A intervenção diante do Bullying

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 1 00 A INTERVENÇÃO DIANTE DO BULLYING : PUNIR É A SOLUÇÃO? Jordana Wruck Timm 1  Eixo-temático: Psicopedagog ia e Educação RESUMO O presente artigo tem como objetivo estudar o fenômeno do bullying  a partir de uma revisão  bibliográfica realizad a sobre o tema. Bus cou-se melhor compree ender onde e c omo ocorem os conflitos, além de tratar de aspectos relacionados à punição dos agressores e de possíveis estratégias que possam contribuir para a amenizar o problema. A revisão teórica realizada  privilegiou autores pioneiros no assunto e que muito contribuiram sobre o desenvolvimen to infantil. Frente aos aspectos apresentados e discutidos, destaca-se a importância de realizar um trabalho em equipe, envolvendo escola, família e alunos envolvidos. Além disso, reforça- se a importância do psicopeda gogo com o facilitador da pacificação, d a inclusão e da aprendizagem. Palavras-chave:  Bullying ; Inclusão; Aprendizagem; Psicopedagog ia.  Introdução Sabe-se que os principais objetivos do processo pedagóg ico é o ensinar e o aprender. E é importante recordar que, antigamente, o professor era considerado detentor da verdade e, o aluno visto apenas como depositário de informações. Sabe-se que na evolução histórica educacional avanços foram feitos em termos pedagógicos. Atualmente há uma docência  preocupada e m novas metodolog ias do aprender e do en sinar, mas a violência é uma realidade social que se alastra por todas as cidades e, inevitavelmente, adentra nos ambientes educacionais provocando medo e evasão escolar. Com isto, nota-se o constante crescimento do bullying  e as angústias de quem o  presencia, mas não sabe que atitude tomar e acaba por acreditar que a punição resolve os referidos incidentes, por isto, levantou-se as seguintes questões como problema de pesquisa: Diante do bullying , de quem é o papel de intervir para a pacificação? A punição poderia contribuir em algo? Quais seriam as estratégias mais adequadas a serem tomadas? 1  Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional pelo Instituto Educar Brasil, cursa disciplina isolada no mestrado em Educação da PUCRS. E-mail:  [email protected] 

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A INTERVENÇÃO DIANTE DO  BULLYING: PUNIR É A SOLUÇÃO?

Jordana Wruck Timm1 Eixo-temático: Psicopedagogia e Educação

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo estudar o fenômeno do bullying a partir de uma revisãobibliográfica realizada sobre o tema. Buscou-se melhor compreeender onde e como ocorem osconflitos, além de tratar de aspectos relacionados à punição dos agressores e de possíveisestratégias que possam contribuir para a amenizar o problema. A revisão teórica realizadaprivilegiou autores pioneiros no assunto e que muito contribuiram sobre o desenvolvimentoinfantil. Frente aos aspectos apresentados e discutidos, destaca-se a importância de realizarum trabalho em equipe, envolvendo escola, família e alunos envolvidos. Além disso, reforça-se a importância do psicopedagogo como facilitador da pacificação, da inclusão e daaprendizagem.

Palavras-chave: Bullying; Inclusão; Aprendizagem; Psicopedagogia. 

Introdução

Sabe-se que os principais objetivos do processo pedagógico é o ensinar e o aprender. E

é importante recordar que, antigamente, o professor era considerado detentor da verdade e, o

aluno visto apenas como depositário de informações. Sabe-se que na evolução histórica

educacional avanços foram feitos em termos pedagógicos. Atualmente há uma docência

preocupada em novas metodologias do aprender e do ensinar, mas a violência é uma realidade

social que se alastra por todas as cidades e, inevitavelmente, adentra nos ambientes

educacionais provocando medo e evasão escolar.

Com isto, nota-se o constante crescimento do bullying e as angústias de quem o

presencia, mas não sabe que atitude tomar e acaba por acreditar que a punição resolve os

referidos incidentes, por isto, levantou-se as seguintes questões como problema de pesquisa:

Diante do bullying, de quem é o papel de intervir para a pacificação? A punição poderia

contribuir em algo? Quais seriam as estratégias mais adequadas a serem tomadas?

1 Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional pelo Instituto Educar Brasil, cursa disciplina isolada no

mestrado em Educação da PUCRS.E-mail:  [email protected] 

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O presente artigo tem o objetivo de estudar o fenômeno do bullying, procurando

melhor compreender onde e como ocorrem os conflitos, além de abordar a questão da punição

aos agressores e buscar estratégias que possam contribuir para a prevenção e /ou amenizaçãodos problemas. Entende-se o bullying como atos cruéis e repetitivos entre pares, com isto

alerta-se para a não estereotipação e a inserção social de todos, refletindo sobre os papéis das

pessoas envolvidas, buscando entender a necessidade de um trabalho em equipe, baseado,

sobretudo nos preceitos éticos e morais.

Para a escrita deste, será ressaltado o papel do psicopedagogo diante do fenômeno

abordado, através de revisão bibliográfica, com a qual se procurou embasar científicamente o

exposto. Para tal, buscou-se teóricos pioneiros no assunto, com formações nas áreas afins.Convém utilizar as teorias de Winnicott que muito contribui a respeito da psique infantil, de

Vigotski e Bronfenbrenner que defendem o desenvolvimento a partir da interação com o meio

e de Piaget que acredita que o desenvolvimento é construído a partir das aquisições com o

meio onde está inserido, também é importante citar os recentes achados a respeito do assunto,

pesquisando obras de Haber e Glatzer, Beaudoin e Taylor, Shapiro e Jankowski, que

dedicaram-se a escrita direta sobre o fenômeno, entre outros autores que venham a contribuir

para a escrita deste. Ressalta-se que se guiará, também, em pesquisas realizadas para a

monografia escrita pela própria autora, para obtenção do título de psicopedagoga.

Segundo Coles (1998, p. 28): “Nada é mais importante do que o modo como nos

comportamos, como agimos uns com os outros”, entende-se que são as ações para com o

próximo que estabelecem a inserção social e por isso, percebe-se a importâcia de uma boa

convivência e para tanto um aprofundamento nos estudos é de grande relevância e é o que

 justifica a escrita deste, pois pensa-se em deixar um mundo melhor para o futuro, porém para

tanto, há a necessidade de deixar pessoas melhores, para assim conseguir alcançar o esperado.

Pretende-se contribuir neste sentido com a escrita deste.

Um problema de todos e que está em todos os lugares

Segundo Aranha e Martins (1998, p. 186) “existe violência quando alguém

voluntariamente faz uso da força para obrigar uma pessoa ou grupo a agir de acordo com sua

própria intenção, ou, ainda, quando priva alguém de um bem”. A violência expressa no

fenômeno bullying é assim caracterizada, e também, pela repetição das agressões entre pares.

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Sabe-se que o bullying faz-se constantemente presente na realidade social. A esse

respeito, Timm (2010, p. 47) defende:

Acredita-se que o bullying não ocorre em todas as instâncias da sociedade,mas na maioria. Ele é um problema grave que ocorre cada vez com maior constânciae precisa-se ter em mente que é necessário uma unidade educacional (escola efamília), a fim de amenizá-lo e/ou preveni-lo, pois o mesmo dificulta a inclusão dosenvolvidos no meio social e consequentemente influencia na aprendizagem.

Além disso, o bullying não escolhe lugar para acontecer, sabe-se que os motivos que

levam os agressores a escolherem seus alvos são muitos, mas nenhum justifica tal

comportamento. Apesar do fenômeno ocorrer em qualquer instância, com qualquer pessoa, o

simples fato da opção sexual, religiosa, aparência física, da classe social e racial são motivos

para as mentes psicopatas agirem.

A respeito dos locais onde podem ocorrer o bullying, Haber e Glatzer (2009) relatam

que ao contrário do que muitos pensam, as agressões entre pares ocorrem também no recreio,

mas não é o único lugar, eles escrevem que os abusos podem ocorrer também na escola, no

desporto e no lazer/férias, e que o fenômeno não pode ser analisado como simples

“briguinhas”. Para este, será mais utilizada a escrita dos autores referentes ao desporto.

Haber e Glatzer (2009) escrevem a respeito das agressões no desporto e defendem a

importância da participação das crianças em modalidades desportivas, mas as classificam em

duas modalidades: jogo limpo e jogo sujo. Compreende-se jogo limpo, os jogadores com

espírito desportivo, praticam a atividade pelo prazer que esta proporciona, ao contrário, o jogo

sujo é compreendido por aqueles que apenas jogam pela competição, não aceitam a derrota,

tornam-se agressivos, inclusive com o próprio grupo, pois querem rendimento, querem a

vitória. Eles abordam três tipos de abusos no desporto, os quais foram sintetizados por TIMM

(2010, p. 48), o primeiro refere-se aos abusos físicos, o segundo aos abusos relacionais e o

terceiro aos abusos verbais. Para cada tipo de abuso, classificam-se em agressão branda,

moderada ou grave:

a)  abuso físico- Brando: cabeçadas, toalhadas, atirar objetos emoutrém, roubar (roupas, equipamentos). Moderado: pregar rasteiras, atirar a bolacontra outrém com a intenção de magoar. Grave: estragar, destruir propriedade,violência física para infligir dor;

b)  abuso relacional- Brando: provocar um indivíduo, comentários

críticos, criar intrigas, olhares maldosos e isolamento. Moderado: exclusão por maisde uma vez, envergonhar outrém em público, ameaçar a revelar assuntos pessoais.

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Grave: calúnias, isolamento de um jogador na equipe, ou até afastamento do mesmo,utilização da internet para quaiquer destes casos; e

c)  abuso verbal- Brando: críticas durantes as brincadeiras, apreciadoresde insultos verbais. Moderado: ameaças verbais de agressão contra o indivíduo,

chamar de nomes com intenção de magoar outrém, ridicularizar. Grave: ameaçasverbais e infração, danos corporais, utilização da internet para quaisquer dos casos.

Enfatiza-se que desporto, competição e agressão estão muito ligados, mas que

compete ao professor mediar tal momento, pois sabe-se que muitos pensam na vitória, e

quando acontece a derrota tornam-se agressivos, por isso a importância de um mediador,

capaz de mostrar que o desporto traz atividades competitivas, mas que nem sempre se ganha,

mas o mais importante é pensar no prazer que as atividades e os momentos proporcionam.

Em relação ao bullying, convém lembrar as consequências que estas “briguinhas” que

muitas vezes parecem inofensivas, podem causar, enfatizando os transtornos terríveis para a

vida de quem está envolvido, estas agressões podem vir pela intimidação, agressão física,

psicológica, virtual, enfim, e são estas agressões que podem excluir um indíviduo não apenas

de atividades, mas bem dizer de sua “própria vida”, pois o abalo emocional é tão forte, ao

ponto de causar repetência escolar, evasão, isolamento social, ou seja, dificuldades na

aprendizagem, o que por lei é direito de todos, mas ofuscado mediante o envolvimento em

agressões.Acredita-se que apenas com um trabalho em equipe (família, escola, estudante e o

psicopedagogo) seja possivel encontrar meios para entender e resolver tal problema. Quando

escreve-se resolver, tem-se em mente que o bullying é um fenômeno que sempre existiu e que

não deixará de existir, porém leva-se em conta meios para sua prevenção e/ou amenização, o

que de fato já garante vários resultados positivos.

Neste sentido, precisa-se urgentemente encontrar meios eficazes de controle, e um

deles já é conhecido: o diálogo. Este se for constante desde a infância, e se for permeado pelorespeito, pelo afeto, trará grandes resultados, as crianças precisam sentir-se seguras,

encorajadas a conversarem e desabafarem mediante qualquer problema, garantindo assim uma

maior autonomia, tornando-se mais “forte”, evitando seu envolvimento com agressões, e caso

estas venham ocorrer, pela confiança que sente, provavelmente será capaz de desabafar e dos

seus responsáveis tomarem alguma atitude visando a pacificação.

Segundo Winnicott (1987, p. 89), “de todas as tendências humanas, a agressividade,

em especial, é escondida, disfarçada, desviada, atribuída a agentes externos, e quando se

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manifesta é sempre uma tarefa difícil identificar suas origens”. Para tanto, salienta-se que o

psicopedagogo apresenta papel relevante diante do bullying, a ele compete investigar

possíveis envolvimentos com o fenômeno e buscar estratégias de prevenção e amenização deconflitos a serem aplicadas, porém, é importante apontar que sozinho, este não conseguirá

grandes resultados, iniciando que o mesmo não estando presente no dia a dia da criança não

conseguirá se quer imaginar a presença do fenômeno. Por isso a importância de um olhar

atento dos pais e da escola, bem como, a participação dos mesmos na aplicação das estratégias

sugeridas pelo psicopedagogo.

Em suma, o psicopedagogo é essencial no ambiente escolar, o qual pode ser

considerado o profissional mais adequado para encontar estratégias, porém sem o auxílio detodos os envolvidos de nada valerá seus esforços, além dos demais atentarem-se as

ocorrências, também precisam dar credibilidade às atividades impostas e/ou sugeridas, pois

caso contrário, poderá não surtir os efeitos desejados, como pode-se observar na maioria das

vezes.

Punir é a solução?

Diante de atividades que a sociedade e a realidade oferece, por mais que exista a

intensão de oferecer uma experiência positiva para os indivíduos que a praticam, nem sempre

estas assim são. É importante atentar-se e escutar as crianças, muitas vezes estas se queixam,

ficam desanimadas. É fundamental ter em mente que nem sempre o que parece bom,

realmente é, e para o desenvolvimento integral da criança, é preciso que esta vivencie

momentos bons para ela. Um exemplo, são os passeios promovidos pela escola. Estes tendem

a ser ótimos , onde geralmente as crianças aproveitam muito, porém uma criança que esteja

sendo vitimada não se sentirá bem naquele lugar, pois teme receber as agressões e estar

distante de alguém que lhe ofereça segurança.

Então, será que punir é a melhor solução? Muitas vezes, um adulto ao presenciar uma

agressão, pode tender a agir por impulso, excluindo os agressores de tal atividade, acreditando

que esta seja a solução para tudo, quando na verdade não é, inclusive assim de imediato, só

viria a piorar.

Segundo Lindzey, Hall e Thompson (apud SALABERRÍA e FERNÁNDEZ-

MONTALVO, 2003, p. 296):

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Castigar frequentemente a uma criança por ser agressiva não é um sistemaeficaz para reduzir a agressão, já que o castigo é em si mesmo um ato agressivo. As

crianças que são castigadas com frequência aprendem a ser agressivos. Se nãomostram as agressões aos seus pais, podem deslocá-la a outras crianças mais frágeis,a irmãos menores, a animais ou aos jogos.

Neste sentido, Timm (2010, p. 50) acredita e defende:

O ideal é criar ambientes de debates, e sempre ouvir tudo o que umaluno/filho falar e investigar, observar para tomar as devidas providências. Em casode agressores, punir excluindo-os não é a forma mais correta de lidar com os fatos,pois o mesmo deixará de agredir naquele momento/lugar, mas continuará fazendoem outros, talvez com mais intensidade, como método de vingar-se por ter sidopunido.

Mas por vezes, a punição pode ser uma atitude aceitável, quando os diálogosnão resolvem mais, as orientações não surtem efeitos, enfim, são necessários fazeracordos, para caso não seja respeitado o mesmo, venha alguma consequência paraeste ato.

O que se pretende mostrar é que a punição só será válida mediante acordos.

Geralmente, a melhor alternativa não é no ato da conduta agressiva punir o responsável, se até

então não conversou-se a respeito, por isso ressalta-se a importância de um trabalho de

prevenção, dialogando, estabelecendo limites, estabelecendo acordos, etc.. Assim, punirmediante as “quebras” dos combinados, sempre levando em conta, que as ações emitidas pelo

agressor possuem capacidades, além de intimidar e excluir, privar suas vítimas da

aprendizagem. Por isso não pode-se correr riscos, perder tempo, é preciso uma atitude correta,

visando o bem estar de todos.

Educar no respeito: combatendo a cultura agressiva, promovendo a inclusão e a

aprendizagem

Acredita-se que a cultura agressiva perpetua por tantos anos e cada vez com maior

intensidade e frequência, devido as mudanças ocorridas na sociedade, em relação a

industrialização, os pais precisam trabalhar e muitas vezes ficam sem tempo suficiente para os

filhos e o pouco tempo que possuem não são bem administrados, julgam ser papel da escola,

esta envolvida em passar os conteúdos curriculares e cumprir com a carga horária imposta,

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 julgam ser papel da família, acreditam que a criança já deve vir educada para a escola, porém

a grande verdade, é que o papel de educar é de ambos.

Neste sentido Outeiral e Cerezer (2005, p. 3) enfatizam:

A falta de „limites‟ na adolescência é consequência, em maior ou menorgrau, de dificuldades dos adultos, pois nenhuma criança nasce com a noção delimites. Essa noção se desenvolve em um longo processo de identificação da criançae do adolescente com seus pais, inicialmente, e, depois, com os adultos que asociedade disponibiliza como professores, artistas, desportistas, políticos etc.

Inicialmente quem precisa oferecer a base é a família, pois esta é a primeira “escola”

de todo ser, os valores, como a ética, a moral, o respeito, devem ser ensinados desde a

primeira infância e a escola e a sociedade devem vir complementar tal formação.

Aranha e Martins (1998, p. 117) escrevem que “os valores não são coisas, mas

resultam das relações que os seres humanos estabelecem entre si e com o mundo em que

vivem”. Neste sentido, convém recordar que os adultos são o espelho das crianças, precisa

haver uma troca constante, ensinar por meio de palavras e gestos, formando o

desenvolvimento do ser em sua totalidade, como escreve Vigotski (2002, p. 105), “[...] o

processo de aprendizado está completa e inseparavelmente misturado com o processo de

desenvolvimento”, assim, compreende-se que ensinar valores que contribuam para o

desenvolvimento moral da criança, contribuirá para a mesma aprender com maior eficácia os

demais conteúdos, tendo em vista que uma criança educada moralmente, provavelmente não

se envolverá em agressões, possuindo tempo para aprender.

Piaget (1977, p. 173) defende que “[...] o sentimento de justiça, embora podendo,

naturalmente ser reforçado pelos preceitos e exemplo prático do adulto, é, em boa parte,

independente destas influências e não requer, para se desenvolver, senão o respeito mútuo e a

solidariedade entre as crianças”. Os valores devem ser ensinados não só em palavras, mas,

principalmente, nos gestos, esta cultura de valores tem importância para uma vida inteira,

formando a criança para viver pacificamente, conseguindo conviver e consequentemente

aprender.

  Neste sentido, Bronfenbrenner (1996, p. 5) escreve: “a capacidade de uma criança

aprender a ler nas séries elementares pode depender tanto de como ela é ensinada quanto da

existência e natureza de laços entre a escola e a família”, ou seja, conclui-se que o respeito, a

ética, a moral e os vínculos exercem função fundamental para o ensino e aprendizagem.

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Juntos em busca de estratégias

Até pouco tempo, acreditava-se que antes de pensar em intervenção, precisava-se terclaro a presença do fenômeno na realidade. Porém, atualmente, não existe a necessidade de

esperar o fenômeno se fazer presente, é importante preveni-lo para isto não chegar a acontecer

e claro se ele realmente for uma realidade, é preciso encontrar estratégias para sua

amenização.

Quando escreve-se sobre estratégias, estas devem ser pensadas em equipe (pais,

escola, psicopedagogos e até os alunos), é importante estabelecer diálogos, a fim de levantar

idéias que possam surtir efeitos.Cabe aqui, ressaltar um exemplo descrito por Shapiro e Jankowski (2008): um menino

de seis anos, mantinha um comportamento aterrorizante diante da irmã, sempre era posto de

castigo, lhe eram privados jogos, televisão, enfim, seus interesses, porém não surtia efeitos,

pois o menino continuava com o mesmo comportamento, certo dia ele conversou com o pai,

na tentativa de negociação, ao invés de ser posto a ficar parado, sem fazer nada por um

determinado tempo, que lhe coloca-se a cumprir alguma atividade, como organizar seu quarto,

por exemplo, e só poderia sair de seu castigo, quando a tarefa estivesse concluida, o pai

acatou a idéia, pois a achou pertinente. Porém, quando a mãe chegou ao lar e soube da

negociação, informou ao pai que havia sido trapaceado, pois ela havia limpado e organizado o

quarto dele naquele dia. Enfim, mesmo que neste caso tenha ocorrido a situação do trapace, a

idéia é pertinente, principalmente pelo fato da negociação, da conversa que tiveram.

Shapiro e Jankowski (2008) criaram uma técnica chamada N.I.C.E., é um sistema para

saber lidar com os tiranos, mas sem se tornar um deles, abaixo o significado da sigla e o

funcionamento da técnica resumida por Timm (2010, p. 54-55):

a)  Neutralize as emoções, é necessário manter o controle paraencontrar soluções para lidar com os problemas.

b)  Identifique as pessoas com quem está lidando, existem três tipos depessoas difíceis, há aquelas que são difíceis em situação de estresse (só se irritamquando algo de errado acontece), há as pessoas estratégicamente difíceis (vêmvantagem, é uma estratégia eficaz para se obter o que deseja) e a ainda aquelas quesão simplesmente difíceis (já nascem difíceis, sentem prazer em ser desta maneira,se submetem a qualquer situação contanto que atinjam a quem não gostam).

c)  Controle o confronto, após conhecer o tipo de pessoa com quem estálidando, fica mais fácil utilizar técnicas que possam contornar a situação, havendo

negociação. E por último.

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d)  Explore todas as possibilidades, mesmo após o confronto, podemocorrer casos, para tanto é importante finalizar as discussões sem agravá-las, assimterá uma porta aberta para novas negociações.

É necessária que esta técnica seja trabalhada primeiro nos profissionais envolvidos,

para que estes saibam utilizar com os alunos, não adianta alunos neutralizando sua emoções,

se o professor, está ansioso, estressado...

Descreve-se um projeto apresentado por Beaudoin e Taylor (2006), onde abordam a

questão do lidar com o desrespeito e o bullying em sala de aula, são dinâmicas que poderão

ser praticadas na escola. Neste as autoras escrevem de um projeto com alunos das séries

iniciais, que passa pelas seguintes etapas:

a)  a exteriorização do problema: após estabelecer vínculos, introduzir um jogo de

  perguntas e respostas a cerca do “bicho que irrita” (nome dado ao projeto) e permitir sua

exteriorização, ao deixar as crianças o desenharem da maneira que o imaginam, criando um

slogan e o expondo-o a turma. Para encerrar esta parte, estimula-se as crianças a resistir os

insultos provocados pelo “bicho”. 

b)  construindo sucessos: inicia-se questionando se conseguiram resistir ao menos

uma vez ao “bicho‟, podendo expor aos demais a situação, mas sem citar nomes, deve-se

anotar cada vez que poderia ter faltado com respeito, mas que soube controlar-se, deve-se

supervisionar as anotações, não para julgar, mas para ver o entendimento sobre o assunto, se

está guiando-se pelo rumo certo e analisando se ao controlar-se diante do outro, não utiliza da

raiva contra si próprio, o que também não pode ocorrer. Tais exposições aumentam o número

de táticas usadas, para que outros possam aprender ferramentas novas de evitar confrontos,

então sugere-se a turma formar uma equipe contra o “bicho que irrita”, com criação de

bandeira e frase, e após, relatar a experiência da vida em equipe. As respostas negativas,

devem ser investigadas. Após a equipe começa investigar adultos sobre o tema e relatar asnovas descobertas.

Questionar a diferença da turma em companhia do “bicho” e sem sua presença,

detalhando características. Preparar para a escrita de poemas sobre, auxiliando com perguntas,

após cada um escolhe um verso do poema escrito e a professora monta o poema da equipe.

Após, define-se observadores, onde os próprios alunos deverão acompanhar disfarçadamente,

e escrever bilhete anunciando que viu o colega evitando o “bicho” e parabenizando-o por isto,

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os bilhetes serão entregues a professora, esta só entregará aos alunos, quando todos estiverem

ao menos um a receber, os mesmos poderão ser expostos a toda turma.

c)  a celebração do conhecimento e da habilidade: recorda-se as evoluções obtidaspela turma, lê-se os bilhetes em que constam os devidos progressos diante da evitação aos

conflitos, prepara-se uma apresentação contra o “bicho que irrita” para pais e escola, onde

confeccionam-se os convites, bem como é feita gravação do espetáculo. Assiste-se o vídeo e

confecciona-se certificados. Escreve-se as histórias e voluntariamente, lê-se para a turma.

O projeto apresenta várias dinâmicas, que poderão evidenciar boas atitudes, foram

muito bem elaboradas e realmente podem fazer a diferença dentro de uma sala de aula, são

maneiras práticas e bem eficientes de envolver toda a turma a identificar o problema e tentarfazer algo para mudar a realidade e podendo conviver em um ambiente respeitoso, sem contar

que podem-se desabafar sem necessariamente se expor, usando de uma atividade prazerosa,

mas com efeitos benéficos para si. Com esta aproximação, gera-se espaço a inclusão de todos,

o desrespeito começa a ser uma atitude desconsiderável e com esta abertura, tem-se uma

maior probabilidade de aprendizagem.

Finalizando, esta abertura para desabafar, o diálogo e o respeito são a base de uma boa

educação. Em casa deve-se estabelecer normas (quanto ao uso de palavrões, por exemplo, do

modo como trata-se as pessoas, enfim), impor limites, sem abusar da autoridade, mas saber

dosar. Assim, também na escola, regras (como horários, respeito aos colegas e professora,

entregar as tarefas). Em ambos os casos, é importante estabelecer que cada regra violada,

alguma consequência virá, assim, o castigo não será cumprido com raiva, pois foi a escolha da

criança “quebrar” o combinado, ela já esperava por tal situação. Importante lembrar que

depois de combinado não deve-se voltar atrás, do tipo, a criança viola uma das normas e o

responsável deixa passar em branco, pois assim ela verá que pode fazer o que quiser e nada

lhe acontecerá. Conclui-se que uma melhor intervenção frente ao bullying pode ser realizada,

mediante a contribuição dos envolvidos com busca de orientação e estratégias para prevenção

e amenização do fenômeno, ou seja, família, escola, estudante e psicopedagogo.

Considerações Finais

Primeiramente, esclarece-se que a pesquisa possibilitou muitos conhecimentos acerca

do assunto, bem como serviu para instigar a busca por estratégias que possam auxiliar nos

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conflitos (prevenção/amenização), o que será o próximo tema de pesquisa, visando a inclusão

e a aprendizagem.

Determinadas ações ocorrem em praticamente todos os lugares, muitas vezes de formaimperceptível, o que dificulta uma possível ação, por isso atenta-se para uma educação de

valores, o que tornaria possível a prevenção, o que considera-se mais importante. O trabalho

de pacificação deve envolver a tríade responsável pelo processo educacional: família, escola e

estudante, sendo impossível atribuir a culpa a apenas um dos elementos citados, assim como,

atenta-se ao papel do psicopedagogo que tem muito a contribuir.

Constata-se que para amenização ou prevenção do bullying, a melhor atitude a ser

tomada é o diálogo, bem como, neste transmitir uma cultura de valores, onde o respeito possaser considerado a principal “chave” para a pacificação, onde inclui-se a todos e garante o

aprendizado aos envolvidos, que é direito de todos, mas violados pela falta do respeito dos

agressores para com as vítimas e pela falta de conhecimentos dos pais e professores sobre o

assunto, que muitas vezes não percebem os fatos e/ou não sabem o que fazer diante do

mesmo.

Em caráter conclusivo, ressalta-se a importância do trabalho em equipe, além de

pensar na qualificação profissional e pessoal. Acredita-se que profissionais que estejam

capacitados podem desenvolver suas atividades de forma mais produtiva e eficiente, em prol

do ensino e aprendizagem, gerada em ambientes pacíficos, assim como envolver os familiares

e responsáveis em cursos e oficinas para deixarem preparados e atentos também, em possíveis

ações que as vítimas e/ou agressores possam apresentar em casa, pensa-se que é importante

também envolver as crianças e/ou adolescentes em palestras, estimulando-os a conviverem

pacificamente.

Cabe salientar que estas qualificações, cursos, palestras e oficinas, podem ser

desenvolvidas pelo psicopedagogo, pois este apresenta fundamental importância diante do

fenômeno, podendo atentar aos demais profissionais e responsáveis, aos comportamentos a

serem observados, a alertar sobre as consequências e auxiliar na busca de estratégias

preventivas e amenizadoras de conflito.

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