A Indústria Brasileira No Caminho Da Sustentabilidade

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    ENCONTRO DA INDÚSTRIA PARA A SUSTENTABILIDADE

     A INDÚSTRIA BRASILEIRANO CAMINHO DASUSTENTABILIDADE

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    CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNI

    PRESIDENTERobson Braga de Andrade

    1º VICE-PRESIDENTEPaulo Antonio Skaf

    2º VICE-PRESIDENTE Antônio Carlos da Silva

    3º VICE-PRESIDENTEFlavio José Cavalcanti de Azevedo

    VICE-PRESIDENTESPaulo Gilberto Fernandes Tigre Alcantaro CorrêaJosé de Freitas MascarenhasEduardo Eugenio Gouvêa VieiraRodrigo Costa da Rocha LouresRoberto Proença de MacêdoJorge Wicks Côrte RealJosé Conrado Azevedo SantosMauro Mendes Ferreira

    Lucas Izoton VieiraEduardo Prado de Oliveira Antônio José de Moraes Souza

    1º DIRETOR FINANCEIROFrancisco de Assis Benevides Gadelha

    2º DIRETOR FINANCEIROJoão Francisco Salomão

    3º DIRETOR FINANCEIROSérgio Marcolino Longen

    1º DIRETOR SECRETÁRIOPaulo Afonso Ferreira

    2º DIRETOR SECRETÁRIOJosé Carlos Lyra de Andrade

    3º DIRETOR SECRETÁRIO Antonio Rocha da Silva

    DIRETORES Alexandre Herculano Coelhode Souza FurlanOlavo Machado JúniorDenis Roberto BaúEdílson Baldez das NevesJorge Parente Frota JúniorJoaquim Gomes da Costa FilhoEduardo Machado Silva

    Telma Lucia de Azevedo GurgelRivaldo Fernandes NevesGlauco José CôrteCarlos Mariani BittencourtRoberto Cavalcanti Ribeiro Amaro Sales de AraújoSergio Rogerio de CastroJulio augusto miranda filho

    CONSELHO FISCALTITULARESJoão Oliveira de AlbuquerqueJosé da Silva Nogueira FilhoCarlos Salustiano de Sousa Coelho

    SUPLENTESCélio Batista AlvesHaroldo Pinto PereiraFrancisco de Sales Alencar

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    A INDÚSTRIA BRASILEIRA NO CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE

    BRASÍLIA

    2012

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    © 2012. CNI – Confederação Nacional da IndústriaQualquer parte desta obra poderá ser reproduzida, desde que citada a fonte.

    CNIConfederação Nacional da Indústria

    SedeSetor Bancário NorteQuadra 1 – Bloco CEdifício Roberto Simonsen70040-903 – Brasília – DFTel.: (61) 3317-9000Fax: (61) 3317-9994

    www.cni.org.br

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    C748i

      Confederação Nacional da Indústria.

      A Indústria Brasileira no Caminho da Sustentabilidade / ConfederaçãoNacional da Indústria. – Brasília : CNI, 2012.

      47 p. (Cadernos setoriais Rio +20)

      1. Sustentabilidade 2. Conferência das Nações Unidas sobreDesenvolvimento Sustentável I. Título II. Série

    CDU: 502.14 (063)

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    LISTA DE FIGURAS

    Gráfico 1. Matriz energética brasileira ..................................................................... 21

    Gráfico 2. Matriz Eletroenergética Brasileira ........................................................... 21

    Gráfico 3. Comparativo da Produção (Cana de Açúcar X Etanol) ......................... 22

    Gráfico 4. Previsão de produção nacional de gás naturala partir de recursos descobertos (reservas e contingentes) ................. 23

    Gráfico 5. Estoque de carbono (em milhões de ton) .............................................. 24

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    SUMÁRIO

     Apresentação

    1 Introdução ............................................................................................................. 11

    2 A indústria brasileira frente à agenda da Rio+20 ................................................ 13

    2.1 Desenvolvimento sustentável: produção econsumo sustentáveis no eixo das políticas globais ................................. 14

    2.2 A questão da governança global ................................................................ 15

    3 Desenvolvimento sustentável: oportunidades para a indústria brasileira .......... 19

    3.1 Matriz energética, florestas, biodiversidade e água:ativos brasileiros para o desenvolvimento sustentável .............................. 20

    3.1.1 A matriz energética brasileira ......................................................... 20

    3.1.2 Florestas ......................................................................................... 24

    3.1.3 Biodiversidade ................................................................................ 25

    3.1.4 Água ............................................................................................... 26

    3.2 As oportunidades para a indústria brasileira .............................................. 26

    4 O que a indústria precisa para aproveitar as oportunidades? ............................ 35

    5 Compromissos do Sistema Indústriacom o fomento da produção sustentável ............................................................ 43

    Referências ................................................................................................................ 47

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     APRESENTAÇÃO

     A agenda do desenvolvimento sustentável apresenta grandes desafios e numerosasoportunidades para o Brasil. Dotado de uma indústria diversificada e sofisticada, opaís conta com uma combinação de recursos naturais que o coloca em posiçãoprivilegiada para lidar com as tarefas e aproveitar as chances decorrentes da sus-tentabilidade. Os desafios à sociedade estão postos também ao setor industrial,que está totalmente engajado em iniciativas conjuntas para a busca de soluções.

     A Rio+20 proporciona uma ampla reflexão sobre a estratégia brasileira para lidarcom os temas dessa agenda. Os temas “Economia verde no contexto do desen-

    volvimento sustentável e da erradicação da pobreza” e “Estrutura institucional parao desenvolvimento sustentável” estão no centro das discussões no Rio de Janeiro.Maior representante do setor industrial brasileiro, a Confederação Nacional da In-dústria (CNI) propõe um conjunto de ideias sobre como desenvolver o Brasil respei-tando o meio ambiente.

     A criação de condições que permitam elevar a competitividade da indústria, pormeio do aumento da eficiência no uso de recursos e da qualificação na relaçãocom todas as partes interessadas no negócio, é nosso objetivo primeiro. A contínuacompatibilização desse objetivo com os requisitos da sustentabilidade é o nossodesafio atual e futuro.

    Os esforços devem estar centrados em manter vivo o espírito de negociação e co-operação. A CNI espera que alcancemos a definição de conceitos e mecanismosclaros, que promovam o equilíbrio das três dimensões clássicas do desenvolvimen-to sustentável – crescimento econômico, erradicação da pobreza e conservação domeio ambiente –, considerando ainda a dimensão cultural. É fundamental a buscade equilíbrio entre elas, sem sacrificar qualquer uma em detrimento das demais.

     As transformações requeridas por um padrão de desenvolvimento sustentável de-pendem de investimentos públicos e privados, sobretudo em inovação e em tecnolo-gias produtivas mais limpas, além de métodos inovadores na gestão dos negócios.

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     A indústria brasileira já está fazendo o seu papel ao investir em novas tecnologias eaprimorar seus processos produtivos, buscando combinar ganhos de produtividadecom geração de empregos e eficiência no uso dos recursos. A segunda parte destedocumento é rica em exemplos concretos de tais avanços.

    Para aprofundar sua contribuição ao desenvolvimento sustentável, a indústria preci-sa contar com ambientes regulatórios e institucionais favoráveis às transformaçõesprodutivas e aos investimentos requeridos. Este documento apresenta um conjuntode requisitos, no âmbito doméstico e internacional, da transição para modelos maissustentáveis de produção e consumo. A indústria brasileira tem o firme compromis-so de participar na concretização de tais condições, pois entende que a sustentabi-lidade só será possível se estiver assentada em um estreito diálogo entre governos,empresas e sociedade.

    O documento A Indútria Brasileira no Caminho da Sustentabilidade é resultadode um abrangente processo de articulação e de reflexão da CNI com federações

    estaduais de indústria e associações setoriais. O objetivo é apresentar à sociedadebrasileira, ao governo e a atores internacionais sua visão atualizada sobre a agendado desenvolvimento sustentável. Para além das ações de comunicação, os docu-mentos elaborados em parceria com 16 segmentos industriais e os debates queocorrerão no Rio de Janeiro são o reconhecimento da indústria nacional de que asustentabilidade é elemento central da estratégia de competitividade do país.

     A CNI apresenta, neste documento, um conjunto de posições e compromissos doSistema Indústria no campo da sustentabilidade. A CNI vai promover o tema dasustentabilidade em suas redes de representação e se engajar, em parceria comos governos e as organizações da sociedade civil, na construção de um ambiente

    político-institucional que crie as condições para a incorporação dos requisitos desustentabilidade na economia brasileira.

    Dessa forma, contribui na consolidação de uma economia produtiva, competitiva eque estimule o desenvolvimento com respeito ao meio ambiente.

    Robson Braga de AndradePresidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

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     A Rio+20 oferece oportunidade única para a avaliação dos avanços registrados edos desafios a serem enfrentados pela comunidade internacional e pelos diferentespaíses em seus esforços para conciliar desenvolvimento econômico e social com pro-teção ambiental.

    Desde a Rio-92, a Confederação Nacional da Indústria – CNI tem buscado estimular osetor industrial a assumir a corresponsabilidade pela gestão sustentável dos recursosnaturais, com inovação e eficiência nos processos, visando ao crescimento sustenta-do da economia sob a égide da justiça social e conservação do meio ambiente.

     A construção das posições do setor industrial para a Rio+20 é resultado da articu-lação da CNI com associações setoriais e federações estaduais da indústria. Esseprocesso representou uma oportunidade para atualizar as visões e posições da indús-tria brasileira sobre os desafios do desenvolvimento sustentável, avaliar os avançosalcançados e identificar os obstáculos a enfrentar.

    Com base neste processo, a CNI apresenta à sociedade a agenda de contribuiçãoda indústria para o desenvolvimento sustentável. É o momento para dar maior pre-cisão aos conceitos em debate, identificar mecanismos e aperfeiçoar o sistema degovernança global.

     A segunda seção desse documento apresenta a visão do setor industrial sobre ostemas que compõem a agenda da Conferência. A terceira seção apresenta os ati-vos do Brasil e as oportunidades para ao setor industrial decorrentes da agenda detransição. Os desafios dessa nova agenda são portadores de oportunidades para aindústria brasileira e tais oportunidades são destacadas nesta seção do documento. A quarta seção lista os obstáculos a serem vencidos para que a indústria possa dara sua contribuição.

    Por fim, a última seção apresenta as iniciativas em curso no Sistema Indústria para fo-mentar os esforços das empresas brasileiras em direção ao desenvolvimento sustentável.

    1 INTRODUÇÃO

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     A Rio+20 apresenta inúmeras oportunidades para o Brasil, que tem uma indústriadiversificada e sofisticada, além de um relevante parque tecnológico. A indústria bra-sileira reconhece que a agenda de desenvolvimento sustentável com inclusão sociale proteção do meio ambiente tem grande poder de transformação sobre as estruturasde produção e consumo mundiais.

    Os temas centrais da Conferência – “Economia verde no contexto do desenvolvimentosustentável e da erradicação da pobreza” e “Estrutura institucional para o desenvolvimen-to sustentável” – têm potencial para fomentar o desenvolvimento da indústria brasileira

    sustentado no tripé competitividade, inovação e responsabilidade ambiental e social.

    Em um contexto marcado pelos impasses nas agendas internacionais, o grande de-safio é manter vivo o espírito de negociação e cooperação que tem gerado, ainda quecom muitas dificuldades, compromissos de países desenvolvidos e em desenvolvi-mento no enfrentamento de desafios globais, como a erradicação da pobreza e damiséria, a mitigação da mudança climática etc.

    O QUE A INDÚSTRIA BRASILEIRA ESPERA DA RIO+20:

    • a adoção de conceitos que tenham potencial mobilizador e que reforcem oequilíbrio entre as três dimensões da sustentabilidade;

    • o aperfeiçoamento do modelo de governança global dos esforços em direçãoà sustentabilidade e a implementação efetiva de mecanismos operacionais definanciamento e transferência de tecnologia para países em desenvolvimento;

    • o avanço na definição de novas métricas e indicadores de desenvolvimentosustentável, apoiados em bases de informação consistentes e em modelosteóricos compreensivos que abarquem as três dimensões da sustentabilidade.

    2 A INDÚSTRIA BRASILEIRAFRENTE À AGENDA DA RIO+20

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    2.1 Desenvolvimento sustentável:produção e consumo sustentáveisno eixo das políticas globais

     A Rio+20 deve avançar no sentido de dotar o conceito da economia verde de conte-údo operacional. Ainda que seu grau de generalidade tenha inegável potencial mobili-zador, sua concepção e utilização devem servir para reafirmar o pacto em torno do de-senvolvimento sustentável nas suas três dimensões: econômico, social e ambiental.

    É fundamental a busca de equilíbrio entre os três tipos de objetivos. Nesse sentido, nãoé aceitável sacrificar qualquer uma das dimensões da sustentabilidade em detrimentodas demais, mas, antes, buscar mecanismos e soluções para compatibilizá-los. Em-bora tenha potencial para impulsionar os movimentos em direção ao desenvolvimento,o conceito de economia verde requer qualificações de forma a evitar o risco de pro-

    mover o desequilíbrio entre as três dimensões da sustentabilidade, produzindo novasnormas internacionais tendentes a gerar distorções em termos de competitividade.

    Neste caso, poderíamos estar diante de uma abordagem que enfatize limitações aodesenvolvimento, fragilizando o compromisso com a erradicação da pobreza. Issonão interessa ao Brasil, nem à sua indústria. No entanto, mais importante do que uminterminável debate conceitual é estabelecer metas e prazos para os compromissosjá assumidos e não implementados.

    Produção e consumo sustentáveis:referências para a indústria brasileira

    O Brasil tem uma imperiosa necessidade de desenvolver e gerar riqueza para incorpo-rar segmentos expressivos de sua população aos benefícios de um mercado de con-sumo de bens industriais. O desenvolvimento nacional impõe, assim, um crescimentodos níveis de produção e de consumo que responda aos objetivos de distribuição derenda prioritários em uma sociedade democrática.

    Cabe às empresas criar o progresso econômico e contribuir para a geração de em-pregos e renda de forma responsável e sustentável. A inclusão social de uma grande

    faixa da população dos países emergentes e em desenvolvimento, até então semacesso aos mercados de consumo de massa, será um dos principais fatores de dina-mismo da economia global nos anos que seguem.

    Esses desafios são portadores de oportunidades para a criação de novos padrõesde trabalho e emprego para fazer frente às tecnologias e inovações necessárias.São também um estímulo à absorção de profissões ainda inexistentes, cujo perfilestá sendo desenhado pelas novas demandas de produtos, bens e serviços dasociedade contemporânea.

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    Para a indústria brasileira, é fundamental a utilização da ideia de produção e con-sumo sustentáveis, nos termos do Processo de Marrakesh1, como referência pro-gramática. Esse conceito se distancia da visão que preconiza a imobilização derecursos naturais, aproximando-se de noções como manejo sustentável e ecoefici-

    ência, entre outras. Para um país como o Brasil, que dispõe de importantes ativosem recursos naturais, esta distinção é mais do que retórica: é essencial.

    2.2 A questão da governança global

    Os últimos 20 anos produziram um conjunto de compromissos e acordos internacio-nais em torno dos objetivos do desenvolvimento sustentável. Contudo, as enormese crescentes dificuldades para avançar na esfera da negociação e da cooperaçãointernacional levaram a questionamentos sobre o modelo de governança. Não é por

    outro motivo que a agenda da Rio+20 incorpora a revisão da estrutura institucionalglobal para o desenvolvimento sustentável.

     A necessidade de maior coordenação entre os esforços em curso e a busca pormaior capacidade internacional de implementação das medidas negociadas multila-teralmente estão na base das propostas de criação de uma agência de meio ambien-te no âmbito da ONU em substituição ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Há substanciais discordâncias em relação a esta proposta e, deforma mais geral, ao modelo de governança global do desenvolvimento sustentável.Isso torna a discussão sobre governança um dos maiores desafios da Rio+20.

    Um desafio global relevante, no que se refere ao modelo de governança global, en-

    volve a necessidade de criar as condições internacionais para o pleno engajamentodos países em desenvolvimento nos esforços de transição para padrões sustentáveisde produção e consumo, sem que tais esforços sejam percebidos como socialmenteinjustos e economicamente onerosos, do ponto de vista dos objetivos de desenvolvi-mento desses países.

    O compromisso deve envolver o conjunto dos países, considerando o princípio dasresponsabilidades comuns, porém diferenciadas. Ademais, precisa abarcar, neces-sariamente, todas as partes interessadas – governos e sociedade em geral, como osetor produtivo, trabalhadores, movimentos e organizações sociais.

    1 Coordenado pelo PNUMA, o Programa de 10 anos em Consumo e Produção Sustentável (CPS) – também conhecido como Processo deMarrakech - estabeleceu uma série de iniciativas que promovem padrões sustentáveis de consumo e produção alinhados com as necessi-dades de desenvolvimento social, econômico e ambiental. Entre as forças-tarefa de Implementação de Produção e Consumo Sustentável(PCSs) já criadas estão Construção Sustentável, Compras Públicas Sustentáveis, Tursimo Sustentável, Educação para um Consumo Sus-

    tentável, Cooperação com a África, Estilo de Vida Sustentável e Produtos sustentáveis.

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    Aperfeiçoamentos incrementais na governança global

    O cenário internacional desfavorece “saltos institucionais” significativos. Aperfeiçoa-mentos, entretanto, são fundamentais, devendo ter como eixo a criação de incentivos

    e a remoção de obstáculos para a transição rumo a novos padrões de produção econsumo, especialmente para os países emergentes e em desenvolvimento. Nessesentido, os acordos multilaterais já existentes devem ser considerados referenciaispara os esforços globais e para políticas domésticas nesta área.

    Peculiaridades regionais, nacionais e locais

    O combate às desigualdades sociais e econômicas deve ser gradualmente compa-tibilizado com a transição para padrões de produção e consumo sustentáveis. Esse

    processo – global por natureza – somente será bem-sucedido se as negociações einiciativas internacionais de cooperação criarem ambientes e mecanismos que esti-mulem as transformações desejáveis e incentivem a participação dos países em de-senvolvimento nesse esforço.

    Reside na inclusão social produtiva talvez a principal força econômica dos paísesem desenvolvimento. Trata-se de condição imperiosa para a emersão os países maispobres a um novo patamar de desenvolvimento. Este é o grande desafio para as atu-ais equações de produção e de consumo – incluir produtivamente, sem aumentar oimpacto sobre o meio ambiente.

    É fundamental levar em conta as peculiaridades culturais locais, regionais, nacionais e

    internacionais. As experiências de produção e consumo sustentáveis a elas associa-das devem ser incentivadas e disseminadas por meio da cooperação internacional epor meio da articulação dos diversos elos das cadeias de suprimento.

     A preservação da autonomia dos países na escolha de suas trajetórias de desenvol-vimento e de compatibilização de suas metas econômicas e sociais com objetivosambientais e climáticos desempenha um papel importante na criação de condiçõesfavoráveis ao engajamento dos países em desenvolvimento no enfrentamento dosdesafios da sustentabilidade global.

    Financiamento e transferência de tecnologias:ingredientes fundamentais

    Como resultado de uma conjuntura global preocupada com a potencial insolvênciade economias desenvolvidas e com os riscos de estagnação da economia mundial,tem-se um quadro que não incentiva a busca de mecanismos internacionais que redu-zam os custos associados à transição para um modelo econômico-social-ambientalsustentável, especialmente para países emergentes e em desenvolvimento.

    Há uma grande diversidade de instituições e mecanismos envolvidos no financiamen-

    to internacional do desenvolvimento sustentável. No entanto, o baixo grau de coorde-

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    nação e sinergia entre eles resulta em inadequação da oferta de financiamento comas necessidades e prioridades dos países emergentes e em desenvolvimento. Umesforço significativo de coordenação e de estabelecimento de parcerias entre diferen-tes agências e instituições se faz necessário.

    Os esforços de financiamento e transferência de tecnologia devem ter nos paísesdesenvolvidos seus principais doadores. De forma complementar, a cooperaçãosul-sul tem importante papel a desempenhar na oferta de tecnologias adequadasàs especificidades regionais, que levem em conta questões culturais no desenvolvi-mento de inovações que efetivamente possam ser absorvidas e operacionalizadas.Essas questões estão estreitamente inter-relacionadas, já que um dos componentescentrais da governança global deste processo é a operacionalização de transferên-cias de recursos financeiros e tecnológicos para países em desenvolvimento.

    Barreiras ao comércio: tentação a ser evitadaÉ necessário cuidado na formulação de políticas ambientais, climáticas e sociais queafetam o fluxo de mercadorias. A introdução de barreiras às importações de produtosintensivos no uso de energia, água e em emissões de gases de efeito estufa vem sen-do discutida em países desenvolvidos. Essa hipótese, se concretizada, geraria novosfocos de conflito comercial entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, semqualquer benefício palpável para o enfrentamento dos desafios ambientais e daquelesassociados à mudança do clima.

     A possibilidade de que os esforços de enfrentamento do desafio climático e ambiental

    sejam “contaminados” por conflitos comerciais, atualizando as preocupações dos pa-íses em desenvolvimento, com o “protecionismo verde” não é pequena. A questão jáentrou na agenda comercial, através de painéis de solução de controvérsias na OMC ea relação entre regime climático e ambiental, de um lado, e regime comercial e de inves-timentos, de outro, deverá merecer atenção crescente dos negociadores internacionais.

    Novas métricas e indicadores de sustentabilidade

    Um dos desafios mais relevantes na esfera global consiste no desenvolvimento de novas

    métricas que respondam às especificidades do desafio do desenvolvimento sustentável,englobando indicadores que permitam quantificar a evolução da riqueza e do desenvol-vimento, considerando os aspectos ambientais e sociais. Nesse sentido, a discussão so-bre indicadores e metas de desenvolvimento sustentável é central na agenda da Rio+20. A indústria brasileira entende que a definição de metas e de padrões de comparabilidadeentre países, setores e empresas demanda a formação de bases de dados de referênciasólidas e confiáveis que respeitem especificidades regionais e setoriais.

     A construção de indicadores e metas de desenvolvimento sustentável deve, necessa-riamente, ocorrer a partir de um diálogo estreito entre os poderes públicos, as organi-zações da sociedade civil e o setor produtivo.

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    Para a indústria brasileira, a transição para uma economia ambientalmente susten-tável e socialmente inclusiva é compatível com os objetivos de crescimento econô-mico e de melhoria das condições de competitividade. É a presença de fatores quedesestimulam os investimentos e inibem a inovação que pode colocar em oposiçãoos esforços de sustentabilidade e a busca de maior competitividade da indústria.

    O Brasil conta com uma combinação de recursos – biodiversidade, potencial degeração de energia limpa, disponibilidade de recursos hídricos, patrimônio florestalsem comparação no planeta, abundância de terras férteis, dentre outros – que o co-

    loca em posição privilegiada para desenvolver-se de forma economicamente viável,ambientalmente sustentável e com inclusão social2.

    O avanço da indústria brasileira nas questões em pauta na Rio+20 traduz o reco-nhecimento dos diferentes setores industriais de que a sustentabilidade vai-se tor-nando um fator preponderante para o sucesso dos negócios. Não se trata de lidarcom a sustentabilidade como discurso e manifestação de boas intenções, mas detê-la presente no desenvolvimento dos planos de negócios das empresas e comovariável-chave de suas estratégias de competitividade.

    2 O Painel de Alto Nível sobre Sustentabilidade Global apresentou em janeiro de 2012 seu relatório ao Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon.O Painel é composto por 22 membros e foi criado pelo Secretário-Geral em agosto de 2010 para formular um novo projeto de desenvolvi-mento sustentável e de baixo carbono. Segundo o documento, a demanda por recursos crescerá exponencialmente considerando o salto

    da população de 7 bilhões para 9 bilhões até 2040 e a inclusão de 3 bilhões de pessoas à classe média ao longo dos próximos 20 anos.

    3 DESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL: OPORTUNIDADES

    PARA A INDÚSTRIA BRASILEIRA

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    3.1 Matriz energética, florestas,biodiversidade e água: ativos brasileirospara o desenvolvimento sustentável

     A abundância de recursos naturais faz do Brasil um ator essencial na liderançado planeta no caminho do desenvolvimento sustentável. Matriz energética limpa,cobertura florestal correspondente a 60% do território nacional e uma imensa biodi-versidade são ativos que, se bem utilizados, constituem inegáveis vantagens com-parativas, em um mundo que precisa incorporar bilhões de pessoas à sociedade deconsumo. Para a indústria brasileira, esses ativos apresentam inúmeras oportunida-des e importantes desafios.

     ALGUNS ATIVOS DO BRASIL

    • quase metade da oferta energética vem de fontes renováveis;

    • área florestal correspondente a 60% do território;

    • a maior área de floresta tropical do mundo e a segunda maior extensão deflorestas do planeta;

    • o maior estoque de carbono do mundo armazenado na biomassa florestal;

    • 15% do número de espécies conhecidas pela ciência e cerca de 30% das

    florestas tropicais no mundo; e• aproximadamente 12% da disponibilidade água superficial do planeta.

    3.1.1 A matriz energética brasileira

    O Brasil possui uma matriz energética que, além de diversificada, é das mais lim-pas do mundo. O país tem a maior frota mundial de carros movidos a bicombus-

    tíveis. A geração de energia elétrica é majoritariamente hidráulica. Quase metadeda oferta energética no Brasil vem de fontes renováveis, com destaque para abioenergia e a hidroeletricidade.

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    GRÁFICO 1. MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA

    Fonte: EPE/MME, 2011.

    ENERGIA ELÉTRICA

     A matriz elétrica brasileira é particularmente limpa, refletindo principalmente a elevadaparticipação da hidrogeração no total. O gráfico a seguir apresenta a composiçãoatual da matriz eletroenergética brasileira (incluindo importações).

    GRÁFICO 2. MATRIZ ELETROENERGÉTICA BRASILEIRA

    Fonte: BIG – Banco de Informações de Geração da Aneel – abril de 2012.

    O Brasil alcançou, em 2011, um total de 99.649 km de linhas de transmissão. A otimi-zação elétrico-energética é o fator motivador de tamanha interligação, uma vez que,neste sistema, as diferentes regiões permutam energia entre si, aproveitando a diver-sidade hidrológica de um país que tem dimensões continentais.

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    BIOCOMBUSTÍVEIS (ETANOL E BIODIESEL)

    Em 2010, a produção de biocombustíveis totalizou 27,1 milhões de toneladas equi-valentes de petróleo (TEP) – 93% como etanol e 7% como biodiesel –, corresponden-tes a 542 mil barril de petróleo dia – BPD, ou seja, cerca de 27% da atual produçãonacional de petróleo, um volume considerável em termos absolutos e relativos (EPE,2011). Os produtos energéticos originários da cana-de-açúcar são responsáveis porimportante parcela da oferta primária de energia no país.

    GRÁFICO 3. COMPARATIVO DA PRODUÇÃO (CANA DE AÇÚCAR X ETANOL)

    Fonte: Luiz Horta, a pa rtir de UNICA, 2011a – Fascículo Setorial do IBP.

     A produção e uso de etanol têm impacto direto na mitigação das emissões de GEE

    no setor de transporte. O Plano Nacional de Mudança de Clima recomenda expres-samente reforçar a participação do etanol na matriz energética e indica que o usodo etanol combustível deve ser intensificado. No período de 1970 a 2007, evitou-sea emissão de 800 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera com o uso de etanolcomo biocombustível.

    Embora em fase embrionária, o biodiesel poderá representar uma promissora fonterenovável. Desde janeiro de 2010 (antecipando a meta inicial de 2012), o teor de bio-diesel no diesel passou a ser de 5%, assegurando uma demanda anual da ordem de2,4 bilhões de litros. Esse quadro favorável, com demanda garantida e preços futurosdefinidos em leilões, estimulou uma rápida expansão da capacidade instalada, que,

    em outubro de 2011, alcançou 6,03 bilhões de litros/ano em 58 usinas, cerca de 2,5vezes superior à demanda anual prevista, conforme o Instituto Brasileiro de Petróleo,Gás e Biocombustíveis – IBP.

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    PETRÓLEO E GÁS

     A produção brasileira de petróleo atingiu, em 2011, o patamar de 2,2 milhões de bar-ris de petróleo por dia (BPD), o que consolida a autossuficiência do país quanto aosuprimento dessa fonte de energia, atingida em 2006. A taxa de crescimento da pro-dução de petróleo no Brasil nas últimas décadas foi bastante superior à de aumentodo consumo. Além disso, a relação entre as reservas provadas e a produção (R/P) éatualmente de 18 anos, o que coloca o Brasil em uma posição confortável em termosda disponibilidade futura do recurso.

    Por sua vez, o gás natural, cuja produção também crescerá de forma associada àexploração de novas jazidas de petróleo, tende a constituir uma fonte de energia es-tratégica cujo desenvolvimento e utilização devem ser estimulados. Essa tendênciarecente é reforçada pelo debate em torno da mudança global do clima, uma vez queo gás natural, por ser um combustível menos intensivo em carbono, pode dar umacontribuição importante na mitigação das emissões de gases de efeito estufa.

    Conforme o Instituto Brasileiro do Petróleo, a exploração das reservas do pré-sal podeser convergente com o posicionamento do país frente à agenda de sustentabilidade.O país conta com uma economia diversificada, na qual as receitas de petróleo nãoserão dominantes. O maior efeito da exploração dessas reservas será gerar incremen-tos de renda para suportar maiores investimentos em educação e desenvolvimentotecnológico e em outras condicionantes do desenvolvimento sustentável. O protago-nismo global do país na área ambiental e o grau de excelência tecnológica tende aviabilizar o desenvolvimento das operações com segurança e proteção adequada aomeio ambiente, combinando o aproveitamento de um diferencial comparativo do paíscom os preceitos da sustentabilidade.

    GRÁFICO 4. PREVISÃO DE PRODUÇÃO NACIONAL DE GÁS NATURALA PARTIR DE RECURSOS DESCOBERTOS (RESERVAS E CONTINGENTES)

    Obs.: GA: gás associado e GNA: gás não associado. Fonte: Amaro Pereira Jr., com base em De Gouvello (2010).

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    3.1.2 Florestas

    Com uma área florestal total de 524 milhões de hectares, correspondentes a 60% doseu território, o Brasil ostenta posição global de destaque. Apesar de estarem em

    declínio, ainda são altas as taxas de supressão da cobertura florestal do país. Há es-forços para reduzir o desmatamento, principalmente na Amazônia, onde o problemaganhou grande dimensão nas últimas décadas.

    Os dados da cobertura florestal brasileira indicam que o país detém a maior área de flo-resta tropical do mundo, além de possuir a segunda maior extensão de florestas do pla-neta, atrás apenas da Rússia, com suas extensas florestas boreais. Por outro lado, o Brasilpossui o maior estoque de CO2 armazenado na biomassa florestal entre todos os países. As florestas brasileiras estocam em torno de 62 bilhões de toneladas de CO2, seguidaspela Rússia, com 32,5 bilhões de toneladas, e pela República Democrática do Congo,que fica na terceira posição com algo próximo de 19,7 bilhões de toneladas (SFB, 2010)3.

    GRÁFICO 5. ESTOQUE DE CARBONO (EM MILHÕES DE TON)

    Fonte: SFB, 2010.

    No que tange ao uso sustentável da floresta nativa, importantes desafios terão queser superados, de forma a permitir o melhor aproveitamento do potencial local madei-reiro, sem gerar custos ambientais significativos. Existem 290 milhões de hectares deflorestas cadastradas como florestas públicas pelo Serviço Florestal Brasileiro – SFB,

    suscetíveis de serem manejadas sustentavelmente, sendo 93% na Amazônia. Destetotal, 226 milhões de hectares já estão destinados a algum uso e 644 milhões de hec-tares ainda estão aguardando destinação. Esse estoque de madeira indica o potencialexistente para ampliar e consolidar uma economia florestal sustentável na Amazônia,por meio da utilização dos recursos madeireiros e não madeireiros, sem prejuízo daconservação da biodiversidade e dos recursos hídricos que caracterizam a região.

    3 Serviço Florestal Brasileiro. Livro: Florestas do Brasil em resumo 2010. Disponível em: . Acesso em: 10 abr. 2012.

    4 Dados obtidos da publicação “Florestas Nativas de Produção Brasileiras”. Serviço Florestal Brasileiro e Instituto de Pesquisa Ambiental da

     Amazônia, 2011. Florestas Nativas de Produção Brasileiras. (Relatório). Brasília, DF.

    http://www.florestal.gov.br/snif/producao-florestal/certificacao-florestalhttp://www.florestal.gov.br/snif/producao-florestal/certificacao-florestal

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    Mesmo diante da ineficiência da exploração e dos sistemas de produção da florestanativa, alguns exemplos indicam que o manejo sustentável pode ser uma fonte degeração de riqueza, de renda e emprego, sobretudo na Amazônia, como demonstra acertificação de 2,7 milhões5 de hectares de florestas nativas submetidas à exploração

    em regime de manejo sustentável em 2010.O manejo florestal sustentável da Amazônia representa uma estratégia fundamentalpara valorizar o bioma como fonte de geração de emprego e renda, em substituiçãoao modelo atual fortemente baseado no aproveitamento residual de madeiras oriun-das das áreas desmatadas para uso alternativo do solo. A redução definitiva das taxasde desmatamento na região pressupõe um modelo de desenvolvimento baseado nafloresta e não na sua supressão para expansão da fronteira agropecuária.

     Alguns setores econômicos já percebem oportunidades e reconhecem a importânciade ir além das restrições legais vigentes. A iniciativa de certificação voluntária pelo se-tor florestal, através do Forest Stewardship Council – FSC é um bom exemplo. O FSC

    é um dos selos verdes mais adotados no mundo, garantindo que a madeira utilizadapelas empresas em um determinado produto é oriunda de produção sustentável.

    3.1.3 Biodiversidade

    Estima-se que o Brasil abriga cerca de 15% do número de espécies conhecidas pelaciência e cerca de 30% das florestas tropicais no mundo. Essas florestas, que ocupammenos de 7% da superfície da Terra, detêm mais da metade das espécies conhecidasda fauna e flora globais. A riqueza biológica coloca o país em evidência e demanda a

    sua atuação como um dos protagonistas do debate mundial sobre a conservação euso sustentável da biodiversidade.

    Os produtos da bioeconomia decorrentes do uso da biodiversidade, em particular dosseus recursos genéticos, possuem alto valor agregado e padrões tecnológicos deprodução avançados, rendem bons lucros aos investimentos realizados e são atrati-vos no mercado internacional.

    Essa indústria, representada principalmente pela biotecnologia, não causa riscos à con-servação da biodiversidade: além de realizar um extrativismo com baixo potencial degra-dador, obedece a uma legislação que prevê rigorosas exigências que visam garantir ouso sustentável da biodiversidade. Além disso, o enorme potencial atribuído ao setor debiotecnologia se deve às várias etapas produtivas – que envolvem desde a exploração damatéria-prima até a venda ao consumidor final – pelas quais perpassam seus insumos.

    Talvez nenhum outro setor combine tantas oportunidades aos desafios deste novoséculo, marcado pela busca constante da inovação e pela preocupação aos limitesdos recursos naturais, e, dessa forma, talvez também nenhum outro setor no Brasildisponha de tantas oportunidades para se destacar internacionalmente.

    5 Serviço Florestal Brasileiro. Certificação florestal. Disponível em: .

     Acesso em: 10 abr. 2012.

    http://www.florestal.gov.br/snif/producao-florestal/certificacao-florestalhttp://www.florestal.gov.br/snif/producao-florestal/certificacao-florestal

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    3.1.4 Água

    Os rios brasileiros representam 12% da disponibilidade de água superficial do plane-ta. Considerando o aporte dos países vizinhos esse número sobre para 18%. Essa

    situação confortável é complementada por um conjunto de sistemas aquíferos quegarantem uma importante capacidade de reserva de água. A distribuição da dispo-nibilidade de água no Brasil não é muito heterogênea. A região amazônica é respon-sável por ¾ da disponibilidade de água no país, sustentando parcela importante dabiodiversidade do país e as chuvas no Cerrado e na região Sudeste.

    O setor industrial é responsável por 22% da demanda de água global; no Brasil a in-dústria é responsável por 17% das captações de água e por apenas 7% do consumo.O uso industrial da água é mais intenso nas bacias hidrográficas do rio da Prata e nasdemais bacias da região Sudeste, aonde o setor industrial já investe em práticas derecirculação e reuso de água.

    Diversas oportunidades são associadas ao uso sustentável dos recursos hídricos nopaís. O aproveitamento do potencial de geração hidrelétrica, já referido, o aumento daprodutividade da produção de alimento por meio da irrigação, o maior aproveitamentodas vias navegáveis como modal de transporte serão importantes avanços na com-petitividade do país. Para um bom gerenciamento global das águas em processos deprodução, será estratégico conhecer as condições locais dos recursos hídricos nasdiferentes etapas das cadeias de suprimento.

    O incremento da segurança hídrica está diretamente associado à segurança climática(adaptação) e à segurança energética. As fontes de geração de energia estão vincu-ladas à disponibilidade de água diretamente (hidrelétrica, bicombustível) ou indireta-mente (usinas nucleares ou térmicas), quando demandam de importantes volumes deágua para resfriamento. A eliminação do passivo do setor de saneamento ambiental,além de uma oportunidade para o setor industrial, tende a reduzir os riscos corporati-vos associados à água.

    3.2 As oportunidadespara a indústria brasileira

     A indústria brasileira, consciente de que sustentabilidade se constrói com competiti-vidade, responsabilidade e inovação, vislumbra as oportunidades que surgem nessanova economia.

    O uso responsável dos ativos que o país detém combinado ao engajamento das em-presas no processo de produção sustentável abre um amplo leque de novidades compotencial para gerar benefícios econômicos, sociais e ambientais para toda a socieda-de. É hora de buscar novas soluções e desenvolver novos negócios. O papel da CNI,neste contexto, é alertar para a importância dessa agenda e orientar o setor produtivo ase inserir de maneira competitiva, inovadora e responsável nesse novo modelo.

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    OPORTUNIDADES PARA A INDÚSTRIA BRASILEIRA

    • Energia

    • Gestão de resíduos sólidos

    • Clima e emissões

    • Saneamento

    • Biodiversidade e florestas

    • Tecnologia e inovação

    • Inclusão social e educação

    • Melhores práticas de gestão e governança corporativa

    Energia

     A eficiência energética é crucial na transição para uma economia sustentável e pro-gramas estruturadores de geração, transmissão, conservação e busca de fontes alter-nativas de energia trazem oportunidades para todos os setores industriais. A garantiade disponibilidade e o preço da energia são fatores fundamentais para a competitivi-dade industrial do Brasil.

    • Há ainda um vasto potencial para identificação de oportunidades para a melhoriana eficiência energética, utilizando-se o gerenciamento pelo lado da demanda,tanto no setor industrial como também nos segmentos comercial e residencial.

    • Há uma década, a utilização de resíduos como fonte de energia em fornos de ci-mento vem crescendo. Contudo, na comparação com outros países, o atual nívelde utilização de resíduos no Brasil ainda é relativamente baixo e há grande poten-cial para o incremento no aproveitamento energético dos resíduos.

    •  A Amazônia tem se apresentado como a nova fronteira de geração de energia hi-

    drelétrica no Brasil. Existe ainda um potencial hídrico não explorado, concentradona região, de mais de 100 GW, cuja utilização será fundamental para ampliar a par-ticipação relativa das fontes renováveis de energia na matriz energética brasileira. As novas tecnologias permitem a exploração dessa fonte de energia com reduzidoimpacto ambiental.

    • No Brasil, o biodiesel representa cerca de 10% da produção total de biocombus-tíveis. Sua produção tenderá a crescer com a identificação de novas matérias-pri-mas a serem utilizadas. O biodiesel tem potencial positivo para diversos setoresindustriais, por sua contribuição para potencial redução da emissão de CO2.

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    • Com altos índices de irradiação solar, sobretudo nas regiões Nordeste e Centro-Oeste,o Brasil poderá ficar mais bem posicionado no uso intensivo da energia solar nas pró-ximas décadas. Nessas regiões, onde o nível diário é estimado pela Agência Nacionalde Energia Elétrica – Aneel em até 6.100 Wh/m2, o país tem todas as condições para

    fazer uso intensivo da energia solar nas próximas décadas. Na trajetória para amplia-ção do uso de energia fotovoltaica, há espaço para investimento em tecnologia local,em inovação para a produção de células solares e na engenharia de materiais pararedução de custos de implantação e de geração dessa alternativa energética.

    • Há um grande potencial para o desenvolvimento da energia eólica no Brasil. Nomarco do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica – Proin-fa, implantado em 2004, foram contratados 1.422,92 MW gerados a partir de 54usinas eólicas.

    Gestão de resíduos sólidos

    O reaproveitamento de resíduos como insumos no sistema produtivo já é, em si, umaverdadeira revolução na transição para o desenvolvimento sustentável, pois implicauso econômico de material tido, anteriormente, como descarte ou rejeito. Além deoportunidade econômica e financeira, trata-se de potencial para redução da pressãosobre os aterros sanitários, ampliando seu ciclo de uso.

    • O Brasil é uma referência internacional para reciclagem de resíduos com ativi-dades que contribuem para a inclusão social. Há avanços notáveis em muitos

    produtos, como alumínio, papel e papelão, embalagens cartonadas, PET e sucataferrosa, mas ainda há um potencial enorme para a reciclagem. Segundo o Pano-rama dos Resíduos Sólidos no Brasil6, dos mais de 60 milhões de toneladas deresíduos sólidos urbanos, da fração seca que corresponde a 49%, há um potencialde reciclagem mecânica ou química para cerca de 20 milhões de toneladas e recu-peração energética para quase 10 milhões de toneladas, onde a indústria poderádesempenhar um papel preponderante.

    • Crescentemente, a reciclagem será a tônica da produção de matérias-primas se-cundárias, que serão essenciais à indústria do futuro em substituição a grandeparte das matérias-primas oriundas da natureza. Além disso, a indústria baseada

    na reciclagem cria oportunidades de trabalho e renda que beneficia expressivocontingente de catadores de material reciclável.

    •  A implementação da logística reversa no país propiciará a criação de um novomercado voltado à reciclagem dos mais diversos materiais, incluindo os eletroele-trônicos, lâmpadas, embalagens e outros produtos descartados pelo consumidor.O desafio no Brasil será a criação de políticas públicas que favoreçam a implan-tação e o fortalecimento da indústria da reciclagem em todas as regiões do país.

    6 Abrelpe (2010).

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    • Há um enorme potencial para reciclagem de resíduos sólidos no país, gerados naindústria em geral e, em particular, na indústria da construção civil. Exemplo dissoé o uso de agregado reciclado em obras de pavimentação por parte dos municí-pios, que tem promovido o interesse do setor privado na instalação de unidades

    de reciclagem de resíduos inertes.• Dentro das indústrias, um caminho comum na redução da geração de resíduos

    é utilizá-los no processamento industrial para a geração de energia. Dessa for-ma, a biomassa do bagaço da cana-de-açúcar, dos dejetos de aves e suínos, dacasca de arroz, transforma-se em eletricidade e vapor. Essas formas de energiaabastecem as próprias indústrias e, muitas vezes, ainda geram rendas adicionais.É o caso das empresas que vendem energia excedente ou vendem créditos decarbono gerados pela substituição de fontes fósseis pela biomassa. Com essas eoutras estratégias, já há exemplos de empresas que mostram ser possível chegarpróximo dos 100% de reaproveitamento de resíduos industriais.

    Clima e emissões

    Na última década, as mudanças climáticas emergiram como umas das principaispreocupações para governos, empresas, investidores e sociedade em geral. A ges-tão eficaz do carbono, minimizando riscos e maximizando oportunidades, já está naagenda da indústria brasileira.

    • Empresas que implementarem o inventário do nível atual de emissões de GEEpoderão aproveitar as novas tendências do mercado, consolidando a imagem de

    responsabilidade corporativa e preparando-se para lidar com as questões de com-petitividade que poderão advir de possíveis cenários com restrições de emissões.

    • O Brasil oferece à indústria oportunidades excepcionais para ampliar a participa-ção de energias renováveis numa matriz energética que já é uma das mais limpasdo mundo. O potencial hidráulico é subutilizado. Há ainda vasta área disponívelpara aumentar a produção de energia de biomassa (floresta, cana etc.), além dopotencial eólico e de energia solar, permitindo à indústria utilizar uma energia maislimpa na comparação com seus concorrentes internacionais. Além disso, a agen-da de mitigação de emissões estimula maior eficiência no uso de energia e insu-mos, reduzindo custos de produção.

    • O estabelecimento de políticas de gestão de gases de efeito estufa cria novasoportunidades de investimento para o setor privado, seja por meio da participaçãono mercado de carbono (MDL ou mercados voluntários, como CCX, VCS), ou doacesso ao capital através de índices e indicadores, como o Carbon DisclosureLeadership Index, o Índice Carbono Eficiente (iCO2) e da participação em índicesde sustentabilidade, por exemplo. A eventual implantação do REDD+ representaoportunidades de novos negócios e investimentos para a indústria brasileira.

    • O Fundo Nacional sobre Mudança do Clima – Fundo Clima (instituído pela Lei nº12.114/2009 e regulamentado pelo Decreto nº 7.343/2010) é um dos instrumentosda Política Nacional sobre Mudança do Clima que merece atenção do setor pro-

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    dutivo. Ele tem como objetivo assegurar recursos para apoio a projetos e estudose financiamento de empreendimentos que visam à mitigação e à adaptação damudança do clima e aos seus efeitos. O Fundo Clima é uma iniciativa no PlanoPlurianual 2012 – 2015, com orçamento estimado em R$ 389 milhões (trezentos e

    oitenta e nove milhões de reais) para 2012.

    Saneamento

    O saneamento deve ter prioridade na agenda nacional, por seus impactos sobre osrecursos hídricos e sobre a infraestrutura básica necessária para a erradicação da po-breza. Investimentos neste setor têm um elevado potencial para gerar oportunidadespara a indústria e podem constituir fonte relevante de emprego. O serviço de abaste-cimento de água atinge 95,2%, da população urbana. Já o serviço de esgoto atingia,em 2009, pouco mais da metade – 52,9% – dos domicílios brasileiros e apenas 37,9%dos esgotos gerados eram tratados. Superar este quadro só será possível por meiode investimentos e tecnologias apropriadas às especificidades locais.

    • Para acelerar essa cobertura do saneamento, instrumentos de financiamento comoas parcerias público-privadas – PPPs tenderão a ser mais utilizadas. O PAC 2 – queabrange o período de 2011 a 2014 – tem previsão de investimento de R$ 3,7 bi-lhões em obras de abastecimento de água e esgotamento sanitário em municípiosde até 50 mil habitantes. Até 2014, terão sido investidos R$ 35,1 bilhões no setorde saneamento. Também o programa Minha Casa, Minha Vida abre oportunidadede investimentos para diversos setores da economia.

    • O ambiente de transição para a sustentabilidade é favorável aos investimentos naoperação das infraestruturas de saneamento – abastecimento de água, tratamentode esgoto e coleta de lixo. A redução das perdas na distribuição de água potável ea melhoria na eficiência dos sistemas de tratamento de esgotos, além da implan-tação de aterros sanitários, serão essenciais para a redução da pressão urbanasobre os recursos hídricos.

    •  A iniciativa privada deverá ter papel fundamental na busca da universalização dosserviços de infraestrutura de saneamento, seja na realização dos projetos e obras,seja na operação dos sistemas, formando um ciclo virtuoso rumo à criação de riqueza,assimilação de mão de obra e a um novo patamar do desenvolvimento sustentável.

    •  A indústria também contribui para a sustentabilidade ao aportar soluções inteligen-tes e inovadoras para suprir os déficits do setor de saneamento. O fornecimentode equipamentos de uso doméstico mais modernos e eficientes no uso da água,que reduzam o consumo de água dos usuários urbanos e, consequentemente, ademanda de água e o lançamento dos esgotos das cidades, representa oportuni-dades importantes para o setor industrial.

    • O reuso de águas servidas nos processos industriais é oportunidade para a re-dução dos riscos corporativos associados à água. A disseminação de práticasde reuso da água reduz a pressão sobre os recursos hídricos especialmente em

    zonas críticas em termos de disponibilidade hídrica.

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    Biodiversidade e florestas

    O rico acervo da diversidade brasileira oferece oportunidades singulares para o de-senvolvimento de novos produtos, como fármacos, alimentos, cosméticos, entre ou-

    tros. Além disso, a vasta extensão de florestas oferece enorme oportunidade para omanejo florestal sustentável e certificado.

    • O desenvolvimento do conhecimento e da exploração do potencial da biotecnolo-gia, motor do aproveitamento sustentável da biodiversidade, apresenta-se comooportunidade de avanço para a indústria brasileira. O setor de biotecnologia estáincluído entre aqueles que apresentam potencial para transformar radicalmenteprodutos, processos e formas de uso no médio e longo prazos.

    • Embora o Brasil abrigue cerca de 15% do total de espécies existentes no planeta,apenas pequena parcela desse patrimônio é conhecida. O desenvolvimento doseu conhecimento e a exploração do potencial da biotecnologia apresentam-secomo oportunidades de avanço para a indústria brasileira.

    • O mercado sustentável e baseado na conservação da biodiversidade pode tergrandes oportunidades de negócios nos próximos anos. Segundo o estudo “Aeconomia dos ecossistemas e da biodiversidade” (TEEB, na sigla em inglês), ocarro-chefe da economia verde será o de produtos agrícolas certificados. A es-timativa é que a movimentação anual desse setor cresça de US$ 40 bilhões em2008 (o equivalente a 2,5% do mercado global de alimentos e bebidas) para US$210 bilhões em 2020.

    • O uso sustentável da biodiversidade como oportunidade deve estar alinhado às

    políticas que estimulem a inovação e a competitividade. Para gerar riqueza a partirda sua biodiversidade, o Brasil deve caminhar para a integração da cadeia de valordessa indústria, no âmbito mundial, participando de fóruns que visam à remoçãoimediata dos obstáculos da legislação atual.

    •  A grande extensão de floresta tropical passível de uso sustentável, a disponibi-lidade de terras subutilizadas na agropecuária que podem ser destinadas paraplantios florestais, associada às condições edafo-climáticas favoráveis, o avançotecnológico na silvicultura e as práticas de manejo sustentável já testadas confe-rem ao setor florestal brasileiro vantagens expressivas no campo da sustentabili-dade. A indústria de base florestal pode ser um dos pilares da economia de baixo

    carbono no Brasil.

    • O Brasil possui um estoque de madeira que significa a possibilidade para ampliare consolidar uma economia florestal sustentável na Amazônia, por meio da utiliza-ção dos recursos madeireiros e não madeireiros, sem prejuízo da conservação dabiodiversidade e dos recursos hídricos que caracterizam a região.

    • O manejo florestal sustentável da Amazônia, substituindo o modelo atual de apro-veitamento residual de madeiras de áreas desmatadas, tem potencial para geraremprego e renda. A redução das taxas de desmatamento na região implica desen-volvimento baseado na floresta e não na sua supressão.

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    Tecnologia e inovação

    Na nova economia, o setor privado deve analisar como potencial de oportunidadesos investimentos em pesquisa e no desenvolvimento tecnológico, reconhecendo que

    inovação e criatividade são mais do que exigências dos novos e velhos consumidorese uma imposição do mercado, são também fonte de oportunidades para aumento deeficiência, redução de custos e desenvolvimento de novos negócios.

    •  A indústria brasileira pode ser mais ativa na atração de centros de P&D de empresasestrangeiras, articulando e coordenando melhor as ações públicas e privadas no de-senvolvimento de novas tecnologias para novas demandas sustentáveis. Tambémpode melhorar a infraestrutura e a cultura de propriedade industrial no país.

    • O setor produtivo terá um crescente papel na formação de recursos humanos qua-lificados em engenharia, “ciências duras” e no ensino técnico – base para a buscade tecnologia de ponta.

    • O apoio a projetos estruturantes de P&D em grande escala, mobilizando as ca-deias produtivas das empresas-âncora, assim como a inovação e a difusão detecnologia para pequenas e médias empresas, visando à redução de diferenciaisde competitividade hoje existentes no setor privado, será uma agenda propulsorade oportunidades para todo o setor produtivo.

    Inclusão social e educação

     A agenda do desenvolvimento sustentável com erradicação da pobreza requer que sereforcem os fatores de inclusão social produtiva e sustentável, combinando esforçosde melhoria da educação com a oferta de melhores empregos.

    •  A incorporação de grandes contingentes populacionais a novos patamares de desen-volvimento humano é ao mesmo tempo uma grande oportunidade e um grande desa-fio para os países com economias abundantes em recursos naturais. O crescimentoeconômico dos países emergentes, especialmente os de maior população, acrescen-ta novas pressões sobre as fontes de matérias-primas e os serviços ambientais. Paraser sustentável, a inclusão social não pode repetir os modelos do passado.

     A inclusão social dos mais pobres requer novas tecnologias e hábitos de vida. Aconformação tanto dos espaços coletivos urbanos como dos ambientes de traba-lho e domésticos deve ser comandada por critérios de sustentabilidade. Como emtodos os países, no Brasil encontram-se amplas oportunidades de renovação dosparques produtivos para responder a tais necessidades.

    • Devido ao processo histórico e a similaridades da identidade cultural, os movimen-tos de internacionalização das empresas brasileiras em direção a outros países dohemisfério sul carrega um grande potencial de reforçar a inclusão social produtivanesses países. Empresas de setores como construção, biocombustíveis, cimento,mineração, siderurgia e petróleo têm se expandido com sucesso na África e na

     América Latina e, ao se relacionarem com as comunidades locais, transferem prá-

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    ticas e políticas desenvolvidas no Brasil. Assim, a capacidade de inclusão socialprodutiva da indústria brasileira constitui fator de competitividade internacional.

    • Estatísticas recentes, levantadas pelo instituto norte-americano The ConferenceBoard, mostram que é muito baixa a produtividade do trabalhador brasileiro, medi-

    da pelo quociente entre bens e serviços produzidos no país e o pessoal ocupado.Com o crescimento econômico fortemente baseado na produção de commodities,a produtividade se ressente da defasagem de investimentos e da educação dapopulação. É preciso investir em infraestrutura e em produtos de valor agregado,mas também tratar a educação como prioridade absoluta. A educação vista comooportunidade será ferramenta básica para a produtividade e para o crescimento.

    • O consumo das classes C, D e E experimentou forte incremento no Brasil, refletin-do não somente o aumento de renda dessas classes como também a capacidadedas empresas brasileiras para desenharem produtos, serviços e critérios de co-mercialização adequados. Há ainda um vasto contingente populacional a ser in-

    corporado ao mercado de consumo no Brasil. Há inúmeras oportunidades para osetor industrial na oferta de bens e serviços adequados às necessidades e deman-das dos novos consumidores e aos requisitos de sustentabilidade da produção.

    •  A incorporação dos mais pobres nos dividendos da geração produtiva de riquezaé também portadora de oportunidades de negócios e de novas formas de capta-ção de capitais. O governo criou, há muitos anos, mecanismos de participaçãodos trabalhadores no processo produtivo, como o Fundo de Garantia por Tempode Serviço – FGTS, o Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT e o PIS/PASEP. Taismecanismos revertem-se em bonificações periódicas aos trabalhadores formais,oriundas dos rendimentos proporcionados por investimentos na capacidade pro-

    dutiva do país. No entanto, há muito ainda por se fazer no acesso dos mais pobresaos mercados de investimento nas atividades produtivas, que podem se transfor-mar em oportunidades de negócios e em novas formas de captação de capital.

    Melhores práticas de gestão e governança corporativa

    Os investimentos em aperfeiçoamento e modernização dos processos de gestão es-tratégica dos negócios, com maior articulação entre os atores envolvidos, interes-sados ou afetados pelos processos de produção, representam oportunidades para

    capturar dividendos financeiros, melhoria da competitividade e reforço da imagem emum contexto de produção sustentável.

    • O desenvolvimento de modelos de gestão modernos e a disseminação das me-lhores práticas econômicas e socioambientais na cadeia produtiva agregam repu-tação à identidade e imagem das empresas, além de reduzir custos de produçãoe administração.

    •  Ações para reforço da sustentabilidade aumentam a credibilidade do negócio, me-lhoram o diferencial competitivo, contribuem para a atração e retenção de talentose para a construção de parcerias.

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    •  A rotulagem ambiental de produtos, quando não transformada em barreira comer-cial, pode ser um importante instrumento para melhorar a eficiência no uso dosinsumos, ajudando a conquistar novos consumidores e mercados.

    • Empresas listadas em índices de sustentabilidade das principais bolsas de valores

    tendem a ter suas ações valorizadas, facilitando o acesso a capital e linhas definanciamento diferenciadas que incorporam critérios ambientais e melhorando o good-will por parte dos públicos de interesse. No caso de empresas que necessi-tem de licenças formais e informais para exploração de recursos naturais, isso éainda mais relevante.

    •  A elaboração anual de relatórios de sustentabilidade com iniciativas em linha como tripé do economicamente viável, ambientalmente correto e socialmente justo temcontribuído para a melhoria da imagem de diversas empresas brasileiras.

    •  A adoção voluntária de certificações e normas de qualidade, ambientais, de saúde

    e segurança ocupacional e de responsabilidade social também é oportunidade deagregar valor aos negócios.

     A indústria brasileira quer ser protagonista, de forma consciente e propositiva, junta-mente com o poder público e a sociedade civil, na consolidação da base do desen-volvimento sustentável e da erradicação da pobreza. O setor produtivo quer aproveitaras oportunidades que se abrem com essa nova agenda, enquanto se prepara paralidar com os desafios para a competitividade trazidos por cenários mais restritivos deprodução e de consumo de bens intensivos em recursos naturais.

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     As transformações requeridas pela agenda de desenvolvimento sustentável depen-dem de investimentos públicos e privados, sobretudo em inovação e em tecnologiasprodutivas mais limpas, além de métodos inovadores na gestão dos negócios. A in-dústria pode contribuir para a transição rumo a uma economia efetivamente susten-tável, adotando novas tecnologias que alinhem maior produtividade ao equilíbrio dasdiversas cadeias produtivas, à demanda por geração de emprego de qualidade e àeficiência no uso dos recursos naturais, evitando o desperdício.

    O contexto doméstico é hoje dominado pelas preocupações crescentes com a perda

    de competitividade da indústria brasileira. Para aprofundar sua contribuição ao desen-volvimento sustentável, a indústria precisa contar com ambientes regulatórios e ins-titucionais favoráveis às transformações produtivas e aos investimentos requeridos.

    O Brasil tem uma matriz industrial diversificada do ponto de vista setorial e espacial.Essa diversidade deve ser considerada no desenho de políticas públicas no país. Asassimetrias que estão na origem dos desníveis regionais e de renda afetam o desem-penho da indústria e sua capacidade de aderir às formas sustentáveis de produção.

    Os sistemas produtivos respondem ao mercado e às políticas públicas, razão pelaqual não se pode separar o desempenho das atividades industriais e a estrutura do

    sistema produtivo do conteúdo das políticas governamentais de desenvolvimento. Àspolíticas públicas cabe o papel de criar condições para que as empresas incorporema sustentabilidade em suas estratégias de produção, direcionar o consumo, corrigiras desigualdades regionais e buscar a equidade na distribuição da renda.

    Os temas relacionados à sustentabilidade dos padrões de produção e consumo ain-da não foram adequadamente integrados à agenda de política industrial e de inova-ção do Brasil. Em consequência, essas políticas não geram incentivos para que asempresas privadas incorram nos custos e riscos inerentes aos investimentos neces-sários à transição para uma produção sustentável.

    4 O QUE A INDÚSTRIAPRECISA PARA APROVEITAR

     AS OPORTUNIDADES?

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     As decisões de investimentos dependem, crucialmente, de perspectivas de desen-volvimento econômico sustentável, do acesso a financiamento a custos reduzidos,de uma estrutura tributária compatível, da regulação adequada e previsível, da dis-ponibilidade de força de trabalho qualificada e de fontes sustentáveis de energia e

    matérias-primas, com preços e condições competitivas, como também de infraestru-tura moderna e eficiente.

     A qualidade e a eficiência dos gastos públicos têm papel central neste processo e,por isso, também o governo deve otimizar a oferta de serviços públicos, aumentandoa qualidade desses e a eficiência dos recursos empregados.

     A indústria brasileira enfrenta um cenário doméstico com políticas tributárias, fiscais ecreditícias que ainda são tímidas no estímulo aos investimentos produtivos e onerama competitividade dos seus produtos nos mercados interno e externo.

    OBSTÁCULOS DO AMBIENTE DOMÉSTICO PARA A AGENDA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:

    • as distorções do sistema tributário brasileiro;

    • os elevados custos e as dificuldades de acesso ao crédito de longo prazono Brasil;

    • os escassos instrumentos da política de P, D & I para a sustentabilidade;

    • a instabilidade, inadequação e administração dos marcos regulatórios na

    área ambiental;• a insuficiência e precariedade dos serviços de infraestrutura;

    • a insuficiência dos investimentos em educação e em qualificação dos tra-balhadores;

    • a obsolescência da legislação do trabalho.

    Como parte de suas atividades de representação e defesa dos interesses da indústria

    brasileira, a CNI identificou um conjunto importante de obstáculos domésticos, denatureza regulatória e sistêmica, que hipotecam esforços empresariais de aumentoda produtividade e competitividade. Além disso, para cada um dos obstáculos iden-tificados, a CNI formulou propostas e recomendações visando aperfeiçoar políticaspúblicas e seus mecanismos específicos de implementação.

    Todos os fatores que impactam negativamente a competitividade e a produtividadeda indústria brasileira também comprometem a transição desta em direção a paradig-mas de produção e consumo sustentáveis.

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    Da agenda de competitividade...

     A indústria brasileira enfrenta um cenário doméstico com políticas tributárias, fiscais ecreditícias que ainda são tímidas no estímulo aos investimentos produtivos e oneram

    a competitividade dos seus produtos nos mercados interno e externo.

     Assim como é improvável que a indústria brasileira aumente sistematicamente sua pro-dutividade e competitividade sem a remoção desses obstáculos – identificados pelaagenda de políticas da CNI há mais de uma década –, é difícil imaginar que ela sejacapaz de aprofundar sua trajetória de transição para padrões de produção sustentáveise mais exigentes social e ambientalmente em um contexto regulatório e institucionalmarcado por tantas distorções. Até porque aos obstáculos que se interpõem entre aindústria e seus objetivos de investimento e competitividade, juntam-se outros que difi-cultam especificamente a consecução de metas de sustentabilidade empresarial.

    ... À agenda de competitividade sustentável

    De fato, as transformações requeridas pela agenda de desenvolvimento sustentável de-pendem fortemente de investimentos em inovação de produtos e processos produtivosmais “limpos”, bem como da adoção de métodos inovadores na gestão dos negócios.

    O aprofundamento da trajetória da indústria em direção à sustentabilidade agrega àagenda de competitividade requisitos e exigências adicionais, em termos de políticaspúblicas e ambiente regulatório e institucional. Tais requisitos envolvem tanto os temas

    já listados (distorções tributárias, obsolescência da legislação trabalhista etc.) quantoos temas que estão diretamente relacionados aos objetivos de sustentabilidade.

    No que se refere aos temas que compõem a agenda de competitividade definida pelaCNI há já alguns anos, a prioridade concedida à sustentabilidade se expressa atravésda “modulação” dos instrumentos de política doméstica que removam os obstáculose facilitem a transição. A agenda da indústria brasileira para o aperfeiçoamento doambiente doméstico inclui:

    A eliminação das distorções do sistema tributário brasileiro

    O sistema tributário precisa levar em conta a dimensão social e ambiental da atuaçãodas empresas, premiando a utilização eficiente de recursos naturais e, de forma maisgeral, os modelos sustentáveis de produção.

     A diversidade de impostos e as frequentes mudanças na forma de tributação no Brasilgeram um sistema de alta complexidade e de baixa convergência com os padrões detributação das principais economias do mundo. Essa assimetria impacta fortementea competitividade da indústria brasileira e cria distorções na alocação dos recursos,com efeito determinante na estrutura industrial brasileira.

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    Para a agenda do desenvolvimento sustentável, o principal problema são os diversostributos, muitos em cascata, que oneram o preço final dos bens de capital e ele-vam o custo final do investimento – principal vetor de transformação dos processosprodutivos. A política tributária nacional não deve ser meramente arrecadatória, mas

    estimular o desenvolvimento direcionado para a sustentabilidade. Assim, o sistematributário deve respeitar os princípios de progressividade, da simplificação e da nãocumulatividade, sem perder de vista a questão social e ambiental.

    A redução dos custos e a melhoria nascondições de acesso ao crédito de longo prazo

    O financiamento de longo prazo enfrenta dois problemas estruturais no Brasil: taxasde juros elevadas e dificuldade no acesso por parte das micro e pequenas empresas.

    Estas desempenham importante papel econômico e social na geração de emprego erenda e, portanto, da redução dos indicadores de pobreza.

     A oferta de crédito de longo prazo ainda está concentrada no Banco Nacional de De-senvolvimento Econômico e Social (BNDES). Há, no âmbito do BNDES e de suas linhasde financiamento, iniciativas inovadoras que – mais além das condicionalidades socio-ambientais exigidas das empresas que buscam financiamento junto ao Banco – confe-rem tratamento relativamente mais favorável a investimentos propriamente ambientais.Mas a verdade é que tais iniciativas são ainda pontuais e amplamente minoritárias.

    Na área de financiamento ao investimento, a prioridade deve ser a disseminação deinstrumentos de financiamento público com taxas especiais, voltados para a adoção

    de processos e mudanças na produção que contribuam para a adequação do setorindustrial aos objetivos do crescimento sustentável, bem como para o aproveitamentode novas oportunidades de negócios relacionadas àqueles objetivos.

    O aperfeiçoamento dos instrumentos dapolítica de P, D & I para a sustentabilidade

    Nos últimos anos, a política de inovação passou por mudanças importantes e posi-tivas, voltadas para reduzir a distância entre, de um lado, as atividades de pesquisa,desenvolvimento tecnológico e inovação e, de outro, as empresas, seu funcionamen-to e suas estratégias. Essas mudanças foram estimuladas pela constatação de quehistoricamente estas atividades se desenvolveram quase que exclusivamente em âm-bito acadêmico, com o setor produtivo atuando de maneira periférica.

     Apesar desses esforços, os resultados, em termos de desempenho da inovaçãoempresarial no Brasil ainda têm sido considerados insatisfatórios, o que motivou aCNI a organizar, nos últimos anos, a Mobilização Empresarial pela Inovação. Em umcontexto de competição internacional acirrada e de forte concorrência dos produtosimportados no mercado brasileiro, a inovação tornou-se componente inescapável dasestratégias empresariais no país.

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     A coordenação entre os agentes da inovação, públicos e privados, precisa ser esti-mulada, já que muitos setores produtivos absorveram tecnologias com potencial dedisseminação na busca de soluções sustentáveis nos ciclos de produção, distribui-ção e logística reversa.

     A política de inovação tem um papel central a desempenhar na transição para ummodelo de produção e consumo sustentável. A totalidade dos países desenvolvidos ealguns países emergentes, como a China e a Coreia do Sul, já se deram conta destefato e integraram às suas políticas industriais e de inovação objetivos ambiciososligados ao paradigma da sustentabilidade.

    É necessário intensificar as atividades de pesquisa, desenvolvimento tecnológico einovação e integrar as preocupações climáticas e ambientais à agenda brasileira depolítica de inovação. É também fundamental fortalecer a rede brasileira de serviçostécnicos, tecnológicos e de propriedade industrial e desenvolver planos setoriais e osubsistema financeiro de apoio à inovação.

    A estabilidade, adequação e boa administraçãodos marcos regulatórios na área ambiental

     A inadequação e a instabilidade dos marcos regulatórios constituem um dos princi-pais obstáculos aos investimentos privados. Na área ambiental, o marco legal recen-te e a falta de uma jurisprudência consolidada criam um ambiente de insegurança. As normas infralegais, que regem o licenciamento ambiental das atividades efetiva epotencialmente poluidoras, encontram-se defasadas. Há ainda problemas de articu-

    lação entre diversas áreas de governo que interferem nas regulações, seja na esferade um mesmo ente da Federação, seja em virtude da fragilidade do pacto federativo,levando à sobreposição de competências entre a União, os estados, o Distrito Federale os municípios. Isso, não raro, mais confunde o empreendedor do que o auxilia nabusca de sustentabilidade em seu negócio.

    Embora não se possa negar que o Brasil possua uma legislação ambiental avançadana comparação com outros países, uma das dificuldades da aplicação das normaslegais que acaba se transformando em obstáculo é o fato de existir uma legislaçãoprolixa e, muitas vezes, de difícil aplicação.

    Por outro lado, os fundamentos doutrinários da política ambiental brasileira ainda es-tão baseados nos mecanismos de comando e controle do Estado. A legislação éadequada para punir o uso ineficiente dos recursos naturais e a degradação ambien-tal, mas é desprovida de instrumentos econômicos que estimulem o uso sustentável.

     Além disso, a gestão ambiental pública, na maioria dos casos, se reduz às atividadesde licenciamento e autorizações sem a adoção dos demais instrumentos da políticaambiental e de gerenciamento dos recursos naturais. Na maioria dos casos, há im-pactos sobre as atividades industriais, com elevação de custos, sem a contrapartidagovernamental para facilitar o cumprimento dos compromissos exigidos pelos novospadrões de qualidade ambiental a serem observados pela indústria.

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    É necessário integrar ao menu de políticas voltadas para a área ambiental e climá-tica, hoje predominantemente apoiada em mecanismos de comando e controle,instrumentos de planejamento, de mercado e de disseminação de informações. Am-pliar a utilização de avaliações ambientais estratégicas, entre outros instrumentos

    de planejamento de base territorial, permitirá qualificar os procedimentos de licen-ciamento ambiental reduzindo seu perfil cartorial.

    A melhoria dos serviços de infraestrutura

    O Brasil investe pouco em infraestrutura. A precariedade dos serviços de infraestrutu-ra tem impactos importantes na eficiência do processo produtivo industrial, gerandodesperdício de recursos e prejudicando a produção sustentável. É também importan-te entrave à maior inclusão social, pois é sobre a camada mais pobre da populaçãoque incidem proporcionalmente os maiores custos resultantes da ineficiência da infra-estrutura, especialmente nas áreas de transporte e saneamento.

     A carência de infraestrutura adequada tem reflexo em todas as vertentes do desen-volvimento do país. Sua precariedade está associada ao Custo Brasil, principalmentea relativa ao transporte, às comunicações e à energia. Assim, é essencial a busca dealternativas que incluam a participação de capitais privados, como já ocorre nas rodo-vias, aeroportos, comunicações e energia, na construção, ampliação e modernizaçãode outros segmentos da infraestrutura, incluindo construções sustentáveis.

     A eficiência econômica e ambiental da logística em um país de proporções continen-tais depende do reequilíbrio da matriz de transporte, com a maior participação de

    modais alternativos, menos poluentes e emissores de carbono.

     A inadequação da infraestrutura de transporte provoca insegurança não apenas denatureza material, mas para o meio ambiente e a população. Este é o caso da preca-riedade observada especialmente nas rodovias, que, além de ceifar prematuramentea vida de número crescente de pessoas, provoca sérios danos ao meio ambiente.

     A questão do saneamento merece posição de destaque, segundo critérios ambientaise sociais. Do lado ambiental, a falta de saneamento é hoje a principal fonte de polui-ção das águas, superando as fontes industriais. Do ponto de vista social, as carênciasnesta área impactam negativamente – e com muita força – os esforços de erradicação

    da pobreza. A realidade do serviço de esgoto é dramática. Um dos desafios do setorde saneamento é acelerar o ritmo de expansão da cobertura da rede coletora de es-goto. Isso só será possível por meio da eliminação dos entraves aos investimentos.

    Mesmo com a expansão da rede nos últimos anos, o ritmo de crescimento poderia sermais intenso, caso instrumentos de financiamento, como as parcerias público-privadas– PPPs, fossem mais utilizadas pelo governo federal.

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    Aumento dos investimentos em educaçãoe em qualificação dos trabalhadores

     A melhoria da qualidade da educação é condição fundamental para que o país te-

    nha sucesso em seus objetivos de desenvolvimento sustentável. Disso depende aelevação do grau de conscientização ambiental da população e a capacidade dostrabalhadores qualificados para contribuir com processos de produção sustentável.

    Sem educação básica de qualidade não existe força produtiva para ser treinada.Sem ensino médio profissionalizante mantém-se o hiato na qualificação para o mer-cado de trabalho e, por fim, sem educação superior não há ciência, sem ciência nãohá tecnologia e sem tecnologia não há inovação.

     A falta de qualif icação da mão de obra é um dos principais entraves ao crescimentosustentado no Brasil. O Programa Internacional de Avaliação de Ensino – PISA, que

    avalia conhecimentos em leitura, matemática e em ciências em alunos de 15 anos,exibe um quadro que precisa ser superado: a nota média do aluno brasileiro ultra-passou os 400 pontos apenas em 2009, ficando distante do desempenho dos estu-dantes dos países desenvolvidos, criando um hiato na sustentabilidade também noquesito educação.

    Modernização da legislação do trabalho

     A legislação brasileira não acompanhou a modernização do mundo do trabalho e, ao

    permanecer paralisada, continua representando um entrave para o desenvolvimen-to sustentável do país. A evolução tecnológica cria novas modalidades de trabalho,que não são compatíveis com a aplicação de fórmulas homogêneas de proteção aotrabalhador. Essas novas modalidades de trabalho permitem processos produtivosmais eficientes, com menores custos de deslocamento e menos intensidade do usode recursos naturais.

    Para que a indústria brasileira possa assumir um efetivo protagonismo em relaçãoàs oportunidades que se apresentam, é essencial que os arranjos institucionais eregulatórios, também no âmbito da legislação trabalhista, provejam crescimento, es-tabilidade, previsibilidade e um ambiente mais compatível com o novo perfil dos tra-balhadores no século XXI.

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     A CNI tem a convicção de que o crescimento econômico deve estar sustentado nodesenvolvimento social e na conservação ambiental. A instituição compromete-se aexercer o papel de liderança para mobilizar e engajar a indústria brasileira na transfor-mação de padrões de produção e consumo para modelos mais sustentáveis.

     Aproveitando o momentum criado pela realização da Rio+20, a CNI apresenta umaagenda de iniciativas que pretende ser propositiva e mobilizadora das liderançasempresariais do país.

     A transição para o crescimento sustentável requer transformações em produtos e pro-cessos que exigem inovação, incorporação de novas tecnologias, melhores práticasde gestão e governança corporativa, educação e capacitação profissional. O SistemaIndústria compromete-se a fortalecer seus programas e ações voltadas para a susten-tabilidade ambiental e o desenvolvimento social.

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