A hora de jogo diagnóstica

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A HORA DE JOGO A HORA DE JOGO DIAGNÓSTICA DIAGNÓSTICA Profa. Ms Ludmila de Moura Profa. Ms Ludmila de Moura

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Apresentação teórica de como deve ser feita a hora de jogo diagnóstica ou ludoterapia.

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A HORA DE JOGO A HORA DE JOGO DIAGNÓSTICADIAGNÓSTICA

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Profa. Ms Ludmila de MouraProfa. Ms Ludmila de Moura

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BRINCADEIRA: PONTE PARA A REALIDADE

“AS BRINCADEIRAS DAS CRIANÇAS DEVERIAM SER CONSIDERADAS SUAS ATIVIDADES MAIS SÉRIAS”

Montaigne

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• Freud – brincadeira: • meio da criança efetuar suas

primeiras grandes realizações culturais e psicológicas;

• expressa a si própria;

• exprimem seus sentimentos e pensamentos;

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•A brincadeira é a “estrada real” para o mundo interno consciente e inconsciente da criança.

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•Brincadeira = escolha motivada por processos internos, desejos, problemas, ansiedades;

•O que se passa na mente da criança determina suas atividades lúdicas;

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•Brincadeira = como a criança vê e constrói o mundo – como ela gostaria que ele fosse, quais as suas preocupações e que problemas a incomodam

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•Brincar é sua linguagem secreta;

•Intervir = desvia a criança de seus propósitos inconscientes – a impede de dominar suas dificuldades psicológicas;

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• Exemplo:• menina de 4 anos – gravidez da

mãe – comportamentos regressivos (mamadeira, xixi na roupa, engatinhar)

• Após alguns meses – carinhosa com sua boneca, cuidando dela mais seriamente do que antes

• Significados ????

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• Medo que o bebê a privasse de suas gratificações infantis – ela mesma tentou supri-las

• Pensou que a mãe queria um bebê, que ela não era mais

• Se fosse um bebê, a mãe desistiria da idéia de outro

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• Após algum tempo – experimentou que ser bebê tinha desvantagens

• Ser mais crescida era melhor do que ser um bebê

• Resolveu ser como a mãe– Na brincadeira, ser como a mãe, agora– Na imaginação, tornar-se, no futuro,

mãe de verdade

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•Crianças maiores – para proteger sua maturidade - representam esses papéis como atores numa peça ou com bonecos (Personificação)

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• Brincar – esforço de simplesmente entender o mundo–Brincar de boneca, de trabalhar como os pais, imitar os irmãos mais velhos = entendê-los como pessoas, mas também por suas ocupações; saber o que significa ficar mais velha.

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• Esforço lúdico = autocurativo

• Brincar de cuidar de bonecas, ou de animais de verdade, como gostaria de ser cuidada – compensar deficiências sentidas.

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• Brincadeira:• Exercita o corpo e a mente• Satisfação de funcionar bem

sozinho e com os outros• Prazer imediato – se estende e se

transforma num prazer de viver• Duas faces – voltada para o

passado e para o futuro (deus romano Jano)

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• Brincadeira:• Resolver de forma simbólica

problemas não resolvidos do passado;

• Enfrentar direta ou simbolicamente questões do presente;

• Preparar-se para o futuro e suas tarefas.

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Outras funções da brincadeira:• Desenvolvimento das capacidades

cognitivas e motoras (Karl Groos)• Desenvolvimento intelectual

(Piaget)• Desenvolvimento do pensamento• Desenvolvimento da linguagem

– uso criativo das palavras – criar poesias – crianças mais otimistas

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Brincar ensina os hábitos necessários ao crescimento:–Persistência, perseverança - raramente conseguimos as coisas tão fácil ou rapidamente como gostaríamos

–Confiar na sua capacidade de vencer

(Tolerância à frustração)

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• Exemplo: entender que não precisa desistir desesperada se um bloco não se equilibra perfeitamente sobre outro, logo na primeira vez

• Repetição na brincadeira – luta com questões de grande importância – não encontrou solução para o problema que investiga – continua a procurá-la.

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• Repetição: perder o jogo, possibilidade de jogar de novo e vencer

• Entender que apesar de reveses temporários na vida, ainda pode ter sucesso, inclusive na mesma situação em que experimentou a derrota – (T jogar de verdade) (≠ fama)

• Enfatizar o prazer do jogo (processo)

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• Crianças – muito sensíveis a nossos sentimentos internos

• Não impor-lhes nossos objetivos• (T observador participante)• Limitar nossa participação a

entregar-lhe as peças ou ajudá-la, se pedir

• T – ter a paciência necessária de esperar

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Brincar de “gente grande”:• Prazer vem da fantasia de ser

grande piloto, músico, pintor, explorador, inventor, bailarina ou motorista de caminhão agora mesmo.

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FANTASIA E BRINCADEIRA

Através das brincadeiras baseadas nas fantasias imaginativas:

• Compensar as pressões que sofre na vida e das que se originam em seu inconsciente

• Torna-se mais familiarizada com o conteúdo de sua racionalização do desejo, assim como de alguns de seus desejos anti-sociais

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• Fantasia ira e hostilidade em jogos de guerra ou realiza seus desejos de grandeza, imaginando ser o Super-homem ou o Hulk ou um rei:

• Procura a satisfação indireta de devaneios irreais, de controlar outras pessoas, compensando o sentimentos de estar sujeita ao controle dos adultos, principalmente dos pais.

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DIFERENÇA ENTRE FANTASIA E BRINCADEIRA

• Imaginação: podemos tudo

• Representação da fantasia: sujeito às limitações da realidade

• (Criatividade)

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Crianças normais:• jogos de fantasia são uma tentativa

de separar a vida interna (imaginação), da vida externa da realidade – adquirir domínio sobre ambas

• Somente crianças com sérios distúrbios emocionais querem permanecer no mundo da fantasia

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• Através da brincadeira, a fantasia é modificada a ponto das limitações da realidade tornarem-se visíveis por meio da atividade lúdica.

• Ao mesmo tempo, a realidade é enriquecida, humanizada e personalizada, por ter sido impregnada de elementos inconscientes vindos das grandes profundezas de nossa vida interior.

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• Nas fantasias, nos sonhos, no inconsciente, tudo é possível. Nada precisa seguir uma seqüência ordenada; nada contradiz coisa alguma.

• No entanto, se o inconsciente não é influenciado pela realidade, permanece anti-social e caótico.

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• A realidade livre de elementos fantásticos permanece áspera, fria, emocionalmente insatisfatória, mesmo quando parece vir de encontro às nossas necessidades.

• Evidentemente, nossos mundos internos e externos precisam ser integrados de maneira harmônica, se quisermos ter uma vida satisfatória.

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• As crianças testam os limites que a realidade impõe, representando suas fantasias. Exemplo:

• Quando aborrecida com alguém, a criança imagina cortar fora a cabeça da pessoa. Não tem importância na fantasia, porque depois pode colar a cabeça de novo e tudo fica bem.

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• “Precisamos ter cuidado com nossos desejos e com o que pode acontecer quando se tornam realidade”

• A criança aprende isso quando vai além – decapita seu bichinho de brinquedo

• Visualiza em que consiste o seu desejo

• Com tais experiências, suas fantasias vingativas mudam aos poucos

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•Os desejos do inconsciente são moderados pelo impacto das limitações da realidade, tal como vivenciada na brincadeira

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A INTEGRAÇÃO DOS MUNDOS INTERNO E EXTERNO

• A idade das brincadeiras é o tempo certo para construirmos a ponte entre o mundo do inconsciente e o mundo real.

• Brincadeira que recorre à imaginação – passa dos significados simbólicos dos objetos para a investigação ativa de suas verdadeiras funções e particularidades

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Exemplo:• Criança constrói uma torre de

blocos e depois a derruba• Não apenas - depois de ter agido

“construtivamente”, suas tendências destrutivas predominaram;

• Construindo – sujeita às limitações impostas pela realidade sobre sua imaginação (sua realidade interna)

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• Mesmo enquanto assegurava seu domínio sobre os blocos – ajustando-os ao seu projeto – fazia concessões à natureza dos materiais, à gravidade, às leis de equilíbrio e sustentação;

• Revoltada com as restrições – destrói a torre – para reafirmar seu domínio sobre um meio relutante.

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• É uma experiência crucial de aprendizagem sobre as realidades interna e externa; e sobre o domínio.

• A criança aprende que pode ser o senhor supremo – mas apenas de um mundo caótico

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• Se quiser assegurar algum domínio sobre um mundo estruturado e organizado, precisa renunciar a seu desejo “infantil” de domínio total e chegar a um acordo entre esses desejos e a dura realidade (as limitações de construir com blocos)

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• Enquanto repete seguidamente a experiência, aprende que o desejo de exercer domínio total (derrubando a torre de blocos) leva ao caos.

• A criança aprende a moderar suas exigências internas à luz do que é factível no mundo em que vive.

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• Brincar é o processo no qual se inteira dos dois lados da realidade - interna e externa

• Começa a fazer as pazes com as legítimas exigências de ambos

• e a aprender como satisfazê-las em benefício próprio e dos outros.

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Caixa de ludodiagnóstico

• Significado???

• Necessita ter, para curar-se, algo que seja completamente seu, sem interferências

• Significar o que foi a primitiva relação com a mãe

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EXEMPLOS DE CASOS

• Menina – 6 anos – cola na parede –

• Esvaziar o frasco de cola • = ensaio da possibilidade de que algo servisse para unir o que estava destroçado.

• = como poderia arrumar dentro de si as palavras destroçadas.

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Menino – 8 anos• Destruía todo material da caixa –

restos de brinquedos – em desordem = como se sentia.

• Aceitar a caixa – aceitá-lo como era, sem exigir que se mostrasse bem e são;

• Repor materiais atraentes = eu exigia mostrar-se como elas, o que não podia fazer, por estar muito doente

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• Jogo de esconde –esconde = perder e recuperar algo

• Toda ausência é seguida de um reencontro – elabora a angústia da perda e a ânsia de recuperar

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Menino – 2 anos

• Pavor noturno – insônia – desde 18 m

• Brinca com pratinhos, taças e talheres – alimentação com prazer (± 10 min.)

• Pede que acenda a luz• Pega pratinho, chupa e morde

desesperadamente • Ansiedade crescente

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• Luz = sintomas à noite• Pratinho = seio introjetado (= mãe)• Morde e ataca o seio• Defesas frente às tendências

destrutivas = expulsão, projeção e simbolização

• Destruição violenta do objeto carregado de destrutividade – projeção = perseguidor

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• Enchia a pia de água até transbordar

• Pisava e fazia marcas dos pés, até a mãe

• Segurava a mão da terapeuta

• Abraçava a mãe, carinhosamente

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• Transbordar água = urinar à noite, pela ansiedade;

• Abraço = forma inicial de contato com a mãe, depois do nascimento;

• Necessitava do apoio incondicional = mão da terapeuta = para curar-se;

• Ultrapassar o limite entre o banheiro e a sala de jogo – simboliza o nascimento

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REFERÊNCIAS• ABERASTURY. A. Psicanálise da

criança – teoria e técnica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982.

• BETTELHEIM, B. Uma vida para seu filho. Rio de Janeiro: Campus, 1988.

• GRAÑA, R.B. e PIVA, A.B.S. (orgs). A atualidade da Psicanálise de crianças. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001.