelho cristocêntrico? E a santificação? E a renúncia? E o culto a Deus em verdadeira adoração, em espírito e em verdade? E os genuínos dons espirituais? E a Escola Bíblica Dominical? E os bons costumes? E a evangelização? E a oração? E o jejum? Será que, pelo menos, entraram

na lista?" Bem, como se vê, as "maravilhas" citadas têm um poder de sedução muito maior sobre o mundo "evangélico", e as verdadeiras maravilhas tendem a ser esquecidas... Mas eu pergunto: Diante dessa flagrante falta de interesse pela Palavra de Deus e da valorização do que não agrada ao Senhor, devemos ficar calados? Devem os servos de Deus, capazes de discernir entre o bem e o mal, ficar quietos? Não podemos julgar? Temos de ficar olhando a banda passar? COMO PAULO LIDAVA COM HERESIAS E MODISMOS Vivemos numa época em que prevalecem filosofias antibíblicas, como o pragmatismo, o relativismo, o antropocentrismo e o utilitarismo mercantilista. A quantidade de pessoas que seguem a um pregador ou a uma igreja é mais importante que o conteúdo de sua mensagem. As igrejas-modelo são as que possuem megatemplos ou grandes catedrais, e não as compromissadas com o evangelho de Cristo. Nesse contexto, se um expoente pregar um falso evangelho, isso não importa, desde que ele reúna multidões. Qualquer pregador ou escritor, nesses tempos pós-modernos, que combata ao erro não é visto com bons olhos. No entanto, o apóstolo Paulo, asseverou, inspirado por Deus, que convém imitá-lo, assim como imitava a Cristo (1 Co 11.1). Como o doutor dos gentios lidava com os enganadores, suas doutrinas erradas e suas práticas descabidas? O que ele pregava e ensinava? Santa ironia. Para quem não gosta das minhas ironias, lembre-se de que não sou eu quem comecei com isso. Paulo foi irônico várias vezes ao refutar os enganadores. Veja como ele se referiu aos falsos apóstolos de seu tempo: "Porque penso que em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos" (2 Co 11.5). E não pense que esses "falsos apóstolos" (v.13) ficaram felizes... Certamente, assim como os hereges de nosso tempo e seus defensores, eles devem ter esbravejado contra o apóstolo. Mas ele se valia da ironia para levar os enganadores e enganados a uma reflexão, ainda que, num primeiro momento, se irritassem contra ele. Paulo não usava esse recurso apenas em relação aos falsos obreiros; ele também fazia isso ao se dirigir aos irmãos enganados: "Já estais fartos! Já estais ricos! Sem nós reinais! E prouvera Deus reinásseis para que também nós reinemos convosco!" (1 Co 4.8). Alguns crentes, naqueles dias, devem ter ficado muito irritados... Firmeza. Paulo era enérgico, quando necessário, e até usava expressões que muitos hoje considerariam ofensivas. "Ó insensatos gálatas! quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi já representado como crucificado?" (Gl 3.1). Já pensou se Paulo vivesse em nossos dias?! Muitos já me acusaram de desprezar o grupo tal, a cantora tal, o pregador tal... É bom que leiam a Bíblia. Não sou obrigado a dizer "amém" para os famosos. E Paulo faria o mesmo! Ele também não disse "amém" nem se impressionou com os famosos de seu tempo: "E, quanto àqueles que pareciam ser alguma coisa (quais tenham sido noutro tempo, não se me dá; Deus não aceita a aparência do homem), esses, digo, que pareciam ser alguma coisa, nada me comunicaram" (Gl 2.6). Combate ao pecado. Engana-se quem pensa que Paulo ficaria hoje em cima do muro e nada diria aos super-pregadores e cantores-ídolos. Muitos líderes hoje ficam quietos

ante as más inovações advindas do mundo. Dizem, nos bastidores, que não aceitam isso e aquilo entrando nas igrejas, mas não têm coragem de combater o pecado e as inversões de valores. Há os que, inclusive, afirmam: "Isso é um sinal da vinda de Jesus. Temos de aceitar a tudo isso em silêncio". Paulo não pensava como muitos mestres da pós-modernidade, que agem como se, em suas Bíblias, não houvesse listas de pecados, como as registradas em 1 Coríntios 6.10, Gálatas 5.19-21 e 2 Timóteo 3.1-5. Pregar contra a avareza, o homossexualismo, a soberba e todas as outras obras da carne é, para tais mestres da omissão, abraçar o que chamam de legalismo. DEVEMOS CITAR OS NOMES? Alguns leitores me escrevem, sugerindo que eu cite os nomes dos super-pregadores, cantores-ídolos, igrejas, etc. Mas não faço isso porque não é minha intenção expor pessoas, e sim combater ao erro. E, nesse caso, também estou imitando a Paulo. Ele fazia duras acusações sem citar nomes: "Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo" (Fp 3.18). Leia também Romanos 1.22-32 e 1 Coríntios 6.10. Como devem ter reagido as pessoas do tempo do apóstolo envolvidas nos pecados mencionados por ele? Teriam elas esbravejado? Ou preferiram reconhecer o erro, arrependendo-se diante do Senhor? Ele não citava nomes, mas era possível saber, pelas dicas, de quem estava falando: "Porque há muitos desordenados, faladores, vãos e enganadores, principalmente os da circuncisão, aos quais convém tapar a boca; homens que transtornam casas inteiras, ensinando o que não convém, por torpe ganância. Um deles, seu próprio profeta, disse: Os cretenses são sempre mentirosos, bestas ruins, ventres preguiçosos" (Tt 1,10-12). O doutor dos gentios não se omitia quando via os crentes fazendo coisas erradas. Hoje, muitos dizem: "Não devemos julgar. Deixemos com Deus". Mas veja como Paulo reagia: "Mas, quando vi que não andavam bem e direitamente conforme a verdade do evangelho, disse a Pedro na presença de todos: Se tu, sendo judeu, vive como os gentios e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?" (Gl 2.14). Como se vê, quando necessário, Paulo citava nomes. Vemos isso também em 2 Timóteo 4.10,14: "Porque Demas me desamparou, amando o presente século... Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe pague segundo as suas obras". Por que os fãs de super-pregadores e cantores-ídolos não criticam o apóstolo Paulo pelo fato de ele expor pessoas? Mas observe que ele evitava fazer isso; só recorria a esse expediente em circunstâncias especiais. JULGAR OU NÃO JULGAR? Não há, pois, dúvidas de que devemos julgar, provar, examinar, investigar, questionar, analisar, discernir, principalmente nesses últimos dias, em que igrejas ditas evangélicas apresentam vários desvios do evangelho de Cristo. Esse julgamento nada mais é que um exame perspicaz de todas as coisas sobre o valor delas, realizado pelo crente espiritual, temente a Deus e hábil nas Escrituras. Segundo a Palavra de Deus, não devemos desprezar pregações, ensinamentos, profecias, hinos de louvor a Deus, bem como sinais e prodígios (At 17.11a; 2.13; l Ts 5.19,20).

Porém, cabe a nós provar, examinar se tudo provém do Senhor (At 17.11b; 1 Ts 5.21; Hb 13.9). Em 1 Coríntios 14.29 está escrito: "E falem dois ou três profetas, e os outros julguem". E, em 1 João 4.1, lemos: "Amados, não creiais em todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo". Tudo deve ser julgado segundo a reta justiça (Jo 7.24), e não pela aparência, por preconceito ou mágoa de alguém. Jesus condenou o julgamento no sentido de caluniar, assumindo-se o papel de um injusto juiz: "Não julgueis, para que não sejais julgados" (Mt 7.1). Entretanto, no mesmo capítulo, Ele asseverou que temos de nos acautelar dos falsos profetas e apresentou critérios pelos quais podemos julgá-los pelos seus frutos, isto é, discernir as suas ações, prová-las, examiná-las (Mt 7.15-23). O nosso julgamento se dá pela Palavra de Deus (At 17.11; Hb 5.12-14), haja vista estar ela acima de mim, de você, de qualquer instituição, de cantores-ídolos, de super-pregadores, de anjos do céu (Gl 1.8), etc. Como já vimos nesta obra, ninguém está autorizado a ir além do que está escrito na Bíblia (1 Co 4.6). A Palavra do Senhor foi elevada em magnificência pelo próprio Deus, a fim de que ela seja a nossa fonte máxima de autoridade (Sl 138.2). PRECISAMOS DE DISCERNIMENTO O que o apóstolo, inspirado pelo Espírito, quis dizer em 1 Pedro 4.17: "... já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus"? Ora, se alguém ainda pensa que não cabe a nós julgar — e que o fato de reconhecermos os nossos erros e combatê-los segundo a Bíblia é "matar soldados"—, é bom que reveja os seus conceitos. Afinal, "... o que é espiritual discerne bem tudo..." (1 Co 2.15). John F. MacArthur Jr. acertou, ao discorrer sobre o episódio do julgamento de Ananias e Safira à luz 1 Pedro 4.17: "Com certeza, na Jerusalém do primeiro século havia outros pecadores mais vis do que Ananias e Safira. Herodes, por exemplo. Por que Deus não o fulminou? Na verdade, foi o que Deus fez posteriormente (At 12.18-23). Mas, como escreveu Pedro, 'a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada' (1 Pe 4.17). Deus julga seu próprio povo antes de voltar sua ira aos pagãos" (Cora Vergonha do Evangelho, Editora Fiel, p.66). Alguém dirá: "É Deus quem julga, e não nós". No caso de Ananias e Safira o julgamento divino veio por meio do apóstolo Pedro. Isso denota que cabe a nós, sim, julgar, mas de acordo com a sintonia que há entre o Corpo e a Cabeça (Ef 4.14,15; 1 Co 2.16; 1 Jo 2.20,27; Nm 9.15-22). As verdadeiras igrejas de Cristo são as que o acompanham, o seguem, e não aquelas que seguem a seu próprio caminho. Em Apocalipse 2 e 3 vemos exemplos de igrejas que agradavam a Jesus (a minoria) e de outras, que não faziam a vontade dEle. O julgamento deve ocorrer também segundo o dom de discernir os espíritos dado às igrejas de Cristo (1 Co 12.10,11; At 13.6-11; 16.1-18). Mas a falta deste dom em algumas igrejas locais faz com que os crentes se conformem com o erro e digam: "Quem sou eu para julgar?", etc. Precisamos julgar tudo com discernimento vindo do alto e bom senso (1 Co 14.33; At 9.10,11). O crente não deve se colocar no lugar de um promotor ou de um juiz. De fato, o Senhor é o Justo Juiz. Entretanto, temos a Palavra de Deus, a ajuda do Espírito e ainda sabedoria, prudência, bom senso, a fim de avaliarmos doutrinas, profecias, manifestações, experiências, cânticos, estilos musicais, gestos, atitudes, etc.

JULGAMENTO SEGUNDO A BÍBLIA, MESMO! Não devemos julgar de maneira agressiva, ainda que sejamos contundentes, objetivos e francos ao apresentar os nossos argumentos. Mas pessoas que reagem de maneira enérgica às críticas baseadas na Palavra de Deus devem refletir se não estão fazendo isso por terem um comportamento de fã. Afinal, fazer pouco caso da Bíblia para defender os seus grupos, cantores ou pregadores preferidos não é uma postura de quem tem a Bíblia como a sua fonte principal de autoridade. Vale a pena abrir mão das Escrituras? Quem prova se os espíritos são de Deus deve saber lidar com a Bíblia (2 Tm 3.16,17; 1 Pe 3.15). Mas fazer isso não implica apenas citar versículos isolados em apoio aos seus pensamentos. Tenho recebido correspondências de pessoas que procuram contestar o que digo, as quais se valem de referências bíblicas isoladas, pensando que os seus argumentos estão fundamentados na Palavra. Que engano! Não basta fazer citações bíblicas. É preciso saber citar versículos que estejam em harmonia com o contexto. Faz-se necessário saber manejar bem a Palavra de Deus (2 Tm 2.15). E manejar, nesta passagem, significa dividir, separar, sem misturar os assuntos. Por exemplo, é comum os defensores de heresias e modismos citarem Mateus 7.1, em razão da ênfase expressa de Jesus: "Não julgueis, para que não sejais julgados". Porém, o sentido de julgar, aqui, como já vimos, é caluniar, como que assumindo o papel de um injusto juiz, e não examinar, provar e refutar. COMO JULGAR AS PROFECIAS? No caso específico das profecias, além dos fatores mencionados acima, devemos julgar de acordo com cumprimento da predição. Em Ezequiel 33.33, está escrito: "Mas, quando vier isto (eis que está para vir), então, saberão que houve no meio deles um profeta". Por mais emoção que sintamos no momento em que recebemos uma mensagem profética, só teremos a certeza de que ela de fato proveio do Senhor no momento em que se cumprir (Dt 18.21,22; Jr 28.9). Há alguns anos, certa "apóstola" profetizou que Jesus voltaria num sábado de 2007. Neste ano, correu a notícia de que a Segunda Vinda se daria em um dos sábados de julho do mesmo ano. É claro que essa profecia não teve origem em Deus, pois Ele não contrariaria a sua Palavra, segundo a qual "daquele dia e hora ninguém sabe" (Mt 24.36; At 1.7; 1 Ts 5.1). Mesmo assim, alguns crentes — que creem mais em "profetas" do que na Palavra — esperaram o seu cumprimento até o último sábado... Existe uma exceção quanto ao cumprimento. Algumas profecias, mesmo se cumprindo, não provêm de Deus. Há milagreiros que prometem sinais e os realizam, mesmo não tendo compromisso algum com a Palavra de Deus. Profetizam e fazem obras fenomenais, capazes de deixar o público em êxtase, mas não amam ao Senhor nem fazem a sua vontade, posto que não guardam a sua Palavra (Jo 14.23; Mt 7.21-23). Acerca desses falsificadores diz o Senhor, em Deuteronômio 13.1-3: "Quando o profeta ou sonhador de sonhos se levantar no meio de ti e te der um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio, de que te houver falado, dizendo: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los, não ouvirás as palavras daquele profeta ou sonhador de sonhos, porquanto o SENHOR, VOSSO Deus, vos prova, para saber se amais o SENHOR, vosso Deus, com todo o vosso coração e com toda a vossa alma". DEVEMOS JULGAR OS MILAGRES?

O saudoso pastor e pregador do evangelho Valdir Nunes Bícego, em sua última obra literária — Lições Bíblicas da CPAD (1o. trimestre de 1998) —, afirmou: "Toda e qualquer manifestação, seja através de palavras, faladas ou escritas, ou atos, precisa ser examinada. A única coisa que dispensa qualquer comentário é a Palavra de Deus, pois é perfeita (Sl 19.7), provada (Sl 18.30), refinada (2 Sm 22.31) e muito pura (Sl 119.140; Pv 30.5)". Deus cura e faz prodígios hoje? É claro que sim, pois Ele não mudou (Hb 13.8). Aliás, somente Ele faz milagres, de fato (Êx 3.20; 7.3,4; Jl 2.30; Hb 2.4). E estes, posto que verdadeiros, ocorrem para autenticar, confirmar e comprovar a pregação do evangelho (Mc 16.15-20; Dt 29.3; Hc 2.4), bem como manifestar a glória do Senhor e levar o povo a crer mais e mais em Jesus (Jo 2.11), dando cumprimento à Palavra profética (Mt 8.17). Eles também acontecem para desfazer as obras do Diabo (1 Jo 3.8; Lc 13.16) e para honrar os verdadeiros servos de Deus (Nm 16.28-32). Quais são os propósitos dos sinais e manifestações estranhas de nossos dias? Resultam em maior glória a Deus e vidas mais santas? Atraem os perdidos a Cristo? Não! Os fenômenos, apresentados hoje como novidades, têm deixado os crentes cada vez mais confusos, além de afastá-los do estudo das Escrituras. Ademais, esses "milagres" são feitos para os homens se tornarem celebridades. Nesses últimos dias, os milagreiros continuarão se promovendo com os seus fenômenos. Quanto aos milagres divinos, feitos para a glória do Senhor, não paira nenhuma dúvida sobre eles. Até mesmo pessoas que não creem em Jesus reconhecem a sua veracidade (Êx 8.16-19; Jo 9.1-25; At 3.1-16; 9.36-43; 13.6-12; 14.8-13). Aprendamos, pois, com o Senhor Jesus, que jamais fez propaganda dos autênticos milagres que realizava. EXISTEM FALSOS MILAGRES? Os fenômenos realizados pelos milagreiros causam muitas divergências no meio do povo de Deus. Não são obras divinas como curas, ressurreições e batismos com o Espírito Santo. São manifestações exóticas, como cair ao chão e rir sem parar "pelo Espírito", supostos emagrecimentos, crescimentos de cabelo em cabeças calvas, surgimento de dentes de ouro e de ouro nos dentes, além do aparecimento de dinheiro em contas bancárias... Nas Lições Bíblicas da CPAD (1º. trimestre de 1998), o saudoso pastor Valdir Nunes Bícego também asseverou: "É perigoso afirmar que Deus pode operar outros milagres sem que estejam inseridos no contexto bíblico, porque isso abre portas estranhas à Palavra, como estamos vendo nestes últimos dias. Quando perguntavam a Jesus alguma coisa, Ele respondia: 'Que está escrito... Como lês?' (Lc 10.26). Todos os milagres devem ser aferidos pela Bíblia". Se os propagadores desses fenômenos fossem pessoas santas, as dúvidas seriam ainda maiores, pois pensaríamos: "Como pode um homem santo, que anda segundo a vontade de Deus operar tais sinais?" Mas os milagreiros da atualidade são avarentos, antiéticos, interesseiros e propagadores de heresias. Além disso, verberam desrespeitosamente contra pastores, em suas espalhafatosas performances, etc. Uma das perguntas mais frequentes quanto aos falsos milagres é esta: "Como fulano pode realizar sinais e prodígios com o péssimo testemunho que possui e as heresias que

propaga?" Isso é possível em razão de as manifestações não emanarem de uma mesma fonte. Os milagres podem ter três origens: divina (Êx 7.3,4; Jó 9.10; Sl 96.3; At 10.38); humana, no caso de artes mágicas; e diabólico, mediante sinais e prodígios de mentira (2 Ts 2.9-11; 1 Jo 2.18). Há, por conseguinte, dois tipos de falsos milagres: os que não acontecem de fato, posto que o milagreiro se vale de engano ou ilusionismo; e os que ocorrem por ação maligna. Ilusionismo e engano. Enganadores é que não faltam, nesses últimos tempos. Há alguns anos, foi desmascarado certo milagreiro que simulava retirar objetos das pessoas. Descobriu-se que tudo não passava de um truque barato. Ele escondia os mais variados objetos em uma maleta, a fim de usá-los convenientemente. Ao esfregar óleo sobre o corpo dos enfermos, expunha os tais artefatos ao público como se os tivesse extraído do corpo dos "agraciados". Alguns pregadores milagreiros contam com equipes para enganar o povo de Deus. Enquanto eles falam que os paralíticos vão andar, integrantes dos seus grupos levantam uma pessoa da cadeira de rodas, segurando-a pelos braços. Em seguida, enquanto ela é mantida em pé, os milagreiros descem no meio do povo e levantam a cadeira de rodas sobre os ombros, ao som de glórias a Deus e aleluias... Em muitas cruzadas de "milagres", os paralíticos falam, os surdos andam; os cegos ouvem; os mudos enxergam... Ah, e os super-pregadores ficam mais famosos! Se fossem verdadeiros todos os testemunhos quanto a curas de enfermos e extrações de cânceres dos corpos das pessoas, com certeza a imprensa os publicaria. Infelizmente, esses milagreiros têm causado prejuízo ao evangelho, pois, quando se põe à prova os seus "milagres", verifica-se que houve fraude. Ação diabólica. Além das fraudes, alguns fenômenos vêm ocorrendo em nosso meio, nesses tempos trabalhosos. Por mais forte e contundente que seja para alguns a afirmação de que há liberdade para a ação do mal entre nós, isso vem acontecendo, como uma amostra do que ocorrerá por ocasião da Grande Tribulação (2 Ts 2.9; Mt 24.24; Ap 13.11-18). Não há dúvidas de que o Diabo pode realizar sinais de mentira para enganar aqueles que carecem de discernimento espiritual (Mt 7.22; 2 Co 11.13-15; Êx 7.11,12; 8.18,19). Muitos fenômenos propagados por super-pregadores têm ocorrido também entre muçulmanos, hindus, espíritas de várias ramificações e católicos romanos. De acordo com Deuteronômio 13.1-4 — texto mencionado acima —, Deus tolera a ocorrência de falsos sinais no meio do seu povo, a fim de provar o nosso amor para com Ele. Fenômenos tidos como milagres divinos não são a evidência de que o Senhor está aprovando a obra de alguém. Pregadores que se valem erroneamente da pregação de milagres para buscar fama e glória deviam atentar para o testemunho do Senhor Jesus quanto a João Batista (Mt 11.11). Apesar de este não ter feito sinal algum, tudo quanto disse daquEle era verdade (Jo 10.41). PASSAGENS QUE NÃO APÓIAM SINAIS EXÓTICOS Existe uma grande preocupação dos milagreiros em justificar as suas práticas com passagens bíblicas, pois, apesar de não andarem segundo a Palavra, sabem que ela depõe contra eles. E, a fim de ficarem bem em relação à consciência, recorrem a textos isolados, que em nada apoiam as suas invencionices. Apropriam-se, forçosamente, de passagens para pregar falaciosos e inverossímeis fenômenos tidos como divinos.

Isaías 43.19. Com base nesta referência, os milagreiros chamam os seus sinais de "coisa nova". Mas a profecia contida no versículo é específica e revela qual é a coisa nova: "Eis que farei uma coisa nova, e, agora, sairá à luz; porventura, não a sabereis? Eis que porei um caminho no deserto e rios, no ermo". João 14.12. Esta é a passagem preferida dos pregadores milagreiros, devido à ênfase a obras maiores do que as realizadas pelo Senhor Jesus: "Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu pai". Analisarei esta referência num tópico à parte, neste capítulo. Atos 13.40,41. Esta passagem eles empregam com o objetivo de dizer que os seus sinais exóticos são uma "obra tal que não crereis se alguém vo-la contar". No entanto, trata-se de uma profecia relacionada com o reino de Judá, devastado pela Babilônia, em 586 a.C. Isso fica claro, quando lemos Habacuque 1.5. 1 Coríntios 1.25. Já expliquei o sentido desta. A expressão "loucura de Deus" não se refere à loucura de Deus ou à que provenha dEle. Ela é empregada, em conexão com outra expressão — "fraqueza de Deus" — para enfatizar o quanto o Senhor é superior a cada um de nós, pois as suas "loucura" e "fraqueza" são mais sábias e fortes que a sabedoria e a força dos homens. É óbvio, ainda, que o termo "loucura" refere-se ao que os homens consideram loucura (1 Co 1.18), e não a uma qualidade pessoal de Deus. 1 Coríntios 2.9. Citam esta referência com o intuito de dizer que o que fazem ninguém nunca ouviu, viu ou sentiu, ignorando que "as coisas" mencionadas não são milagres, e sim as glórias indizíveis do evangelho, desfrutadas em parte na terra (Rm 8.18; 1 Pe 5.1). 2 Coríntios 3.6. Dizem os milagreiros em relação aos que os criticam à luz da Bíblia: "A letra mata". Porém, a letra que mata não é a Palavra de Deus, viva e eficaz (Hb 4.12), e sim a lei mosaica (2 Co 3.7), haja vista sermos vivificados pela graça de Deus. Como se vê, apesar de "poderosos", esses pregadores (pregadores?) desconhecem verdades elementares do Santo Livro. Eles erram por não conhecerem as Escrituras nem o verdadeiro poder de Deus (Mt 22.29). UMA PALAVRA SOBRE JOÃO 14.12 Não há dúvidas de que os milagres e sinais são parte do evangelho de Cristo (Mc 16.15-20). No entanto, a ênfase a obras maiores não é uma espécie de brecha na lei que possibilita a realização de qualquer manifestação exótica em nome do Senhor. As obras maiores, na verdade, dizem respeito à quantidade, e não à qualidade delas. Jesus fez grandes obras, e seus seguidores, posto que ficarão muito mais tempo na Terra, trarão milhões de obras para o Pai. A Igreja faria, segundo a promessa do Senhor, depois de sua partida, maiores obras, não em seu valor intrínseco, ou em sua glória, mas no objetivo. É até uma falta de temor a Deus e muita presunção querer fazer hoje sinais que nem o Senhor realizou quando andou na Terra. Em resumo, em João 14.12, o Senhor não dá aval às práticas de milagreiros. Mas enfatiza que os seus discípulos fariam as obras de Deus numa escala mais ampla, enquanto levam a mensagem do evangelho ao mundo todo, tanto a gentios como a judeus. Essa promessa refere-se, sobretudo, a milhões de almas salvas (Jo 10.16; 11.52;

12.32). É isso que é fazer obras maiores do que as de Jesus, e não fenômenos que confundem o povo de Deus. "FÉ DEMAIS NÃO CHEIRA BEM" Quando eu era adolescente, assisti ao filme "Fé Demais não Cheira Bem", estrelado pelo famoso comediante norte-americano Steve Martin, que interpreta o super-pregador Jonas Nightingale. Juntamente com uma assessora, Jane (Debra Winger), e sua "equipe de milagres", ele viaja por diversas cidades dos Estados Unidos, fazendo paradas e montando uma tenda onde realiza cerimônias religiosas em forma de shows. Ao chegarem a cada localidade, os auxiliares de Jonas inspecionam os moradores, em especial os que passam por problemas graves. E, na hora do show, por um ponto eletrônico, falam ao pregador onde a pessoa está assentada e qual é sua doença. Ele então se dirige a ela e, por meio de "revelação", discorre sobre os seus problemas. A vítima, impressionada, se regozija, empolgando os participantes do "culto". Inúmeros fiéis são enganados, e os falsários arrecadam muito dinheiro. Mesmo assim, escapam ilesos de todas as circunstâncias embaraçosas. Lembro-me de que fiquei irritado com essa produção cinematográfica, em razão de o seu protagonista ser um pregador charlatão e ilusionista, que tinha como objetivo enriquecer enganando fiéis... Bem, eu já revi os meus conceitos. Lamentavelmente, apesar dos exageros contidos no filme, há, em nossos dias, muitos obreiros fraudulentos, enganando pessoas com falsos discursos. O Senhor Jesus foi claro ao dizer que os enganadores são conhecidos pelos seus frutos (Mt 7.15-20). "PELOS SEUS FRUTOS OS CONHECEREIS" Se você deseja saber se alguém que se diz homem de Deus de fato o é, analise o seu proceder e o seu falar mediante as seguintes perguntas: Ele honra a Cristo em tudo, não recebendo glória dos homens? Não é muito difícil para quem tem discernimento pela Palavra do Senhor descobrir se um pregador ou cantor serve a Deus de verdade. Basta verificar se o tal honra ao Senhor ou prefere receber glória dos homens. Pregadores há que se comportam como um show-man. Todos os holofotes se voltam para ele, que, qual um neófito, ensoberbece-se e cai na mesma condenação do Diabo (1 Tm 3.6). Ele repudia a avareza, ou ama sordidamente o dinheiro? Homens de Deus não são amantes do dinheiro, pois sabem que a avareza é idolatria (Ef 5.5; 1 Tm 6.10). Se um pregador ou cantor só fala em dinheiro e mercadeja a Palavra do Senhor (2 Co 2.17), por que temos de respeitá-lo como homem de Deus? Ele ama os pecadores e deseja vê-los salvos? Preste atenção nas mensagens dos super-pregadores. Falam eles de Cristo? Quando fazem o convite para os pecadores irem à frente, dizem claramente o que é receber o Senhor Jesus? Ou iludem as pessoas, prometendo-lhes isso e aquilo? Tenho presenciado, com tristeza, "apelos" mediante os quais o pregador promete "mundos e fundos" e nada fala sobre a obra redentora. Resultado: inúmeras pessoas vão à frente, e a maioria delas volta para casa sem Jesus no coração... Ele prega contra o pecado, defende o evangelho de Cristo e conduz a igreja à santificação? Muitos se escondem atrás de sua oratória, de suas performances humorísticas e de seus fenômenos. Não pregam contra o pecado. Acham que, fazendo isso, fecharão portas, e as igrejas não mais os convidarão. Servem a si mesmos, e não ao Senhor! Também não se sentem indignados quando ouvem heresias; menosprezam o evangelho. Quanto à santificação, isso nada representa para eles.

Ele detesta o mal e ama a justiça? Os verdadeiros servos do Senhor, que cumprem a sua vontade, posicionam-se claramente contra o pecado e as heresias. Eles não buscam meios de tornar as verdades da Palavra de Deus relativas. Para eles, o que é mal é mal, e o que é bem, bem. Sim é sim, e não é não. Seu posicionamento contra o mal é claro. Ele tem uma vida de oração e devoção a Deus? Quem de fato pertence a Deus e anda de acordo com a sua Palavra sente prazer em buscar ao Senhor e manter com Ele uma íntima comunhão. Os super-pregadores valem-se de seus chavões e sua presença de palco. A Deus eles não enganam. Ele sabe onde pisam os seus pés. Amenos que se prostrem diante do Senhor e se humilhem, pedindo-lhe perdão por suas falcatruas, tais obreiros não escaparão do juízo, naquele grande Dia. Ele demonstra amar e seguir a Palavra do Senhor? Os servos de Deus têm prazer na Lei do Senhor (Sl 1.1-3) e a respeitam, considerando inegociáveis as suas verdades. Quando não entendem alguma coisa, silenciam. Jamais se precipitam, dizendo que encontraram alguma incongruência do texto sagrado. Bibliografia Ciro Sanches Zibordi

Falsos mestres, gálatas inconstantes e a origem do evangelho de Paulo Gl 1.6-10, 11-24

Em todas as outras epístolas, depois de saudar os seus leitores, Paulo continua orando por eles ou louvando e agradecendo a Deus. A Epístola aos Gálatas é a única em que não há oração, nem louvor, nem ação de graças, nem elogios. Em vez disso, o apóstolo vai direto ao assunto, com uma nota de extrema urgência. Paulo expressa admiração diante da inconstância e instabilidade dos gálatas, e prossegue queixando-se dos falsos mestres que estavam perturbando as igreja da Galácia. Daí, então, ele enuncia um anátema solene e terrível contra aqueles que se atrevem a alterar o evangelho. 1. A Infidelidade dos Gálatas (v. 6) Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo. Note-se que o verbo está na voz ativa e não na passiva, e que o tempo é o presente, não o passado. Não é "que tenhais sido afastados tão depressa", mas ''que estejais passando tão depressa", ou, como diz a Bíblia na Linguagem de Hoje: "Estou muito admirado de vocês estarem abandonando tão depressa". A palavra grega (metatithêmi) é interessante. Significa "transferir a fidelidade". É usada com referência a soldados do exército que se rebelam ou desertam, e a pessoas que mudam de partido na política ou na filosofia. Um certo Dionísio de Heracléia, por exemplo, que abandonara os estóicos, tornando-se membro de uma escola filosófica rivai, isto é, um epicurista, era chamado de ho metathememos, um vira-casaca".

É disso que Paulo acusa os gálatas. Eles eram vira-casacas religiosos, desertores espirituais. E estavam abandonando aquele que os chamara para a graça de Cristo e abraçando um outro evangelho. O verdadeiro evangelho é, na sua essência, o que Paulo diz em Atos 20:24: "o evangelho da graça de Deus". São as boas novas de um Deus cheio de graça para com pecadores indignos. Na graça ele deu o seu Filho para morrer por nós. Na graça ele nos justifica quando cremos. "Tudo provém de Deus", como Paulo escreve em 2 Coríntios 5:18, significando que "tudo é de graça". Nada é devido aos nossos esforços, aos nossos méritos ou às nossas obras; tudo na salvação é devido à graça de Deus.

Mas os gálatas convertidos, que haviam recebido este evangelho da graça, estavam agora se voltando para um outro evangelho, um evangelho de obras. Os falsos mestres eram evidentemente "judaizantes", cujo "evangelho" encontra-se resumido em Atos 15:1: "Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos." Eles não negavam que era preciso crer em Jesus para se obter a salvação, mas enfatizavam que também era necessário circuncidar-se e guardar a lei. Em outras palavras, era preciso deixar que Moisés completasse o que Cristo havia iniciado. Ou, melhor, nós mesmos teríamos que completar, através de nossa obediência à lei, o que Cristo havia começado. Era preciso acrescentar nossas obras à obra de Cristo. Era preciso concluir a obra inacabada de Cristo. Essa doutrina Paulo simplesmente não podia tolerar. O quê?! Acrescentar méritos humanos ao mérito de Cristo e obras humanas à obra de Cristo? Deus nos livre! A obra de Cristo é uma obra acabada; e o evangelho de Cristo é o evangelho da graça livre. A salvação é só pela graça, só pela fé, sem mistura alguma de obras ou méritos humanos. Ela é totalmente devida à vocação graciosa de Deus, e não a qualquer boa obra de nossa parte. Paulo vai ainda mais além. Ele diz que a deserção dos gálatas convertidos estava relacionada com a experiência e também com a teologia. Ele não os acusa de desertarem do evangelho da graça com vistas a um outro evangelho, mas de desertarem daquele que os chamara na graça. Em outras palavras, teologia e experiência, fé cristã e vida cristã, andam juntas e não podem ser separadas. Afastar-se do evangelho da graça é afastar-se do Deus da graça. Os gálatas que se cuidassem, pois estavam se afastando muito depressa e precipitadamente. É impossível abandonar o evangelho sem abandonar a Deus. Como Paulo diz mais adiante, em Gálatas 5:4: "da graça decaístes". 2. A Atividade dos Falsos Mestres (v. 7) O motivo por que os gálatas convertidos estavam se afastando de Deus, que os chamara na graça, era claro: há alguns que vos perturbam (versículo 7b). O verbo grego para "perturbar" (tarassõ) significa "sacudir" ou "agitar". As congregações gálatas haviam sido lançadas pelos falsos mestres em um estado de confusão: confusão intelectual de um lado e facções de lutas do outro. É muito interessante que o Concilio de Jerusalém, provavelmente organizado logo após Paulo ter escrito esta epístola, tenha usado o mesmo verbo em sua carta às igrejas: "Visto sabermos que alguns de entre nós, sem nenhuma autorização, vos têm perturbado com palavras, transtornando as vossas almas..." (Atos 15:24). Esta perturbação era causada por falsa doutrina. Os judaizantes estavam tentando "perverter" (ERAB), ou "distorcer" o evangelho. Estavam propagando o que J. B. Phillips chama de "uma falsificação do evangelho de Cristo". Na verdade, a palavra grega (metastrepsai) é ainda mais enfática e poderia ser traduzida por "inverter". Neste caso, eles não estavam apenas corrompendo o evangelho, mas realmente "invertendo-o", virando-o de costas e de cabeça para baixo. Não podemos modificar ou fazer acréscimos ao evangelho sem que alteremos radicalmente o seu caráter. Assim, as duas características principais dos falsos mestres eram que eles estavam perturbando a igreja e alterando o evangelho. Estas duas coisas andam juntas. Falsificar o evangelho resulta sempre em perturbação para a igreja. Não se pode mexer no evangelho e deixar a igreja intacta, pois esta é criada pelo evangelho e vive por ele. Na verdade, os maiores perturbadores da igreja (agora e naquele tempo) não são os que se lhe opõem de fora, que a ridicularizam e a perseguem, mas aqueles que dentro dela

tentam alterar o evangelho. São eles que perturbam a igreja. Inversamente, a única maneira de ser um bom membro na igreja é sendo um bom adepto do evangelho. A melhor forma de servir a igreja é crer no evangelho e pregá-lo. 3. A Reação do Apóstolo Paulo (vs. 8-10) A esta altura, a situação nas igrejas da Galácia é evidente. Falsos mestres estavam distorcendo o evangelho, de modo que os convertidos por Paulo o estavam abandonando. A primeira reação do apóstolo é de surpresa total: Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo (versículo 6). Muitos evangelistas de gerações posteriores ficam igualmente admirados e assustados ao verem com que rapidez e prontidão os convertidos relaxam sua firmeza para com o evangelho que pareciam ter abraçado com tanta convicção. Como Paulo escreve em Gálatas 3:1, é como se alguém os fascinasse ou enfeitiçasse; e é isto que, de fato, acontece. O diabo perturba a igreja tanto através do erro quanto do pecado. Quando ele não consegue atrair os cristãos para o pecado, engana-os com falsas doutrinas. A segunda reação de Paulo é de indignação com os falsos mestres, sobre os quais ele enuncia uma solene maldição: Mas, ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema (vs. 8 e 9). A palavra grega duas vezes traduzida por “anátema" é anathema no original. No Antigo Testamento grego ela era usada para indicar banimento divino, a maldição de Deus sobre qualquer coisa ou pessoa que ele destinasse à destruição. A história de Acã é um bom exemplo disso. Deus dissera que os despojos dos cananeus estavam sob sua proscrição - estavam destinados à destruição. Mas Acã roubou e guardou para si o que deveria ter sido destruído. Assim o apóstolo Paulo deseja que esses falsos mestres sejam colocados sob banimento, maldição ou anathema de Deus. Isto é, ele expressa o desejo de que o juízo de Deus recaia sobre eles. Nisso está implícito que as igrejas da Galácia certamente não iriam dar boas-vindas ou atenção a tais mestres, recusando-se a recebê-los ou ouvi-los, por serem homens rejeitados por Deus (cf. 2 Jo 10,11). O que temos a dizer acerca desse anathema? Devemos esquecê-lo como se fosse apenas o resultado de uma explosão de ira? Devemos rejeitá-lo como se fosse produto de um sentimento incoerente com o Espírito de Cristo e indigno do evangelho de Cristo? Devemos explicá-lo como sendo palavra de um homem que era fruto de sua época e não conhecia outra forma de expressão? Muitas pessoas o fariam; mas pelo menos duas considerações indicam que esse anathema apostólico não era uma expressão de aversão pessoal a mestres rivais. A primeira consideração é que a maldição do apóstolo, ou a maldição de Deus que ele invoca, é de âmbito universal. Ela repousa sobre todo e qualquer mestre que distorça a essência do evangelho e que propague tal distorção. Isto está explícito no versículo 9: “Assim como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega..." Não há exceções. No versículo 8 ele a aplica especificamente a anjos e a homens, e então acrescenta a sua própria pessoa: “...ainda que nós...'". Tão desinteressado é o zelo de Paulo pelo evangelho que ele até deseja que a maldição de Deus caia sobre ele próprio, caso venha a pervertê-lo. Assim, o fato de ele incluir-se a si mesmo livra-o da acusação de despeito ou animosidade pessoal.

A segunda consideração é que a sua maldição é deliberadamente enunciada e com uma responsabilidade consciente para com Deus. Nota-se que ela é enunciada duas vezes (versículos 8 e 9). Como diz John Brown, comentarista escocês do século XIX: ''O apóstolo a repete para mostrar aos gálatas que não era uma declaração exagerada, excessiva, produto de um sentimento apaixonado, mas que era uma opinião calmamente formada e inalterável." Então Paulo prossegue no versículo 10: Porventura procuro eu agora o favor dos homens, ou o de Deus? ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo. Parece que os seus difamadores o haviam acusado de oportunista e bajulador, que adaptava a sua mensagem ao auditório. Mas será que esta condenação sem rodeios dos falsos mestres é a linguagem de um bajulador? Pelo contrário, nenhum homem pode servir a dois senhores. E, considerando que Paulo era em primeiro lugar e principalmente um servo de Jesus Cristo, a sua ambição era agradar a Cristo, e não aos homens. Portanto, é como "servo de Cristo", responsável diante do seu divino Senhor, que ele pondera as palavras e se atreve a exprimir este solene anathema. Vimos, então, que Paulo enuncia o seu anathema imparcialmente (quem quer que fossem os mestres) e deliberadamente (na presença de Cristo, seu Senhor). Mas talvez alguém pergunte: "Por que ele tem uma reação tão forte e usa uma linguagem tão drástica?" Dois motivos são bem claros. O primeiro é que a glória de Cristo estava em jogo. Tornar as obras dos homens necessárias à salvação, ainda que como um suplemento à obra de Cristo, é derrogante para a sua obra consumada. É o mesmo que dar a entender que a obra de Cristo foi de certa forma insatisfatória, e que os homens precisam acrescentar-lhe algo e aperfeiçoá-la. Na verdade, é o mesmo que declarar a redundância da cruz: "se a justiça é mediante a lei, segue-se que morreu Cristo em vão" (Gl 2:21). O segundo motivo por que Paulo sentiu a questão de maneira tão penetrante é que o bem-estar das almas das pessoas estava em jogo. Ele não estava escrevendo acerca de alguma doutrina trivial, mas sobre algo que é fundamental ao evangelho. Nem tampouco estava falando daqueles que simplesmente têm falsos pontos de vista, mas daqueles que os ensinam e que desencaminham outros com os seus ensinamentos. Paulo se importava profundamente com a alma humana. Em Romanos 9:3 ele declara que preferiria ser ele próprio amaldiçoado (literalmente, ser anathema), se com isto outros pudessem ser salvos. Ele sabia que o evangelho de Cristo é o poder de Deus para a sal-vação. Corromper o evangelho portanto, era destruir o caminho da salvação, condenando à ruína almas que poderiam ser salvas através dele. O próprio Jesus não enunciou uma solene advertência à pessoa que leva outros a tropeçarem, dizendo que "melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse lançado no mar" (Mc 9:42)? Parece então que Paulo, longe de contradizer o Espírito de Cristo, na verdade o estava expressando. Naturalmente vivemos numa época em que as pessoas que têm opiniões claras e definidas sobre determinados assuntos são consideradas intolerantes e bitoladas, quanto mais aquelas que discordam vivamente de todas as outras. O desejo de que os falsos mestres realmente caiam sob a maldição de Deus e sejam tratados como tais pela igreja é uma ideia inconcebível para muitos. Mas eu me atrevo a dizer que, se nós nos importássemos mais com a glória de Cristo e com o bem da alma humana, também não seríamos capazes de suportar a corrupção do evangelho da graça. Concluindo a primeira parte A lição que se destaca neste parágrafo é que só existe um único evangelho. A opinião popular alega que existem muitos caminhos que levam a Deus, que o evangelho muda

com o passar dos tempos e que não devemos condená-lo à fossilização do primeiro século d.C. Mas Paulo não endossaria tais ideias. Aqui ele insiste em que só há um evangelho e que este evangelho não muda. Qualquer ensinamento que reivindique ser "um outro evangelho" não é "um outro" (versículos 6, 7). A fim de esclarecer este ponto ele usa dois adjetivos: heteros ("outro" no sentido de "diferente") e allos ("outro" no sentido de "um segundo"). Poderíamos traduzir este trecho da seguinte maneira: "Vós estais passando para um evangelho diferente - não que exista um outro evangelho." Em outras palavras, certamente existem "evangelhos" diferentes que estão sendo pregados, mas isto é que eles são: diferentes. Não há um outro, um segundo; há apenas um. A mensagem dos falsos mestres não era um evangelho alternativo: era um evangelho per-vertido. Como podemos reconhecer o verdadeiro evangelho? Suas marcas nos foram apresentadas e referem-se à sua substância (o que é) e à sua fonte (de onde vem). a. A substância do evangelho É o evangelho da graça, do favor livre e imerecido de Deus. Afastar-se daquele que nos chamou na graça de Cristo é afastar-se do verdadeiro evangelho. Sempre que os mestres começam a exaltar uma pessoa, dando a entender que esta pode contribuir com alguma coisa para a sua salvação através de sua própria moral, religião, filosofia ou respeita-bilidade, o evangelho da graça está sendo corrompido. Este é o primeiro teste. O verdadeiro evangelho magnífica a livre graça de Deus. b. A fonte do evangelho O segundo teste refere-se à origem do evangelho. O verdadeiro evangelho é o evangelho dos apóstolos de Jesus Cristo; em outras palavras, é o evangelho do Novo Testamento. Leia novamente os versículos 8 e 9. A acusação de anathema é declarada por Paulo contra qualquer pessoa que pregue um evangelho contrário ao que ele pregou, ou "que vá além daquele que recebestes". Isto é, a norma, o critério pelo qual todos os sistemas e opiniões devem ser testados, é o evangelho primitivo, o evangelho que os apóstolos pregaram e que se encontra registrado no Novo Testamento. Qualquer "outro" sistema "que vá além" (ERAB) ou que seja "diferente" (BLH) desse evangelho apostólico deve ser rejeitado. Este é o segundo teste fundamental. Qualquer um que rejeite o evangelho apostólico, não importa quem seja, será igualmente rejeitado. Pode até vir na forma de "um anjo do céu". Neste caso, devemos preferir os apóstolos aos anjos. Não devemos ficar deslumbrados, como acontece a muitas pessoas, com a personalidade, os dons ou a posição dos mestres na igreja. Eles podem dirigir-se a nós com grande dignidade, autoridade e erudição. Podem ser bispos ou arcebispos, professores universitários ou até mesmo o próprio papa. Mas, se nos trouxerem um evangelho diferente daquele que foi pregado pelos apóstolos e que se encontra registrado no Novo Testamento, devem ser rejeitados. Nós os julgamos pelo evangelho; não julgamos o evangelho por eles. Como disse o Dr. Alan Cole: "Não é a pessoa física do mensageiro que dá valor à sua mensagem; antes, é a natureza da mensagem que dá valor ao mensageiro."

Então, ao ouvirmos as multifárias opiniões de homens e mulheres da atualidade, sejam faladas, escritas, irradiadas ou televisionadas, devemos sujeitar cada uma delas a estes dois rigorosos testes. Tal opinião é coerente com a livre graça de Deus e com o claro ensinamento do Novo Testamento? Caso contrário, devemos rejeitá-la, por mais augusto que seja o mestre. Mas, se for aprovada nestes testes, então vamos abraçá-la e apegar-

nos a ela. Não devemos comprometê-la como os judaizantes, nem desertar dela como os gálatas, mas viver por ela e procurar torná-la conhecida dos outros. A origem do evangelho de Paulo Vimos acima que há um só evangelho, e que este evangelho é o critério pelo qual todas as opiniões humanas devem ser testadas. É o evangelho que Paulo apresentou. A questão agora é: qual é a origem do evangelho de Paulo para que seja normativo, e para que as outras mensagens e opiniões sejam avaliadas e julgadas por ele? Sem dúvida é um evangelho maravilhoso. Lembremos a Epístola aos Romanos, as Epístolas aos Coríntios e as poderosas epístolas da prisão, como Efésios, Filipenses e Colossenses. Ficamos impressionados com o majestoso ímpeto, profundidade e a consistência com que Paulo expõe o propósito de Deus de eternidade a eternidade. Mas de onde ele tirou essas ideias? Seriam produto de sua própria mente fértil? Ele as inventou? Ou será que eram material antigo, de segunda mão, sem autoridade original? Será que as plagiou dos outros apóstolos em Jerusalém, que os judaizantes evidentemente defendiam, uma vez que tentavam subordinar a autoridade de Paulo à dos apóstolos? A resposta dele a estas perguntas pode ser encontrada nos versículos 11 e 12: Faço-vos, porém, saber, irmãos (uma fórmula favorita sua de introduzir uma declaração importante), que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem; porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo. Eis aí a razão por que o evangelho de Paulo era o padrão pelo qual os outros evangelhos deviam ser medidos. O seu evangelho era (literalmente, versículo 11) "não... segundo o homem"; não era "invenção humana" (BLH). "Eu o preguei", Paulo poderia dizer, "mas não o inventei. Também não o recebi de um homem, como se fosse uma tradição já aceita, passada de uma geração a outra. Também não me foi ensinado, como se o precisasse aprender de mestres humanos." Pelo contrário, ele veio "mediante revelação de Jesus Cristo". Isto provavelmente significa que ele lhe foi revelado por Jesus Cristo. Alternativamente, o genitivo poderia ser objetivo, caso em que Cristo é a substância da revelação, como no versículo 16, e não o seu autor. Seja qual for o caso, o sentido geral é explícito. Assim como no versículo 1 ele afirmou ser divina a origem de sua comissão apostólica, agora ele afirma ser de origem divina o seu evangelho apostólico. Nem a sua missão nem a sua mensagem derivaram de homem algum; ambas lhe vieram diretamente de Deus e de Jesus Cristo. A reivindicação de Paulo, portanto, é a seguinte. O seu evangelho, que estava sendo colocado em dúvida pelos judaizantes e abandonado pelos gálatas, não era uma invenção (como se a sua própria mente o tivesse fabricado), nem uma tradição (como se a igreja lho tivesse transmitido), mas uma revelação (pois Deus é quem o revelara a ele). Como John Brown diz: "Jesus cristo o tomou sob sua própria e imediata tutela." Por isso é que Paulo se atrevia a chamar o evangelho que pregava de "meu evangelho" (cf. Rm 16:25). Era "seu", não porque ele o criara, mas porque lhe fora revelado de maneira especial. A magnitude de sua reivindicação é notável. Ele está afirmando que a sua men-sagem não é sua, mas de Deus; que o seu evangelho não é seu, mas de Deus; que as suas palavras não são suas, mas de Deus. Após fazer esta surpreendente declaração de uma revelação direta de Deus, sem canais humanos, Paulo prossegue comprovando-a historicamente, isto é, com fatos de sua própria autobiografia. As situações ocorridas antes, durante e após sua conversão foram tais que ele sem dúvida recebeu o seu evangelho diretamente de Deus e não de algum homem. Examinemos essas três situações separadamente.

1. O que Aconteceu Antes de Sua Conversão (vs. 13, 14) Porque ouvistes qual foi o meu proceder outrora no judaísmo, como sobremaneira perseguia eu a igreja de Deus e a devastava. E, na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos na minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais. Aqui o apóstolo descreve a sua situação antes da conversão, quando ele estava "no judaísmo", isto é, quando ainda era um "judeu praticante". O que ele fora naquele tempo todos sabiam. "Porque ouvistes qual foi o meu proceder outrora", diz ele, pois já lhes falara sobre isto antes. Paulo menciona dois aspectos da sua vida antes da regeneração: a perseguição à igreja, que ele agora reconhece ser "a igreja de Deus" (versículo 13), e o seu entusiasmo pelas tradições dos seus pais (versículo 14). Em ambos, diz ele, era fanático. Consideremos a perseguição à igreja. Paulo perseguia a igreja de Deus "sobremaneira" (ERC) ou "com violência" (BLH). A frase parece indicar a violência, até mesmo selvageria, com que ele se empenhava na sua atividade sinistra. O que ele nos conta aqui podemos suplementar com o livro de Atos. Ele ia de casa em casa em Jerusalém, prendendo todos os cristãos que encontrasse, homens e mulheres, e arrastando-os para a cadeia (At 8:3). Quando esses cristãos eram condenados à morte, ele votava contra eles (At 26:10). Ainda não satisfeito em perseguir a igreja, ele se sentia realmente inclinado a devastá-la (versículo 13). Estava determinado a acabar com ela. Ele fora igualmente fanático em seu entusiasmo pelas tradições judaicas. "Fui um dos judeus mais religiosos do meu tempo e procurava seguir com todo o cuidado as tradições dos meus antepassados", descreve (versículo 14, BLH). Ele fora criado de acordo com "a seita mais severa" da religião judaica (At 26:5), ou seja, era um fariseu e vivia como tal. Esta era a condição de Saulo de Tarso antes de sua conversão: um fanático inveterado, completamente dedicado ao Judaísmo e à perseguição de Cristo e da igreja. Um homem nessa condição mental e emocional de maneira alguma mudaria de opinião, nem se deixaria influenciar por outras pessoas. Nenhum reflexo condicionado ou qualquer outro artifício psicológico poderia converter um homem assim. Apenas Deus poderia alcançá-lo - e foi o que Deus fez! 2. O que Aconteceu na sua Conversão (vs. 15, 16a) Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios... O contraste entre os versículos 13 e 14, de um lado, e os versículos 15 e 16, do outro, é dramaticamente abrupto. Vemo-lo claramente nos sujeitos dos verbos. Nos versículos 13 e 14 Paulo está falando de si mesmo: "perseguia eu a igreja de Deus... e a devastava... quanto ao judaísmo avantajava-me... sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais." Mas nos versículos 15 e 16 ele começa a falar de Deus. Foi Deus, escreve, "que me separou antes de eu nascer", Deus "me chamou pela sua graça", e a Deus "aprouve revelar seu Filho em mim". Em outras palavras, "no meu fanatismo eu me inclinava a perseguir e destruir, mas Deus (que eu havia deixado fora de minhas cogitações) me prendeu e alterou meu impetuoso curso. Todo o meu violento fanatismo nada era diante da boa vontade de Deus." Observe como a iniciativa e a graça de Deus são enfatizadas a cada estágio. Primeiro, Deus me separou antes de eu nascer. Assim como Jacó foi escolhido antes de nascer, em preferência ao seu irmão gêmeo Esaú (cf. Rm 9:10-13), e como Jeremias, designado para

ser profeta antes de nascer (Jr 1:5), Paulo, antes de nascer, foi separado para ser apóstolo. Desta forma, se ele foi consagrado apóstolo antes mesmo do nascimento, então é evidente que ele nada tem a ver com isso. Em segundo lugar, essa escolha antes do seu nascimento levou à sua vocação histórica. Deus me chamou pela sua graça, isto é, por seu amor totalmente imerecido. Paulo estivera lutando contra Deus, contra Cristo, contra os homens. Ele não merecia misericórdia, nem a pedira. Mas a misericórdia fora ao seu encontro e a graça o chamara. Terceiro, aprouve (a Deus) revelar seu Filho em mim. Quer Paulo esteja se referindo à sua experiência na estrada de Damasco, ou aos dias imediatamente subsequentes, o que lhe foi revelado foi Jesus Cristo, o Filho de Deus. Paulo perseguia a Cristo porque cria que este era um impostor. Agora o seus olhos estavam abertos para ver Jesus não como um charlatão, mas como o Messias dos judeus, Filho de Deus e o Salvador do mundo. Ele já conhecia alguns dos fatos acerca de Jesus (ele não declara que estes lhe foram revelados sobrenaturalmente, naquele ocasião ou mais tarde, cf. 1 Co 11:23), mas agora percebia o seu significado. Era uma revelação de Cristo para os gentios, pois a Deus "aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios". Fora uma revelação particular a Paulo, mas para uma comunicação pública aos gentios. (Cf. At 9:15.) E o que Paulo foi encarregado de pregar aos gentios não foi a lei de Moisés, como os judaizantes estavam ensinando, mas as boas novas (o significado do verbo "pregar" no versículo 16), as boas novas de Cristo. Este Cristo fora revelado, diz Paulo, "em mim" (literalmente). Nós sabemos que foi uma revelação externa, pois Paulo declara ter visto Cristo ressuscitado (p. ex., 1 Co 9:1; 15:8, 9). Essencialmente, porém, foi uma iluminação interior de sua alma, Deus resplandecendo em seu coração "para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo" (2 Co 4:6). E esta revelação foi tão íntima, tornando-se de tal forma parte dele mesmo, que lhe possibilitou torná-la conhecida aos outros. A força destes versículos é muito grande. Saulo de Tarso fora um oponente fanático do evangelho. Mas Deus se agradou fazer dele um pregador desse mesmo evangelho ao qual ele antes se opunha tão ferozmente. Sua escolha antes de nascer, sua vocação histórica e a revelação de Cristo nele, tudo isso foi obra de Deus. Portanto, nem a sua missão apostólica nem a sua mensagem vinham dos homens. Contudo, o argumento do apóstolo ainda não está completo. Considerando que a sua conversão foi uma obra de Deus, o que se tornou claro na maneira como aconteceu e pelos seus precedentes, não teria ele recebido instruções depois de sua conversão, de modo que a sua mensagem fosse proveniente de homens? Não. Isto também Paulo nega. 3. O que Aconteceu Depois de sua Conversão (vs. 16b-24)

...não consultei carne e sangue, 17 nem subi a Jerusalém para os que já eram apóstolos antes de mim, mas parti para as regiões da Arábia, e voltei outra vez para Damasco. 18 Decorridos três anos, então subi a Jerusalém para avistar-me com Cefas, e permaneci com ele quinze dias; 19 e não vi outro dos apóstolos, senão a Tiago, o irmão do Senhor. 20 Ora, acerca do que vos escrevo, eis que diante de Deus testifico que não minto. 21Depois fui para as regiões da Síria e da Cilícia. 22 E não era conhecido de vista das igrejas da Judéia, que estavam em Cristo. 23 Ouviam somente dizer: Aquele que antes nos perseguia, agora prega a fé que outrora procurava destruir. 24 E glorificavam a Deus a meu respeito.

Neste parágrafo um tanto longo a ênfase está na primeira declaração, no final do versículo 16: "não consultei carne e sangue". Isto é, Paulo diz que não consultou nenhum ser humano. Sabemos que Ananias foi ao seu encontro, mas evidentemente

Paulo não discutiu o evangelho com ele, nem com qualquer dos apóstolos em Jerusalém. Agora ele faz esta declaração historicamente. Ele apresenta três álibis para provar que não gastou tempo em Jerusalém e que seu evangelho não foi moldado pelos outros apóstolos. Álibi 1. Ele foi à Arábia (v. 17)

De acordo com Atos 9:20, Paulo ficou algum tempo em Damasco, pregando, o que dá a ideia de que o seu evangelho já estava bastante definido para que pudesse anunciá-lo. Mas deve ter ido logo depois para a Arábia. O Bispo Lightfoot comenta: "Um véu muito espesso cobre a visita de S. Paulo à Arábia." Não sabemos aonde ele foi nem por que foi para lá. Possivelmente não foi muito longe de Damasco, porque todo o seu distrito naquele tempo era governado pelo rei Aretas da Arábia. Há quem diga que ele foi à Arábia como missionário para pregar o evangelho. Crisóstomo descreve "um povo bárbaro e selvagem" que vivia ali, o qual Paulo foi evangelizar. Mas é muito mais provável que ele tenha ido à Arábia em busca de quietude e solidão, pois este é o ponto alto dos versículos 16 e 17: "...não consultei carne e sangue... mas parti para as regiões da Arábia." Parece que ele ficou por lá durante três anos (versículo 18). Cremos que neste período de afastamento, ao meditar sobre as Escrituras do Antigo Testamento, sobre os fatos da vida e morte de Jesus, os quais ele já conhecia, e a experiência de sua conversão, o evangelho da graça de Deus lhe foi revelado em toda a plenitude. Alguém até já sugeriu que aqueles três anos na Arábia foram uma deliberada compensação pelos três anos de instrução que Jesus dera aos outros apóstolos, mas que Paulo não recebera. Agora era como se ele tivesse Jesus ao seu lado durante três anos de solidão no deserto. Álibi 2. Ele foi a Jerusalém mais tarde para uma rápida visita (vs. 18-20) A ocasião provavelmente é a que se menciona em Atos 9:26, depois que ele foi tirado às escondidas de Damasco, sendo descido pelo muro da cidade em um cesto. Paulo é totalmente franco acerca desta visita a Jerusalém, mas lhe dá pouca importância. Nada havia nela de tão significativo como os falsos mestres estavam obviamente sugerindo. Diversos aspectos dela são mencionados. Primeiro, ela aconteceu "decorridos três anos" (versículos 18). Isto significa quase certamente três anos depois de sua conversão, tempo em que o seu evangelho já fora plenamente formulado. Depois, quando ele chegou a Jerusalém, avistou-se apenas com dois apóstolos, Pedro e Tiago. Ele foi para "avistar-se" (ERAB) ou "conhecer" (BLH) Pedro. O verbo grego (historesai) era usado no sentido de fazer turismo e significa "visitar com o propósito de conhecer uma pessoa" (Arndt-Gingrich). Lutero comenta que Paulo foi visitar esses apóstolos "não porque recebeu tal ordem, mas de sua própria vontade; não para aprender alguma coisa com eles, mas apenas par conhecer Pedro". Paulo também conheceu Tiago, que parece estar aqui relacionado entre os apóstolos (versículo 19). Não viu, porém, nenhum dos outros apóstolos. Pode ser que eles estivessem ausentes, ou ocupados demais, ou até mesmo com medo de Paulo (cf. At 9:26). Terceiro, ele passou apenas "quinze dias" em Jerusalém. Naturalmente em quinze dias os apóstolos teriam tido tempo par falar acerca de Cristo. Mas o que Paulo está destacando é que, quinze dias não era tempo suficiente para ele absorver de Pedro todo o conselho de Deus. Além disso, não fora este o propósito da visita. Lemos em Atos (9:28,29) que grande parte daquelas duas semanas em Jerusalém foi ocupada em pregações.

Resumindo, a primeira visita de Paulo a Jerusalém deu-se apenas depois de três anos, durou duas semanas, e ele viu apenas dois apóstolos. Portanto, é ridículo sugerir que tenha recebido o seu evangelho dos apóstolos em Jerusalém. Álibi 3. Ele foi para a Síria e a Cilícia (vs. 20-24)

Esta visita ao extremo norte corresponde a Atos 9:30, onde lemos que Paulo, estando em perigo de vida, foi levado pelos irmãos à Cesaréia, de onde o enviaram para Tarso, que fica na Cilícia. Uma vez que ele diz que também foi "para as regiões da Síria", ele deve ter visitado novamente Damasco e Antioquia a caminho de Tarso. De qualquer maneira, o que Paulo está destacando é que estava lá no extremo norte, e não em Jerusalém. Um resultado disso é que ele "não era conhecido de vista das igrejas da Judéia" (versículo 22). Estas o conheciam apenas de ouvir falar, e o rumor que ouviam era que o seu perseguidor de outrora se tornara pregador (versículo 23). Na verdade, ele se tornara pregador "da fé" que havia aceitado e que anteriormente "procurava destruir". Sabendo disto, "glorificavam a Deus a meu respeito". Eles não glorificavam a Paulo, mas a Deus em Paulo, reconhecendo que este era um troféu extraordinário da graça de Deus. Só catorze anos mais tarde (2:1), presumivelmente anos esses após a sua conversão, Paulo tornou a visitar Jerusalém e teve um contato mais demorado com os outros apóstolos. A essa altura dos acontecimentos, o seu evangelho já estava totalmente desenvolvido. Mas durante o período de catorze anos entre a sua conversão e esta entrevista ele fez apenas uma rápida e insignificante visita a Jerusalém. O restante desse tempo ele passou na distante Arábia, na Síria e na Cilícia. Seus álibis provam a independência do seu evangelho. O que Paulo diz nos versículos 13 a 24 pode ser resumido da seguinte forma: o fanatismo de sua carreira antes da conversão, a iniciativa divina na sua conversão e depois, o seu isolamento quase total dos líderes da igreja de Jerusalém, tudo contribuía para provar que sua mensagem não era humana, mas divina. Além disso, estas evidências históricas e circunstanciais não poderiam ser contestadas. O apóstolo pode confirmar e garantir isso com uma solene afirmação: "Ora, acerca do que vos escrevo, eis que diante de Deus testifico que não minto!" (versículo 20). Conclusão Concluindo, retornamos à afirmação que estes detalhes autobiográficos procuraram estabelecer. Os versículos 11 e 12 dizem: Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem; porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo. Tendo considerado a falta de contato de Paulo com os apóstolos de Jerusalém durante os primeiros quatorze anos do seu apostolado, podemos aceitar a origem divina de sua mensagem? Muitos não aceitam. Há pessoas que, embora admirem o intelecto sólido de Paulo, acham que seus ensinamentos são severos, áridos e complicados; por isso os rejeitam. Outros dizem que Paulo foi responsável pela corrupção do Cristianismo simples de Jesus Cristo. Estava na moda, cerca de um século atrás, estabelecer uma brecha entre Jesus e Paulo. Contudo, de um modo geral reconhece-se atualmente que não se pode fazer isto, pois todas as sementes da teologia de Paulo se encontram nos ensinamentos de Jesus. Não obstante, a "teoria da brecha" ainda tem os seus advogados. Por exemplo, Lord Beaverbrook escreveu uma pequena vida de Cristo que ele intitulou The Divine

Propagandist (O Propagandista Divino). Ele nos informa que a escreveu "como um homem de negócios", e que estava "tentando entender Jesus à luz trêmula de uma in-teligência limitada e uma pesquisa certamente restrita". "Eu vasculhei os evangelhos e ignorei a teologia", ele diz. Seu tema é que a igreja tem entendido mal e representado mal a Jesus Cristo. Quanto ao apóstolo Paulo, a opinião de Lord Beaverbrook é que ele foi "incapaz, por natureza, de entender o espírito do Mestre". Ele “prejudicou o Cristianismo e deixou suas marcas, eliminando muitos dos traços das pegadas do seu Mestre". Mas Paulo não pode ter representado mal a Cristo se estava transmitindo uma revelação especial de Cristo, que é o que ele declara em Gálatas 1. Outras pessoas acham que Paulo era um homem comum, que participava de nossas paixões e nossa falibilidade, de modo que a sua opinião não é melhor do que a de qualquer outra pessoa. Mas Paulo diz que a sua mensagem não é segundo os homens, mas vem de Jesus Cristo. Outros, ainda, dizem que Paulo simplesmente refletiu a opinião da comunidade cristã do primeiro século. Nesta passagem, porém, Paulo se esforça para mostrar que a sua autoridade não era eclesiástica. Ele foi totalmente independente dos líderes da igreja, e recebeu seus pontos de vista de Cristo, e não da igreja. Este, portanto, é o nosso dilema. Vamos aceitar as palavras de Paulo quanto à origem de sua mensagem, apoiadas como estão por sólidas evidências históricas? Ou será que vamos preferir nossa própria teoria, embora não tenha o apoio de qualquer evidência histórica? Se Paulo está certo ao dizer que o seu evangelho não veio de homens, mas de Deus (cf. Rm 1:1), então rejeitar Paulo é rejeitar a Deus. Bibliografia J. R. W. Stott

A SUPERSTIÇÃO RELIGIOSA "Porque eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele Dia" (2 Tm 1.12b). Superstição religiosa é um conjunto de crendices apoiadas na ignorância, no desconhecido e no medo. Nada tem a ver com a fé que professamos. É provável que você conheça algumas pessoas que apregoam "certas verdades" baseadas em crenças infundadas ou que até mesmo utilizem amuletos e usem expressões com o fim de afastarem maus espíritos. Muitas destas pessoas agem assim por temerem aquilo que desconhecem ou ignoram, ou seja, são supersticiosas. Superstições são crenças alicerçadas sobre sentimentos irracionais, que levam as pessoas, em razão de sua credulidade excessiva, a temerem o desconhecido, sobrenatural. Quem é supersticioso acredita em presságios, encantamentos, sinais, ritos específicos e tantos outros elementos que repousam sobre a fé em coisas irracionais. A Palavra de Deus reprova vigorosamente as superstições. Atos dos Apóstolos registra um episódio em que Paulo e Barnabé, quando pelo poder de Cristo curaram a um coxo em Listra, quase foram idolatrados como Júpiter e Mercúrio pelos habitantes daquele país. Os servos de Deus protestaram com veemência contra o ato supersticioso. No Antigo Testamento, eram proibidas as adivinhações (Lv 19.31), a bruxaria, os augúrios a feitiçaria e magia (2 Rs 21.6). Temos de ter muito cuidado para que essas práticas não solapem nossa fé e assolem nossas igrejas; tais como amuletos, pé de coelho, galho de arruda, ferradura de cavalo, dias especiais, crendices, simpatias e magias.

A superstição está presente em todas as religiões, novas e velhas. É nociva à fé cristã em razão de levar o indivíduo a temer coisas inócuas e depositar a fé em coisas absurdas. Quem já não viu alguém procurar se proteger com um galho de arruda, com ferradura de cavalo na porta de casa, ou usar uma figa esperando obter sucesso? Os supersticiosos estão inclinados a acreditar em tudo, menos na Palavra de Deus. ETIMOLOGIA 1. O termo grego. O substantivo grego empregado no Novo Testamento correspondente à palavra superstição é deisidaimoniâ. Essa palavra aparece apenas em At 25.19. De modo semelhante, o adjetivo procedente do original significa "piedosos, supersticiosos ou religiosos" (At 17.22). O termo procede de duas palavras gregas cujo sentido é "temor aos demônios, aos espíritos malignos ou as divindades pagãs". Portanto, o vocábulo "superstição" designa um sentimento religioso fundamentado na ignorância, no medo de coisas sobrenaturais e na confiança em coisas ineficazes. Trata-se, por conseguinte, de uma crendice popular baseada em crenças infundadas. 2. O termo em nossas versões. A versão Almeida Atualizada e a Tradução Brasileira traduziram os vocábulos originais por "religião" e "religioso", enquanto a Almeida Cor-rigida, por "superstição" e "supersticioso". Agripa na qualidade de judeu, embora desconhecendo a natureza da questão sobre a ressurreição de Jesus, jamais chamaria essas coisas de mera superstição (At 25.19). O apóstolo Paulo, no areópago em Atenas, como disse alguém, empregou o termo com "amável ambiguidade" (At 17.22). 3. O termo latino. Jerônimo, na Vulgata Latina, traduziu os referidos termos por superstitio, (At 25.19) que significa "superstição, religião, culto, excessivo receio dos deuses, adivinhação, arte de predizer o futuro" e superstitiosus, "supersticioso" (At 17.22). 4. O termo no mundo romano. Havia diferença entre religião e superstição no mundo romano. O cristianismo, mais tarde, adotou essa distinção. Segundo Agostinho de Hipona, o homem supersticioso distingue-se do religioso, citando Varrão (Marco Terêncio

Varrão [Marcus Terentius Varro], 116 a.C. – 27 a.C., filósofo e enciclopedista romano), afirma que o supersticioso teme os deuses como inimigos, e o religioso reverencia-os como pais. A ideia dessa palavra no mundo romano é uma forma antiquada de culto, como deterioração ou algo ultrapassado, rejeitado pela religião oficial. Podemos resumir superstição como a crendice do medo (Jr 10.2). CARACTERÍSTICAS ANIMISTAS 1. Animismo. Apesar da superstição estar presente em todas as religiões, é no animismo que ela praticamente se confunde. Animismo é a crença que atribui vida espiritual ou alma a coisas inanimadas. Os animistas acreditam que plantas e animais possuem alma, que a natureza está carregada de seres espirituais e que o espírito dos mortos vagueia pelos lugares onde as pessoas viviam ou costumavam frequentar (Is 34.14). É consequência da Queda no Éden (Rm 1.23, 25, 28). 2. Fetiches. Os ídolos representam divindades ao passo que o fetichismo se caracteriza por atribuir propriedades mágicas ou divinas a certos objetos. Em muitos casos, os fetichistas dispensam, a tais objetos, reverência, adoração, gratidão e oferendas, esperando receber graças ou vinganças dessas divindades ou espíritos. SUPERSTIÇÕES DO COTIDIANO

1. Amuletos e talismãs. É a crença no afastamento dos maus espíritos apenas pelo uso de certos objetos como galho de arruda, ferradura de cavalo na porta de casa, pé-de-coelho etc. Muitas vezes, são usados como objetos de adornos. O profeta Isaías incluiu os amuletos na lista de adornos femininos, traduzido por "arrecadas" na Versão Almeida Corrigida (Is 3.20). A palavra hebraica, aqui, é lahash, também usada para encantamento (Ec 10.11; Jr 8.17). Talismã consiste em letras, símbolos ou palavras sagradas, nomes de anjos ou demônios com o objetivo de afastar o mal de quem os usa. 2. Rogos do espirro. "Saúde!", "Deus te crie!", ou, expressão mais erudita como Dominus caetuml, "o Senhor te crie!", hayiml, "vida!", em Israel; são expressões que ouvimos no dia-a-dia quando alguém espirra. Por que não acontece o mesmo quando alguém tosse? Os antigos acreditavam que o espírito do homem residia na cabeça, e um bom espirro era o suficiente para sua fuga e, ao fazer uma pequena prece, ele permanecia na pessoa que espirrou. Hoje, isso já virou etiqueta social. 3. Sexta-feira 13. O número 13 é tido por alguns como bom agouro e para outros como infortúnio. Há até edifícios em que passam do 12° para o 14° andar temendo desgraças. A sexta-feira 13 é considerada um dia de azar. Uns atribuem a superstição sobre o número 13 aos vikings ou a outros normandos. Há também os que atribuem ao cristianismo, já que sexta-feira foi o dia em que Jesus morreu e 13 é uma referência a Judas Iscariotes que, segundo os supersticiosos, era o décimo terceiro homem da reunião da Última Ceia. Mas, não há indício algum para confirmar essa versão. SUPERSTIÇÕES SUPOSTAMENTE BÍBLICAS 1. Segunda-feira azarada. Os judeus não consideram a segunda-feira um bom dia para negócios, porque no relato da criação, em Gênesis 1, não consta o registro "e viu Deus que era bom", como aparece nos demais dias. Mas, no dia terceiro, aparece duas vezes a expressão "e viu Deus que era bom" (Gn 1.10, 12), por isso é o dia tradicional de cerimônia de casamentos e, também, o dia em que se celebram grandes negócios em Israel. O costume baseia-se na interpretação incorreta de uma passagem bíblica. A bênção divina para o sucesso, todavia, não depende do dia em que o evento é realizado, e sim na confiança em Deus (Sl 37.3-5). 2. Mezuzá. Palavra hebraica que significa "portal, umbral, ombreira" (Êx 12.7). Esse termo é usado hoje para identificar o pequeno tubo metálico que os judeus usam no umbral direito da porta, seguindo o prescrito na Lei de Moisés (Dt 6.4-9). Isso não deve ser considerado superstição, pois tem fundamento bíblico, como não é superstição um cristão colocar em seu lar quadros com versículos bíblicos e outros motivos cristãos como identificação de sua fé. Mas os judeus cabalísticos da Idade Média transformaram a mezuzá em amuletos e talismãs, como objetos de proteção. 3. O perigo da inversão de valores. Não confundir o Cristo da cruz com a cruz de Cristo. Os hebreus consideravam a simples presença da arca da aliança na guerra como garantia de vitória (1 Sm 4.4-11). Ainda hoje, alguns crentes creem estar protegidos de infortúnio e mau augúrio só porque mantêm a Bíblia aberta no salmo 91. Isso significa transformar a fé viva no Deus todo-poderoso em mera superstição ou amuleto. A proteção vem da confiança em Deus e na obediência à Sua Palavra (Js 1.8; 1 Jo 5.4). 4. Fé cristã não é superstição. Os filhos de Ceva, tendo em vista o misticismo de Éfeso, cuidaram fosse o apóstolo Paulo um mágico com uma nova fórmula: o nome de Jesus (At 19.13). Mas eles se equivocaram. Ainda hoje há os que transformam elementos cristãos em superstições. Baseados em lendas de vampiros, muitos supõem que, exi-

bindo uma cruz, podem expulsar os espíritos maus. Jesus disse: "em meu nome expulsarão demônios" (Mc 16.17). Ele conferiu essa autoridade aos seus servos (Mt 10.8). Todos os que usarem o nome de Jesus como amuletos poderão ter a mesma decepção dos filhos de Ceva (At 19.16). C0NCLUINDO As superstições, independentemente de sua origem, são nocivas à fé cristã. Crer em coisas triviais, ou nas aparentemente bíblicas, é rejeitar a fé em Deus ou acrescentar algo além dEle. Nós cremos num Deus que pode guardar-nos de todos os males (2 Tm 1.12). Não seria o uso de elementos como galhinho de arruda, sal grosso e copo d'água na liturgia uma volta ao misticismo medieval, tão condenado pelos reformadores? A teologia da maldição hereditária não seria um vilipendio à doutrina da graça e uma superstição religiosa em sua essência? Lamentavelmente, é nítida a existência de casos de superstição entre evangélicos, mas isso é resultado da ausência de orientação bíblica. Nas igrejas onde o povo recebe o ensino sistemático e sadio da Palavra de Deus raramente existe isso. Alguns casos de supersticiosidade entre evangélicos são menores, outros são mais graves. Alguns exemplos do primeiro tipo são deixar a Bíblia aberta no Salmo 91 para afastar desgraças; utilizar a expressão Tá amarrado!' de forma séria, como uma espécie de precaução espiritual; abrir a Bíblia aleatoriamente para 'tirar um versículo' que funciona como a orientação de Deus para tomarmos uma decisão; trocar a leitura sistemática e regular da Bíblia pela 'caixinha de promessas'; reputar que a oração no monte tem mais eficácia do que a feita dentro do quarto ou na igreja; dormir empacotado para que Deus, ao nos visitar à noite, não se entristeça; e acreditar que objetos ou algum suvenir de Israel (pedrinhas, água do Rio Jordão, folhas) têm algum poder especial. O protestantismo foi um dos grandes catalisadores do fim da superstição da Idade Média, que havia sido implementado por um catolicismo cada vez mais decadente. É só reexaminarmos a história e veremos que, antes da Reforma, o mundo medieval era cheio de fantasmas, duendes, gnomos, demônios, anjos e santos. O povo era ignorante, extre-mamente supersticioso e não tinha acesso à leitura. A própria Igreja Católica Romana fomentava e explorava isso. Foram os evangélicos que combateram tudo isso, inclusive apoiados pelos humanistas da época. Um exemplo de caso grave de superstição é o caso da teologia da maldição hereditária, que declara insuficiente a obra de Cristo na vida da pessoa, pois afirma que, depois de salvo por Jesus, o cristão deve desenterrar o seu passado e o de seus familiares para quebrar uma a uma todas as possíveis maldições que acometeram seus antepassados e que ainda repousariam sobre ele, se não a libertação não será completa. Além de não ter base bíblica (2 Co 5.17), essa teologia defende um princípio quase reencarnacionista, estabelecendo um carma na vida da pessoa a partir de seus parentes. (...) Fujamos de toda a sorte de superstição. Que nossa fé seja absolutamente bíblica. Bibliografia E. Soares

JESUS, O MAIOR PREGADOR QUE JÁ EXISTIU

Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma. Mateus 11.29 Billy Graham é chamado, com justiça, de "o maior evangelista do século XX". Outros, como D.L. Moody e C.H. Spurgeon — o príncipe dos pregadores —, foram considerados, em seu tempo, grandes propagadores do evangelho de Cristo. E no presente século? Quem tem sido o grande evangelista de nosso tempo? Aquele que sopra sobre as pessoas ou as golpeia com seu paletó "mágico", a fim de derrubá-las? Não, não. Quem, então, pode ser chamado hoje de "o maior evangelista deste século"? Aqueles famosos telebispo e telemissionário brasileiros, que viajam o mundo todo, promovendo campanhas que reúnem milhares de pessoas? Não, não. Eles não pregam o evangelho de Cristo. O negócio deles é confissão positiva e teologia da prosperidade, pois isso lhes traz um bom retorno financeiro... Procuram-se evangelistas — evangelistas, mesmo! — que preguem o evangelho de Cristo. Oremos, para que, não apenas um, mas vários homens e mulheres propaguem as boas novas de salvação, não imitando os super-pregadores, que, abandonando ao modelo bíblico, esqueceram-se da cruz de Cristo. UM RECADO AOS "EVANGELISTAS" DESTE SÉCULO Em nossos dias, a modéstia passa longe de líderes e pregadores inescrupulosos, cujo objetivo maior é enriquecer valendo-se de estratégias que nada têm que ver com a evangelização. Não obstante, pelo fato de viajarem pelo mundo à custa da oferta dos fiéis ou de altos cachês, eles se autodenominam "os maiores evangelistas deste século". Parem com isso, por favor! Vocês sequer falam de Jesus! Aprendam com o Pregador-modelo, o Mestre Jesus Cristo, que dizia: "A minha doutrina não é minha, mas de meu Pai que me enviou" (Jo 7.16). Mas, o que têm feito vocês, "pregadores cotonetes" (2 Tm 4.3), propagadores de "agradáveis" mensagens que "coçam" os ouvidos? Tomem uma posição enquanto há tempo, pois as suas desculpas naquele Dia não os livrarão do fogo do Inferno (Mt 7.21-23). A todos os pregadores, iniciantes e experientes, a submeterem o seu ministério ao crivo da Palavra de Deus. E, para fazer isso, nada melhor do que olhar para a vida de Cristo. Afinal, está escrito: "Todo aquele que diz que está nele também deve andar como ele andou" (1 Jo 2.6). Você deseja andar como o Mestre andou? Ou prefere, a cada dia, inventar novas maneiras de conquistar o público? Com quem é o seu compromisso, com o povo, com o seu sentimento, com a sua conta bancária, ou com o Senhor Jesus Cristo? JESUS, O MAIOR PREGADOR DE TODOS OS TEMPOS Quem é o maior referencial para os pregadores de hoje? Não são os grandes homens de Deus dos tempos do Antigo Testamento, como Moisés, Samuel, Davi e Elias, apesar de suas notáveis biografias (Hb 1.1,8,9; 11.1 a 12.2). Não é João Batista, o precursor de Cristo, cheio do Espírito desde o ventre materno e considerado o maior profeta entre os nascidos de mulher (Lc 1.15; Mt 11.11). Também não é Paulo — principal apóstolo e doutor dos gentios, arrebatado ao Paraíso, no terceiro céu, onde ouviu coisas inefáveis, e autor de treze epístolas (2 Co 12.12; 2 Tm 1.11; 2 Co 12.1-4) — o maior pregador de todos os tempos. Não são, ainda, os apóstolos Pedro e João, apesar de seus bem-sucedidos ministérios (At 3.1; 8.14). Um foi o primeiro

grande pregador pentecostal e autor de duas epístolas, e o outro, autor do Evangelho que apresenta Jesus como Deus, de três epístolas e do Apocalipse. Os maiores referenciais para os pregadores de hoje também não são o mártir Estêvão ou o diácono-evangelista Filipe, homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria (At 6-8). Não são, ainda, os valorosos obreiros que deixaram as suas marcas nas páginas da História da Igreja, como Crisóstomo — a "boca de ouro" —, Agostinho, Lutero, Moody, Spurgeon, Finney, Gunnar Vingren, N.L. Olson, Eurico Bergstén, Samuel Nystrõm, Valdir Nunes Bícego, etc. Nas páginas da Bíblia Sagrada e da História Eclesiástica há muitos obreiros cujas vidas devem ser imitadas. O autor de Hebreus até disse, apropriadamente: "Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a palavra de Deus, a fé dos quais imitai, atentando para a sua maneira de viver" (13.7). No entanto, de acordo com a Palavra do Senhor, o nosso maior exemplo é o Senhor Jesus Cristo, em tudo (Jo 13.15; Mt 11.29; At 1.1). JESUS, O PREGADOR-MODELO O nome de Jesus, na atualidade, tem sido alvo de exploração mercadológica. A cada dia, novos autores tentam alçar voo com títulos do tipo "Jesus-o-maior-isso-e-aquilo-que-já-existiu". Não pense que este texto acompanha essa "onda". Não! O Senhor Jesus, de fato, foi o mais importante pregador que já existiu, o principal expoente que já andou na terra, o maior evangelista de todos os tempos. Jesus é o maior exemplo para todos nós; e os principais obreiros do Novo Testamento reconheceram isso. João Batista não se achou digno de desatar as correias de suas sandálias (Mt 3.11; Jo 3.30). Paulo reconheceu que imitava o Senhor e incentiva-nos a termos o mesmo sentimento que houve nEle (1 Co 11.1; Fp 2.5-11). Pedro o chamou de Sumo Pastor e afirmou que todos devem seguir às suas pisadas (1 Pe 5.4; 2 Pe 2.20,21). E o que dizer do evangelista João? Ele afirmou que todos devemos andar como o Mestre andou (1 Jo 2.6). Sim, Jesus é o maior exemplo a ser seguido, tanto pelos experientes pregadores, que se consideram paradigmas desta geração, quanto pelos iniciantes, que desesperadamente buscam referenciais. Alguns destes, infelizmente — por não encontrarem nenhum pregador-modelo que de fato mereça a honra de ser imitado —, decepcionaram-se com o ministério da Palavra. Mas não desanimemos! Jesus Cristo, o Pregador-modelo deixou-nos o exemplo, e é para Ele que devemos olhar! .......

COISAS QUE A BÍBLIA NÃO DIZ Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as cousas eram, de fato, assim. Atos 17.11, ARA A Bíblia, para muitos que se dizem cristãos, é um livro comum. Não a consideram infalível e inerrante, tampouco a sua regra de fé, de prática e de vida. Tenho notado que esses crentes são os que mais se sentem ofendidos com as críticas e refutações aos

falsos evangelhos da atualidade. Vivem do que ouviram falar; são hábeis para citar letras de canções, mas incapazes de memorizarem um versículo bíblico sequer. Neste texto, discorrerei sobre algumas "verdades" tidas como parte integrante das Escrituras, as quais são difundidas por animadores de auditório e cantores famosos, preocupados mais com as suas carreiras de popstar do que com a propagação do evangelho. Afinal, o que a Palavra de Deus não diz? NÃO DIZ QUE... CRENTE QUE TEM PROMESSA NÃO MORRE Perguntaram-me, em um grande simpósio, se crente que tem promessa não morre. E eu dirigi outra pergunta ao auditório: "Quantos aqui têm promessas de Deus?" Todos levantaram as mãos. Então, lhes disse: "Bem, nesse caso, nenhum de vocês morrerá. Se Jesus demorar a voltar uns cem anos, ainda continuarão vivos, pois todos têm promessas". Esse chavão anda de mãos dadas com outros clichês predestinalistas que não resistem a uma boa exegese. Afinal, se o Arrebatamento da Igreja não acontecer logo, todos nós morreremos, quer de uma forma, quer de outra. Basta lermos Hebreus 11 para sabermos que nem todas as promessas que aqueles heróis da fé abraçaram se cumpriram em suas vidas. A nossa maior promessa, aliás, é a de morar com Cristo, na glória (Fp 3.20,21; Tt 2.11-14). Em Hebreus 11.39, menciona-se o seguinte acerca dos heróis da fé, fiéis ao Senhor Jesus até à morte: "E todos estes, tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa". E o versículo 13 também diz: "Todos estes morreram na fé, sem terem recebido as promessas..." Pois é... aquele grande grupo de testemunhas, de verdadeiros servos de Deus, morreu sem ter alcançado as promessas! Somos melhores do que eles? As promessas de Deus são verdadeiras, mas temos de levar em conta a condicionalidade de muitas delas (2 Cr 7.14,15; Is 1.18-20; Dt 28.1,2). No dia de Pentecostes, a promessa do derramamento do Espírito Santo se cumpriu para cerca de 120 crentes (Lc 24.49; At 2). Se eles não tivessem ficado em oração, em Jerusalém, teriam recebido a promessa? Não foram mais de quinhentos irmãos que viram ao Cristo ressurreto, conforme 1 Coríntios 15.6? E os outros cerca de 380, não tinham a promessa? Sim, mas não estavam lá. Segundo a Palavra de Deus, é possível sim morrer antes do tempo (Ec 7.17; Pv 10.27). Deus tira a vida de quem peca (Gn 38.10; Pv 22.23; Ez 18.4). Essa história de que há um destino para cada um — e que só morremos quando chegar a hora predeterminada — não tem apoio bíblico. O fato de termos muitas promessas não garante que não morreremos até que se cumpram todas elas (1 Pe 1.24,25). Muitos têm deixado de pensar nas coisas de cima (Cl 3.1,2), considerando que as promessas que recebemos por meio de profecia devem ser abraçadas cegamente, como se fossem a garantia de que jamais morreremos enquanto elas não se cumprirem. Que engano! Temos de viver como se o Arrebatamento fosse acontecer a qualquer momento (1 Co 15.51,52). A frase em análise, portanto, é mais um "versículo novo". Ela não está registrada na Bíblia, tampouco a tese contida nela tem o apoio das Escrituras. Afinal, para Deus vivemos e para Ele também morreremos (Fp 1.21-23; Rm 8.38,39).

Fiquemos com a Palavra do Senhor, que diz: "Eia, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos a tal cidade, e lá passaremos um ano, e contrataremos, e ganharemos. Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco e depois se desvanece. Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo" (Tg 4.13-15). NÃO DIZ QUE... UM SERVO DE CRISTO FICA ENDEMONINHADO Um famoso tele missionário costuma dizer à sua plateia: "Meu irmão, agora eu vou orar por você. Ponha a mão na sua cabeça". Em seguida, ele diz: "Demônio que está neste corpo, pegue o que é seu e saia". Pode um crente, salvo em Jesus Cristo, ficar endemoninhado? Têm os agentes do mal alguma influência sobre a vida dos servos de Deus? Segundo a Bíblia, o Diabo pode agir na vida de uma pessoa por possessão ou por influência. Possessão é o estado de quem está endemoninhado. Já a influência ou a opressão é o ato ou o efeito de oprimir ou exercer pressão sobre alguém, a fim de induzi-lo a alguma atitude contrária à vontade de Deus. Só pode ficar possessa uma pessoa que nunca teve ou perdeu o Espírito de Deus em sua vida. Para a ciência, dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo, o que também se aplica espiritualmente: "E o Espírito do Senhor se retirou de Saul, e o assombrava um espírito mau da parte do Senhor" (1 Sm 16.14). Note: quando o Espírito saiu de Saul, um espírito maligno, com a permissão de Deus, passou a agir imediatamente nele. Não há como alguém estar possuído pelo Espírito Santo e por espíritos malignos, ao mesmo tempo (Jo 8.49; 1 Jo 4.4). O que pode ocorrer é uma pessoa que tem o Espírito ser oprimida, influenciada por demônios, induzida ao erro. Não foi o que aconteceu com Pedro? Depois de ele ter feito uma importante declaração, o Diabo, por influência, o induziu a dar a Jesus um conselho nada condizente com a vontade de Deus (Mt 16.16,22,23). Um cristão autêntico, se não vigiar, pode até sofrer opressão, influência, mas não ficar possesso por demônios, a menos que se desvie do Senhor, tornando-se um ímpio, maldizente, desviado, soberbo, desobediente à Palavra, etc. Em resumo, só podem ser possuídas por demônios pessoas que ainda não foram salvas por Jesus Cristo ou os crentes que apostatam da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios (1 Tm 4.1). NÃO DIZ QUE... OS DESOBEDIENTES TÊM O ESPÍRITO SANTO Pode um crente de verdade não ser possuído pelo Espírito Santo? Não! Todos os crentes sinceros são moradas do Consolador (Ef 1.13; 1 Co 6.19,20). Nesse caso, o coração das pessoas não-salvas sempre estará ocupado pelos representantes do mau (Lc 11.21,22). "E quanto aos membros da igreja da maioria? Eles não estão recebendo também o batismo no Espírito Santo? Eles são até chamados de carismáticos!" — alguém argumentará. Mas, à luz da Palavra de Deus, é impossível pessoas que não nasceram de novo nem obedecem à Bíblia receberem essa dádiva do alto, haja vista terem ainda Maria como mediadora, sendo que Jesus é o único Mediador entre Deus e os homens (1 Tm 2.5)!

O batismo no Espírito Santo, na verdade, acompanha a salvação e é reservado aos verdadeiramente libertos. Por isso, o Senhor Jesus disse: "O Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece (...) estará em vós" (Jo 14.17). E, em Atos 5.32, está escrito que o Espírito Santo é dado somente àqueles que obedecem a Deus. NÃO DIZ QUE... A SUNAMITA FEZ CONFISSÃO POSITIVA Para os seguidores do movimento triunfalista denominado confissão positiva, a mulher de Suném, ao declarar — diante de circunstâncias adversas — que tudo estava bem, teria usado o poder de suas próprias palavras para obter uma grande vitória (2 Rs 4.26). Afinal, se assim não ocorrera, segundo eles, teria sido da parte dela uma insanidade responder Fonte: http://www.ebdareiabranca.com/2011/3trimestre/sumario.htm