A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO ESTRATÉGICA NAS CADEIAS DE...

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Lury Décio Pedro dos Santos A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO ESTRATÉGICA NAS CADEIAS DE ABASTECIMENTO: DA ARTE DA GUERRA À LOGÍSTICA EMPRESARIAL LISBOA 2013

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Lury Décio Pedro dos Santos

A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO ESTRATÉGICA NAS

CADEIAS DE ABASTECIMENTO: DA ARTE DA GUERRA À

LOGÍSTICA EMPRESARIAL

LISBOA

2013

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Instituto Superior de Gestão

A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO ESTRATÉGICA NAS CADEIAS DE

ABASTECIMENTO: DA ARTE DA GUERRA À LOGÍSTICA

EMPRESARIAL

Lury Décio Pedro dos Santos

Dissertação apresentada no Instituto Superior de Gestão

para a obtenção do Grau de Mestre em Gestão dos

Transportes e Logística.

ORIENTADOR: Professor Doutor David Rosado

CO-ORIENTADOR: Engenheiro Carlos Paz

LISBOA

2013

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I

RESUMO

A evolução dos conhecimentos militares ao longo dos séculos contribuiu

para o desenvolvimento daquilo que sabemos hoje sobre as mais modernas práticas

de gestão empresarial. Esses conhecimentos importados do planeamento de

operações e da sustentação de tropas em campanha têm agora, no âmbito da

gestão, princípios científicos e o objectivo principal de alcançar a produtividade com

procedimentos eficientes e resultados eficazes, analisando a envolvente económica,

tecnológica e social, com recurso às funções de planeamento, organização e

controlo.

Na cadeia de abastecimento, estrutura onde se desenvolvem as estratégias

logísticas, os serviços logísticos avançam da simples distribuição física para cobrir

uma procura crescente, concorrência à escala global, curto prazo de entrega,

diversidade de produtos, entre outros factores.

Baseámos a nossa investigação, principalmente, em fontes teóricas. Essas

fontes ajudaram-nos a construir as entrevistas e a recolher opiniões em empresas

de distribuição e logística, e nas principais unidades de logística do Exército

Português. O nosso maior objectivo foi compreender o papel da gestão estratégica

na cadeia de abastecimento.

Como resultado da nossa pesquisa, observámos que, apesar da crise no

sector dos transportes, as empresas avaliam positivamente o seu desempenho

logístico e consideram a cadeia de abastecimento como sendo fundamental para tal

desempenho. Essas empresas, fazendo recurso à gestão estratégica, desenvolvem

as funções de planeamento, organização, implementação e controlo da cadeia de

abastecimento.

Palavras-chave: Gestão, Empresas, Exército, Logística, Cadeia,

Abastecimento.

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II

ABSTRACT

The evolution of military knowledge over centuries has helped to develop

what we know today about modern company management practices. The knowledge

imported from the planning of military operations and troops sustainment on the

battlefield now has, in the field of management, scientific principles and its main goal

is to achieve productivity with efficient procedures and effectiveness results,

analyzing the economic, technological and societal environment, using the planning,

organizing, leading and controlling functions.

In the supply chain structure where the logistic strategies are developed, the

logistic services have been transformed from simple physical distribution to cover

increasing demand, competitiveness at global scale, short delivery time and product

diversity, among others factors.

We based our research mostly on theoretical sources. These sources helped

us to build interviews and collect opinions from companies in the area of logistics and

distribution and from the main logistics units of the Portuguese Army. Our main goal

was to understand the role of strategic management in the supply chain.

As result of our research we have observed that, despite the crisis in the

transportation sector, companies describe their logistical performance in a positive

way and consider the supply chain as fundamental for such performance. Those

companies, having recourse to strategic management, carry out the planning,

organizing, implementation and controlling activities of the supply chain.

Key-words: Management, Companies, Army, Logistics, Chain, Supply.

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III

AGRADECIMENTOS

A elaboração dessa pesquisa só foi possível graças às pessoas e entidades

que acreditaram e deram o seu contributo. Agradeço, por isso, ao Instituto Superior

de Gestão (ISG) por ter disponibilizado os seus melhores colaboradores para

acompanharem a pesquisa.

Agradeço aos militares da Direcção de Material e Transportes, da

Manutenção Militar, das Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento, do Depósito

Geral de Material do Exército e do Regimento de Transportes. O meu muito obrigado

também ao General Joaquim Monteiro, pelo seu contributo no contacto com essas

entidades militares.

A todas as empresas que participaram da pesquisa, nomeadamente, à

Rodocargo, CP Carga, Transporta, Transviária, a Cargo Terminal, na pessoa do

senhor Marcos Barradas que tornou possível as entrevistas exploratórias e abriu as

portas dos seus armazéns para as nossas observações, os meus sinceros

agradecimentos. À Associação Portuguesa de Logística (Aplog), na pessoa do

senhor Fernando Afonso, e ao senhor José Monteiro Limão, Director da Transportes

em Revista, pela sua pronta disponibilidade e conselhos bastantes úteis, o meu

muito obrigado.

Agradeço aos meus orientadores, Professor Doutor David Miguel Pascoal

Rosado, pela sua incansável atenção na orientação, desde o mais pequeno detalhe

na redacção aos mais complexos pormenores da metodologia; ao Engenheiro

Carlos Paz, por ter acreditado que era possível e ter disponibilizado a sua lista de

contactos para a pesquisa.

À minha namorada, Alcina Castilho, ser-te-ei eternamente grato por

acreditares em mim sempre, pelo teu amor e dedicação que mantiveram os meus

passos firmes nessa longa caminhada, enquanto o meu cérebro vagueava pelos

confins do conhecimento.

À minha família, por tudo, principalmente pela pessoa que sou.

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IV

DEDICATÓRIA

Aos cadetes da Academia Militar que procuram respostas

imediatas, num contexto actual bastante polémico, onde o

competitivo prevalece diante de uma indecisão conflitual;

aos comandantes que, às vezes, esquecem-se de dizer aos

seus pupilos que o tempo traz mais do que a experiência.

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V

ÍNDICE GERAL

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO .............................................................................................. 1

1.1. ENQUADRAMENTO E JUSTIFICAÇÃO DO TEMA ........................................................ 1

1.2. DELIMITAÇÃO DO ESTUDO E OBJECTIVOS DA INVESTIGAÇÃO .............................. 1

1.3. PROBLEMA DE INVESTIGAÇÃO .................................................................................. 2

PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO E QUADRO DE REFERÊNCIA ........................ 4

CAPÍTULO 2 – O CONTEXTO MILITAR ............................................................................... 5

2.1. A ABORDAGEM INDIRECTA E A ESTRATÉGIA MILITAR CLÁSSICA ...................... 5

2.2. O PENSAMENTO ESTRATÉGICO MILITAR .............................................................. 7

2.3. FUNDAMENTOS DA ESTRATÉGIA MILITAR ............................................................ 9

2.3.1. DIVISÕES DA ESTRATÉGIA ................................................................................ 12

2.3.2. VISÃO TÁCTICA E OPERACIONAL ..................................................................... 13

2.4. A LOGÍSTICA NO CONTEXTO MILITAR...................................................................... 15

CAPÍTULO 3 - A ESTRATÉGIA NA GESTÃO EMPRESARIAL ......................................... 19

3.1. A GESTÃO ESTRATÉGICA.......................................................................................... 20

3.2. PROCESSO DE GESTÃO ESTRATÉGICA .................................................................. 22

3.3. A COMPETIÇÃO EMPRESARIAL E A BUSCA PELA VANTAGEM COMPETITIVA ..... 24

3.4. O SUCESSO EMPRESARIAL E O DESEMPENHO SUSTENTADO ............................ 25

3.5. MÉTODOS E MODELOS DE ANÁLISE ........................................................................ 26

3.5.1 O MODELO DAS 5 FORÇAS DE MICHAEL PORTER ............................................... 26

3.5.2. O MODELO DE ANÁLISE SWOT .............................................................................. 28

3.5.3. O PLANEAMENTO ESTRATÉGICO .......................................................................... 29

3.5.4. AS ESTRATÉGIAS GENÉRICAS .............................................................................. 31

CAPÍTULO 4 - EVOLUÇÃO DA LOGÍSTICA EMPRESARIAL ........................................... 32

4.1. DA LOGÍSTICA À SUPPLY CHAIN ............................................................................... 35

CAPÍTULO 5 - GESTÃO ESTRATÉGICA DA CADEIA DE ABASTECIMENTO ................. 38

5.1. MODELO ESTRUTURAL E ESTRATÉGIAS DA CADEIA DE ABASTECIMENTO ........ 39

5.1.1. AS CADEIAS DE ABASTECIMENTO GENÉRICAS................................................... 42

5.1.1.1. CADEIAS INTENSIVAS NA DISTRIBUIÇÃO .......................................................... 42

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VI

5.1.1.2. CADEIAS INTENSIVAS NA PRODUÇÃO ............................................................... 43

5.1.1.3. CADEIAS INTENSIVAS NO SOURCING ................................................................ 44

5.1.1.4. CADEIAS EFICIENTES E ÁGEIS ........................................................................... 44

5.2. A INTEGRAÇÃO NA CADEIA DE ABASTECIMENTO E OS TRADE-OFFS ................. 45

5.3. O PROCESSO DE CRIAÇÃO DE VALOR E A CADEIA DE VALOR ............................ 46

5.4. PARCERIAS E A SUBCONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS .............................................. 48

5.5. O PLANEAMENTO AGREGADO E AS FUNÇÕES LOGÍSTICAS ................................ 50

5.5.1. A LOCALIZAÇÃO ...................................................................................................... 51

5.5.2. GESTÃO DE STOCK ................................................................................................. 52

5.5.3. OS TRANSPORTES .................................................................................................. 53

5.5.4. NÍVEL DE SERVIÇO AO CLIENTE ............................................................................ 53

5.5.5. A GESTÃO DA INFORMAÇÃO NA CADEIA DE ABASTECIMENTO ......................... 55

CAPÍTULO 6 - ANÁLISE, MEDIDAS E INDICADORES DE DESEMPENHO LOGÍSTICO . 57

6.1. INDICADORES E MEDIDAS DE DESEMPENHO ......................................................... 59

6.2. O TABLEAUX DE BOARD (TDB) ................................................................................. 60

6.3. O LEAD TIME COMO FACTOR DE ANÁLISE .............................................................. 61

6.4. O BALANCED SCORECARD (BSC) ............................................................................. 62

CAPÍTULO 7 - CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS ENTRE OS DOIS CONTEXTOS .. 64

7.1. APROXIMAÇÃO DO CONFLITUAL AO COMPETITIVO ............................................... 65

7.2. AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS ..................................................... 67

PARTE II – ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO E EMPÍRICO .................................... 69

CAPÍTULO 8 - TRABALHO DE CAMPO E METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO ............ 69

8.1. TIPO DE ESTUDO ........................................................................................................ 69

8.2. AMOSTRA .................................................................................................................... 70

8.3. INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS ...................................................................... 70

CAPÍTULO 9 – APRESENTAÇÃO, ESTUDO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS ............. 72

9.1. ANÁLISE DE CONTEÚDO ÀS ENTREVISTAS ............................................................ 72

9.1.1. ANÁLISE TEMÁTICA POR CATEGORIAS ................................................................ 72

CAPÍTULO 10 - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .................................................... 80

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 86

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VII

APÊNDICES ........................................................................................................................ 89

APÊNDICE A – EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE LOGÍSTICA INTEGRADA ...................... 90

APÊNDICE B – MATRIZ DE PORTFÓLIO DA MCKINSEY ................................................. 91

APÊNDICE C – ETAPAS DO PROCEDIMENTO SEGUNDO QUIVY E CAMPENHOUDT .. 92

APÊNDICE D – FASES E ETAPAS DO PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO ........................ 93

APÊNDICE E – INTERLOCUTORES .................................................................................. 94

APÊNDICE F – GUIÃO DE ENTREVISTAS (MILITARES)................................................... 95

APÊNDICE G – GUIÃO DE ENTREVISTA (EMPRESAS) ................................................... 96

APÊNDICE H – SINOPSES DA CATEGORIA 1.1 ............................................................... 97

APÊNDICE I – SINOPSES DA CATEGORIA 1.2 ................................................................. 98

APÊNDICE J – SINOPSES DA CATEGORIA 1.3 ................................................................ 99

APÊNDICE K – SINOPSES DA CATEGORIA 2.1 ............................................................. 100

APÊNDICE L – SINOPSES DA CATEGORIA 2.4 .............................................................. 101

APÊNDICE M – SINOPSES DA CATEGORIA 2.5 ............................................................. 102

APÊNDICE N – MAPA DE REFERÊNCIAS E CATEGORIAS ........................................... 104

APÊNDICE O – REFERÊNCIAS POR ÁREAS TEMÁTICAS E POR CATEGORIAS

(MILITARES) ..................................................................................................................... 105

APÊNDICE P – REFERÊNCIAS POR ÁREAS TEMÁTICAS E POR CATEGORIAS

(EMPRESAS) .................................................................................................................... 106

APÊNDICE Q – ENTREVISTA 1........................................................................................ 107

APÊNDICE R – ENTREVISTA 2 ........................................................................................ 114

APÊNDICE S – ENTREVISTA 3 ........................................................................................ 117

APÊNDICE T – ENTREVISTA 4 ........................................................................................ 123

APÊNDICE U – ENTREVISTA 5 ........................................................................................ 128

APÊNDICE V – ENTREVISTA 6 ........................................................................................ 131

APÊNDICE X – ENTREVISTA 7 ........................................................................................ 136

APÊNDICE Y – ENTREVISTA 8 ........................................................................................ 143

APÊNDICE Z – ENTREVISTA 9 ........................................................................................ 149

ANEXOS ........................................................................................................................... 157

ANEXO I – GESTÃO ESTRATÉGICA COMO PROCESSO SEQUENCIAL ....................... 158

ANEXO II – COMPONENTES DA ESTRATÉGIA .............................................................. 159

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VIII

ANEXO III – O PIPELINE DA SUPPLY CHAIN .................................................................. 160

ANEXO IV – SISTEMA DE INFORMAÇÃO DA CADEIA DE ABASTECIMENTO .............. 161

ANEXO V – POPULAÇÃO E AMOSTRA ........................................................................... 162

ANEXO VI – A COMPONENTE LOGÍSTICA DO EXÉRCITO ............................................ 166

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IX

ÍNDICE DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - REFERÊNCIAS POR CATEGORIAS ............................................................ 77

GRÁFICO 2 - REFERÊNCIAS POR ÁREAS TEMÁTICAS .................................................. 78

GRÁFICO 3 - REFERÊNCIAS POR GRUPOS DA AMOSTRA ............................................ 79

GRÁFICO 4 - REFERÊNCIAS MILITARES NA CADEIA DE ABASTECIMENTO .............. 105

GRÁFICO 5 - REFERÊNCIAS MILITARES NA GESTÃO ESTRATÉGICA ........................ 105

GRÁFICO 6 - REFERÊNCIAS DE EMPRESAS NA CADEIA DE ABASTECIMENTO ........ 106

GRÁFICO 7 - REFERÊNCIAS DE EMPRESAS NA GESTÃO ESTRATÉGICA ................. 106

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X

ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES

ILUSTRAÇÃO 1 - DIVISÕES DA ESTRATÉGIA NA VERTENTE MILITAR ......................... 13

ILUSTRAÇÃO 2 - PROCESSO DE GESTÃO ESTRATÉGICA ............................................ 22

ILUSTRAÇÃO 3 - EVOLUÇÃO DOS MODELOS DE ANÁLISE ESTRATÉGICA ................. 23

ILUSTRAÇÃO 4 - AS CINCO FORÇAS COMPETITIVAS .................................................... 27

ILUSTRAÇÃO 5 - MATRIZ SWOT ....................................................................................... 28

ILUSTRAÇÃO 6 - MODELO DE PLANEAMENTO ESTRATÉGICO TÍPICO ........................ 29

ILUSTRAÇÃO 7 - AS ESTRATÉGIAS GENÉRICAS............................................................ 31

ILUSTRAÇÃO 8 - O PIPELINE LOGÍSTICO ........................................................................ 37

ILUSTRAÇÃO 9 - O PONTO DE DESACOPLAMENTO ...................................................... 40

ILUSTRAÇÃO 10 - ESTRATÉGIAS DA CADEIA DE ABASTECIMENTO ............................ 41

ILUSTRAÇÃO 11 - A CADEIA DE VALOR DE MICHAEL PORTER .................................... 47

ILUSTRAÇÃO 12 - AS 4 PERSPECTIVAS DO BALANCED SCORECARD ........................ 63

ILUSTRAÇÃO 13 - COMPARAÇÃO ENTRE ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS E MILITARES

............................................................................................................................................ 65

ILUSTRAÇÃO 14 - ATRIBUTOS DA ESTRATÉGIA MILITAR E EMPRESARIAL ................ 67

ILUSTRAÇÃO 19 - EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE LOGÍSTICA INTEGRADA ................. 90

ILUSTRAÇÃO 20 - ETAPAS DO PROCEDIMENTO SEGUNDO QUIVY E CAMPENHOUDT

............................................................................................................................................ 92

ILUSTRAÇÃO 21 - FASES E ETAPAS DO PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO ................... 93

ILUSTRAÇÃO 22 - A GESTÃO ESTRATÉGICA COMO PROCESSO SEQUENCIAL ....... 158

ILUSTRAÇÃO 23 - COMPONENTES DA ESTRATÉGIA ................................................... 159

ILUSTRAÇÃO 24 - O PIPELINE DA SUPPLY CHAIN ....................................................... 160

ILUSTRAÇÃO 25 - SISTEMA DE INFORMAÇÃO DA CADEIA DE ABASTECIMENTO .... 161

ILUSTRAÇÃO 26 - ORGANIGRAMA DO COMANDO DA LOGÍSTICA ............................. 166

ILUSTRAÇÃO 27 - ORGANIZAÇÃO DA DIRECÇÃO DE MATERIAL E TRANSPORTES . 166

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XI

ÍNDICE DE TABELAS

TABELA 1 - CARACTERÍSTICAS DE UMA ESTRATÉGIA DE SUCESSO ......................... 26

TABELA 2 - PLANOS TÁCTICOS E OPERACIONAIS DECORRENTES DO

PLANEAMENTO ESTRATÉGICO ....................................................................................... 30

TABELA 3 - CARACTERÍSTICAS DAS DECISÕES ............................................................ 30

TABELA 4 - AS PRINCIPAIS CATEGORIAS ....................................................................... 73

TABELA 5 - MATRIZ DE PORTFÓLIO DA MCKINSEY ....................................................... 91

TABELA 6 - INTERLOCUTORES ........................................................................................ 94

TABELA 7 - SINOPSES DA CATEGORIA 1.1. DESEMPENHO LOGÍSTICO ...................... 97

TABELA 8 - SINOPSES DA CATEGORIA 1.2. CADEIA DE ABASTECIMENTO ................. 98

TABELA 9 - SINOPSES DA CATEGORIA 1.3. FLUXOS FÍSICOS E INFORMÁTICOS ....... 99

TABELA 10 - SINOPSES DA CATEGORIA 2.1. O PENSAMENTO ESTRATÉGICO MILITAR

.......................................................................................................................................... 100

TABELA 11 - SINOPSES DA CATEGORIA 2.4. GESTÃO ESTRATÉGICA ....................... 101

TABELA 12 - SINOPSES DA CATEGORIA 2.5. PLANEAMENTO OPERACIONAL E

TÁCTICO ........................................................................................................................... 103

TABELA 13 - MAPA DE REFERÊNCIAS E CATEGORIAS ............................................... 104

TABELA 14 - EMPRESAS TOP 100 PELA AEP, FERROVIA, MARÍTIMAS E AÉREAS .... 165

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1

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

1.1. ENQUADRAMENTO E JUSTIFICAÇÃO DO TEMA

O desenvolvimento deste estudo foi motivado pela vontade de perceber a

forma como as empresas/organizações gerem a sua componente logística, em

função das opções estratégicas fundamentadas na Cadeia de Abastecimento. Outro

factor motivacional tem a ver com a intenção de perceber o verdadeiro papel do

pensamento estratégico militar na logística das empresas e na gestão da cadeia de

abastecimento. Por outras palavras, perspectivámos sempre a Cadeia de

Abastecimento no centro das decisões estratégicas.

Frequentando o curso de Mestrado em Gestão dos Transportes e Logística

procurámos compreender as bases que sustentam a gestão da cadeia de

abastecimento, a sua relação com a Logística, observando essas bases numa

perspectiva estratégica, buscando, dessa forma, a aquisição de conhecimentos

nessas áreas, com vista a utilização desses num futuro próximo.

De um modo geral, almejámos com esta pesquisa contribuir de forma

significativa para o estudo da Logística empresarial, observando a componente

estratégica da cadeia de abastecimento, como instrumento de representação dos

objectivos, decisões, políticas e planos da empresa.

1.2. DELIMITAÇÃO DO ESTUDO E OBJECTIVOS DA

INVESTIGAÇÃO

Cientes da dimensão da temática por nós escolhida, no contexto da

Logística e da Estratégia Empresarial, delimitámos as áreas à observar no nosso

objecto de estudo, a Cadeia de Abastecimento. Assim, orientámos a nossa pesquisa

para os resultados observáveis nas seguintes áreas:

- Transportes;

- Gestão de Stocks, Depósitos e Armazéns;

- Localização;

- Nível de Serviço ao Cliente;

- Gestão da Informação.

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Por forma a abarcar todas essas áreas acima indicadas, assumiram especial

relevância: os principais modelos de representação, bem assim como as opções

estratégicas da Cadeia de Abastecimento; os fundamentos ou características mais

relevantes da gestão estratégica da cadeia de abastecimento; os métodos de

análise e indicadores de gestão.

Objectivamente, nesta pesquisa, procurámos avaliar o impacto da estratégia

na logística de empresas de Distribuição e Logística e de algumas Unidades

Militares, sobretudo nas principais áreas da gestão da cadeia de abastecimento.

Perspectivámos o nosso estudo tendo em conta a evolução do pensamento

estratégico e logístico militar, com vista uma melhor interpretação daquelas que são

as grandes decisões e factores de sucesso das empresas, na actualidade.

Um objectivo importante para o desenvolvimento dessa pesquisa foi a

intenção de compilar vários autores que deram um forte contributo para o

desenvolvimento da temática em análise. Nisso, recolhemos ideias, trabalhos e

textos de autores, desde a antiguidade até ao presente.

1.3. PROBLEMA DE INVESTIGAÇÃO

Com esta pesquisa pretendemos dar resposta a algumas questões, de onde

se destacou a questão central: Qual é a Importância da Gestão Estratégica nas

Cadeias de Abastecimento?

Com base na referida questão central, que identifica o objectivo mais geral,

levantaram-se as questões de investigação (visando os objectivos específicos):

Qi1 – Qual é o contributo da Estratégia Militar na Logística Empresarial?

Qi2 – Como é que as empresas operacionalizam a Gestão Estratégica na

área da Logística afim às cadeias de Abastecimento?

Qi3 – Qual é a relação existente entre as Cadeias de Abastecimento e a

Logística Empresarial?

Qi4 – Quais são as diferenças entre a Logística Militar e a Logística

Empresarial?

Para responder as questões levantadas, desenvolvemos algumas

proposições de investigação que pretendemos testar, havendo para tal uma

verificação empírica:

H1 – As empresas baseiam-se nos modelos de planeamento militar para

definir os seus planos logísticos;

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H2 – As empresas empregam os meios logísticos de forma estratégica, por

forma a dar resposta às exigências adstritas às Cadeias de

Abastecimento;

H3 – A eficiência da distribuição na Logística Empresarial depende da

optimização das Cadeias de Abastecimento implementadas;

H4 – Na Logística empresarial não existe lugar a tréguas, porque o conflito

empresarial é constante.

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4

PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO E QUADRO DE

REFERÊNCIA

Nesta parte tentámos recolher e compilar as principais ideias, fundamentos e

técnicas subjacentes aos conceitos de Estratégia e Logística, sem descurar das

envolventes contextuais em cada uma das fases de evolução, fosse ela de paz ou

de guerra, resumindo autores desde a antiguidade até as mais recentes abordagens

desenvolvidas.

No que diz respeito a estratégia, tal como refere Francisco Abreu (2002, p.

24), “pensamento estratégico há só um”, diferentes são os contextos de aplicação

das análises extraídas do processo estratégico, as motivações dos intervenientes no

referido processo, os métodos e meios utilizados para enfrentar o ambiente conflitual

ou competitivo. Contudo, existem vários pontos de convergência entre os dois

contextos em questão que procuramos identificar ao longo da nossa pesquisa.

Daqui, pode-se dizer que tanto o gestor como o estratega militar podem reger-se

pelo mesmo manual, pautando a diferença na aplicação das conclusões extraídas

do mesmo. Neste sentido, acrescenta-se ainda que “não existe um caminho melhor

para criar a estratégia nem há uma forma melhor de organização. O mundo está

cheio de contradições e o estratego é aquele que vive com contradições, aprende a

apreciar as suas causas e efeitos e reconcilia-as suficientemente para a acção

efectiva” (Rascão, 2001, p. 119).

Os aspectos logísticos têm destaque no estudo da estratégia e dos

diferentes acontecimentos que marcaram a história da humanidade. Citando João

Dias (2005, p. 27), “poder-se-iam apresentar exemplos que mostram como os

conceitos ligados ou associados à necessidade de processamento adequado do

abastecimento foi muito importante durante todos os períodos da História da

Humanidade”. Escolhendo como exemplo as conquistas portuguesas a volta do

mundo, o mesmo acrescenta que, “basta apenas a tentativa de compreender e

aquilatar das dificuldades com que terão sido planeados muitos dos

empreendimentos das descobertas e conquistas portuguesas em África, na Índia, na

Indochina (…) para imaginarmos como a resolução das questões de natureza

logística terá sido determinante para o êxito alcançado”.

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CAPÍTULO 2 – O CONTEXTO MILITAR

2.1. A ABORDAGEM INDIRECTA E A ESTRATÉGIA MILITAR

CLÁSSICA

A nossa retrospectiva começa com o primeiro dos pensadores da Estratégia,

segundo Francisco Abreu, que estimulou o recurso a abordagem indirecta1, Sun

Tzu, que como veremos no decurso da pesquisa teve como seguidor Liddell Hart

(Abreu, 2002, p. 37).

Na caracterização da teoria do estratega acima referido, recorremos às

máximas extraídas dos 13 capítulos da sua obra, A Arte da Guerra.

Para o general chinês, “toda a guerra é baseada no engano” e acrescenta

que as estratégias usadas pelos comandantes devem mostrar que “quando

preparados para atacar, devemos deixar transparecer o contrário; quando

movimentamos as nossas forças, devemos parecer inactivos; quando estamos

próximos, devemos fazer crer ao inimigo que nos encontramos longe; quando

estamos longe, devemos fazê-lo crer que nos encontramos próximos” (Tzu, 2009, p.

69).

Numa abordagem indirecta, Sun Tzu, recomenda que se lance engodos ao

inimigo para o atrair e simular a desorganização da força para esmaga-lo de

seguida. Nesta linha de pensamento, o general reforça ainda que estas técnicas que

conduzem a vitória devem ser mantidas em segredo até ao momento do verdadeiro

ataque (Idem, p. 70). Essa abordagem pode ser traduzida como “o racional da

decepção, do engano, da importância dos sinais, do falso movimento, da falsa

estrutura e armamento” (Moreira e Ramalho, 2012, p. 260).

Avançando para o período dominado pelas guerras entre Grécia e Roma,

destacamos o facto de a Estratégia encontrar-se ainda numa fase embrionária.

Neste período olhamos, com recurso às análises feitas por Liddell Hart, para as

opções estratégicas presentes nas guerras, com especial relevância para o método

de abordagem indirecta.2

1 Conceito abordado mais profundamente nos pontos da pesquisa sobre o estratega Liddell Hart.

2 Estudando vários casos, Liddell Hart procura mostrar que o recurso a abordagem directa conduz a

derrota. No caso concreto de Alexandre, refere que o mesmo ao enfrentar Dario III na Síria, recorrendo a abordagem directa, foi estrategicamente superado pela abordagem indirecta do seu opositor (Hart, 2011, p. 53).

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A primeira, com relevância, para o contexto da Estratégia, foi a invasão

persa de 490 a.C., de onde se destaca a batalha de Maratona onde os Persas

recorreram a uma abordagem indirecta para conquistar Atenas, desembarcando 38

quilómetros a nordeste de Atenas, garantindo a insurreição em Atenas pelos seus

apoiantes e poderem analisar a aproximação do exército ateniense. Com Atenas

desguarnecida, os persas contornaram a costa e atacaram Atenas (Hart, 2011, pp.

40 e 41).

No que diz respeito aos ensinamentos de Alexandre, os mesmos referem-

se a grande estratégia3, destacada também por Epaminondas4, e a táctica (Hart,

2011, pp. 44, 45, 48 e 53). Recorrendo a progressão indirecta, de acordo com a

grande estratégia, Alexandre procura estender o seu império pela Ásia. Os seus

feitos vêm, assim, dar continuidade ao legado deixado por seu pai, Filipe.

Aníbal, também, fazia parte dos combatentes que recorriam constantemente

a abordagem indirecta. Um exemplo disto é a forma como Aníbal enganou Cipião,

quando este tentou impedi-lo que atravessasse Ródano, tendo Aníbal optado por um

percurso menos direito através do vale Isère, levando Cipião a deixar parte do seu

exército para trás e a combate-lo numa planície onde Aníbal tinha maior vantagem

estratégica (Idem, p. 60).

Para travar, efectivamente as vitórias de Aníbal, entra em cena Cipião “O

Africano”, tentando minimizar os estragos da responsabilidade de seu pai e o seu

tio. Numa das suas investidas, Cipião, recorrendo também à uma abordagem

indirecta, ataca a base estratégica de Aníbal, tomando Cartagena, usando, sobre

Aníbal, o factor surpresa e um bom sentido de oportunidade. Cipião derrota Aníbal,

finalmente, conduzindo-o a um ponto estratégico em que o mesmo estava

desprovido de reforços materiais, reduzindo a sua força moral, estratégica,

identificando-se nesse contexto uma derrota táctica (Ibidem, pp. 66 e 69).

3 O que se denominou de Grande Estratégia era o plano de Perícles que, tinha como objectivo

esgotar gradualmente a capacidade de resistência do inimigo, fazendo recurso a armas económicas, políticas e psicológicas. Nos tópicos mais adiante teremos a oportunidade de voltarmos à este assunto. 4 Sobre Epaminondas, Liddell Hart analisa as suas conquistas, destacando nelas aspectos

referentes a Estratégia e a Táctica. Sendo um exemplo da perícia de Epaminondas a técnica utilizada em Leuctra, onde a formação adoptada pelas suas forças diferiam das opções anteriores. Nesta campanha, Epaminondas posiciona os seus melhores homens e grande parte da sua força na ala esquerda, deixando no centro e à direita os fracos, o que permitiu-lhe ter uma força elevada concentrada na ala onde o inimigo tinha o seu líder.

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2.2. O PENSAMENTO ESTRATÉGICO MILITAR

A Revolução Francesa de 1789 apresenta ao mundo Napoleão Bonaparte

que viria a ser figura de destaque no panorama internacional, seguindo-se uma

sequência de eventos que marcaram a Europa, entre esses a guerra peninsular com

a invasão de Portugal no final de 1807, todos com a assinatura do Imperador que

dominava os conceitos estratégicos e tácticos (Abreu, 2000, p. 121).

No seu percurso expansionista, Napoleão recorreu a “um exército de cariz

Nacional inventado pela revolução de 1789”, que, além de reforçar a coesão social,

com a mobilização em massa da população, levantou a necessidade de “um novo

modelo estratégico que alterou profundamente os procedimentos de condução da

guerra usados em séculos anteriores”. Das operações organizadas de acordo com

este modelo, destacamos que, “a conjugação da dimensão acrescida dos exércitos

com o elevado grau de autonomia logística dava-lhes ainda a possibilidade de

repartir as tropas em parcelas, cada uma das quais com capacidade para conduzir

uma acção independente” (Idem, 2000, pp. 123 a 126). Note-se que as questões

logísticas assumiram importância face a alteração na organização e disposição da

força em campanha.

Podemos ainda argumentar que, a estratégia utilizada por Napoleão

Bonaparte, durante a Revolução Francesa, no que concerne a disposição das

tropas, “as quintas colunas”, serviu de referência no apoio às operações em

desenvolvimento. Sendo este, um “modelo que dominou a estratégia europeia do

século XIX e da primeira metade do século XX”, tendo sido, por isso, aplicada nas

duas grandes guerras mundiais de 1914 e de 1939, onde foram identificadas as

falhas deste modelo (Beaufre, 2004, p. 42).

Carl von Clausewitz, “referência incontornável na abordagem temática e

militar do conceito de estratégia”, segundo João Dias, separou da estratégia a sua

componente operacional ou táctica, visando a estratégia, na opinião deste estratega,

“conhecer a nossa posição e quais as forças com que contamos” (Dias, 2005, p.

248). Para Clausewitz era importante olhar para as batalhas para se definir a

estratégia e se alcançarem os objectivos da guerra, cabendo à estratégia determinar

as batalhas a serem travadas em cada campanha (Hart, 2011, p.385).

Na sua marcha, Clausewitz chegaria mesmo a cruzar-se com Napoleão que,

nessa altura procurava dominar a Europa. Passando também os feitos desse

estratega pela campanha de 1813 onde impediu que os franceses conquistassem as

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costas do Báltico, combatendo, seguidamente os avanços do exército napoleónico,

em Waterloo (Abreu, 2000, p. 120).

Sobre este estratega podemos ainda destacar que, “o modo como o general

Clausewitz julgava as coisas, tirava conclusões de certos movimentos e marchas,

calculava o tempo das marchas e os pontos onde se tomariam decisões, era

extremamente interessante” (Clausewitz, 1997, p. 26).

Tentaremos mais a frente ir analisando o contributo desse pensador para o

desenvolvimento do conceito de estratégia e da teorização da guerra.

Por agora e tal como foi inicialmente referido, na nossa pesquisa

procurámos interpretar e comparar as diferentes teorias formuladas pelos estrategas

mais relevantes.

Sir Basil Henry Liddell Hart, defensor activo da abordagem indirecta, como

discípulo assumido de Sun Tzu, na perspectiva de Francisco Abreu5 foi mais longe

no que concerne a dialéctica das abordagens directa e indirecta, já aqui referidas.

Assim, em defesa da sua tese sobre a abordagem indirecta, Liddell Hart considerou

a “experiência directa” como “inerentemente demasiado limitada para construir uma

base adequada, quer para a teoria quer para a aplicação” (Hart, 2011, p. 36). Sobre

a abordagem indirecta, Liddell Hart referiu ainda que, “ao longo das várias épocas os

resultados efectivos da guerra só raramente foram atingidos e só o foram quando a

abordagem foi suficientemente indirecta para assegurar a impreparação do opositor

ao enfrentá-la” reforçando ainda que “ na estratégia, o desvio mais longo é

frequentemente o caminho mais curto” (Idem, 2011, p. 37). A mensagem que

podemos tirar daqui, no que diz respeito aos resultados práticos, além de muitas

outras, é que a abordagem indirecta visava reduzir o número de baixas no ataque,

evitando assim um derrame de sangue desnecessário.

A vertente indirecta abordada por Liddell Hart, na perspectiva de André

Beaufre, combinada com a “ameaça directa” era a resposta face a um grau de

liberdade de acção reduzido, meios limitados e um objectivo importante (Beaufre,

2004, p. 40).6

A relação entre as opiniões dos diversos autores que constituíram esta

pesquisa foi fundamental para se alcançarem conclusões mais completas. Na

relação entre as abordagens de Liddell Hart e Clausewitz destacamos a seguinte

5 Cfr. Abreu, 2002, p. 38.

6 Esta estratégia foi utilizada pela Grã-Bretanha, tendo também resultado com Hitler entre 1935 e

1939 Cfr. Beaufre, 2004, p. 40.

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frase extraída do livro do primeiro, “Liddell Hart não foi o Clausewitz do século XX,

como ele próprio e outros quiseram proclamar, mas foi, provavelmente, quem mais

dele se aproximou” (Hart, 2011, p. 18).

O caminho percorrido por Liddell Hart no contributo para o desenvolvimento

do pensamento estratégico seria também seguido por outro teorizador, André

Beaufre que, como veremos a seguir, aproximou os seus fundamentos aos de

Liddell Hart.

A relevância do trabalho do General André Beaufre é destacada por Cabral

Couto quando, juntando-o a Liddell Hart e outros pensadores de referência,

classifica-o como um dos membros da “escola francesa” do pensamento estratégico

(Abreu, 2002, p. 18). No prefácio da edição portuguesa da obra de André Beaufre,

Introdução à Estratégia, Cabral Couto lembra ainda que “o mérito, extraordinário, do

General Beaufre foi o de ter conseguido, num capítulo de poucas dezenas de

páginas, de uma obra de dimensões também reduzidas, esclarecer, de uma forma

coerente e lógica, meia dúzia de conceitos fundamentais que permitem o

desenvolvimento de uma teorização geral da estratégia, aplicável em permanência a

qualquer tipologia da confrontação, em potência ou em acto, entre actores políticos e

independente da técnica ou do momento histórico” (Beaufre, 2004, p.15). A obra

acima referida, apesar de ser de dimensão reduzida – recordando Cabral Couto – no

que concerne a dimensão dos conceitos explorados tem um grande alcance. Tal

como refere Liddell Hart, no prefácio à edição francesa da mesma obra, a mesma

pode se tornar “um clássico, um manual” na disciplina de estratégia (Idem, 2004, p

25).

Beaufre contribuiu, tal como todos outros pensadores por nós estudados,

para os pontos que a seguir se apresentam, onde procuramos interpretar os

fundamentos subjacentes a este conceito. Procuramos, desta forma, ir para além da

distinção clássica entre a abordagem directa e indirecta, analisada anteriormente,

para abarcarmos outros factores relacionados com esta ciência e arte.7

2.3. FUNDAMENTOS DA ESTRATÉGIA MILITAR

Depois de termos avançado na evolução do conceito de estratégia e no

estudo das teorias desenvolvidas pelos seus pensadores, passamos para a fase de

análise dos principais elementos que o constituem. Deste modo, fazendo recurso

7 Conforme interpretado no ponto seguinte.

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aos pontos até aqui desenvolvidos e tendo em especial atenção os teorizadores

neles referidos, procuramos interpretar os elementos que a seguir se apresentam.8

O primeiro elemento que trazemos para aqui é a própria definição de

estratégia. A primeira definição que destacamos, aquela que achamos ser a mais

abrangente, ou a que mais amplamente melhor se adequa ao contexto desta

pesquisa tem como autor o General Abel Cabral Couto que definiu a estratégia

como “a ciência e a arte que, em função das finalidades da organização, estabelece

objectivos e gera, estrutura e utiliza recursos, a fim de se atingirem tais objectivos,

num ambiente conflitual ou competitivo” (Abreu, 2002, p. 49). Esta definição deixa

uma margem de aplicação para os dois contextos em causa no nosso estudo, o

militar e o empresarial, ou o conflitual e o competitivo. Outra definição de estratégia

que escolhemos é de Loureiro dos Santos e refere que, a estratégia “é a

ciência/arte que tendo como referência a guerra, gera, organiza e emprega a força

para atingir os objectivos definidos pelo poder político com maior rendimento”

(Barrento, 2010, p. 104).

Tal como vimos nos diversos exemplos que caracterizaram a evolução do

pensamento estratégico, citando Francisco Abreu, “para que a concepção e a

execução de uma estratégia façam sentido teremos que ser confrontados com uma

oposição, isto é, com uma vontade antagónica, ou entidade hostil, que tenta relegar-

nos para uma situação de inferioridade” (Abreu, 2002, p. 33). Assume-se então,

tendo em conta o que foi dito, que o ambiente conflitual é característico da

estratégia, sendo a mesma desenvolvida “para agir num universo hostil e incerto”

face a um conhecimento limitado dos adversários e das suas estratégias,

encontrando-se também em causa as relações internacionais e o recurso a

violência, como forma de coacção (Barrento, 2010, p. 107). Com este

desenvolvimento avançamos para outro aspecto também fundamental, objectivo e

de delimitação da estratégia, a coacção.

A relação entre a estratégia e a coacção é forte, pela forma e intensidade

como a primeira recorre a segunda, sendo a coacção responsável por “anular ou

restringir os propósitos dos adversários que se opõem a realização dos nossos

objectivos”. Podendo a mesma assumir várias formas, de acordo com a área de

incidência, tal como veremos já de seguida (Idem, p. 121). O recurso a coacção,

8 Alertamos que os fundamentos que apresentámos não representam a totalidade das características

gerais subjacentes ao conceito de estratégia, apresentámos apenas aqueles que consideramos mais relevantes face aos objectivos da pesquisa.

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como elemento de resolução de conflitos estratégicos passa pelos diversos escalões

psicológico-social, económico e o político-militar. Neste sentido, para a interpretação

do que foi dito, apresentamos a análise que o General Cabral Couto faz à conquista

da fortaleza, sendo possível, na opinião do mesmo, conquistar tal objectivo (Abreu,

2002, p.36):

Com tiros de canhão – coacção militar;

Persuadindo as cidades com as quais a fortaleza mantém relações e

retirarem-lhe o apoio que lhe estejam a conceder – coacção diplomática;

Enfraquecendo moralmente a sua guarnição – coacção psicológica;

Pela fome, realizando um cerco ou bloqueio - coacção económica;

Fomentando sublevações internas – coacção política clandestina,

porque subversiva, no interior do adversário.9

Como observámos nas várias abordagens que marcaram os períodos da

evolução do conceito de estratégia, a guerra sempre esteve presente como

elemento de análise ou estudo da estratégia. Assumindo, por isso, a guerra

relevância no estudo da estratégia (Barrento, 2010, p. 49). A guerra pode, pois, ser

entendida como “um duelo de grande escala” onde cada uma das partes envolvidas

procura que o outro se submeta à sua vontade10, passando ainda o objectivo da

acção da mesma pela necessidade de desarmar o inimigo (Clausewitz, 1997, p. 29).

Na sua obra Da Guerra, Clausewitz definiu a guerra como “uma mera continuação,

por outros meios, da política“ advertindo ainda que “a guerra é sempre um meio

sério para um fim sério “, ficando por isso a decisão de faze-la à cargo das altas

chefias políticas e militares (Idem, pp. 45 e 46).

É responsabilidade da grande estratégia, ou estratégia total ou política, olhar

para lá da guerra e controlar o recurso à mesma, por forma a não prejudicar o futuro

(Hart, 2011, p. 389).

9 Daqui, percebemos, de resto, o peso da coacção no contexto da estratégia, olhando para as

diversas formas que a mesma pode assumir, em função dos objectivos políticos, entendendo-se assim a coacção como instrumento de preferência. 10

Esta definição destaca a ideia defendida anteriormente acerca da presença da dialéctica de vontades.

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2.3.1. DIVISÕES DA ESTRATÉGIA

Depois de termos definido o conceito de estratégia, lato sensu, passamos à

sua divisão, sendo nesta fase em que se identificam os intervenientes no processo

sobre os quais não falaremos, neste contexto.

André Beaufre (2004, pp. 45 e 46) subdivide a estratégia, criando uma

pirâmide, da seguinte forma:

No vértice, subordinada à política, identifica-se a Estratégia Total11

responsável pela concepção e condução da guerra total, definindo a

missão própria a cada uma das estratégias gerais;

Como ponto intermédio, identificam-se as estratégias gerais política,

económica, diplomática e militar sendo as missões dessas definidas pela

componente anterior, a estratégia total, e no exercício das suas funções

devem repartir e combinar as acções desenvolvidas nos diferentes

ramos de actividades. No caso da estratégia geral militar deve procurar

combinar da melhor maneira as componentes terrestres, aéreas e

navais;

Na base do triângulo, encontra-se a estratégia que Beaufre chamou de

operacional12, sendo este o elemento responsável por avaliar as

condições técnicas e tácticas para a execução dos objectivos definidos

pela estratégia geral, evoluindo cada um dos ramos, à este nível, de

modo a responder as exigências estratégicas. Situando-se também a

este nível os factores logísticos e a estratégia do tempo de paz que o

mesmo denominou de estratégia genética.

Francisco Abreu, por seu turno, representou as divisões da estratégia na

vertente militar da seguinte maneira:

11

Também denominada por Grande Estratégia ou Estratégia Nacional Cfr. Beaufre, 2004, p. 45. 12

Também designadas por Estratégias Particulares Cfr. Barrento, 2010, p. 122.

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13

Patamar

superior

ESTRATÉGIA INTEGRAL

Patamar

intermédio

ESTRATÉGIAS SECTORIAIS

(Diplomática, Psicológica, Económica, Política subversiva, Militar)

Patamar

inferior

ESTRATÉGIAS ESPECÍFICAS

(No âmbito da Estratégia Militar: Terrestre, Marítima, Aeroespacial)

Ilustração 1 - Divisões da Estratégia na vertente Militar

Fonte: Adaptado de Francisco Abreu, 2002, p. 41

A interpretação presente nesta representação aborda a estratégia total ou

nacional, vista no ponto anterior sob perspectiva de Beaufre, numa dimensão

integral derivado do número de instrumentos de coacção e da diversidade de

recursos e capacidades (Abreu, 2002, p. 40).

Dentro das Estratégias Específicas, representadas na figura, identificadas no

patamar inferior, podemos perspectivar para cada uma delas uma componente

táctica correspondente, sendo por esse motivo relevante desenvolvermos este

elemento no ponto que se segue.

2.3.2. VISÃO TÁCTICA E OPERACIONAL

O desenvolvimento da guerra passa pelas fases de concepção e de

condução, sendo, por isso, a Táctica “a teoria da utilização das forças militares em

combate” (Clausewitz, 1997, p. 95). Nesse contexto pode-se ainda acrescentar que

a táctica se desenvolve na esfera de acção do combate e a estratégia visa a

“redução do combate para as menores proporções possíveis”, sendo por isso, tal

como já explicamos, os efeitos pretendidos por este acto calculados pela grande

estratégia ou política (Abreu, 2002, p. 85).

As principais diferenças entre o plano estratégico e táctico têm a ver com

dimensão geográfica e temporal de cada um, bem assim como o volume de meios

colocados a disposição. Essa ideia pode ser entendida observando que as decisões

estratégicas alteram profundamente os potenciais à utilizar no confronto e o

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14

respectivo posicionamento de cada contendor na relação de forças13 (Abreu, 2002

pp. 81 e 82). Com efeito, trazemos a definição de estratégia da autoria de Moltke,

como factor diferenciador dos dois planos, na qual o mesmo refere-se a estratégia

como “a adaptação prática dos meios postos à disposição dos generais para

alcançar os fins da guerra” (Barrento, 2010, p. 101). Esse general prussiano refere

ainda que “a Estratégia indica o melhor caminho para conduzir a batalha; ela diz

onde e quando se deve combater, enquanto a Táctica diz como se deve combater”

(Moreira e Ramalho, 2012, p. 263).

Daqui e de acordo com os pontos anteriores, existe ainda uma margem para

entendermos que uma maior disponibilidade de recursos para um plano de longo

prazo corresponde à uma abordagem estratégica, enquanto que, um plano de curto

prazo com recurso a meios mais reduzidos e específicos para actividades mais

operacionais corresponde a táctica.

Em suma, não basta apenas definir uma boa estratégia. É necessário

também olhar para a componente táctica e operacional da mesma, tal como defende

José Rascão (2001, p. 188) quando refere que “a melhor estratégia, no plano teórico

obterá inevitavelmente um revés, se os suportes organizacionais da estrutura,

planos operacionais e de controlo e a motivação não estiverem adaptados às

características das acções que é necessário empreender”.

13

Podemos facilmente encarar esse posicionamento e escolha de meios à utilizar estabelecendo um paralelismo com os movimentos que cada jogador desenvolve numa partida de xadrez, antecipando a acção do adversário, bloqueando-a ou não, atacando ou defendendo conforme a sua estratégia, procurando um desfecho que lhe seja favorável.

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15

2.4. A LOGÍSTICA NO CONTEXTO MILITAR

A vertente militar desta ciência é entendida, de acordo com alguns autores,

como a origem dos conhecimentos que sustentam o conceito em análise: como

justifica o autor, “ciência dos fenómenos da criação de valor, da economia aplicada,

da relação entre os mercados, os fornecedores e os clientes, ciência de gestão de

fluxos, ciência que integra a informação, a comunicação e as suas tecnologias e

sistemas nos processos de criação de valor” (Dias, 2005, p. 39).

A forma como os exércitos mantinham as suas tropas em campanha, no que

concerne a abastecimento nas diversas classes - e de acordo com as seis actuais

funções de base, a saber, abastecimento, manutenção, pessoal, saúde, transporte e

infra-estruturas14- deu-se início aos primeiros passos em prol do conceito de

Logística. Tal como refere João Dias (Idem, p. 25), “é precisamente o papel que a

aplicação militar teve ao longo da História dos povos e das nações na introdução,

mutação, maturação e evolução da logística que é facilmente reconhecível em

muitos dos conceitos actualmente utilizados nas actividades de criação de valor

utilizadas pela sociedade civil”.

As referências acima mencionadas ajudam-nos a perceber o facto de a

Logística ter evoluído com os exércitos face à evolução dos seus equipamentos,

profundamente afectados com o aparecimento da pólvora, e as alterações ao nível

da Táctica usada em campanha. Acerca disto, José Carvalho (2004, p. 22)

considera que a manobra militar e a logística não se podem dissociar, ao nível do

planeamento, e colocando-as ao mesmo nível, alerta sobre a necessidade do

planeamento logístico antecipar-se a manobra militar, visando a economia dos

meios e recursos empregues, com o fim último de se alcançar o êxito das

operações. Das alterações referentes ao equipamento e a táctica usada, o mesmo

autor, evidencia as questões relacionadas com o equipamento transportado por um

soldado no teatro de operações, referindo que “se um soldado romano combatia e

sobrevivia com apenas 1 Kg de abastecimentos por dia, em 1870 este valor já

ascendia a cerca de 8 Kg para, mais tarde, em 1918, passar para 18 kg, em 1943

para 30 Kg e nos dias de hoje para mais de 100 Kg” (Idem, p. 22).

Comecemos então pelo princípio, ou seja pelo destaque inicial para os

autores que constituem o nosso quadro de referências.

14

Cfr. Dias, 2005, p. 28.

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16

Os antigos pensadores, muitos deles já aqui referenciados, destacavam

constantemente a importância da necessidade de aprovisionamento para as tropas

em campanha.

Na sua obra, A Arte de Guerra, Sun Tzu também destacou a importância da

Logística nas manobras militares. Uma das suas máximas que espelhou essa ideia

foi a de que “podemos concluir que um exército sem o seu trem de bagagens está

perdido; sem mantimentos está perdido; sem bases de abastecimento está perdido”

(Tzu, 2009, p.113), referindo-se, com base nas metáforas do seu tempo, às

provisões e a necessidade de antecipar a constituição de mantimentos para garantir

a vitória duma força militar.

No período em causa, o recurso ao saque foi uma das técnicas mais usadas

de reabastecimento. Este método de suporte das operações, considerado eficaz, foi

usado sistematicamente durante séculos (Carvalho, 2004, p. 20). Quanto a esta

técnica de abastecimento, Sun Tzu aconselhou a distribuição dos mantimentos

saqueados pelos homens, conseguindo-se com isso manter a moral das tropas em

alta (Tzu, 2009, p. 115).

Durante as campanhas, os deslocamentos, segundo os ensinamentos do

general chinês, nunca deveriam exceder nem reduzir a quantidade de equipamento

a transportar, em detrimento de uma vantagem estratégica sobre o inimigo (Idem,

pp. 111 e 112). Da mesma forma, numa análise essencialmente Logística, pode-se

dizer que, para o caso da campanha ir para além do tempo previsto, os recursos

poderão não estar preparados para um esforço adicional (Ibidem, p. 72).

Recordamos, com esta máxima, a necessidade de se rever o plano estratégico ou a

manobra a desenvolver, em função das capacidades logísticas.

Da antiguidade trazemos também a campanha de Aníbal em Cana, depois

da qual “o receio de não conseguir sustentar durante muito mais tempo um exército

de ocupação poderá ter levado Aníbal a não avançar e voltar para trás quando, de

vitória em vitória, chegou a estar a cerca de 50 km de Roma” (Dias, 2005, p. 26).

Ainda acerca deste período, temos outra campanha onde as questões logísticas

com as quais Xerxes se deparou, quando tentava uma abordagem indirecta com um

exército grande e por isso difícil de transportar por mar, seguindo assim por terra,

mantendo o seu abastecimento por mar, ou seja, ficando preso à costa, deixando

por isso a sua manobra visível aos gregos (Hart, 2011, p. 41).

Nas diversas abordagens evolutivas da Logística mencionam-se

frequentemente as campanhas de Napoleão Bonaparte dada a relevância que o

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17

mesmo atribuiu a componente Logística. Na campanha da Rússia, por exemplo, face

a situação em que se encontrava, Napoleão alerta destacando a importância de um

abastecimento eficaz que “os soldados marcham com o estômago” (Carvalho, 2004,

p. 20). Tal aviso deveu-se ao facto de ter encontrado um território onde os recursos

para manter as suas tropas teriam sido destruídos. Outra referência a Napoleão está

associada ao seu “trem das equipagens”15 que lhe acompanharam nas batalhas

seguintes, assegurando-lhe os movimentos e a alimentação (Dias, 2005, p. 26). No

caso concreto da alimentação, as tropas de Napoleão eram apoiadas através do

estabelecimento de uma base de alimentação na fronteira; as provisões

transportadas eram consumidas apenas no destino; enquanto as tropas avançavam

iam-se criando, sobre as linhas de comunicação, postos que serviam para a

alimentação dos destacamentos, constituindo-se, assim, bases intermédias à

medida que as tropas se afastavam da primitiva (Santos, 2010, p. 54).

Henri Jomini trouxe uma nova perspectiva Logística, atribuindo ao conceito

uma visão mais estruturada (Carvalho, 2004, p. 20). Nesse sentido, a Logística

passou a ser vista para além da sua componente física para ser também entendida

como uma componente administrativa.

Nos parágrafos seguintes trazemos uma sequência de eventos que

contribuíram para a evolução do conceito em questão, caracterizando os momentos

mais relevantes dos séculos XIX, XX e XXI. O primeiro evento foi marcado por uma

evolução nos transportes relacionada com os caminhos-de-ferro, a Revolução

Industrial entre outros acontecimentos (Rousseau, 2008, p. 29).

Sobre a II Guerra Mundial analisam-se vários aspectos estratégicos e

tácticos. Para destacar a logística nesse acontecimento podemos atentar, por

exemplo, para o ataque relâmpago ou blitzkrieg, desenvolvido pelos alemães, que

visava a conjugação das forças mecanizadas e os meios aéreos (Carvalho, 2004, p.

20). Esses meios, conjugados com o fim último de vencer a batalha, exigiam uma

base bastante sólida de apoio em munições, combustível, homens e víveres, entre

outros, implicando um planeamento correcto das actividades a desenvolver.

Outro acontecimento que entendemos interessante referir, consiste no

famoso desembarque dos Aliados na Normandia, em 1944, que reuniu uma

capacidade de 326 000 homens, 54 000 veículos e 104 000 toneladas de reservas

15

Constituído por 8 batalhões, divididos em quatro companhias, apoiadas por 1150 viaturas Cfr. Santos, 2010, p. 56.

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18

(Carvalho, 2004, p. 21). Mais uma vez, é evidente que essa proeza não seria

possível sem um abastecimento logístico consistente.

Na sequência das várias campanhas militares desenvolvidas no presente

século e no que antecedeu a este, analisadas pelos autores do nosso quadro de

referência, avançamos para o resumo das batalhas dos Aliados, sobre as quais João

Dias comenta que, as guerras do Golfo, em 1991, na Sérvia, Bósnia, Afeganistão e

Iraque, em 2003, além de representarem uma boa organização estratégica, também

espelharam o bom desempenho da manobra logística associada à mesma (Dias,

2005, p. 26).

Face à conjuntura acima descrita, cumpre-se a missão da Logística no

contexto militar, ou seja, “desenvolver e manter o máximo potencial de combate

através do apoio aos sistemas humanos e de armas” (Carvalho, 2004, p. 22) que,

atenta de novo para a necessidade de complementaridade entre o planeamento

estratégico e o logístico.

Adiantamos a abordagem ao contexto logístico militar, destacando as

funções e actividades associadas ao mesmo, por forma a resumi-las e a realçar a

sua importância. Enumeramos: a organização de meios de transporte (engenhos e

animais); o abastecimento de víveres, água potável, armas e munições nas

quantidades exigidas pela operação à desenvolver; o alojamento, evacuação e

substituição das tropas; a manutenção, reparação e substituição de equipamentos;

hospitalização em campanha e tratamento de feridos, contacto com as populações

locais, entre muitas outras (Dias, 2005, p. 27).

A escassez de recursos e a dificuldade de distribuição dos mesmos, que têm

conduzido os exércitos a desenvolver a sua estrutura logística de modo a apoiar

eficientemente as forças em campanha, estão na base do aparecimento de novas

técnicas, no âmbito militar, que posteriormente também podem servir como

ferramenta para o sector empresarial (Carvalho, 2004, p. 22).

Numa abordagem mais recente, extraída de um encontro entre membros da

União Europeia e da NATO, João Quaresma Dias (2005, p.29) remata a “Logística,

portanto, como factor estratégico de fundamental relevância na paz na Europa e na

ajuda Humanitária, mesmo se e quando através da organização militar”.

Finalizando a nossa incursão sobre a evolução deste tema no âmbito militar

e procurando remeter-nos já para o ponto subsequente, lembramos que “se ao longo

do tempo a logística ficou consagrada como factor primordial e imprescindível na

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19

manobra militar, o mesmo se poderá dizer relativamente às manobras empresarias,

que apresentam muitas semelhanças às das guerras” (Dias, 2005, p. 26).

CAPÍTULO 3 - A ESTRATÉGIA NA GESTÃO EMPRESARIAL

A evolução do conceito de estratégia levou as organizações a adaptarem-no

com vista uma melhor eficiência na distribuição, utilização e gestão dos seus

recursos. Neste sentido, depois de estudarmos o contributo da estratégia para o

âmbito militar, vamos destacar agora a forma como o mesmo conceito é utilizado e

os impactos16 do mesmo no sector empresarial, havendo para tal a necessidade de

procedermos a uma introdução à Gestão, em primeiro plano.17

Para entrarmos no contexto da Estratégia Empresarial, achamos premente

tecer algumas linhas alicerçadas nesta área do saber que Peter Drucker (1988, p.

309) considera um exemplo de inovação social e com origens bastante recentes, do

século XX, sendo nesta época em que a gestão emergiu, definitivamente, na

sociedade e como disciplina.

Para estudos iniciais, encontramos os trabalhos protagonizados por

Frederic Taylor e Henry Fayol, que são tidos como impulsionadores pela aplicação

de “princípios científicos à gestão”, compreendendo o modelo de Taylor para as

empresas industriais, o seguinte (Rascão, 2001, p. 52):

A separação do trabalho manual e intelectual;

A Especialização do trabalho intelectual;

A progressiva mecanização do trabalho manual;

A procura de economias de escala, através da produção em massa.

Para Drucker “a essência da organização moderna é tornar produtivas as

potencialidades individuais e os conhecimentos e tornar relevante as fraquezas

individuais“ (Drucker,1988, p. 310). Daqui, podemos também enquadrar a ideia de

que “a forma certa de gerir muda de acordo com as condições económicas,

tecnológicas, sociais e de mercado” e que face aos ciclos de vida da tecnologia,

cada vez mais curtos, resultante dos avanços na inovação e no aumento da procura

de mercado é fundamental olhar-se para a gestão de modo a enfrentar tais

16

Concretamente, esses impactos serão medidos na Cadeia de Abastecimento. 17

Numa brevíssima análise, procuramos interpretar a gestão numa vertente de conceito de origem e como enquadramento da estratégia empresarial, dos aspectos logísticos e da cadeia de abastecimento que veremos mais adiante.

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20

alterações (Rosado, 2011, p.107). Em suma, a função do gestor pode ser entendida

como “o processo de trabalhar com e através dos outros a fim de atingir eficazmente

os objectivos organizacionais usando eficientemente os recursos escassos num

contexto em mudança” (Sousa, 1990, p. 32). O gestor assume, por isso, o papel de

membro da organização que integra e coordena o trabalho de outros (Santos, 2008,

p. 34).

Sobre a Gestão pode-se ainda dizer que esta ciência pode ser entendida

como um processo de coordenação e integração de actividades, partindo do

planeamento, organização, liderança e controlo, visando assegurar a consecução

dos objectivos definidos, através dos recursos humanos, de forma eficaz e eficiente

(Rosado, 2011, p. 111). Neste sentido, o entendimento da gestão tem fundamento

no processo contínuo de decisão sob a responsabilidade dos gestores (Santos,

2008, p. 29).

Concluímos este tópico destacando a análise de Peter Drucker, quando este

refere que “gerir não é ter um comportamento apenas passivo e adaptativo, é tomar

providências para que ocorram os resultados desejados. Gerir significa ter

responsabilidade para procurar moldar o ambiente económico, e para planear, iniciar

e executar as mudanças nesse ambiente” (Serra et al., 2010, p. 23).

As diferentes perspectivas até aqui estudadas acerca da gestão ajudam-nos

também a perceber, entre outros aspectos, a relevância da estratégia para as

organizações.

3.1. A GESTÃO ESTRATÉGICA

A estratégia assume o papel de “uma disciplina de gestão plena, na década

de 80”, sendo que nessa altura, “muitas ferramentas e técnicas primitivas de

planeamento estratégico (…)” foram “substituídas por abordagens mais sofisticadas,

mais apropriadas e mais fáceis de se colocar em prática” (Montgomery e Porter,

1998, p. XI). A gestão estratégica procura, assim, o bom posicionamento da

empresa no que diz respeito a produtos, mercados novos, tecnologias, recursos

humanos, entre outros, orientando a empresa para a correcta e oportuna resposta

às alterações no seu meio envolvente em função do seu ambiente interno (Rascão,

2001, p. 79). Por outras palavras, a gestão estratégica consiste num processo

contínuo e dinâmico de planeamento, organização, liderança e controlo, com vista a

determinação do posicionamento das organizações (Santos, 2008, p. 328).

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21

Nesse campo, Peter Drucker “associa a razão de ser de uma organização à

estratégia”, considerando ainda que, “o desempenho, a sobrevivência e a

legitimidade da organização dependem de uma forma articulada dos pressupostos

que esta elabora sobre o meio envolvente, das decisões tomadas em respeito pela

missão e das competências estratégicas desenvolvidas visando o seu cumprimento”

(Dias, 2005, p. 250). Desta forma, o conceito de estratégia no âmbito empresarial

sugere a determinação das opções à disposição das empresas, normalmente de

médio/longo prazo, e das condições que garantam o sucesso da empresa no longo

prazo (Costa, 2012, p. 20).

Igor Hansof analisa a estratégia a partir da relação entre a empresa e o

mercado em que se encontra, por forma a identificar a natureza dos negócios da

empresa e os negócios em que a empresa pretende entrar no futuro. Kenneth

Andrews, por seu turno, perspectiva a estratégia como o modelo dos princípios

objectivos, metas e do conjunto de políticas ou planos para se alcançarem os

objectivos propostos em função dos negócios em que a empresa participa e a visão

que a mesma pretende transmitir (Idem, p. 25).

Outra referência importante no estudo da estratégia empresarial é Henry

Mintzberg que define a estratégia abordando-a em cinco perspectivas (Rascão,

2001, pp. 119 e 120):

Plan (Plano): percepciona a estratégia como um guião que antecede as

actividades por ele descritas;

Ploy (Estratagema): manobra para superar a concorrência;

Pattern (Padrão): as acções que advêm desse plano devem dar origem a um

conjunto de acções interligadas entre si;

Position (Posição): em função dos contextos internos e externos, vistos a luz da

estratégia, a empresa deve adoptar um posicionamento favorável;

Perspective (Perspectiva): prende-se com a forma como a empresa

percepciona e defende a sua posição, destacando principalmente a sua cultura.

Ficando abordadas as principais teorias enquadrantes da gestão estratégica

e os seus principais defensores, passamos, no ponto seguinte, para a análise do

processo de gestão estratégica ou “conjunto de compromissos, decisões e acções”

necessários para a empresa alcançar a desejada competitividade estratégica e os

lucros perspectivados (Serra et al., 2010, p. 42).

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22

3.2. PROCESSO DE GESTÃO ESTRATÉGICA

A abordagem ao processo estratégico compreende, segundo Chiavenato e

Sapiro (2003, p. 45), as fases de Concepção Estratégica; Gestão do Conhecimento

Estratégico; Formulação Estratégica; Implementação da Estratégia e da Avaliação

Estratégica.18 Os objectivos traçados neste processo estratégico são alcançados

quando “a empresa desenvolve uma estratégia que os competidores não estão a

implementar”, fornecendo aos seus clientes benefícios diferenciados dos seus

concorrentes actuais e potenciais (Serra et al., 2010, p. 42). Podemos pensar o

processo estratégico conforme a ilustração que se segue.

Ilustração 2 - Processo de Gestão Estratégica

Fonte: Adaptado de Serra et al., 2010, p. 45

Resumidamente, podemos dizer que neste processo “a estratégia aponta o

caminho”, por sua vez, o plano estratégico responde à questão “como andar nele”,

seguindo-se a implementação constituída pelas “acções segundo as quais a

empresa perseguirá a consecução da sua visão de negócio, missão e objectivos

globais”, sendo a mesma representada por planos tácticos e operacionais

(Chiavenato e Sapiro, 2003, p. 46).19

Começamos o processo estratégico fazendo referência à análise estratégica

que, “consiste em fazer um diagnóstico rigoroso da situação interna da empresa

18

Esses elementos serão interpretados no âmbito da Gestão das Cadeias de Abastecimento, sendo no presente capítulo abordados apenas de forma genérica. 19

Este processo encontra-se mais detalhado no Anexo I – Gestão Estratégica como Processo Sequencial.

Implementação

e controlo

Formulação

Análise

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23

(pontos fortes e fracos) face ao meio envolvente (ameaças e oportunidades)”

(Rascão, 2001, p. 81). Os modelos de análise estratégica seguem a evolução

representada na figura abaixo.

LCAG Porter ADL

Ansoff Mckinsey BCG

Modelos sociológicos Modelos macro-económicos

Exaustividade Instrumentalidade

Ilustração 3 - Evolução dos Modelos de Análise Estratégica

Fonte: Adaptado de Rascão, 2001, p. 53

No estudo dos modelos de análise estratégica, entre vários, tem destaque o

trabalho de Kenneth Andrews e Roland Christensen20 da Havard Business School

que, no início dos anos 60, viram a estratégia como uma ideia unificadora que ligava

as áreas funcionais de uma empresa e relacionava suas actividades com o ambiente

externo. Trabalho pioneiro, inspirador de muitas teses modernas de estratégia,

desenvolvido numa época “em que o pensamento de gestão estava orientado para

funções individuais como marketing, produção e finanças, os autores identificaram

uma necessidade urgente de uma forma holística de pensar a empresa e articularem

o conceito de estratégia como meio de chegar a isso” (Montgomery e Porter, 1998,

p. XII).21

Tal como refere Michael Porter, “a essência da formulação estratégica é

lidar com a competição” (Idem, p. 11). Decorrente desta ideia e assumindo a

relevância da competição neste contexto, analisamos, de seguida, a competição.

20

Enquanto professores na Harvard Business School participaram no desenvolvimento do Modelo LCAG (Learned, Christensen, Andrews and Guth) que visa confrontar a empresa com o seu ambiente concorrencial avaliando a maior ou menor adaptação das competências e recursos próprios da empresa aos condicionalismos que esse ambiente lhe impõe. Modelo hoje conhecido como SWOT Cfr. Strategor, 2000, p. 25. 21

Cfr. Anexo II – Componentes da Estratégia.

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24

3.3. A COMPETIÇÃO EMPRESARIAL E A BUSCA PELA

VANTAGEM COMPETITIVA

Abrimos este ponto com a seguinte observação: “a competição existiu muito

antes da estratégia. Começou com o aparecimento da própria vida” (Montgomery e

Porter, 1998, p. 3). Durante muitos anos a competição natural não envolveu

estratégias, devido ao acaso e às leis das probabilidades, os competidores

encontravam as combinações de recursos que melhor correspondiam às suas

características (Chiavenato e Sapiro, 2003, p. 46). Na abordagem da competição,

com o recurso a comparação ao universo biológico feita por Bruce Henderson, os

intervenientes que conseguem o seu sustento de maneira idêntica não podem

coexistir, cada um precisa de ser diferente o bastante para possuir uma vantagem

única (Montgomery e Porter, 1998, p. 4).

A competição estratégica entre as empresas compreende, assim, os

seguintes elementos básicos (Idem, p. 7):

Capacidade de compreender o comportamento competitivo como um

sistema no qual competidores, clientes, dinheiro, pessoas e recursos

interagem continuamente;

Capacidade de usar essa compreensão para predizer como um dado

movimento estratégico vai alterar o equilíbrio competitivo;

Recursos que possam ser permanentemente investido em novos usos

mesmo se os beneficiários consequentes só aparecem a longo prazo;

Capacidade de prever riscos e lucros com exactidão e certeza suficiente

para justificar o investimento correspondente;

Disposição de agir.

Tal como vimos antes, no processo de gestão estratégica, a empresa só

consegue garantir uma vantagem competitiva sobre a concorrência caso a supere

em termos de desempenho (Rosado, 2011, p.109). Para percebermos melhor esta

questão trazemos o Modelo GE – Mckinsey.22

Este modelo procura relacionar o ambiente transaccional da empresa com

as suas competências, por forma a se alcançar uma visão mais detalhada e mais

completa da realidade, abarcando assim um número maior de factores em relação

aos outros modelos (Rascão, 2001, p. 110).

22

Cfr. Apêndice B – Matriz de Portfólio da Mckinsey.

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25

Da competição empresarial fica-se com a ideia da necessidade das

empresas concorrentes se superarem umas as outras, tal como acontece com os

contendores da estratégia militar. Como esclarece Bruce Henderson, “a menos que

uma empresa possua uma vantagem única sobre suas rivais, não terá motivos para

existir” (Montgomery e Porter, 1998, p. 6). Desta forma, “a estratégia que os

executivos prosseguem tem um forte impacto no desempenho relativo da empresa”

(Serra et al., 2010, p. 5). Em suma, a vantagem competitiva ou “desempenho acima

da média” tem que ser garantida por um longo período de tempo para ser

considerado como sustentável, tal como analisamos de seguida (Porter, 1989, p. 9).

3.4. O SUCESSO EMPRESARIAL E O DESEMPENHO

SUSTENTADO

Citando Porter, “a concorrência está no âmago do sucesso ou do fracasso

das empresas, determinando a adequação das actividades que podem contribuir

para o seu desempenho, como inovações, uma cultura coesa ou uma boa

implementação” (Porter, 1989, p. 1). Esta análise vem sedimentar as ideias

levantadas no ponto anterior, destacando, também, a necessidade de, já neste

ponto, olharmos para alguns apontamentos fundamentais subjacentes a

competitividade e ao sucesso das empresas.

De uma forma sucinta, as variáveis ou actividades da empresa decisivas

para o sucesso competitivo da mesma, ou seja, “os aspectos que assistem ao

sucesso, ou fracasso, da empresa” identificam-se nas respostas às seguintes

questões (Serra et al., 2010, p. 133):

Que critérios os clientes usam na escolha dos produtos?

Quais são os recursos e capacidades competitivas necessárias para ter

sucesso?

O que é necessário para obter uma vantagem competitiva?

No caso concreto do sucesso da estratégia numa organização, o mesmo é

função da conjugação de factores como “a definição de objectivos, a compreensão

do meio envolvente, a avaliação interna da empresa e dos recursos que dispõe e da

correcta implementação da estratégia adoptada”23, passando, por isso, a missão do

estratega/gestor em “compreender os motivos para o sucesso de uns e o insucesso

23

Conforme representado na ilustração.

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26

de outros” (Serra et al., 2010, pp. 7 e 8). Sendo também certo que a estratégia

adoptada por uma unidade empresarial conduzirá à vantagem competitiva que

determinará o seu desempenho com sucesso/insucesso (Porter, 1989, p. 22).

Estratégia de Sucesso

Implementação eficaz

- Objectivos simples,

consistentes e de longo

prazo

- Compreensão

profunda do ambiente

competitivo

- Avaliação objectiva

dos recursos

Tabela 1 - Características de uma Estratégia de Sucesso

Fonte: Adaptado de Serra et al., 2010, p. 8

Tal como visto no ponto anterior, esses factores de sucesso deverão

conduzir à obtenção de vantagens competitivas de longo prazo, sendo por isso

necessário a avaliação concisa da competição no sector em que se encontra a

organização.

3.5. MÉTODOS E MODELOS DE ANÁLISE

3.5.1. O MODELO DAS 5 FORÇAS DE MICHAEL PORTER

Michael Porter começa por destacar que a competição no sector industrial

tem as suas raízes na respectiva economia subjacente e que existem forças

competitivas que vão além do que esteja representado unicamente pelos

concorrentes estabelecidos neste sector. O mesmo acrescenta ainda que, “o estado

de competição em um segmento industrial depende de cinco forças básicas24. Porter

vai mais longe, dando exemplos de sectores em que tais forças são mais ou menos

fortes, referindo que, o vigor colectivo das mesmas determina o lucro potencial

máximo de um sector industrial, variando de intenso em sectores como pneus,

embalagens metálicas e aços, e suaves em sectores como os de serviços e

equipamentos para campos petrolíferos, refrigerantes e artigos de higiene pessoal

onde há espaço para retornos muito elevados (Montgomery e Porter, 1998, p. 11).

24

Hoje conhecidas como as 5 Forças de Porter.

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27

Essas forças influenciam as taxas de retorno dos investimentos feitos no

sector, tendo em conta as características particulares do mesmo (Porter, 1989, p. 3).

O esquema que se segue representa as forças em questão.

Potenciais Entrantes

Ameaça de Novos

Entrantes

Fornecedores Poder de

Negociação dos

Fornecedores

Concorrência na

Indústria

Rivalidade Entre

Empresas Existentes

Poder de

Negociação dos

compradores Compradores

Ameaça de

Produtos ou

Serviços

Substitutos

Substitutos

Ilustração 4 - As Cinco Forças Competitivas

Fonte: Adaptado de Porter, 1989, p. 4

A metodologia das cinco forças permite que uma empresa perceba a

complexidade e aponte os factores críticos para a concorrência em sua indústria,

bem como permite que ela identifique as inovações estratégicas que melhorariam da

melhor forma a rentabilidade da indústria – e a sua própria. A mesma metodologia

visa, no processo, levantar as possibilidades da descoberta de uma inovação

estratégica aconselhável (Idem, p. 6).

A metodologia das cinco forças não elimina a necessidade de criatividade na

busca de novas formas de concorrência numa indústria. Ao contrário, ela dirige as

energias criativas dos administradores para aspectos da estrutura da indústria que

são mais importantes para a rentabilidade a longo prazo (Ibidem, 1989, p. 6). É

importante procurarmos noutros instrumentos completar o modelo das cinco forças

de Porter.

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28

3.5.2. O MODELO DE ANÁLISE SWOT

Este instrumento, desenvolvido na década de 60, tem como missão primeira

“sistematizar a análise e, assim, possibilitar a escolha de uma estratégia adequada –

face aos condicionalismos impostos pelo ambiente (interno e externo), mas também

pelas oportunidades emergentes e as forças da empresa – para que consiga atingir

os objectivos a que se propões” (Serra et al., 2010, p. 159). A sua metodologia de

aplicação prática surge como uma abordagem inicial ou como síntese de várias

sessões, retractando as diversas Forças (Strenghts), Fraquezas (Weaknesses),

Ameaças (Threats) e Oportunidades (Opportunities) da empresa, num período de

elaboração curto e que, dada a sua abrangência, pode ser utilizado para a análise

das envolventes externas e internas, conforme referido no início do parágrafo

(Turner, 2010, p. 220).25

Análise Externa

Análise Interna Oportunidades Ameaças

Pontos Fortes Política de Acção Ofensiva Política de Acção Defensiva

Pontos Fracos Política de Manutenção Política de Saída

Ilustração 5 - Matriz SWOT

Fonte: Adaptado de Chiavenato e Sapiro, 2003, p. 188

Esta ferramenta serve como método de análise dos contextos externo e

interno, interpretando as forças e as fraquezas da empresa, bem assim como, as

suas ameaças e oportunidades, relacionando-as todas. Nesse sentido, uma vez

identificados os elementos (forças, fraquezas, oportunidades e ameaças) deve-se

actuar sobre eles, na certeza de que, os resultados produzidos por esta análise na

generalidade da cadeia podem levar a decisões drásticas, como por exemplo, o fim

de uma parceria (Carvalho, 2010, pp. 148 e 149).26 A visão que nos é transmitida por

está análise tem principal relevância no contexto geral da pesquisa e na

interpretação da aplicação deste instrumento ao problema em estudo.

25

Os restantes instrumentos de análise serão estudados na análise ao sistema logístico e às estratégias que suportam a Cadeia de Abastecimento. 26

Todos estes aspectos serão vistos com maior detalhe no capítulo referente à Logística e Cadeia de Abastecimento.

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29

3.5.3. O PLANEAMENTO ESTRATÉGICO

O fruto do pensamento estratégico traduz-se na visão ou objectivos de longo

prazo e na forma como a empresa os vai alcançar, sendo por isso mesmo o plano

estratégico “o documento escrito que formaliza essa sistematização” (Serra et al.,

2010, p. 47).

Tal como já fizemos referência, vários factores internos e externos às

empresas obrigam-nas a posicionarem-se de modo a enfrentarem as alterações nos

ambientes contextual e transaccional. No que diz respeito ao planeamento

estratégico, o aumento da intensidade da competitividade, cada vez mais

diferenciada, com o crescimento da tecnologia dificulta a escolha das opções

estratégicas, sendo por isso importante desenvolver um planeamento de longo prazo

que fixe “as grandes orientações que permitem à empresa modificar, melhorar ou

fortalecer a sua posição face a concorrência” (Strategor, 2000, p. 295).

Acerca desse planeamento, pode-se ainda dizer que o mesmo “evoluiu de

uma arte praticada por especialistas para tornar-se parte integrante e normalmente

aceite do trabalho de todos os gerentes de linha. O resultado foi uma redução das

equipes de planeamento, porém, em muitas organizações, houve um aumento da

importância do planeamento“ (Montgomery e Porter, 1998, p. XI). Essa importância

pode ser identificada quando Henry Fayol refere que “prever é, ao mesmo tempo,

calcular o futuro e prepará-lo; prever já é agir” (Strategor, 2000, p. 294).

Ilustração 6 - Modelo de Planeamento Estratégico Típico

Fonte: Adaptado de Santos, 2008, p. 331

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30

Abordar o Planeamento Estratégico é fundamental, mas o planeamento de

longo prazo, por si só, não responde “às mudanças em curso”. É também importante

olharmos para o Planeamento Operacional que “traduz as orientações estratégicas

em programas aplicáveis por todos os serviços, departamentos e unidades da

empresa no quadro das suas actividades correntes” (Strategor, 2000, p. 295).

Planeamento Estratégico

Planeamento Táctico

Plano Financeiro:

Plano de Produção: Plano de Marketing: Plano de Recursos

Humanos:

- Fluxo de Caixa

- Plano de

Investimentos

- Plano de Aplicações

- Plano de Produção;

- Plano de

Manutenção;

- Plano de

Abastecimento

- Plano de Vendas;

- Plano de

Propaganda;

- Plano de Treinamento

Tabela 2 - Planos Tácticos e Operacionais decorrentes do Planeamento Estratégico

Fonte: Adaptado de Chiavenato e Sapiro, 2003, p. 40

No quadro anterior resumimos os diferentes planos estratégicos, tácticos e

operacionais, por forma a identificarmos alguns objectivos de médio e longo prazo

que garantem a sustentabilidade das empresas, as acções imediatas e operacionais

e a necessidade da articulação e integração desses factores no processo de

planeamento estratégico (Chiavenato e Sapiro, 2003, p. 39). Será então útil

apresentarmos de seguida algumas características das decisões subjacentes aos

diferentes planos, em função do tipo de informação disponível.

Características da

Informação

Decisões

Estratégicas

Decisões de

Coordenação

Decisões

Operacionais

Grau de estrutura - Não estruturada

- Irregular

- Cada questão é

diferente

- Estruturadas

Repetitiva

- Cíclica

- Muito estruturada

- Repetitiva

- Cíclica

Tipo de Informação - Síntese

- Estimativas

- Sobretudo exterior

- Sumarizada

- Sobretudo interna

- Previamente definida

- Mais detalhada

- Sobretudo Interna

- Previamente definida

Temporização - Médio e longo prazo - Curto prazo (ano,

mês, semana, etc)

- Curto prazo (dia,

momento, etc.)

Tabela 3 - Características das Decisões

Fonte: Adaptado de Rascão, 2001, p. 174

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31

3.5.4. AS ESTRATÉGIAS GENÉRICAS

No seguimento do processo estratégico, trazemos agora a fase da escolha

da estratégia a adoptar ou o posicionamento que a empresa deve ter em função das

vantagens competitivas que evidenciam as suas forças, minimizam as fraquezas,

aproveitam as oportunidades e suportam as forças concorrenciais (Montgomery e

Porter, 1998, p. 23). Na escolha da estratégia assume importância o conhecimento

das estratégias genéricas.

A estratégia genérica descreve a melhor maneira para se alcançar a

vantagem competitiva que a empresa procura, devendo este elemento ser a peça

central do plano estratégico de qualquer empresa (Porter, 1989, p. 22).

Podem-se identificar as estratégias genéricas na abordagem da

concorrência e do posicionamento das empresas que, segundo Michael Porter,

“serão as estratégias competitivas genéricas viáveis no longo prazo, que a empresa

executa para se defender das forças competitivas que provocam um impacto mais

acentuado, ou para as influenciar em benefício próprio, ou para explorar uma

superior capacidade para antecipar mudanças”. A saber: Estratégia de Custo ou

Eficiência; Estratégia de Diferenciação e Estratégia de Focalização (Abreu, 2005, p.

194).

Essas estratégias serão as responsáveis por encontrar e manter as

vantagens competitivas que a empresa detém, sendo as mesmas representadas

conforme a ilustração que se segue.

Vantagem Competitiva

Custo mais Baixo Diferenciação

Escopo

Competitivo

Alvo Amplo

Liderança de Custo

Diferenciação

Alvo Estreito

Enfoque no Custo

Enfoque na

Diferenciação

Ilustração 7 - As Estratégias Genéricas

Fonte: Adaptado de Michael Porter, 1989, p. 10

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32

Em suma, essas estratégias visam a escolha do posicionamento estratégico

de qualquer empresa de modo a enfrentar a concorrência no sector (José Rascão,

2001, p. 128). Na análise ao impacto da estratégia adoptada no sector acrescenta-

se que, “à medida que os factores que criam poder para o fornecedor e para o

comprador se alteram com o tempo ou em função das decisões estratégicas da

empresa, naturalmente o poder destes grupos cresce ou diminui” (Montgomery e

Porter, 1998, p. 20).

É certo que existe uma variedade de técnicas e metodologias de gestão que

se podem aplicar neste contexto, mas achamos que para os objectivos académicos

do trabalho, os que aqui referenciamos resumem, de certa forma, as principais

técnicas frequentemente referenciadas.

CAPÍTULO 4 - EVOLUÇÃO DA LOGÍSTICA EMPRESARIAL

As primeiras interpretações do conceito de Logística davam grande ênfase

aos fluxos físicos, destacando principalmente os transportes e o armazenamento.

Esta ideia evoluiu apenas na década de 60, com o aparecimento de novas

necessidades o que conduziu à abrangência, por parte da distribuição, de novas

actividades desde os transportes, stocks, localização até ao serviço de pós-venda.

Foi no universo empresarial onde, de acordo com José Carvalho (2004, p.

19), a interpretação do conceito de logística se afastou da classificação feita pelos

primeiros autores que estudaram o conceito na antiguidade27.

O primeiro trabalho neste âmbito situa-se no início do século XX, da autoria

de John Crowell, apresentava os custos e as diversas questões associadas a

distribuição28 de produtos farmacêuticos (Idem, p. 23).

Também no início do século XX, com a abordagem de Henry Taylor na

empresa Ford, questão já debatida no início deste trabalho, o conceito de Logística

ganhou um significado relevante, surgindo também as “primeiras inovações” nesta

matéria (Courtois et al., 2007, p. 376).

Nesta fase, o fabricante enfrentava dificuldades para obtenção de matérias-

primas e nos meios de produção, mas possuía facilidades na venda dos seus

produtos, visto que “o mercado apresentava uma procura superior a oferta”, o

27

Os filósofos gregos denominavam de Logística a lógica e o raciocínio baseado em algarismos e símbolos matemáticos ou arte de calcular Cfr. Dias, 2005, p.26. 28

Como foi anteriormente referido, a questão da distribuição nos anos embrionários da Logística foi sempre a que mais destaque teve.

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33

consumidor “não é esclarecido nem exigente”, despoletando a possibilidade do

“comerciante aplicar margens elevada” (Rousseau, 2008,p 31).

Nesse sentido, face as dificuldades que surgiram “depois dos anos iniciais

da revolução industrial” passou-se a ter uma percepção da necessidade das

empresas cooperarem com vista o sucesso de longo prazo, sendo certo que

“nenhuma empresa poderia ser totalmente auto-suficiente” (Bowersox et al., 2007, p.

5).

A mudança de curso que a Logística tomou entre as décadas de 70 e 80,

influenciada por uma concorrência de cariz mundial, releva a importância desta área

de modo a dar resposta às exigências de redução dos prazos, à complexidade e à

crescente diversidade de produtos, aos ciclos de vida mais curtos, obrigando as

empresas a evoluir mais rapidamente (Courtois et al., 2007, p. 376). Podemos

associar esta fase ao forte desenvolvimento económico, à diversificação dos

mercados e a uma concorrência mais equilibrada, onde o fabricante melhora os seus

métodos de produção, diversificando os seus produtos, inovando-os e melhorando o

serviço prestado ao cliente para satisfazer um consumidor mais crítico, exigente na

qualidade e na quantidade, contribuindo todos esses factores para a mudança, por

completo, do panorama da distribuição mundial (Rousseau, 2008, p. 30).

Tal como referido anteriormente, vários eventos históricos à volta do mundo

foram grandes impulsionadores da evolução de diversas ciências. Como tal, o final

da Segunda Guerra Mundial é apontado por Carvalho Crespo (2004, p. 23) como

referência para a Logística empresarial, com o lançamento da obra de Peter

Drucker, The Economy´s Dark Continent, onde o mesmo chama atenção para a

importância da Logística, considerando-a como uma área carente de investigação

Acerca do referido artigo de Peter Drucker pode-se dizer ainda que a

Logística presenciava, já nessa altura, actividades como embalamento,

armazenagem e transporte, apesar dessas actividades serem desempenhadas

isoladamente e as empresas não prestarem a devida atenção a área da Logística

(Runharr e Heijden, 2003)29. Os gestores, nesse contexto, encaravam as questões

logísticas como um “mal necessário”, negligenciando-as de certa forma. Drucker, no

seu artigo, destaca a distribuição como uma área bastante promissora, apesar da

pouca importância atribuída pelos gestores (Tseng et al., 2005, p. 1660).

29

Cfr. http://igitur-archive.library.uu.nl/, consultado em 18/09/2012 às 13h03.

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34

Com o passar do tempo o conceito associado a logística foi evoluindo,

passando da simples distribuição física para o “processo de negócio, prestação de

serviço, com gestão (planeamento e controle) de fluxos materiais e informacionais

entre a procura e a oferta, no sentido de gerar e acrescentar valor ao produto em

trânsito, indissociavelmente ligado ao mercado, ou seja, à produção e ao consumo,

às tecnologias facilitadoras, à inovação e qualidade dos serviços prestados” (Dias,

2005, p. 32). Desse modo, a Logística passou a abarcar a própria distribuição,

elemento que sempre esteve presente no seu processo de evolução, passando a

integrar várias actividades que visam o planeamento, a implementação e o controlo

adequado de fluxos de produtos e de informação, desde o fornecedor ao consumidor

final (Idem, p. 33).

Podemos destacar os seguintes marcos na evolução do conceito de

Logística30:

Na década de 70, a criação do U. S. Council Of Logistics Management;

Nos anos de 1960 e 1965, desperta-se para a visão da logística na

perspectiva de sistema, apelando-se a necessidade de integração das

actividades;

A ligação da Logística a Estratégia, nos anos 70;

A criação da European Logistics Association (ELA), em Novembro de

1984;

Maior ênfase no serviço ao cliente, também, em 1984;

Integração dos sistemas de informação a Logística ou logística total, no

mesmo período.31

Das primeiras entidades e universidades a se debruçarem sobre o estudo

desta temática, destacam-se ainda, no início da década de 60, as universidades

americanas, Ohio State University e a Michigan State University, que introduziram a

logística no seu programa de ensino, seguindo-se a Europa, na década de 80, com a

Inglaterra e a França a se destacarem com uma universidade e um centro de

pesquisa, respectivamente (Ibidem, 2005, p. 39).

Na actualidade, as empresas necessitam de melhorar os seus argumentos

logísticos para enfrentarem a concorrência, tendo em conta o seguinte (Courtois et

al., 2007, pp. 376 e 377):

30

Cfr. Carvalho, 2004, pp. 23 a 27. 31

Consultar Apêndice A – Evolução do Conceito de Logística Integrada.

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35

Necessidade de um tempo de resposta cada vez mais curto, desde a

concepção, aprovisionamento, fabrico, distribuição ao processo

administrativo;

Devendo-se os custos apresentarem-se cada vez mais reduzidos,

perspectivando economias de escala;

Melhoria na qualidade do produto a apresentar ao mercado;

Um serviço mais adaptado às necessidades do cliente, desde a compra

ao pós-venda.

Avançados que ficaram os aspectos históricos introdutórios sobre a logística

empresarial, tal como fizemos com a Estratégia, também aqui procuramos refinar o

conceito de Logística, neste caso, de acordo com algumas instituições reconhecidas

internacionalmente. O Council of Supply Chain Management Professional

(CSCMP) definiu “a Logística ou Gestão da Logística” como “a parte da Cadeia de

Abastecimento que é responsável por planear, implementar e controlar o eficiente e

eficaz fluxo directo e inverso e as operações de armazenagem de bens, serviços e

informação relacionada entre o ponto de origem e o ponto de consumo de forma a ir

ao encontro dos requisitos/necessidades dos clientes” (Carvalho, 2010, p. 24).

Por seu turno, a ELA (European Logistics Association) definiu a Logística

como “a organização, planeamento, controle e execução do fluxo de produtos desde

o desenvolvimento do produto e aprovisionamento, através da produção e da

distribuição, até ao consumidor final de forma a satisfazer os requisitos do mercado,

a um custo e investimentos mínimos”32 .

De uma forma mais resumida, pode-se ainda dizer que, na perspectiva da

empresa, “a logística representa antes de mais a gestão dos meios de transporte

para disponibilizar aos seus recursos os stocks necessários, evitando rotura”

(Courtois et al., 2007, p. 378).

4.1. DA LOGÍSTICA À SUPPLY CHAIN

Como enunciámos anteriormente, as empresas, face ao panorama actual

em que enfrentam uma economia globalizada, uma concorrência mais activa e

exigências mais elevadas da parte do cliente no que concerne a recepção e envio

32

Cfr. http://www.concargo.com/client-lounge-definitions-logistics.php, consultado em 18/09/2012 às 13h40.

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36

dos seus produtos, constatam a necessidade de encararem a logística de uma

maneira diferente. As empresas tendem a abandonar aquela visão da logística como

um “centro de custo”, para percepcionarem-na como fonte de lucro para todos os

intervenientes no processo e, numa fase mais avançada, como fonte de vantagem

competitiva33. No encadeamento das empresas e procurando a observância dos

referidos aspectos, encontrámos o conceito de Supply Chain34 ou Cadeia Logística

Alargada (Courtois et al., 2007, p. 378).

Os aspectos referentes à Supply Chain podem ser entendidos na seguinte

questão: “porque não reflectir ao nível da cadeia constituída por todos os actores

que estão na origem da realização de um produto ou de uma família de produtos,

desde a empresa que representa o primeiro fornecedor da cadeia até ao cliente mais

a jusante da mesma, (…) o consumidor final do produto?” (Idem, p. 377). A

perspectiva global da cadeia, decorrente desta questão, leva-nos a pensar também

numa optimização de toda a cadeia, através de cada constituinte da cadeia.

As empresas que optam por este tipo de abordagem, quando procuram

parcerias com vista uma melhor satisfação do cliente, têm a missão de rever

aspectos relacionados com os stocks, locais de armazenagem, transportes, as

relações contractuais com os parceiros, política de preços, a capacidade de

produção disponível para os parceiros, etc. (Ibidem, p. 378).

As Cadeias de Abastecimento das grandes empresas são ponto de

referência para a compreensão do papel dessas no contexto actual. Esse relevo leva

a que a competição das empresas passe a ser vista mais na perspectiva das

Cadeias de Abastecimento, obrigando a estudos sobre o “alinhamento estratégico,

vantagens competitivas e performance das empresas” em função da integração das

mesmas (Carvalho, 2010, p. 69).

A gestão da Logística na perspectiva de fluxos de materiais e informação,

como observamos na evolução do conceito, traduz-nos o conceito de pipeline35.

Esses fluxos, orientados pelas actividades logísticas, percorrem toda a cadeia de

abastecimento, desde a origem (fornecedor) ao destino, consumidor final (Carvalho,

1999, p. 39). Assim no pipeline logístico, apoiado nos meios de transporte da mesma

fluem fisicamente os materiais ou mercadorias e sobre os sistemas de informação,

33

Como veremos no ponto referente a criação de valor por parte da Logística. 34

Também conhecida como Cadeia de Abastecimento em Português. 35

A analogia com a circulação de petróleo numa pipeline (meio de transporte) prevê a transformação das operações logísticas mais fluidas possível (Courtois et al., 2007 p. 378). Assim, oleodutos longos transportam mais óleo que os mais curtos, conduzindo, já na cadeia de abastecimento, a um tempo de resposta mais longo (Carvalho et al., 2001, p. 24).

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37

fluem os elementos que podem conter os próprios negócios e os respectivos capitais

(Dias, 2005, p. 104).

Ilustração 8 - O pipeline Logístico

Fonte: Courtois et al., 2007, p. 380

A aplicação dessa ideia no contexto da Cadeia de Abastecimento global,

assumindo, nesse caso, a forma de uma “super-pipeline” que integra todos os

intervenientes da cadeia, destacando-se a necessidade de uma melhor coordenação

nas parcerias com vista a criação de sinergias no seu funcionamento, também é

uma realidade (Courtois et al., 2007, p. 381).36

Assumindo que a Logística compreende, na actualidade, todos os aspectos

acima evidenciados, e que combina os avanços tecnológicos, dos sistemas de

informação e de gestão do conhecimento, da economia cada vez mais globalizada,

do crescimento das trocas entre as pessoas, transforma-se a logística num “pilar

fundamental” de “sustentação ou materialização de qualquer estratégia credível de

uma organização – seja ela qual for” (Dias, 2005, p.43).

Esclarecidos que ficaram os aspectos mais relevantes, fundamentalmente

históricos, da Logística Empresarial e a sua relação com a Logística Militar,

passamos agora para uma interpretação mais abrangente desta área. Assim, no

ponto seguinte estudaremos a Gestão da Cadeia de Abastecimento, como elemento

estratégico para a Logística e não só, procurando esclarecer alguns aspectos que

ficaram de parte na nossa síntese evolutiva, nomeadamente no que concerne à

logística como processo de criação de valor, modelo de gestão de fluxos, de

interfaces e trade-offs, entre outras questões.37.

36

Cfr. Anexo III – O Pipeline da Supply Chain. 37

Aspectos destacados por João Dias (2005, p. 72). Procurámos dissolvê-los ao longo dos pontos subsequentes.

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38

CAPÍTULO 5 - GESTÃO ESTRATÉGICA DA CADEIA DE

ABASTECIMENTO

Abrimos este capítulo dando sequência às últimas ideias do ponto anterior,

com a seguinte frase: “a Cadeia de Abastecimento fornece a estrutura dentro da

qual as estratégias logísticas são desenvolvidas e executadas” (Bowersox et al.,

2007, p. 1). Daqui podemos perceber a importância do estudo da Cadeia de

Abastecimento, como componente da acção estratégica das empresas, e a

necessidade de mantermos sempre presente o conceito de Logística visto ser este o

“âmago” da Cadeia de Abastecimento (Courtois et al., 2007, p. 376).

A Gestão da Cadeia de Abastecimento pode, pois, ser entendida como “a

colaboração entre empresas para impulsionar o posicionamento estratégico e para

melhorar a eficiência operacional”, baseada numa gestão de operações transversal

para as áreas funcionais dos parceiros que constituem a cadeia (Bowersox et al.,

2007, p. 4). A gestão dessas operações deve visar uma optimização dos principais

elementos cuja missão é o alcance dos objectivos logísticos de tempo, custo e a

qualidade do serviço, sobre os quais falaremos mais à frente (Carvalho, 2010, p. 29).

Esta gestão visa ainda os seguintes objectivos:

Melhorar a eficiência do conjunto em função das partes;

Identificação de uma procura real através da partilha de informação

(eliminação do efeito de amplificação da variação da procura);

Reduzir o tempo associado ao ciclo da cadeia;

Eliminar pontos de constrangimentos, encurtando a Cadeia de

Abastecimento;

Estender o Planeamento pelas empresas intervenientes no processo;

Coordenar a produção com a procura;

Maior atenção na satisfação das necessidades de cliente (Idem, 2010, p.

69).

Acrescenta-se ainda que, “para cada empresa envolvida, o relacionamento

na cadeia de abastecimento reflecte uma opção estratégica”, podendo “uma

estratégia de cadeia de abastecimento” ser “um arranjo de canais baseado na

dependência e na colaboração reconhecida” (Bowersox et al., 2007, p. 4).38

38

As questões relacionadas com a colaboração e parcerias serão abordadas mais adiante.

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39

Da relação entre a Logística e a Gestão da Cadeia de Abastecimento pode-

se juntar a ideia que a Logística assume o esforço necessário para colocar o stock

ao longo da Cadeia de Abastecimento (Bowersox et al., 2007, p. 4). Destaca-se,

assim, a abrangência da Gestão da Cadeia de Abastecimento que envolve “a

coordenação e a procura de colaboração entre parceiros de cadeia ou de canal,

sejam eles fornecedores, intermediários, prestadores de serviços Logísticos ou

clientes”, integrando, desta forma, “as componentes abastecimento e procura dentro

e entre empresas” (Carvalho, 2010, pp. 24 e 25).

Olhamos de seguida para o desenho geral da cadeia de abastecimento

genérica, procurando perceber o enquadramento de cada um dos seus

componentes e algumas das funções logísticas a eles associadas.39

5.1. MODELO ESTRUTURAL E ESTRATÉGIAS DA CADEIA DE

ABASTECIMENTO

O contexto macroeconómico global que as empresas enfrentam nos dias

que correm, também afecta a estrutura da Cadeia de Abastecimento. As mudanças

que daí advêm, relacionadas com as alterações estruturais dos mercados, as novas

soluções de abastecimento, as alterações ao nível dos produtos e da tecnologia

associada aos mesmos, entre outros, têm obrigado as empresas a adaptarem as

suas cadeias, face a esta situação, visando vantagens competitivas (Carvalho, 2010,

p. 85).

Para representação da cadeia de abastecimento, escolhemos modelos que

abrangem algumas questões pertinentes, nomeadamente os conceitos de push, pull,

postponment, ponto de desacoplamento, entre outros factores que participam na

formulação das estratégias da cadeia.

No contexto push, a procura define o abastecimento, havendo a

obrigatoriedade de previsão correcta das necessidades de consumo, um

planeamento das actividades e a correcta movimentação dos stocks, estando

também associados a este elemento os conceitos de MRP (Materials Requirements

Planning) e DRP (Distribution Requirements Planning) (Idem, p. 85). Assim, as

39

A necessidade de se perceber as Cadeias de Abastecimento genéricas, olhando para a sua estrutura e os principais conceitos subjacentes a estas visam uma aproximação e melhor interpretação dos casos reais que analisamos.

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40

decisões a este nível referem-se aos segmentos que devem ser empurrados pela

produção (Dias, 2005, p. 222).

O abastecimento no contexto pull é baseado na reposta pronta à procura,

existindo a necessidade de informação oportuna acerca da procura, fomentando a

previsibilidade e a redução do tempo de resposta no que concerne a produção e a

distribuição, sendo o funcionamento da cadeia a este nível em função dos conceitos

QR (Quick Response) e JIT (Just-In-Time) (Carvalho, 2010, p. 86). Então, as

decisões subjacentes a esse nível dizem respeito aos segmentos que devem ser

puxados pela procura (Dias, 2005, p. 222).

Ilustração 9 - O ponto de Desacoplamento

Fonte: Carvalho, 2010, p. 86

Em suma, pode-se assumir que na vertente pull, o cliente puxa pela cadeia,

ao passo que na filosofia push, é a produção que empurra em direcção ao cliente,

surgindo entre esses dois conceitos o ponto de desacoplamento40, ou de

desamarração, onde acontece a passagem de um conceito para o outro (Dias, 2005,

p. 145). A localização desse ponto de desacoplamento consiste numa decisão

importante, visto que na passagem duma metodologia para outra, de push para pull,

existe um ponto de stock, sendo então importante interpretar o seu potencial

estratégico para o funcionamento da cadeia (Carvalho, 2010, p. 86). Este ponto

serve ainda para responder à flutuação da procura e tornar a produção mais

eficiente, com base no stock estrategicamente mantido neste ponto, sendo também

importante na escolha das abordagens eficiente (lean) ou ágil, conforme veremos

mais à frente (Naylor et al., 1999, p. 108).

Outro conceito, também bastante ligado a configuração da cadeia de

abastecimento, mais concretamente ao ponto de desacoplamento, é o de

40

Pode também ser entendido como “a válvula de retenção do sistema, de stockagem com valor acrescentado” (Dias, 2005, p. 145).

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41

postponement. O mesmo “envolve redesenhar o produto e os processos da Cadeia

de Abastecimento de forma a que as actividades de personalização possam ser

executadas num elo da Cadeia de Abastecimento já mais próximo do local de

consumo”, originando-se, por isso, um avanço do ponto de desacoplamento para os

elos mais a jusante da cadeia. Neste caso, os processos em que os produtos

assumem a sua característica ou funcionalidade específica são atrasados (Carvalho,

2010, pp. 89 e 91).

Ilustração 10 - Estratégias da Cadeia de Abastecimento

Fonte: Naylor et al., 1999, p. 113

De uma forma resumida, podemos associar a estrutura geral da cadeia aos

diferentes elementos acima referidos, olhando para algumas das opções

estratégicas representadas na ilustração acima, como resultado da variação da

posição do ponto de desacoplamento (Naylor et al., 1999, pp. 113 e 114):

Buy-to-Order: Refere-se às cadeias de abastecimento em que os

produtos são únicos e não utilizam a mesma fonte de matéria-prima,

num contexto em que o consumidor está preparado para enfrentar lead-

times longos, representando uma procura bastante variável;

Make-to-Order: Nesta cadeia conseguem-se fornecer produtos

diferentes, desde que a matéria-prima tenha a mesma origem. A mesma

é compatível com volumes e procura variáveis. Tem o lead-time

reduzido, mas o consumidor tem ainda esperar algum tempo para ter o

produto desejado. A procura, neste contexto, pode ser variável e com

alto grau de customização;

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42

Assemble-to-Order: A customização, neste caso, é atrasada ao

máximo. Com esta estratégia a cadeia de abastecimento consegue

responder à uma variedade de produtos dentro da mesma gama. O lead-

time é reduzido consideravelmente, dependendo esta redução da

localização do local em que a montagem final acontece;

Make-to-Stock e Ship-to-Stock: Estas duas estratégias representam

casos em que um determinado produto é fornecido a partir de uma gama

definida, podendo a cadeia responder à procura nos seus diversos elos,

mas exigindo uma procura estável no que concerne ao produto standard.

Para os dois casos, os intervenientes da cadeia devem ser capazes de

prever correctamente a procura.

5.1.1. AS CADEIAS DE ABASTECIMENTO GENÉRICAS

Na perspectiva da logística de mercado, a escolha de uma cadeia com a

estrutura desejada e a estratégia mais apropriada para alcançar o consumidor final

deve responder algumas questões, de onde destacamos (Kotler e Keller, 2012, p.

486):

De que forma a empresa deve servir o cliente, directamente ou através de

intermediários?

Que produtos devem ser fornecidos e a partir de que instalações?

Quantos armazéns devem manter e quais devem ser as suas

localizações?

Entre outros factores, alguns já identificados nas questões anteriores, as

cadeias que aqui se apresentam foram seleccionadas com base na ideia de que, ao

“perceber qual a parte/elo da Cadeia de Abastecimento onde está, ou se acrescenta,

o maior valor: compras/aprovisionamento, produção ou distribuição”, consegue-se

juntar as cadeias com “enfoque no mesmo elo da Cadeia de Abastecimento” e com

“características em comum” (Carvalho, 2010, p. 96).

5.1.1.1. CADEIAS INTENSIVAS NA DISTRIBUIÇÃO

São cadeias em que o custo associado à falhas no planeamento (ter em

excesso ou ter em falta) são elevados. Nestas cadeias procura-se responder à

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43

complexidade das necessidades de consumo com rapidez e eficiência. Para o bom

desempenho desse tipo de cadeias aconselha-se a encurtar o ciclo de resposta,

fazer entregas atempadas, reduzir stocks e optimizar custos de distribuição, sendo

estas algumas das medidas para enfrentar as exigências nesse tipo de cadeias

(Carvalho, 2010, p. 96).41

As empresas que funcionam com este tipo de cadeias devem desenvolver a

excelência operacional na previsão da procura, na gestão de armazéns, na gestão

dos transportes, bem assim como, na gestão dos materiais (Kotler e Keller, 2012, p.

486). As instalações de distribuição recebem produtos de vários fornecedores e

movimenta-nos com a maior eficiência possível, sendo por isso necessário que os

mesmos adoptem avançados sistemas de manuseamento de material, realizando

também actividades que eram anteriormente da responsabilidade do fabricante

(Idem, p. 489).

5.1.1.2. CADEIAS INTENSIVAS NA PRODUÇÃO

Neste tipo de Cadeias de Abastecimento a capacidade produtiva é

fundamental para a maximização da utilização dos activos industriais. São

normalmente mercados bastante competitivos onde se verificam situações como

encurtar o ciclo de encomenda-entrega, garantir níveis de serviço elevados,

restrições de capacidade, etc. (Carvalho, 2010, p. 96). Neste tipo de cadeia torna-se

igualmente importante conhecer a forma de produção adoptada pelas unidades

produtivas: se trabalham em função das quantidades fabricadas e repetitividade –

produção unitária, produção de pequenas séries, produção de médias séries ou

produção de grandes série; por organização dos fluxos de produção – produção

contínua, produção descontínua ou produção por projecto; ou em função do

relacionamento com o cliente – venda a partir do stock, produção por encomenda ou

montagem por encomenda (Courtois et al., 2007, pp. 18 a 24).

Encurtar o ciclo de encomenda-entrega, conforme referido inicialmente,

passa também pela antecipação das encomendas e consequente aprovisionamento,

com base num sistema de previsão fiável e conforme o tipo de decisões a tomar de

longo, médio ou curto prazo. Sendo por isso certo que, “as previsões constituem o

41

Associadas à essas cadeias, além dos factores já mencionados, podemos identificar também a questão da produção para stock, elevado poder negocial concentrado nos retalhistas, redução dos stocks no retalho, entre outras (Carvalho, 2010, p. 96).

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44

ponto de partida do planeamento”, neste caso concreto da produção, com o

objectivo de orientar a empresa para o que é necessário produzir e quando (Courtois

et al., pp. 65 e 66).

5.1.1.3. CADEIAS INTENSIVAS NO SOURCING42

Estas cadeias são fortemente condicionadas pela gestão de materiais onde

assumem importância a capacidade de manter os stocks baixos e a gestão de falhas

dos componentes, sendo também importante o peso dos custos dos componentes

comprados (Carvalho, 2010, pp. 96 e 97).

Nessas cadeias é fundamental observar que, “a escolha que uma empresa

faz quanto a fornecedores e grupos de compradores deve ser vista como uma

decisão estratégica crucial. Uma empresa pode melhorar a sua postura estratégica

encontrando fornecedores e compradores que possuam o mínimo de poder para

influenciá-la adversamente (Montgomery e Porter, 1998, p. 19). Neste contexto,

como resultado da pressão dos mercados, entre outros factores, as empresas

redefinem as suas estratégias de relacionamento com as outras partes, visando a

possibilidade de se focar nas suas áreas centrais, deixando sob a responsabilidade

dos seus parceiros de negócio as áreas ou actividades que não domina, obtendo-se

desse acordo uma relação eficiente e com benefícios para as partes intervenientes

(Costa, 2012, p. 29).

5.1.1.4. CADEIAS EFICIENTES E ÁGEIS

A par da classificação acima apresentada, podemos ainda agrupar dois tipos

de cadeias de abastecimento em função da variabilidade da procura e da variedade

da oferta (Lee, 2002, pp. 113 e 114):

Supply Chain Eficiente: Este tipo de cadeia procura obter o máximo de

eficiência nos custos. Neste contexto, para se obter essa eficiência,

procura-se que as actividades que não acrescentam valor sejam

eliminadas, perspectivando-se economias de escala, usando técnicas de

optimização a fim de se alcançar uma melhor utilização da capacidade

produtiva e de distribuição, sendo ainda importante um bom sistema de

42

Refere-se a dependência permanente dos fornecedores.

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45

informação para garantir maior eficiência, precisão e o custo-eficácia da

transmissão da informação ao longo da cadeia de abastecimento;

Supply Chain Ágil: Esta cadeia procura adaptar-se às necessidades do

cliente, respondendo prontamente e de forma flexível. Na mesma, estão

presentes os riscos de ter em excesso ou em falta, devido a

complexidade da procura. Denomina-se ágil por ter a capacidade de

responder à mudança, diversidade, e à procura imprevisível.

A Agilidade pode ser entendida em termos de uso do conhecimento do

mercado para tirar proveito das oportunidades que o mesmo apresenta. No caso da

Eficiência (Leanness, neste contexto), perspectiva uma cadeia na qual o

desperdício, incluindo o de tempo, são eliminados ao máximo para garantir o nível

programado (Naylor et al., 1999, p. 108).

É igualmente possível falar-se na combinação desses tipos de cadeias

visando um maior desempenho. Tal como refere Carvalho (2010, p. 100), uma

empresa pode recorrer a uma cadeia eficiente para certos produtos e orientar outros

produtos com base numa cadeia de abastecimento ágil. Neste sentido, é também

viável o recurso aos dois conceitos numa mesma cadeia, ficando a parte a

montante, essencialmente push, a funcionar de forma eficiente e o elo mais a

jusante, de funcionamento pull, a seguir ao ponto de desacoplamento, deverá guiar-

se em função duma perspectiva ágil, conforme foi representado anteriormente.

5.2. A INTEGRAÇÃO NA CADEIA DE ABASTECIMENTO E OS

TRADE-OFFS

As decisões estratégicas ao longo da Cadeia de Abastecimento

compreendem várias áreas, de onde se destacam os atributos logísticos para a

criação de valor. A identificação das mesmas numa perspectiva integrada aumenta a

eficiência da cadeia.

A ideia de integração na cadeia de abastecimento assenta numa

colaboração entre empresas baseada numa estrutura onde os principais fluxos e

restrições de recursos são partilhados. Nessa partilha, “cada empresa inserida em

uma cadeia de abastecimentos está comprometida a realizar os mesmos aspectos

da logística em geral” (Bowersox et al., 2007, pp. 5 e 6), originando uma melhor

coordenação dentro da cadeia.

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46

A gestão integrada das actividades da cadeia procura reduzir o custo total do

processo, em função dos trade-offs43 estabelecidos (Courtois et al., 2007, p. 7). Esta

abordagem, não privilegia a análise dos custos individuais de cada função logística

envolvida no processo. O menor custo que se procura alcançar deve ser em função

do equilíbrio de compensações entre as demais funções (Bowersox et al., 2007, p.

7).

Conhecendo as principais variáveis subjacentes a Logística (tempo, custo e

qualidade de serviço), podemos interpretar a gestão da Logística pelo equilíbrio e as

trocas entre esses elementos. Em suma, “nem sempre a um elevado serviço e a um

baixo tempo de entrega corresponderá um baixo custo, e vice-versa (…)

classificando-se, por isso, a Gestão Logística como sendo uma gestão de trade-offs”

(Carvalho, 2010, pp. 29 e 30). Nesse sentido e para um melhor esclarecimento,

escolhemos o seguinte exemplo, “uma empresa pode ser capaz de reduzir o custo

total para atender a um cliente como resultado de gastar mais em um transporte

mais rápido e confiável porque o custo total do stock associado ao processo pode

ser reduzido a um valor maior que o valor gasto com um transporte de alta

qualidade” (Bowersox et al., 2007, p. 7). Como resultado, no exemplo mencionado,

pode-se identificar uma redução do custo total associado ao processo.

Na óptica da cadeia global ou supply chain, deve-se observar a reacção ou o

comportamento do conjunto em função das mudanças individuais dos seus

integrantes no que concerne aos custos e benefícios associados às operações

(Dias, 2005, p. 47).

5.3. O PROCESSO DE CRIAÇÃO DE VALOR E A CADEIA DE

VALOR

A representação, através da cadeia de valor, da totalidade das entidades

que constituem a Cadeia de Abastecimento44 deixa visível as actividades

responsáveis pela adição de valor, actividades primárias, e as actividades que

suportam as anteriores, denominadas secundárias, sendo também possível

identificar, a partir desse contexto, os custos associados as mesmas.45 A aplicação

43

Troca de serviços ou equilíbrios de gastos. 44

Realidade já discutida na perspectiva do pipeline da supply chain. 45

Cfr. Carvalho, 2010, p. 49.

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47

da cadeia de valor à totalidade da cadeia de abastecimento pode ser entendida

como a conjugação de cadeias de valor desde o fornecedor ao consumidor.

A competitividade, tal como referido anteriormente, é fundamental no

funcionamento da Logística. Surge, assim, a necessidade de se perceber a Cadeia

de Valor de Michael Porter numa perspectiva mais logística, partilhando da ideia

que, “a aplicação da cadeia de valor à empresa encerra um contributo indesmentível

para a logística, uma vez que considera como actividades primárias, isto é, críticas

para a criação de valor para o cliente/consumidor, entre outras, as de natureza

logística” (Carvalho, 2004, p. 71).

As diferentes actividades, primárias e secundárias, que compõem a Cadeia

de Valor permitem visualizar as áreas em que se pode criar valor, olhando para os

custos associados e o lucro que pode ser gerado, desde a origem até ao momento

do pagamento pelo cliente (Rousseau, 2008, pp. 378 e 379). Dessa forma, a

atribuição de valor ocorre apenas na fase em que o cliente compra o produto,

havendo por isso a necessidade de coordenação entre a logística e as diferentes

áreas funcionais da empresa, nomeadamente o marketing (Dias, 2005, p. 45).

A criação de valor para as empresas deverá ser promovida pelas vantagens

competitivas alcançadas, sendo as áreas de adição de valor e desenvolvimento da

margem, possíveis de visualizar através da cadeia de valor de Michael Porter.

Ilustração 11 - A Cadeia de Valor de Michael Porter

Fonte: Carvalho, 2010, p. 58

Podemos avançar neste tópico atentando para a seguinte frase: “a cadeia de

valor introduzida por Porter (…) pode servir de base para a integração entre a

logística e a estratégia, bem como para a percepção do valor, mormente o criado

pela logística” (Carvalho, 2004, p. 89).

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48

A gestão integrada da Logística e em última análise, a Gestão da Cadeia de

Abastecimento, “permitiu redefinir e eliminar processos de menos interesse em

termos de valor, além de permitir obter ganhos de diversa ordem, nomeadamente

em compressão do tempo e na redução de custos e eliminação de desperdícios”

(Dias, 2005, p. 45). Distingue-se, assim, o processo de criação de valor para a

cadeia de abastecimento, fomentando a compreensão da estrutura geral da nossa

investigação.

Apresentamos de seguida as principais áreas sobre as quais recaem as

opções de trade-offs, resumindo algumas das principais formas de adição de valor

também conhecidas como atributos logísticos (Carvalho, 2010, pp. 49 e 50):

Tempo: Tal como referido na missão da logística, a disponibilidade do

produto ao cliente no tempo oportuno é um factor bastante relevante

para a satisfação do mesmo. Esse tempo aparece, constantemente,

relacionado com actividades como a gestão de stocks, localização dos

materiais, produtos e transporte, com vista a criação da “utilidade

temporal” e acréscimo de valor para o cliente;46

Forma: Refere-se ao valor acrescentado ao produto por via de

actividades como a transformação física ou assemblagem. As diferentes

actividades associadas, “capazes de modificar a forma do produto e de o

tornar de maior valor para o cliente”;

Lugar: “Chegar onde se encontra o cliente ou o consumidor é uma das

características centrais da Logística”. Com base na capacidade da

Logística, tornar-se possível a deslocalização das empresas, garantindo-

lhes vantagens competitivas, o que pode aumentar o volume de

negócios da empresa, perspectivando-se economias de escala em

função do decréscimo dos custos, podendo, ainda, a empresa reduzir o

preço e aumentar a disponibilidade de produtos e serviços.

5.4. PARCERIAS E A SUBCONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS

A cadeia de abastecimento, como observámos inicialmente, pode ser

entendida como um arranjo entre parceiros de canal, onde se destaca a colaboração

46

Mais adiante veremos este tópico de uma maneira mais aprofundada quando abordarmos os aspectos referentes ao lead-time logístico.

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49

entre os seus constituintes, visando a maximização do impacto sobre o consumidor

e o aumento da eficiência (Bowersos et al., 2008, p. 9). Essa partilha de informação

e de conhecimento também origina uma relação de menos conflitualidade e de mais

parceria. As referidas parcerias ou acordos visam baixar os custos de todo o

processo na cadeia, como por exemplo os custos operacionais de distribuição e de

constituição de stock (Montgomery e Porter, 1998, pp. 332 e 333).

Tendo em conta a necessidade de uma relação de colaboração dentro da

CA, partilha de recursos e competências, as vantagens competitivas que se

procuram são do tipo conjuntas, originando-se assim uma competição colaborativa

(Carvalho, 2010, p. 57).

Como já foi aqui referido, as características únicas das empresas constituem

o principal elemento para a obtenção de vantagens competitivas. O foco nessas

habilidades, que constituem o core business da empresa, diminui a atenção

dispensada para “as capacidades da organização e a visibilidade destas aos olhos

dos clientes”. Dado que as referidas capacidades geradoras de vantagem

competitiva “assumem um conceito de âmbito mais alargado, abarcando toda a

cadeia de valor”, recorre-se, deste modo, à cadeia de valor47 com vista a

identificação das principais actividades estratégicas e daquelas que “não constituem

fonte de vantagem competitiva”, sendo por isso candidatas ao Outsourcing ou a

serem tratadas por uma entidade externa a empresa (Costa, 2012, pp. 28 e 29).

No contexto da Cadeia de Abastecimento, muitas empresas optam por

passar a realização de operações como transporte, armazenamento, operações

dentro do armazém, entre outros para a responsabilidade de terceiros, visando uma

redução de custo ou melhoria no serviço ao cliente (Carvalho, 2010, p. 154). Por

exemplo, quando uma empresa opta por deixar a função armazenagem a cargo de

terceiro, procura com esta decisão “delegar as missões que não se enquadram nas

suas funções essenciais e para as quais não é a melhor qualificada nem a mais bem

equipada para desempenhar” (Dias, 2005, p. 202).

Dessa conjuntura, é possível dizer-se que, “os dois prestadores de serviços

logísticos tradicionais são os especialistas em transporte e armazenamento”, sendo

certo, para o caso do transporte, que o valor gerado advém da partilha da

capacidade do prestador pelos diferentes clientes. No caso do armazenamento, as

empresas deixam de investir na construção de instalações para armazenar o seu

47

Instrumento por nós escolhido para análise da necessidade de externalização.

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50

produto, havendo ainda a possibilidade de fazer o transporte de produtos das

empresas no mesmo operador (Bowersox et al., 2008, p. 10).48

Para que esse tipo de parcerias funcione, o fornecedor de serviços

normalmente assume uma certa quantidade de riscos, com penalizações por

incumprimento e possibilidade de recompensas por apresentar níveis baixos e altos,

respectivamente, em função do acordo assinado entre as duas partes (Montgomery

e Porter, 1998, p. 333).

As questões debatidas neste ponto permitem uma gestão integrada da

cadeia, assumindo, por isso, a colaboração entre as entidades um papel

fundamental para o correcto funcionamento da Cadeia de Abastecimento.

5.5. O PLANEAMENTO AGREGADO E AS FUNÇÕES

LOGÍSTICAS

O planeamento logístico procura responder à questões como “o que”,

“quando” e “onde”, tendo em conta os níveis estratégico, táctico e operacional

(Ballou, 1992, p. 33). Tal como analisámos na primeira parte da pesquisa, aqui

também nos centraremos mais na componente estratégica, desenvolvendo o

Planeamento Agregado e as funções logísticas subjacentes ao mesmo. Este

destaque que fazemos ao Planeamento Agregado prende-se com o facto do mesmo

abarcar as principais áreas sobre as quais recai o nosso estudo, denominadas áreas

do Planeamento Logístico, e por ser extensível a toda a cadeia, sendo por isso

necessário que as operações sejam planeadas em conjunto, visando a optimização

de todo o sistema e não das partes individuais que o constituem (Carvalho, 2010, p.

132). As quatro principais áreas interrelacionadas, que carecem de mais atenção e

que também participam no Planeamento Agregado, referem-se ao nível de serviço

ao cliente, localização das instalações, decisões referentes ao inventário e decisões

referentes ao transporte (Ballou, 1992, p. 35).49

48

Com a externalização de serviços (Third Party Logistics), as empresas têm a possibilidade de focarem o seu esforço na sua actividade principal, aumentando a eficiência da sua cadeia de abastecimento. Do conjunto de benefícios subjacentes à esta actividade, destacam-se a redução de custos, controlo de sazonalidade, melhoria no serviço a cliente, entre outros factores (Tompkins e Smith, 1998, pp. 54 e 55). 49

De forma sintética olhamos para as principais funções logísticas dentro da Cadeia de Abastecimento, perspectivando a interpretação das mesmas no seu desempenho. O que nos permitirá abordar o desempenho das cadeias e o impacto da estratégia nas mesmas, conforme os objectivos que pretendemos alcançar com esta pesquisa.

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51

Perante a situação acima descrita, o bom funcionamento da Gestão da

Cadeia de Abastecimento é também condicionado pelo seu planeamento e pela

forma como os elementos que a constituem interagem entre si. Daqui realça-se

novamente a importância de um planeamento que “visa decidir sobre questões como

e onde produzir, quando e quanto produzir, que produtos armazenar, onde, em que

quantidade, que meios de transporte utilizar e com que frequência, que informação e

sistemas e tecnologias de informação seleccionar, entre outras questões”. Esse

planeamento, denominado de Planeamento Agregado, abrange a totalidade das

entidades da Cadeia de Abastecimento, desde as mais a montante (fornecedores)

até a mais a jusante (clientes) (Carvalho, 2010, pp. 123 e 131).

Tendo em conta o objectivo principal de alcançar um certo nível de serviço

ao cliente, este planeamento visa então, “encontrar a melhor combinação de

decisões (…) para as restantes três áreas, localização, transportes e stocks que

conduza ao menor custo total”. As principais áreas do Planeamento Agregado da

Cadeia de Abastecimento, sendo também estas as mais relevantes do planeamento

logístico, também são alvo do nosso estudo, juntamente com outros serviços

logísticos dentro da cadeia, conforme se apresenta a seguir (Idem, p. 134).50

5.5.1. A LOCALIZAÇÃO

A localização assume elevada importância ao integrar o “raciocínio logístico

fundamental”, abarcando questões que vão desde a localização das infra-estruturas

que “recebem e processam fluxos físicos e informacionais” até aos locais dentro das

próprias instalações (Carvalho, 2004, p. 200).

Com a expansão das cadeias para localizações internacionais, a crescente

globalização e os desafios adicionais de gestão que isso acarreta, é cada vez maior

o interesse no estudo deste assunto (Meixell e Gargeya, 2005, p. 531).

O tema da localização é principalmente discutido ao nível estratégico da

empresa uma vez que envolve “investimentos consideráveis” e tem impacto no

desempenho da Cadeia de Abastecimento a longo prazo. Esse impacto, subjacente

à localização das instalações, no desempenho da cadeia deriva da capacidade do

planeamento desta área definir a estrutura da cadeia (Carvalho, 2010 pp. 145 e

50

Observámos, com isso, a ideia que o nível de serviço a clientes, a localização das instalações, o inventário e o transporte, constituem as principais áreas de planeamento pelo facto do impacto das decisões referentes às mesmas carregarem consigo a rentabilidade da empresa (Ballou, 1992, p. 35).

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52

146). Desse modo, as questões discutidas a este nível têm também a ver com o

número e a localização de instalações produtivas, a capacidade de cada uma, a

área de cobertura, entre outras (Meixell e Gargeya, 2005, p. 532).

Para a totalidade da cadeia, as diversas áreas do planeamento logístico

devem ter em conta a localização das instalações, sejam elas fábricas, armazéns ou

de distribuição. Assim, todas as instalações que compõem a rede logística devem

ser projectadas visando uma estrutura que favoreça o seu funcionamento, sendo

essa área a responsável pelas informações “relacionadas ou dependentes” com a

localização de “todas as entidades pertencentes à Cadeia de Abastecimento”

(Carvalho, 2010 p. 136). Nesse planeamento, podem existir, por exemplo, armazéns

flexíveis ao ponto de serem usados durante períodos específicos, sendo as decisões

de localização de redes de armazéns as que mais vezes são revistas (Bowersox et

al., 2007, p. 329).

5.5.2. GESTÃO DE STOCK

As questões relacionadas com o “planeamento dos stocks têm um impacto

directo no planeamento da localização das instalações do Sistema Logístico ou da

Cadeia de Abastecimento, em particular na localização de armazéns ou de centros

de distribuição” (Carvalho, 2010, p. 137). A política adoptada, neste contexto, vai

afectar a decisão de localização das instalações devendo, portanto, ser considerada

na definição da estratégia logística (Ballou, 1992, p. 36). Associado a esta questão,

temos ainda o nível de serviço que se deseja fornecer ao cliente, que se procura

alcançar comprometendo o mínimo de inventário possível, correspondente ao custo

total mais baixo (Bowersox e Closs, 1996, p. 30). Neste sentido, importa também

dizer que a escolha do local para armazenar o stock influencia o movimento dos

transportes (Bowersox et al. 2007, p. 30).

Uma boa gestão de stock deve permitir que o mesmo esteja em condições

de satisfazer as encomendas dos clientes e dos seus utilizadores ao menor custo

possível (Zermati, 1993, p. 23). Neste objectivo, identifica-se a função primária da

constituição de stock.

Podemos, ainda, associar esta componente a utilidade de quantidade,

observando o seguinte, “disponibilizar as quantidades requeridas torna-se, assim,

essencial para proporcionar utilidade de quantidade. Essa utilidade pode ser

aperfeiçoada através de forecast correcto, planeamento robusto e boa gestão e

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53

controlo de inventários e/ou capacidade instalada” (Carvalho, 2010, p. 50). Justifica-

se, por isso, a existência de stock com a preocupação de enfrentar as variações da

procura, por exemplo, tornando regular o consumo de um produto com uma

produção irregular (Zermati, 1993, p. 27).

5.5.3. OS TRANSPORTES

Dada a rede e a capacidade das suas instalações, o transporte representa a

área operacional da logística que, geograficamente posiciona o inventário (Bowersox

e Closs, 1996, p. 29).

Tal como acontece com as demais áreas do planeamento logístico, as

escolhas referentes ao modo de transporte e a sua capacidade influenciam

profundamente as outras variáveis como a localização das instalações, a

constituição ou não de stocks e consequentemente o nível de serviço a prestar ao

cliente (Carvalho, 2010, p. 136). Esta área vem cobrir as necessidades de

movimentar os fluxos físicos da cadeia, sendo a mesma considerada das actividades

“mais estruturantes da Logística” e a “responsável por boa parte dos custos

Logísticos” (Idem, p. 51). Como referem Bowersox e Closs (1996, p. 35), a

distribuição física procura movimentar o produto acabado até aos clientes.

Tendo em conta o custo das operações de transporte e as restantes

despesas associadas para deslocar o stock de uma localização para outra,

procurando a eficiência no custo total do sistema, esta área requer grande atenção

da parte das empresas (Bowersox et al., 2007, p. 31).

As questões que se debatem neste contexto referem-se à escolha dos

modos de transporte, a escolha dos operadores logísticos externos, o planeamento

das rotas de transporte, o tipo de veículos a utilizar, entre outros (Carvalho, 2010, p.

51). Essas decisões referem-se às formas básicas para se alcançarem os requisitos

de transporte, intimamente ligadas aos factores custo, velocidade e consistência na

eficiência dos movimentos (Bowersox e Closs, 1996, p. 29).

5.5.4. NÍVEL DE SERVIÇO AO CLIENTE

Acerca deste elemento, pode-se dizer que, “prestar e oferecer serviços

constitui mesmo a base que permite a participação das organizações nas cadeias ou

nas redes de valor, nos canais de distribuição, nas parcerias, no outsourcing ou em

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54

movimentos colaborativos em que a capacidade de satisfazer requisitos de serviço é

um factor decisivo e fundamental” (Dias, 2005, p. 46). De forma sintética, o papel do

serviço a cliente consiste em atribuir utilidades de tempo e lugar às trocas de bens e

serviços entre o comprador e o vendedor (Christopher, 2011, p. 31). Neste âmbito, o

nível de serviço associado a satisfação do cliente é também da responsabilidade da

logística, passando o sistema logístico a ser encarado como um sistema de serviço

(Dias, 2005, p. 46).

Sendo este o ponto fulcral do Sistema Logístico51 devido à sua relação com

o elemento que atribui o valor ao produto, o cliente, as empresas tendem a destacar

esta área no centro da sua estratégia, bem como nas suas Cadeias de

Abastecimento (Carvalho, 2010, p. 135). Essa actividade responde a questão de

colocar o produto certo, no lugar certo, para o cliente certo, na quantidade e nas

condições desejadas (Idem, p. 55). Ou seja, o nível de serviço é definido pela

quantidade de recursos que a empresa está disposta a empenhar (Bowersox et al.,

2007, p. 25).

O bom desempenho para a empresa, em matéria de serviço ao cliente,

passa pelo conhecimento dessa necessidade a nível geral, correcto planeamento,

operacionalização adequada e verificação constante dos objectivos traçados nesse

contexto, conseguindo-se assim manter o desempenho dentro da expectativa do

cliente (Idem, p. 27). Nesse contexto, observando a qualidade do serviço prestado,

pode-se dizer que “como regra, uma empresa somente pode vender para clientes

poderosos e ainda assim alcançar lucratividade acima da média, se for um produtor

de baixo custo no seu segmento ou se o seu produto tiver alguma diferença em

qualidade, ou mesmo uma característica singular (Montgomery e Porter, 1998, p.

19).52 Essas características devem compreender os serviços que adicionam valor ao

produto, reforçando-se a ideia que, é a totalidade da oferta que acrescenta valor

para o cliente, ou seja, as pessoas não compram apenas o produto, compram

também os benefícios que obtêm dos mesmos (Christopher, 2011, pp. 34 e 35).

O nível de serviço logístico que se deseja prestar ao cliente, afecta

profundamente a estrutura do sistema logístico: um baixo nível de serviço, permite

localizar os inventários em algumas instalações e usar formas baratas de transporte;

um alto nível, geralmente requer o oposto. Porém, torna-se importante definir

51

Por se encontrar no centro do triângulo de planeamento Logístico Cfr. Carvalho, 2010, p. 134. 52

Esta análise remete-nos para o campo das vantagens competitivas que as empresas devem ter, por forma a enfrentar a concorrência, como já foi anteriormente observado.

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55

primeiramente no planeamento estratégico logístico, o nível de serviço a cliente

pretendido (Ballou, 1992, pp. 35 e 36).

5.5.5. A GESTÃO DA INFORMAÇÃO NA CADEIA DE

ABASTECIMENTO

A relevância desta matéria, além de estar espelhada na perspectiva dos

principais fluxos logísticos de informação e de materiais, é ainda relevada que, “sem

informações exactas, o esforço envolvido no sistema logístico pode ser mal

direccionado” dado que “a informação facilita a coordenação do planeamento e

controle das operações cotidianas”, sendo a mesma necessária no atendimento ao

cliente, na manufactura e no abastecimento (Bowersox et al., 2007, p. 36).53

É certo que o planeamento e a gestão da cadeia logística global têm

melhorado graças aos avanços verificados no contexto dos meios informáticos

(Courtois et al., 2007, p. 392). Contudo, a tecnologia usada é boa apenas se a

informação for igualmente boa. Erros operacionais podem ter origem em

informações de qualidade deficiente, com destaque para os erros na informação

recebida acerca das previsões e os erros nas ordens de processamento, ambos

capazes de criar potencias distúrbios na totalidade da cadeia (Bowersox e Closs,

1996, p. 28).

Procurando a perfeita ligação informacional entre o nível operacional e o

estratégico foram desenvolvidos os sistemas ERP (Enterprise Resources

Planning), através dos quais faz-se o acompanhamento das estratégias e a

alteração do controlo (Courtois et al., 2007, p. 392). Para a gestão do pipeline global

utiliza-se o DRP (Distribution Requirements Planning) que, representa uma

integração mais próxima de toda a rede logística. Uma correcta implementação do

sistema DRP vai permitir aumentar a rotação do inventário, rápida resposta as

mudanças do mercado, apoiar o reabastecimento em regime JIT, diminuir a

obsolescência e antecipar e minimizar os problemas com inventários, tudo isto com

base numa perspectiva geral da distribuição (Tompkins e Smith, 1998, p. 56).

No sistema ERP integram-se vários módulos de execução tais como:

Sistema de Gestão de Transportes (TMS), Sistema de Gestão de Armazéns (WMA)

53

Este ponto vem assim dar sequência ao anterior, identificando as ferramentas mais utilizadas na gestão e no controlo da informação na Cadeia de Abastecimento. Contudo, alertamos que trazemos apenas alguns instrumentos destacados na bibliografia consultada.

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56

e Sistema de Gestão de Pátio (YMS). A maioria desses módulos são integrados ao

ERP para facilitar a troca de dados (Bowersox, et al., 2007, 113).

Existe uma variedade considerável de instrumentos de apoio a gestão da

informação na cadeia de abastecimento. Contudo, existe também a necessidade de

seleccionar os mais certos para as análises que se pretendem, visto que nessa

diversidade de ferramentas nem todas garantem o correcto planeamento e gestão

da cadeia, existindo em certos casos, a dificuldade de aplicação desses

instrumentos ao longo da cadeia global integrada, (Carvalho, 2010, p. 128).54

As tecnologias de informação tornam-se o meio para a partilha de

informação entre clientes e fornecedores, criando, assim, uma cadeia de

abastecimento virtual mais orientada na informação do que no stock, apoiada em

instrumentos EDI (Electronic Data Interchange) (Carvalho et al., 2001, p. 22).

Esses instrumentos de comunicação, partilhados também com o cliente, podem

melhorar a velocidade nas entregas e baixar os respectivos custos (Bowersox e

Closs, 1996, p. 28).

Essa partilha de informação deve fomentar a integração dos processos,

sobre um sistema de informação comum a todas as entidades da cadeia, orientando

o desenvolvimento de trabalho conjunto para o desenvolvimento de produtos entre

outras actividades e serviços (Carvalho et al., 2001, p. 22). Sem informações

precisas, o esforço desenvolvido no sistema logístico para cumprir objectivos como o

de planear e executar de forma integrada as operações logísticas, pode ser

desperdiçado (Bowersox e Closs, 1996, 36).

54

Os referidos sistemas podem ser distribuídos de acordo com a representação no Anexo IV – Sistema de Informação da Cadeia de Abastecimento.

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57

CAPÍTULO 6 - ANÁLISE, MEDIDAS E INDICADORES DE

DESEMPENHO LOGÍSTICO

No decorrer da investigação apresentamos um conjunto vasto de

instrumentos de análise estratégica, análise concorrencial e competitiva. Aqui

apresentam-se os elementos que, à luz da Logística, avaliam a componente

estratégica da organização nela reflectida. Pretende-se também com este tópico

abordar os instrumentos informacionais e de gestão utilizados na Gestão da Cadeia

de Abastecimento. Procuramos ainda estabelecer algumas métricas para

compreendermos melhor os principais serviços prestados pela logística dentro da

cadeia de Abastecimento.

A busca pela vantagem competitiva por intermédio da logística de alto

desempenho requer sistemas de medidas integrados, procurando-se com os

mesmos medir para poder gerir as actividades logísticas internas a organização e as

externas, de relação com os demais integrantes da cadeia de abastecimento

(Bowersox, et al., 2007, p. 409). A relevância deste tópico advém da ideia que, “a

contribuição da logística como manancial estratégico para a organização tornou-se,

nos dias de hoje, central, tanto para o entendimento mais profundo deste ramo do

saber empresarial como para a compreensão mais eficaz da própria empresa”

(Carvalho, 2004, p. 67). Os planos logísticos elaborados e implementados, por si só,

não garantem que os objectivos traçados sejam alcançados. É preciso pensar-se

também na função de controlo, onde o desempenho actual é comparado ao

planeado despoletando a possibilidade de acções correctivas (Ballou, 1992, p. 638).

Com esta análise procura-se identificar a existência ou não de “uma base

sustentável para o desenvolvimento consistente e estável das operações logísticas

na empresa, ou seja, se existe harmonização das operações com o planeamento

estratégico logístico” (Carvalho et al., 2001, p. 45).

Para o caso do serviço ao cliente e os níveis de qualidade exigido a cada um

dos elos da cadeia, a monitoração permanente transforma a avaliação num “factor

estratégico na medida de um sistema logístico, permitindo um maior controlo de

todos os recursos da empresa e de cada um dos processos e actividades com vista

à prossecução de objectivos de melhoria contínua” (Dias, 2005, p. 220).

Assumem neste contexto acrescida relevância as informações de gestão

para análise “da cadeia de valor da cadeia logística global”, dado que estas

informações fazem referência ao desempenho e aos resultados alcançados, sendo

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58

possível o recurso a vários métodos baseados na “estruturação em processos e na

lógica de identificação das cadeias de valor” para alcança-las (Courtois et al., 2007,

p. 393).

Neste ponto tentaremos de forma resumida aproximar todos os elementos

acima referidos à Logística e a Gestão da Cadeia de Abastecimento, não relevando

em pormenor as perspectivas da Logística Estratégica e da Estratégia Logística,

sendo que a primeira encara a Logística como uma ferramenta ou suporte da

Estratégia e a segunda, por sua vez, percepciona a Logística como motor ou

fundamento da Estratégia (Dias, 2005, p. 254). Visto que a primeira perspectiva é a

mais corrente e a mais antiga, naturalmente a nossa abordagem incidirá mais vezes

sobre esta.

De um modo geral enquadramos esta nossa reflexão num modelo que

procura avaliar a consistência dos objectivos estratégicos logísticos, os factores

críticos de sucesso, comparar os objectivos logísticos às estratégias da empresa,

entre outros factores, visando os objectivos estratégicos logísticos o seguinte

(Carvalho et al., 2001, pp. 43 e 44):

As metas para o serviço ao cliente;

O custo associado ao nível de serviço previsto;

Os investimentos financeiros necessários;

As metas para a produtividade;

O conjunto de projectos com parcerias de clientes e fornecedores.

Para o estudo do desempenho logístico orientamo-nos através duma

perspectiva interna e outra externa.55

No que concerne ao estudo da componente interna é importante olhar para

os princípios que norteiam a gestão do sistema logístico, os recursos humanos

envolvidos e o trabalho por estes desenvolvido, a previsão e a gestão de stocks,

análise dos fluxos informacionais e físicos, os transportes e análise dos sistemas

logísticos de informação e comunicação (Idem, p. 59). O controlo dessas actividades

logísticas planeadas é feito com base no serviço prestado ao cliente e nos custos da

actividade. Esse mecanismo engloba uma componente de análise e outra de

relatório acerca do desempenho do sistema, os objectivos de desempenho

pretendidos e alguns meios de correcção (Ballou, 1992, p. 639).

55

Sendo necessário para tal, na prática, uma recolha de informações prévia relativa ao sistema logístico actualizado da empresa Cfr. Carvalho et al., 2001, p. 55.

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59

A análise externa, feita nesse contexto, envolve o estudo dos fornecedores,

dos clientes, dos prestadores de serviços, da concorrência e da enquadrante

legislativa, aconselha-se também a aplicação dessa análise como suporte à

decisão/acção (Carvalho et al., 2001, p. 56). Esta abordagem procura avaliar a

eficiência e eficácia com que se desempenham as actividades logísticas na rede

geral.

Os dois pontos, acima referenciados, percepcionam uma análise de todas as

áreas do sistema logístico abordadas até aqui. Importa, nesse contexto, ter sempre

em atenção que, para se alcançar a excelência logística é preciso observar-se todas

as suas frentes: distribuição, externalização, tecnologia de informação, transporte e

armazenamento. Com estas questões inferidas, as empresas podem funcionar em

conjunto para responder as necessidades do cliente, reduzir os custos, aumentar a

eficiência operacional e melhorar a implementação de novas tecnologias (Tompkins

e Smith, 1998, p. 56).

6.1. INDICADORES E MEDIDAS DE DESEMPENHO

Na nossa investigação destacámos apenas os indicadores mais comuns56,

visto que cada empresa pode desenvolver os seus próprios indicadores de

desempenho para avaliar o seu sistema logístico ou a sua cadeia de abastecimento.

A gestão baseada nesses indicadores pode ser aplicada tanto ao nível

estratégico quanto ao táctico/operacional, em função dos objectivos estratégicos

definidos para cada nível da cadeia de abastecimento (Courtois et al., 2007, p. 394).

Uma vez que esses indicadores procuram explicar as relações entre as diversas

áreas do sistema logístico e as actividades nele desenvolvidas, os indicadores

genéricos mais relevantes compreendem as seguintes questões (Carvalho et al.,

2001, p. 63):

Os custos de proporcionar o melhor serviço ao cliente;

A capacidade de prestar serviços que, pelo menos, satisfaçam as

exigências do cliente;

A eficácia nos resultados face a utilização económica de recursos;

O tempo de resposta da empresa face as mudanças.

56

Sem qualquer desenvolvimento alongado sobre a perspectiva financeira.

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60

Para o caso do serviço ao cliente, os seus indicadores normalmente incluem

a disponibilidade de inventário, a velocidade das entregas e os pedidos

concretizados. Como sabemos, os custos logísticos são sensíveis ao nível de

serviço a cliente que se fornece. Para um nível de serviço crescente, os custos de

transporte, armazenamento, movimentação de inventário e ordem de

processamento, crescem desproporcionalmente (Ballou, 1992, p. 650).

6.2. O TABLEAUX DE BOARD (TDB)

Esse instrumento, mais relevante no contexto operacional, também ajuda

nas decisões e no controlo logístico (Carvalho et al., 2001, pp. 93). Surge nos anos

30, para o uso da gestão, com a intenção de ultrapassar a imprecisão dos dados

contabilísticos que integravam o processo de decisão (Russo, 2009, p. 86).

Abarcando o desenvolvimento desta metodologia as seguintes fases (Carvalho et

al., 2001, pp. 94):

Determinação do organigrama da empresa;

Selecção dos objectivos e variáveis chave;

Escolha dos indicadores;

Avaliação dos resultados apresentados pelos indicadores;

Comunicação e justificação dos resultados alcançados.

Este elemento é também visto como impulsionador de outro instrumento, o

Balanced Scorecard (BSC) (Russo, 2009, p. 85). Este último, combinado com o

primeiro, fornece dados mais precisos.

De uma forma mais detalhada, as fases para a concepção do Tableaux de

Bord, visando alcançar as exigências da estratégia, dividem-se em (Neves, 2011, p.

154):

Visão global sobre a missão, estratégia e objectivos estratégicos;

Definição dos centros de responsabilidade para a implementação da

estratégia;

Ligação dos objectivos de cada centro de responsabilidade com as

variáveis de acção;

Escolha dos indicadores a usar por centro de responsabilidade;

Criação de sistema de normas e sinais de alerta;

Processo de obtenção de informações.

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61

Adiantamos este tópico observando a ideia que, esse instrumento “foi

desenvolvido como um instrumento de informação rápida, de comparação da

realidade com as previsões, permitindo o apuramento de desvios, a elaboração de

diagnósticos e a tomada de decisões, essencialmente de curto prazo” (Russo, 2009,

89).

6.3. O LEAD TIME COMO FACTOR DE ANÁLISE

O tempo total das operações tem vindo a ser o foco da gestão em muitas

empresas, originando uma competição, entre empresas, baseada no tempo total,

destacando-o como factor de competitividade (Dias, 2005, p. 140).

Na gestão do lead time57 total do pipeline logístico temos presentes alguns

elementos que permitem a redução do tempo: inbound logistics, referente aos

fornecedores; internal operations (Processos Internos) e outbound logistics, relativo

aos Clientes (Carvalho et al., 2001, p. 26).

Da Relação com os Fornecedores, as parcerias dentro da cadeia de

abastecimento permitem uma redução do tempo dentro da mesma. Essas “parcerias

estratégicas com fornecedores são um factor crítico para o desenvolvimento de uma

cadeia de abastecimento com grande capacidade de resposta às exigências do

mercado”. Não havendo a necessidade de se estabelecerem parcerias com vários

fornecedores, devendo a empresa concentrar-se apenas num grupo mais reduzido,

é importante haver uma relação “baseada na transparência total de informação e na

sincronização das operações”, apoiadas numa plataforma compatível, tanto ao nível

dos fluxos físicos como informacionais (Idem, p. 27).

Nos Processos Internos, em complemento ao ponto anterior, as empresas

que integram as parcerias devem também ter uma noção geral dos seus processos

internos e dos parceiros com os quais se relacionam. O facto de muitas empresas

não actualizarem os seus processos internos, com vista uma melhor adaptação às

mudanças do mercado, pode ser um factor de inibição para a redução do tempo

necessário e consequentemente da agilidade da cadeia de abastecimento. Decorre

daqui a necessidade de analisar profundamente “a maneira como são feitas as

tarefas com uma visão de reengenharia de processos no sentido de alcançar

agilidade”. O conceito de reengenharia, aqui enunciado, visa a identificação, tal

57

O tempo que vai desde a previsão de necessidades de clientes, que dão origem a stocks, à produção da encomenda até a entrega ao cliente.

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62

como acontece com as actividades que geram vantagens competitivas, os

processos que criam valor e aqueles que são potenciais candidatos a serem

eliminados58, sem prejuízos para os benefícios gerados para o cliente (Carvalho et

al., 2001, p. 28).

Na Relação com os Clientes, tal como acontece na relação com o

fornecedor, onde deve haver uma relação de parceria transparente, com os clientes

deve-se adoptar uma postura semelhante. Note-se que as informações da procura

em posse do cliente são também de interesse para o fornecedor, uma vez que com

esta informação o fornecedor poderá planear eficazmente a sua capacidade e

processos de produção, originando desta forma uma maior agilidade, dentro da

cadeia. Essa realidade não tem que passar necessariamente por plataformas

electrónicas altamente sofisticadas, esse objectivo pode ser alcançado desde que

haja uma “mudança de atitude das partes envolvidas, centradas numa filosofia de

obtenção de negociações win-win, ou seja, com ganhos para ambos os parceiros e

não apenas com uma realocação de custos e de benefícios” (Idem, p. 29).

Neste âmbito, torna-se também importante observar o Tempo de Resposta

da Cadeia de Abastecimento (SCRT – Supply Chain Response Time) calculado

como o tempo necessário para os integrantes da cadeia, face à uma alteração

relevante na procura, modifiquem a sua postura de modo a responderem esta

alteração (Bowersox, et al., 2007, 418).

6.4. O BALANCED SCORECARD (BSC)

Para avaliar o desempenho estratégico dentro da Cadeia de Abastecimento

escolhemos outro instrumento de análise. Nesse sentido, trazemos um método

desenvolvido por Robert Kaplan e David Norton, apresentado num artigo publicado

pela Havard Business Review na década de noventa, denominado Balanced

Scorecard59 (Neves, 2011, p. 164). Esta técnica visa, além da análise financeira,

indicadores sob as perspectivas de clientes, processos internos e aprendizagem e

crescimento (Kaplan e Norton, 2004, p. VII).60 O desempenho por este medido

58

Esses processos muitas vezes traduzem o tempo em que se tem o produto em stock. Para evitarem essas situações as empresas, em alguns casos, empurram as fases finais mais para junto do cliente. 59

Sistema de Medida por Score (pontos) e card (registo). 60

Para o nosso estudo não analisamos os indicadores financeiros que têm relação com a Logística, procuramos orientarmo-nos mais por outros indicadores de gestão.

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63

refere-se aos resultados de longo prazo, ou seja, de cariz estratégico (Chiavenato e

Sapiro, 2003, p. 389).

Ilustração 12 - As 4 Perspectivas do Balanced Scorecard

Fonte: Santos, 2008, p. 385

As quatro perspectivas sob as quais funciona este método (Financeira,

Cliente, Processos Internos, Aprendizagem e Crescimento) são aplicadas de acordo

com as necessidades e características específicas de cada empresa (Neves, 2011,

p. 163). A sua aplicação procura assim “traduzir a visão ou a estratégia de uma

forma mensurável, rigorosa e com objectivos” (Turner, 2010, p. 4).

O resultado decorrente deste processo apresenta-nos uma visão global do

funcionamento do negócio, no que concerne a visão e estratégia nas áreas

financeira, de processos internos, aprendizagem/crescimento e cliente (Idem, p. 4).

Este sistema pode medir o grau de sucesso da CA, em função do

desempenho das estratégias à ela subjacente, destacando-se a necessidade de

relacionar as suas quatro perspectivas, avaliando o impacto das mesmas na

rentabilidade e no nível de serviço ao cliente (Courtois et. al., 2007, pp. 394 e 395).

De uma forma resumida, podemos analisar as componentes do BSC da seguinte

forma (Idem, p. 395):

Financeira: analisa a produtividade da empresa, perspectiva a evolução

do volume de negócios, projectando o futuro da empresa;

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64

Clientes: o nível de serviço prestado a clientes, define o grau de

satisfação dos mesmos e o consequente posicionamento, da CA no seu

mercado alvo;

Processos Internos: avalia a forma como a empresa responde as

exigências dos seus clientes e do mercado, em geral. No mesmo

podemos identificar os processos mais adequados e menos positivos de

acordo com a fase que a empresa enfrenta;

Crescimento/Aprendizagem: identifica a “capacidade da supply chain

para dominar o seu saber em termos de produção”.

Os resultados traduzidos por esses indicadores e os métodos de análise, até

aqui estudados, têm sido positivos na “análise, projecto e avaliação de muitas

estratégias logísticas empresariais” (Carvalho et al., 2001, 63). Essa ideia aplicada à

perspectiva global da Cadeia de Abastecimento não é descabida, visto ser a

Logística o foco central da mesma, tal como já referimos.

Por forma a se obterem os melhores resultados com a aplicação das

ferramentas estudadas é importante que as mesmas sejam conjugadas e utilizadas

de forma completar. Na nossa investigação, a conjugação desses métodos foi de

extrema importância para a construção dos instrumentos de análise.

CAPÍTULO 7 - CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS ENTRE

OS DOIS CONTEXTOS

Em cada um dos pontos até aqui estudados tentámos, sempre que era

oportuno, fazer o paralelismo entre as duas vertentes em análise, procurando nas

definições e opiniões de entendidos na matéria aproximar ou afastar os contextos

empresarial e militar. Neste último tópico procuramos resumir essas ideias,

perspectivando uma melhor compreensão, caminhando de encontro aos objectivos

mais específicos da pesquisa.

Sendo indiscutíveis as origens militares do conceito de estratégia, surgiu a

necessidade de se perceber as principais semelhanças entre a sua vertente militar e

a empresarial, no que diz respeito aos objectivos, a natureza das análises e aos

resultados alcançados, conforme a ilustração que se segue (Freire, 1997, p. 24).

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65

Meio Empresarial Meio Militar

Objectivo Conquista e controlo de mercados Conquista e controlo de território

Análises

Estudo do Mercado

Estrutura da indústria

Pontos fortes e fracos Organização e

liderança

Condições climatéricas

Condições do terreno

Distribuição das forças

Estrutura de comando

Resultados Estratégia Empresarial

Plano Estratégico

Estratégia Militar;

Plano de campanha

Ilustração 13 - Comparação entre Estratégias Empresariais e Militares

Fonte: Adaptado de Freire, 1997, p. 24

As aproximações que se têm feito aos dois conceitos têm criado

divergências entre vários autores. Francisco Abreu, por exemplo, refere que os

pesquisadores que se dedicam à estratégia empresarial encaram os ensinamentos

de estrategas militares como Sun Tzu e Clausewitz cujas doutrinas “possuem

interesse académico na perspectiva do estudo da evolução da disciplina, mas que

não proporcionam suficiente poder explicativo para determinar a orientação de

políticas e programas actuais”. Acerca dessa postura, o mesmo opõe-se dizendo

que a estratégia militar, derivado do seu tempo de existência e a experiência

acumulada no seu percurso, leva anos de avanço em relação a sua similar

empresarial, sendo então certo que “na prática organizacional de todos os dias, os

gestores adoptam um comportamento que, indiscutivelmente, nos remete para o

desejo explícito de vitória num cenário de conflito: o teatro de operações deixa de

ser o campo de batalha para passar a ser o mercado; a organização empresarial

assume o estatuto de unidade estratégica antes atribuído ao exército em campanha;

os concorrentes vestem a pele do inimigo que urge derrotar” (Abreu, 2002, p. 43).

7.1. APROXIMAÇÃO DO CONFLITUAL AO COMPETITIVO

Podemos notar, daquilo que vimos nos capítulos iniciais, que a ideia de que

“as constantes lutas e batalhas ao longo dos séculos” fizeram que os militares

perspectivassem um planeamento estratégico à priori, por forma a melhor empregar

as suas acções no campo de batalha, sendo por isso “a condução das guerras (…)

planeada com antecipação”, tendo a partir dai o conceito de estratégia sofrido

diversas alterações, conforme as interpretações que foram sendo feitas, faz todo o

sentido (Chiavenato e Sapiro, 2003, p. 46). É igualmente possível que o

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66

desenvolvimento do planeamento militar permita compreender melhor a abordagem

à estratégia empresarial (Freire, 1997, p. 24).

A evolução do planeamento e dos conceitos acima referidos também pode

ser fundamentada observando algumas ferramentas de apoio a gestão. Assim,

escolhemos uma ferramenta de reconhecida importância no contexto da gestão, o

Balanced Scorecard desenvolvido por Kaplan e Norton, um instrumento cuja

elaboração também teve em conta os conhecimentos militares. Os autores deste

instrumento lembram o pensamento daquele que classificaram como “o grande

estratega militar do século XIX”, Clausewitz, e referem que, “para construir um

sistema de mensuração que descreva a estratégia, precisamos de um modelo geral

de estratégia”, tal como destacou Carl von Clausewitz61 sobre “a importância de um

modelo para organizar o raciocínio sobre a estratégia” (Kaplan e Norton, 2004, p. 7).

No que diz respeito à análise estratégica, Pankaj Ghemawat62 alerta

“observe o ambiente cuidadosamente. Se você notar quaisquer mudanças, procure

jogar onde você tenha mais vigor” (Montgomery e Porter, 1998, p. 40). Essa visão

pode ser também entendida observando a análise de Sun Tzu, quando o mesmo

referia que devemos concentrar os nossos recursos e energias nos pontos em que o

inimigo apresenta maiores fragilidades, evitando-o onde o mesmo se apresenta mais

forte, tal como fizemos referência no capítulo inicial (Abreu, 2002, p. 191).

No seguimento das tentativas de aproximação, estabelecer relações e

procurar explicações semelhantes em cada um dos contextos, Adriano Freire

procura, através dos ensinamentos deixados por Sun Tzu, explicar as opções

estratégicas para as empresas que, de forma muito resumida apresentamos aqui

(Freire, 1997, p. 25):

Da máxima, “a melhor estratégia é atacar a estratégia do inimigo” extrai-

se a lição para a gestão “as empresas devem entrar primeiro nos

mercados e agir proactivamente”;

A máxima “a pior estratégia é atacar cidades fortificadas” traduz-se na

lição de gestão, “as empresas devem evitar segmentos já dominados ou

com baixo crescimento”.

61

Pensador já abordado no capítulo inicial. 62

Escreve artigos para a Havard Business Review, tal como Porter.

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67

7.2. AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS

De uma forma geral, os pontos que mais aproximam ou afastam os dois

conceitos, na nossa opinião, devem ser vistos, tendo em conta as seguintes

categorias estratégicas (Abreu, 2002, pp. 50 e 51):

1. Os objectivos – o quê?

2. Os adversários – contra quem?

3. As ameaças – contra quê?

4. Os meios – com quê?

5. Os aliados – com quem?

6. O espaço – onde?

7. O momento mais apropriado para intervenção – quando?

8. As modalidades de acção mais adequadas – como?

9. A informação

Cada um dos elementos acima mencionados permite-nos de uma forma

mais clara identificar os principais pontos de convergência e divergência entre os

dois ambientes, militar e empresarial. Sendo, por isso, possível assumir que, apesar

da referência feita por Bruce Henderson no sentido de “as guerras de mercado”

serem “eternas” e “a participação de mercado” ser “ficção”, o conflitual atinge

proporções muito diferentes do competitivo (Montgomery e Porter, 1998, p. 6 e 7).

Verifica-se ainda que, do lado militar recorre-se à força física ou violência das armas,

não se verificando nos conflitos entre empresas o disparo de canhões,

bombardeamento das posições inimigas, “nem se firma a dissuasão num arsenal de

mísseis balísticos de ogivas múltiplas” (Abreu, 2002, p. 44). Como se vê na tabela.

Estratégia Militar Estratégia Empresarial

Cumpre objectivos inscritos numa missão estratégica definida pelo poder político, ou seja, subordina-se a objectivos de dimensão distinta, fixados por uma entidade de nível superior:

Define a missão estratégica que incorpora os objectivos a cumprir, ou seja, não se subordina a objectivos de dimensão distinta, fixados por uma entidade de nível superior;

Materializa-se num confronto directo, eventualmente com o uso da força física.

Materializa-se num confronto mediado pelo mercado, sem uso da força física

Não está sujeita a constrangimentos de natureza legal

Está sujeita a constrangimentos de natureza legal

O destinatário da acção estratégica fixa a missão estratégica e participa no processo de formulação e execução estratégica

O destinatário da acção estratégica constitui uma variável exógena do processo de formulação e execução estratégica. Não fixa a missão estratégica nem participa neste processo.

Ilustração 14 - Atributos da Estratégia Militar e Empresarial

Fonte: adaptado de Abreu, 2002, p. 50

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68

Este quadro é uma necessária síntese. E o primeiro elemento a considerar é

a rivalidade entre entidades políticas que se transforma num confronto directo, como

vimos no âmbito da estratégia militar, enquanto nas empresas o confronto é

mediado pelo mercado, correspondendo o mercado ao campo de batalha. Outro

aspecto também relevante tem a ver com a envolvente contextual/legal que

condiciona constantemente as modalidades de acção à realizar pelas empresas, ao

contrário do confronto militar que, se desenrola sem impedimentos de natureza legal

(Abreu, 2002, p. 48).

Concluímos este tópico olhando para a componente dos recursos humanos

cujo desempenho, visando alcançar os objectivos definidos pela estratégia, carece

de medidas de coordenação e controlo, à semelhança dos recursos materiais. Nisso,

os gestores e estrategas devem percepcionar desempenho dos recursos humanos

sob sua responsabilidade como fundamental para o bom desempenho da

organização, havendo por isso a necessidade de os compreender, motivando-os e

transmitindo-lhes da melhor maneira a missão e a visão da organização. Assim,

devemos ter em conta que, “as rédeas do poder estão a mudar de mãos. O futuro

pertence a um tipo muito diferente de pessoas, com um tipo muito diferente de

inteligência: pertence a quem é capaz de criar, empatizar, reconhecer padrões ou

gerar significado” (Rosado, 2011, p. 109). Decorrente desta afirmação, podemos

ainda acrescentar que os líderes, tantos os gestores como os militares, têm de estar

sempre atentos às mudanças sociais e aos seus impactos nas organizações.

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69

PARTE II – ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO E EMPÍRICO

CAPÍTULO 8 - TRABALHO DE CAMPO E METODOLOGIA DE

INVESTIGAÇÃO

8.1. TIPO DE ESTUDO

Desenvolvemos a nossa investigação com base na metodologia de

investigação em Ciências Sociais, orientando o nosso estudo numa perspectiva

exploratória/descritiva.63 As etapas da pesquisa obedeceram às recomendações

de vários autores, com destaque para Quivy e Campenhoud64 e Marie-Fabienne

Fortin65. Desta forma, procurámos descrever e compreender os factores e conceitos

subjacentes à temática desenvolvida, em função dos pressupostos por nós

definidos. Assim, partimos de teorias desenvolvidas e, com base nos dados

recolhidos diante dos elementos da amostra, procurámos responder às questões e

hipóteses levantadas, correspondendo esta análise a uma abordagem dedutiva

(Sousa e Baptista, 2011, p. 8). Por outra, qualitativamente, procurámos interpretar as

opiniões dos actores intervenientes no nosso objecto de estudo, as motivações

subjacentes e os contextos em que se enquadram, alargando o leque de resultados

em torno da temática.66 Com os instrumentos utilizados, procuramos mais do que

responder às hipóteses. Comparámos também as abordagens recolhidas com o

modelo destacado na fase conceptual.67

63

Conforme explica Marie-Fabienne Fortin (2009, pp. 133 e 135), é o “tipo de estudo” que “descreve a estrutura utilizada segundo a questão de investigação”, sendo a óptica descritiva, indicada para estudar os dados sob a forma de palavras ou números. 64

Cfr. Apêndice C – Etapas do Procedimento segundo Quivy e Campenhoudt. 65

Cfr. Apêndice D – Fases e Etapas do Processo de Investigação. 66

Conforme explica Isabel Guerra (2006, pp. 22, 23 e 39), ver também Quivy e Campenhoudt (2008, pp. 144 e 145). 67

Desta forma, fomos de encontro ao raciocínio que “o trabalho de construção do objecto, da análise e das hipóteses é contínuo desde o início até ao final da pesquisa” (Guerra, 2006, p. 22).

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70

8.2. AMOSTRA

O estudo da totalidade das empresas (população alvo) que constituem o

sector abrangido pela nossa pesquisa assumiu-se como uma tarefa difícil68, tendo

em conta os meios disponíveis, a metodologia descritiva e os objectivos académicos

da investigação. Assim, fomos ao encontro de uma parte desse vasto leque de

empresas (população acessível), com dados acessíveis, seleccionadas por

entidades nacionais que se dedicam ao estudo da logística e não só (AEP –

Associação Empresarial de Portugal, e APLOG – Associação Portuguesa de

Logística).

Grosso modo, reunimos um leque considerável de empresas, Top 100 da

AEP, que operam no sector de Distribuição e Logística69. Dentro desse conjunto de

cem empresas, escolhemos os nossos interlocutores privilegiados e definimos a

nossa amostra para os inquéritos/entrevistas. No que concerne à componente

militar, recolhemos entrevistas nas principais Unidades com funções Logísticas ao

nível do Exército Nacional70, como referido inicialmente. As entrevistas foram feitas

em Unidades Militares de natureza essencialmente logística como a Direcção de

Material e Transportes, Manutenção Militar, Oficinas Gerais de Fardamento e

Equipamento, Depósito Geral de Material do Exército e Regimento de Transportes.

De um modo geral, a nossa amostra ficou assim constituída, obedecendo os

objectivos da investigação, por uma componente empresarial e outra militar,

procurando a maior diversidade de serviços logísticos e modos de transporte71,

cumprindo o pressuposto da representatividade característica do estudo

qualitativo.72

8.3. INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS

A nossa investigação assentou essencialmente no tipo de estudo descritivo,

onde prevaleceu a análise qualitativa.

Inicialmente fizemos uma pesquisa de bibliografia, documentos e de

suportes electrónicos, de forma exaustiva, com objectivo de reunir os estudos já

68

Conforme explicado no site da AEP (Associação Empresarial de Portugal): em Portugal existem um total de 19.991 empresas com o código de actividade empresarial 49, 50 e 51 - Caminhos-de-ferro, Transporte marítimo e Aéreo Cfr. http://www.aeportugal.pt/, consultado em 1/05/2013 às 1h14. 69

Ver Anexo V – População e Amostra. 70

Ver Anexo VI – A Componente Logística do Exército. 71

Conforme podemos observar no Apêndice E – Interlocutores. 72

Cfr. Bardin, 2011, p. 123.

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71

realizados sobre a temática em questão. Neste âmbito, para a componente evolutiva

da Logística e da Estratégia, as principais teorias desenvolvidas no contexto militar

foram comparadas aos princípios inerentes à Gestão Empresarial. Com estas duas

perspectivas procurámos interpretar o papel das cadeias de abastecimento nestas

organizações, recorrendo a indicadores-chave subjacentes à este instrumento de

elevado potencial estratégico.

O percurso metodológico da pesquisa desenvolveu-se, em entrevistas

exploratórias73, observações directas74 e inquéritos por entrevistas. Neste trajecto,

as reuniões com os professores orientadores também assumiram relevância para o

desenvolvimento da pesquisa.

As entrevistas foram feitas com base nos guiões em apêndice75, num

modelo semiestruturado, dando a possibilidade ao interlocutor de desenvolver o

seu comentário em função da experiência no contexto em que se enquadra. Para a

análise das referidas entrevistas, procurámos não nos cingirmos apenas num único

tipo de análise descritiva, 76 tentámos analisar com base naquilo que eram as nossas

necessidades e capacidades de análise, observando, em todas as técnicas, a fonte

de informação e o contexto em que a mesma se enquadra. Construímos, por isso,

sinopses que nos permitiram resumir as ideias mais relevantes para a investigação,

reduzir a área de observação e mais facilmente conseguimos comparar opiniões77.

Com efeito, analisámos alguns indicadores relevantes para explicar os pressupostos

levantados, conceitos desenvolvidos e interpretar as opiniões recolhidas.78 Nesse

sentido, procurámos também interpretar as variáveis iniciais e compreender as que

surgiram no desenvolvimento das entrevistas.

73

Nesta fase procurámos também testar e calibrar os modelos dos inquéritos por entrevistas. 74

Nas empresas e unidades militares em que foi possível tal prática. 75

Apêndice F – Guião de Entrevistas (Militares); Apêndice G – Guião de Entrevistas (Empresas). 76

Tendo em conta a diversidade destacada por Isabel Guerra (2006, pp. 77 a 87): análise tipológica, categorial, temática, etc. 77

Ver Guerra, 2006, p. 73. 78

Cfr. Quivy e Campenhoudt, 2008, pp. 156, 261 e 262.

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72

CAPÍTULO 9 – APRESENTAÇÃO, ESTUDO E DISCUSSÃO DE

RESULTADOS

9.1. ANÁLISE DE CONTEÚDO ÀS ENTREVISTAS

A diversidade de opiniões e perspectivas recolhidas através das entrevistas,

sobre as questões subjacentes ao nosso objecto de estudo, permitiram-nos perceber

de uma maneira mais objectiva, voltada para aspectos reais das organizações, a

problemática estudada.

Procurámos, desta maneira, interpretar os factores associados à gestão

estratégica da cadeia de abastecimentos e à logística, confrontando as opiniões dos

seus actores.79 Esses, considerados interlocutores privilegiados80 por via das

funções desempenhadas dentro das organizações a que pertencem, concederam-

nos informações importantes para verificar as hipóteses levantadas, cobrir os

diversos objectivos da investigação e alargar o universo de soluções.

9.1.1. ANÁLISE TEMÁTICA POR CATEGORIAS

A análise que se segue é também fruto da necessidade de compreender

melhor e de explorar os dados recolhidos através das entrevistas, tendo em vista a

saturação dos mesmos. Neste sentido, construímos um conjunto de indicadores que

considerámos chave para responder os pressupostos por nós levantados. Dividimos

o presente tópico em duas partes. Na primeira, analisámos as observações feitas

sobre as questões das entrevistas, medindo a intensidade e sentido das respostas;

na segunda parte, concentrámo-nos nalguns indicadores que nos permitiram

quantificar os dados e aumentar o âmbito da análise de oposições entre os dois

grupos da nossa amostra. As categorias em causa agrupam-se conforme a tabela

que se segue.

79

Observando-se que, “do ponto de vista qualitativo, considera-se que os sujeitos interpretam as situações, concebem estratégias e mobilizam os recursos e agem em função dessas interpretações”, sendo, por isso, bastante relevante a relação entre as perspectivas desses actores e os contextos em que se encontram implicados (Guerra, 2006, pp. 17 e 18). 80

Como refere Isabel Guerra (2006, p. 18), “seja qual for o método a ensaiar, nas entrevistas compreensivas os sujeitos tomam o estatuto de informadores privilegiados”.

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73

Área Temática Categoria Designação

Cadeia de Abastecimento

Categoria 1.1 Desempenho/Contributo Logístico

Categoria 1.2 Cadeia de Abastecimento

Categoria 1.3 Fluxos Físicos e Informacionais

Categoria 1.4 Parcerias e Subcontratação

Categoria 1.5 Transportes

Categoria 1.5.1 Planeamento de Rotas

Categoria 1.5.2 Frota Própria

Categoria 1.5.3 Frota Subcontratada

Categoria 1.6 Sistemas Informáticos

Categoria 1.7 Gestão de Stock e Armazém

Gestão Estratégica

Categoria 2.1 Pensamento Estratégico Militar

Categoria 2.2 Localização

Categoria 2.3 Nível de Serviço ao Cliente

Categoria 2.4 Gestão Estratégica

Categoria 2.4.1 Envolvente Externa

Categoria 2.4.2 Decisões e Orientações Estratégicas

Categoria 2.4.3 Recursos Humanos, Financeiros e Materiais

Categoria 2.4.4 Avaliação/Controlo e Indicadores

Categoria 2.4.5 Melhoria Contínua

Categoria 2.5 Planeamento Operacional e Táctico

Categoria 2.5.1 Eficiência e Eficácia Operacional

Categoria 2.5.2 Flexibilidade Operacional

Tabela 4 - As Principais Categorias

Fonte: Elaboração do Autor

Categoria 1.1 - Desempenho ou Contributo Logístico81

Apresentamos aqui excertos dos argumentos feitos pelos entrevistados,

procurando observar o contexto em que os mesmos se enquadram, bem como, as

motivações que lhes estão subjacentes. Com efeito, tentamos encontrar nos

discursos, entre os elementos que mais se destacam, aspectos que os inquiridos

consideram relevantes, ao avaliar o desempenho ou o contributo logístico da

organização a que pertencem.

Nesta categoria, todos os inquiridos avaliam de forma positiva o

desempenho/contributo logístico da sua organização. Destacamos nos comentários

analisados, no contexto militar, a preocupação do apoio logístico prestado ter

sempre em conta o contexto em que a entidade receptora se encontra: se é mais

exigente ou não; se é actividade corrente ou treino operacional. Existe também, de

acordo com os argumentos dos entrevistados, a preocupação de prestar o contributo

logístico no tempo certo, na qualidade exigida e da forma mais económica possível.

81

Cfr. Apêndice H – Sinopses da Categoria 1.1.

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74

Na óptica empresarial a preocupação reside no papel que a empresa

representa no grupo, existe também aqui a preocupação de cumprir os requisitos de

tempo, a comparação com empresas do sector, a busca pela melhoria contínua

Categoria 1.2 – Cadeia de Abastecimento82

No estudo desta categoria observámos que grande parte dos entrevistados,

6 do total de 9, avaliam positivamente a relevância das cadeias em que participam

para o desempenho logístico da sua organização. Do lado da organização militar

destaca-se a parceria com o mercado para o cumprimento da missão; a

necessidade de monitorização da cadeia, por forma a se evitar interrupções no fluxo

de abastecimentos ou situações desastrosas, melhorar os fluxos existentes,

optimizar o emprego dos meios de apoio. Neste contexto, importa também referir

dois dos entrevistados, identificados na tabela com avaliações negativas ao tópico:

um dos referidos interlocutores aponta a capacidade económica como o factor

condicionante do funcionamento da cadeia em que se enquadram e considera o

armazenamento e a gestão de stock como as áreas mais críticas; no segundo caso,

o entrevistado diminui a importância da cadeia de abastecimento e atribui maior

destaque ao sistema de informação.

No que concerne às empresas presentes na amostra, abordam a

importância das cadeias em que participam destacando a necessidade de eficiência

e eficácia da cadeia; coordenação entre as partes intervenientes, a fim de se

alcançar o atributo logístico de tempo; as especificidades dos produtos

transportados nas cadeias; e o cliente como a sustentabilidade do negócio.

Categoria 1.3 – Fluxos Físicos e Informacionais83

A totalidade dos inquiridos desenvolveu o seu comentário acerca da

relevância dos fluxos físicos e de informação para a estratégia da sua organização

de forma positiva, ou seja, atribuindo alguma ou bastante importância à tais fluxos,

no funcionamento da organização. Para as entidades militares, tais questões são

relevantes, devendo existir uma interligação entre os dois fluxos; a informação tem

que ser correcta e oportuna; a comunicação deve ser feita de forma eficiente; a

informação deverá conduzir à uma melhor coordenação entre os intervenientes no

processo e entre os departamentos da organização; os fluxos físicos devem ser

82

Cfr. Apêndice I – Sinopses da Categoria 1.2. 83

Cfr. Apêndice J – Sinopses da Categoria 1.3.

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75

optimizamos; sendo os dois muito importantes, influenciam as actividades e os

objectivos traçados.

Por seu turno, do lado das empresas, ambos os fluxos são muito

importantes para o desempenho logístico; devem estar interligados, de modo a

garantir a competitividade da empresa; os fluxos físicos aparecem como a base do

serviço desempenhado; os fluxos administrativos assumem relevância no controlo

operacional e no processo de melhoria; a informação é necessária desde o início até

ao fim do processo; o fluxo físico é associado à localização das instalações fabris.

Categoria 2.1 – O Pensamento Estratégico Militar84

Os interlocutores militares85 observaram afirmativamente o contributo do

pensamento dos estrategas militares na construção do que hoje se entende por

estratégia. Referem-se à estratégia, em função da dimensão económica, social e

formativa do país, como o garante da segurança; enquadram no nível estratégico a

componente logística; abordam a estratégia, não como um conceito estático mas,

observando a evolução tecnológica, o contexto económico e operacional;

consideram a teoria existente como fruto dos anos de práticas implementadas e

aperfeiçoadas ao longo da história, em diferentes lugares e contextos.

Categoria 2.4 – Gestão Estratégica86

Na abordagem à gestão estratégica como elemento impulsionador do

desempenho logístico, grande parte dos entrevistados87 considera as quatro áreas,

análise, planeamento, implementação e avaliação, como sendo fundamentais.

Desenvolvem a gestão estratégica nas suas organizações, considerando que as

quatro áreas devem ir se complementando; consideram também a necessidade de

se definirem indicadores de análise na avaliação, podendo o indicador ser a

avaliação do próprio cliente sobre os serviços da empresa; referem-se à indicadores

do tipo financeiro e não financeiro ou com base no orçamento definido; no processo

de análise destaca-se a necessidade de observar as necessidades do cliente, a

infra-estrutura associada, os recursos necessários; o plano estratégico deve ser

transversal à todas as áreas, conter as principais linhas orientadoras da

84

Cfr. Apêndice K – Sinopses da Categoria 2.1. 85

Em função dos instrumentos de recolha utilizados, este tópico aplica-se apenas aos entrevistados militares. O mesmo visa responder à questões pertinentes da pesquisa, com origem no contexto militar. 86

Cfr. Apêndice L – Sinopses da Categoria 2.4. 87

Este tópico foi considerado apenas no contexto empresarial, ficando a comparação com o contexto militar à cargo dos indicadores ou subcategorias que apresentamos mais adiante.

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76

organização, com os objectivos à cumprir; na implementação, as pessoas

desempenham um papel importante, devendo por isso a missão e os objectivos

organizacionais serem do conhecimento de todos, sendo fundamental que a

estrutura organizacional facilite tal postura; são tidas como áreas que carecem de

maior atenção, a execução das actividades planeadas e quando as mesmas são

subcontratadas.

Categoria 2.5 – Planeamento Operacional e Táctico88

No comentário da maioria dos interlocutores ressalta a ideia da componente

operacional não poder ser autónoma, devendo por isso obedecer a estratégia

organizacional; a necessidade desta componente ser flexível, no que diz respeito ao

tempo de aplicação e aos meios utilizados e a coordenação entre os diferentes

departamentos.

No contexto militar, de acordo com a abordagem dos interlocutores, as

decisões estratégicas têm um impacto considerável à este nível; orienta-se a

componente operacional em função da instrução dos recursos humanos,

adequabilidade dos materiais, do contexto político/militar, económico e social, com a

intenção de dar uma resposta eficaz e eficiente às exigências do nível estratégico

superior.

Nas empresas, tendo em conta os comentários, evidencia-se a flexibilidade

na utilização dos meios e no tempo de aplicação das tácticas, como factor de

competitividade e forma de adaptação às necessidades do cliente; a

transversalidade do plano operacional nos diversos departamentos da empresa; a

observância da componente operacional dos objectivos da organização; a existência

de trabalho de equipa, a fim de se alcançarem os referidos objectivos

organizacionais. Importa também destacar a opinião de um dos entrevistados que

descreve a componente operacional/táctica da sua empresa como autónoma, devido

ao facto da distribuição e da escolha do meio de transporta à utilizar estar a cargo de

terceiros, apesar de influenciarem a escolha do meio e desenvolverem os seus

planos, em função das orientações estratégicas do grupo a que pertencem.

Subcategorias89 ou Indicadores (Estudo Quantitativo)

Perspectivando uma melhor interpretação das duas variáveis por nós

definidas ou áreas temáticas principais, nomeadamente a Cadeia de Abastecimento

88

Cfr. Apêndice M – Sinopses da Categoria 2.5. 89

Ver Quivy e Campenhoudt, 2008, p. 228.

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77

e a Gestão Estratégica, definimos os indicadores que a seguir destacamos.

Denominámos subcategorias por terem sido construídos a partir dos tópicos

anteriores, com base em referências explícitas e desenvolvimento dos mesmos nos

comentários dos inquiridos, sendo também relevante o peso atribuído no

comentário, bem assim como, a importância para o contexto geral da pesquisa. Os

mesmos têm também a dupla função de aumentar e viabilizar a comparação entre

os contextos militar e empresarial, nas áreas em que não nos foi possível até agora.

Gráfico 1 - Referências por Categorias

Fonte: Elaboração do Autor

As referências feitas pelos entrevistados em relação as categorias por nós

definidas, distribuem-se conforme o mapa em apêndice.90 Do total de 72 referências

sobre os tópicos, destacamos: as categorias Parcerias/Integração e Subcontratação,

Transportes, Frota Própria, Cliente/Receptor, Envolvente Externa, Recursos

Humanos/Financeiros/Materiais, Avaliação/Controlo e Indicadores, com as maiores

percentagens de referências, compreendidas entre 8% e 11%; com 6%, cada uma,

do total de referências ficaram as categorias Sistemas Informáticos, Decisões e

Orientações Estratégicas, Melhoria Contínua, Eficiência e Eficácia Operacional; com

a menor percentagem, 3% cada tópico, ficaram as categorias Planeamento de

Rotas, Frota Subcontratada, Gestão de Stock e Armazém, Localização, Flexibilidade

Operacional.

90

Ver Apêndice N – Mapa de Referências e Categorias.

6

7

2

6

2

4

2

2

8

6

4

7

6

4

4

2

Parcerias/Integração e Subcontratação

Transportes

Planeamento de Rotas

Frota Própria

Frota Subcontratada

Sistemas Informáticos

Gestão de Stock e Armazém

Localização

Cliente/Receptor

Envolvente Externa

Decisões e Orientações Estratégicas

Recursos(Humanos/Financeiros/Materiais)

Avaliação/Controlo e Indicadores

Melhoria Contínua

Eficiência e Eficácia Operacional

Flexibilidade Operacional

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78

No que se refere as principais áreas temáticas do nosso estudo, em função

dos tópicos definidos para cada uma delas, a maior percentagem de referências

pertence à Gestão Estratégica, com 60%, ficando a Cadeia de Abastecimento com

40%, como podemos perceber através da ilustração abaixo.

Gráfico 2 - Referências por Áreas Temáticas

Fonte: Elaboração do Autor

A distribuição dessas referências pelos dois grupos da amostra é dominada

pelos comentários obtidos nas entrevistas do contexto militar (56%), correspondendo

os restantes 44% às intervenções provenientes das entrevistas do âmbito

empresarial. Com efeito, as referidas percentagens correspondem à 40 e 32

referências, respectivamente. Nesse contexto, evidenciam-se vários factos. Assim,

foi-nos possível observar que o número de referências feitas pelos entrevistados

está compreendido no intervalo de 0 à 5 e que ambos os grupos têm uma média

aritmética de 8 referências por entrevistado.

Notámos ainda que os tópicos Parcerias/Integração e Subcontratação e

Envolvente Externa possuem o mesmo número de referências nos dois contextos,

militar e empresarial. O maior número de referências encontra-se nas categorias

Transporte e Frota Própria do contexto militar, comparativamente, o âmbito

empresarial apresenta 2 e 1 referência, respectivamente. As categorias

Planeamento de Rotas, Frota Subcontratada e Flexibilidade Operacional aparecem

sem referências nas entrevistas militares e com 2 cada uma nas entrevistas às

empresas; zero (0) referências também na categoria Gestão de Stock, no contexto

empresarial, e apenas 2 no contexto militar.

As categorias Sistemas Informáticos, Decisões e orientações Estratégicas e

Eficiência e Eficácia Operacional possuem a mesma diferença de referências entre

0

10

20

30

40

50

29

43

Cadeia de Abastecimento Gestão Estratégica

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79

os dois contextos, pertencendo sempre o maior número às entrevistas militares. A

Localização aparece apenas com duas referências, uma para cada um dos grupos

da amostra e a categoria Cliente/Receptor é referenciada de igual forma nos dois

contextos e possui o segundo maior número de referências em ambos.

O tópico Recursos Humanos/Financeiros/Materiais é dominado pelas

referências militares, sendo a diferença para o contexto empresarial de uma

referência apenas; a categoria Avaliação/Controlo e Indicadores possui uma

diferença de duas referências entre os contextos e o número mais elevado pertence

ao grupo das empresas; o mesmo número de referências é feito à categoria

Melhoria Contínua pelos dois grupos da amostra. As observações feitas nos

parágrafos anteriores baseiam-se nos dados representados na ilustração que se

segue e pela informação que se apresenta em anexo.91

Gráfico 3 - Referências por Grupos da Amostra

Fonte: Elaboração do Autor

91

Ver Apêndice O – Referências por Áreas Temáticas e por Categorias (Militares); ver também Apêndice P – Referências por Áreas Temáticas e por Categorias (Empresas).

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Parcerias/Integração e Subcontratação

Transportes

Planeamento de Rotas

Frota Própria

Frota Subcontratada

Sistemas Informáticos

Gestão de Stock e Armazém

Localização

Cliente/Receptor

Envolvente Externa

Decisões e Orientações Estratégicas

Recursos(Humanos/Financeiros/Materiais)

Avaliação/Controlo e Indicadores

Melhoria Contínua

Eficiência e Eficácia Operacional

Flexibilidade Operacional

Empresas Militares

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CAPÍTULO 10 - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Os longos anos de experiências acumuladas nos teatros de operações

militares, acompanhados pelas evoluções tecnológicas e sociais, a necessidade de

utilização racional e equilibrada dos recursos para alcançar determinados objectivos

conduziram ao aparecimento e desenvolvimento dos conceitos de estratégia e

logística cuja utilização, com passar do tempo, foi além da esfera militar, abrangendo

também o competitividade empresarial.

A estratégia, no contexto militar, evoluiu da preocupação inicial de

abordagem indirecta onde se procurava a vitória sem o combate efectivo e que, caso

acontecesse, devia ser feito com o menor número de baixas possível, mostrando

que o recurso ao método directo conduz sempre à derrota. Nesse contexto, é sabido

que a estratégia desenvolve-se num ambiente conflitual e hostil, onde o recurso a

coacção pode efectivar-se com o recurso a força física das armas.

Diferente da sua componente de acção, operacional e táctica, a estratégia

militar assume a responsabilidade de alcançar os objectivos da guerra e definir as

batalhas a serem travadas. Contudo, as duas componentes, estratégica e

operacional, devem estar perfeitamente relacionadas.

A manobra logística, além de procurar dar resposta às exigências

estratégicas, deve antecipar-se à manobra militar: as diferentes campanhas,

analisadas ao longo da nossa investigação, mostram que as questões logísticas são

de extrema importância para o cumprimento da missão e que, quando não

observadas, a acção estratégica é fortemente condicionada. A logística evolui,

assim, do simples saque para incluir diversas funções e actividades, cumprindo a

sua missão de manter as tropas e o material em perfeitas condições operacionais.

Do contexto militar para o empresarial, os conhecimentos provenientes da

acção no terreno e do planeamento para a distribuição e sustentação das tropas e

do armamento foram importados e adaptados na gestão das empresas. Essa

gestão, revestida de princípios científicos, procura a produtividade com resultados

eficazes, identificando as variáveis económicas, tecnológicas e sociais, tendo

sempre em atenção o planeamento, a organização, a direcção e o controlo. Nesse

âmbito, o cenário de conflito perspectiva o campo de batalha como o mercado, o

exército em campanha é representado pela organização empresarial e o inimigo

passa a ser a concorrência.

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A gestão estratégica tem, assim, a missão de garantir vantagens

competitivas para a empresa, atentando para os seus produtos, mercados,

tecnologias e recursos, sendo a estratégia responsável por garantir o desempenho e

a sobrevivência da organização, determinando as opções de médio/longo prazo que

garantam o sucesso da mesma.

As quatro áreas que definem da gestão estratégica são fundamentais para o

desempenho logístico das organizações, devendo as mesmas irem-se

complementando ao longo do processo: na fase da análise, destacam-se as

necessidades do cliente, as infra-estruturas e os recursos necessários; o plano

estratégico deve ser transversal a todas as áreas, conter as principais linhas

orientadoras da organização e os objectivos a cumprir; na implementação assumem

relevância as pessoas e o controlo da execução das actividades; na avaliação é

importante existirem indicadores financeiros e não financeiros. Nesse contexto, um

sistema integrado de medidas de desempenho verifica a existência ou não de uma

base logística sustentável, ou seja, se existe harmonia entre o operacional e o

estratégico. Assume-se também que componente operacional nunca deve estar

dissociada da estratégica organizacional, devendo ser flexível no tempo de

aplicação, nos meios utilizados e na coordenação entre os departamentos.

No que se refere à Cadeia de Abastecimento, a logística avança do simples

fluxo físico nos transportes e no armazenamento para dar resposta a uma maior

necessidade de matérias-primas na produção, despoletada pela procura crescente e

por uma concorrência de cariz mundial. Enfrenta, ainda, a necessidade de redução

dos prazos de entrega, a diversidade de produtos e os seus ciclos de vida cada vez

mais curtos, as exigências de qualidade dos produtos, serviços de valor

acrescentado, entre outros aspectos. Como resultado, a logística passou a integrar

actividades de planeamento, implementação e controlo dos fluxos físicos e

informacionais, desde o fornecedor até ao cliente.

Neste percurso, o desenvolvimento das actividades logísticas desde o ponto

de origem até ao consumo, respondendo às necessidades dum cliente cada vez

mais exigente, obrigou as empresas a trabalharem de forma colaborativa, com vista

à obtenção de vantagens competitivas, funcionando em redes de parcerias ou

cadeias de abastecimento, também conhecidas como supply chain, que procuram

optimizar os custos e o tempo, perspectivando a melhor qualidade de serviços.

A cadeia de abastecimento representa, assim, a estrutura onde as

estratégias logísticas são desenvolvidas e executadas, podendo a logística ser um

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pilar fundamental de sustentação ou materialização da estratégia de uma

organização. A gestão dessa cadeia procura melhorar a eficiência dos

intervenientes, identificar a procura real através da partilha da informação, reduzir o

tempo associado ao ciclo da cadeia, eliminar os pontos de constrangimentos,

coordenação entre a produção e a procura e uma maior atenção na satisfação das

necessidades de cliente.

No planeamento agregado, extensível por toda a cadeia de abastecimento e

responsável por dar resposta à várias questões dentro da cadeia, encontrámos as

principais áreas sobre as quais incidiu o nosso estudo. Essas áreas devem ser todas

planeadas em conjunto por forma a se optimizar o funcionamento da cadeia.

Com o nosso estudo, foi-nos possível observar que as organizações

encaram de forma positiva o seu desempenho logístico, destacando-se a análise ao

contexto envolvente da entidade receptora, sendo também importante prestar o

apoio no tempo certo, na qualidade exigida e na forma mais económica possível.

Observámos também que é importante o papel que a empresa desempenha no

grupo, a de comparação com as outras empresas do sector e a busca constante

pela melhoria contínua. A cadeia de abastecimento assume, por isso, destaque no

desempenho logístico das organizações: são importantes as parcerias; a

monitorização da cadeia para se evitarem interrupções no fluxo de abastecimentos;

é fundamental a eficiência e a eficácia da cadeia; a coordenação entre os

intervenientes; as especificidades dos produtos transportados; e o papel do cliente

para o negócio. Acrescenta-se ainda que os fluxos físicos e informacionais assumem

relevância para a estratégia das organizações: os mesmos devem estar interligados,

garantindo a competitividade da empresa, a informação deve ser correcta, oportuna

e facilitar a coordenação; os fluxos físicos devem ser optimizados, encontrando-se

associados a localização das instalações fabris.

Tomando como referência o ponto de desacoplamento na representação da

cadeia de abastecimento definem-se as filosofias de abastecimento proactivo, com a

previsão e antecipação da procura guiadas por um correcto sistema de

planeamento; o abastecimento reactivo ou de resposta pronta à procura, com o

mínimo de stock possível e um curto tempo de resposta; e o redesenho do produto e

dos processos da cadeia, a fim das actividades de personalização serem

executadas mais próximas do consumo, originando o avanço do ponto de

desacoplamento. Nesse sentido, as opções estratégicas que definem a estrutura de

funcionamento da cadeia de abastecimento visam dar resposta à procura variável de

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produtos únicos, procura variável de produtos diferenciados, procura variada de

produtos da mesma gama e com o máximo de atraso na customização, com alto

grau de previsão da procura.

As diferentes abordagens presentes na nossa pesquisa diferenciam o

contexto estratégico empresarial e o militar, em função dos objectivos de cada um,

das análises necessárias, dos resultados do planeamento, do tipo de adversário que

se enfrenta, das ameaças existentes, dos meios disponíveis, do ambiente em que se

encontra, das modalidades de acção possíveis, da informação que se possui, etc.

Sendo certo que o desenvolvimento do planeamento militar permite

compreender melhor a gestão empresarial, a principal diferença entre os dois

contextos da pesquisa refere-se ao facto de existir o recurso à força física ou à

violência das armas apenas no contexto militar e a questão da envolvente

contextual/legal condicionar constantemente as modalidades de acção a realizar

pelas empresas, ao contrário do confronto militar que, se desenrola sem

impedimentos de natureza legal. Um outro factor comum pode ser a necessidade de

uma correcta gestão dos recursos humanos, fundamental para o bom desempenho

de qualquer organização, havendo por isso a necessidade de os compreender,

motivando-os e transmitindo-lhes da melhor maneira a visão e a missão da

organização.

Nos principais pontos de convergência e divergência verificámos ainda que o

pensamento estratégico militar foi de extrema importância para o desenvolvimento

daquilo que hoje se entende por estratégia, devendo a estratégia não ser estática e

continuar a acompanhar a dinâmica económica, social, tecnológica, justificando-se

as teorias existentes com os longos anos de experiências ao longo da história da

humanidade, em diferentes contextos e lugares. Em ambos os contextos, deparámo-

nos com a preocupação de cumprir o requisito de tempo e uma avaliação de

desempenho positiva ao nível da logística.

De um modo geral, as principais preocupações das organizações desse

ramo têm a ver com as parcerias/integração e subcontratação, transportes e

sistemas informáticos, clientes, envolvente externa, recursos, avaliação/controlo e

indicadores de desempenho. Os aspectos que têm pouca representatividade nas

preocupações das organizações referem-se ao planeamento de rotas, as frotas

subcontratadas, a gestão de stock e armazéns, a localização e a flexibilidade

operacional. Actualmente, face à crise que se vive no sector, a exportação tem sido

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a opção de algumas empresas para enfrentar essa situação. Por último, foi-nos

também possível verificar uma fraca adesão à distribuição farmacêutica e alimentar.

Ao longo dos pontos desenvolvidos aqui nas conclusões, tentámos, bem

entendido, ir respondendo às questões de investigação levantadas inicialmente,

orientando as nossas observações por forma a cobrir os diferentes objectivos da

pesquisa.

No que se refere a hipótese “H1 – As empresas baseiam-se nos modelos

de planeamento militar para definir os seus planos logísticos”, esta foi

confirmada, dado que o saber logístico militar, proveniente das diferentes batalhas,

influenciou profundamente o aparecimento e desenvolvimento dos modelos de

gestão utilizados pelas empresas.

Acerca da hipótese “H2 – As empresas empregam os meios logísticos de

forma estratégica, por forma a dar resposta às exigências adstritas às cadeias

de abastecimento”, assumimos que todo o planeamento e execução de actividades

na cadeia de abastecimento, tendo em conta as diferentes áreas do planeamento

agregado, observa as fases de análise, implementação, avaliação e controlo da

gestão estratégica, sendo fundamental a complementaridade dessas áreas ao longo

do processo para o desempenho logístico das organizações. Confirma-se assim esta

hipótese.

Sobre a hipótese “H3 – A eficiência da distribuição logística empresarial

depende da optimização das cadeias de abastecimento implementadas”,

observámos que a cadeia de abastecimento representa a estrutura onde as

estratégias logísticas são executadas, a optimização dessa estrutura no que refere

ao tempo associado ao ciclo da cadeia, aos custos e a coordenação entre a

produção e a procura para uma melhor qualidade de serviço ao cliente, cria

condições para o cumprimento de todos os atributos logísticos. No limite a própria

gestão da logística confunde-se com a gestão da cadeia de abastecimento, não

restando dúvidas sobre a confirmação da hipótese levantada.

No que toca a última hipótese “H4 – Na Logística empresarial não existe

lugar a tréguas, porque o conflito empresarial é constante”, ao se diferenciar as

duas logísticas, militar e empresarial, verifica-se efectivamente que as guerras de

mercado são eternas, procurando as organizações, envolvidas nesse contexto,

garantir a sua sustentabilidade de longo prazo através das suas vantagens

competitivas. A hipótese confirma-se, também. Contudo, no contexto actual, a

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organização militar enfrenta muitos dos problemas com os quais se deparam as

empresas.

Dessa conjuntura, podemos dizer que, tal como a logística desempenha um

papel importante na cadeia de abastecimento, a gestão estratégia, com as suas

diferentes fases, constitui um factor fundamental para o planeamento, coordenação,

organização, implementação e controlo das actividades desenvolvidas na cadeia de

abastecimento. Sendo a responsabilidade da gestão estratégica garantir as

vantagens competitivas e a sustentabilidade das empresas e podendo a logística

transformar-se num pilar fundamental de sustentação e materialização da estratégia

organizacional, considerámos a cadeia de abastecimento como sendo de elevado

potencial estratégico para as organizações.

Diante dessas observações, recomendámos às organizações que participam

em cadeias de abastecimento que devem orientar a sua gestão estratégica, desde

as opções estratégicas de parcerias às operações de logística corrente, por forma a

obterem vantagens competitivas, em função do desempenho optimizado das

cadeias que integram. Recomendámos também às instituições do contexto militar

que observem as soluções adoptadas no contexto empresarial, face aos desafios

actuais.

Toda investigação padece de certas limitações, motivadas por factores

internos ou externos à pesquisa, e a nossa investigação não fugiu à regra.

Assumimos, por isso, como limitações, a pouca bibliografia sobre o tema da gestão

da cadeia de abastecimento, o que reduziu, em certa medida, a abrangência teórica

que pretendíamos na nossa investigação. Constituiu, também, uma limitação o

acesso as empresas da nossa amostra que se mostraram indisponíveis para

participar da investigação, reduzindo o número de elementos da população

acessível.

As limitações aqui apresentadas, apesar de reduzirem, em certa medida, as

informações recolhidas e o número de entrevistas realizadas, não constituíram factor

impeditivo na busca pelos objectivos fundamentais da investigação. Assim,

recomendamos que os trabalhos que forem desenvolvidos sobre este tema devem

olhar mais seriamente para o contexto militar, abordando a sua direcção estratégica

e procurar, efectivamente, colocar as duas estratégias ao mesmo nível, visto que

grande parte dos investigadores comparam a estratégia empresarial com a

estratégia militar clássica.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE LOGÍSTICA INTEGRADA

Ilustração 15 - Evolução do Conceito de Logística Integrada

Fonte: Adaptado de Dias,2005, p. 34

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APÊNDICE B – MATRIZ DE PORTFÓLIO DA MCKINSEY

Atr

activid

ad

e d

o S

ecto

r Alta Média Baixa

Alta

Crescer Avaliar Buscar

Procurar Identificar Procurar nichos

de mercado

Maximizar Construir Considerar

Média

Identificar segmentos Identificar

segmentos em

Especializar

Investir Especializar Procurar nichos

de

Manter posição em outra Investir Considerar

Baixa

manter posição em toda

parte

Cortar produtos

supérfluos

Confiar na

diplomacia do

líder

Buscar fluxo de caixa Minimizar Geração de caixa

Investir em níveis de

manutenção

Renunciar a

posição de

mercado

Tempo de saída e

renúncia de

posição

Capacidade Competitiva da Empresa

Tabela 5 - Matriz de Portfólio da Mckinsey

Fonte: Adaptado de Chiavenato e Sapiro, 2003, p. 190

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APÊNDICE C – ETAPAS DO PROCEDIMENTO SEGUNDO QUIVY E

CAMPENHOUDT

Ilustração 16 - Etapas do Procedimento segundo Quivy e Campenhoudt

Fonte: Adaptado de Quivy e Campenhoudt, 2008, p. 26

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APÊNDICE D – FASES E ETAPAS DO PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO

Ilustração 17 - Fases e Etapas do Processo de Investigação

Fonte: Adaptado de Marie-Fabienne Fortin, 2009, p. 38

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APÊNDICE E – INTERLOCUTORES

Tabela 6 - Interlocutores

Fonte: Elaboração do Autor

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APÊNDICE F – GUIÃO DE ENTREVISTAS (MILITARES)

Interlocutor:

Entrevistador: Lury Décio Pedro dos Santos

Cargo:

Data:

Hora:

Local:

Guião de Entrevista:

1. A Logística assume uma reconhecida importância no planeamento de

necessidades de abastecimento ao longo da história da humanidade, marcada

por vários acontecimentos, destacando-se entre esses as diversas guerras

vividas e a evolução do aparelho militar. Neste sentido, como avalia o contributo

da sua Unidade/Estabelecimento/Órgão no que concerne ao apoio Logístico

prestado, em função da missão e atribuições logísticas adstritas à mesma?

2. Os ensinamentos dos antigos estrategas militares contribuíram em grande

medida para o desenvolvimento do conceito de Estratégia tal como o

conhecemos hoje. Tendo em conta este desenvolvimento, qual é a sua opinião

acerca do contributo de tais pensadores para aquilo que hoje se entende por

Estratégia?

3. A Cadeia de Abastecimento representa a estrutura na qual se desenvolvem as

actividades (e funções) logísticas de armazenamento, transporte, gestão de

stock, entre outras, constituindo a Logística, por isso, o foco da Cadeia de

Abastecimento. Neste contexto, qual é a relevância da Cadeia de Abastecimento

para o desempenho logístico da sua Unidade/Estabelecimento/Órgão?

4. De que forma é que as opções estratégicas fundamentadas na Cadeia de

Abastecimento, nomeadamente no que concerne aos fluxos físicos e

informacionais, influenciam a actividade e o cumprimento da missão adstrita à

sua Unidade/Estabelecimento/Órgão?

5. Dos principais fundamentos subjacentes ao conceito de estratégia militar,

destaca-se a necessidade de uma componente operacional, com uma dimensão

temporal e com meios mais reduzidos, mas procurando atingir uma maior

eficiência e eficácia. Em que medida entende que este elemento essencialmente

táctico deve responder às exigências definidas pela Estratégia?

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APÊNDICE G – GUIÃO DE ENTREVISTA (EMPRESAS)

Interlocutor:

Entrevistador: Lury Décio Pedro dos Santos

Cargo/Empresa:

Data:

Hora:

Local:

Guião de Entrevista:

1. A Logística assume uma reconhecida importância no planeamento de

necessidades de abastecimento ao longo da história da humanidade, evoluindo

da simples distribuição física para abarcar um vasto conjunto de actividades e

serviços, por forma a responder à necessidade crescente de redução de custos

e acréscimo de valor. Neste sentido, como avalia o desempenho logístico da sua

organização, por forma a cumprir a sua missão e os objectivos definidos

estrategicamente?

2. A Cadeia de Abastecimento representa a estrutura na qual se desenvolvem as

actividades logísticas de armazenamento, transporte, gestão de stock, entre

outras, constituindo a Logística, por isso, o foco da Cadeia de Abastecimento.

Neste contexto, como avalia a importância da Cadeia de Abastecimento para o

desempenho logístico da sua organização?

3. De que forma é que as opções estratégicas fundamentadas na Cadeia de

Abastecimento, no que concerne aos fluxos físicos e de informação, concorrem

para a definição da estratégia na sua organização?

4. Na sua opinião, como devem as organizações encarar a gestão estratégica

(representada de forma sucinta por um processo de análise, planeamento,

implementação e avaliação), em ordem a cobrir as diferentes áreas e actividades

logísticas afim à Cadeia de Abastecimento?

5. Dos principais fundamentos subjacentes ao conceito de estratégia empresarial,

destaca-se a necessidade de um Planeamento Operacional e Táctico, mais

flexível no que diz respeito aos meios disponíveis e ao tempo de aplicação. Em

que medida entende que este elemento, mais notável nas actividades correntes

e difundido pelas diferentes unidades da empresa, deve responder às exigências

definidas superiormente, ao nível estratégico?

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97

APÊNDICE H – SINOPSES DA CATEGORIA 1.1

Entrevista Argumento

Avaliação

+92 -93 N94

Entrevista 1 "(...) é relevante os conhecimentos que manutenção Militar, como operador logístico do exército, nesta área do reabastecimento de géneros (…)”

X

Entrevista 2

“(…) o DGME contribui decisivamente para a prossecução e concretização, no terreno das decisões recebidas a partir da DMT, ao apoiar o Exército no normal fluxo logístico (…)”

X

Entrevista 3

“(…) contribuímos para que o Exército esteja, minimamente, fardado e apetrechado para o desempenho das missões e também para que os seus stocks em depósito se mantenham em níveis aceitáveis"

X

Entrevista 4 “(…) esta DMT de modo como está organizada está a cumprir cabalmente a missão para que foi concebida (…)”

X

Entrevista 5

“(…) o apoio logístico ao Exército (através da função logística Movimento e Transporte), (…) foi eficaz e eficiente nas diversas fases de planeamento, direcção e controlo dos meios de transporte e das necessidades (…) em tempo e nas quantidades desejadas (…)”

X

Entrevista 6 “(...) avalio de forma muito positiva. Nós em 3 anos já representamos cerca de dez por cento da facturação total da empresa. Portanto avalio de forma positiva."

X

Entrevista 7 “(...) Muito positivo. (…) conseguimos fechar com uma recuperação de cerca de 13 por cento, em relação ao ano anterior (…)”

X

Entrevista 8

“(...) Nós, neste momento estamos a crescer no mercado, sem dúvida alguma. (…) não queremos ficar para trás das outras empresas de transporte, queremos sim estar ao lado e acima das outras empresas de transportes.”

X

Entrevista 9

“(…) a logística hoje tem um papel fundamental na redução de custos (…). (...) tudo isso tem trazido grandes poupanças na colocação do produto no destino. (...) Nós temos cumprido o objectivo…(…)”

X

Tabela 7 - Sinopses da Categoria 1.1. Desempenho Logístico

Fonte: Elaboração do autor

92

(+) Avaliação Positiva ou Afirmativa. 93

(-) Avaliação Negativa. 94

(N) Avaliação Neutra.

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98

APÊNDICE I – SINOPSES DA CATEGORIA 1.2

Entrevista Argumento Avaliação

+ - N

Entrevista 1

“(...) é absolutamente fundamental (...), em parceria com o mercado, podermos obter os géneros alimentares mais adequados (…) sendo fundamental esta parceria com o mercado (…)"

X

Entrevista 2

“(…) Uma Cadeia de Abastecimento bem elaborada e dimensionada permite um fluxo ininterrupto de apoio logístico (…) a Cadeia de Abastecimento deverá (…) estar continuamente a ser monitorizada (…)"

X

Entrevista 3

"(…) a Cadeia de Abastecimento aqui é um bocado deturpada pela capacidade económica que temos e pela vontade que temos em comprar as coisas mais baratas. (…) o que mais nos preocupa é efectivamente o armazenamento e a gestão de stock."

X

Entrevista 4

"A Cadeia de Abastecimento já foi vital mas, neste momento já não é vital. (...) é o sistema de informação, que antigamente não se valorizava tanto e que hoje é fundamental... (…)”

X

Entrevista 5

"(…) o Regimento de Transportes é um dos elementos dessa Cadeia de Abastecimento, garantindo o transporte, sendo esta função por muitos considerada como a ponta de lança logística."

X

Entrevista 6

(…) para que nós possamos prestar um bom serviço aos nossos clientes, (…) a cadeia de abastecimento dos nossos clientes tem que funcionar muito bem. (...) Portanto, para que isto aconteça é importantíssimo a eficiência e a eficácia da cadeia de abastecimento."

X

Entrevista 7

“(…) esta cadeia da DB é uma cadeia muito importante. (…) Basicamente nós estamos metidos em quase todas as cadeias logísticas. Porque, nos portos estamos metidos em todas (...). (...) muitas vezes o transporte faz oscilar muito o preço (...)"

X

Entrevista 8

“Nós fazemos todo o tipo de distribuição, excepto alimentar. Nós fazemos distribuição em grandes superfícies (…) e estamos a iniciar, neste momento, a distribuição farmacêutica. Eles são a sustentabilidade do nosso negócio, sem dúvida alguma. (…)”

X

Entrevista 9

“"(…) A Cimpor tenta desde a origem, desde as suas matérias-primas, controlar a sua cadeia de abastecimento. (…) tem pedreiras, tem as suas próprias fontes de abastecimentos e depois, tenta ao máximo que a parte do transporte (…) também se faça toda dentro da sua esfera de actuação. (...) Esses clientes que nós temos, obviamente são o segredo da nossa existência.”

X

Tabela 8 - Sinopses da Categoria 1.2. Cadeia de Abastecimento

Fonte: Elaboração do autor

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99

APÊNDICE J – SINOPSES DA CATEGORIA 1.3

Entrevista Argumento Avaliação

+ - N

Entrevista 1 “(...) são questões absolutamente relevantes." X

Entrevista 2

"O fornecimento atempado é assim um dos apanágios do DGME que busca incessantemente formas de maximizar este fluxo (logístico) (...). Essa priorização necessita de um sistema de informação em tempo oportuno que mantenha informado a DMT continuamente (…)”

X

Entrevista 3

“(…) o que influencia a actividade deste estabelecimento é o volume e a rapidez com que as requisições são colocadas aqui (…) era muito importante que esses fluxos informacionais chegassem o mais cedo possível e mais fluídos. Nos fluxos físicos (…) temos aqui alguma dificuldade (…)”

X

Entrevista 4

"São vitais. Os fluxos físicos e os fluxos informacionais… (…) Sem fluxos de informação, sem uma informação actualizada e sem fluxos físicos de materiais não há actividade logística. (…)”

X

Entrevista 5

“(...) Daí ser de cabal importância o controlo dos transportes, evitando-se, sempre que possível, movimentos em vazio e garantindo sempre a utilização da máxima capacidade de carga dos meios envolvidos, bem como a comunicação de forma eficiente da informação (…)”

X

Entrevista 6

“Os fluxos físicos por si só são muito importantes (…) mais importante do que os fluxos físicos são os fluxos de informação. (…) o fluxo físico tem que acompanhar o fluxo informacional e vice-versa (…)”

X

Entrevista 7

“(…) Tudo é importante. (…) O terreno muitas vezes é que faz mover isto tudo. Portanto, é importante as duas situações mas, o terreno tem sempre a última palavra a dar. (…) nós temos fluxos importantíssimos (...) os contentores passivos, o fluxo para central do Pego, do carvão (...) os fluxos de cimento (…)”

X

Entrevista 8

“O que movimenta a empresa (…) serão os fluxos físicos de carga: se a carga não chegar, nós não temos forma de a distribuir (…) Nós temos vários fluxos administrativos (...) diariamente nós temos um departamento que nos tira a fotografia do trabalho que foi realizado, naquele dia de actividade. Ou seja, os resultados, a performance a atingir, os custos (...)”

X

Entrevista 9

“A informação é fundamental… (…) A informação é a base de um trabalho, desde o início ao fim… (...) Os fluxos físicos, (…) não só os locais de abastecimento, (…) as nossas fábricas devem estar (...) bem localizadas (...) também temos que ter a melhor solução, quem é que vai transportar o produto que sai dessas fábricas.”

X

Tabela 9 - Sinopses da Categoria 1.3. Fluxos Físicos e Informáticos

Fonte: Elaboração do autor

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100

APÊNDICE K – SINOPSES DA CATEGORIA 2.1

Entrevista Argumento Avaliação

+ - N

Entrevista 1

“(…) a estratégia de um país, é muito mais vasta que a estratégia militar (…) há outras dimensões: a dimensão económica, a dimensão social, a dimensão formativa (…). Os pensadores militares (…) sempre entenderam que a defesa militar de um país passa por haver outras dimensões igualmente relevantes.”

X

Entrevista 2

“Existe uma verdade que penso ser inalienável em relação ao contributo da Logística no decurso dos antigos, corrente e futuros conflitos com acção militar associada (…) consideramos a Logística em todas as suas vertentes, como uma área que deverá ser considerada ao nível Estratégico (…)"

X

Entrevista 3

“ (…) a estratégia não pode ser um conceito fixo e imutável (…) tem que estar sempre em desenvolvimento (…) O pensamento estratégico tem que evoluir de acordo com as novas tecnologias, com as novas situações, com o novo ambiente quer operacional quer económico (...) Os antigos pensadores (…) contribuíram para alicerçar as bases da estratégia, para definir muito bem (…) mas, eu acho que a estratégia tem que continuar a evoluir.”

X

Entrevista 4

“(…) quando começamos a estudar qualquer assunto, a gente começa pela história (…) toda a doutrina é a teorização da prática (…). Só testando o modelo, só verificando que ele funciona é que ele pode passar à doutrina, pode passar à ensinamento.(…) Esses ensinamentos são fundamentais."

X

Entrevista 5

“"A realidade do século XXI é fruto de séculos de experiências acumuladas ao longo dos tempos, com evoluções e retrocessos, (…) a estratégia como é hoje entendida, é o aperfeiçoamento de conceitos ou noções que foram implementadas em diferentes locais e situações vividas de onde foram extraídas várias conclusões ou lições (…) permitiram o avançar do pensamento para que fosse possível a evolução da estratégia inicial.”

X

Entrevista 6 N/A95

Entrevista 7 N/A

Entrevista 8 N/A

Entrevista 9 N/A

Tabela 10 - Sinopses da Categoria 2.1. O Pensamento Estratégico Militar96

Fonte: Elaboração do autor

95

(N/A) Não se Aplica. 96

Em função dos instrumentos de recolha utilizados, este tópico aplica-se apenas aos entrevistados militares. O mesmo visa responder à questões pertinentes da pesquisa, com origem no contexto militar.

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101

APÊNDICE L – SINOPSES DA CATEGORIA 2.4

Entrevista Argumento Avaliação

+ - N

Entrevista 1 N/A97

Entrevista 2 N/A

Entrevista 3 N/A

Entrevista 4 N/A

Entrevista 5 N/A

Entrevista 6

“(…) qualquer uma das quatro etapas (…), elas são as quatro fundamentais. (...) essas quatro vertentes vão se cimentando uma à outra. (...) se fizermos uma boa análise e um bom planeamento a implementação é muito mais fácil. (...) A avaliação tem que ser feita. (…) é importante definirmos os indicadores de análise. A avaliação torna-se (…) mais simples. (...)”

X

Entrevista 7

“(…) Aqui é feita a análise (…) o cliente vem cá, vamos ao terreno analisar as condições quer de carga e quer de descarga, analisamos as infra-estruturas, vimos se temos vagões, (...) Depois partimos para a execução do preço (…). Depois avançamos para a concepção (…) É a implementação a parte crítica. A parte crítica muitas vezes é o maquinista. (…) nós no papel fazemos tudo, fazemos os esquemas produtivos, fazemos tudo bonito (…)”

X

Entrevista 8

“(...) uma empresa tem que estar munida de pessoas (…) competentes, (…) dedicadas (…), que saibam trabalhar em equipa. (…) todas as pessoas sabem perfeitamente aquilo que têm que fazer, (…) quais são os seus indicadores-chave para cumprir os seus objectivos diários. (...) O maior indicador, se estamos ou não a cumprir os objectivos é a resposta de um cliente. (...) eu acho que todas as áreas merecem a nossa atenção. No entanto (…) por ceder a nossa mercadoria a parceiros (…) temos que ter uma atenção redobrada (...)”

X

Entrevista 9

“Há sempre um planeamento estratégico. A nossa empresa tem um orçamento, tem um plano estrategicamente definido (…) que nos diz quais são os caminhos e quais são os objectivos que nós temos que cumprir. Portanto, tudo isso aí (…) aplica-se à todas as áreas que intervêm… (...) hoje mais do que nunca a gestão estratégica está sempre subjacente àquilo que fazemos. (…) Nós temos neste momento, em qualquer tarefa que fazemos, temos um ciclo de PDCA. (...) destas quatro são todas importantes. (...) cada fase alimenta a outra. Essa é a base de uma boa gestão. (…) O nosso objectivo sempre é a melhoria contínua (…)”

Tabela 11 - Sinopses da Categoria 2.4. Gestão Estratégica98

Fonte: Elaboração do autor

97

(N/A) Não se Aplica. 98

Este tópico foi considerado apenas no contexto empresarial, ficando a comparação com o contexto militar à cargo dos indicadores ou subcategorias que apresentamos mais adiante.

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102

APÊNDICE M – SINOPSES DA CATEGORIA 2.5

Entrevista Argumento Avaliação

+ - N

Entrevista 1

“No campo da defesa nacional há uma arquitectura de documentos e de conceitos que têm que estar todos associados uns aos outros. (…) O Conceito Estratégico Militar efectivamente desenha quais as opções que o país pretende, as missões que as forças armadas cumpram. (…) tem que perceber quais são os equipamentos mais adequados para cumprir aquelas missões, para operar aqueles equipamentos você é que vai ter que formar o seu pessoal, (…) até entrar nas questões de natureza táctica (…) só percebendo a harmonia desses documentos é que você consegue efectivamente ter forças armadas a cumprir missões tácticas (...) as questões tácticas não podem estar dissociadas daquilo que é a Grande Estratégia”

X

Entrevista 2

“A componente operacional para manter a maior eficiência e eficácia terá de estar pronta, ainda que em tempo de paz, a responder prontamente a qualquer situação de crise que possa ocorrer e possuir intrinsecamente capacidade de poder evoluir e crescer para uma dimensão que se ajuste à situação que se enfrente, da forma mais simples e eficaz possível (...) Esta capacidade obtém-se através da definição modular da componente operacional e com o pré-posicionamento de meios em locais pré-definidos que estarão directamente ligados a planos de contingência e crise, elaborados para fazer face a situações (...) previstas em cenários contemplados ao nível estratégico.”

X

Entrevista 3

“(...) A aplicação da táctica no terreno é feita pela componente operacional. (…) juntamente com as outras componentes, vai contribuir para a prossecução final da Grande Estratégia. (...) a componente operacional tem que ter os meios, a operacionalidade, a instrução, o efectivo adequado ao cumprimento das missões (...) se eu tiver esta componente operacional com a adequada dimensão ela poderá, se bem empregue no terreno, responder as exigências (…) da Grande Estratégia que foi definida.”

X

Entrevista 4

“Tudo o que é feito ao nosso nível, ao nível táctico, ao nível operacional tem que estar subordinado à uma estratégia. (…) todas as decisões que tomo (…) mesmo ao nível da logística, ao nível de apoio a forças destacadas (…) estou subordinado a uma estratégia (…) que tem, naturalmente, que ser definida em função do meio ambiente, dos recursos que temos disponíveis, do que é o exército hoje. (...). (...) Portanto, as decisões estratégicas têm um impacto importante a nível operacional (…)”

X

Entrevista 5 “(…) as motivações sociais, económicas e ambientais X

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103

prevalecem como garante da sustentabilidade do poder politico (…), para que seja possível cumprir a estratégia definida pelos mais elevados escalões é fundamental que os órgãos dos escalões mais baixos adoptem os procedimentos/técnicas mais eficazes e eficientes. (…) os mecanismos adoptados terão que se subjugar à estratégia.”

Entrevista 6

“(…) assume importância a flexibilidade. (…) no que diz respeito aos meios disponíveis e ao tempo de aplicação. (…) é fundamental para ganhar o negócio. Flexibilidade para nós nos adaptarmos em geral às necessidades do nosso cliente, (...). Devido também a nossa certificação, esta questão do difundido pelas diferentes unidades da empresa é muito importante. Ou seja, tem que ser transversal.”

X

Entrevista 7

“(…) o nível operacional, os meus colegas operacionais, a direcção de operações que é responsável pela formação, pela feitura dos comboios, (…) eles têm um papel muito fundamental e muito preponderante. (…) não podem estar autónomos. Eles têm que saber os interesses do comercial, têm que saber os interesses da empresa. Portanto, os comboios são feitos e são geridos com base em orientações comerciais e orientações estratégicas da empresa. (...) As operações nunca poderão ser autónomas. (...)”

X

Entrevista 8

“(…) eu tenho que estar no meio da operação (…) ao pé dos meus colegas, a fazer uma gestão com eles. (…) Exijo que nós trabalhemos aqui diariamente em equipa. (…) para demonstrar que juntos nós vamos conseguir atingir os objectivos. (...) qualquer departamento nunca pode achar que é autónomo. Porque nós temos que trabalhar em equipa e o departamento administrativo não funciona sem o operacional e vice-versa (...) todos os departamentos sabem qual é a missão da empresa.”

X

Entrevista 9

“Nós temos um planeamento totalmente autónomo. Operacional e táctico são autónomos. Obviamente que isso tem interesses comuns… (…) Temos uma logística corporativa que define quais são as melhores formas de escoamento dos nossos excedentes e isso… (...) Nós montamos o nosso plano operacional/táctico em função logo dessas directrizes. (...) eu tenho é o poder de influenciar. (...) A função logística, para além da componente operacional e táctica que tem, há uma coisa que não pode falhar mesmo que é a flexibilidade. (...) não podemos estar agarrados a parte operacional e táctica de uma forma rígida… (…)”

X

Tabela 12 - Sinopses da Categoria 2.5. Planeamento Operacional e Táctico

Fonte: Elaboração do autor

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104

APÊNDICE N – MAPA DE REFERÊNCIAS E CATEGORIAS

Área Temática Categoria Entrevistas Referências

1 2 3 4 5 6 7 8 9 n %

Cadeia de Abastecimento

1.4 1 1 1 1 1 1 6 8%

1.5 1 1 1 1 1 1 1 7 10%

1.5.1 1 1 2 3%

1.5.2 1 1 1 1 1 1 6 8%

1.5.3 1 1 2 3%

1.6 1 1 1 1 4 6%

1.7 1 1 2 3%

Gestão Estratégica

2.2 1 1 2 3%

2.3 1 1 1 1 1 1 1 1 8 11%

2.4.1 1 1 1 1 1 1 6 8%

2.4.2 1 1 1 1 4 6%

2.4.3 1 1 1 1 1 1 1 7 10%

2.4.4 1 1 1 1 1 1 6 8%

2.4.5 1 1 1 1 4 6%

2.5.1 1 1 1 1 4 6%

2.5.2 1 1 2 3%

Tabela 13 - Mapa de Referências e Categorias

Fonte: Elaboração do autor

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105

APÊNDICE O – REFERÊNCIAS POR ÁREAS TEMÁTICAS E POR CATEGORIAS

(MILITARES)

Gráfico 4 - Referências Militares na Cadeia de Abastecimento

Fonte: Elaboração do autor

Gráfico 5 - Referências Militares na Gestão Estratégica

Fonte: Elaboração do autor

0 1 2 3 4 5 6

Parcerias/Integração e Subcontratação

Transportes

Planeamento de Rotas

Frota Própria

Frota Subcontratada

Sistemas Informáticos

Gestão de Stock e Armazém

Título do Eixo

Cadeia de Abastecimento

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5

Localização

Cliente/Receptor

Envolvente Externa

Decisões e Orientações Estratégicas

Recursos(Humanos/Financeiros/Materiais)

Avaliação/Controlo e Indicadores

Melhoria Contínua

Eficiência e Eficácia Operacional

Flexibilidade Operacional

Título do Eixo

Gestão Estratégica

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106

APÊNDICE P – REFERÊNCIAS POR ÁREAS TEMÁTICAS E POR CATEGORIAS

(EMPRESAS)

Gráfico 6 - Referências de Empresas na Cadeia de Abastecimento

Fonte: Elaboração do autor

Gráfico 7 - Referências de Empresas na Gestão Estratégica

Fonte: Elaboração do autor

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5

Parcerias/Integração e Subcontratação

Transportes

Planeamento de Rotas

Frota Própria

Frota Subcontratada

Sistemas Informáticos

Gestão de Stock e Armazém

Título do Eixo

Cadeia de Abastecimento

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5

Localização

Cliente/Receptor

Envolvente Externa

Decisões e Orientações Estratégicas

Recursos(Humanos/Financeiros/Materiais)

Avaliação/Controlo e Indicadores

Melhoria Contínua

Eficiência e Eficácia Operacional

Flexibilidade Operacional

Título do Eixo

Gestão Estratégica

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107

APÊNDICE Q – ENTREVISTA 1

Interlocutor: Coronel Rui Lopes

Entrevistador: Lury Décio Pedro dos Santos

Cargo: Director da Manutenção Militar (MM)

Data: 6 de Maio de 2012

Hora: 10h30

Local: Rua do Grilo, 111 - Lisboa

Guião de Entrevista:

1. A Logística assume uma reconhecida importância no planeamento de

necessidades de abastecimento ao longo da história da humanidade,

marcada por vários acontecimentos, destacando-se entre esses as

diversas guerras vividas e a evolução do aparelho militar. Neste sentido,

como avalia o contributo da sua Unidade/Estabelecimento/Órgão no que

concerne ao apoio Logístico prestado, em função da missão e atribuições

logísticas adstritas à mesma?

R: “A missão da Manutenção Militar é realmente o reabastecimento de víveres,

toda alimentação confeccionada, às unidades/estabelecimentos e órgãos do

exército. Não só durante o período normal, de actividade normal diária, mas

também durante o treino operacional das forças. Estando preparada, a

Manutenção Militar, para, em unidades que estejam projectadas em território

nacional, puder também contribuir com os seus recursos, no campo da

armazenagem e nos conhecimentos que tem nessa matéria. Para o apoio de

forças nacionais destacadas no território nacional. Portanto, é relevante os

conhecimentos que manutenção Militar, como operador logístico do exército,

nesta área do reabastecimento de géneros. É muito relevante os conhecimentos

que adquiriu ao longo dos anos, para poder apoiar de uma forma eficaz não só

as unidades militares durante o período de guarnição, mas também no treino

operacional, eventualmente, se necessário e se solicitado, no apoio a missões

no exterior do território nacional.”

2. Os ensinamentos dos antigos estrategas militares contribuíram em grande

medida para o desenvolvimento do conceito de Estratégia tal como o

conhecemos hoje. Tendo em conta este desenvolvimento, qual é a sua

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108

opinião acerca do contributo de tais pensadores para aquilo que hoje se

entende por Estratégia?

R: “A Estratégia, particularmente a estratégia de um país, é muito mais vasta

que a estratégia militar, a estratégia que se faz de outras componentes da

defesa nacional de um país. Portanto, os pensadores militares, não deixando de

pensar a estratégia militar, também sempre pensaram aquilo que era a

estratégia de um país do ponto de vista da defesa e segurança de um país.

Porque há outras dimensões: a dimensão económica, a dimensão social, a

dimensão formativa e a educação da própria população nos valores pátrios, por

exemplo. Quando nós entendemos a definição de um programa curricular para a

nossa juventude, se acentua ou não o culto de determinados valores que são

valores de coesão e de identidade nacional, estamos a fazer estratégia nacional.

Portanto, os pensadores militares, há muitos anos, não se limitaram na realidade

a definir aspectos fundamentais no âmbito da estratégia militar (tem a ver com a

coacção, o poder de coagir e o poder de exercício da força). Os pensadores

militares, na realidade, sempre entenderam que a defesa militar de um país

passa por haver outras dimensões igualmente relevantes. Hoje em dia cada vez

mais relevantes. À medida que nós vamos percebendo que há factores de

integração na Europa, que todas essas estruturas se vão integrando, eram

importante na realidade que o pensamento estratégico nacional não perdesse

algumas das questões fundamentais daquilo que são os nossos factores de

coesão e de identidade nacional. Portanto, eu diria o seguinte, a estratégia

militar, que tem a ver com o exercício da força e com o poder de coagir pela

força um oponente é curta, é escassa, ao pensar aquilo que deve ser

efectivamente a estratégia de segurança e defesa de um país. Outras

dimensões que lhe têm que estar associadas e têm que ser equacionadas nesta

integralidade. Portanto, a estratégia económica de um país é também uma

estratégia de segurança, faz parte tem vectores. Todos esses pensadores

pensaram efectivamente a utilização do aparelho militar mas para uma finalidade

política. Portanto, o aparelho militar é apenas um dos factores relevante em

muitas alturas, em muitos tempos, é o factor mais relevante para se atingir um

objectivo político em muitas das ocasiões mas, não é apenas o único factor.

Hoje em dia, os factores de natureza económica são muito prevalecentes. Hoje

em dia, você pode quase conquistar um país sem militares, tomando conta da

situação económica deste país. Portanto, isso também tem a ver com segurança

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109

e defesa nacional. Portanto, sem dúvidas nenhuma são pensadores relevantes,

pensadores militares relevantes que pensaram a estratégia militar no quadro das

opções políticas. Hoje em dia, não deixando de ter o seu cabimento, há outras

dimensões da estratégia das nações que efectivamente importa ter bem

presente. Quando você tem uma estratégia de privatização das suas empresas

nacionais é algo que efectivamente não é estratégia militar mas, é no quadro da

estratégia de defesa e segurança do seu país que também tem que ser

devidamente equacionado. É uma opção política que tem reflexos no âmbito

daquilo que é o funcionamento do seu país, também do ponto de vista militar.”

3. A Cadeia de Abastecimento representa a estrutura na qual se desenvolvem

as actividades (e funções) logísticas de armazenamento, transporte, gestão

de stock, entre outras, constituindo a Logística, por isso, o foco da Cadeia

de Abastecimento. Neste contexto, qual é a relevância da Cadeia de

Abastecimento para o desempenho logístico da sua

Unidade/Estabelecimento/Órgão?

R: “Claro que a Cadeia de Abastecimento pode começar muito mais cedo. É na

origem, no próprio desenho dos equipamentos e materiais que começa uma

cadeia de abastecimento logística e termina na satisfação do utente, seja ele

militar ou, no caso da Manutenção Militar, a família militar. Mas vamos centrar-

nos um pouco naquilo que é realmente uma cadeia de abastecimento de

logística militar. No caso da Manutenção Militar, a nossa cadeia de

abastecimento começa na obtenção dos géneros alimentares. E para isso é

absolutamente fundamental, no quadro daquilo que são as nossas missões de

apoio e no quadro daquilo que é a nossa natureza jurídica, para podermos

responder afirmativamente aquilo que são as especificações técnicas existentes

e as características dos géneros alimentares a adquirir é absolutamente

fundamental, em parceria com o mercado, podermos obter os géneros

alimentares mais adequados às questões que estão subjacentes às

características organolépticas e das características técnicas dos géneros e ao

melhor custo possível. E para que isto possa acontecer, estas parcerias com o

mercado têm que se estabelecer numa base de confiança mútua, em que na

realidade o respeito por aquilo que esta vertido nos cadernos de encargos com

que nos dirigimos ao mercado é absolutamente fundamental, sendo neste caso

da obtenção de abastecimentos muito significativo a existência de um prazo

médio de pagamento a fornecedores que na realidade satisfaça ambas as

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partes. Portanto, a nossa cadeia de abastecimento começa ai, na obtenção dos

abastecimentos, sendo fundamental esta parceria com o mercado, e depois vai,

no quadro daquilo que é a armazenagem dos abastecimentos - temos um

dispositivo vasto no território nacional e nas ilhas – (…) distribuição destes

abastecimentos para as unidades militares, com meios de transportes. Estes

meios de transporte têm que estar adequados a manutenção dos

abastecimentos, como estamos a trabalhar com víveres isto é muito relevante.

Que estes meios de transporte tenham características adequadas do ponto de

vista técnico, estou-me a reportar particularmente aos sistemas de frio, que

garantam que os abastecimentos durante o transporte se mantenham nas

melhores condições técnicas que permitam depois a sua confecção nas

melhores condições.”

4. De que forma é que as opções estratégicas fundamentadas na Cadeia de

Abastecimento, nomeadamente no que concerne aos fluxos físicos e

informacionais, influenciam a actividade e o cumprimento da missão

adstrita à sua Unidade/Estabelecimento/Órgão?

R: “As opções estratégicas têm a ver, quando nós tomamos opções de fundo,

tem a ver com a forma como visualizamos a nossa organização à prazo, no

futuro. A Manutenção Militar não pode desenhar o seu futuro sem perceber

quais é que são as opções fundamentais que se colocam nesta área ao Exército

Português e as Forças Armadas. Portanto, nós como somos um operador

logístico do Exército, podendo eventualmente estender a nossa actividade às

Forças Armadas Portuguesas, aos outros ramos, temos que perceber quais são

as opções, do ponto de vista logístico, na área onde nós trabalhamos, no

reabastecimento de géneros às unidades, quais são as estratégias do Exército

Português para um futuro próximo. É nesta dicotomia e neste diálogo com o

Exército que se vão desenhando as opções estratégicas. Hoje em dia, estas

opções estão muito associadas, como já lhe referi há bocado, às questões do

custo. Quanto é que efectivamente a existência de um sistema próprio do

Exército (…) a materializar estes apoios, qual é o custo da manutenção de um

sistema autónomo, comparativamente com outras opções que, na realidade em

parceria com o mercado poderão ser menos onerosas. De qualquer maneira, na

vertente logística há aqui um aspecto que eu gostaria de sublinhar que é a

existência de competências próprias na cadeia logística de abastecimentos do

Exército português que têm a ver com isso. Têm a ver com a percepção desses

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fluxos físicos de abastecimento, com o manuseamento destes abastecimentos,

com o transporte desses abastecimentos e naturalmente associado àquilo que

são os fluxos informacionais que têm a ver com a existência de plataformas

tecnológicas de suporte a esta actividade que, por exemplo, nos diz em

permanência quantos abastecimentos de determinada de determinada natureza

existem em armazém, quantos inclusivamente estão em transporte, sobre rodas,

se o abastecimento já chegou a unidade. São questões absolutamente

relevantes. São muito relevantes na perspectiva do logístico saber em

permanência qual é que é o ponto de situação relativamente ao transporte e

distribuição de determinado abastecimento. Portanto, ao sair do armazém,

prevendo que demora um determinado intervalo de tempo até chegar ao local de

distribuição, o logístico está permanentemente informado de qual é que é o

tempo previsível. Se na realidade, aquele abastecimento vai preencher o atributo

logístico Tempo. Para isso tem que ter capacidade, tem que ter suportes

informáticos e tecnológicos que permitam responder a isto. Portanto, hoje em

dia, uma cadeia de abastecimentos modernizada precisa, inequivocamente, para

além de competências na área dos fluxos físicos dos materiais, competências

que têm a ver com as pessoas (saber armazenar, saber distribuir, saber

transportar, saber confeccionar) tudo isso tem que lá estar mas, de suporte a

esta actividade tem que haver efectivamente plataformas tecnológicas e

informacionais, tecnologias de apoio que permitam na realidade perceber e

conhecer activamente o que se faz. Os fluxos físicos da Manutenção Militar são

fluxos consolidados. Uma vez que o nosso pessoal é pessoal profissional, são

trabalhadores civis e do ponto de vista das suas competências, existem na

realidade há muitos anos, e alguma formação de actualização vai sendo também

ministrada. Relativamente aos fluxos informacionais e tecnologias instaladas,

falta-nos a vertente do transporte. Associar efectivamente aos meios de

transporte um conhecimento permanente da sua localização, que me parece

também muito relevante e muito interessante. É algo que não está fora das

nossas cogitações e decorrendo das operações que o Exército fizer

relativamente ao operador logístico Manutenção Militar é algo que efectivamente

podemos vir a considerar porque eu entendo que é relevante, sobretudo para

quem transporta abastecimentos de víveres. Nós temos um sistema de

transporte próprio, nossos equipamentos.”

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5. Dos principais fundamentos subjacentes ao conceito de estratégia militar,

destaca-se a necessidade de uma componente operacional, com uma

dimensão temporal e com meios mais reduzidos, mas procurando atingir

uma maior eficiência e eficácia. Em que medida entende que este elemento

essencialmente táctico deve responder às exigências definidas pela

Estratégia?

R: “No campo da defesa nacional há uma arquitectura de documentos e de

conceitos que têm que estar todos associados uns aos outros. Que começa com

o conceito estratégico de defesa nacional, um conceito abrangente, várias áreas

da defesa nacional estão em equação: a questão económica, a questão social e

a questão militar. A partir daí decorrem um conjunto de situações. Portanto

esses documentos basilares da defesa de um país: o Conceito Estratégico de

Defesa Nacional, o Conceito Estratégico Militar, Sistema de Forças o dispositivo,

todos estes documentos devem ser coerentes. Portanto, aquilo que é a grande

estratégia nacional vertida num conceito de estratégia, dele é que vai decorrer

todo um conjunto normativo de documentos, que efectivamente nas diversas

áreas da estratégia de um país, e também na área militar, têm os seus alicerces.

O Conceito Estratégico Militar efectivamente desenha quais as opções que o

país pretende, as missões que as forças armadas cumpram. E é a partir daí que

nascem depois todas essas questões que vão dar às questões tácticas. A partir

das missões que o poder político lhe define, você tem que perceber quais são os

equipamentos mais adequados para cumprir aquelas missões, para operar

aqueles equipamentos você é que vai ter que formar o seu pessoal, dentro

daquilo que são aqueles equipamentos e preparar para aquelas missões, dentro

do corpo doutrinário até entrar nas questões de natureza táctica para cumprir

missões tácticas. Mas, só percebendo a harmonia desses documentos é que

você consegue efectivamente ter forças armadas a cumprir missões tácticas

(pelotões, companhias que na realidade cumprem missões de natureza táctica)

mas, em consonância com uma arquitectura global do ponto de vista estratégico.

Porque se não você tem os seus homens para cumprir determinado tipo de

missões que o estado nunca pediu. E que não são essas efectivamente as

missões que um poder político tem desenhado para as forças militares. É

fundamental perceber que as questões tácticas não podem estar dissociadas

daquilo que é a Grande Estratégia Nacional. Hoje em dia, os Conceitos

Estratégicos são desenhados e depois não se consegue atribuir os recursos

para de facto serem materializados. Esse é que é o problema. Os conceitos

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estratégicos são pensados, do ponto de vista teórico, depois o estado, por

vicissitudes várias, não tem capacidade de atribuir os recursos necessários. Há

aqui uma desarticulação entre os conceitos teóricos subjacentes e as

verdadeiras capacidades das forças armadas. Desenharam-se conceitos que

depois estão desadequados àquilo que é as capacidades verdadeiramente

existentes.”

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APÊNDICE R – ENTREVISTA 2

Interlocutor: Coronel Rui Jorge Ramalhete

Entrevistador: Lury Décio Pedro dos Santos

Cargo: Director do Depósito Geral de Material do Exército

Data: 21 de Janeiro de 2013-01-21

Hora: 14:00

Local: Depósito Geral de Material do Exército

Guião de Entrevista:

1. A Logística assume uma reconhecida importância no planeamento de

necessidades de abastecimento ao longo da história da humanidade,

marcada por vários acontecimentos, destacando-se entre esses as

diversas guerras vividas e a evolução do aparelho militar. Neste sentido,

como avalia o contributo da sua Unidade/Estabelecimento/Órgão no que

concerne ao apoio Logístico prestado, em função da missão e atribuições

logísticas adstritas à mesma?

R: “O Depósito Geral de Material do Exército (DGME) enquanto órgão de

execução na directa dependência da Direcção de Material e Transportes (DMT)

como Entidade Gestora tem por missão recepcionar, manter e expedir os

materiais da Classes de Abastecimento I (r/c combate), II – Fardamento e

Equipamento, IV – Material de Engenharia, V – Munições, VII - Artigos

Completos, VIII – Material Sanitário e IX – Sobressalentes, sempre que instruído

pela DMT para o executar. Consideramos assim que o DGME contribui

decisivamente para a prossecução e concretização no terreno das decisões

recebidas a partir da DMT, ao apoiar o Exército no normal fluxo logístico entre as

Unidades, Estabelecimentos e Órgãos que deles necessitem em qualidade e em

tempo oportuno. O fornecimento atempado é assim um dos apanágios do DGME

que busca incessantemente formas de maximizar este fluxo por forma a

aumentar a sua eficiência de execução.”

2. Os ensinamentos dos antigos estrategas militares contribuíram em grande

medida para o desenvolvimento do conceito de Estratégia tal como o

conhecemos hoje. Tendo em conta este desenvolvimento, qual é a sua

opinião acerca do contributo de tais pensadores para aquilo que hoje se

entende por Estratégia?

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R: “Existe uma verdade que penso ser inalienável em relação ao contributo da

Logística no decurso dos antigos, corrente e futuros conflitos com acção militar

associada que se resume basicamente a que: A Logística nunca ganhou

nenhuma Guerra de per si, no entanto, foi devido a ela que muitas se

perderam… Face a esta certeza, consideramos a Logística em todas as suas

vertentes, como uma área que deverá ser considerada ao nível Estratégico do

mais elevado nível.”

3. A Cadeia de Abastecimento representa a estrutura na qual se desenvolvem

as actividades (e funções) logísticas de armazenamento, transporte, gestão

de stock, entre outras, constituindo a Logística, por isso, o foco da Cadeia

de Abastecimento. Neste contexto, qual é a relevância da Cadeia de

Abastecimento para o desempenho logístico da sua

Unidade/Estabelecimento/Órgão?

R: “Uma Cadeia de Abastecimento bem elaborada e dimensionada permite um

fluxo ininterrupto de apoio logístico sem o qual poderá provocar interrupções do

fluxo de reabastecimento inaceitáveis no Teatro de Operações com implicações

catastróficas se não forem devidamente acauteladas. Consideramos assim que

A Cadeia de Abastecimento deverá, devido à sua importância, estar

continuamente a ser monitorizada no sentido de:

a. Evitar interrupções do fluxo de abastecimentos;

b. Melhorar os fluxos existentes tendo em vista optimizar a escassez e o

emprego dos meios existentes para prestar esse apoio.”

4. De que forma é que as opções estratégicas fundamentadas na Cadeia de

Abastecimento, nomeadamente no que concerne aos fluxos físicos e

informacionais, influenciam a actividade e o cumprimento da missão

adstrita à sua Unidade/Estabelecimento/Órgão?

R: “Sendo os meios existentes inerentemente escassos quer em meios de

distribuição (transportes) quer em abastecimentos consta-se a necessidade de

que a tomada de decisão estratégica em relação ao funcionamento da Cadeia

de Abastecimentos se processe por forma a rentabilizar os meios existentes em

ambas as vertentes (Transportes e Abastecimentos). Assim, será necessário

priorizar a actividade de apoio a cargo da entidade gestora do apoio logístico,

que no caso em análise é personificado pela DMT, que determina de que forma

se deve proceder a esse apoio. Essa priorização necessita de um sistema de

informação em tempo oportuno que mantenha informado a DMT continuamente

e ajude essa entidade a tomar as decisões baseada em informações detalhadas

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e actualizadas continuamente. Essa informação é efectuada através duma

aplicação designada por GRW.”

5. Dos principais fundamentos subjacentes ao conceito de estratégia militar,

destaca-se a necessidade de uma componente operacional, com uma

dimensão temporal e com meios mais reduzidos, mas procurando atingir

uma maior eficiência e eficácia. Em que medida entende que este elemento

essencialmente táctico deve responder às exigências definidas pela

Estratégia?

R: “A componente operacional para manter a maior eficiência e eficácia terá de

estar pronta ainda que em tempo de paz a responder prontamente a qualquer

situação de crise que possa ocorrer e possuir intrinsecamente capacidade de

poder evoluir e crescer para uma dimensão que se ajuste à situação que se

enfrente da forma mais simples e eficaz possível.

Para atingir esse desiderato, é necessário que a componente operacional, ainda

que reduzida e em tempo de paz, tenha os genes intrínsecos que lhe permitam

crescer rapidamente para dar resposta às solicitações duma qualquer crise que

venha a enfrentar. Esta capacidade obtém-se através da definição modular da

componente operacional e com o pré-posicionamento de meios em locais pré-

definidos que estarão directamente ligados a planos de contingência e crise

elaborados para fazer face a situações de crise previstas em cenários

contemplados ao nível estratégico.”

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APÊNDICE S – ENTREVISTA 3

Interlocutor: Coronel Timóteo Rodrigues

Entrevistador: Lury Décio Pedro dos Santos

Cargo: Director das OGFE (Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento)

Data: 4 de Maio de 2012

Hora: 10h30

Local: Campo de Santa Rita – Lisboa

Suporte: Gravação Áudio

Guião de Entrevista:

1. A Logística assume uma reconhecida importância no planeamento de

necessidades de abastecimento ao longo da história da humanidade,

marcada por vários acontecimentos, destacando-se entre esses as

diversas guerras vividas e a evolução do aparelho militar. Neste sentido,

como avalia o contributo da sua Unidade/Estabelecimento/Órgão no que

concerne ao apoio Logístico prestado, em função da missão e atribuições

logísticas adstritas à mesma?

R: “Em termos de missão e atribuições logísticas adstritas às OGFE… A sua

missão principal é apoiar logisticamente o Exército, nomeadamente no

fornecimento de artigos da classe II, VI e alguns da VII, portanto, fardamento,

algum equipamento e alguns artigos de cantina. Para além disso, apoia em

paralelo a família militar vendendo ou concedendo crédito nas aquisições que a

mesma entenda. Essencialmente para o Exercito, o apoio que esta unidade

presta (…) é o seguinte: o Exército coloca aqui as suas requisições dos artigos

que pretende, baseado no seu plano de actividades e nas missões que tem que

desempenhar, deveria colocar atempadamente mas, por vezes não acontece, e

esta unidade tem por missão satisfazê-las de duas formas: ou produz

internamente o artigo, se tiver capacidade para o fazer, nomeadamente artigos

de fardamento; ou vai no mercado encontrar quem o faça ou quem o venda à

preço mais económicos. Alguns equipamentos, por exemplo coletes à prova de

bala nós não fabricamos, temos que comprar no mercado. Portanto o nosso

objectivo principal é satisfazer as necessidades do Exército que são vinculadas

aqui através de requisições. Satisfaze-las atempadamente ao preço mais

económico. Com isso contribuímos para que o Exército esteja, minimamente,

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fardado e apetrechado para o desempenho das missões e também para que os

seus stocks em depósito se mantenham em níveis aceitáveis, mas isso depende

da capacidade financeira do Exército, quanto mais dinheiro o Exército tenha,

mais requisições faz.

2. Os ensinamentos dos antigos estrategas militares contribuíram em grande

medida para o desenvolvimento do conceito de Estratégia tal como o

conhecemos hoje. Tendo em conta este desenvolvimento, qual é a sua

opinião acerca do contributo de tais pensadores para aquilo que hoje se

entende por Estratégia?

R: “O que posso dizer sobre isso é o seguinte, com base numa opinião pessoal

apenas. Eu acho que a estratégia não pode ser um conceito fixo e imutável, eu

acho que tem que estar sempre em desenvolvimento. É verdade que se diz

muita asneira e confunde-se muitas vezes a táctica com a estratégia. Mas isso é

fruto de quem não estudou a estratégia à fundo, desde as suas origens até aos

tempos de hoje. Eu defendo que a estratégia tem que acompanhar a evolução

dos tempos – não se pode tentar resolver problemas actuais com soluções

antigas. É verdade que estes pensadores contribuíram bastante para o

desenvolvimento do pensamento estratégico mas, estavam baseados em factos

do seu tempo. Hoje, por exemplo, falarmos das teorias do poderio naval não faz

já muito sentido. Faz algum mas, não faz o sentido que faria no tempo em que a

Grã-Bretanha baseava todo o seu império no poderio naval que tinha. O

pensamento estratégico tem que evoluir de acordo com as novas tecnologias,

com as novas situações, com o novo ambiente quer operacional quer

económico. Por exemplo, alguém alguma vez pensaria que se poderia fazer, há

alguns anos atrás, uma guerra económica como hoje se pode fazer? Fazer

crushar uma bolsa num determinado país e o país entrar em convulsão porque

lhes demos cabo da economia? No tempo dos primeiros pensadores, isso era

impensável. Hoje pode-se fazer isso propositadamente. Eu se tiver um poderio

económico grande, chego a uma bolsa, num determinado país, e dou cabo dela.

Compro tudo e depois vendo ao desbarato e faço baixar a bolsa 10 – 15% e

aquilo tem uma convulsão tremenda. Ou posso comprar determinados bancos

ou emitir dívida em determinados sítios, porque agora a banca está espalhada

por vários países. O efeito de um banco não se sente só no seu país de origem,

sente-se em todos os países onde ele estiver implementado. A estratégia hoje

deve acompanhar os tempos modernos. Os antigos pensadores, muito bem,

contribuíram para alicerçar as bases da estratégia, para definir muito bem o que

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é que era uma coisa e o que era outra mas, eu acho que a estratégia tem que

continuar a evoluir.”

3. A Cadeia de Abastecimento representa a estrutura na qual se desenvolvem

as actividades (e funções) logísticas de armazenamento, transporte, gestão

de stock, entre outras, constituindo a Logística, por isso, o foco da Cadeia

de Abastecimento. Neste contexto, qual é a relevância da Cadeia de

Abastecimento para o desempenho logístico da sua

Unidade/Estabelecimento/Órgão?

R: “Não é fácil de responder, de acordo com aquilo que é entendido como a uma

Cadeia de Abastecimento. Este estabelecimento, não é uma unidade militar, tem

que ser gerido como uma empresa. Nós fazemos toda a gestão do tipo

empresarial, tentamos obter os nossos produtos, produzindo-os ou

subcontratando a sua produção, com uma racionalidade económica. Por vezes

vamos ao mercado e compramos determinados artigos porque estão baratos

nessa altura, armazenamo-los e depois vamos mais tarde utiliza-los. Por isso,

por vezes a gestão de stock é um bocado condicionada pelo factor económico.

Portanto, a Cadeia de Abastecimento aqui é um bocado deturpada pela

capacidade económica que temos e pela vontade que temos em comprar as

coisas mais baratas. De resto, temos tudo na mesma: fazemos armazenagem,

fazemos o transporte, fazemos uma gestão de stock… A nossa gestão de stock

pretende minimizar os produtos em armazém (…) só para os artigos que

estamos a produzir nesta altura. Temos um grande volume de stocks, que nos

chamamos monos, em artigos que há muito tempo, por erros de gestão ou

porque o Exército mudou a sua política de aquisições, ficaram em armazém e

hoje pesam em gestão de stock e nós não temos capacidade económica para

nos desfazermos deles. Está lá muito dinheiro empatado. De qualquer forma,

dentro da Cadeia de Abastecimento, o que mais nos preocupa é efectivamente o

armazenamento e a gestão de stock. O transporte não é significativo porque (…)

só temos que entregar ao depósito, mas muitas das vezes o depósito vem cá

buscar quando são artigos muito grandes e pesados, nomeadamente as tendas

insufláveis é o depósito que vem cá buscar. Nós vamos só levar ao depósito

artigos de pequenas quantidades e pequeno volume e os urgentes, para que

não haja quebras também no depósito.”

4. De que forma é que as opções estratégicas fundamentadas na Cadeia de

Abastecimento, nomeadamente no que concerne aos fluxos físicos e

informacionais, influenciam a actividade e o cumprimento da missão

adstrita à sua Unidade/Estabelecimento/Órgão?

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R: “Essencialmente, o que influencia a actividade deste estabelecimento é o

volume e a rapidez com que as requisições são colocadas aqui, por parte do

Exército. Se o Exército tivesse uma boa política de requisição, a nossa

actividade era mais fluída. Ou seja, eu defendo que o Exército, como faz o seu

planeamento a um ano de distância, (…) poderia, com alguma facilidade, no

início de cada ano colocar aqui o maior volume de requisições que pudesse.

Porque, por exemplo: uma aquisição de tecido para fazer um uniforme nº 1

demora no mínimo 3 meses. É preciso lançar o concurso, receber as propostas,

analisar as amostras que eles enviam e se tudo correr bem, fazer a adjudicação.

Se correr mal, ainda pior, demora mais outros dois à três meses, porque são

rejeitados os produtos, são pedidos novas amostras e o concurso demora

bastante. Vamos partir do exemplo que só demora 3 meses: a partir dai é

preciso cortar o tecido e depois confecciona-los nas nossas fábricas. Isso

demora, consoante a quantidade, (…) em média por um contingente na

Academia Militar demora cerca de mais de dois meses. Ou seja, se formos

somar tudo, e se não fizéssemos mais nada, demora cinco meses a fazer o

uniforme nº 1. Ora se a requisição para o uniforme nº 1 demora muito tempo a

chegar cá (…) metade do ano era ocupado para fazer o uniforme nº 1. Nós não

fazemos só o uniforme nº 1, fazemos o camuflado, fazemos uniformes nº 2,

fazemos as fardas de gala, fazemos outras coisas – artigos mais pequenos,

sacos de cama, camelbaks, etc. Portanto, está toda gente a trabalhar em

paralelo à adquirir as matérias-primas para depois entrar em produção. Depois

nos temos que fazer a gestão da produção porque, quem faz camisas também é

quem faz camuflados, quem faz camuflados também faz as calças do uniforme

nº 2. Portanto, tem que haver um bom planeamento da produção por forma a

que o trabalho não entupa e também por forma a que seja entregue

atempadamente. Por isso precisaríamos que as requisições fossem entregues

atempadamente. O que não está a acontecer. Só no mês de Maio é que vem o

grande volume das aquisições. Se somar cinco meses a cada uma delas, só em

Outubro ou Novembro é que elas vão estar prontas (…). O que é que nos

fazemos: antecipamo-nos. Como temos informação estatística do que acontece

nos outros anos (são sempre precisos cento e tal nº 1, cento e tal nº 2 para

Academia. Número equivalente para a Escola de Sargentos do Exército.

Começamos a adquirir os tecidos mais cedo, antes ainda das requisições nos

chegarem cá. Porque se não, se estivéssemos a espera que chegassem as

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requisições, não teríamos tempo de as fabricar. Quando chega a requisição é só

uma questão depois de mandar cortar o tecido, porque ele já cá está. E eu tenho

tecido sempre tecido para mais ou menos um ano ou dois. Nunca mais que dois.

E então assim consigo resolver esse problema das requisições não chegarem

aqui atempadamente. O que eu não consigo prever são os pedidos urgentes, ai

tenho que parar as linhas de montagem que estão a produzir de acordo com o

plano de produção. Vai ter que ser interrompido, vai ter que ser desmontada

toda a linha e adaptada para o produto que agora é urgente fabricar. Isto

envolve custos mas, que não os diluímos no preço porque o preço das nossas

coisas já estão tabelados. Portanto, uma camisa que é produzida de acordo com

o plano de produção sai sempre mais barata do que mandar fazer uma camisa

urgente. Por isso era muito importante que esses fluxos informacionais

chegassem o mais cedo possível e mais fluidos. No fluxos físicos, por vezes,

temos aqui alguma dificuldade. Apesar de ter esta actividade previsional no

sentido de adquirir os tecidos, muitas das vezes alguns artigos são muito difíceis

de encontrar no mercado. As nossas fábricas no país cada vez estão a fechar

mais. Neste momento estamos condicionados, por exemplo, porque só há uma

fábrica que faz tecido camuflado cá em Portugal. Se esta fábrica disser que

agora não pode fabricar o tecido camuflado e que só pode em Setembro, nós

ficamos descalços e só em Setembro é que temos o tecido. Daí, ser muito mais

importante que o fluxo informacional chegue logo em Janeiro e Fevereiro, por

forma a que eu informe logo a fábrica que preciso de camuflado para ela planear

a sua produção de camuflados. Porque a fábrica não está às nossas ordens. E

nós não fabricamos tecidos, fabricamos fardas. Portanto o fluxo físico da

chegada dos artigos às vezes condiciona o nosso próprio planeamento da

produção.”

5. Dos principais fundamentos subjacentes ao conceito de estratégia militar,

destaca-se a necessidade de uma componente operacional, com uma

dimensão temporal e com meios mais reduzidos, mas procurando atingir

uma maior eficiência e eficácia. Em que medida entende que este elemento

essencialmente táctico deve responder às exigências definidas pela

Estratégia?

R: ”Em traços gerais a componente operacional é o braço da Táctica. As tácticas

são delineadas de acordo com a estratégia que foi definida. Quando eu digo

estratégia é a Grande Estratégia, depois temos a estratégia militar e dentro da

estratégia militar temos as várias tácticas. A aplicação da táctica no terreno é

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122

feita pela componente operacional. A componente operacional, juntamente com

as outras componentes, vai contribuir para a prossecução final da Grande

Estratégia. Por si só, a componente operacional não responde a estratégia como

um todo. Porque não é só ganhando uma guerra que se consegue aplicar toda a

estratégia. A Grande Estratégica envolve outras dimensões. Nessa

conformidade, a componente operacional tem que ter os meios, a

operacionalidade, a instrução, o efectivo adequado ao cumprimento das missões

que lhe são determinadas. Eu sou um bocado contra, cada vez que se diz que é

fazer mais com menos – quando alguém decidiu que eram precisos cem homens

para fazer uma determinada coisa é porque são preciso cem homens, não eram

precisos só noventa, se não ele tinha dito que eram noventa. Ora, com cem

homens só consigo fazer X, se me dizem que eu tenho que fazer mais com

menos, ou seja vão-me dar cinquenta e eu tenho que fazer 2X, não consigo. O

que tenho que tentar fazer é, fazer mais com menos homens mas, com outro

tipo de equipamento ou com menos equipamento e menos dinheiro mas, com

mais homens. Portanto, a eficiência e a eficácia só são conseguidas pela

componente operacional, se a mesma estiver dotada dos meios que necessita,

não mais nem menos, todos os recursos humanos, materiais e financeiros.

Porque não basta ter os equipamentos e os homens se não tenho dinheiro para

comprar o combustível, nem a alimentação, a componente operacional não

mexe. Portanto, se eu tiver esta componente operacional com a adequada

dimensão ela poderá, se bem empregue no terreno, responder as exigências,

numa última análise, da Grande Estratégia que foi definida. Agora, nunca com

cada vez meios mais reduzidos e com cada vez menos homens. Não será este o

caminho a seguir. É verdade que a ditadura económica impera: as exigências

são gastar menos, gastar menos, gastar menos. Tem que haver a plena

consciência que vamos gastar menos mas, também vamos fazer menos.

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APÊNDICE T – ENTREVISTA 4

Interlocutor: Major General Alfredo Ramos

Entrevistador: Lury Décio Pedro dos Santos

Cargo: Director da DMT (Direcção de Material e Transportes)

Data: 4 de Maio de 20112

Hora: 14h30

Local: Av. Infante Santo, 49 - Lisboa

Guião de Entrevista:

1. A Logística assume uma reconhecida importância no planeamento de

necessidades de abastecimento ao longo da história da humanidade,

marcada por vários acontecimentos, destacando-se entre esses as

diversas guerras vividas e a evolução do aparelho militar. Neste sentido,

como avalia o contributo da sua Unidade/Estabelecimento/Órgão no que

concerne ao apoio Logístico prestado, em função da missão e atribuições

logísticas adstritas à mesma?

R: “A melhor avaliação que se pode fazer da DMT, da sua capacidade de fazer

as coisas para o cumprimento da sua missão é vermos uma avaliação externa

recentemente ocorrida feita pela própria Inspecção Geral de Defesa Nacional

que, vem reconhecer que esta DMT de modo como está organizada está a

cumprir cabalmente a missão para que foi concebida e está a atingir, com

indicadores muito positivos. O nível de apoio às unidades tem sido aumentado

ao longo dos anos e o nível de sustentação a mesma coisa. Quer dizer, o nível

de operacionalidade dos materiais nas unidades também tem aumentado. Como

é que isto se consegue? Consegue-se com organização: mexendo na

organização, esta organização integrada e simples. Este modelo organizacional

tem dado um forte contributo para este melhoramento. Os processos: há uma

simplificação de processos, uma reengenharia de processos que foi feita,

também foi fundamental nesta nova dinâmica (…) que vem desde 2007. Depois,

a tecnologia: metemos muita tecnologia de informação em tudo isto, sem a qual

não era possível também aumentar estes níveis de desempenho. E por fim, o

quarto factor foram as pessoas: a motivação que tivemos que incutir nas

pessoas para este processo de mudança, para estas melhorias que que

queríamos implementar. Mostrando as pessoas que tudo era mais simples, que

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fazíamos as coisas de uma forma mais simples e que com isto iriamos garantir

uma maior satisfação ao cliente e foi isto que aconteceu. As próprias pessoas

entraram nesta dinâmica nova. E portanto, isto é que veio dar origem aos

resultados. E com menos pessoas (…). Tem uma Direcção de aquisições… Nós

temos uma segregação de funções: nós aqui dizemos o que queremos e com

que orçamento mas, não somos nós que compramos. Há uma outra entidade

que é a direcção central de compras que vai fazer essas aquisições. Portanto, os

resultados estão a vista, quer dizer, tem uma inspecção que foi aqui há pouco

tempo que demonstra os resultados, que demonstra a evolução.”

2. Os ensinamentos dos antigos estrategas militares contribuíram em grande

medida para o desenvolvimento do conceito de Estratégia tal como o

conhecemos hoje. Tendo em conta este desenvolvimento, qual é a sua

opinião acerca do contributo de tais pensadores para aquilo que hoje se

entende por Estratégia?

R: “É fundamental. Nós, não e por acaso que quando começamos a estudar

qualquer assunto, a gente começa pela história: a história das organizações, a

história da medicina, a história do direito, assim como a história da logística. A

história da logística é fundamental, porquê? Porque toda a teoria logística, toda

a doutrina é a teorização da prática, é pôr como regra aquilo que a prática

demonstrou que era a melhor maneira de fazer as coisas. Só testando o modelo,

só verificando que ele funciona é que ele pode passar a doutrina, pode passar a

ensinamento. Portanto, a história é fundamental. Esses ensinamentos são

fundamentais.”

3. A Cadeia de Abastecimento representa a estrutura na qual se desenvolvem

as actividades (e funções) logísticas de armazenamento, transporte, gestão

de stock, entre outras, constituindo a Logística, por isso, o foco da Cadeia

de Abastecimento. Neste contexto, qual é a relevância da Cadeia de

Abastecimento para o desempenho logístico da sua

Unidade/Estabelecimento/Órgão?

R: “A Cadeia de Abastecimento já foi vital mas, neste momento já não é vital. Eu

vou-lhe dizer porquê. Nós antigamente preocupávamo-nos em ter em stock os

artigos, com medo de ruptura. A nossa preocupação era ter níveis de segurança,

ter stocks que permitissem que a cadeia de abastecimento logístico não

falhasse. Hoje em dia, (…) tenho mais preocupação na informação: onde é que

as coisas estão e qual é a capacidade de resposta que um fornecedor me dá.

Repara numa coisa, eu não preciso de ter na cadeia, armazenado, uma coisa

que eu sei que amanhã o fornecedor me entrega se eu pedir. E passo a ter a

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armazenagem no fornecedor e não há tanto investimento. Hoje, além da cadeia

logística há um factor importante que é esta: informação. Sistema de informação

que me permita eu ter conhecimentos sobre o mercado, sobre fornecedores,

cada artigo ser gerido de uma forma diferenciada, tenho que ter e stoks disso,

não preciso de ter stocks doutro. Hoje em dia a nossa preocupação é sistemas

de armas. Para isso é que eu tenho que ter a cadeia logística a funcionar. Para

os equipamentos administrativos, isso é o mercado que resolve, que sabe fazer

isso melhor que nós, está organizado para o fazer e nós podemos concentrar os

nossos meios naquilo que é especificamente militar. Aquilo que é o nosso core:

o nosso core é fazer o reabastecimento e a sustentação de material e sistemas

de armas. Isto especializou-nos e levou-nos a melhores resultados. Portanto, a

questão da cadeia logística é importante mas, além da cadeia logística, é o

sistema de informação, que antigamente não se valorizava tanto e que hoje é

fundamental… Decisivo. Tem que ter alguns artigos críticos para os sistemas

militar armazenados, tem que ter algum stock de segurança, tem que ter os

meus volantes para o nível operacional. Mas além disto, ter um bom sistema de

informação. Portanto, um bom sistema de catalogação, um bom sistema de

informação, uma boa tecnologia e conhecer o que se está a passar em cada

momento, sobre as necessidades das unidades (o que elas lá têm). Nós aqui

podemos até ajudar as próprias forças com um bom sistema de informação.

Dizemos o que é que elas têm, dizemos em que situação é que está. Todo este

sistema de informação é tão vital como a cadeia de abastecimento.”

4. De que forma é que as opções estratégicas fundamentadas na Cadeia de

Abastecimento, nomeadamente no que concerne aos fluxos físicos e

informacionais, influenciam a actividade e o cumprimento da missão

adstrita à sua Unidade/Estabelecimento/Órgão?

R: “São vitais. Os fluxos físicos e os fluxos informacionais… O fluxo de

informação tem que ser correcto, a informação tem que ser oportuna, tem que

ser certa. Portanto, hoje em dia é fundamental, isto é vital, e influenciam muito o

cumprimento da actividade e o cumprimento da missão. Quer dizer, poupei

dinheiro, poupei recursos. Porque tenho este fluxo de informação que, como lhe

disse, invés de eu estar a gastar dinheiro para levar uma coisa para força, eu

disse que ela estava lá e poupei dinheiro, poupei dinheiro ao contribuinte. Os

fluxos físicos dos abastecimentos, eu aqui sou muito pela doutrina, não entro

muito na racionalidade económica. Penso que tem que haver: é a passagem dos

abastecimentos de um sítio para o outro, estarem em tempo oportuno nas

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unidades, etc., ligados até a função transporte que tem que suportar isto tudo.

Fomento a vinda das unidades ao órgão de reabastecimento. Porque é isto que

na prática vai ter que acontecer quando em operações. Eu estou a usar a função

do fluxo físico como um treino próprio da utilização dos meios. Nós temos

também que fazer este balanceamento. A economia é importante mas, há

alturas em que não é vital. Portanto, os fluxos físicos e fluxos informacionais são

fundamentais e influenciam muito o cumprimento da missão. Sem fluxos de

informação, sem uma informação actualizada e sem fluxos físicos de materiais

não há actividade logística. Como lhe disse, a logística é movimento. Portanto, a

logística é todos esses fluxos. São os fluxos permanentes e constantes.”

5. Dos principais fundamentos subjacentes ao conceito de estratégia militar,

destaca-se a necessidade de uma componente operacional, com uma

dimensão temporal e com meios mais reduzidos, mas procurando atingir

uma maior eficiência e eficácia. Em que medida entende que este elemento

essencialmente táctico deve responder às exigências definidas pela

Estratégia?

R: “Tudo o que é feito ao nosso nível, ao nível táctico, ao nível operacional tem

que estar subordinado à uma estratégia. Eu mentir-lhe-ia se lhe dissesse que

toda a actividade do dia-a-dia, todas as decisões que tomo não estão

subordinadas a uma estratégia. Naturalmente que, mesmo ao nível da logística,

ao nível de apoio a forças destacadas, no dia-a-dia corrente eu estou

subordinado a uma estratégia. Tenho uma estratégia definida. Uma estratégia

que tem, naturalmente, que ser definida em função do meio ambiente, dos

recursos que temos disponíveis, do que é o exército hoje. Nesta direcção há

uma estratégia (…) nesta direcção que concorre para a estratégia. Como é que

isso é feito? É feito através de um documento inicial no inicio do ano, que é um

planeamento que é feito (…), que é a directiva do comando do exército, o que é

que o exército quer do comando da logística é dito logo de início. Depois o

comando da logística diz-me a mim aquilo que pretende que seja para este ano

e para os anos seguintes a direcção de material e transportes. E toda a

actividade é subordinada a isso. Todos os nossos objectivos, toda a nossa

actividade é subordinada a uma estratégia. Nós estamos aqui para cumprir a

missão e, para além disso, para atingir objectivos de progressão que podem

passar por reduzir (conseguir fazer a mesma coisa com menos dez, quinze ou

vinte por cento das pessoa), conseguir optimizar processos de maneira a

conseguir o mesmo resultado em menor espaço de tempo. Portanto, toda a

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nossa actividade está subordinada a uma estratégia que me é definida por cima.

Percebe, uma decisão estratégica do nível estratégico, que vem até desde o

nível político, diz assim: O Exército tem que reponderar a questão se deve ou

não ter estabelecimentos fabris. Isto tem impactos no nível operacional. Eu

tenho que estar já preparado para não só absorver o impacto duma decisão

dessas como também para absorver esta alteração. Se não vai haver um

estabelecimento, tem que ser a estrutura orgânica interna que vai ter que

resolver este problema. Vamos ter que ter uns serviços integrados na estrutura

que permitam resolver este problema. Cá está uma decisão estratégica que tem

impacto ao nível operacional. Portanto, as decisões estratégicas têm um impacto

importante a nível operacional, e então no nível táctico nem se fala. Depois, no

nível táctico, muita das vezes, quando se estão a fazer as coisas as pessoas

não estão preocupadas com isso. Estão a fazer e sabem que é levar de A para

B: o homem do transporte só quer saber a que horas saio e o que vou levar, e

vai ter que planear o meio para o fazer lá chegar e a que horas é que tem que lá

estar. Depois quem está a nível operacional já está a ver todos os movimentos e

como é que vai aproveitar esse meio no regresso. Porque vai gastar capacidade

de transporte que para lá vai ocupada, depois no regresso é preciso ver se se

ocupa porque, capacidade que não se aproveita, perde-se. Portanto, tem que

gerir já isso. E ao nível estratégico nós estamos a ver já se temos que crescer,

se não, se temos que evoluir para meios civis, se os que temos chegam (…)

Portanto, é uma coisa complexa (…) Nós, para conseguirmos responder uma

necessidade de nível estratégico, tivemos que fazer quase que uma revolução

do nível operacional. Isto é, já pequenas melhorias não davam para gente

acompanhar as exigências estratégicas (…) tivemos que encontrar uma nova

forma de fazer as coisas, temos que reinventar a maneira de fazer as coisas. Por

exemplo, a maneira como estávamos a fazer o apoio na alimentação tivemos

que fazer uma ruptura (…) mesmo metendo tecnologia não dava. Tivemos que

mudar o modelo, revolucionar, mudar o paradigma e começar a recuperar.

Esquecer o passado, fazer uma ruptura (…) entramos em destruição construtiva:

tivemos que partir tudo, para fazer de novo (…) Fizemos isso em muitas áreas:

fizemos na alimentação, fizemos isso nos combustíveis, fizemos isso nas

munições (…) para responder a uma necessidade de nível estratégico (…) ”

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APÊNDICE U – ENTREVISTA 5

Interlocutor: Tenente-Coronel Luís Miguel Correia Cardoso

Entrevistador: Lury Décio Pedro dos Santos

Cargo: 2º Comandante do Regimento de Transportes

Data: 4 de Fevereiro de 2013

Hora: 11h28

Local: Regimento de Transportes

Guião de Entrevista:

1. A Logística assume uma reconhecida importância no planeamento de

necessidades de abastecimento ao longo da história da humanidade,

marcada por vários acontecimentos, destacando-se entre esses as

diversas guerras vividas e a evolução do aparelho militar. Neste sentido,

como avalia o contributo da sua Unidade/Estabelecimento/Órgão no que

concerne ao apoio Logístico prestado, em função da missão e atribuições

logísticas adstritas à mesma?

R: “O Regimento de Transportes tem por missão assegurar o apoio em

transportes ao Exército e aprontar em termos operacionais uma Companhia de

Transportes. Durante o último ano o Regimento prestou mais de 1.600 serviços

de transporte, percorrendo mais de meio milhão de quilómetros, durante mais de

13.000 horas, tendo transportado mais de 15.000 passageiros e mais de 4.000

toneladas de carga. Tendo por base estes números, pode considerar-se que o

apoio logístico ao Exército (através da função logística Movimento e Transporte),

através da utilização do modo rodoviário foi eficaz e eficiente nas diversas fases

de planeamento, direcção e controlo dos meios de transporte e das

necessidades a estes associados, com o objectivo de deslocar pessoal, material

e abastecimentos para os vários locais, em tempo e nas quantidades desejadas,

nas necessárias condições de segurança e operacionalidade e da forma mais

económica, garantindo assim a satisfação operacional da missão.”

2. Os ensinamentos dos antigos estrategas militares contribuíram em grande

medida para o desenvolvimento do conceito de Estratégia tal como o

conhecemos hoje. Tendo em conta este desenvolvimento, qual é a sua

opinião acerca do contributo de tais pensadores para aquilo que hoje se

entende por Estratégia?

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R: “A realidade do século XXI é fruto de séculos de experiências acumuladas ao

longo dos tempos, com evoluções e retrocessos, mas contribuindo para um

desenvolvimento e aprimoramento de conceitos. Assim também a estratégia

como é hoje entendida, é o aperfeiçoamento de conceitos ou noções que foram

implementadas em diferentes locais e situações vividas de onde foram extraídas

várias conclusões ou lições identificadas que depois de serem estudadas,

discutidas e avaliadas conduziram a lições apreendidas que permitiram o

avançar do pensamento para que fosse possível a evolução da estratégia inicial.

Deste modo as contribuições dos antigos estrategas militares como são os

exemplos mais sonantes, desde Sun Tzu, passando por Napoleão Bonaparte,

Rommel, Eisenhower, ou recentemente por Norman Schwarzkopf.”

3. A Cadeia de Abastecimento representa a estrutura na qual se desenvolvem

as actividades (e funções) logísticas de armazenamento, transporte, gestão

de stock, entre outras, constituindo a Logística, por isso, o foco da Cadeia

de Abastecimento. Neste contexto, qual é a relevância da Cadeia de

Abastecimento para o desempenho logístico da sua

Unidade/Estabelecimento/Órgão?

R: “A função logística Movimentos e Transporte (M&T) engloba todo o espectro

de infra-estruturas, instalações, organizações e equipamento necessário à

projecção, incluindo as operações de Recepção, Estacionamento e Movimentos

e Integração (REMI), ou como encontramos nalguma literatura internacional:

Reception, Staging, Onward Movement and Integration (RSOM&I), sustentação e

retracção de Forças durante a execução de uma missão. Assim, O Regimento de

Transportes é um dos elementos dessa Cadeia de Abastecimento, garantindo o

transporte, sendo esta função por muitos considerada como a ponta de lança

logística.”

4. De que forma é que as opções estratégicas fundamentadas na Cadeia de

Abastecimento, nomeadamente no que concerne aos fluxos físicos e

informacionais, influenciam a actividade e o cumprimento da missão

adstrita à sua Unidade/Estabelecimento/Órgão?

R: “Toda a gestão dos transportes segue um processo de gestão baseado no

planeamento, organização, direcção e controlo, tentando sempre uma de

melhoria contínua através de metodologias do tipo P-D-C-A (ciclo de Deming),

ou seja Plan-Do-Check-Act99. Daí ser de cabal importância o controlo dos

transportes, evitando-se, sempre que possível, movimentos em vazio e

garantindo sempre a utilização da máxima capacidade de carga dos meios

99

Planeamento-Execução-Verificação-Acção (Correcção)

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envolvidos, bem como a comunicação de forma eficiente da informação entre as

diversas entidades envolvidas, desde a Unidade/Estabelecimento/Órgão (U/E/O)

(requisitante do serviço), passando pela Repartição de Transportes/Direcção de

Material e Transportes (gestão do apoio), Regimento de Transportes (execução

do apoio de transporte), Depósito Geral de Material do Exército (gestão de

stocks) e da U/E/O que recebe o apoio.”

5. Dos principais fundamentos subjacentes ao conceito de estratégia militar,

destaca-se a necessidade de uma componente operacional, com uma

dimensão temporal e com meios mais reduzidos, mas procurando atingir

uma maior eficiência e eficácia. Em que medida entende que este elemento

essencialmente táctico deve responder às exigências definidas pela

Estratégia?

R: “No contexto actual, em que as motivações sociais, económicas e ambientais

prevalecem como garante da sustentabilidade do poder político de uma entidade,

constituída por um País ou por um conjunto de Países, formando alianças, para

que seja possível cumprir a estratégia definida pelos mais elevados escalões é

fundamental que os órgãos dos escalões mais baixos adoptem os

procedimentos/técnicas mais eficazes e eficientes. No entanto, estes

procedimentos/técnicas têm obrigatoriamente de tender para as exigências

definidos pela estratégia, ou seja os mecanismos adoptados terão que se

subjugar à estratégia.”

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APÊNDICE V – ENTREVISTA 6

Interlocutor: Dr. Carlos Machado

Entrevistador: Lury Décio Pedro dos Santos

Cargo/Empresa: Director de Logística/RODOCARGO

Data: 6 de Fevereiro de 2013

Hora: 11h00

Local: Rua 28 de Setembro 102, Frielas

Guião de Entrevista:

1. A Logística assume uma reconhecida importância no planeamento de

necessidades de abastecimento ao longo da história da humanidade,

evoluindo da simples distribuição física para abarcar um vasto conjunto de

actividades e serviços, por forma a responder à necessidade crescente de

redução de custos e acréscimo de valor. Neste sentido, como avalia o

desempenho logístico da sua organização, por forma a cumprir a sua

missão e os objectivos definidos estrategicamente?

R: “Antes de mais, importa referir que, a Logística no Grupo Barraqueiro é uma

actividade relativamente recente. Portanto, a Logística no Grupo Barraqueiro,

nomeadamente na RODOCARGO, que é a empresa que você está a analisar,

tem uma actividade séria, nesta área há três anos. Em relação a pergunta, é

verdade, concordo que a Logística evoluiu de uma simples distribuição física

para serviços de valor acrescentado e quando se pergunta, qual a missão e os

objectivos definidos estrategicamente, na nossa empresa é exactamente essa a

missão é: prestar um serviço de qualidade mas, cada vez mais diversificado aos

nossos clientes e aos nossos potenciais clientes. Eu quando digo mais

diversificado, digo o que? Digo que, além da distribuição física, que é uma

componente, como sabe, muito importante da Logística, importa também, não só

a armazenagem de mercadorias mas também aquilo que hoje em dia se fala

muito na Logística que é: os serviços de valor acrescentados. Na Logística, nos

tempos que hoje correm, na minha opinião, é nos serviços de valor acrescentado

que nós podemos fazer a diferença. Porque a maior parte das empresas fazem

distribuição física com alguma qualidade. Portugal é um país pequeno, não é

difícil, hoje em dia, fazer a distribuição física em Portugal. A armazenagem,

melhor ou pior, com maior ou menor espaço, também a maior parte das

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empresas nesta área consegue fazer. A grande dificuldade é prestar um serviço

cada vez mais diversificado, como por exemplo: o assembling – a junção de

caixas promocionais, a embalagem. Portanto, esse tipo de serviços é que podem

de facto diferenciar. Quanto a sua pergunta, avalio de forma muito positiva. Nós

em 3 anos já representamos cerca de dez por cento da facturação total da

empresa. Portanto avalio de forma positiva.”

2. A Cadeia de Abastecimento representa a estrutura na qual se desenvolvem

as actividades logísticas de armazenamento, transporte, gestão de stock,

entre outras, constituindo a Logística, por isso, o foco da Cadeia de

Abastecimento. Neste contexto, como avalia a importância da Cadeia de

Abastecimento para o desempenho logístico da sua organização?

R: “Bom, nós somos um operador logístico. Nós não somos uma empresa que

compra directamente bens à fornecedores. Portanto, naturalmente que uma

empresa que compre bens à fornecedores tem que ter muito cuidado com a

eficiência da sua cadeia de abastecimento. Repare, nós vendemos serviços. Nós

não vendemos mercadorias e, naturalmente que, para que nós possamos

prestar um bom serviço aos nossos clientes, naturalmente que a cadeia de

abastecimento dos nossos clientes tem que funcionar muito bem. Porquê?

Porque, como é óbvio, se nós recebermos a mercadoria na hora certa, na hora

estipulada, naturalmente prestamos melhor serviço do que se recebermos a

mercadoria com três ou quatro dias de atraso. Porque se recebemos a

mercadoria com um atraso substancial, se recebemos a mercadoria com quatro

dias de atraso, por exemplo, por culpa de quem vende aos nossos clientes…

Vou-lhe dar um exemplo: temos, por exemplo, um cliente na área da grande

distribuição, naturalmente que, se os fornecedores deles não entregarem na

hora estipulada e no prazo estipulado, também nos complica a nós, toda a

cadeia logística. Portanto, esse é que é o problema. Nos dias que hoje correm e

que o tempo é dinheiro (…) o consumidor hoje em dia quer ter os produtos o

mais perto possível de casa. Portanto, para que isto aconteça é importantíssimo

a eficiência e a eficácia da cadeia de abastecimento. Nós somos um operador

logístico, nós vemos isso de uma forma um bocadinho diferente. Porque não

temos qualquer intervenção na negociação entre os nossos clientes e os

fornecedores deles. Nos temos intervenção depois na gestão logística. Nós não

compramos produto, nós apenas nos limitados a prestar o serviço depois de

termos do nosso lado a mercadoria que eles compram. Agora se me perguntar,

a cadeia de abastecimento deve ser eficiente para nós também? Para nós

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também deve ser, claro que deve ser. Quanto mais eficiente ela é, com mais

fluidez o nosso serviço…”

3. De que forma é que as opções estratégicas fundamentadas na Cadeia de

Abastecimento, no que concerne aos fluxos físicos e de informação,

concorrem para a definição da estratégia na sua organização?

R: “Os fluxos físicos por si só são muito importantes para o nosso desempenho

logístico. Hoje em dia, mais importante do que os fluxos físicos são os fluxos de

informação. Hoje em dia é impensável conceber uma gestão de uma cadeia de

abastecimentos sem existirem sistemas de informação aplicados a essa cadeia

de abastecimento, nomeadamente WMS – warehouse management system,

programas de rastreabilidade no que toca a questão das entregas, o track and

trace. Nos dias que hoje correm nós não podemos conceber as duas coisas sem

estarem interligadas, ou seja, o fluxo físico tem que acompanhar o fluxo

informacional e vice-versa. Hoje em dia é impensável, para uma empresa que

tenha departamento de logística, nós termos um armazém cheio de caixas sem

estarem bem identificadas, por exemplo. Ou é impensável nós colocarmos

dentro de uma carrinha 50 entregas sem estarem devidamente controladas.

Portanto as duas coisas não podem viver uma sem a outra. Elas poder viver

podem, a empresa está condenada é ao fracasso. Perde a competitividade com

as restantes. Porque os programas de track and trace existem em todo o lado,

os ERP`s existem na maior parte das empresas, os WMS são fundamentais.

Portanto, respondendo a sua pergunta, a forma é o grande segredo do sucesso.

A sua terceira pergunta é o grande segredo do sucesso. Porque os fluxos

informacionais têm que estar totalmente conectados com os fluxos físicos. Hoje

em dia, nós temos que saber aonde as coisas estão, em que fase estão à

qualquer momento, on-line.”

4. Na sua opinião, como devem as organizações encarar a gestão estratégica

(representada de forma sucinta por um processo de análise, planeamento,

implementação e avaliação), em ordem a cobrir as diferentes áreas e

actividades logísticas afim à Cadeia de Abastecimento?

R: “Esta pergunta não é fácil, porque qualquer uma das quatro etapas que você

aqui coloca, processo de análise, planeamento, implementação e avaliação, elas

são as quatro fundamentais. O que eu acho é o seguinte, acho que essas quatro

vertentes vão se cimentando uma à outra. O que quero dizer com isto é o

seguinte: se nós fizermos uma análise muito real daquilo que pretendemos

implementar, começamos bem. Portanto, a análise é fundamental, tentar

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perceber junto aos clientes quais as suas reais necessidades e o que é que eles

vão precisar para o bom desempenho da operação. Entendendo isso é muito

mais fácil depois planear. Fazendo uma análise é muito mais fácil depois

planear, fazendo uma análise rigorosa das necessidades. Também é importante

referir que, hoje em dia, nós em princípio não somos obrigados, não devemos

até, a dar mais ao cliente do que ele necessita. Nós temos que dar ao cliente o

que ele de facto necessita, o que ele vai querer. Portanto, primeiro é importante

fazer uma análise, depois um bom planeamento, se fizermos uma boa análise e

um bom planeamento a implementação é muito mais fácil. Se nós nos

protegermos, se nos estudarmos bem a análise e o planeamento a

implementação é muito mais fácil. A avaliação, tem que ser feita. Nesta análise é

importante definir os KPA`s (Key Performance Indicators), é importante

definirmos os indicadores de análise. A avaliação torna-se depois muito mais

simples. Eu diria mais, num operador logístico a avaliação é fundamental, até

porque somos nós certificados e nas certificações nós temos que dar provas que

avaliamos o nosso de desempenho. A avaliação é a parte final, quando está

tudo implementado você tem que avaliar. Você tem que avaliar por dois motivos:

primeiro lugar, tem que avaliar para definir internamente as melhorias que tem

que implementar; mas também tem que avaliar porque é uma exigência do seu

cliente. No caso do operador logístico, por exemplo: eu tenho um determinado

cliente que me diz, eu como cliente quero que vocês me avaliem diariamente

linhas de material de saída, linhas de material de entrada, número de itens que

tenho em stock, número de espaço ocupado. Por um lado há a avaliação que o

cliente necessita – eu vou contrata-lo e quero saber isto, por outro lado há a sua

própria avaliação, por exemplo: a sua equipa tem trinta operadores, o que é que

eles produzem, cada um deles. A avaliação é fundamental por motivos internos

e por motivos de obrigação, de contrato. Existe uma série de indicadores que

são de facto standards para a maior parte dos operadores, depois há alguns

indicadores mais particulares que tem a ver com cada dos nossos clientes.

Existem de facto indicadores standards, e quais são eles: linhas de material de

entrada, unidades entrada, linhas de saída, unidades de saída, metros cúbicos

de armazenagem, em muitos casos o peso, o peso total da mercadoria que

temos armazenada. Eu diria que noventa e muitos por cento dos operadores

logísticos têm esses indicadores. Depois cada cliente tem uma ou outra

particularidade, por exemplo, pela sua natureza da mercadoria, nós temos

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clientes que o factor principal de análise é o peso da mercadoria e querem saber

o peso diário que nós temos em stock. As características da mercadoria são

muito importantes para a análise.”

5. Dos principais fundamentos subjacentes ao conceito de estratégia

empresarial, destaca-se a necessidade de um Planeamento Operacional e

Táctico, mais flexível no que diz respeito aos meios disponíveis e ao tempo

de aplicação. Em que medida entende que este elemento, mais notável nas

actividades correntes e difundido pelas diferentes unidades da empresa,

deve responder às exigências definidas superiormente, ao nível

estratégico?

R: “Você aqui coloca uma coisa importante. Repare, eu acho que aqui na sua

pergunta o mais importante nisto tudo é, na minha opinião assume importância a

flexibilidade. Portanto, é esta parte aqui: mais flexível no que diz respeito aos

meios disponíveis e ao tempo de aplicação. Obviamente que, do ponto de vista

do operador logístico, a flexibilidade, no que diz respeito aos meios disponíveis e

ao tempo de aplicação, é fundamental para ganhar o negócio. Flexibilidade para

nós nos adaptarmos em geral às necessidades do nosso cliente, ou seja, vou-

lhe dar um exemplo. Falei-lhe na primeira pergunta nos serviços de valor

acrescentado. Imaginemos que um cliente tem setenta por cento das suas

necessidades na área de serviços de valor acrescentado, nós temos que ser

flexíveis no menor espaço de tempo. Ou seja, o que os nossos clientes querem

é: eu tenho uma operação XPTO, necessito de fazer um serviço de valor

acrescentado X e necessito de implementar isso no tempo mais curto possível,

24 horas. No geral concordo com a pergunta. E depois está aqui outra coisa que

é muito importante. Nos operadores logísticos, esta flexibilidade e esses meios

disponíveis ao tempo de aplicação, é muito importante. Devido também a nossa

certificação, esta questão do difundido pelas diferentes unidades da empresa é

muito importante. Ou seja, tem que ser transversal.”

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APÊNDICE X – ENTREVISTA 7

Interlocutor: Dr. Paulo Niza

Entrevistador: Lury Décio Pedro dos Santos

Cargo/Empresa: Director Comercial/CP Carga S.A.

Data: 20 de Fevereiro de 2013

Hora: 10h10

Local: Avenida da República nº 6

Guião de Entrevista:

1. A Logística assume uma reconhecida importância no planeamento de

necessidades de abastecimento ao longo da história da humanidade,

evoluindo da simples distribuição física para abarcar um vasto conjunto de

actividades e serviços, por forma a responder à necessidade crescente de

redução de custos e acréscimo de valor. Neste sentido, como avalia o

desempenho logístico da sua organização, por forma a cumprir a sua

missão e os objectivos definidos estrategicamente?

R: “Dentro da organização de uma cadeia logística o transporte ferroviário conta

muito. Estamos a falar, às vezes, na maior distância que é a componente

ferroviária. Nós tentamos não falhar. Quando a agenda está bem definida,

quando os horários estão bem definidos, tentamos não falhar, tentamos cumprir

rigorosamente com o que lá temos. Olha, até tenho aqui, basicamente dois

slides relativamente as cadeias logísticas e ao importante papel do caminho-de-

ferro. Mostra-se aqui toda a cadeia logística: temos uma origem, cliente origem,

em que há aqui uma recolha, vai para o comboio, o comboio faz o transporte

para um terminal ou para destino final para o cliente. E a situação inversa: aqui

há uma recolha de material, há uma recolha de produtos, há toda está logística

aqui feita neste início, o comboio recolhe e leva a destino. Aqui a mesma coisa,

está ilustrado basicamente a nossa acção. Porque nós logística propriamente

não a fazemos. Somos um parceiro daquela cadeia logística: damos a tracção,

fazemos o que sabemos fazer. Há um exemplo muito bom que é um comboio da

Alemanha. Nós temos um comboio da Alemanha, que vem aqui de Frankfurt,

este comboio começou com uma cadência de uma vez por semana, é um

comboio que é comercializado pela DB, mesmo pelos caminhos-de-ferro

alemães, cá é a DB Schenker que comercializa o comboio em Portugal, que são

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os transitários dos caminhos-de-ferro alemães. (…) Vem com peças para a

Autoeuropa. Veja esta cadeia logística: a DB atravessa a Alemanha e vem com

a tracção deles até Irun, até França, aqui na fronteira de Irun estamos a falar de

transporte em bitola europeia e aqui estamos a falar em bitola Ibérica; aqui nesta

fronteira Irun é feito o transbordo das caixas móveis para vagões de bitola

Ibérica, demora cerca de oito horas; a Renfe, depois do transbordo, tracciona

unicamente até a fronteira de Vilar Formoso. A Renfe transporta aqui, atravessa

o território espanhol, entrega-nos o comboio em Vilar Formoso. E aqui a CP,

como operador, tem um papel importantíssimo, porque este comboio é destino

final e é origem. Este comboio trás sempre dois destinos, Leixões e Bobadela.

Portanto nós aqui temos um papel preponderante, não podemos falhar nada na

Pampilhosa, temos que fazer a manobra do comboio: meter o ramo de Leixões

para Norte e o ramo da Bobadela para Sul. Este comboio começou com uma

frequência de um por semana, já evoluiu para dois, em Maio deste ano, irá

evoluir para três em finais deste ano. Já está com duas circulações: da

Alemanha para cá, o comboio anda ai à sessenta por cento, setenta, não há

importação. Agora, exportação há muita. Portanto o comboio para lá está

sempre cheio. Basicamente para lá estamos a falar em pasta de papel e cortiça.

(…) Para cá não há nada, tirando a Autoeuropa, é muito residual. Portanto é um

comboio que está um pouco dependente do sucesso da Autoeuropa.” Então

avalia o desempenho logístico da CP como Positivo? “Muito positivo. Este

comboio está muito bem visto a nível da DB. Relativamente ao mercado que

temos, nós não temos só isso, estamos metidos em muitas cadeias logísticas.

Eu posso lhe dizer que, 60 por cento da nossa actividade esta concentrada nos

portos. Portanto, se estamos nos portos, estamos no meio das cadeias

logísticas. E nos portos estamos já a falar de navios, de prazos às vezes muito

apertados, de embarque de navios que não podem esperar. Portanto, 60 por

cento da nossa actividade está concentrada em portos quer importação, quer

exportação, grande parte exportação. Não podemos falhar. (…) Houve um

decréscimo da nossa actividade assumido por nós, desde Maio do ano passado,

cerca de 25 % à 30% da nossa actividade. Teve que ser assumido por nós e foi

explicado ao secretário de estado. Tivemos que fazer esta análise criteriosa,

cliente à cliente, conta de exploração à conta de exploração, relação à relação e

houve destinos que abandonamos, não conseguimos lá ir. Tivemos que: esses

dão-nos dinheiro, esses interessam-nos. Tivemos que nos começar a canalizar

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em determinados tráfegos, em período de crise. Portanto, a nossa actividade

decresceu em 25 por cento. Mesmo assim, conseguimos fechar com uma

recuperação de cerca de 13 por cento, em relação ao ano anterior ao nível de…

EBITDA quase que ficava positivo, o resultado sem amortizações ficou em dois

milhões de euros. Se não tivesse sido a greve, já tínhamos tido um EBITDA

positivo. Como sabe, estamos no meio de uma privatização. Você tem esses

exemplos de cadeia logística, já viu o quão importante é o modo ferroviário nisto.

Estamos a falar, aqui na recolha capilar e na distribuição capilar e deixar o

grande para o caminho-de-ferro. Porque é aquilo que o caminho-de-ferro sabe

fazer: maior volume, grandes comboios, cadências certas. Nos fazemos por

semana 84 comboios para o terminal de Sines: 42 para lá e 42 para cá. Que

ninguém acreditava.”

2. A Cadeia de Abastecimento representa a estrutura na qual se desenvolvem

as actividades logísticas de armazenamento, transporte, gestão de stock,

entre outras, constituindo a Logística, por isso, o foco da Cadeia de

Abastecimento. Neste contexto, como avalia a importância da Cadeia de

Abastecimento para o desempenho logístico da sua organização?

R: “Como lhe disse esta cadeia da DB é uma cadeia muito importante. Já viu

que é um comboio que vem da Alemanha para Portugal com uma frequência de

duas vezes por semana. Também estamos metidos no meio da cadeia dos

siderúrgicos, temos a Siderurgia Nacional: temos o produto acabado que

levamos para Setúbal e temos também a matéria-prima, que são as bobines,

que trazemos de Setúbal para a siderurgia. Portanto, temos o comboio a levar a

matéria-prima e a trazer o produto acabado: produto acabado de exportação e

matéria-prima de importação, que são as bobines em bruto que vêm para ser

trabalhadas na siderurgia. Pronto, isto é uma cadeia de transportes também

bastante importante onde estamos metidos. Agro-alimentares, a nível de cereais,

nós estamos com a Valor mas, é tudo tráfego nacional. É tudo tráfego da fábrica

da Valor, é produto acabado, é mais ração para frango, para galinha. Estamos

um pouco nessa cadeia de distribuição alimentar. Estamos também com os

cereais da Iberol. Temos os cereais e soja também da Iberol. Basicamente nós

estamos metidos em quase todas as cadeias logísticas. Porque, nos portos

estamos metidos em todas, tudo que seja exportação: cimentos, siderúrgicos,

contentores, tudo que seja exportação comos nós que fazemos a grande parte

do volume. Eu até muitas vezes digo – a CP Carga é quase dona do negócio.

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Porque muitas vezes o transporte faz oscilar muito o preço. E o transporte tem

um peso tão grande naquela cadeia logística, muitas vezes, que nós podemos,

se quisermos, quase que a CP Carga pode acabar com aquele negócio. Mas

tem que estar tudo bem encaminhado, temos que ganhar todos.”

3. De que forma é que as opções estratégicas fundamentadas na Cadeia de

Abastecimento, no que concerne aos fluxos físicos e de informação,

concorrem para a definição da estratégia na sua organização?

R: “Não há duvida que… Eu posso aqui combinar: você é cliente da CP Carga

vem aqui combinar comigo um transporte de 500toneladas de ouro, eu aqui

tomo nota disso, a nível produtivo é montado um comboio, está tudo feito. No

ponto A, em Frei de Espada a Cinta, às duas da manhã quando era para sair o

comboio, o maquinista caiu e torceu o pé. Tudo o que aqui fizemos, um trabalho

grande, pode ser posto em causa por causa de uma queda de um maquinista e

o comboio não sai. Tudo é importante. Mas é o que digo, nós aqui podemos

fazer tudo, tudo, mas o terreno é a última… O terreno muitas vezes é que faz

mover isto tudo. Portanto, é importante as duas situações mas, o terreno tem

sempre a última palavra a dar. Porque são os gajos que carregam no botãozinho

para a locomotiva sair, para levar aquilo. Se tudo correr bem, se tivermos num

cenário normal, sem greve, é tudo importante. Portanto é importante a execução

do comboio, os contactos com os clientes, todo aquele trabalho que é feito de

captação (…). Num cenário tudo é importante, é importante o maquinista que

pega no comboio, é importante a mercadoria que lá vem, é importante os players

todos que lá estão, as pontas finais, a interacção comercial-produção. (…) O

comercial tem a obrigação de ir buscar clientes, de vender, de fazer o serviço

pós-venda, de tratar tudo o que é comercial, preços contractos. Todos temos um

papel importante. E depois damos todos os nossos elementos à produção, e a

produção a partir dai, que é quem tem que fazer o comboio, executar o comboio,

criar os canais, dialogar com a Refer para abrir aquele canal, e aquele canal vai

um pouco de encontro com aquilo que dialogamos com o cliente (…) e é com

base nisso que temos as reuniões com a produção, a produção leva a nossa

encomenda, vai ter que dialogar depois com a Refer que é a dona da infra-

estrutura, para começar a marcar aqueles canais. Porque nós também temos

estradas para os nossos comboios andarem. Os comboios têm os horários, têm

os canais deles todos, como tem o espaço aéreo - tem os canais para os aviões

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andarem. Não há dúvidas que nós temos fluxos importantíssimos, temos fluxos,

esses os contentores passivos, o fluxo para central do Pego, do carvão, que é

um fluxo com uma cadência muito forte, cinco mil toneladas por dia, que também

é um fluxo importantíssimo; os fluxos de cimento para exportação. Há fluxos que

são muito importantes.”

4. Na sua opinião, como devem as organizações encarar a gestão estratégica

(representada de forma sucinta por um processo de análise, planeamento,

implementação e avaliação), em ordem a cobrir as diferentes áreas e

actividades logísticas afim à Cadeia de Abastecimento?

R: “Todos os negócios, todos os comboios que você vê circular ai de

mercadorias, eles são todos concebidos aqui na Avenida da República. Faz-se

tudo aqui. Por isso é que existe a direcção comercial, por isso é que existe essa

equipa que está aqui toda no primeiro andar. Está dividida em tráfego nacional e

tráfego combinado internacional. Aqui é feita a análise, nós aqui, o cliente vem

cá, vamos ao terreno analisar as condições quer de carga e quer de descarga,

analisamos as infra-estruturas, vimos se temos vagões, se temos vagões

adequados àquele transporte, analisamos isso tudo. Depois partimos para a

execução do preço – o cliente aceita o preço, ok. Depois avançamos para a

concepção do transporte, com base naquilo que o cliente nos pediu, as

tonelagens dadas, na frequência que ele quer, nos dias que ele quer, nisso tudo.

Temos reuniões aqui ao nível interno com a nossa direcção de operações. (…)

Nasce tudo aqui. É a implementação a parte crítica. A parte crítica muitas vezes

é o maquinista. A parte crítica é mesmo a parte final. E agora estamos a viver

numa parte crítica por causa deste compromisso laboral. (…) Nós fazemos 250

comboios por dia e nesses comboios há três ou quatro ocorrências por semana,

por més se calhar, em cenário normal. As locomotivas não são sempre

apedrejadas, nem avariam sempre. Se não, não conseguíamos fazer os 150

comboios nem nove milhões de toneladas. A parte crítica é sempre a parte final.

No papel tudo é bonito, nós no papel fazemos tudo, fazemos os esquemas

produtivos, fazemos tudo bonito. Na implementação, até há vezes que o próprio

cliente esconde coisas, entre aspas, ineficiências que ele tem, que depois

começam a vir ao de cima com a própria realização do comboio. A nossa

indústria nacional ainda tem muitas coisinhas que nós operadores nos podemos

queixar. Trabalhamos as 24 horas, os sete dias. Como lhe disse, a CP Carga SA

e uma empresa que em 2014 estará no verde, e é uma empresa que é apetitosa

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a quem a queira adquirir, é uma empresa que tem tudo para dar lucro, para ser

uma empresa mais criável. Somos uma empresa de âmbito nacional.”

5. Dos principais fundamentos subjacentes ao conceito de estratégia

empresarial, destaca-se a necessidade de um Planeamento Operacional e

Táctico, mais flexível no que diz respeito aos meios disponíveis e ao tempo

de aplicação. Em que medida entende que este elemento, mais notável nas

actividades correntes e difundido pelas diferentes unidades da empresa,

deve responder às exigências definidas superiormente, ao nível

estratégico?

R: “Deve observar os objectivos dentro da organização. Portanto, o nível

operacional, os meus colegas operacionais, a direcção de operações que é

responsável pela formação, pela feitura dos comboios, são eles que têm que

fazer os comboios, mediante as nossas encomendas. Portanto, eles têm um

papel muito fundamental e muito preponderante. São eles que fazem andar os

comboios. Portanto, não podem estar autónomos. Eles têm que saber os

interesses do comercial, têm que saber os interesses da empresa. Portanto, os

comboios são feitos e são geridos com base em orientações comerciais e

orientações estratégicas da empresa. Vou-lhe dar um exemplo que é quase

diário agora com esses problemas de conflitos laborais: quase diariamente

acontece ter de optar por um comboio em detrimento do outro. Não são as

operações que tomam essa ordem. Quando eles detectam que vai haver algum

problema, automaticamente falam com o comercial, falam comigo, depois eu

aqui desencadeio… e é tomada a decisão. Muitas vezes a decisão comercial

pode nem ser pelo volume de um comboio ou de outro. Estrategicamente,

aquele comboio além de fazer pior receita pode nos interessar naquele dia que

tenha que ser feito. As operações nunca poderão ser autónomas. Podem ser

autónomas a fazer escala dos maquinistas dos operadores, afectar as

locomotivas, isso é com eles. Tem que ir de encontro ao que nós queremos. Eu

vou-lhe só explicar: os clientes até a quarta-feira, até ao fim do dia, enviam-nos

as suas programações todas comerciais, normalmente tudo por e-mail, debitam-

nos tudo. Nós aqui temos a quarta-feira à tarde a à quinta-feira de manhã, temos

programas internos em que programamos aquilo – o cliente pode nos mandar

em toneladas e nos programamos em número de vagões, em comboios.

Fazemos a programação comercial até quinta-feira ao meio-dia. As operações a

parti de quinta à tarde começam a trabalhar o que nós pedimos, começam a

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trabalhar os nossos pedidos todos: começam a afectar locomotivas, começam a

afectar maquinistas, começam a afectar tudo isso. Durante essa programação

surgem conflitos, eles não conseguem fazer os comboios todos,

automaticamente nos ligam (…). Portanto, há sempre um diálogo. E é ajustado o

programa semanal. Portanto, o programa semanal depois sexta-feira até à hora

do almoço é debitado, e o programa semanal vem novamente para o comercial e

o comercial vai confirmar todos os pedidos que fez. Para durante à sexta-feira da

parte da tarde ajustar com os clientes alguma falha que haja e o cliente saber

que, na semana que vem não vai ter aquela quantidade toda, vai ter menos um

comboio. Para o cliente também se poder ajustar à outros meios de transporte,

nesse caso o rodoviário. (…) Eu posso lhe dizer, como responsável comercial,

que o nosso desempenho, em cenário normal é muito bom, em cenário de

greve, esta a ser bom. O último inquérito de satisfação que nós tivemos, foi há

cerca dois anos, todos os clientes nos apontaram como o óptimo parceiro para o

negócio deles. Mesmo com esses conflitos laborais os clientes acreditam em

nós. Posso lhe dizer que nunca houve, de há um ano para cá, tanto pedido de

transporte, como houve nos últimos vinte anos. Porque, cada vez mais o

caminho-de-ferro é que tem que responder aos clientes, é a porta de entrada

nas fábricas, é a porta de entrada do país, são as exportações, são as

importações. (…) 85% da produção da Autoeuropa é escoada por comboio pela

CP Carga. Estamos a falar de mais uma cadeia logística importantíssima. A

Autoeuropa é dos maiores exportadores nacionais. ”

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APÊNDICE Y – ENTREVISTA 8

Interlocutor: Sr. Alexandre Fernandes

Entrevistador: Lury Décio Pedro dos Santos

Cargo/Empresa: Hub Manager/TRANSPORTA S.A.

Data: 26 de Fevereiro de 2013

Hora: 10h13

Local: Estrada de São Marcos nº 15, Cacém

Guião de Entrevista:

1. A Logística assume uma reconhecida importância no planeamento de

necessidades de abastecimento ao longo da história da humanidade,

evoluindo da simples distribuição física para abarcar um vasto conjunto de

actividades e serviços, por forma a responder à necessidade crescente de

redução de custos e acréscimo de valor. Neste sentido, como avalia o

desempenho logístico da sua organização, por forma a cumprir a sua

missão e os objectivos definidos estrategicamente?

R: “Nomeadamente a Rodocargo, que foi onde esteve, que faz um processo de

logística e nós fazemos a distribuição dessa mesma mercadoria. Portanto, é

realizado o processo todo de logística de mercadoria, nomeadamente o

armazenamento, segregação de peças e o picking do mesmo material, tal e qual

como lhe explicaram na Rodocargo, e nós fazemos a distribuição. Ao nível da

nossa distribuição, como é que é o desempenho… Nós, neste momento

estamos a crescer no mercado, sem dúvida alguma. Nós estamos a implementar

uma série de processos novos na distribuição nomeadamente, como eu falei há

pouco da leitura óptica que é fundamental para que haja um registo físico de

todos os envios que entram e que saem do armazém. (…) A Transporta existe a

cerca de vinte anos, no entanto… Esta sim é a Transporta, esta é a Transporta e

o caminho certo que nós estamos a querer chegar. É caminhar para melhorar.

Estamos num processo de melhoria contínua e vamos continuar sempre,

sempre, sempre. Ou seja, não queremos ficar para trás das outras empresas de

transporte, queremos sim estar ao lado e acima das outras empresas de

transportes. É o nosso objectivo. A empresa, até há cerca de dois anos atrás,

sempre foi conhecida pela distribuição de bazar – de paletes. Tudo o que era

carga pesada as empresas entregavam a Transporta. Tudo o que era paletes:

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as empresas que queriam paletes entregavam a Transporta. Neste momento

nós mudamos a nossa estratégia, que é apostar na pactária, no parcel em

detrimento dessas mesmas paletes. Neste momento já estamos a caminhar para

uma frota jovem, subcontratada. Nós tínhamos uma grande fatia de frota própria.

Neste momento estamos com uma pequena fatia de frota própria e com uma

grande aposta na subcontratação. Uma frota jovem, dinâmica, com uma

apresentação completamente diferente. O logo, inclusive, o logo da empresa foi

mudado, está com uma imagem mais limpa, uma imagem mais pura, que é

aquilo que nós pretendemos. (…) As empresas, como é óbvio, qualquer

empresa tem estratégias e têm tácticas. A nossa estratégia é caminhar para

pactária, apostar cada vez mais na pactária e que sejamos um parceiro fiável no

mercado, com na data prevista e em perfeitas condições – este é o nosso

principal objectivo. (…) As nossas tácticas, mediante o momento, a nossa

postura e a nossa posição no mercado, nós vamos alterando as nossas tácticas.

Neste momento, a nossa táctica será, sem dúvida alguma, caminhar num

processo de melhoria contínua, e vai continuar, implementar a leitura óptica,

apostar em clientes que apostem na nossa distribuição de pactária, apostar na

subcontratação em detrimento da frota própria... Todas essas são as nossas

tácticas, para um plano de melhoria contínua.”

2. A Cadeia de Abastecimento representa a estrutura na qual se desenvolvem

as actividades logísticas de armazenamento, transporte, gestão de stock,

entre outras, constituindo a Logística, por isso, o foco da Cadeia de

Abastecimento. Neste contexto, como avalia a importância da Cadeia de

Abastecimento para o desempenho logístico da sua organização?

R: “Nós fazemos todo o tipo de distribuição, excepto alimentar. Nós fazemos

distribuição em grandes superfícies, mas as grandes superfícies e as centrais de

compras não recepcionam unicamente produtos alimentares. Até porque os

produtos alimentares carecem de uma frota dedicada: algumas com frio, outras

com determinadas especificidades. Nós não fazemos esse tipo de distribuição.

Alimentar, não. Fazemos todo o tipo de distribuição e estamos a iniciar, neste

momento, a distribuição farmacêutica. Eles são a sustentabilidade do nosso

negócio, sem dúvida alguma. Nem se pode pensar ao contrário. Se não fossem

os clientes que apostassem na nossa distribuição e se nós não tivéssemos com

o foco máximo no cliente, os clientes deixariam de apostar em nós e a

Transporta não existiria, como é natural. No entanto, nunca podemos achar que

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estamos a servir bem o cliente, temos que pensar sempre que podemos servir

melhor.”

3. De que forma é que as opções estratégicas fundamentadas na Cadeia de

Abastecimento, no que concerne aos fluxos físicos e de informação,

concorrem para a definição da estratégia na sua organização?

R: “O que movimenta a empresa, sem dúvida alguma que serão os fluxos físicos

de carga: se a carga não chegar, nós não temos forma de a distribuir, se a carga

não sair para distribuição, nós não a podemos entregar. Portanto, os fluxos

físicos, tanto de manuseamento de mercadorias, como de triagem, segregação,

carregamento, descarga, todos esses fluxos são a base do nosso serviço.

Quanto aos fluxos administrativos, acaba por ser uma… Nós temos vários fluxos

administrativos que será, digamos… uma parte será a fotografia. O que é que eu

quero dizer com a fotografia: diariamente nós temos um departamento que nos

tira a fotografia do trabalho que foi realizado, naquele dia de actividade. Ou seja,

os resultados, a performance a atingir, os custos… Nós temos um departamento

específico que nós dá essa fotografia. E nos precisamos de saber, para saber se

estamos a melhorar e o que é que podemos fazer para melhorar no dia seguinte.

Temos outros departamentos, da parte administrativa: o fecho do dia dos

motoristas, a tratamento de determinadas entregas que foram devolvidas pelos

clientes o serviço de apoio ao cliente, também é um serviço considerado mais ou

menos administrativo, é o departamento que tem contacto com o cliente e que

pode servir o cliente mais directamente do que as operações. A importância é

total. Aliás, nós não podemos manter na organização um processo que não seja

importante. Qualquer processo que não seja importante tem imediatamente que

ser extinto porque acabamos por despender recursos, não racionalizar os

recursos que temos e estamos a fazer um processo que acaba por não ser

viável para a própria empresa.”

4. Na sua opinião, como devem as organizações encarar a gestão estratégica

(representada de forma sucinta por um processo de análise, planeamento,

implementação e avaliação), em ordem a cobrir as diferentes áreas e

actividades logísticas afim à Cadeia de Abastecimento?

R: “É o seguinte. Eu acho que uma empresa tem que estar munida de pessoas,

em primeiro lugar, competentes, em segundo lugar, dedicadas e em terceiro

lugar, que saibam trabalhar em equipa. (…) Tanto o nosso motorista tem uma

opinião válida, mediante as dificuldades que se possam apresentar na

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distribuição, como a nossa administração também apresente soluções,

apresente também alguns problemas para nos resolvermos. Ou seja, a estrutura

da Transporta, nesta fase, é uma estrutura que está equilibrada, que todas as

pessoas sabem perfeitamente aquilo que têm que fazer, todas as pessoas

sabem quais são os seus indicadores-chave para cumprir os seus objectivos

diários. O que é curioso nesta empresa é que desde a administração até ao

motorista (…) todo o grupo em si, desde o administrador, até ao operador de

armazém, até ao hub manager, o motorista, têm as suas funções de maior

importância na empresa. E todas as pessoas trabalham em conjunto. (…)

Trabalhamos em conjunto, sabemos por onde é que havemos de remar, isso é o

mais importante nas organizações. O serviço diária de distribuição dos

motoristas é planeado por alguém, é planeado pelos gestores de rotas. Se o

serviço diário, de manhã, for mal planeado, for mal gerido, se houver um desvio

de dois centímetros de manhã, ao final do dia vamos ter um desvio de dois

metros. Ou seja… O maior indicador, com toda a franqueza, o maior indicador

não será um quadro que nos recebemos com a performance que nós atingimos.

O maior indicador, se estamos ou não a cumprir os objectivos é a resposta de

um cliente. Se um cliente fizer alguma reclamação é porque nós não estamos a

atingir aquilo para que estamos a trabalhar ou estamos a trabalhar no sentido

errado. Portanto, não há maior indicador que um cliente. Portanto: há um

planeamento de rotas de distribuição, há uma gestão de rotas, há um

planeamento dessas mesmas rotas e os motoristas carregam a mercadoria. Se

houver um desvio nesse planeamento, vai afectar a nossa performance. O

objectivo que nós pretendemos, nós temos uma determinada performance a

atingir, que será prejudicada se não for atingida. Ou seja, se houver alguma

anomalia, de manhã na distribuição, uma falta de atenção, um descuido, alguma

coisa, vai se reflectir no final do dia. E é através dessa fotografia que nós

conseguimos ter a percepção do que é que falhou. E essa fotografia é diária.

Críticas, que carecem de maior atenção: eu acho que todas as áreas merecem a

nossa atenção. No entanto, face ao nosso serviço diário, que é a distribuição, e

que nós acabamos por ceder a nossa mercadoria a parceiros que são os nossos

subcontratados, temos que ter uma atenção redobrada. Poderá ser a minha

gestão (…) eu não descanso porque o serviço não é feito por mim, ou seja, eu

até ao final do meu dia de trabalho eu não estou descanso enquanto o serviço

não for realizado. Porque não é feito por mim e eu tenho que ter a confirmação

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daquele subcontratado que o serviço foi efectuado. Portanto, tem que haver uma

atenção redobrada nesse caso. Porque o que move a nossa empresa é sem

dúvida a distribuição: é os fluxos de entrada e saída de mercadoria aos nossos

clientes e só é concluído, quando a entrega é finalizada. Todos os indicadores

têm que ser olhados na mesma proporção. (…) nós conseguimos atingir, sem

dúvida alguma, diariamente o objectivo máximo da qualidade de serviço, mas os

custos vão disparar. Ou seja, nos temos que racionalizar, rentabilizar os

recursos e dessa forma fazer um controlo apertado a todo o nosso serviço, para

que seja cumprido com o mínimo de custos e a máxima qualidade de serviços.”

5. Dos principais fundamentos subjacentes ao conceito de estratégia

empresarial, destaca-se a necessidade de um Planeamento Operacional e

Táctico, mais flexível no que diz respeito aos meios disponíveis e ao tempo

de aplicação. Em que medida entende que este elemento, mais notável nas

actividades correntes e difundido pelas diferentes unidades da empresa,

deve responder às exigências definidas superiormente, ao nível

estratégico?

R: “Este aqui é o meu escritório e eu consigo ver praticamente quase todo o

armazém daqui. Eu raramente estou aqui em cima. Porque eu tenho que estar

no meio da operação. Eu diariamente estou la em baixo, no escritório, ao pé dos

meus colegas, a fazer uma gestão com eles. (…) Eu não trabalho sozinho, eu

não faço as coisas sozinho, sozinho não consigo fazer nada, como é natural.

Exijo que nós trabalhemos aqui diariamente em equipa. Ou seja, eu tenho que

dar este exemplo, eu tenho que estar ao pé da minha equipa para demonstrar

que juntos nós vamos conseguir atingir os objectivos. Lá está, nos nunca

podemos achar que assim está perfeito. Que estamos a fazer bem e que assim

está perfeito, é isso mesmo que nós queremos. Não. Ok, está bom assim, mas

nós conseguimos fazer melhor. Vamos melhorar. E temos que estar diariamente

com este raciocínio: é o total costumer focus, entregar na data prevista e em

perfeitas condições, e que é possível fazer melhor. Diariamente temos que ter a

ideia que é possível fazer melhor e apresentar soluções, como é natural, não é

só achar que é possível fazer melhor e não trabalharmos nesse sentido. E

qualquer departamento nunca pode achar que é autónomo. Porque nós temos

que trabalhar em equipa e o departamento administrativo não funciona sem o

operacional e vice-versa. A administração não funciona sem o departamento

operacional, nem sem o departamento administrativo nem sem financeiro e vice-

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148

versa. Temos que trabalhar em conjunto. Todos os departamentos, o financeiro,

o departamento de soluções à medida que nós temos, as operações, o

departamento administrativo, a informática, todos os departamentos sabem qual

é a missão da empresa. Inclusive (…) tivemos mais uma formação relativamente

as missões e os objectivos que nós pretendemos atingir na empresa. Ou seja,

não vamos dar margem para que haja falhas. Porque na nossa empresa temos

um espírito que, falhar não é opção.”

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APÊNDICE Z – ENTREVISTA 9

Interlocutor: Dr. João Carlos

Entrevistador: Lury Décio Pedro dos Santos

Cargo/Empresa: Director de Logística/TRANSVIARIA, S.A.

Data: 21 de Março de 2013

Hora: 10h30

Local: Rua Severiano Falcão nº 8, Prior Velho

Guião de Entrevista:

1. A Logística assume uma reconhecida importância no planeamento de

necessidades de abastecimento ao longo da história da humanidade,

evoluindo da simples distribuição física para abarcar um vasto conjunto de

actividades e serviços, por forma a responder à necessidade crescente de

redução de custos e acréscimo de valor. Neste sentido, como avalia o

desempenho logístico da sua organização, por forma a cumprir a sua

missão e os objectivos definidos estrategicamente?

R: “A TRANSVIARIA é uma empresa do grupo Cimpor. Desde sempre tomou

conta de quase todas as operações de transporte e algumas até de logística de

todo o grupo. Do grupo, nomeadamente em Portugal. A TRANSVIARIA actua só

no mercado em Portugal. O Grupo Cimpor, como sabes, está representado em

vários países e portanto, a TRANSVIARIA tem uma actuação de caracter

doméstico, ou seja, só actua em função da sua organização em Portugal apesar

de carregarmos em Espanha e noutros sítios, mas sempre com uma base de

fornecimento em Portugal. A TRANSVIARIA, portanto, é o serviço de logística do

grupo Cimpor. (…) Tudo o que é transporte e algumas questões logísticas é tudo

feito pela TRANSVIARIA, noventa e tal por centos é assumido pela

TRANSVIARIA. Depois há duas ou três empresas do grupo que têm transporte

próprio e que gerem esta situação fora da TRANVIARIA. Portanto, a área dos

betões e a área dos agregados, são eles próprios que gerem a sua distribuição.

Tudo o resto, tudo o que é Cimpor é a TRANSVIARIA que faz. Portanto isso

equivale a noventa e tal por cento de todo o volume do grupo. (…) A missão da

TRANSVIARIA é fazer com que o leque, ou portfólio, de tudo aquilo que faz, crie

ou gere valor para o grupo. Ou seja, nos dominando os diversos produtos que

transportamos (…) contamos que isso gere valor para o grupo, gere valor na

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cadeia, ou seja, permite-nos ter uma negociação maior em relação aos

fornecedores e em relação a tudo o resto: há optimização dos recursos, há

optimização das frotas, há optimizações das operações para determinados

fornecimentos e abastecimentos. (…) Maioritariamente é tudo intra-grupo. Cerca

de 90 por cento é tudo feito dentro do grupo. Depois temos 10% da nossa

actividade que está dispersa por alguns clientes externos. (…) A Cimpor tenta

desde a origem, desde as suas matérias-primas, controlar a sua cadeia de

abastecimento. Ou seja, nem está dependente de um fornecedor de matéria-

prima (…) tem pedreiras, tem as suas próprias fontes de abastecimentos e

depois, tenta ao máximo que a parte do transporte, a parte da movimentação,

também se faça toda dentro da sua esfera de actuação. Por isso é que

subcontrata a TRANSVIARIA para fazer isso. Invés de estar a subcontratar fora,

não, as encomendas todas vêm ter aqui e nós fazemos internamente a… Aquilo

que lhe posso dizer é que, a função logística com a entrada desta nova

administração – nós fomos adquiridos por um grupo InterCement, no passado

ano – e este grupo, InterCement, além de operador logístico é operador

ferroviário, no Brasil tem estrutura ferroviária (…) é um grupo que tem muita

visão da parte logística enquanto elemento fundamental na criação de valor. (…)

nós estamos consecutivamente a tentar encontrar soluções que possam ser ou

optimização daquilo que fazemos hoje ou que possam ser uma alternativa àquilo

que fazemos hoje. Portanto, a função logística, nesta empresa, ganhou uma

expressão que não tinha antes. (…) entendia-se que o fundamental era produzir,

fundamental era vender. (…) Portanto, o nosso papel hoje não é só este. Hoje a

logística está a ser francamente observada, está a responder a novos desafios.

(…) hoje tudo é possível fazer, é tudo uma questão de ver se o retorno é

superior ao investimento ou se de facto vale a pena avançar para este tipo de

operações que para nós estava completamente posto de parte. (…) Agora, a

logística hoje tem um papel fundamental na redução de custos (…). Hoje fala-se

na logística, em termos de peso, em termos de intervenção, como se falava

numa área comercial ou numa área de produção. (…) Nós fazemos uma reunião

de tudo… O peso das quantidades movimentadas com a optimização de

recursos, com a negociação com os fornecedores, com procurar alternativas de

transporte que até aí não tinham sido exploradas e tudo isso tem trazido grandes

poupanças na colocação do produto no destino. (…) Como sabe, o país está

com as dificuldades que está, o mercado interno caiu completamente. Para onde

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é que nós tivemos que nos virar – como quase todas as empresas – exportação,

exportação, exportação. Exportação, como se sabe, os preços têm que ser ainda

mais competitivos (…). Nós estamos com mais de 60 por cento da nossa

produção, neste momento, exportada e este ano ainda pretendemos aumentar

mais. (…) Tivemos que ajustar. (…) Actualmente, tudo o que é exportação é

uma operação regular. (…) Portanto, essa é a nossa luta, transportar muito

volume à baixo custo. (…) O foco da exportação obriga-nos ainda mais a esta

racionalização. Portanto, tudo aquilo que não for optimizado, tudo aquilo que não

for feito com eficiência… aquilo que seria um negócio rentável ou vantajoso

passa a ser um negócio com prejuízo. As margens são de tal maneira

esmagadas que basta um deslize para que não se cumpra o objectivo… Nós

temos cumprido o objectivo… Se nós não fôssemos vistos como uma fonte de

acréscimo de valor, certamente seria muito mais fácil a empresa contratar à

terceiros. (…) Nós estamos de alguma forma a ser comparados, porque o grupo

não se cinge só a consultas à nossa área, o grupo faz consultas externas para

saber, também, se os valores que estamos a praticar, se tudo isto, de facto é

vantajoso ou não. (…) Portanto, nós temos que corresponder as necessidades

como temos que ser competitivos. Nesse aspecto, eu acho que o nosso trabalho

é bom, tem um peso grande em tudo o que a empresa faz. (…) Falo com base

no histórico… A TRANSVIARIA existe há vinte anos como empresa de

transporte do grupo, se transporta noventa e tal por cento daquilo que o grupo é,

é porque eventualmente vêem que o trabalho que está a ser feito, de alguma

forma, está a cumprir aquilo que é necessário.”

2. A Cadeia de Abastecimento representa a estrutura na qual se desenvolvem

as actividades logísticas de armazenamento, transporte, gestão de stock,

entre outras, constituindo a Logística, por isso, o foco da Cadeia de

Abastecimento. Neste contexto, como avalia a importância da Cadeia de

Abastecimento para o desempenho logístico da sua organização?

R: “Que não haja dúvida nenhuma… Nós, sem essas organizações, sem essa

estrutura, não temos qualquer tipo de… Repare bem, a TRANSVIARIA não tem

frota própria logo não é uma empresa transportadora. Nós actuamos como

transitários. Já tivemos frota própria em tempos. Portanto, não tendo frota

própria estamos dependentes de fornecedores externos. Portanto o nosso

trabalho aqui é justamente a procura de soluções no mercado para ir ao

encontro dos nossos clientes. Esses clientes que nós temos, obviamente são o

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segredo da nossa existência. No dia que eles tiverem frota própria, ou

contratarem externamente, a TRANSVIARIA deixa de existir. Obviamente para

nós, isso é o mais importante… É o foco no cliente. (…) às vezes falta produto,

pode não haver clientes, mas quando falta o fornecimento, por uma questão

logística, a coisa tem logo um impacto brutal.(…) Que não haja dúvida que a

parte logística tem hoje uma dimensão enorme… é a parte onde existe mais

possibilidades, as fábricas já fizeram muito o seu papel de redução de custos. As

fábricas hoje têm tudo tão optimizado, mais que o que está é difícil (…) os

clientes também procuram soluções cada vez mais baratas… onde sobra aqui

alguma coisa é a parte do meio, da logística, onde ainda é possível melhorarmos

em termos de competitividade. (…) Nós temos muito poucos clientes externos,

mas temos dois ou três clientes que nos levam a crer que nós de facto fazemos

um bom trabalho. Por exemplo, um grupo Mota-Engil se recorre directamente à

TRANSVIARIA, sabemos que é um grupo muito competitivo, sabemos que ele

sabe que é que está a comprar… Portanto, se ele recorre à TRANSVIARIA, há

anos aos nossos serviços, é um indicador de que, eventualmente, somos de

facto competitivos ou de que, pelo menos, estamos à altura da concorrência.”

3. De que forma é que as opções estratégicas fundamentadas na Cadeia de

Abastecimento, no que concerne aos fluxos físicos e de informação,

concorrem para a definição da estratégia na sua organização?

R: “A informação é fundamental… Não há nenhuma logística minimamente

eficiente se não houver informação disponível e informação pertinente. Ou seja,

se não houver uma boa programação um bom planeamento… tudo o que é

planeado em cima do joelho dá mau resultado… Dá mau resultado porque são

eles que estão à programar, esses clientes... nos estão a programar em cima da

hora, estão-nos a dar menos tempo, se nos estão a dar menos tempo também

nos estão a dar menos capacidades, menos possibilidades de escolher a

melhor alternativa. (…) eu para fornecer mil toneladas num determinado prazo,

ou me preparo devidamente, ou me dão um timing suficiente, ou tem que me dar

um timming para trás suficiente para arranjar a melhor solução. Porque se não o

que me pode acontecer é ou não ter meios para o fazer, ou estar a comprar

eventualmente mais caro do que aquilo que podia fazer. Hoje o nosso maior

desafio, para você ter uma ideia, face a conjuntura em que estamos – as

empresas de transporte, como você sabe, estão em muito mau estado – hoje o

maior desafio é tentar, havendo falta de trabalho, como há, e depois aparece os

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chamados picos, aparece um navio e portanto nós não temos uma actividade

sempre regular. A nossa grande dificuldade é fixar recursos (…) Portanto a

gestão da TRANSVIARIA hoje é ter criatividade. Criatividade para as

dificuldades que existem que são enormes. (…) Nós, fluxos físicos, é como lhe

digo, pode ser em termos de… Vamos lá ver… Em Portugal nós temos três

fábricas, Norte, Centro e Sul (…) Depois há várias pedreiras, temos várias fontes

de matéria-prima. (…) Nós temos mais ou menos o país divididos desta forma.

Em três áreas geográficas (…) Há operações que são regulares, operações que

já são tão exploradas, tao batidas que para nós é uma rotina (…) já é uma coisa

tão habitual que, independentemente do volume que possa ter, ser elevado,

fazemos aquilo com alguma tranquilidade. O problema está, quando aparece um

novo negócio. (…) Os grandes desafios vêm quando essas operações são

criadas noutros locais. (…) nós não tendo frota própria, obriga-nos sempre a ir

fora contratar. (…) Temos que procurar no mercado, respostas às nossas

necessidades. (…) Estou a falar muito na rodovia porque, maioritariamente a

nossa actividade é rodoviária. Fazemos também muito por ferrovia, mas a

ferrovia é mais uma base de abastecimento a nossa rede de distribuição, a

nossa rede de entrepostos. (…) A informação é a base de um trabalho, desde o

início ao fim… Nós temos que ter informação para carregar, mas também temos

que ter informação no acto de descarga. Quanto mais informação nós tivermos,

mais fácil se torna fazer as coisas, mais fácil se torna também procurar

melhorias (…) Os fluxos físicos, é como lhe digo… não só os locais de

abastecimento, ou seja, as nossas fábricas devem estar de alguma forma bem

localizadas e devemos procurar sempre a melhor solução. E depois também

temos que ter a melhor solução, quem é que vai transportar o produto que sai

dessas fábricas. Há mercados onde nós não operamos (…) estamos

completamente no zero. Obriga-nos a repensar, obriga-nos a trabalhar com

novos parceiros, com empresas que não conhecemos. Ultimamente, face as

exigências que há, isso tem acontecido muito porque, só como estávamos, não

conseguíamos dar resposta… E obriga-nos a ter que arriscar.”

4. Na sua opinião, como devem as organizações encarar a gestão estratégica

(representada de forma sucinta por um processo de análise, planeamento,

implementação e avaliação), em ordem a cobrir as diferentes áreas e

actividades logísticas afim à Cadeia de Abastecimento?

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154

R: “Há sempre um planeamento estratégico. A nossa empresa tem um

orçamento, tem um plano estrategicamente definido (…) que nos diz quais são

os caminhos e quais são os objectivos que nós temos que cumprir. Portanto,

tudo isso aí depois desce por cascata e aplica-se à todas as áreas que

intervêm… A nossa gestão de topo tem um objectivo, exportar mais ou ter uma

quota no mercado interno de x, é mediante essas metas que nos temos que

adequar a nossa actuação. Portanto, hoje mais do que nunca a gestão

estratégica está sempre subjacente àquilo que fazemos. Nós neste momento

estamos a ser avaliados mensalmente por tudo o que é desvio ao orçamento.

(…) Hoje o que existe é uma gestão muito apertada… Temos cada vez menos

pessoas, temos que fazer igual ou mais do que aquilo que fazíamos (…) não

podemos dizer que as coisas estão mal feitas porque temos menos pessoas.

Temos que fazer as coisas bem e com menos recursos. Portanto, isso é

transversal a todas áreas da empresa… Existe uma análise, existe um

planeamento que é implementado, existe uma avaliação que é cada vez mais

apertada. (…) Nós temos neste momento, em qualquer tarefa que fazemos,

temos um ciclo de PDCA. No fundo é o planeamento, implementar, fazer e

avaliarmos. Ou seja, o que está neste momento a ser implementado a todos os

níveis, à todas as áreas, seja recursos humanos (…) Todas as tarefas que lá

existem têm um plano, tem portanto um ciclo de PDCA (…) Ou seja, as tarefas

nucleares de uma determinada área, não estão só nos livros, está a ser feito na

prática. Mesmo aquelas operações que dizemos que correm bem, que são de

rotina, está a ser implementado este tipo de método. (…) Portanto, para mim

destas quatro são todas importantes. Se considerarmos cem por cento, cada

uma tem um peso de vinte e cinco por cento. Ou seja, cada fase alimenta a

outra. Essa é a base de uma boa gestão. Não há gestão nenhuma que não exija

um estudo, um planeamento devidamente adequado (…) e depois sabermos

avaliar correctamente, numa vertente muito crítica. (…) O nosso objectivo

sempre é a melhoria contínua. Portanto, se nós não fizermos este ciclo PDCA,

nós estamos sempre na mesma. (…) Não há muito indicadores no sector. Em

termos de índice de preços (…) no nosso tipo de negócio não há uma referência.

Noutros países existe… Se estamos a comprar bem, se estamos a comprar mal.

Agora, nós temos indicadores próprios, indicadores que consideramos

pertinentes que vai desde volumes de negócios, EBITDA`s, quantidades

transportadas, margens, esses são os nossos indicadores… Depois tem os

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indicadores que nascem do planeamento estratégico a dizerem que nós temos

que transportar x. (…) Tudo isto vai beber ao orçamento. Ou seja, a gestão de

topo tem um orçamento para a área e depois vamos ser medidos em função do

cumprimento destes indicadores… Indicadores externos são muito poucos. (…)

Os nossos indicadores estão criados com base numa necessidade do

orçamento, primeiro que tudo, e numa base de experiência, em que sabemos

qual é o mínimo que devemos cumprir.”

5. Dos principais fundamentos subjacentes ao conceito de estratégia

empresarial, destaca-se a necessidade de um Planeamento Operacional e

Táctico, mais flexível no que diz respeito aos meios disponíveis e ao tempo

de aplicação. Em que medida entende que este elemento, mais notável nas

actividades correntes e difundido pelas diferentes unidades da empresa,

deve responder às exigências definidas superiormente, ao nível

estratégico?

R: “Nós temos um planeamento, totalmente autónomo. Operacional e táctico são

autónomos. Obviamente que isso tem interesses comuns... A estratégia que nós

delineamos tem sempre subjacente também aquilo que é… Imagine por

exemplo: o grupo pretende fazer exportação por parte marítima, mas

imaginemos que faz por via terrestre. Não somos nós que vamos decidir se vai

por marítima ou se vai por via terrestre. Temos uma logística corporativa que

define quais são as melhores formas de escoamento dos nossos excedentes e

isso…Portanto, temos uma parte logística corporativa que define isto. Nós

montamos o nosso plano operacional/táctico em função logo dessas directrizes.

Não sou eu que decido se vai marítimo ou se vai rodovia ou ferrovia, eu tenho é

o poder de influenciar. Aqui a nossa função é chegar a esta parte (…) e dizer

assim, vocês estão a querer isso, nós temos esta proposta: vamos fazer isto por

comboio porque é mais barato; aqui convém fazermos por rodovia porque somos

mais rápidos a responder. (…) Tem que responder, por um lado aquilo que nos é

pedido e depois tem que responder aquilo que nós definimos como estratégia da

empresa. Ou seja, imaginemos que eu tenho um transporte que me rentabilize

muito mais em termos de margem ou que nós podemos ter uma capacidade de

resposta muito maior. Se o meu cliente diz que não entram lá comboio (…) fico

totalmente amarrado àquilo que o cliente quer. (…) Os meios que nos informam

nos permitem ter mais opções. (…) A função logística, para além da componente

operacional e táctica que tem, há uma coisa que não pode falhar mesmo que é a

flexibilidade. A flexibilidade pode se aplicar à tudo… Flexibilidade no pensar,

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naquilo que nós queremos estrategicamente alcançar. Ou seja, não podemos

estar agarrados a parte operacional e táctica de uma forma rígida… Flexíveis…

diria proactivos. Não podemos arranjar soluções só quando o problema

acontece. Devemos estar sempre um bocadinho mais a frente. (…)

Normalmente acontece sempre qualquer coisa e tem que haver um plano B, já

para não dizer um plano C, tem que haver sempre planos alternativos. (…)

Temos que arranjar novas formas de criar negócio. Este enfoque que a empresa

vem a dando na componente logística também nos deu a nós mais capacidade

de intervir. Antigamente, tínhamos menos autonomia, hoje temos um papel, não

só como prestador de serviços do grupo, mas também como uma área que de

facto é vista como um acréscimo de valor. (…) Hoje, as pessoas estão muito

mais atentas e muito mais disponíveis para ouvir soluções alternativas. (…) Isto

exige aqui uma sinergia muito grande entre a parte produtiva, logística e

comercial. Normalmente, cai muito na parte logística arranjar soluções. (…) As

fábricas têm o seu papel que é ter menos custos e eu tenho que arranjar formas

de motivar os prestadores de serviços… Por exemplo, eu não posso falar com a

CP (…) para que a CP me consiga manter os preços que tem hoje, eu tenho que

tentar com que eles façam comboios completos… Os comboios andarem a

passear não sei quantos quilómetros, com dois ou três vagões tem custos para

eles, mas mais tarde vai ter custos para nós porque eles não vão aguentar a

estrutura... Isso vai se reflectir nos mercados. Isso exige um grande esforço e a

visão tem que ser de todos, não é uma visão da parte logística… Todos têm que

funcionar para um único objectivo. (…) Essa administração tem um enfoque

muito grande nisso porque provoca a discussão em todas as áreas.”

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ANEXOS

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ANEXO I – GESTÃO ESTRATÉGICA COMO PROCESSO SEQUENCIAL

Ilustração 18 - A Gestão Estratégica como Processo Sequencial

Fonte: Santos,2008, p. 326

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159

ANEXO II – COMPONENTES DA ESTRATÉGIA

Ilustração 19 - Componentes da Estratégia

Fonte: Rascão,2001, p. 55

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160

ANEXO III – O PIPELINE DA SUPPLY CHAIN

Ilustração 20 - O Pipeline da Supply Chain

Fonte: Courtois et al., 2007, p. 380

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161

ANEXO IV – SISTEMA DE INFORMAÇÃO DA CADEIA DE ABASTECIMENTO

Ilustração 21 - Sistema de Informação da Cadeia de Abastecimento

Fonte: Bowersox et al., 2007, p. 110

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162

ANEXO V – POPULAÇÃO E AMOSTRA

Em Portugal existem um total de 19.991 empresas com o código de

actividade empresarial 49, 50 e 51 (Caminhos de ferro, Transporte marítimo e

Aéreo). Desse número, seleccionou-se o Top 100 ou as cem primeiras empresas do

ramo com o maior volume de negócios100, de acordo com a AEP (Associação

Empresarial de Portugal).

CAE NOME CONCELHO Volume de Negócios

Nº Empregados

51100 TRANSPORTES AÉREOS PORTUGUESES, S.A.

Lisboa 2.122.903.680 6955

51100 NETJETS - TRANSPORTES AÉREOS,S.A. Oeiras 393.462.595 400

49100 CP - COMBOIOS DE PORTUGAL, EPE Lisboa 263.564.269 3200

50200 SONASURF INTERNACIONAL - SHIPPING,LDA

Funchal 191.428.253 0

50200 UNITED EUROPEAN CAR CARRIERS, UNIPESSOAL LDA (ZONA FRANCA DA MADEIRA)

Funchal 172.615.206 0

51100 SATA INTERNACIONAL - SERVIÇOS E TRANSPORTES AÉREOS, S.A.

Ponta Delgada

160.780.354 500

49310 METRO DO PORTO, S.A. Porto 159.115.229 130

50200 BOURBON OFFSHORE INTEROIL SHIPPING - NAVEGAÇÃO, LDA.

Funchal 153.414.199 4

49410 LUÍS SIMÕES LOGÍSTICA INTEGRADA, S.A.

Loures 128.579.204 638

50200 UNITED BULK CARRIERS INTERNATIONAL, NAVEGAÇÃO,SOCIEDADE UNIPESSOAL,LDA

Funchal 126.598.884 0

49500 REN - GASODUTOS, S.A. Loures 122.780.917 124

49410 PATINTER - PORTUGUESA DE AUTOMOVEIS TRANSPORTADORES, S.A

Mangualde 99.405.460 1100

51100 HI FLY - TRANSPORTES AÉREOS, S.A. Lisboa 80.624.111 44

49310 COMPANHIA CARRIS DE FERRO DE LISBOA, S.A

Oeiras 78.309.109 2771

49310 METROPOLITANO DE LISBOA, EPE Lisboa 68.077.417 1569

51100 SATA AIR AÇORES - SOCIEDADE AÇORIANA DE TRANSPORTES AÉREOS, S.A.

Ponta Delgada

66.000.000 696

51100 WHITE - AIRWAYS, S.A. Oeiras 65.982.977 142

50101 TRANSINSULAR - TRANSPORTES MARITIMOS INSULARES, S.A.

Lisboa 63.447.725 121

49310 BARRAQUEIRO TRANSPORTES, S.A. Lisboa 63.227.850 1089

51100 PORTUGÁLIA - COMPANHIA PORTUGUESA DE TRANSPORTES AÉREOS, S.A.

Lisboa 58.230.489 533

51100 DEUTSCHE LUFTHANSA AKTIENGESELLSCHAFT

Lisboa 58.036.287 59

50200 SACOR MARITIMA, S.A. Lisboa 54.509.571 22

49410 TRANSBASE-TRANSPORTE E LOGISTICA, S.A.

Alcanena 52.123.981 847

49410 LASO - TRANSPORTES, S.A. Mafra 52.038.653 270

49410 ND (PORTUGAL) - TRANSPORTES, LDA Vila Nova de Gaia

51.148.523 175

100

Cfr. http://www.aeportugal.pt/, consultado em 20/01/2013 às 23h10.

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163

49410 DILOFAR - DISTRIBUIÇÃO, TRANSPORTES E LOGÍSTICA, LDA

Lisboa 50.960.890 187

49410 DOCTRANS - TRANSPORTES RODOVIÁRIOS DE MERCADORIAS, LDA.

Vila Franca de Xira

50.735.157 470

49391 TST - TRANSPORTES SUL DO TEJO, S.A.

Almada 49.898.057 1165

49310 SOCIEDADE DE TRANSPORTES COLECTIVOS DO PORTO, S.A.

Porto 49.346.139 1454

50200 PORTLINE - TRANSPORTES MARÍTIMOS INTERNACIONAIS, S.A.

Lisboa 47.454.623 93

49410 TRANSPORTES ENCARNAÇÃO, S.A. Loures 45.190.650 0

49410 TJA - TRANSPORTES J. AMARAL, S.A. Estarreja 40.461.556 466

49410 TRANSPORTES FLORÊNCIO & SILVA, S.A.

Mafra 38.787.320 723

49410 TORRESTIR - TRANSPORTES NACIONAIS E INTERNACIONAIS, S.A

Braga 38.067.773 4

51100 EUROATLANTIC AIRWAYS - TRANSPORTES AÉREOS, S.A.

Sintra 37.351.784 337

50200 BOX LINES NAVEGAÇÃO, S.A. Funchal 36.630.867 63

51100 BRITISH AIRWAYS, PLC. Lisboa 34.653.357 36

50101 BSLE MALTA, LDA (ZONA FRANCA DA MADEIRA)

Funchal 34.081.301 0

49410 TRANSPORTES PAULO DUARTE, LDA Torres Vedras

33.623.047 670

49310 RODOVIÁRIA DE LISBOA, S.A. Lisboa 33.393.615 773

51100 HELIPORTUGAL - TRABALHOS E TRANSPORTE AEREO,REPR.IMP.E EXPORTAÇÃO, SA.

Cascais 33.221.432 59

49410 SDF PORTUGAL - SERVIÇOS DE DISTRIBUIÇÃO FRIGORIFICA, LDA

Vila Franca de Xira

33.157.443 333

49391 RODOVIARIA DO TEJO, S.A. Torres Novas 33.110.008 618

49410 TRANSPORTES BROLIVEIRA, LDA. Ourém 32.048.696 295

49410101

RODO CARGO - TRANSPORTES RODOVIÁRIOS DE MERCADORIAS, S.A.

Vila Franca de Xira

31.429.855 400

51100 OMNI - AVIAÇÃO E TECNOLOGIA, S.A. Oeiras 30.371.626 57

49410 TRANSPORTES PASCOAL, LDA. Mealhada 30.082.206 244

49410 EMPRESA DE TRANSPORTES ÁLVARO FIGUEIREDO, S.A.

Oliveira de Azemeis

29.850.000 295

49410 TRANSPORTES ANTÓNIO FRADE LDA Arruda dos Vinhos

29.466.101 460

49410 ZAS - TRANSPORTES E LOGÍSTICA, S.A Mafra 27.963.094 200

49410 TRANSVIARIA - GESTÃO DE TRANSPORTES, S.A.

Loures 27.277.132 17

49410 TRANSPORTES AZKAR ( PORTUGAL), SOCIEDADE UNIPESSOAL, LDA

Vila do Conde

26.935.516 108

49310 FERTAGUS-TRAVESSIA DO TEJO TRANSPORTES, S.A.

Almada 26.908.544 188

49391 EVA - TRANSPORTES, S.A. Faro 26.873.896 381

49410 TERRA A TERRA, PRODUTOS AGRÍCOLAS, LDA

Aveiro 26.519.434 0

51100 ORBEST, SA Lisboa 25.410.958 0

49410 TRANSPORTES CENTRAL POMBALENSE, LDA.

Pombal 25.256.030 204

50200 ATLASNAVIOS - NAVEGAÇÃO, LDA Funchal 25.157.011 0

50200 MUTUALISTA AÇOREANA DE TRANSPORTES MARITIMOS, S.A.

Ponta Delgada

24.875.455 27

49200 CP CARGA - LOGÍSTICA E TRANSPORTES FERROVIÁRIOS DE MERCADORIAS, S.A.

Lisboa 24.313.190 0

50200 FOUR VANGUARD - SERVIÇOS E Funchal 23.419.666 0

101

Cinzento: Empresas entrevistadas.

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164

NAVEGAÇÃO, SOCIEDADE UNIPESSOAL LDA

49391 VIMECA TRANSPORTES - VIAÇÃO MECÂNICA DE CARNAXIDE, LDA

Oeiras 22.168.034 625

49500 GASODUTO CAMPO MAIOR - LEIRIA - BRAGA, S.A.

Lisboa 21.163.867 0

49410 TRACAR - TRANSPORTES DE CARGA E COMÉRCIO, S.A.

Vila Nova de Gaia

20.683.567 0

49391 RODOVIARIA DO ALENTEJO, S.A. Évora 20.367.216 424

50200 ERSHIP (PORTUGAL) - TRANSPORTES MARÍTIMOS S.A.

Funchal 19.261.137 6

49410 TRANSPORTA - TRANSPORTES PORTA-A-PORTA, S.A.

Maia 18.811.177 372

49410 TOTALMÉDIA - ENTREGAS AO DOMICÍLIO, S.A.

Lisboa 18.268.691 53

49410 JOÃO PIRES-INTERNACIONAL TRANSPORTES, LDA.

Vila Nova Cerveira

18.007.707 175

49310 HORÁRIOS DO FUNCHAL - TRANSPORTES PÚBLICOS, S.A.

Funchal 17.974.216 541

49410 TRANSPORTES MACHADO & BRITES, LDA.

Leiria 17.941.989 288

49391 RODOVIARIA DA BEIRA LITORAL, S.A Coimbra 17.866.109 376

49310 TRANSDEV MOBILIDADE, S.A Porto 17.598.704 49

49391 SCOTTURB - TRANSPORTES URBANOS, LDA.

Cascais 17.226.542 320

50200 EMPRESA DE NAVEGAÇÃO MADEIRENSE, LDA

Funchal 17.011.938 31

51100 LUFTHANSA CARGO AKTIENGESELLSCHAFT

Lisboa 16.978.676 10

49410 TRANSFRADELOS - TRANSPORTADORA DE CARGA, LDA.

Póvoa de Varzim

16.965.592 75

49391 VARELA & CIA. LDA Ponta Delgada

16.947.565 145

49410 TRANSMAIA - TRANSPORTES, LDA Trofa 16.005.097 175

50200 CIMPSHIP - TRANSPORTES MARÍTIMOS, S.A.

Funchal 15.784.095 0

49410 TRANSPORTADORA IDEAL DE ENVENDOS, S.A.

Alvaiázere 15.563.495 216

49410 BETZ PORTUGAL-TRANSPORTES RODOVIARIOS DE MERCADORIAS,LDA

Aveiro 15.557.608 197

49410 JLS - TRANSPORTES INTERNACIONAIS, S.A

Viseu 15.273.729 200

49410 ARCH & CA., LDA. Matosinhos 14.968.874 0

50101 GRAND CRUISE SHIPPING UNIPESSOAL, LDA

Funchal 14.783.364 677

49410 TN - TRANSPORTES M. SIMÕES NOGUEIRA, S.A

Vila Nova Famalicão

14.543.907 147

49410 SEAMODAL CARGO - UNIPESSOAL, LDA Lisboa 14.489.558 8

49410 FORCARGO-TRANSPORTES, S.A. Vila Nova de Gaia

14.287.190 150

49410 NCL - TRANSITÁRIOS E VIAGENS, S.A Matosinhos 14.232.085 26

50200 SCM LINES - TRANSPORTES MARÍTIMOS, SOCIEDADE UNIPESSOAL LDA (ZONA FRAN

Funchal 13.979.629 0

49410 TRANSPORTES HEITOR & CARLOS, LDA.

Arruda dos Vinhos

13.793.445 26

49392 ARRIVA PORTUGAL - TRANSPORTES, LDA

Guimarães 13.765.874 288

49391 RODOVIÁRIA D'ENTRE DOURO E MINHO, S.A

Braga 13.566.675 243

49410 RANGEL - DISTRIBUIÇÃO E LOGISTÍCA, S.A.

Maia 13.409.010 184

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165

49410 GIRAUD PORTUGAL-TRANSPORTES INTERNACIONAIS, LDA.

Matosinhos 13.353.416 42

49410 TRANSPORTES BERNARDO MARQUES, LDA.

Guarda 13.271.265 110

49410 TAS - PORTUGAL, S.A. Loures 13.202.280 325

49391 UNIÃO DE TRANSPORTES DOS CARVALHOS, LDA.

Vila Nova de Gaia

13.056.813 117

49410 LISESPO - TRANSPORTES, LDA. Loures 12.857.132 95

49410 LOGISTA, TRANSPORTES, TRANSITÁRIOS E PHARMA, UNIPESSOAL, LDA

Alcochete 12.813.126 106

Tabela 14 - Empresas Top 100 pela AEP, Ferrovia, Marítimas e Aéreas

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166

ANEXO VI – A COMPONENTE LOGÍSTICA DO EXÉRCITO

Ilustração 22 - Organigrama do Comando da Logística102

Ilustração 23 - Organização da Direcção de Material e Transportes

102

Cfr. http://www.exercito.pt/sites/CmdLog/Paginas/Organizacao.aspx, consultado em 1/05/2013 às 1h51.