A Guerra Dos Canudos e

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7/21/2019 A Guerra Dos Canudos e http://slidepdf.com/reader/full/a-guerra-dos-canudos-e 1/6 A Guerra dos Canudos e "Sertões" - Introdução Para entendermos a Guerra dos Canudos e a violência com que foi esmagada a revolta camponesa é  preciso restabelecer o cenário histórico em que ela ocorreu. Não podese entender Canudos isoladamente! sem conhecer as circunst"ncias históricas e pol#ticas que a provocaram. $ %rasil estava em permanente ebuli&ão! desde '( de maio de '))) com a assinatura da *ei +urea  pela princesa ,sabel! acontecimentos espetaculares e traumáticos se sucediam um ao outro. - uestão /ilitar que vinha se arrastando desde '))(! com o debate em torno da doutrina do soldadocidadão! que defendia a participa&ão dos oficiais nas quest0es pol#ticas e sociais do pa#s! teve uma conclusão repentina! com o golpe militar republicano de '1 de novembro de '))2. - derrubada da /onarquia! que de imediato foi sem derramamento de sangue! terminou por provocar rea&0es antirepublicanas. 3ma nova constitui&ão foi aprovada em ')2'! tornando o %rasil uma rep4blica federativa e presidencialista no modelo norteamericano. 5eparouse o estado da ,gre6a 7o que vai provocar a indigna&ão de -nt8nio Conselheiro9 e ampliouse o direito de voto 7aboliuse o sistema censitário e:istente no ,mpério e permitiuse que todo o cidadão alfabeti;ado pudesse tornar se cidadão9. -s dificuldades pol#ticas da implanta&ão da <ep4blica se aceleraram com a crise inflacionária  provocada pelo =ncilhamento! quando o /inistro da >a;enda! <ui %arbosa! autori;ou um aumento de ?1@ na emissão de papelmoeda nacional. Aouve muito desgaste do novo regime devido ao clima de especula&ão e de multiplica&ão de empresas sem lastro 7mais de (BB em um ano apenas9. $ presidente da <ep4blica! /al. eodoro da >onseca chegou a fechar o Congresso! o que serviu de prete:to para a /arinha de Guerra rebelarse e:igindo e conseguindo sua ren4ncia ! o que ocorreu em D( de novembro de ')2'. eodoro doente retirouse! sendo substitu#do pelo vicepresidente /al. >loriano Pei:oto. =m fevereiro de ')2( estoura no <io Grande do 5ul a revolu&ão federalista! quando maragatos insurgemse contra o governo de E4lio de Castilhos! condu;indo o estado a uma dolosa guerra civil.  Neste mesmo ano em setembro! ocorre o segundo levante da -rmada! novamente liderado pelo -l. Custódio de /elo! seguida pela adesão do -l. 5aldanha da Gama! que chega a bombardear o <io de Eaneiro! >loriano Pei:oto mobili;a a popula&ão para a defesa da capital e Custodio de /elo resolve abandonar a ba#a da Guanabara para 6untarse aos maragatos que haviam ocupado esterro 7em 5anta Catarina9. - guerra no sul militarmente se encerra com a morte de Gumercindo 5araiva o guerrilheiro maragato em ')2F! e com derrota da incursão do -l. 5aldanha da Gama na fronteira do <io Grande do 5ul com o 3ruguai em ')21. - guerra tinha produ;ido mais de 'D mil mortos em uma parte deles havia sido v#tima de degolas de parte a parte. Coube ao novo presidente! Prudente de /orais! alcan&ar a pacifica&ão que é assinada em Pelotas em agosto de ')21. >oi nesse pano de fundo turbulento! marcado por transforma&0es repentinas e radicais! pela aboli&ão da escravidão! pelo golpe republicano! pelo fechamento do Congresso! pelo estado de s#tio! por dois levantes da -rmada e por uma cruel Guerra Civil! que a popula&ão urbana ouviu com espanto a not#cia! em novembro de ')2! de que uma e:pedi&ão de 'BB soldados havia sido derrotada pelos  6agun&os do interior da %ahia. Come&ava então a Guerra de Canudos. A Guerra de Canudos (1896-1897) Provavelmente se o quadro pol#tico brasileiro dos primeiros anos de <ep4blica não fosse tão conturbado talve; os episódios de Canudos tivessem outro desenlace. /as a not#cia de que tropas regulares haviam sido desbaratadas pêlos fiéis do Conselheiro fe; com que as autoridades e a própria  popula&ão dos grandes centros urbanos! particularmente do <io de Eaneiro! visse naquilo a mão ardilosa dos monarquistas. 5e por um lado era evidente que o Conselheiro pregava contra a rep4blica! estimulando a que não se lhe pagassem tributos e até espantasse os funcionários que representavam a 6usti&a e o casamento civil! não podese negar seu conte4do religioso. Canudos assemelhase Hs incontáveis rebeli0es religiosas! lideradas por fanáticos! chamados de profetas! que se di;em enviados ou mensageiros dos céus. <e4nem ao seu redor um bando de crentes aos quais é assegurada não só a salva&ão como muitas ve;es a imortalidade. <epudiam o mundo ao seu redor! denunciado como corrupto e de estar a servi&o das for&as demon#acas. 5ó os 6ustos se salvarão. 5ó aqueles que se dedicam inteiramente as re;as e a comunidade dos crentes serão os eleitos. 5eu comportamento erradio e agressivo para com os outros e seu fanatismo militante fa; com que se indisponham com o resto da sociedade. $s atritos da# decorrentes! fa;em com que a pol#cia ou a mil#cia termine por se envolver com eles. -s tentativas de apa;iguamento fracassam. =les resistem a qualquer de dispersar. -o contrário! a presen&a das autoridades fa; com que se aglutinem com maior fervor em torno do profeta. -rmamse. $ profeta lhes assegura que caso morram na defesa da Nova Eerusalém! Eesus lhes garantirá a vida por mais mil anos ainda. Antônio Conselheiro e o!a erusal#$ -nt8nio Conselheiro 6á era uma figura bastante conhecida nos sert0es nordestinos desde a década de ')?B. =ra cai:eiro de lo6a e gra&as a uma infelicidade pessoal foi abandonado pela mulher partiu  para uma vida de eremita! cru;ando o sertão de cima a bai:o. Por onde andava procurava consertar os cemitérios e melhorar as igre6as. - fama das suas prédicas come&ou a se espalhar e gente miserável come&ou a seguilo. 5ua aparência assemelhavase aos profetas b#blicos! com uma vasta cabeleira que lhe caia pelos ombros e vestido com um brim comprido que lhe chegava aos pés e um ca6ado nas mãos. Parecia um personagem sa#do diretamente das Ielhas =scrituras. Aostili;ado pela maioria dos padres do interior que não lhe suportavam a concorrência e a crescente  popularidade! o Conselheiro resolveu! em ')2(! isolarse em Canudos! um lugare6o paupérrimo! nas margens do rio Iasabarris! no sertão baiano. <ebati;oua de /onte 5anto. =m pouco tempo um flu:o constante de romeiros para lá se dirigiu. $ Conselheiro re6eitava a rep4blica. Consideravaa coisa sat"nica por ter institu#do o casamento civil. Como a ,gre6a Católica acomodouse com a nova ordem! coube a ele liderar a rebeldia. Jratavase de constituir um outra sociedade! onde os princ#pios dogmáticos da religião seriam estritamente obedecidos. Não se bebia em Canudos! e o maior delito era não comparecer as re;as coletivas. Jambém serviu de abrigo a marginais e bandidos que lá  procuravam ref4gio e de onde sa#am para novos barbarismos. =m pouco tempo o Conselheiro formou uma espécie de pequeno estado dentro do estado. -s autoridades fi;eram então uma frente. Coronéis assustados com a fuga de mão de obra e com os surgimento de uma outra lideran&a apro:imaramse da igre6a que via nele um herético. 3m desentendimento com um lugare6o vi;inho foi o prete:to que as autoridades aguardavam para mandar intervir militarmente. No in#cio de novembro de ')2 uma for&a de 'BB pra&as! sob o comando do Jen. /anuel >erreira! foi enviada para Eua;eiro e depois para 3auá onde é destro&ada pelo ataque dos  6agun&os em D' de novembro. >oram necessárias mais três e:pedi&0es militares! a 4ltima com quase 1 mil homens e artilharia para submeter a KJróia de taipaK. - popula&ão lutou até o fim. 3mas (BB mulheres! velhos e crian&as se renderam. $s homens sobreviventes foram degolados e os que resistiram até o fim foram baionetados

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A Guerra dos Canudos e "Sertões" - Introdução

Para entendermos a Guerra dos Canudos e a violência com que foi esmagada a revolta camponesa é preciso restabelecer o cenário histórico em que ela ocorreu. Não podese entender Canudosisoladamente! sem conhecer as circunst"ncias históricas e pol#ticas que a provocaram.

$ %rasil estava em permanente ebuli&ão! desde '( de maio de '))) com a assinatura da *ei +urea pela princesa ,sabel! acontecimentos espetaculares e traumáticos se sucediam um ao outro. - uestão/ilitar que vinha se arrastando desde '))(! com o debate em torno da doutrina do soldadocidadão!que defendia a participa&ão dos oficiais nas quest0es pol#ticas e sociais do pa#s! teve uma conclusãorepentina! com o golpe militar republicano de '1 de novembro de '))2.

- derrubada da /onarquia! que de imediato foi sem derramamento de sangue! terminou por provocarrea&0es antirepublicanas. 3ma nova constitui&ão foi aprovada em ')2'! tornando o %rasil umarep4blica federativa e presidencialista no modelo norteamericano. 5eparouse o estado da ,gre6a 7oque vai provocar a indigna&ão de -nt8nio Conselheiro9 e ampliouse o direito de voto 7aboliuse osistema censitário e:istente no ,mpério e permitiuse que todo o cidadão alfabeti;ado pudesse tornarse cidadão9.

-s dificuldades pol#ticas da implanta&ão da <ep4blica se aceleraram com a crise inflacionária provocada pelo =ncilhamento! quando o /inistro da >a;enda! <ui %arbosa! autori;ou um aumento de?1@ na emissão de papelmoeda nacional. Aouve muito desgaste do novo regime devido ao clima deespecula&ão e de multiplica&ão de empresas sem lastro 7mais de (BB em um ano apenas9. $ presidenteda <ep4blica! /al. eodoro da >onseca chegou a fechar o Congresso! o que serviu de prete:to para a/arinha de Guerra rebelarse e:igindo e conseguindo sua ren4ncia ! o que ocorreu em D( de

novembro de ')2'. eodoro doente retirouse! sendo substitu#do pelo vicepresidente /al. >lorianoPei:oto.

=m fevereiro de ')2( estoura no <io Grande do 5ul a revolu&ão federalista! quando maragatosinsurgemse contra o governo de E4lio de Castilhos! condu;indo o estado a uma dolosa guerra civil.

 Neste mesmo ano em setembro! ocorre o segundo levante da -rmada! novamente liderado pelo -l.Custódio de /elo! seguida pela adesão do -l. 5aldanha da Gama! que chega a bombardear o <io deEaneiro! >loriano Pei:oto mobili;a a popula&ão para a defesa da capital e Custodio de /elo resolveabandonar a ba#a da Guanabara para 6untarse aos maragatos que haviam ocupado esterro 7em 5antaCatarina9. - guerra no sul militarmente se encerra com a morte de Gumercindo 5araiva o guerrilheiromaragato em ')2F! e com derrota da incursão do -l. 5aldanha da Gama na fronteira do <io Grandedo 5ul com o 3ruguai em ')21. - guerra tinha produ;ido mais de 'D mil mortos em uma parte deleshavia sido v#tima de degolas de parte a parte. Coube ao novo presidente! Prudente de /orais! alcan&ar 

a pacifica&ão que é assinada em Pelotas em agosto de ')21.>oi nesse pano de fundo turbulento! marcado por transforma&0es repentinas e radicais! pela aboli&ãoda escravidão! pelo golpe republicano! pelo fechamento do Congresso! pelo estado de s#tio! por doislevantes da -rmada e por uma cruel Guerra Civil! que a popula&ão urbana ouviu com espanto anot#cia! em novembro de ')2! de que uma e:pedi&ão de 'BB soldados havia sido derrotada pelos

 6agun&os do interior da %ahia. Come&ava então a Guerra de Canudos.

A Guerra de Canudos (1896-1897)

Provavelmente se o quadro pol#tico brasileiro dos primeiros anos de <ep4blica não fosse tãoconturbado talve; os episódios de Canudos tivessem outro desenlace. /as a not#cia de que tropasregulares haviam sido desbaratadas pêlos fiéis do Conselheiro fe; com que as autoridades e a própria

 popula&ão dos grandes centros urbanos! particularmente do <io de Eaneiro! visse naquilo a mãoardilosa dos monarquistas.

5e por um lado era evidente que o Conselheiro pregava contra a rep4blica! estimulando a que não selhe pagassem tributos e até espantasse os funcionários que representavam a 6usti&a e o casamentocivil! não podese negar seu conte4do religioso. Canudos assemelhase Hs incontáveis rebeli0esreligiosas! lideradas por fanáticos! chamados de profetas! que se di;em enviados ou mensageiros doscéus. <e4nem ao seu redor um bando de crentes aos quais é assegurada não só a salva&ão comomuitas ve;es a imortalidade.

<epudiam o mundo ao seu redor! denunciado como corrupto e de estar a servi&o das for&asdemon#acas. 5ó os 6ustos se salvarão. 5ó aqueles que se dedicam inteiramente as re;as e acomunidade dos crentes serão os eleitos. 5eu comportamento erradio e agressivo para com os outros eseu fanatismo militante fa; com que se indisponham com o resto da sociedade. $s atritos da#decorrentes! fa;em com que a pol#cia ou a mil#cia termine por se envolver com eles. -s tentativas deapa;iguamento fracassam. =les resistem a qualquer de dispersar. -o contrário! a presen&a dasautoridades fa; com que se aglutinem com maior fervor em torno do profeta. -rmamse. $ profetalhes assegura que caso morram na defesa da Nova Eerusalém! Eesus lhes garantirá a vida por mais milanos ainda.

Antônio Conselheiro e o!a erusal#$

-nt8nio Conselheiro 6á era uma figura bastante conhecida nos sert0es nordestinos desde a década de')?B. =ra cai:eiro de lo6a e gra&as a uma infelicidade pessoal foi abandonado pela mulher partiu

 para uma vida de eremita! cru;ando o sertão de cima a bai:o. Por onde andava procurava consertar os

cemitérios e melhorar as igre6as. - fama das suas prédicas come&ou a se espalhar e gente miserávelcome&ou a seguilo. 5ua aparência assemelhavase aos profetas b#blicos! com uma vasta cabeleira quelhe caia pelos ombros e vestido com um brim comprido que lhe chegava aos pés e um ca6ado nasmãos. Parecia um personagem sa#do diretamente das Ielhas =scrituras.

Aostili;ado pela maioria dos padres do interior que não lhe suportavam a concorrência e a crescente popularidade! o Conselheiro resolveu! em ')2(! isolarse em Canudos! um lugare6o paupérrimo! nasmargens do rio Iasabarris! no sertão baiano. <ebati;oua de /onte 5anto. =m pouco tempo um f lu:oconstante de romeiros para lá se dirigiu. $ Conselheiro re6eitava a rep4blica. Consideravaa coisasat"nica por ter institu#do o casamento civil. Como a ,gre6a Católica acomodouse com a nova ordem!coube a ele liderar a rebeldia. Jratavase de constituir um outra sociedade! onde os princ#piosdogmáticos da religião seriam estritamente obedecidos. Não se bebia em Canudos! e o maior delitoera não comparecer as re;as coletivas. Jambém serviu de abrigo a marginais e bandidos que lá

 procuravam ref4gio e de onde sa#am para novos barbarismos.

=m pouco tempo o Conselheiro formou uma espécie de pequeno estado dentro do estado. -sautoridades fi;eram então uma frente. Coronéis assustados com a fuga de mão de obra e com ossurgimento de uma outra lideran&a apro:imaramse da igre6a que via nele um herético. 3mdesentendimento com um lugare6o vi;inho foi o prete:to que as autoridades aguardavam para mandarintervir militarmente. No in#cio de novembro de ')2 uma for&a de 'BB pra&as! sob o comando doJen. /anuel >erreira! foi enviada para Eua;eiro e depois para 3auá onde é destro&ada pelo ataque dos

 6agun&os em D' de novembro.

>oram necessárias mais três e:pedi&0es militares! a 4ltima com quase 1 mil homens e artilharia parasubmeter a KJróia de taipaK. - popula&ão lutou até o f im. 3mas (BB mulheres! velhos e crian&as serenderam. $s homens sobreviventes foram degolados e os que resistiram até o fim foram baionetados

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numa luta corpoacorpo que se travou dentro do arraial! no dia do assalto final! em 1 de outubro de')2?. -nt8nio Conselheiro! morto em DD de setembro! teve seu corpo e:umado e sua cabe&a decepada

 para estudos frenológicos. $ Gen. -rtur $scar determinou que os 1.DBB casebres fossem pulveri;adosa dinamite. = assim! on;e meses depois do entrevero de 3auá! terminou Canudos.

As %uatro &a$'anhas &ontra Canudos

Ca$'anhas A&onte&i$entos

'L CampanhaM F a D' de novembro

de ')2

Governador da %ahia ordena e:pedi&ão para defesa de Eua;eiroamea&ada pelos 6agun&os de -nt8nio Conselheiro. =:pedi&ão com'BB pra&as comandada pelo ten. /anuel >erreira. 5egue até 3auáonde é derrotada na madrugada pelos 6agun&os no dia D' deoutubro. $ médico enlouquece. <etirada para Eua;eiro.

DL CampanhaM D1 de outubro de')2 a DB de 6aneiro de ')2?

Comandada pelo /a6or >reb8nio de %rito! com 1F( pra&as e 'Foficiais e ( médicos. Jravessia do Cambaio! primeiro e segundocombate. /ais de FBB 6agun&os mortos. <etirada em frente aCanudos! para /onte 5anto. /ilitares vaiados. ebandada geral.

(L CampanhaM ) de fevereiro a ( demar&o de ')2?

=:pedi&ão /oreira César. Chega a ueimadas com '.(BB homens.Chega a /onte 5anto e dali para Canudos. -ssalto ao arraial em Dde mar&o. /orte de /oreira César. =:pedi&ão dissolvida bate emretirada.

FL CampanhaM ' de 6unho a 1 deoutubro de ')2?

=:pedi&ão comandada pelo Ge. -rtur $scar! dividida em duas

colunas 7gen. Eoão %arbosa e -maral 5avaget9! uma com '.2((homens e a outra com D.(1B. Combate de Cocorobó. uas colunaschegam a Canudos. -ssalto ao arraialM 2F? bai:as. Chegamrefor&os de D brigadas da %ahia. %ombardeio sobre Canudos.Combate de Co:omongo. /orre -nt8nio Conselheiro no dia DD.

 No dia DF de setembro Canudos encontrase sitiada. -ssalto finalem ' de outubroM 1? bai:as. (BB prisioneiros 7mulheres! velhos ecrian&as9! dia 1 morrem os F 4ltimos resistentes. -s 1.DBB casassão dinamitadas.

"s Sertões"

 Nenhum outro episódio da história nacional até então ocorrido 7,nconfidência mineira! independência!

<evolta dos Cabanos! a 5abinada! a Praieira! a <evolu&ão >arroupilha! etc...9 gerou um relato literárioe épico da dimensão de K$s 5ert0esK de =uclides da Cunha! publicado em '2BD. =uclides havia sidoenviado em setembro de ')2? para cobrir pelo 6ornal K$ =stado de 5ão PauloK os acontecimentos deCanudos. *á chegando resolveu tornálo tema de um livro. 5ua idéia era inserir aquele conflito nosfins de mundo do %rasil no cenário dos grandes enfrentamentos históricos. Numa luta tit"nica dera&as! num combate entre o progresso e o atraso. Percebeu o conflito primeiramente como umaIendéia 7Ka nossa IendéiaK9! aquela rebelião reacionária de padres! nobres e camponeses católicos que eclodiu na %retanha em '?2(! contra o governo republicano6acobino durante a <evolu&ão>rancesa.

/as viu também a oportunidade de estudar e conhecer o %rasil. Concentrou sua aten&ão em revelar oconflito entre o litoral brasileiro! urbano! préindustrial! semicapitalista! europei;ado!

 predominantemente branco e racionalista! contra o sertão mesti&o! povoado por uma subra&amiserável e su6eita devido as inclemências do clima Hs influências do fanatismo religioso! vivendonum universo m#stico e enfeiti&ado por supersti&0es atávicas! crentes em milagres e em espantosostaumaturgos! =uclides achava que a campanha contra Canudos simboli;ava de certa forma a tentativade civili;ar o sertão ainda que fosse Ka prancha&osK.

 Na primeira parte do livro a Jerra ele procura descrever o cenário geográfico em que surge osertane6o. >a; uma erudita e:posi&ão dos elementos geoclimáticos que comp0e o sertão.Profundamente influenciado pelo historiador positivista AippolOte Jaine 7')D)')2(9! que propunhauma abordagem do comportamento humano condicionado pela ra&a! pelo meio e pelas circunst"ncias7la race! le milieu et le moment9! =uclides acredita na sua segunda parte! dedicada ao Aomem quea intensa miscigena&ão é a principal responsável pelo atraso e pelo fanatismo do sertane6o! na medidaem que termina por produ;ir uma subra&a. /as mesmo assim ele não poupa louvores a bravura dagente do sertão em conseguir sobreviver numa região tão inóspita! flagelada pela fome e pela seca Kosertane6o antes de tudo é um forteK

 Na terceira parte a *uta dedicada ao combate entre as for&as regulares do e:ército e as hordas dos 6agun&os é que brota a espantosa prosa épica de =uclides. $ relato dos enfrentamentos! dosentreveros! os s#tios! o combate corpoacorpo! a valentia e a covardia! os sofrimentos e a incr#velnarrativa final da destrui&ão de Canudos! tornamse páginas dignas de figurar entre a melhor literaturado mundo! no mesmo n#vel de Aomero ou do KGuerra e pa;K de Jolstoi.

Cara&tersti&as *erais

=m primeiro lugar K$s 5ert0esK é uma obra de arte literária. -pesar dos esfor&os de =uclides em se

tornar o primeiro pensador do pa#s! seu livro perdura nos tempos por ser geográfico e racial! ho6eestão desacreditados. <estou portanto a qualidade narrativa e o estilo #mpar dele. Q uma obra fechada.=uclides não fe; uma escola como /achado de -ssis. 5ua prosa foi esculpida e:atamente paraescrever aquele tipo de livro e nenhum outro mais. Jambém os cr#ticos debatem sobre que tipo delivro e nenhum outro mais. Jambém os cr#ticos debatem sobre que tipo de gênero literário classificase K$s 5ert0esK. Pode ser lido como uma grande cr8nica! um diário de guerra! um tratado histórico!um ensaio antropológicosociológico! uma pe&a literária e até como um discurso forense. Neleencontramos todos os elementos literários a l#rica! a epopéia e a dramática onde palavras desusadase arcaicas encontramse misturadas com o lingua6ar popular e com e:press0es cientificas.

=le tentou olhar o sertão e seus habitantes com as lunetas de um cientista mas recorreu a um estilodramático para e:primir sua emo&ão. =uclides é o nosso Aomero. <eali;ou o grande épico nacional./as não é popular como Aomero o foi. = a ra;ão é de que ele não dirigiuse ao povo! mas sim aselites. 5eu livro aos poucos vai tomando a forma de uma den4ncia. o absurdo da guerra 7K-lémdisso a guerra é uma coisa monstruosa e ilógica em tudoK9 em si até indignarse com os barbarismoscometidos pelas tropas contra aqueles pobresdiabos 7K-demais entalhavase o cerne danacionalidade. -tacavase a fundo a rocha viva da nossa ra&a. Iinha de molde a dinamite. =ra umaconsagra&ãoK9.

5eu ob6etivo era apelar Hs elites brasileiras para que tivessem uma compreensão melhor dossertane6os. -o descrever seu espa&o e seus costumes!. ao relatar suas dificuldades e seu infeli; destino

 biológico! ele espera atenuar o preconceito contra os bárbaros interioranos! isolados do mundo atre;entos anos. a mesma maneira que Cesare *ombroso 7')('2B29 encontrara nos tra&osfision8micos dos marginais os sinais de delinqRência e de degenerescência moral! =uclides! aodescrever o sertane6o como resultado da seca! do solo áspero e esturrado! da fome endêmica e dae:cessiva miscigena&ão! queria demonstrar que o resultado final não poderia ser outro.

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Conforme o livro vai se apro:imando do final! cresce nele a sensa&ão de que a guerra contra os 6agun&os foi um grande equivoco! que afinal de contas era uma guerra fratricida e que de certa formao litoral civili;ado e racional apunhalava a própria essência do pa#s ao destruir com o arraial e seusmoradores.

- obra no entanto não teve conseqRências pol#ticas. >oi vista mais como uma obraprima do que ummanifesto a favor da toler"ncia para com os desgra&ados do campo.

+essianis$o

$ movimento sertane6o ao redor de -nt8nio Conselheiro em Canudos teve uma forte conota&ãomessi"nica. =sse tipo de fen8meno sócioreligioso ocorre geralmente em situa&0es de grave crise

 pol#tica 7amea&a de invas0es! brusca mudan&a de regime! etc..9 e reflete um desespero e um temorcrescente e insuportável! uma cren&a nas pro:imidades do Eu#;o >inal e na necessidade da chegada deum salvador 7messias9 para resgatar a comunidade em perigo de morte.

"O messias é alguém enviado por uma divindade para trazer a vitória do Bem sobre o Mal, ou paracorrigir a imperfeição do mundo, permitindo o advento do Paraíso errestre, tratando!se pois de umlíder religioso e social"  7/aria ,saura! p. D?9. $bviamente que esse l#der não é uma pessoa qualquer!mas sim alguém que revelou ter "ualidades pessoais e#traordin$rias, provadas por meio de

 faculdades m$gicas ue l%e dão autoridade& trata!se pois de um líder essencialmente carism$tico"  7idem! p. D?9.

$ referencial mais remoto que anuncia a chegada desse salvador encontrase numa passagem de

,saiasM "O povo ue andava nas trevas viu uma grande luz, e uma luz bril%ou para os ue %abitavamo país tenebroso' Multiplicaste o povo, aumentaste o teu prazer' (ão alegrar!se diante de ti, como naalegria da col%eita, como no prazer dos ue repartem despo)os de guerra' Porue como no dia de

 Mad)iã, uebraste a canga de suas cargas, a vara ue batiam em suas costas e o bastão do capatazde trabal%os forçados' Porue toda a bota ue pisa com barul%o e toda capa empapada de sangue

 serão ueimadas, devoradas pelas c%amas'

 Porue nasceu para nós um menino, um fil%o foi dado* sobre seu ombro est$ o manto real, e eles sec%amam "+onsel%eiro Maravil%oso" ''' rande ser$ seu domínio, e a paz não ter$ fim sobre o tronode -avi e seu reino, firmado e reforçado com direito e a )ustiça, desde agora e sempre' O zelo de

 .avé dos e#ércitos é uem realizar$ isso"' 7,sa#as! 29.

- isso 6untamse as passagens do -pocalipse que relatam o retorno de Eesus como um vingador do povo humilhado! como um guerreiro que vem formar um novo e:ército de santos e que garantirá atodos que atenderem a sua mensagem de salva&ão a imortalidade por mil anosM " '''parecia um fil%ode /omem, vestindo uma longa t0nica& no peito, um cinto de ouro& nos cabelos brancos como lã,como neve& os ol%os pareciam uma c%ama de fogo& os pés eram como bronze de forno, cor de brasa&a voz era como um estrondo de $guas torrenciais& na mão tin%a sete estrelas& de sua boca saía umaespada afiada, de dois cortes& seu rosto era como um sol bril%ando ao meio!dia'

 1ão ten%a medo eu sou o Primeiro e o 2ltimo' 3ou o (ivente' 4stive morto, mas estou vivo para sempre' en%o as c%aves da morte e da morada dos mortos"' 7-pocalipse! '9.

>ormado o grupo de fiéis em torno do novo messias eles passam a sentirse perseguidos pelasautoridades a quem consideram como o -nticristo ou de estar a servi&o do próprio dem8nio.<efugiamse em algum lugar a Nova Eerusalém e preparamse para resistir ao /al. -li se dará a

 batalha final. Não se importam em morrer porque o messias lhes garante vida eterna caso se6amatingidos. Iiverão ao lado do senhor por outros mil anosM "4sse louco ! o 5nticristo ! na sua cóleraimplac$vel conduzir$ um e#ército e cercar$ a montan%a onde os )ustos procurarão ref0gio' 4 uandoesses se sentirem cercados, clamarão pelo 3en%or por au#ílio e -eus %$ de ouvi!los e enviar!l%es!$um libertador 6'''7 e toda uma multidão de ateus ser$ aniuilada e correrão rios de sangue'"  7*act"ncio! século ,I9.

Se,astianis$o

$ 5ebastianismo foi um movimento m#sticosecular que ocorreu em Portugal na segunda metade doséculo SI, como conseqRência da morte do rei . 5ebastião na batalha de -lcaceruibir! em '1?).Por falta de herdeiros! o trono português terminou nas mãos do rei espanhol >elipe ,,. -pesar docorpo do rei ter sido removido para %elém o povo nunca aceitou o fato divulgando a lenda de que orei encontravase ainda vivo! apenas esperando o momento certo para volver ao trono e afastar odom#nio estrangeiro. 5eu mais popular divulgador foi o poeta %andarra que produ;iu incansáveisversos clamando pelo retorno do ese6ado. =:plorando a crendice popular vários oportunistas seapresentavam como o rei oculto na tentativa de obter benef#cios pessoais. $ maior intelectual a aderirao movimento foi o Padre Iieira. >inalmente em 'FB! pelo golpe restauracionista liderado pelos%ragan&as! no Porto! Portugal voltou a ser independente e o movimento come&ou a arrefecer nointerior do Nordeste! também ser motivo da cren&a na chegada de um Krei bomK. %asicamente é ummessianismo adaptado Hs condi&0es lusas e depois nordestinas. Jradu; uma inconformidade com asitua&ão pol#tica vigente e uma e:pectativa de salva&ão! ainda que miraculosa! através da ressurrei&ãode um morto ilustre.

Conselheiro

(tre&hos sele&ionados da o,ra de u&lides da Cunha)

"5s fases singulares da sua e#ist8ncia não são talvez, períodos sucessivos de uma moléstia grave,mas são com certeza, resumo abreviado dos aspectos predominantes de mal social gravíssimo' Porisso o infeliz, destinado 9 solicitude dos médicos, veio, impelido por uma pot8ncia superior, bater deencontro a uma civilização, indo para a /istória como poderia ter ido para o %ospício'"  7p. '''9.

7...9 "odas as crenças ing8nuas, do fetic%ismo b$rbaro 9s aberraç:es católicas, todas as tend8nciasimpulsivas das raças inferiores, livremente e#ercitadas na vida sertane)a, se condensaram no seumisticismo feroz e e#travagante'"  7p. '''9!

"5nt;nio +onsel%eiro foi um gnóstico bronco"  7p. ''(9.

"5 sua fr$gil consci8ncia oscilava ''' entre o bom senso e a ins;nia' Paroi aí indefinidamente, nas fronteiras oscilantes da loucura, nessa zona mental onde se confundem facínoras e %eróis,reformadores bril%antes e alei):es tacan%os e se acotovelam g8nios e degenerados' 1ão a transp;s'"  7p. ''F9.

"1o seio de uma sociedade primitiva, ue pelas ualidades étnicas e influ#o das santas miss:esmalévolas compreendia mel%or a vida pelo incompreendido dos milagres, o seu viver misteriosorodeou!o logo de não vulgar prestígio, agravando!l%e, talvez o temperamento delirante'"  7p. 'D'9.

As 'r#di&as do Conselheiro

"4le ali subia e pregava' 4ra assombroso ''' <ma oratória b$rbara e arrepiadora, feita de e#certos

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truncados das /oras Marianas, descone#a, obstrusa, agravada, 9s vezes, pela ousadia e#trema dascitaç:es latinas& transcorrendo em frase sacudidas& misto ine#tric$vel e confuso de consel%osdogm$ticos, preceitos vulgares da moral cristã e de profecias esdr0#ulas '''

 4ra truanesco e era pavoroso' =magine!se um bufão arrebatado numa visão do 5pocalipse '''6'''7 5 multidão sucumbida abai#ava, por sua vez, as vistas, fascinada, sob estran%o %ipnotismodauela ins>nia formid$vel'

 4 o grande desventurado realizava, nesta ocasião, o seu 0nico milagre* conseguia não se tornarridículo ''' 7p. 'D9

Antônio Conselheiro

"4spécie de grande %omem pelo avesso, 5nt;nio +onsel%eiro reunia no misticismo doentio todos oserros e superstiç:es ue formam o coeficiente doentio da nossa nacionalidade' 5rrastava o povo

 sertane)o não porue dominasse, mas porue o dominavam as aberraç:es dauele' ?avorecia!o omeio e ele realizava, 9s vezes, como vimos, o absurdo de ser 0til"  7p. '(D9.

Anti-re'u,li&ano

"(iu a rep0blica com maus ol%os e pregou, coerente, a rebeldia contra as novas leis' 5ssumiu desde@AC uma feição de combate inteiramente nova 6'''7 5o surgir essa novidade 6editais para a cobrançade impostos ue visavam a autonomia municipal7 5nt;nio +onsel%eiro estava em Bom +onsel%o'

 =rritou!o a imposição& e planeou revide imediato' Deuniu o povo num dia de feira e, entre gritos sediciosos e estrepitar de foguetes, mandou ueimar as t$buas numa fogueira, no largo ''' pregouabertamente a insurreição contra as leis'"  7p. '((9.

Canudos

"4ra um lugar sagrado, cingido de montan%as, onde não penetraria a ação do governo maldito"  7p.(19.

"5 urbs monstruosa, de barro, definia bem a civitas sinistra do erro' O novo povoado surgia, dentrode algumas semanas )$ feito ruínas' 1ascia vel%o' (isto de longe, desdobrado pelo c;moros,atul%ando as can%adas, cobrindo $rea enorme, truncado nas uebradas, revolto nos pendores ! tin%ao aspecto perfeito de uma cidade cu)o solo %ouvesse sido sacudido e brutalmente dobrado por umterremoto"  7p. '(9.

"1ão se distinguiam as ruas' 3ubstituía!as dédalo desesperador de becos estreitíssimos, mal separando o baral%amento caótico dos casebres feitos ao acaso, testadas volvidas para todos os

 pontos, cumeeiras orientando!se para todos os rumos, como se tudo auilo fosse construído, febrilmente, numa noite, por uma multidão de loucos '''"  7p. '()9.

"Eos casebresF +obertas de camadas espessas de vinte centímetros de barro, sobre ramos de iço,lembravam as c%oupanas dos gauleses de +ésar' raiam a fase transitória entre a caverna primitivae a casa' 6'''7' O mesmo desconforto e, sobretudo, a mesma pobreza repugnante, traduzindo de certomodo, mais do ue a miséria do %omem, a decrepitude da raça'"  7p. '()9.

"+anudos, imunda ante!sala do Paraíso"  7p. 'F?9

.a*unço

"1a falta de uma irmandade de sangue, a consangGinidade moral dera!l%e a forma e#ata de um clã ,em ue as leis era o arbítrio do c%efe e a )ustiça as suas decis:es irrevog$veis' +anudosestereotipava o f$cies d0bio dos primeiros agrupamentos b$rbaros' O sertane)o simplestransmudava!se penetrando!o, no fan$tico destemeroso e bruto' 5bsorvia!o a psicose coletiva' 4adotava, ao cabo, o nome até então consagrado aos turbulentos de feira, aos valent:es de refregaseleitorais e saueadores de cidades ! )agunços'"  7p. 'F'9.

"Os )agunços errantes ali armavam 6em +anudos7 pela derradeira vez as tendas, na romariamiraculosa para os céus '''"  7p. 'FD9.

"5 nossa civilização de empréstimo arregimentava, como sempre o fez, o banditismo sertane)o'"  7p.'F19.

"-elineara!a o próprio +onsel%eiro, vel%o aruiteto de igre)as, reuintara no monumento ue l%ecerraria a carreira' Hevantava, volvida para o levante, auela fac%ada estupenda, sem módulos, sem

 proporç:es, sem regras& estilo indecifr$vel, mascarada de frisos grosseiros e volutas impossíveiscabriolando num delírio de curvas incorretas& rasgada de ogivas %orrorosas, esburacada detroneiras& informe e brutal, feito a testada de um %ipogue desenterrado& como se tentasse ob)etivar, a

 pedra e cal, a própria desordem do espírito delirante"' 7p. 'F?9.

Coronel +oreira C#sar (&o$andante da /0 e'edição)

"3urpreendiam!se igualmente ao v8!lo admiradores e advers$rios' O aspecto reduzia!l%e a fama, de figura diminuta ! um tóra# desfriado sobre pernas arcadas em par8ntesis ! era organicamente inapto para a carreira ue abraçara"  7p. DDD9.

6'''7 in%a o temperamento desigual e bizarro de um epiléptico provado, encobrindo a instabilidadenervosa de doente grava em placidez enganadora'"  7p. DD(9.

(2) Jodos esses trechos foram e:tra#dos da D?L edi&ão de K$s 5ert0esK da *ivraria >rancisco -lves!<io de Eaneiro! '2).

Canudos! uma comunidade que desafiou a ordem vigente.

- Guerra de Canudos é tida como um dos principais conflitos que marcam o per#odo entre a queda damonarquia para a instala&ão do regime republicano no %rasil. No entanto! antes de sabermos maioresdetalhes sobre a forma&ão do Povoado de Canudos e o in#cio das batalhas! devemos contemplar

algumas passagens da vida de seu principal l#derM -nt8nio Conselheiro.

 Nascido na vila de ui:eramobim! no interior do Ceará! -nt8nio Iicente /endes /aciel cresceu emuma fam#lia de padrão de vida mediano. urante sua inf"ncia teve uma educa&ão diversa que lheofereceu contato com a geografia! a matemática e as l#nguas estrangeiras. -os vinte e sete anos!depois da morte de seu pai! assumiu os negócios da fam#lia. Não obtendo sucesso! abandonou aatividade. Na mesma época! casouse com uma prima e e:erceu fun&0es 6ur#dicas nas cidades deCampo Grande e ,pu.

Com o abandono da mulher! -nt8nio come&ou a vaguear pelo sertão nordestino. =m seguida!envolveuse com uma escultora chamada Eoana ,maginária! com quem acabou tendo um filho. =m')1! Conselheiro abandonou a mulher e o filho! retornou H sua peregrina&ão sertane6a. Nessasandan&as! come&ou a construir igre6as! cemitérios e teve sua figura marcada pela barba grisalha! a

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 bata a;ul! sandálias de couro e a mão apoiada em um bordão.

 Nessa época! sob a perspectiva de alguém influenciado pelas contrariedades pessoais e os problemassócioecon8micos do sertão! -nt8nio Conselheiro iniciou uma prega&ão religiosa defensora de umcristianismo primitivo. efendia que os homens deveriam se livrar das opress0es e in6usti&as que lheseram impostas! buscando superar os problemas de acordo com os valores religiosos cristãos. Com

 palavras de fé e 6usti&a! Conselheiro atraiu muitos sertane6os que se identificavam com a mensagem por ele proferida.

esde o in#cio! autoridades eclesiásticas e setores dominantes da popula&ão viam na renova&ão sociale religiosa de -nt8nio Conselheiro uma amea&a H ordem estabelecida. =m ')?! autoridades lhe

 prenderam alegando que ele havia matado a mulher e a mãe! e o enviam de volta para o Ceará. epois

de solto! Conselheiro se dirigiu ao interior da %ahia. Com o aumento do seu n4mero de seguidores e a prega&ão de seus ideais contrários H ordem vigente! Conselheiro fundou T em ')2( T umacomunidade chamada %elo /onte! Hs margens do <io Ia;a%arris.

Consolidando uma comunidade não su6eita ao mando dos representantes do poder vigente! Canudos!nome dado H comunidade por seus opositores! se tornou uma amea&a ao interesse dos poderosos. eum lado! a ,gre6a atacava a comunidade alegando que os seguidores de Conselheiro eram apegados Hheresia e deprava&ão. Por outro! os pol#ticos e senhores de terra! com o uso dos meios decomunica&ão da época! di;iam que -nt8nio Conselheiro era monarquista e liderava um movimentoque alme6ava derrubar o governo republicano! instalado em '))2.

,ncriminada por setores influentes e poderosos da sociedade da época! Canudos foi alvo das tropasrepublicanas. -o contrário das e:pectativas do governo! a comunidade conseguiu resistir a quatro

investidas militares. 5omente na 4ltima e:pedi&ão! que contava com metralhadoras e canh0es! a popula&ão apta para o combate 7homens e rapa;es9 foi massacrada. - comunidade se redu;iu aalgumas centenas de mulheres! idosos e crian&as. -ntonio Conselheiro! com a sa4de fragili;ada!morreu dias antes do 4ltimo combate. -o encontrarem seu corpo! deceparam sua cabe&a e a enviaram

 para que estudassem as caracter#sticas do cr"nio de um Ulouco fanáticoV.

- Guerra de Canudos ou Ca$'anha de Canudos! também chamada de Guerra dos Canudos! foio confronto entre o =:ército %rasileiro e integrantes de um movimento popular de fundo sócioreligioso liderado por -nt8nio Conselheiro! que durou de ')2 a ')2?! na então comunidade deCanudos! no interior do estado da %ahia! no nordeste do %rasil.

- região! historicamente caracteri;ada por latif4ndios improdutivos! secas c#clicas e desempregocr8nico! passava por uma grave crise econ8mica e social. /ilhares de sertane6os e e:escravos

 partiram para Canudos! cidadela liderada pelo peregrino -nt8nio Conselheiro! unidos na cren&a numasalva&ão milagrosa que pouparia os humildes habitantes do sertão dos flagelos do clima e da e:clusãoecon8mica e social.

$s grandes fa;endeiros da região! unindose H ,gre6a! iniciaram um forte grupo de pressão 6unto H<ep4blica recéminstaurada! pedindo que fossem tomadas providências contra -nt8nio Conselheiro eseus seguidores. Criaramse rumores de que Canudos se armava para atacar cidades vi;inhas e partirem dire&ão H capital para depor o governo republicano! reinstalando a /onarquia. -pesar de nãohaver nenhuma prova para estes rumores! o =:ército foi mandado para Canudos.WDX Jrês e:pedi&0esmilitares contra Canudos sa#ram derrotadas! o que apavorou a opinião p4blica! que acabou e:igindo adestrui&ão do arraial! dando legitimidade ao massacre de até vinte mil sertane6os. -lém disso! estima

se que cinco mil militares tenham morrido. - guerra terminou com a destrui&ão total de Canudos! adegola de muitos prisioneiros de guerra! e o incêndio de todas as casas do arraial.

A 3i*ura de Antônio Conselheiro

K 5pareceu no sertão do 1orte um indivíduo, ue se diz c%amar 5nt;nio +onsel%eiro e ue e#erce grande influ8ncia no espírito das classes populares' -ei#ou crescer a barba e os cabelos, veste umat0nica de algodão e alimenta!se tenuemente, sendo uase uma m0mia' 5compan%ado de duas

 professas, vive a rezar terços e ladain%as e a pregar e dar consel%os 9s multid:es, ue re0ne ondel%es permitem os p$rocos'K

 Y escri&ão da >olhinha *aemmert! de ')??! reprodu;ida por  =uclides da Cunha em $s sert0es! 

'2BD.

-nt8nio Iicente /endes /aciel! apelidado de K 5nt;nio +onsel%eiroK! nascido em ui:eramobim7C=

9 a '( de mar&o de ')(B! de tradicional fam#lia que vivia nos sert0es entre ui:eramobim e %oaIiagem! fora comerciante! professor e advogado prático nos sert0es de ,pu e 5obral. -pós a suaesposa têlo abandonado em favor de um sargento da for&a p4blica! passou a vagar pelos sert0es emuma andan&a de vinte e cinco anos. Chegou a Canudos em ')2(! tornandose l#der do arraial eatraindo milhares de pessoas. -creditava que a <ep4blica! recémimplantada no pa#s! era amateriali;a&ão do reino do -ntiCristo na Jerra! uma ve; que o governo eleito seria uma profana&ãoda autoridade da ,gre6a Católica para legitimar os governantes. - cobran&a de impostos efetuada deforma violenta! a celebra&ão do casamento civil e a separa&ão entre ,gre6a e =stado eram provascabais da pro:imidade do Kfim do mundoK.

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5 Arraial de Canudos

Canudos era uma pequena aldeia que surgiu durante o século SI,,, nos arredores da >a;endaCanudos! Hs margens do r io Ia;a%arris. Com a chegada de -nt8nio Conselheiro em ')2( passou acrescer vertiginosamente! em poucos anos chegando a contar por volta de D1 BBB habitantes. -nt8nioConselheiro rebati;ou o local de %elo /onte! apesar de estar situado num vale! entre colinas.

- imprensa! o clero e os latifundiários da região incomodaramse com a nova cidade independente ecom a constante migra&ão de pessoas e valores para aquele novo local. -os poucos! construiuse umaimagem de -nt8nio Conselheiro como Kperigoso monarquistaK a servi&o de potências estrangeiras!querendo restaurar no pa#s o regime imperial. ifundida através da imprensa! esta imagemmanipulada ganhou o apoio da opinião p4blica do pa#s para 6ustificar a guerra movida contra oshabitantes do arraial de Canudos.WDX

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5 Situação so&ial

$ governo da <ep4blica recéminstaurada precisava de dinheiro para materiali;ar seus planos! e só sefa;ia presente no 5ertão pela cobran&a de impostos. - escravidão havia acabado poucos anos antes no

 pa#s! e pelas estradas e sert0es! grupos de e:escravos vagavam! e:clu#dos do acesso H terra e comredu;idas oportunidades de trabalho. -ssim como os caboclos sertane6os! essa gente paupérrimaagrupouse em torno do discurso do peregrino -nt8nio Conselheiro! acreditando que ele poderialibertálos da situa&ão de e:trema pobre;a ou garantirlhes a salva&ão eterna na outra vida.W(X

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5 Cronolo*ia do &on3lito

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 4editar5 esto'i$ e a 'ri$eira e'edição

• $utubro de ')2 T $corre o episódio que desencadeia a Guerra de Canudos. -nt8nioConselheiro havia encomendado uma remessa de madeira! vinda de Eua;eiro! para aconstru&ão da igre6a nova! mas a madeira não foi entregue! apesar de ter sido paga. 5urgementão rumores de que os conselheiristas viriam buscar a madeira H for&a! o que leva asautoridades de Eua;eiro a enviar um pedido de assistência ao governo estadual baiano! quemanda um destacamento policial de cem pra&as! sob comando do Jenente /anuel da 5ilvaPires >erreira. -pós vários dias de espera em Eua;eiro! vendo que o rumor era falso! odestacamento policial decide partir em dire&ão de Canudos! em DF de novembro. /as atropa é surpreendida durante a madrugada em 3auá pelos seguidores de -nt8nio

Conselheiro! que estavam sob o comando de Pa6e4 e Eoão -bade. -pós uma luta corpoacorpo são contados mais de cento e cinquenta cadáveres de conselheiristas. o lado doe:ército morreram oito militares e dois guias. =stas perdas! embora consideradas"insignificantes uanto ao n0mero"  nas palavras do comandante! ocasionaram o retiro dastropas.WFX

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5 A se*unda e'edição

• Eaneiro de ')2? =nquanto aguardavam uma nova investida do governo! os 6agun&osfortificavam os acessos ao arraial. Comandada pelo ma6or  >ebr8nio de %rito! depois deatravessar a serra do Cambaio! uma segunda e:pedi&ão militar contra Canudos foi atacadano dia ') e repelida com pesadas bai:as pelos conselheiristas! que se abasteciam com asarmas abandonadas ou tomadas H tropa. $s sertane6os mostravam grande coragem e

habilidade militar! enquanto -nt8nio Conselheiro ocupavase da esfera civil e religiosa.

 4editar5 A ter&eira e'edição

• /ar&o de ')2? Na capital do pa#s! diante das perdas e a pressão de pol#ticos florianistasque viam em Canudos um perigoso foco monarquista! o governo federal assumiu arepressão! preparando a primeira e:pedi&ão regular! cu6o comando confiou ao coronel-nt8nio /oreira César! considerado pelos militares um herói do e:ército brasileiro! e

 popularmente conhecido como Kcortacabe&asK por ter mandado e:ecutar mais de cem pessoas a sangue frio na repressão H <evolu&ão >ederalista em 5anta Catarina. - not#cia dachegada de tropas militares H região atraiu para lá grande n4mero de pessoas! que partiam devárias áreas do Nordeste e iam em defesa do Khomem 5antoK. =m D de mar&o! depois de tersofrido pesadas bai:as! causadas pela guerra de guerrilhas na travessia das serras! a for&a!

que inicialmente se compunha de '.(BB homens! assaltou o arraial. /oreira César foi mortoem combate! tendo o comando sido passado para o coronel Pedro Nunes %atista >erreiraJamarindo! que também tombou no mesmo dia. -balada! a e:pedi&ão foi obrigada aretroceder. =ntre os chefes militares sertane6os destacaramse Pa6e4! Pedrão! que depoiscomandou os conselheiristas na travessia de Cocorobó! Eoaquim /acambira e Eoão -bade! 

 bra&o direito de -nt8nio Conselheiro! que comandou os 6agun&os em 3auá.

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5 A %uarta e'edição

• -bril de ')2?  No <io de Eaneiro! a repercussão da derrota foi enorme! principalmente porque se atribu#a ao Conselheiro a inten&ão de restaurar a monarquia. Eornais monarquistasforam empastelados e Gentil Eosé de Castro! gerente de dois deles! assassinado. =m abril de

')2?! o ministro da Guerra! marechal Carlos /achado %ittencourt preparou uma e:pedi&ão!sob o comando do general -rtur $scar de -ndrade Guimarães! composta de duas colunas!comandadas pelos generais Eoão da 5ilva %arbosa e Cláudio do -maral 5avaget! ambas commais de quatro mil soldados equipados com as mais modernas armas da época.

• Eunho de ')2?  $ primeiro combate verificouse em Cocorobó! em D1 de 6unho! com acoluna 5avaget. No dia D?! depois de sofrerem perdas consideráveis! os atacantes chegarama Canudos. urante os primeiros meses! as tropas conseguem pouco resultado. $s sertane6osestão bem armados com armas abandonadas pela e:pedi&ão anterior! e o e:ército não tem ainfraestrutura necessária para alimentar suas tropas! que passam fome.

• -gosto de ')2?  $ próprio ministro da Guerra! marechal Carlos /achado %ittencourt! seguiu para o sertão baiano e se instalou em /onte 5anto! com o intuito de colocar um fimao caos em que estava o abastecimento das tropas. /onte 5anto se torna base das opera&0es.W1X

• 5etembro de ')2?  -pós várias batalhas! a tropa conseguiu fechar o cerco sobre o arraial.-nt8nio Conselheiro morreu em DD de setembro! supostamente em decorrência de umadisenteria. -pós receber promessas de que a <ep4blica lhes garantiria a vida! uma parte da

 popula&ão sobrevivente se rendeu com bandeira branca! enquanto um 4ltimo reduto resistiana pra&a central do povoado. -pesar das promessas! todos os homens presos! e tambémgrupos de mulheres e crian&as acabaram sendo degolados uma e:ecu&ão sumária que seapelidou de Kgravata vermelhaK.WX Com isto! a Guerra de Canudos acabou se constituindonum dos maiores crimes 6á praticados em território brasileiro.W?X

• $utubro de ')2?  $ arraial resistiu até 1 de outubro de ')2?! quando morreram os quatroderradeiros defensores. $ cadáver de -nt8nio Conselheiro foi e:umado e sua cabe&adecepada a faca. No dia ! quando o arraial foi arrasado e incendiado! o =:ército registrouter contado 1.DBB casebres.W)X

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5 esultado

$ conflito de Canudos mobili;ou apro:imadamente do;e mil soldados oriundos de de;essete estados brasileiros! distribu#dos em quatro e:pedi&0es militares. =m ')2?! na quarta incursão! os militaresincendiaram o arraial! mataram grande parte da popula&ão e degolaram centenas de prisioneiros.=stimase que morreram ao todo por volta de D1 mil pessoas! culminando com a destrui&ão total da

 povoa&ão.