A Grande Ilusão

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A Grande Ilusão – Norman Angell Parte I - Capítulo 1. - O autor identifica na Inglaterra e mesmo na Alemanha – para não dizer em todo a Europa – duas posturas distintas em relação à guerra: “Duas soluções diferentes são propostas para resolver esse problema. A primeira, de uma minoria de pessoas, consideradas nos dois países como sonhadoras e doutrinárias, consistiria em resolvê-lo mediante o desarmamento geral ou, pelo menos, a sua limitação recíproca. A segunda, de um partido mais numeroso, tido como o mais prático, supõe que a situação atual de rivalidade, com suas crises recorrentes de exaltação, está destinada a culminar em um conflito armado que reduza um dos contendores à clara inferioridade, resolvendo assim o problema, pelo menos durante algum tempo, sem prejuízo de que, depois de um lapso mais ou menos longo, volte-se a uma situação de relativo equilíbrio, e o processo se repita integralmente.” (p. 3-4) Essa segunda solução é colocada como a solução natural tendo suas premissas aceitas até pelos pacifistas dos países europeus. Além disso, sacrifícios estariam na ordem do dia, presentes tanto no trabalho industrial, como na pescaria – lembremos de Engels e seu livro: “Comparado a tamanhos sacrifícios, o "preço da guerra" é trivial, e admite-se que o depositário dos interesses nacionais não pode hesitar quando a sua proteção exige o seu pagamento. Se o homem comum está disposto, como sabemos que está, a arriscar a vida em todo tipo de profissões e ofícios perigosos, sem outro objetivo se não melhorar de situação ou enriquecer, por que o estadista haveria de recuar diante dos sacrifícios habituais impostos pela guerra, quando se trata de promover os vultosos interesses nacionais que lhe foram confiados? Se admitirmos, como admitem os próprios pacifistas, que os interesses materiais e tangíveis da nação podem ser fomentados com a guerra -em outras palavras, se a guerra pode ter um papel importante na realização dos interesses humanos -, está claro que os líderes de um povo corajoso devem enfrentá-la quando isso é necessário, por maiores que sejam o sofrimentos e sacrifícios que impõe.” (p. 8)

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A Grande Iluso Norman Angell Parte I - Captulo 1.- O autor identifica na Inglaterra e mesmo na Alemanha para no dizer em todo a Europa duas posturas distintas em relao guerra: Duas solues diferentes so propostas para resolver esse problema. A primeira, de uma minoria de pessoas, consideradas nos dois pases como sonhadoras e doutrinrias, consistiria em resolv-lo mediante o desarmamento geral ou, pelo menos, a sua limitao recproca. A segunda, de um partido mais numeroso, tido como o mais prtico, supe que a situao atual de rivalidade, com suas crises recorrentes de exaltao, est destinada a culminar em um conflito armado que reduza um dos contendores clara inferioridade, resolvendo assim o problema, pelo menos durante algum tempo, sem prejuzo de que, depois de um lapso mais ou menos longo, volte-se a uma situao de relativo equilbrio, e o processo se repita integralmente. (p. 3-4)

Essa segunda soluo colocada como a soluo natural tendo suas premissas aceitas at pelos pacifistas dos pases europeus. Alm disso, sacrifcios estariam na ordem do dia, presentes tanto no trabalho industrial, como na pescaria lembremos de Engels e seu livro: Comparado a tamanhos sacrifcios, o "preo da guerra" trivial, e admite-se que o depositrio dos interesses nacionais no pode hesitar quando a sua proteo exige o seu pagamento. Se o homem comum est disposto, como sabemos que est, a arriscar a vida em todo tipo de profisses e ofcios perigosos, sem outro objetivo se no melhorar de situao ou enriquecer, por que o estadista haveria de recuar diante dos sacrifcios habituais impostos pela guerra, quando se trata de promover os vultosos interesses nacionais que lhe foram confiados? Se admitirmos, como admitem os prprios pacifistas, que os interesses materiais e tangveis da nao podem ser fomentados com a guerra -em outras palavras, se a guerra pode ter um papel importante na realizao dos interesses humanos -, est claro que os lderes de um povo corajoso devem enfrent-la quando isso necessrio, por maiores que sejam o sofrimentos e sacrifcios que impe. (p. 8)

Outra tese naturalizada que anda de mos dadas com as outras anteriormente apresentadas, de que riqueza e bem-estar, estariam ligadas a fora: Como se admite universalmente que a riqueza, a prosperidade e o bem-estar correm em paralelo com a fora, o poder e a grandeza nacionais, o cidado ingls aspira a manter em toda medida do possvel essa fora, esse poder e essa grandeza e a no ceder sua posio enquanto isso for materialmente possvel, por mais que se fale de altrusmo. E no ceder porque, se o fizesse, o resultado seria simplesmente substituir a grandeza e o poder britnicos pela grandeza e pelo poder de outra nao, a qual, na sua opinio, poderia no ter maior empenho em contribuir para a civilizao. Est convencido de que to impossvel para ele ceder sua posio na rivalidade armamentista como o seria na competio mercantil ou no domnio da indstria; e, finalmente, que seu dever enfrentar a luta e sustent-la dentro das condies existentes, que escapam sua responsabilidade, j que essas condies no foram criadas por ele, nem est em suas mos a possibilidade de modific-las. (p. 10)

Captulo 2. -Angell mostra como essa relao entre bem-estar/riqueza e forte potencial blico transparece no s em autoridades e autores como Clausewitz, mas tambm permeiam o senso comum ingls e alemo. Uma srie de axiomas naturalizados e que pretende negar. De ambos os lados vemos a constituio de orculos e uma vontade de guerra, que embota a prpria percepo de um possvel aniquilamento e perdas humanas incalculveis -, indicando a todo momento que a prosperidade econmica e comercial s se concretizaria com a predominncia poltica. Como fica claro nas preocupaes de um Frederick Harrison: Nosso Imprio apresenta condies especiais de vulnerabilidade. E a sua destruio, por obra de um inimigo yue se apossasse do Tmisa, teria conseqncias to desastrosas que, para preveni-las, no basta limitar-se a uma nica linha de defesa, por mais forte que seja, e por mais adequadas que sejam atualmente essas defesas. Durante mais de quarenta anos levantei minha voz, invariavelmente, contra todo ato de agresso, de expanso imperialista e de militarismo continental. No so muitos os que protestaram com a mesma energia contra as idias de adiar as reformas sociais e o bem-estar do povo em benefcio de conquistas e aventuras asiticas e africanas. No retiro uma S(') das palavras que disse a esse respeito. Mas ftil discorrer sobre a reorganizao industrial se no prepararmos o pas contra uma catstrofe que implicaria a destituio e a misria para a massa popular, paralisando a indstria e fazendo com que os alimentos alcanassem preos desesperados, enquanto fbricas e oficinas precisariam fechar suas portas!" (p.20)

Captulo 3.

Angell neste captulo pretende combater o axioma bem-estar = expanso blica, dizendo que tal no passa de uma grande iluso: No momento, o objetivo destas pginas demonstrar que essa idia quase universal, da qual a carta de Harrison manifestao singularmente vvida e evidente, constitui um dos erros mais enganosos e perigosos que se possa cometer - erro que tem em alguns dos seus aspectos, o carter de uma iluso de tica, de outros o de uma simples superstio, a qual, alm de ser profunda e universal, engendra males to graves como o de deslocar dos seus caminhos normais um imenso caudal de energia humana, desviando-o de tal forma que, se de tal superstio no nos conseguirmos despojar, representar uma verdadeira ameaa civilizao. (p.22)

1 impossvel destruir totalmente o comrcio de um pas, sem que se dizime a sua populao; o que seria um contrassenso econmico, j que um mercado possvel. 2 Poderia levar a total esterilidade econmica da Alemanha, visto que a Inglaterra uma pea chave na economia mundial. Logo um caos instalado nela traria consequncia gerais. 3 Imposio de tributos a um povo vencido mostra-se invivel. 4 A destruio absoluta do outro no mais do que um prazer sdico, visto que traria consequncia terrveis para si. 5 Eliminao dos rivais pela conquista algo imbecil, visto que os comerciantes ainda subsistiriam. 6 Poder poltico no sinnimo de maior bem estar, visto que pequenos pases como Holanda e Sua possuem um timo desenvolvimento humano sem serem potencias blicas. 7 Do ponto de vista econmico, a Inglaterra ganharia com a sua separao formal, pois no precisaria preocupar-se com a defesa delas. Portanto, essa "perda" no implicaria qualquer mudana dos fatos econmicos (exceto os custos da sua defesa, que a Me Ptria empreende para defend-las, que seriam poupados) e por isso no poderia acarretar a runa do Imprio, a misria ou a fome para a metrpole, como alegam habitualmente os que consideram essa hiptese. A Inglaterra no recebe das suas colnias, nem poderia receber, qualquer tributo ou vantagem econmica especial; e no possvel conceber que outro pas, necessariamente menos habilitado na administrao colonial, conseguisse o que a Inglaterra no consegue, especialmente se levarmos em conta a histria de outros imprios coloniais como os da Espanha e de Portugal, da Frana, alm da prpria Inglaterra em pocas anteriores. Essa histria demonstra tambm que a situao das colnias da Coroa, sob o aspecto considerado, no muito diferente da dos pases independentes. (p. 25)

- Depois dessa argumentao Angell pretende desmontar com maior cuidado a argumentao de Harrison, tendo em vista sete clusulas que podem ser resumidas no seguinte: (...)em nossos dias, a nica conduta possvel para o conquistador deixar a riqueza de um territrio em mos dos seus habitantes; por conseguinte, h uma iluso de tica, uma falcia lgica, na idia hoje alimentada na Europa de que uma nao aumenta a sua riqueza ao expandir o seu territrio, porque, ao anexar-se uma provncia ou um Estado, anexam-se tambm seus habitantes, que so os nicos e verdadeiros proprietrios da riqueza correspondente, e o conquistador nada ganha. A histria contempornea abunda em fatos que comprovam isso de forma concreta. A anexao de Schleswig Holstein e da Alscia pela Alemanha no aumentou em um s centavo o patrimnio pessoal de nenhum alemo. Embora a Inglaterra "possua" o Canad, o comerciante ingls deslocado do mercado canadense pelos comerciantes suos - e a Sua no "possui" o Canad. (p. 26)

Contra argumento econmico de Angell, extremamente interessante:

Os nicos fatores que o capitalista leva em conta so a segurana e o proveito; ao medi-los e calcul-los, conclui de que os valores das naes indefesas so mais seguros do que os dos pases que possuem armamentos colossais. Por que chega a essa concluso? Simplesmente porque o seu conhecimento das finanas - aplicado, neste caso, independentemente de qualquer vinculao ou implicao poltica - ensina que, em nossos dias, a riqueza no precisa ser defendida porque no pode ser confiscada. (p. 26)

Conseguindo, assim, burilar o seu argumento, que pode ser expresso da seguinte forma: Proponho-me a levar a suas ltimas conseqncias o argumento que pretendo demonstrar. Esse argumento no o de que os fatos indicados comprovam que os armamentos ou a sua ausncia sejam o fator nico ou determinante da riqueza nacional. O que se argumenta que a segurana das riquezas depende de outros fatores que no os armamentos; que a falta de poder poltico no constitui obstculo ou garantia com relao prosperidade; e que a simples extenso do territrio administrado no tem relao com a riqueza dos habitantes desse territrio. (p. 30)

Parte II Captulo 1

Crtico tentam mostrar que a causa fundamental da guerra no econmica, mas sim algo interno, inerente a natureza humana, portanto imutvel:

A objeo mais comum levantada contra os fatos enumerados na primeira parte deste livro a de que os verdadeiros motivos que levam as naes guerra no so de ordem econmica; que esses conflitos emanam de causas naturais; que resultam do conflito de direitos ou procedem de causas no s distintas das econmicas, mas estranhas ao influxo da razo, como a vaidade, o esprito de emulao, o orgulho da situao, o desejo de prevalecer, de ocupar uma posio preeminente, de ostentar poder e prestgio, do ressentimento causado por ofensas, de um impulso de ira, do desejo de dominar um rival a qualquer preo, alimentado por querelas e desavenas, da "hostilidade inerente" que existe entre naes rivais, do contgio dos impulsos colricos, da luta cega dos homens, entre si, e, de modo geral, do fato de que tanto os seres humanos como as naes sempre se digladiaram e continuaro a faz-lo porque "esta a sua natureza. (p. 135)

Identifica na Europa mesmo a formulao de toda uma corrente filosfica h variantes biologizantes, teolgicas e outras mais, todavia o esprito o mesmo, apenas a base diferiria - que defende a guerra como uma questo de supremacia, e que os homens devem ser estimulados luta e que a guerra a melhor forma de se resolver os conflitos. Pode-se identificar tal argumentao com uma mudana na estratgia dos antipacifistas que antes apostavam no enriquecimento material e agora apelam para a natureza e para a grandeza da luta. Segundo esses mesmos sujeitos a tentativa de abolir a guerra seria imoral, j que retira dos homens sua qualidade mais elevada, que o direito de expor a vida em defesa de uma ideal. (p. 138) interessante notar que, sistematicamente, colocam a guerra como algo fundamental, probo da humanidade e que pode levar h um engrandecimento viril, como diria o prprio Ernest Renan. Tais colocaes daro notcia, mais tarde, em personagens chaves do Fascismo, como Mussolini. Captulo 2

Angell argumenta utilizando uma noo de progresso que teria como fim atingir o bem-estar da comunidade poltica e da sociedade civil, identificando tal objetivo no desenvolvimento da religio, da reforma social e na progresso dos ideais polticos. Todo e qualquer ideal poltico deveria passar pelo crivo da seguinte pergunta: contribuem ou no para aumentar o bem-estar da massa coletiva a que se aplicam? (p.151) Nesse sentido a vontade expansionista e a belicosidade estatal diminuiriam cada vez, tornando-se algo essencialmente obsoleto. impossvel colocar a guerra tambm, como gostariam uma srie de escritores sobre a guerra, como um simples impulso de clera das naes, visto que: A verdade que, no mundo moderno, a guerra fruto da paz armada e, com todo o aparato complexo de oramentos anuais e laboriosa construo de barcos e fortificaes, com seus exrcitos disciplinados, exige e pressupe uma orientao poltica sustentada ao longo de anos, e talvez mesmo de geraes. Os homens no fazem esses sacrifcios, repetidos a cada ms e a cada ano, pagando impostos, mudando governos e sustentando debates parlamentares, por um capricho efmero. I~, como os conflitos esto destinados cada vez mais a serem decididos por mtodos cientficos, nos veremos obrigados a preparativos cada vez mais minuciosos (...) (p. 153)

Contudo, mesmo depois de toda essa contra argumentao, alguns diriam que a guerra ainda benfica para a disciplina saudvel e representa a sobrevivncia dos mais aptos. importante notar que essa tese do darwinismo social carece de qualquer fundamento visto que, a luta do organismo a sociedade humana contra o mundo e no uma luta dos homens entre eles mesmos para sobrevivncia. O que se v, como no caso das ilhas britnicas, o sucesso da cooperao e no do embate. interessante notar que o prprio Angell leva a srio a lei biolgica - um atraso - como fica patente na seguinte passagem: Felizmente, neste particular, a lei natural foi interpretada erroneamente. No aspecto sociolgico, o indivduo no o organismo completo, e quem evitar a associao com os seus semelhantes est destinado a perecer. E a nao tambm no o organismo completo. Se as Ilhas Britnicas procurassem evitar a cooperao com outras naes, metade da sua populao desapareceria. A vitalidade est em razo direta da cooperao: quando mais imperfeita ou reduzida esta ltima, menor a vitalidade de um povo. Ora, um corpo cujos componentes esto vinculados entre si em tais termos que falta de coordenao sua vitalidade diminui e sua morte se aproxima deve ser considerado, para todos os efeitos, no como um agrupamento de organismos rivais, mas como um s organismo. Isso est de acordo com o que sabemos sobre o carter dos organismos vivos e o seu conflito com o meio ambiente. Quanto mais elevado o organismo, quanto maior a sua complexidade e a dependncia recproca das partes que o compem, mais e mais imperativa a necessidade de condenao. (p. 157)

Norman Angell coloca a cooperao e a paz como questes do progresso humano-biolgico, tanto na evoluo social, como na evoluo biolgica dos homens primitivos at os cultos e honrados, segundo a suas palavras. Alm disso a simples guerra entre estados deixaria de ver que a sociedade j transcende as barreiras estatais e h uma multiplicidade to grande de interesses e posies dentro de um mesmo pas que a guerra careceria de argumentos.

14 pontos de Woodrow Wilson: Woodrow Wilson's Fourteen PointsWoodrow Wilson's Fourteen PointsWoodrow Wilson's Fourteen Points were first outlined in a speech Wilson gave to the American Congress in January 1918. Wilson's Fourteen Points became the basis for a peace programme and it was on the back of the Fourteen Points that Germany and her allies agreed to an armistice in November 1918.

1. No more secret agreements ("Open covenants openly arrived at").

2. Free navigation of all seas.

3. An end to all economic barriers between countries.

4. Countries to reduce weapon numbers.

5. All decisions regarding the colonies should be impartial

6. The German Army is to be removed from Russia. Russia should be left to develop her own political set-up.

7. Belgium should be independent like before the war.

8. France should be fully liberated and allowed to recover Alsace-Lorraine

9. All Italians are to be allowed to live in Italy. Italy's borders are to be "along clearly recognisable lines of nationality."

10. Self-determination should be allowed (permitida) for all those living in Austria-Hungary.

11. Self-determination and guarantees of independence should be allowed for the Balkan states.

12. The Turkish people should be governed by the Turkish government. Non-Turks in the old Turkish Empire should govern themselves.

13. An independent Poland should be created which should have access to the sea.

14. A League of Nations should be set up to guarantee the political and territorial independence of all states.