A GLOBALIZAÇÃO NA INDÚSTRIA DE CIMENTO - ie.ufrj.br · auge na década de cinqüenta e declinou...
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A GLOBALIZAÇÃO NA INDÚSTRIA DE CIMENTO
Victor Prochnik1 Adriana Perez2
Carla Maria de Souza e Silva3
Novembro de 1998
E-mail: [email protected]
1 Professor do Instituto de Economia da UFRJ 2 Economista 3 Estudante de Economia.
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ____________________________________________________6
2. CAPACITAÇÕES EMPRESARIAIS NA INDÚSTRIA DO CIMENTO ___________9
2.1. INTRODUÇÃO ________________________________________________9
2.2. O PRODUTO E O PROCESSO PRODUTIVO ________________________9
2.3. ESCALA E CUSTO DOS BENS DE CAPITAL ______________________10
2.4. CAPACITAÇÕES TECNOLÓGICAS NAS EMPRESAS PRODUTORAS DE CIMENTO_________________________________________________________14
2.4.1. CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA AO NÍVEL DA FIRMA PRODUTORA DE CIMENTO NA DÉCADA DE OITENTA_________________________________14 2.4.2. CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA E CAPACITAÇÃO ORGANIZACIONAL: O QUADRO ATUAL E PERSPECTIVAS ________________________________18
2.5. A DISTRIBUIÇÃO DE CIMENTO________________________________20 2.5.1. DISTRIBUIÇÃO À CURTA DISTÂNCIA __________________________20 2.5.2. COMÉRCIO INTERNACIONAL DE CIMENTO_____________________21
2.5.2.1. A importância do comércio internacional de cimento no processo competitivo _____________________________________________________21 2.5.2.2. O comércio esporádico de cimento ____________________________22 2.5.2.3. Os fluxos regulares de comércio ______________________________23 2.5.2.4. Obstáculos legais e concorrenciais ao comércio internacional de cimento 26
2.6. DIVERSIFICAÇÃO GEOGRÁFICA ______________________________27
2.7. DIVERSIFICAÇÃO POR LINHA DE PRODUTO PARA SEGMENTOS COMPLEMENTARES - ______________________________________________28
2.7.1. FLUXOS TECNOLÓGICOS INTRA FIRMA -_______________________28 2.7.2. INTEGRAÇÃO PARA FRENTE _________________________________29 2.7.3. ESTRATÉGIAS DE ATENDIMENTO INTEGRAL AO MERCADO ______31
3. A INDÚSTRIA E O MERCADO INTERNACIONAL DE CIMENTO ___________32
3.1. O MERCADO INTERNACIONAL E OS PRINCIPAIS PAÍSES CONSUMIDORES DE CIMENTO ______________________________________32
3.2. OS PRINCIPAIS GRUPOS PRODUTORES DE CIMENTO INTERNACIONAIS _________________________________________________36
3.2.1. O GRUPO SUIÇO HOLDERBANK FINANCIÈRE GLARIS ____________36 3.2.1.1. Introdução______________________________________________36 3.2.1.2. Estratégia de diversificação geográfica _________________________37 3.2.1.3. Estratégia de complementação de linhas de produto ________________39 3.2.1.4. Investimentos em tecnologia de produto e processo ________________39
3.2.2. O GRUPO FRANCES LAFARGE- COPPÉE ________________________40 3.2.2.1. Introdução______________________________________________40
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3.2.2.2. Diversificação geográfica na produção de cimento_________________41 3.2.2.3. Diversificação por linha de produtos para outros segmentos do complexo da construção civil __________________________________________________43 3.2.2.4. Investimentos em pesquisa e desenvolvimento____________________44
3.2.3. O GRUPO MEXICANO CEMEX ________________________________44 3.2.3.1. Introdução______________________________________________44 3.2.3.2. Breve Histórico da Cemex:__________________________________45 3.2.3.3. A estratégia de expansão geográfica ___________________________46 3.2.3.4. Estratégia de complementação de linhas de produto ________________51 3.2.3.5. Investimentos em tecnologia de produto e processo ________________51
3.3. CONCLUSÃO: A GLOBALIZAÇÃO NA INDÚSTRIA DE CIMENTO ___52
4. A OPERAÇÃO DO MERCADO DE CIMENTO NO BRASIL _________________56
4.1. INTRODUÇÃO _______________________________________________56
4.2. AS ETAPAS DE EVOLUÇÃO DA CONSTRUÇÃO CIVIL ATÉ A DÉCADA DE OITENTA ______________________________________________________57
4.3. OS CICLOS DA DÉCADA DE OITENTA E NOVENTA _______________61 4.3.1. O CICLO DO CRUZADO ______________________________________63 4.3.2. O CICLO DO REAL __________________________________________65
4.4. PERSPECTIVAS DE AMPLIAÇÃO DA DEMANDA _________________70 4.4.1. A CURTO PRAZO ___________________________________________70 4.4.2. A MÉDIO E LONGO PRAZO ___________________________________71
4.5. CENÁRIOS SOBRE A DEMANDA POR CIMENTO__________________77 4.5.1. CENÁRIO 1 ________________________________________________78 4.5.2. CENÁRIO 2 ________________________________________________78 4.5.3. CENARIO 3 ________________________________________________79 4.5.4. CENÁRIOS DO BNDES _______________________________________79
4.6. GRAU DE UTILIZAÇÃO DA CAPACIDADE PRODUTIVA INSTALADA 81
5. A REESTRUTURAÇÃO DA INDÚSTRIA DE CIMENTO NO BRASIL _________84
5.1. INTRODUÇÃO _______________________________________________84
5.2. AS FUSÕES E AQUISIÇÕES DE EMPRESAS_______________________86
5.3. PERSPECTIVAS SOBRE INGRESSOS DE PRODUTORES / EXPANSÃO DOS CONCORRENTES (AQUISIÇÕES E AMPLIAÇÃO DA CAPACIDADE PRODUTIVA). _____________________________________________________88
5.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS _____________________________________89
6. BIBLIOGRAFIA __________________________________________________91
2. CAPACITAÇÕES EMPRESARIAIS NA INDÚSTRIA DO CIMENTO ___________9
2.1. INTRODUÇÃO ________________________________________________9
2.2. O PRODUTO E O PROCESSO PRODUTIVO ________________________9
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2.3. ESCALA E CUSTO DOS BENS DE CAPITAL ______________________10
2.4. CAPACITAÇÕES TECNOLÓGICAS NAS EMPRESAS PRODUTORAS DE CIMENTO_________________________________________________________14
2.4.1. CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA AO NÍVEL DA FIRMA PRODUTORA DE CIMENTO NA DÉCADA DE OITENTA_________________________________14 2.4.2. CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA E CAPACITAÇÃO ORGANIZACIONAL: O QUADRO ATUAL E PERSPECTIVAS ________________________________18
2.5. A DISTRIBUIÇÃO DE CIMENTO________________________________20 2.5.1. DISTRIBUIÇÃO À CURTA DISTÂNCIA __________________________20 2.5.2. COMÉRCIO INTERNACIONAL DE CIMENTO_____________________21
2.5.2.1. A importância do comércio internacional de cimento no processo competitivo _____________________________________________________21 2.5.2.2. O comércio esporádico de cimento ____________________________22 2.5.2.3. Os fluxos regulares de comércio ______________________________23 2.5.2.4. Obstáculos legais e concorrenciais ao comércio internacional de cimento 26
2.6. DIVERSIFICAÇÃO GEOGRÁFICA ______________________________27
2.7. DIVERSIFICAÇÃO POR LINHA DE PRODUTO PARA SEGMENTOS COMPLEMENTARES - ______________________________________________28
2.7.1. FLUXOS TECNOLÓGICOS INTRA FIRMA -_______________________28 2.7.2. INTEGRAÇÃO PARA FRENTE _________________________________29 2.7.3. ESTRATÉGIAS DE ATENDIMENTO INTEGRAL AO MERCADO ______31
3. A INDÚSTRIA E O MERCADO INTERNACIONAL DE CIMENTO ___________32
3.1. O MERCADO INTERNACIONAL E OS PRINCIPAIS PAÍSES CONSUMIDORES DE CIMENTO ______________________________________32
3.2. OS PRINCIPAIS GRUPOS PRODUTORES DE CIMENTO INTERNACIONAIS _________________________________________________36
3.2.1. O GRUPO SUIÇO HOLDERBANK FINANCIÈRE GLARIS ____________36 3.2.1.1. Introdução______________________________________________36 3.2.1.2. Estratégia de diversificação geográfica _________________________37 3.2.1.3. Estratégia de complementação de linhas de produto ________________39 3.2.1.4. Investimentos em tecnologia de produto e processo ________________39
3.2.2. O GRUPO FRANCES LAFARGE- COPPÉE ________________________40 3.2.2.1. Introdução______________________________________________40 3.2.2.2. Diversificação geográfica na produção de cimento_________________41 3.2.2.3. Diversificação por linha de produtos para outros segmentos do complexo da construção civil __________________________________________________43 3.2.2.4. Investimentos em pesquisa e desenvolvimento____________________44
3.2.3. O GRUPO MEXICANO CEMEX ________________________________44 3.2.3.1. Introdução______________________________________________44 3.2.3.2. Breve Histórico da Cemex:__________________________________45 3.2.3.3. A estratégia de expansão geográfica ___________________________46 3.2.3.4. Estratégia de complementação de linhas de produto ________________51
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3.2.3.5. Investimentos em tecnologia de produto e processo ________________51
3.3. CONCLUSÃO: A GLOBALIZAÇÃO NA INDÚSTRIA DE CIMENTO ___52
4. A OPERAÇÃO DO MERCADO DE CIMENTO NO BRASIL _________________56
4.1. INTRODUÇÃO _______________________________________________56
4.2. AS ETAPAS DE EVOLUÇÃO DA CONSTRUÇÃO CIVIL ATÉ A DÉCADA DE OITENTA ______________________________________________________57
4.3. OS CICLOS DA DÉCADA DE OITENTA E NOVENTA _______________61 4.3.1. O CICLO DO CRUZADO ______________________________________63 4.3.2. O CICLO DO REAL __________________________________________65
4.4. PERSPECTIVAS DE AMPLIAÇÃO DA DEMANDA _________________70 4.4.1. A CURTO PRAZO ___________________________________________70 4.4.2. A MÉDIO E LONGO PRAZO ___________________________________71
4.5. CENÁRIOS SOBRE A DEMANDA POR CIMENTO__________________77 4.5.1. CENÁRIO 1 ________________________________________________78 4.5.2. CENÁRIO 2 ________________________________________________78 4.5.3. CENARIO 3 ________________________________________________79 4.5.4. CENÁRIOS DO BNDES _______________________________________79
4.6. GRAU DE UTILIZAÇÃO DA CAPACIDADE PRODUTIVA INSTALADA 81
5. A REESTRUTURAÇÃO DA INDÚSTRIA DE CIMENTO NO BRASIL _________84
5.1. INTRODUÇÃO _______________________________________________84
5.2. AS FUSÕES E AQUISIÇÕES DE EMPRESAS_______________________86
5.3. PERSPECTIVAS SOBRE INGRESSOS DE PRODUTORES / EXPANSÃO DOS CONCORRENTES (AQUISIÇÕES E AMPLIAÇÃO DA CAPACIDADE PRODUTIVA). _____________________________________________________88
5.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS _____________________________________89
6. BIBLIOGRAFIA __________________________________________________91
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1. INTRODUÇÃO
Em 1984, defendi uma tese sobre a indústria brasileira de cimento, que procurou
examinar porque esta indústria era dominada por empresas de capital brasileiro - Prochnik
(1983) e Prochnik (1984). A indústria do cimento foi instalada, no Brasil, por uma empresa de
capital estrangeiro, em 1926, mas, com o passar do tempo, a participação do capital nacional
cresceu e se tornou dominante.
A tabela 1-1 estende, para a década de 90, os resultados alcançados naquele estudo.
Nota-se que a participação das empresas de capital nacional, na indústria de cimento, atingiu o
auge na década de cinqüenta e declinou lentamente até o início da década de oitenta (entre a
decisão de investimento e a operação de uma planta, na década de oitenta, passavam-se, em
geral, três anos). Na década de oitenta, coincidindo com a crise financeira internacional do
Brasil e com o rápido crescimento dos mercados do sudeste da Ásia, que atraiu as maiores
empresas multinacionais do setor, a participação das empresas nacionais voltou a aumentar.
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TABELA 1-1 CAPACIDADE INSTALADA DE EMPRESAS NACIONAIS E
ESTRANGEIRAS NA INDÚSTRIA DE CIMENTO NO BRASIL
ANOS EMPRESAS
NACIONAIS EMPRESAS
ESTRANGEIRAS PARTICIPAÇÃO
PERCENTUAL DAS EMPRESAS
ESTRANGEIRAS
1930 --- 300 100,0 1935 35 500 93,5 1940 275 640 70,0 1945 320 640 66,7 1950 879 640 42,1 1955 2.884 592 17,0 1957 3.121 802 20,4 1962 4.479 1.551 25,7 1967 5.330 1.732 24,5 1974 12.010 3.770 23,9 1980 20.440 7.780 27,6 1984 28.607 13.062 31,3 1989 32041 9952 23,7 1993 34433 10311 23,0 1996 (1)
33100 14101 29,9
Fonte: Sindicato Nacional da Indústria do Cimento – ver dados mais detalhados na tabela 5-2
(1) Incluindo aquisições realizadas até abril de 1997 e não incluindo possíveis expansões de
capacidade no mesmo período.
A partir de meados da década de noventa, com a volta ao crescimento do consumo de
cimento e a sobrevalorização da moeda, proporcionada pelo plano Real, este quadro mudou
com rapidez. Como mostra a tabela 1-1, a participação do capital estrangeiro aumentou
rapidamente.
Assim, em 1998, voltando a estudar a evolução da indústria brasileira de cimento,
encontrei uma situação diversa. A participação do capital brasileiro, nesta indústria, não apenas
tem diminuído rapidamente como, também, são favoráveis as perspectivas de continuação do
aumento da participação de empresas de capital estrangeiro.
Esta mudança de tendência motivou o presente estudo. Seus dois objetivos são (1)
analisar as causas do processo de globalização na indústria do cimento e (2) estudar o impacto
deste processo sobre a estrutura de oferta nacional do produto.
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Quanto ao primeiro objetivo, o trabalho analisa, no capítulo dois, as vantagens
competitivas das empresas maiores, que levam à concentração da oferta. Algumas destas, em
particular, são derivadas da atuação transnacional das grandes empresas, favorecendo empresas
internacionalizadas.
Essas vantagens competitivas, ao nível microeconômico, são potencializadas pelas
mudanças no nível macroeconômico, como maior abertura dos mercados, legislações menos
restritivas ao capital estrangeiro etc. Estas últimas, entretanto, são de conhecimento geral e, por
isto, são abordadas mais superficialmente neste trabalho.
A apresentação da evolução recente e da estratégia das três maiores empresas mundiais
produtoras de cimento, no capítulo três, procura ilustrar as vantagens anteriormente descritas.
A evolução do setor da construção civil, mercado da indústria de cimento, é o objetivo
do capítulo quatro. A partir dos elementos nele apresentados e dos dados anteriores, sobre as
vantagens competitivas das grandes empresas, o trabalho analisa, no capítulo cinco, o impacto
do processo de globalização sobre a estrutura da indústria de cimento brasileira.
É visto, em particular, que, como os maiores grupos brasileiros no setor ainda não se
internacionalizaram, eles também estão ameaçados, apesar do seu porte, de terem suas
margens pressionadas e de serem, eventualmente, obrigados a vender parte significativa dos
seus ativos ou entrar em joint ventures nas quais sua participação acionária é menor do que a
parcela de mercado por eles previamente atendida.
Victor Prochnik
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2. CAPACITAÇÕES EMPRESARIAIS NA INDÚSTRIA DO CIMENTO
2.1. INTRODUÇÃO
Este capítulo procura mostrar a importância das capacitações empresariais na indústria
do cimento. Para isto, ele apresenta, também, as principais características estruturais da
indústria de cimento, que condicionam o horizonte de atuação das firmas.
O capítulo está organizado segundo as etapas do processo produtivo. Após apresentar o
produto e o processo produtivo, são vistos, em sequência: os bens de capital, capacitações
tecnológicas na produção, distribuição do produto, características do setor demandante, a
construção civil e os efeitos da diversificação das empresas para setores conexos, também
produtores de materiais de construção.
2.2. O PRODUTO E O PROCESSO PRODUTIVO4
O cimento, ou cimento portland, é o principal insumo da construção civil. O cimento é
feito basicamente a partir de uma mistura de calcário e argila. Estas matérias-primas,
calcinadas a altas temperaturas, dentro de um forno rotativo horizontal de grandes dimensões,
produz um insumo intermediário denominado clínquer. A mistura do clínquer com uma
pequena proporção de gesso, misturado no final do processo produtivo, gera o cimento.
Para cada tonelada de cimento, é necessário o emprego de 1,4 toneladas de calcário. Por
isso, para diminuir o custo do transporte, as fábricas se localizam, quase sempre, junto a
jazidas desta matéria-prima. O calcário, por sua vez, é relativamente abundante na natureza,
embora a qualidade e porte das jazidas sejam variáveis.
O cimento também pode ser composto de forma diferente, com o emprego de cinzas de
carvão (cimento pozolânico) ou escórias de alto-forno, barateando o custo da produção.
Também existem outros diferentes tipos de cimento como, por exemplo, cimento de alta
resistência, cujo poder ligante é ativado com maior rapidez do que o cimento comum e o
cimento branco. Mas a diferenciação do produto é muito mais comum na etapa posterior à
fabricação do cimento, a produção do concreto.
Assim, o cimento pode ser considerado um produto homogêneo e tanto a competição
em marca ou por características do produto são reduzidas. Existem, entretanto, outras
estratégias de diferenciação abertas aos produtores, entre as quais a produção de cimento com
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especificações que superam as padronizadas pela indústria. Isto permite, ao consumidor, usar
menos do produto, nas misturas empregadas. Por isto, há uma percepção diferencial quanto ao
prestígio das diferentes marcas, embora pouco acentuada.
Outras estratégias de diferenciação estão nas atividades de venda e assistência técnica,
como a difusão de técnicas de uso do cimento, palestras e outras formas de apoio ao
consumidor (exames laboratoriais etc.). Estas estratégias são voltadas, principalmente, para
consumidores em larga escala.
A cadeia produtiva do cimento é apresentada no quadro abaixo:
FIGURA 2-1 CADEIA PRODUTIVA DO CIMENTO
CONSUMIDORES FINAIS. CONSTRUTORAS E EMPREITEIRAS. ÓRGÃOS PÚBLICOS
FABRICANTES DEARTEFATOS DE
CIMENTO
PRODUTORES DEPRÉ-FABRICADOS
FABRICANTES DECIMENTO AMIANTO
USINAS DE CONCRETO
REVENDEDORES DEMATERIAIS DECONSTRUÇÃO
ESPECIFICADORES. PROJETISTAS DE FUNDAÇÕESE ESTRUTURAS PARAREVESTIMENTOS
TRANSPORTADORES. RODOVIÁRIO. FERROVIÁRIO
PRODUTORES
EMBALAGENS
PROJETO DAS PLANTASINDUSTRIAIS. CONSTRUÇÃO DAS PLANTAS
EQUIPAMENTOS. PRODUTORES
ENERGIA. CARVÃO MINERAL. CARVÃO VEGETAL. ÓLEO COMBUSTÍVEL. GÁS NATURAL. OUTROS
SALINAS. RESÍDUOS
INDÚSTRIA DE FERTILIZANTES. FOSFOGESSO. RESÍDUOS DEDESSULFURIZAÇÃO
USINAS TERMO-ELÉTRICAS. CINZAS VOLANTES
INDÚSTRIA SIDERÚRGICA. ESCÓRIA DE ALTO FORNO. RESÍDUOS
EXTRAÇÃO E BENEFICIAMENTODE MATÉRIAS-PRIMAS. MATERIAIS CALCÁRIOS. MATERIAIS ARGILOSOS. GIPSITA
Fonte: FERRAZ et alli (1996).
2.3. ESCALA E CUSTO DOS BENS DE CAPITAL
A tecnologia atual do processo de produção de cimento é difundida desde os anos 70,
quando a maioria das fábricas brasileiras de cimento passou a produzir por via seca. Os
fornecedores de máquinas e equipamentos são fornecedores mundiais, não mantendo contratos
de exclusividade com firmas cimenteiras.
Os maiores grupos produtores de cimento, entretanto, têm relações privilegiadas com
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estes fornecedores, quer por comprar em maior escala quer por deter um melhor know-how de
compra de equipamentos. Eles são mais eficazes, em relação aos grupos menores, tanto na
especificação dos equipamentos e sistemas como no acompanhamento da sua vida útil,
discussão de garantias, exigências de assistência técnica etc..
Alguns indicadores de que não apenas existe um know-how diferencial dos maiores
grupos em relação aos menores como, também, que este diferencial vem aumentando são
apresentados na próxima seção.
Os principais fornecedores de bens de capital para a indústria do cimento são: F.L.
Smidth, da Dinamarca; Technip Cleplan, da França; Polysius, da Alemanha e Onoda, do Japão.
A empresa Onoda é exceção nessa indústria, formada por firmas independentes, pois é ligada
aos produtores de cimento japoneses, fornecendo-lhes tecnologia com exclusividade.
O forno constitui o bem de capital de maior importância para uma indústria de cimento.
É dentro do forno aquecido que ocorre a transformação mais importante do processo produtivo
do cimento. Tendo em vista o caráter químico do processo, pode-se afirmar que há um
intervalo pequeno de quantidades máxima e mínima que o forno pode produzir dentro de
determinado padrão de eficiência. Assim, a produção da indústria de cimento fica presa à
capacidade do forno, sujeitando-se às flutuações de mercado.
A escala de eficiência mínima na indústria de cimento tem aumentado. Desde o
desenvolvimento do forno rotativo, em 1902, de 150 pés de comprimento, até os atuais 500 pés
de comprimento, as fábricas se vêem impulsionadas a investir, periodicamente, no aumento de
sua escala, de modo a aumentar a produtividade e enfrentar a concorrência.
O gráfico seguinte apresenta as perspectivas de evolução, até o ano 2000, da escala de
produção de uma fábrica de cimento, com um forno de tecnologia de ponta, segundo a fábrica
de máquinas e equipamentos Fuller USA.
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GRÁFICO 2-A - EVOLUÇÃO DA CAPACIDADE DO FORNO PARA PIRO-
PROCESSAMENTO5
(toneladas métricas por dia)
0
2500
5000
7500
10000
12500
15000
17500
20000
1960 1970 1980 1990 2000
Fonte: http://www.fullerco.com/html/pyro_stateofart.htm
Essa tendência de escalas de produção crescentes é uma das razões para a crescente
concentração na estrutura de oferta da indústria de cimento mundial, uma vez que o custo de
investimento inicial torna-se mais elevado. Existem, entretanto, outras razões significativas,
como as vantagens em capacitação tecnológica e as vantagens da operação multinacional,
apresentadas nas próximas seções.
Outra conseqüência do tamanho dos fornos é a dificuldade em incrementar a capacidade
produtiva marginalmente, através de investimentos em determinados segmentos da planta. Em
razão dessa característica, o aumento da oferta, muitas vezes, ocorre em saltos de quantidade,
sendo condicionado por uma expectativa de uso de pelo menos trinta anos (HAGUENAUER,
1997: 147).
Uma última conseqüência da escala dos fornos, associada com o baixo custo da matéria-
prima é a forte participação dos custos fixos na produção. Isto faz com que a existência de
capacidade ociosa, na indústria de cimento, seja muito onerosa. Esta característica estrutural da
indústria favorece a adoção de práticas de preços abaixo dos custos médios totais,
principalmente em fases de recessão e no atendimento a mercados não tradicionais.
Ultimamente, duas das principais direções de avanço do processo produtivo, por parte
dos fabricantes de bens de capital, têm se concentrado, segundo a empresa produtora de bens
de capital Fuller, na crescente informatização dos processos existentes e na maior possibilidade
5 Piro-processamento deve ser entendido como a fase de aquecimento do forno rotativo de uma fábrica típica de cimento.
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de verificação da composição química do material nos vários estágios de produção
(http://www.fullerco.com/html/ pyro_$main.htm).
Outra tendência importante é o projeto de máquinas que possibilitem uma maior
redução do consumo de insumos energéticos, como o óleo combustível, no aquecimento do
forno. O gráfico a seguir apresenta a redução do consumo de combustível e sua tendência para
os próximos anos.
GRÁFICO 2-B - TENDÊNCIA PARA CONSUMO DE COMBUSTÍVEL PARA PIRO-PROCESSAMENTO (KCAL/KG)
600
650
700
750
800
850
900
1960
1963
1966
1969
1972
1975
1978
1981
1984
1987
1990
1993
1996
1999
Fonte: http://www.fullerco.com/html/pyro_stateofart.htm
Deve-se mencionar que não somente o forno tem aumentado de escala. Os demais
equipamentos, conforme apresentado no gráfico a seguir, também têm acompanhado o ritmo
de crescimento da escala de produção. Este é o caso do equipamento para triturar argila e
calcário, que antecede a calcinação, que , também teve sua capacidade aumentada. O histórico
da Loesche, empresa que desenvolve estes moinhos de calcário e argila apresenta claramente o
aumento da escala de produção, conforme se observa no gráfico a seguir.
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GRÁFICO 2-C - EVOLUÇÃO DA ESCALA MÁXIMA DO MOINHO DE
MATÉRIAS PRIMAS DE CIMENTO PRODUZIDO PELA LOESCH
0
100
200
300
400
500
600
700
800
1965 1970 1973 1981 1996
Tone
lada
s/ho
ra
Fonte: Fonte: http://www.loesche.com/dry-grinding/dry-grinding_2.htm
2.4. CAPACITAÇÕES TECNOLÓGICAS NAS EMPRESAS PRODUTORAS DE
CIMENTO
2.4.1. CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA AO NÍVEL DA FIRMA
PRODUTORA DE CIMENTO NA DÉCADA DE OITENTA
Um dos aspectos mais importantes do trabalho realizado no início da década de oitenta,
foi mostrar que, no setor de cimento, as empresas maiores detinham vantagens competitivas
em relação às menores, derivadas do seu maior know how técnico. Estas vantagens eram
significativas mesmo em um setor no qual as empresas fornecedoras de bens de capital eram a
principal fonte de tecnologia e onde empresas de consultoria podiam ser contratadas para
ofertar serviços tecnológicos não incorporados aos bens de capital. Procurou-se mostrar que
estas vantagens explicavam a concentração econômica da oferta, com o aparecimento e
crescimento de empresas de cimento relativamente grandes, que detinham parcelas
significativas de muitos mercados nacionais.
Estas vantagens, entretanto, não eram de molde a impedir a entrada e a operação de
empresas pequenas (empresas que operam apenas uma fábrica, por exemplo). O custo de
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transporte do produto, por exemplo, claramente permite a existência de empresas deste porte
em mercados mais isolados. Mas mesmo nos mercados maiores, como junto às grandes
aglomerações urbanas e industriais, empresas unifabris operavam com sucesso. Fatores
estruturais, como disponibilidade da tecnologia, tamanho relativamente pequeno da escala de
produção de uma fábrica frente à dimensão total do mercado e a inexistência de competição
por diferenciação do produto explicavam esta possibilidade.
Mas a persistência e crescimento continuado das grandes empresas líderes de mercado
era a questão a ser analisada. Nesta seção, retoma-se esta discussão, mostrando não apenas
trechos do trabalho anterior como, também, as tendências posteriores. Em relação a estas
últimas, procura-se juntar evidências para sustentar o argumento de que não apenas houve
como deve se aprofundar a tendência ao aumento do potencial de vantagem competitiva
diferencial das empresas maiores em relação às menores. Existem, cada vez mais, vantagens
significativas tanto na detenção e uso de know-how técnico, como nas práticas comerciais e nas
operações financeiras.
A conseqüência, como é visto nos próximos capítulos, é a concentração industrial. As
empresas menores estão, pelo menos no Brasil e em outros países da América Latina,
vendendo suas instalações para empresas maiores ou fundindo suas operações.
Apresenta-se, a seguir, o trecho de Prochnik (1983) que apresenta as evidências de
existência de vantagens competitivas das empresas maiores. Na próxima seção, é discutido o
período mais recente.
“… existe uma grande independência entre as empresas de engenharia pesada,
produtoras de máquinas para indústria de cimento, e as fabricantes deste insumo. Estas
empresas são as principais geradoras de progresso técnico, o que assegura o livre acesso à
tecnologia de ponta a qualquer novo fabricante. No entanto, se os bens de capital são
disponíveis para compra no mercado internacional, a construção e aquisição a custos
competitivos de uma fábrica de cimento requer uma série de conhecimentos e técnicas cuja
aquisição é afetada pela escala da empresa interessada.
Este know-how é constituído nas fases de pesquisa e desenvolvimento levadas a cabo
pelos grupos fabricantes e pode ser subdividido em técnicas relacionadas à fase de
investimento e à fase de operação do empreendimento. Serão vistos, primeiramente, alguns
aspectos do know-how necessário para a execução do investimento.
O investimento em uma nova planta envolve as seguintes fases: estudos iniciais, projeto
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detalhado, aquisição de bens de capital, obras civis, montagem industrial, início da produção e
alcance da produção garantida.
O trabalho de Ruth Pearson (1977) revela que a maior capacidade técnica nas fases de
projeto e gerência da construção, assim como o porte econômico da empresa, são as variáveis
fundamentais para que a nova planta seja construída com menor custo, maior eficiência e
maior controle sobre o investimento realizado. Isto porque o maior conhecimento técnico sobre
o equipamento a ser adquirido aumenta o poder de barganha junto aos fornecedores de bens de
capital, o que evita a compra de equipamentos obsoletos ou fora dos padrões desejados,
possibilitando uma melhor distribuição das encomendas entre os diversos fabricantes. As
informações sobre os equipamentos são geradas, inicialmente, pelos produtores de bens de
capital. Uma empresa de grande porte, por seu volume de investimento anual em novas
fábricas, ampliações e reposições, está sempre em melhor situação para obter os dados mais
confiáveis e testar os equipamentos em oferta. Os grandes fabricantes de cimento prestam
serviços de consultoria a outras empresas, o que reforça ainda mais o seu acesso privilegiado
às informações.
Questões semelhantes aparecem nas fases de obras civis e montagem industrial. Nestas
etapas, o know-how prévio também permite um maior aprendizado e coloca a firma em melhor
posição para discutir responsabilidades sobre defeitos que eventualmente possam aparecer.
Neste enfoque, o pior tipo de contrato para o investidor é o de turn-key, onde a transferência de
todas as responsabilidades para o contratante implica um substancial aumento de custo e
praticamente nenhuma absorção de know-how. Numa evidência das vantagens financeiras que
o know-how nas etapas de investimento traz para a firma, Ruth Pearson indica que o custo de
uma fábrica construída em regime de turn-key pode alcançar o dobro do preço de uma fábrica
na qual a empresa proprietária participa ativamente do processo de investimento.
Assim, a análise das atividades relacionadas ao processo de investimento revela que as
maiores empresas possuem vantagens econômicas, ou seja, sua maior eficiência é
conseqüência do seu maior porte.
Estas conclusões são confirmadas na análise sobre a geração interna de tecnologia
relacionada à operação de fábricas de cimento, apresentada a seguir.
No que concerne à operação da planta, a capacidade da empresa para inovar é relevante
nas seguintes fases: automação, controle da qualidade, sistemas de manutenção, administração
da planta e sistemas de distribuição. Nestes aspectos, o leque de opções tecnológicas aberto
17
17
para a firma é razoavelmente amplo, uma vez que os mesmos equipamentos podem, em geral,
ser operados com diferentes graus de sofisticação. Assim, por exemplo, existem vários níveis
possíveis de automação, variando desde os circuitos de controle fechado até o gerenciamento
por computadores. Nos níveis mais simples, as tarefas são realizadas de forma independente e
a habilidade humana é mais solicitada. Os mais sofisticados, por sua vez, são caracterizados
por maior coordenação entre as diversas atividades a serem executadas e pelo menor recurso à
mão-de-obra altamente especializada.
Quando se opera em um nível mais sofisticado, o controle da qualidade e a manutenção
preventiva são partes integrantes do processo de produção, gerando inputs periódicos para o
sistema central de controle do processo. Com base neste e em outros dados, a execução
automática das correções necessárias é realizada através da alteração dos parâmetros de
funcionamento de todo sistema produtivo. Nos níveis mais simples, cada conjunto de
equipamentos é controlado de forma independente e a coordenação entre eles é semi-
automática ou até mesmo manual. As atividades de controle da qualidade também são
executadas em separado, o que gera então uma maior interação do departamento técnico da
fábrica no processo global de operação.
A existência de empresas operando em níveis diferentes de automação foi verificada por
Ruth Pearson, em trabalho de campo realizado nos departamentos técnicos de cinco fábricas de
cimento mexicanas. As diferenças observadas estão relacionadas ao tamanho da firma e à
existência de vínculos com os grandes produtores mundiais, sugerindo que a operação das
fábricas também está sujeita a economias exclusivas das grandes empresas. Assim como na
análise das economias de expansão, a direção do progresso técnico na fabricação do cimento
por empresas internacionalizadas é no sentido de uma crescente subordinação dos centros
técnicos locais aos centros junto à matriz, com a degradação da capacidade local. Além disso,
constatou-se que estas economias não são passíveis de obtenção direta no mercado. Ao
contrário, o desenvolvimento da tecnologia de operação exige uma experiência anterior, o que
faz com que até grupos de grande porte não possam consegui-la rapidamente. Assinale-se, por
fim, que a aquisição dessas tecnologias, se pode ser traduzida numa redução de custos (quando
funciona a contento), pode também implicar em uma grande dependência do fornecedor.
Conclui-se, portanto, que existe uma série de atividades em relação às quais a maior
capacitação tecnológica é uma arma de competição entre as empresas produtoras de cimento.
Nota-se, também, ao estudar o setor que, em algumas dessas atividades, os fabricantes de
18
18
cimento concorrem com os produtores de bens de capital, formando uma região de fronteira,
disputada por ambos os lados.”
2.4.2. CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA E CAPACITAÇÃO
ORGANIZACIONAL: O QUADRO ATUAL E PERSPECTIVAS
Atualmente, a importância da tecnologia incorporada aos bens de capital é
relativamente menor do que era no início da década de oitenta, quando foi escrito o trabalho
anteriormente citado. É visto, a seguir, como a relevância do know how técnico não
incorporado aos equipamentos continuou a crescer. Também é destacada a crescente
importância de outra categoria de know how não incorporado, o desenvolvimento de novas
formas organizacionais.
A conjugação destes dois vetores de acumulação de vantagens competitivas, um
relacionado à incorporação de novas técnicas e o outro derivado do recurso a novas formas de
organização, explica a capacidade de crescimento diferencial das grandes empresas em relação
as menores.
Entre os anos em que o trabalho acima citado foi escrito, início da década de oitenta, e
os dias de hoje, a importância do know-how organizacional e técnico não incorporado nos bens
de capital apenas cresceu. Este é visível nas técnicas industriais japonesas (just-in-time) de
aumento da produtividade, no movimento de ampliação da qualidade e na difusão das normas
da série ISO 9000 e nas práticas de automação industrial e comercial.
As empresas maiores têm vantagens significativas em muitos aspectos. Por exemplo, na
indústria brasileira de cimento, a primeira empresa a conquistar o certificado ISO 9002 foi a
Rio Branco, do grupo Votorantim. Outro exemplo refere-se à adoção de redes corporativas de
telecomunicações. Prochnik (1998) mostra que, mesmo nesta época de Intranets, tecnologias
mais complexas e mais produtivas estão apenas ao alcance de empresas de maior porte, dando-
lhes vantagens competitivas significativas.
É sabido que as pequenas empresas têm, frente às empresas de maior porte, vantagens
de maior flexibilidade operacional. Entretanto, nos últimos dez anos, houve uma revolução na
organização empresarial. A difusão da reengenharia, o movimento de downsizing, a crescente
terceirização das atividades não estratégicas e, como visto adiante, a concepção do modelo de
firma em rede, podem ser vistos como esforços das grandes empresas em incorporar uma
maior flexibilidade operacional diminuindo, neste sentido, as diferenças que as separam das
19
19
empresas menores.
A difusão da informática tem sido importante para atingir este fim. A revolução
eletrônica permite aproximar as pessoas dentro de uma grande organização. A revolução
organizacional busca usar efetivamente o potencial dessa possibilidade, criando novos fluxos
de informação intra-firma e novos sistemas de trabalho.
O aparecimento, entre as grandes corporações, de uma nova forma organizacional,
diferente do modelo até então prevalecente, a firma multidivisional, vem sendo proposto em
vários trabalhos. O novo arranjo institucional recebe o nome de firma em rede, uma amostra da
importância que se dá, neste novo modelo, ao aumento das articulações intra e interfirmas.
As características internas do novo modelo de firma, segundo Bartlett e Ghoshal (1994),
são:
♦ Fracionamento das divisões com formação, em cada uma, de unidades de negócio;
♦ descentralização de parte do poder de decisão, das divisões para unidades de negócio;
♦ desverticalização das empresas, possível com a automação dos fluxos verticais de
informação, descentralização dos recursos para unidades de negócios e sua maior autonomia;
♦ criação de novos mecanismos de integração horizontal, envolvendo as unidades de negócio,
procurando criar sinergias e evitar duplicações de esforços;
♦ maior importância, entre os ativos das empresas, do conhecimento especializado.
A análise de Peter Drucker (1988), sobre o novo modelo organizacional é semelhante a
de Bartlett e Ghoshal (1994). Para Drucker (1988), entre as organizações atualmente
existentes, algumas já trazem os traços característicos e os problemas da “nova organização”.
Hospitais, universidades e orquestras sinfônicas são exemplos apontados. “...Porque, como
eles, o negócio típico será baseado no conhecimento, uma organização composta largamente
de especialistas que dirigem e disciplinam sua própria performance através de feedbacks
organizados de colegas, consumidores e da sede da empresa. Por esta razão, será o que eu
chamo de organização com base na informação” - Drucker (1988, pág. 3)
Drucker (1988) enfatiza, entre os determinantes internos e externos da emergência da
firma em rede, as possibilidades advindas do emprego das tecnologias da informação. Segundo
este autor, a crescente adoção desta tecnologia leva, dentro das empresas, à transformação dos
processos de trabalho. O menor número de níveis hierárquicos, por exemplo, é um resultado
imediato da maior e mais barata capacidade de processamento e de transmissão de dados. A
queda de custos e o crescimento da capacidade de processamento e transmissão de dados
20
20
diminuem, nas empresas, a complexidade das atividades de coordenação.
Drucker (1988, pág. 5) observa que muitos níveis de administração nem tomam
decisões nem detêm capacidade de liderança, servem apenas para captar e retransmitir
informações no sentido vertical da hierarquia. Estes níveis estão sendo rapidamente
substituídos, nestas atividades, pelas redes corporativas.
Outro exemplo refere-se à qualificação da força de trabalho. Na época atual, existe uma
ampla disponibilidade de dados, em todas as etapas da cadeia de valor da empresa. O uso
efetivo destes dados, a sua transformação em informação útil, por sua vez, requer o trabalho de
especialistas. Assim, Drucker (1988) explica a relevância, para a firma que se pretende
competitiva, em manter especialistas qualificados nas áreas operacionais, as mais distantes dos
headquarters. Por estas razões, a firma moderna, para o autor, é composta de uma estrutura
muito achatada, na qual se encontram especialistas trabalhando em todas as atividades e, em
particular, nas áreas operacionais.
A tendência, para o futuro, é de continuidade e até aceleração das transformações a
nível empresarial e fabril. Um estudo sobre tendências de futuro das grandes empresas, que
usou o método Delphi - Czinkota & Ronkainen (1997) destaca que “A manufatura também
será fortemente afetada pelas transformações industriais. Inovações tecnológicas vão precipitar
uma avalanche de novos produtos. Interações simultâneas com diferentes partes do mundo vão
reforçar esforços de pesquisa e desenvolvimento. Uma transferência de conhecimento mais
rápida vai permitir a concentração do know-how em produtos, divisão do trabalho crescente e
proliferação de operações globais. Mudanças na tecnologia da informação vão permitir
produção e entrega mais rápida, levando a uma nova era da administração logística, que será
instrumental em possibilitar as firmas a serem as primeiras a chegar aos mercados e fortificar
suas relações com consumidores.” - Czinkota & Ronkainen (1997, página 836)
2.5. A DISTRIBUIÇÃO DE CIMENTO
2.5.1. DISTRIBUIÇÃO À CURTA DISTÂNCIA
No caso dos pequenos consumidores, o cimento costuma ser escoado da fábrica até
depósitos, que se localizam próximos aos mercados locais. Os maiores consumidores recebem
o produto diretamente das fábricas. No caso brasileiro, utiliza-se muito o transporte rodoviário,
dada a precariedade dos transportes ferroviário e marítimo. Por exemplo, segundo o Sindicato
21
21
Nacional das Indústrias de Cimento (SNIC), o cimento despachado por rodovias correspondeu,
de janeiro e junho de 1997, a 92,18% do total despachado no país.
No Brasil, a participação das concreteiras diminuiu significativamente se comparada
com a sua importância durante os anos 70 e início de 80, assim como a participação dos
revendedores, nas compras junto à indústria de cimento, aumentou - tabela 2-1. Cresceu,
portanto, a participação do “consumidor formiga” no mercado. Este, em relação aos
consumidores em larga escala, é menos motivado pela qualidade e mais sensível a mudanças
nos preços.
TABELA -2-1 - PARTICIPAÇÃO DOS CONSUMIDORES DIRETOS NA PRODUÇÃO NACIONAL DE CIMENTO
ANO Concreteiras Outros consumidores Revendedores 1993 8,54 12,60 78,86 1994 9,03 12,29 78,68 1995 9,76 11,73 78,51 1996 10,06 12,14 77,80 1997 9,80 14,27 75,93
Nota: os valores de 1997 correspondem aos meses de janeiro a junho. Fonte: SNIC
2.5.2. COMÉRCIO INTERNACIONAL DE CIMENTO
2.5.2.1.A importância do comércio internacional de cimento no processo
competitivo
O comércio internacional de cimento, embora ainda relativamente pequeno, é crescente.
De fato, a rápida ampliação do comércio internacional de cimento é uma característica
relativamente recente desta indústria. Em 1990, 5,9 % do cimento produzido era consumido
em um outro país. Em 1997, esta proporção já havia aumentado para 7,5%.
O comércio internacional de cimento depende de uma série de investimentos em ativos
específicos, destacando-se a localização das fábricas (são preferidos sítios no litoral, em
lugares onde podem ser construídos portos para o embarque do produto), navios
especializados, equipamentos de carga e descarga, silos e armazéns e as rotinas de
planejamento e organização. As maiores empresas mundiais de cimento vêm realizando
22
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investimentos estratégicos nesta direção e são as principais responsáveis pelo comércio
internacional do produto. Por exemplo, como visto adiante, as maiores frotas mundiais são
operadas pelos grandes produtores transnacionais.
No comércio internacional de cimento, são identificados dois tipos de fluxos, os
irregulares, que procuram aproveitar vantagens de diferenças de preços momentâneas entre
mercados e os regulares. Entre estes últimos, estão os fluxos contínuos para grandes
importadores, como os Estados Unidos, os sistemas regionais de transporte, que começam a ser
implantados e o comércio para mercados emergentes, que antecede o investimento produtivo.
As duas seções seguintes discutem estas diferentes formas de comércio.
2.5.2.2. O comércio esporádico de cimento
Tendo em vista o baixo valor unitário da tonelada de cimento, o custo do transporte do
produto é relativamente dispendioso. Havendo grande dispersão da produção, em praticamente
todos os países, por causa da ampla disponibilidade das matérias-primas, existem
relativamente poucos incentivos para o comércio a longa distância.
Quando a qualidade da matéria-prima é superior ou a empresa possui economias de
escala significativas, essa tem condições de alcançar mercados mais distantes. A empresa
pode admitir uma maior participação do custo de transporte no preço final, sem deixar de ser
competitiva.
Note-se, a este respeito, que os custos de transporte de cimento não aumentam
linearmente com a distância. Em distâncias maiores, o custo do transporte por
tonelada/quilômetro é menor. A diminuição do custo por quilômetro em relação ao aumento
das distâncias foi estimada pela Comunidade Européia e mencionada na decisão 94/815,
EUROPEAN COMMISSION (1996). Segundo o texto:
“Considerando um índice de 100 para distâncias entre 450 e 499 km, o índice seria
em torno de 80 para distâncias entre 500 e 1499 km e aproximadamente 65 para
distâncias maiores do que 1500 km.”
“Taking an index of 100 for distances between 450 and 499 km, the index would
be around 80 for distances between 500 and 1499 km and about 65 for distances in
excess of 1500 km.” - European Commission (1996, pág. 330)
A esta possibilidade se associa outra característica da indústria. As empresas de cimento
têm custos fixos significativos. A venda do produto pelo custo variável marginal mais uma
23
23
margem qualquer, que permita cobrir parte dos custos fixos, assegura um alívio, mesmo que
parcial à empresa.
Esta é uma estratégia usada, principalmente, em mercados mais distantes e não
tradicionais, onde a venda não compromete as vendas nos mercados em que a empresa tem
participação mais constante. O comércio internacional do produto, muitas vezes, é realizado
nestes momentos, isto é, o cimento é exportado de mercados em depressão para mercados
distantes, onde podem vigorar melhores condições de mercado. Por isto, são comuns, na
indústria do cimento, as acusações de dumping, prática esta derivada das características acima
descritas.
2.5.2.3. Os fluxos regulares de comércio
Mas, nos últimos anos, tem crescido a participação, no comércio internacional de
cimento, de fluxos mais regulares, como os verificados, com maior frequência, no caso de
outros minerais, como o ferro, que são regularmente transportados a longa distância. Neste
último caso, isto decorre tanto da maior concentração geográfica das suas jazidas como,
também, da tecnologia de transporte, envolvendo ligações ferroviárias de longa distância,
terminais de grande capacidade de escoamento por unidade de tempo e navios de grande porte.
Observa-se, na indústria mundial de cimento, um esforço similar, no sentido de rebaixar
o custo dos transportes, através da adoção de inovações tecnológicas em todas as etapas da
distribuição. O contínuo aprimoramento dos sistemas de transporte e armazenagem está entre
as principais tendências de evolução técnica no setor nos últimos anos. A literatura técnica
apresenta grande número de novos produtos, sistemas e serviços nas área de sistemas de carga
e descarga de cimento, novos tipos de silos junto a portos, que guardam o produto e operam o
transbordo navio/caminhões ou trens e tecnologias de armazenagem de cimento no interior de
navios - ver, por exemplo, a revista técnica International Cement. O progressivo aumento do
tamanho dos navios é outro fator que contribui para diminuir o custo de transporte. As fábricas
que operam estes sistemas são localizadas, em geral, no litoral e dotadas de portos próprios e
especializados no embarque do produto.
Esta tendência é derivada, em parte da estratégia dos grandes grupos cimenteiros de
atuação internacional. São eles os principais transportadores de cimento. O comércio
internacional é interessante, para os produtores, porque os ciclos de atividade da construção
civil são, em geral, restritos a um país. O comércio permite, consequentemente, atingir
24
24
mercados mais dinâmicos e auxilia a amortizar os já comentados altos custos fixos da
produção.
Parcela significativa do comércio internacional de cimento é realizada pelos maiores
grupos internacionais produtores de cimento. Estes grandes grupos internacionais de cimento
estão desenvolvendo esquemas de transporte internacional, que permitem a contestação de
mercados a longa distância e se tornam uma importante arma estratégica dos grandes grupos
para manter sua lucratividade.
Assim, o maior produtor mundial de cimento, a Holderbank Financière Glaris, por
exemplo, mantém uma empresa de transportes marítimos internacionais, Unión Marítima
Internacional S.A. (Umar). A Umar realiza o transporte de cimento, clínquer e outros materiais
de construção entre diversas partes do mundo. Em 1997, a empresa comercializou mais de 10
milhões de toneladas, comprando produtos de 35 países e enviando para outros 50. Para fins
de comparação, note-se que o total de cimento despachado pelas fábricas brasileiras, no bom
ano de 1996, foi de 28 milhões de toneladas e que a mesma companhia estimou o comércio
internacional de cimento, por via marítima, em 1998, em cerca de 57 milhões de toneladas.
Para isto, a empresa constrói terminais especializados em diversos países, para os quais
envia o cimento excedente.
Assim como os demais grupos de cimento, a Lafarge-Coppée, segundo maior grupo
cimenteiro mundial, possui uma frota de navios empenhada na distribuição de seus produtos.
As atividades dessa frota, que soma oito navios, se concentram no Oceano Índico, onde ela
conta com quatro terminais na região.
Mas o maior grupo exportador de cimento é a mexicana CEMEX. Em 1997, a Cemex
comercializou cerca de 10 milhões de toneladas métricas de cimento e clínquer para mais de
60 países distribuídos pelos cinco continentes. Cerca de 35% dessa produção saiu da matriz
mexicana. Os maiores parceiros comerciais do grupo são os EUA, Peru, Indonésia, Chile e
Malásia.
25
25
TABELA 2-2 PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DOS CONTINENTES NAS EXPORTAÇÕES DA CEMEX POR PAÍS DE ORIGEM
Origem México Espanha Venezuela Destino Ásia 33,6 5,5 - América do Sul 26,0 - 17,3 América do Norte 15,8 65,7 56,6 América Central 7,1 - 6,2 Caribe 14,9 - 19,3 Europa - 5,9 - África 2,6 22,9 0,6
Fonte: Cemex. O grupo costuma entrar em novos mercados via comércio, fazendo uso de seus 40
terminais marítimos e mais de 200 centros de distribuição em terra que escoam a produção do
grupo para os cinco continentes. Esse expediente, muitas vezes, retira a necessidade de realizar
investimentos diretos no mercado alvo, retardando gastos maiores, permitindo começar de uma
base de mercado menor, a partir da qual crescem paulatinamente.
O comércio e a presença em países vizinhos permite formar mercados em rede, como
mostra este trecho a seguir, extraído de Holderbank (1998):
“Na Holderbank, formar os assim chamados agrupamentos é muito importante.
Graças a nossa forte presença global, nós estamos crescentemente em uma posição
de associar mercados subregionais razoavelmente amplos. Então nós podemos
otimizar unidades de produção e simultaneamente explorar sinergias que surgem
destas ligações. Um bom exemplo é a Europa Central, na qual Holderbank
fortaleceu sua posição na Rumania e Bulgária, ao fazer aquisições, ou o Caribe e a
América Central, incluindo México, Venezuela e os Estados Unidos.”
“At ‘Holderbank’, forming so-called clusters is very important. Thanks to our
strong global presence, we are increasingly in a position to mesh fairly large
regional submarkets. Thus we can optimize production units and simoultaneously
exploit synergies arising from these links. A good example is Central Europe, where
‘Holderbank’ has strengthened its presence in Romania and Bulgaria by making
acquisitions, or the Caribbean and Central American regions, including Mexico,
Venezuela and the US.”
A esta característica técnica se associa a estratégia das maiores empresas, interessadas
em ampliar sua participação nos mercados emergentes. O Brasil, apesar de ser um destino
26
26
relativamente distante de outros centros produtores, viu as importações aumentarem, na fase de
concentração da produção, quando, em geral, grandes empresas compraram grupos nacionais
menores. Atualmente, existe, por exemplo, um entreposto de desembarque de cimento em
Manaus, que recebe o produto da Venezuela e de Cuba.
2.5.2.4. Obstáculos legais e concorrenciais ao comércio
internacional de cimento
Note-se, por último, que o comércio do cimento seria maior se não fossem os obstáculos
legais e concorrenciais ao seu desenvolvimento. Um exemplo dos obstáculos legais são os
processos antidumping iniciados pelo governo norte-americano contra importadores. Este país,
desde 1960, iniciou investigações antidumping contra 14 outros países: Canadá (1960,1978),
Suécia (1961), Bélgica (1961), Portugal (1961), República Dominicana (1962, 1963), México
(1975, 1976), Austrália (1983),Japão (1983, 1986, 1989), Colômbia (1986), França (1986),
Grécia(1986), Coréia do Sul (1986), Espanha (1986), e Venezuela (1986).
Quanto aos obstáculos concorrenciais, um caso interessante é o do transporte de
cimento a longa distância na Europa. A informação é originada de uma decisão da Comissão
Européia, resultado da maior ação antitruste da Comissão, em termos de multas lançadas.
Nesta ação, contra empresas e associações de empresas de cimento européias, a Comissão
mostrou que os produtores envolvidos fizeram acordos de repartição de mercado e não
transportavam seu produto para outras regiões, dominadas pelos concorrentes.
A decisão mostra que, no período considerado, o fraco comércio entre nações européias
não revela incapacidade de concorrência a longa distância, mas acordos deliberados entre
empresas e associações de empresas no sentido de inibir o comércio e, conseqüentemente, a
concorrência. O volume relativamente pequeno de comércio internacional de cimento, dentro
da Europa, advém, muitas vezes, de decisões administrativas das empresas daqueles países,
organizadas em cartéis, e não de características técnicas do produto, meios de transporte ou
vias existentes.
A decisão da Comissão Européia tem o número 94/815 e data de 30 de novembro de
1994 - ver European Commission (1996). Entre os grupos envolvidos na Decisão, os seguintes
também operam no Brasil: Holderbank Financière Glaris S. A. (Suíça), Lafarge Coppée S. A.
(França), Cimpor (Portugal) e Blue Circle Industries Plc. (Inglaterra).
27
27
2.6. DIVERSIFICAÇÃO GEOGRÁFICA
A diversificação geográfica e por área de negócios das três maiores empresas mundiais
de cimento é apresentada nas tabelas 2-1, 2-2 e 2-3. A diversificação tem por objetivos buscar
mercados mais lucrativos e equilibrar receitas. Esta última porque permite às empresas
contrabalançar as crises periódicas da construção civil, de alcance nacional.
TABELA 2-3 HOLDERBANK: DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DA CAPACIDADE INSTALADA E DAS VENDAS
HOLDERBANK Capacidade instalada
Vendas
1996 1997 América Latina 18 29 África, Ásia, Oceania 12 17 América do Norte 20 19 Europa 36 31 Suíça 14 5 TOTAL 100
(78 Mt) 100
(7,4 B US) Fonte: www.holderbank.com
TABELA 2-4 LAFARGE: DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DA CAPACIDADE INSTALADA E DAS VENDAS
1996 1997 América Latina 7 14 África, Ásia, Oceania 6 11 América do Norte 26 23 Europa 30 31 França 32 22 TOTAL 100
(68 Mt) 100
(6,7 B US) Fonte: Lafarge Corp. – www.lafarge.fr
28
28
TABELA 2-5 CEMEX: DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DA CAPACIDADE
INSTALADA E DAS VENDAS
1996 1997
América Latina 22 17 América do Norte 12 4 Europa 23 20 México 43 59 TOTAL 100
(53 Mt) 100
(3,4 B US) Fonte: CEMEX - www.cemex.com
2.7. DIVERSIFICAÇÃO POR LINHA DE PRODUTO PARA SEGMENTOS
COMPLEMENTARES -
A diversificação para a produção de outros materiais de construção, complementares ao
cimento, é uma das estratégias das grandes empresas mundiais. Existem pelo menos três
vantagens neste tipo de diversificação, relacionadas, respectivamente, à capacitação
tecnológica, estratégias de integração para frente e estratégias de atendimento integral ao
mercado.
TABELA 2-6 DISTRIBUIÇÃO DAS VENDAS POR ÁREA DE NEGÓCIOS %
Holderbank Lafarge Cemex Cimento e Concreto
55 45 75
Agregados 23 25 22 Outros 18 16 3 Gesso - 10 -
Fontes: Lafarge Corp – CEMEX –Holderbank Fin. Glaris
2.7.1. FLUXOS TECNOLÓGICOS INTRA FIRMA -
A capacitação tecnológica nestes outros segmentos de materiais de construção é
semelhante à capacitação tecnológica necessária para a produção e distribuição de cimento em
muitos aspectos, o que permite a transferência de tecnologia entre segmentos e maior
amortização de custos e riscos (ressalte-se que a discussão é sobre o uso dos bens de capital e
sobre a execução de atividades complementares e, não, sobre a produção de bens de capital).
De fato, os produtos preferenciais para os quais essas empresas se diversificam são pedra
29
29
britada, cal etc., onde as características técnicas da produção e distribuição são relativamente
semelhantes.
A semelhança é visível, por exemplo, nas fases de mineração das matérias-primas e
transporte de matérias-primas, materiais auxiliares, semi-acabados e produtos finais. Existem
economias de escala em muitas atividades internas, como administração de recursos humanos,
conhecimento da legislação de proteção ao meio ambiente e formas de cumpri-la, compra e
desenvolvimento de sistemas de informação, compra de equipamentos (caminhões,
combustível etc. etc.) e construção e administração de depósitos. Boa parte do know how
desenvolvido em um segmento de materiais de construção pode ser usado no outro,
diminuindo o custo global da empresa, devido às semelhanças técnicas e de mercado.
Para as empresas de cimento nacionais, esta estratégia não era possível, devido ao seu
menor envolvimento em setores conexos. Note-se, como explicado na próxima seção, que há
uma tendência de mudança, principalmente no maior grupo nacional, a Votorantim.
2.7.2. INTEGRAÇÃO PARA FRENTE
Alguns dos segmentos em que atuam as grandes empresas transnacionais do setor são
etapas mais adiantadas da cadeia de valor do cimento, como concreto e produtos de cimento.
Neste caso, observe-se que, quanto mais para frente, nas cadeias produtivas e mais próximo do
consumidor, maior é a possibilidade de diferenciação do produto, sempre uma vantagem da
grande empresa frente a menor. Por exemplo, a variedade de tipos de concreto é muito superior
à variedade de tipos de cimento. A pesquisa de novos tipos de concreto está associada à
capacitação tecnológica da firma, o que depende do seu tamanho. A Holderbank, por exemplo,
concentrou sua capacidade técnica em uma subsidiária, Holderchem, cujo principal objetivo é
a pesquisa e análise química dos produtos das demais subsidiárias da empresa.
O mercado de concreto corresponde a uma parcela cada vez maior do consumo de
cimento. Nos Estados Unidos, por exemplo, o cimento consumido por concreteiras e
produtores de agregados de cimento corresponde a 67 % do consumo aparente de cimento. No
Brasil, por sua vez, a proporção de cimento vendida a concreteiras e consumidores industriais,
no período janeiro/ abril de 1998, segundo o relatório de dados de mercado do Sindicato
Nacional da Indústria de Cimento (circular n. 028, de 26 de maio de 1998) foi de cerca de
25%. Há, portanto, um forte potencial de crescimento da proporção de vendas para
concreteiras e outros consumidores, na medida em que a pré fabricação de materiais de
30
30
construção é uma das tendências de progresso técnico na construção civil - Prochnik (1987).
Esta é uma estratégia viável, por exemplo, para o grupo Holderbank (Ciminas, no
Brasil), que produz concreto no Brasil através da sua subsidiária Concretex. Segundo
Haguenauer (1997), o crescente uso internacional do concreto usinado, que tem sua qualidade
assegurada, em detrimento do produzido em obras, que precisa de mais espaço nas obras e
requer mais mão de obra (maiores custos médios), pode levar a uma maior participação do
grupo nas duas indústrias. A Lafarge-Coppée, por sua vez, controla, no Brasil, três diferentes
empresas concreteiras: Brasil Beton, Concrebrás e Central Beton (adquirida como parte
integrante dos ativos da Matsulfur).
As empresas nacionais participam relativamente menos da produção de outros produtos
a base de cimento. Mas, recentemente, há uma tendência contrária, principalmente, no maior
produtor, o Grupo Votorantim. A produção de argamassa é, atualmente, uma operação
lucrativa, realizada junto à fábrica de Rio Branco, Paraná. A Cimento Itaú, outra empresa do
grupo Votorantim, fabrica pré moldados de concreto e também produz argamassas, operações
estas iniciadas em 1997.
Também há pouco tempo, a Votorantim se associou a um tradicional cliente, a
Engemix, um forte fabricante nacional de concreto. O grupo Engemix detém 20% do mercado
brsileiro de concreto usinado, estimado em 13 milhões de metros cúbicos em 1997, de acordo
com o Sindicato da Indústria do Cimento.
O grupo preferiu a associação à montagem de uma empresa nova, pois esta permitiu
uma entrada mais rápida no mercado. Para o grupo vendedor, a principal vantagem foi a
capitalização da empresa. A Votorantim comprou 25% do grupo Engemix, através da
participação em uma nova empresa holding, Empresa Geral de Concretos. No acordo, está
previsto que esta participação poderá mudar, para mais ou para menos. Na mesma reportagem
(Gazeta Mercantil 30 de setembro de 1998, página C-4), é observado o interesse da Votorantim
em persistir na sua estratégia de diversificação “Com a empresa fortalecida e capitalizada,
podemos alçar vôos mais altos daqui para frente, enquanto que uma nova empresa nossa no
mercado levaria algum tempo para dar resultados’ – Fábio Ermírio de Moraes, Gazeta
Mercantil 30 de setembro de 1998, página C-4..
Os estudos de mercado de concreto, efetuados pela Votorantim, indicam um expressivo
potencial de crescimento, estimado em 15% ao ano. O mercado é, atualmente, muito
concentrado. O Estado de São Paulo consome cerca de 70% do produto. O grupo espera maior
31
31
crescimento nas regiões de menor demanda, Centro-Oeste e Nordeste, que consomem,
respectivamente, cerca de 7% e 6% do concreto usinado fabricado no país. Por último, cabe
observar, ainda na mesma reportagem, menção ao mercado do Mercosul, indicando outra
mudança estratégica no grupo, na direção de uma maior internacionalização.
2.7.3. ESTRATÉGIAS DE ATENDIMENTO INTEGRAL AO MERCADO
A terceira vantagem dos produtores diversificados se refere ao conhecimento do
mercado. Especializando-se em produtos para construção, existe um acúmulo de experiência
no mercado, que pode ser compartido, entre os vários segmentos de produção de materiais de
construção, de várias formas. Os custos de vendas, por exemplo, são bem menores. Uma
componente desta vantagem está no fato de que um mesmo vendedor poder oferecer diversos
tipos de produtos, rateando o custo de vendas.
Outro está na crescente importância da marca, qualidade do produto e dos sistemas de
assistência técnica. Mesmo em mercadorias tidas como homogêneas, como cimento, pedra
britada, cal etc., as necessidades dos consumidores, em diversos segmentos do mercado,
permitem estratégias de diferenciação do produto entre os ofertantes. Atualmente, dá-se maior
importância ao cumprimento de prazos de entrega e ao emprego de sistemas de entrega
coordenados (just-in-time), qualidade (uma estratégia de competição, em materiais de
construção, é entregar o produto com especificações acima do nível mínimo). Por exemplo, o
emprego de um cimento que seca mais rápido, ou é mais resistente, respectivamente diminui o
tempo de obra e o volume de cimento manuseado.
Quanto à assistência técnica, note-se que, em muitos segmentos do mercado, o
consumidor quer saber como melhor empregar o produto, suas limitações e possibilidades. O
conhecimento científico e tecnológico acumulado sobre o uso de materiais de construção é
cada vez mais volumoso e especializado. A venda de materiais de construção torna-se,
progressivamente, uma venda técnica, em que os serviços adicionados ao produto entregue são
parte relevante do valor dado pelo consumidor. As grandes empresas têm maior capacidade em
desenvolver equipes de vendas com o gabarito necessário para este novo padrão de
concorrência. A percepção desta capacitação reforça a marca do produtor e se estende sobre
toda a linha de produtos dos diversos segmentos de atuação.
32
32
3. A INDÚSTRIA E O MERCADO INTERNACIONAL DE CIMENTO
3.1. O MERCADO INTERNACIONAL E OS PRINCIPAIS PAÍSES
CONSUMIDORES DE CIMENTO
O cimento é o material de construção mais usado do mundo. A produção mundial,
estimada pela U.S. Geological Survey, para 1997, chegou a 1,5 bilhões de toneladas (Mineral
Commodities Summaries, janeiro 1998: 41).
Como mostra a tabela 3-1, o continente asiático é o que apresentava a maior taxa de
crescimento da produção de cimento, antes da crise de 1997, além de possuir o maior mercado
consumidor. De fato, 64,6% do cimento produzido no mundo é consumido na Ásia. O
mercado chinês, sozinho, produz e consome cerca de 31,2% do total mundial.
A China não apenas é o principal produtor e consumidor como, também, é o país que a
produção vem crescendo mais rapidamente. Entre 1991 e 1995, por exemplo, a produção
cresceu a uma impressionante taxa anual de 16,3% ao ano. No Brasil, por contraste, a
produção cresceu a 0,7% ao ano, no mesmo período. As cimenteiras chinesas são, em grande
parte, estatais. Já existem, entretanto, joint-ventures com empresas estrangeiras. A Lafarge
Coppée, por exemplo, está investindo em uma fábrica, próxima a Beijing, com capacidade de
1,2 milhões de toneladas/ano.
Na Ásia também está o segundo maior produtor do mundo, o Japão. O Japão consumiu,
em 1995, cerca de 83% do que produziu e exportou o restante, cerca de 16,7 milhões, para
países como a Coréia do Sul e Formosa.
33
33
TABELA 3-1- PRODUÇÃO E CONSUMO PER CAPITA DE CIMENTO POR CONTINENTES E PAÍSES SELECIONADOS - 1995
Produção
1.000 t
Consumo 1.0
00 t
Consumo per
capita Kg/hab
Crescimento anual da
produção (%) 1991/95
% da produção mundial
Ásia 922.405 918.206 258 8,14 64,6 China 445.580 442.580 362 16,59 31,2 Japão 96.407 79.662 636 2,31 6,8 Índia 70.445 68.005 73 6,28 4,9 América 183.361 183.810 240 2,54 12,9 Estados Unidos
75.501 85.866 327 2,62 5,3
Brasil 28.256 28.514 183 0,56 2,0 Europa 252.728 228.305 258 -0,44 17,7 Itália 34.019 34.639 603 -3,33 2,4 Alemanha 33.302 38.486 472 1,39 2,3 Espanha 28.491 25.476 650 0,34 2,0 África 60.903 64.863 89 2,07 4,2 Oceania 8.590 9.629 352 4,89 0,6 Total Mundial
1.427.987 1.404.813 246 4,65 100,0
Nota: O consumo per capita da Ásia não inclui a ex-URSS, cujo consumo somou 195 kg/hab,
em 1995. A média asiática diminuiria se fosse incluída a Rússia.
Fonte: CEMBUREAU, citado em Sindicato Nacional Indústrias de Cimento, 1996, p 31
Conforme se observa na tabela anterior, o mercado europeu, no período considerado, é
o único que apresenta declínio. A recessão, em boa parte da Europa, não se verificou na
Alemanha, devido ao processo de integração nacional em curso. Na Espanha, a estratégia de
exportação, liderada pela empresa mexicana CEMEX, forte produtor na Espanha, impediu a
queda da produção.
Nas Américas, o crescimento da produção está associado ao crescimento da economia
norte-americana. Embora maior potência mundial e sede de muitas das maiores empresas
transnacionais, as empresas produtoras de cimento de capital nacional daquele país sempre
foram relativamente pequenas e os mercados regionalmente segmentados. A partir desta
dispersão, as grandes empresas européias, mais eficientes e maiores, estabeleceram estratégias
de entrada bem sucedidas, envolvendo tanto exportação de cimento, a partir do Canadá, bases
34
34
européias etc., como realizando investimentos diretos nos EUA. Por exemplo, a maior
companhia de cimento de capital norte-americano, a Lone Star, a mesma que iniciou a
produção de cimento no Brasil em 1926, na fábrica Mauá, foi adquirida, em 1975 pelo grupo
frances Lafarge-Coppée.
Ainda segundo a tabela 3-1, a demanda por cimento, entre 1991 e 1995, cresceu mais
rapidamente nos mercados emergentes. O potencial de crescimento dos países emergentes é
grande, tendo em vista seu baixo nível de consumo per capita de cimento e a existência de
grandes déficits de infra-estrutura e habitacionais. Por exemplo, a Índia, quarto maior produtor
mundial de cimento, registrou, em 1995, consumo per capita de 73 kg/hab, enquanto
Alemanha 472 kg/hab. A produção indiana de cimento aumentou em 6,3% ao ano, entre 1991
e 1995, enquanto a da Alemanha cresceu somente 1,4% ao ano.
Por esta razão, as maiores empresas mundiais produtoras de cimento, estão investindo
nos mercados emergentes, como é visto adiante.
Os maiores mercados nacionais do mundo e sua evolução recente são apresentados a
seguir, na tabela 3-2.
TABELA 3-2 OS MAIORES MERCADOS DE CIMENTO NO MUNDO
MERCADO 1994 MERCADO 1997 1 CHINA CHINA 2 EUA 87,3 EUA 89,0 3 JAPÃO 80,2 JAPÃO 81,0 4 ÍNDIA 56,7 ÍNDIA 74,0 5 CORÉIA DO SUL 52,7 CORÉIA DO SUL 61,0 6 ALEMANHA 40,9 TAILÂNDIA 42,0 7 RÚSSIA 35,9 BRASIL 38,0 8 ITÁLIA 32,7 RÚSSIA 36,0 9 TAILÂNDIA 28,9 ALEMANHA 34,0 10 MÉXICO 28,7 ITÁLIA 33,0 11 TAIWAN 27,2 TURQUIA 31,0 12 TURQUIA 26,7 INDONÉSIA 28,4 13 BRASIL 25,0 ESPANHA 24,0 14 ESPANHA 24,0 TAIWAN 23,0 15 INDONÉSIA 21,5 MÉXICO 22,6
Indústrias Votorantim
35
35
Os mercados da América do Sul são relativamente pequenos, se comparados com os dos
maiores países do mundo. As taxas de crescimento, entretanto, são expressivas, superando, em
muito, as taxas de crecimento de economias mais avançadas, como os países da Europa
Ocidental. Também se observa grande dispersão de taxas de crescimento. Por exemplo, nos
últimos anos, enquanto o consumo aparente de cimento no Brasil cresceu a 14,9% ao ano, o da
Venezuela caiu 1,4% ao ano.
TABELA 3-3- OS MAIORES MERCADOS DE CIMENTO DA AMÉRICA DO SUL
(MILHÕES DE TONELADAS/ANO)
1994 1995 1996 1997 Variação anual 1994/1997 (%)
Brasil 25,1 28,0 34,6 38,0 14,8 Colômbia 8,4 8,4 8,9 9,3 3,5 Argentina 6,3 5,5 5,8 7,1 4,1 Venezuela 4,8 4,6 4,4 4,6 -1,4 Peru 3,1 3,7 4,1 n.d. 9,8 Chile 3,0 3,0 3,7 4,0 2,8 Equador 2,5 2,8 3,3 n.d. 14,9 Bolívia 0,8 0,8 n.d. 1,2 14,5 Paraguai 0,5 0,6 0,7 n.d. 11,9
Fonte: Indústrias Votorantim Esta dispersão poderá cair, caso continue a aumentar a integração econômica e/ou o
comércio internacional de cimento na região. O comércio é importante, por exemplo, para a
Venezuela, onde a recessão impele os produtores a exportar, mesmo que apenas para repor os
custos variáveis e cobrir parte dos custos fixos. Neste país, também se observa que os custos
das matérias-primas (óleo combustível e energia) são relativamente mais baixos e existem
fábricas de cimento situadas no litoral, integradas a sistemas de transportes marítimos,
facilitando as operações de exportação.
O principal alvo das exportações venezuelanas é os Estados Unidos, que protegeu seu
mercado através de uma ação antidumping contra a Venezuela (entre outros países). Outro
mercado é o Brasil, onde o cimento proveniente da Venezuela é despachado, regularmente,
para um entreposto em Manaus e diversos portos da região Nordeste.
36
36
3.2. OS PRINCIPAIS GRUPOS PRODUTORES DE CIMENTO
INTERNACIONAIS
A seguir, são analisados os perfis de três dos pricipais grupos cimento do mundo, a
saber: Holderbank, Lagarge e Cemex.
3.2.1. O GRUPO SUIÇO HOLDERBANK FINANCIÈRE GLARIS
3.2.1.1. Introdução
O Grupo suiço Holderbank Financière Glaris Ltd. é o maior fabricante de cimento no
mundo, além de importante produtor de diversos tipos de materiais de construção, como
concreto e agregados. Seu faturamento, para 1997, foi estimado em 7,8 bilhões de dólares pela
revista Forbes (15/12/1997). De acordo com o Relatório Anual de 1997, 56% do faturamento
do grupo proveio da venda de cimento.
Ao final de 1997, o grupo Holderbank fabricava cimento em 55 países e sua produção
total alcançava 4,3% da produção mundial para 1997. A capacidade instalada das fábricas em
que o grupo tinha participação acionária era de 78,9 milhões de toneladas de cimento e sua
produção, no mesmo ano, foi de 64,3 milhões de toneladas. O grupo também produziu 19,4
milhões de toneladas de concreto e 81,1 milhões de toneladas de agregados.
Nos 55 países em que atua, nos cinco continentes, o grupo Holderbank tem participação
acionária em mais de 100 fábricas de cimento e estações de moagem, 240 minas e pelo menos
600 estações de preparação de concreto. O grupo ainda conta com uma empresa de consultoria
e uma de transportes maritmos, que complementam sua atuação.
O Holderbank vem se expandindo rapidamente. Os investimentos líquidos em
propriedade, plantas e equipamentos aumentaram cerca de 61,8% nos últimos cinco anos. A
capacidade de produção do grupo, nesse mesmo período, cresceu 35,4%, passando de 58,4
para 78,9 milhões de toneladas de cimento.
Na estratégia competitiva da empresa, destacam-se três vetores de atuação,
diversificação geográfica progressiva, diversificação produtiva para setores conexos, no
complexo da construção civil, e investimentos continuados em tecnologia de processo e
produto, incluindo estudo de novos usos para os seus materiais de construção, esforços de
racionalização de custos, formas diferenciadas de assistência técnica e maior eficiência na
37
37
proteção ao meio ambiente.
Os três componentes da atuação da Holderbank são analisados a seguir, começando pela
diversificação geográfica.
3.2.1.2. Estratégia de diversificação geográfica
O Grupo Holderbank iniciou suas atividades em 1912, quando foi fundada sua primeira
planta de cimento na Vila Holderbank, Cantão de Aargau, Suiça. Desde então, a empresa
expandiu suas atividades nacionais e internacionais através de uma bem marcada
diversificação por continentes.
De fato, na década de vinte e trinta o grupo se expandiu pela Europa (Suiça, França,
Bélgica, Holanda e Alemanha), década de cinqüenta entrou na América do Norte (EUA e
Canadá) e, nas décadas de sessenta e setenta, iniciou operações na América Latina (Colômbia,
México, Brasil, Costa Rica, Equador e Chile) e Oceania (Nova Zelândia e Austrália).
Exceções, neste padrão, são o início de operações na África do Sul (1939), Líbano (1970) e
Filipinas (1974).
Mais recentemente, o grupo intensificou sua participação na Ásia. As empresas
localizadas na Asia são os maiores alvos de investimento do grupo. Todas estão em processo
de expansão, seja construindo novas plantas, como nas Filipinas e Vietnam, seja modernizando
o processo produtivo, como na recentemente adquirida fábrica de cimento no Sri Lanka.
GRÁFICO 3-A - DISTRIBUIÇÃO DA CAPACIDADE PRODUTIVA DA
HOLDERBANK POR CONTINENTES - 1997
Europa36%
Eua18%
América Latina28%
Africa7%
Asia8%
Oceania3%
Nota: inclui a planta com capacidade de 2,2 milhões de toneladas em fim de construção no
38
38
Líbano.
Fonte: Relatório Anual, 1997 - Holderbank
Uma estratégia do grupo é reforçar seus investimentos nos mercados emergentes, cujas
perspectivas de crescimento da demanda por cimento são mais altas. Segundo a revista Forbes,
a Holderbank investiu, desde 1989, cerca de um bilhão de dólares nos chamados mercados
emergentes.
Apesar disso, a Holderbank ainda não conquistou parcela relevante de alguns desses
mercados. As razões são, muitas vezes, políticas. O caso asiático é exemplo, uma vez que
governos dessa região tendem a proteger as empresas de cimento nacionais. O interesse do
grupo em ampliar a diversificação geográfica, buscando compensar os efeitos da evolução
cíclica da construção civil é outro motivo. Por último, sendo o setor de cimento bastante
competitivo, as oportunidades de investimento estão abertas para os numerosos concorrentes.
As parcelas de mercado da Holderbank em alguns países são apresentadas na tabela 3-1
TABELA 3-4 - PARTICIPAÇÃO DA HOLDERBANK NO MERCADO DE CIMENTO POR PAÍSES SELECIONADOS
Participação percentual
América Latina 12,6 Brasil 13,0 Venezuela 44,7 México 24,0 Europa 14,2 EUA 16,5 Asia, Africa e Oceania Líbano 40,5 Marrocos 22,2 Africa do Sul 34,1 Sri Lanka 30,0 Filipinas 9,6 Austrália 20,6 Nova Zelândia 44,4
Fonte: Holderbank (www.holderbank.com) e Revista MINÉRIOS
As estratégias de diversificação geográfica e produtiva são complementadas por um
esquema de transportes que inclui, como mencionado acima, a empresa de transportes
maritmos internacionais, Unión Marítima Internacional S.A. (Umar).
39
39
3.2.1.3. Estratégia de complementação de linhas de produto
O grupo comercializa não somente cimento, mas agregados como cascalho e areia,
concreto semi-pronto, produtos de concreto e alguns de seus derivados. Recentemente, a
empresa buscou diminuir o número de produtos comercializados visando uma maior
especialização dentro da área de materiais de construção.
TABELA 3-5 - EVOLUÇÃO DAS VENDAS DA HOLDERBANK POR PRODUTO
Vendas de cimento Vendas Vendas de concreto e clínquer de agregados semi-pronto (milhões de t) (milhões de t) (milhões de m3) 1997 64,3 81,1 19,4 1996 62,3 73,3 18,2 1995 53,5 73,4 16,9 1994 50,5 69,6 17,0 1993 46,2 54,4 14,2
Fonte: HOLDERBANK, Relatório Anual 1997 (www.holderbank.com) Através da “estratégia centralizada-implementação descentralizada”, o grupo espera
estar tornando as empresas do grupo mais capazes de responder às especificidades das
demandas de seus mercados regionais, sem sair da estratégia única estabelecida pela matriz
suíça. (http://www.holderbank.com/ html/about/keys.htm)
3.2.1.4. Investimentos em tecnologia de produto e processo
Um destaque, nas atividades do grupo Holderbank, são os seus investimentos em
tecnologia e engenharia. Nestes aspectos, a empresa Holderbank Engineering fornece serviços
de engenharia para as fábricas do grupo, desde a concepção do projeto até a fase de início da
atividade da fábrica e consultoria tecnológica, constituindo o depositório das experiências do
grupo
Estes serviços de consultoria são prestados não somente a empresas pertencentes ao
grupo Holderbank, mas vendidos a quaisquer outras interessadas. Os principais trabalhos
realizados para empresas do grupo foram construção de nova planta de cimento e um terminal
no Vietnam, dois fornos no Líbano, e outras atividades na Austrália e EUA. Para empresas
fora do grupo, foram realizados projetos na Arábia Saudita, Oman e Malásia.
Como mostra a home page do grupo, na área de engenharia “...os serviços incluem
elaboração de estudos de pré-investimento e de concepção, design detalhado de engenharia
40
40
(processo, mecânico, civil, elétrico e instrumentação), gerenciamento de projeto, supervisão da
construção e acompanhamento do início da produção.” ( http://www.holderbank.ca)
A consultoria em processo tecnológico fornecida pela empresa inclui implantação de
métodos de diminuição dos gastos com energia, substituição de combustíveis tradicionais etc.
Através deles, a empresa implementa projetos mais viáveis economicamente e mantendo a
proteção do mercado. Uma área de crescente interesse é a relacionada com os impactos
ambientais.
Por último, cabe mencionar a Holderchem Ltda, empresa do grupo responsável pelo
desenvolvimento de novos tipos de cimento e derivados de concreto. A empresa trabalha
também na colocação de novos produtos no mercado. Por exemplo, para atender mercados
onde existe demanda por cimentos com propriedades mais específicas, como os EUA, o grupo
possui um centro, localizado também na Suiça, onde é feito o desenvolvimento e planejado o
marketing de novos produtos.
3.2.2. O GRUPO FRANCES LAFARGE- COPPÉE
3.2.2.1. Introdução
O grupo Lafarge-Coppé é o maior grupo econômico mundial especializado na produção
de materiais de construção, com vendas, em 1997, de US$ 9,5 bilhões. Ele é o segundo maior
produtor de cimento e concreto e o primeiro produtor mundial de agregados. O grupo atua em
mais de 60 países, empregando cerca de 66.000 pessoas, das quais 66% fora da França.
O grupo, cujas atividades começaram em 1922, na França, possui 65 fábricas
distribuídas por 20 países, nos cinco continentes e sua capacidade produtiva total chega a 42
milhões de toneladas/ano. Nos últimos cinco anos, o volume de investimentos anuais
praticamente dobrou. O grupo aumentou suas vendas em 38% no mesmo período.
Como visto a seguir, a Lafarge adotou uma estratégia de crescimento baseada em três
pilares: expansão de mercados, maior competitividade e maior variedade de produtos.
O aumento da competitividade se pretende ser alcançado através de uma política de
corte de custos e modernização das plantas, especialmente nos mercados de crescimento
estável.
41
41
3.2.2.2. Diversificação geográfica na produção de cimento
O quadro abaixo apresenta os países onde a Lafarge possui unidades produtivas.
TABELA 3-6 PAÍSES COM FÁBRICAS DA LAFARGE
Grupo Países com fábricas da Lafarge
Norte da Europa Inglaterra, Suécia, Países Baixos, Bélgica, França
Europa Central Alemanha, República Tcheca, Áustria, Hungria, Polônia,
Rússia
América do Norte Canadá e EUA
NICs China, Indonésia, Tailândia, Taiwan, Austrália, Quênia,
Camarões, África do Sul, Madagascar
Oriente Médio e
Bacia Mediterrânea
Marrocos, Espanha, Portugal, Itália, Turquia, Grécia,
Emirados Árabes, Líbano
América Latina,
Central e Caribe
Brasil, Argentina, Chile, Venezuela, Caribe
Fonte: Lafarge Corp. – Erro! A origem da referência não foi encontrada.
Originalmente, a Lafarge concentrava suas atividades na Europa Ocidental, com
destaque para França e Alemanha, e nos Estados Unidos e Canadá. Recentemente, o grupo
tem expandido suas atividades para os mercados emergentes localizados na Europa Central e
Oriental e Ásia.
Esta expansão visa entrar em mercados onde a demanda por materiais de construção
cresce mais rapidamente. As vendas para os mercados emergentes, em 1996, somaram 20% do
total do grupo, o que dez anos antes representava somente 4%. A participação das demais
regiões tem diminuído, porque a construção civil, nos mercados tradicionais da Lafarge,
encontra-se estagnada.
Dentre os países emergentes, onde o grupo entrou recentemente, cita-se a China, maior
mercado mundial de cimento do mundo, onde o grupo entrou através de joint-ventures. O
grupo possui uma fábrica de cimento em Sichuan, perto de Beijing, cuja capacidade produtiva
deve alcançar 1,2 milhões de toneladas anuais, até fins de 1998. Com um custo de US$ 150
milhões, a fábrica será a maior da região (http://www.cemnet.co.uk/ news.htm#top).
42
42
GRÁFICO 3-B - PARTICIPAÇÃO NAS VENDAS DA LAFARGE POR
MERCADO - 1996
América do Norte
25,5%
Europa Ocidental
19,5%França32,0%
Outros23,0%
Fonte: Lafarge
A tabela a seguir apresenta a distribuição das fábricas do grupo pelos continentes.
Conforme se pode observar, o grupo concentra atividades produtivas em seus mercados
originais. Somente na França, país de origem do grupo, há 12 fábricas de cimento, 245
fábricas de concreto, 100 pedreiras, 19 fábricas de gesso e há unidades de produção de 24
produtos especializados. A Alemanha também concentra número considerável de unidades
produtivas, duas fábricas de cimento e 42 de concreto.
TABELA 3-7 - DISTRIBUIÇÃO DAS FÁBRICAS DA LAFARGE POR ATIVIDADE E REGIÃO
Ciment
o Concreto e Agregados Gess
o Produtos
Especiais e Formulados
região fábrica fábricas pedreiras sítios quantidade região fábrica fábricas pedreiras sítios quantidade
Norte da Europa 12 262 109 24 29 Europa Central 11 54 8 5 6 Canadá e EUA 14 400 2 3 NICs 5 1 1 5 4 Oriente Médio e Bacia Mediterrânea
15 205 22 10 10
A Lat., Central e Caribe
9 85 6 7 1
Nota: não inclui unidades de moagem.
43
43
Fonte: Lafarge Corp.
No mercado norte-americano, o grupo construiu sua primeira fábrica em 1956 e,
atualmente, está investindo fortemente na renovação de duas de suas atuais 14 fábricas de
cimento.
3.2.2.3. Diversificação por linha de produtos para outros
segmentos do complexo da construção civil
Os produtos produzidos e comercializados pela Lafarge incluem aluminados, misturas,
tintas e monolíticos. Conforme se observa na tabela anterior, a produção dos mesmos se
concentra em países mais desenvolvidos - em especial na França -, onde o nível de demanda é
mais sofisticado. Assim, o grupo pretende vender produtos de maior valor agregado.
A diversificação de produtos comercializados é uma estratégia que vai deencontro com
as estratégias de seus concorrentes, como a Cemex e Holderbank, que procuram se concentrar
num leque mais limitado de produtos.
Atualmente, o grupo tem conseguido expandir sua oferta para mais de 5.000 produtos,
mostrando ser a mais extensa e variada companhia do setor de materiais de construção.
GRÁFICO 3-C - PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DE LINHA DE PRODUTOS
NAS VENDAS DA LAFARGE
Cimento45%
Gesso10%
Concreto e Agregados
29%
Produtos Especializados
16%
Fonte: Lafarge Corp. –
Atuando fortemente na produção de agregados e de concreto, como observado, a
Lafarge mostra ser um grupo extensivamente integrado para trás, na extração e preparação das
matérias-primas, e para frente, na fabricação e distribuição de produtos a base de cimento.
Assim , o grupo passa a ter maior controle sobre a quantidade e a eficiência na produção.
44
44
3.2.2.4. Investimentos em pesquisa e desenvolvimento
O grupo dispõe de um laboratório central de pesquisa na França, com uma equipe de
140 pessoas. Seu objetivo é desenvolver novos produtos para o consumidor final para
mercados específicos. Também existem centros técnicos em subsidiárias por todo mundo, cujo
papel é difundir as inovações desenvolvidas no laboratório central. Vale mencionar que, dentre
as atividades do grupo, há um programa de observação de áreas tecnológicas vitais para o
grupo.
Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento são entendidos como base para o
futuro do grupo. Um exemplo é a expectativa de que, na divisão de gesso, 20% das vendas no
ano 2000 seja de produtos que não existiam em 1995.
O grupo possui uma empresa, Systech Environmental Corporation, com base nos
Estados Unidos, especialmente voltada para o desenvolvimento de novos materiais
combustíveis, de modo a substituir ou diminuir o nível de utilização do óleo combustível.
Outra área de interesse para as pesquisas do grupo é a de preservação do meio ambiente,
na qual a legislação tem se tornado mais restritiva e a possibilidade de propaganda negativa
maior.
3.2.3. O GRUPO MEXICANO CEMEX
3.2.3.1.Introdução
A Cemex ou Cementos Mexicanos é o terceiro maior grupo produtor de cimento no
mundo e o maior de origem americana. Em 1996, o grupo crescia mais rapidamente que seus
principais competidores (http://www.cemex.com/ outside/eng/default.htm). Nesse ano, sua
margem operacional de lucro era de 24%, quase o dobro de suas concorrentes. Em 1995, a
Cemex encabeçou a lista da UNCTAD das 50 maiores companhias multinacionais oriundas de
países em desenvolvimento.
Em 1997, as vendas do grupo somaram US$ 3,48 bilhões e um lucro bruto de US$ 1,35
45
45
bilhão6. Nesse mesmo ano, o grupo exportou de suas fábricas, cerca de 10 milhões de
toneladas de cimento, configurando-se como proprietário da maior frota marítima mundial
transportadora desse tipo de produto.
O número de empregados também reflete a atual estrutura da Cemex, resultante da estratégia
de crescimento, cerca de 19.000 trabalhadores, dos quais quase a metade localizados fora do
México.
Com uma produção anual de 51 milhões de toneladas de cimento, em 1997, o grupo Cemex
tem atividades espalhadas por 22 países, através de fábricas, redes de distribuição e terminais
marítmos, além de relações comerciais de importação e exportação de cimento, bem como seus
insumos e outros materiais de construção com pelo menos outros 60 países. Essas relações
somaram 10 milhões de toneladas no mesmo ano.
Como visto a seguir, dentre os países onde a atuação da Cemex se destaca, menciona-se o
México, Espanha Venezuela, Panamá e República Dominicana e, em menor grau, na
Colômbia, Caribe, Filipinas e sudoeste dos Estados Unidos.
O grupo entende, como suas metas de prosperidade as seguintes ações: “excelência
gerencial, produção de cimento, concreto semi-pronto e agregados, baixos custos de operação,
trabalhar com tecnologias de gerenciamento e produção atualizadas; estrutura de capital e
gerenciamento financeiro agressivo e prudente e foco nos mercados emergentes.”
(http://www.cemex.com)
3.2.3.2. Breve Histórico da Cemex:
A Cemex iniciou suas atividades em 1906, com a fundação da ‘Cementos Hidalgo’,
situada em Hidalgo, centro do México, próximo à capital. A partir de então, a empresa
começou a expandir sua capacidade produtiva através de fusões e construção de novos fornos.
A década de 70 foi o período de maior expansão da Cemex no mercado mexicano. A crise da
dívida e a conseqüente contração do mercado interno, ocorridos no início dos anos 80, levaram
à duplicação de suas exportações. O principal mercado para o qual a empresa destinou seus
produtos foi os Estados Unidos, principalmente os estados do sul, que permanecem
importantes parceiros comerciais. A capacidade de contornar a crise nacional, através da
6 Os valores foram convertidos ao dólar a taxa do dia 5/5/98 de US$ 0,114 por peso mexicano. Fonte: http://trading.wmw.com/currency.html
46
46
exportação de cimento, sustentou a manutenção da expansão do grupo a partir da segunda
metade da década de 80.
Na década de 90, a estratégia visando a diversidade geográfica ficou evidente com a
aquisição das duas maiores companhias produtoras de cimento na Espanha, em 1992, e outras
na Venezuela, Panamá e Texas, EUA, em 1994, na República Dominicana, em 1995, na
Colômbia, em 1997, e 30% de uma cimenteira nas Filipinas, em 1997.
O grupo, assim como a Holderbank, é de propriedade familiar, sendo a presidência do
grupo ocupada pela terceira geração desde o fundador. O quadro abaixo apresenta os
acontecimentos mais importantes da Cemex, que marcaram sua expansão:
TABELA 3-8 PRINCIPAIS EVENTOS NA EVOLUÇÃO DA CEMEX
ANOS: 1906 Fundação da 'Cementos Hidalgo'; 1931 Fusão da 'Cementos Hidalgo' com a 'Cementos Monterrey', dando
origem à 'Cementos Mexicanos'; 1966 Aquisição da 'Cementos Maya';
1967/1973 Construção de novas fábricas; introdução de novos fornos em fábricas do grupo e aquisição de uma nova empresa.
1976 Introdução de ações da Cemex na Bolsa de Valores mexicana e aquisição da 'Cementos Guadalajara', com início das atividades de exportação;
1982 Crescimento expressivo das exportações; 1986 Nova fábrica no México;
1987/89 Aquisição de nove novas fábricas no México; 1992 Compra das duas fábricas de cimento mais importantes na Espanha; 1994 Compra de fábricas de cimento no Panamá e na Venezuela e
aquisição de fábrica nos EUA; 1995 Aquisição de uma fábrica na República Dominicana; 1996 Obtenção do controle acionário de duas fábricas na Colômbia; 1997 Investimento em uma fábrica nas Filipinas.
Fonte: Cemex –
Atualmente, a Cemex possui unidades produtivas em oito países: México, EUA,
Espanha, Venezuela, Colômbia, Panamá, Caribe e Filipinas.
3.2.3.3.A estratégia de expansão geográfica
A busca por mercados exteriores ao mexicano, iniciada a partir dos anos 90, é
justificada uma vez que o grupo deixa de depender da volatilidade de um único mercado.
47
47
Conforme observado, a margem de lucro do grupo é bem mais estável que a margem de lucro
individual de cada empresa (http://www.cemex.com). Isso demostra a importância da
diversificação geográfica como meta estratégica do grupo.
O grupo Cemex escolheu o mercado dos países emergentes para diversificar suas
atividades geograficamente porque acredita que esse será a base para uma nova fase de
expansão do grupo, dado enorme déficit de infra-estrutura que esses países apresentam e altas
taxas de natalidade.
Os mercados emergentes têm maior crescimento potencial no longo prazo, do que
mercados mais maduros na Europa ou no norte dos EUA. Ademais, a vantagem de se investir
em mercados emergentes, nos quais a qualidade não é sempre um pré-requisito, é a
importância que a marca passa a adquirir, em detrimento da qualificação de commodity. Assim,
nesses mercados, a Cemex facilmente consegue diferenciar seus produtos frente aos
concorrentes.
A entrada em novos mercados, como é comum no setor, ocorre através de investimentos
diretos nos mercados alvos, com a compra de fábricas já instaladas e/ou sua construção.
Muitas vezes, entretanto, o início das operações se dá através do comércio, fazendo uso de seus
40 terminais marítmos e mais de 200 centros de distribuição em terra que escoam a produção
do grupo para os cinco continentes. Esse expediente, muitas vezes, é mais favorável pois retira
a necessidade de realizar investimentos mais custosos no mercado alvo.
Seguindo esta estratégia, a Cemex se tornou o maior grupo exportador de cimento do
mundo. Somente em 1997, a Cemex comercializou cerca de 10 milhões de toneladas métricas
de cimento e clínquer para mais de 60 países distribuídos pelos cinco continente. Cerca de
35% dessa produção saiu da matriz mexicana. Os maiores parceiros comerciais do grupo são
os EUA, Peru, Indonésia, Chile e Malásia.
48
48
TABELA 3-9 - PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DOS CONTINENTES NAS
EXPORTAÇÕES DA CEMEX POR PAÍS DE ORIGEM
Origem
Destino México Espanha Venezuela
Ásia 33,6 5,5 -
América do Sul 26,0 - 17,3
América do
Norte
15,8 65,7 56,6
América Central 7,1 - 6,2
Caribe 14,9 - 19,3
Europa - 5,9 -
África 2,6 22,9 0,6
Fonte: Cemex –
Conforme se observa da tabela anterior, o excesso de capacidade presente no México e
Espanha é escoado para vários países do mundo. A Cemex aproveita parcela dessa produção
para testar novos mercados em expansão como Nigéria e Ghana, na África. Vale mencionar
que o grupo também compra cimento e clínquer de outros países na medida em que a demanda
supera as expectativas.
No que diz respeito aos investimentos diretos, os gastos com aquisições, desde 1991,
somaram US$ 3,3 bilhões, resultando na rápida expansão verificada nesse período. O grupo
expandiu sua capacidade de 9 milhões de toneladas, em 1985, para 51 milhões, em 1997,
ultrapassando a produção total do Brasil, que chega a aproximadamente 34,6 milhões de
toneladas.
O salto da capacidade produtiva de 1985 a 1996 se deveu, principalmente, à estratégia
de diversificação geográfica da Cemex, que se iniciou nos mercados de língua espanhola -
Espanha e países latino-americanos -, devido a facilidades encontradas pela herança cultural
semelhante e pelo mesmo idioma. Atualmente, 55% dos seus ativos - que em dezembro de
1995 totalizavam US$ 8,3 bilhões - estão localizados fora do México.
49
49
GRÁFICO 3-D - EVOLUÇÃO DOS ATIVOS E DOS INVESTIMENTOS EM
PROPRIEDADE DA CEMEX (BILHÕES DE PESOS)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
Propriedades, Máquinas e Equipamentos Total de Ativos
Fonte: Cemex. - www.cemex.com
Em 1985, a companhia era uma simples cimenteira com algumas fábricas espalhadas
pelo México, com um valor de mercado de US$ 400 milhões. Em 1996, a Cemex tinha
fábricas no sul dos EUA, na Espanha, e em muitos países latino-americanos. Seu valor de
mercado, naquele ano, era de US$ 4,6 bilhões, com receitas líquidas de US$ 2,6 bilhões por
ano.
O principal fator responsável por este crescimento foi o investimento feito na Espanha,
a partir de 1992, cuja estrutura representa atualmente cerca de 24% do total dos ativos do
grupo. Neste país, além das nove fábricas, a Cemex possui sete centros de distribuição por
terra e 18 terminais marítimos na Espanha. Localizado perto das maiores competidoras globais
da Cemex, o investimento realizado na Espanha foi fundamental para a melhora de sua posição
competitiva internacional e para o seu crescimento. A Espanha tem se destacado como
mercado promissor, dada suas necessidades de investimento para atingir as metas estabelecidas
no Tratado de Maastrich e população numerosa.
50
50
TABELA 3-10 - DISTRIBUIÇÃO DA CAPACIDADE PRODUTIVA DA CEMEX POR PAÍS - 1997
Fábricas
(incluídas parcerias7)
Capacidade Produtiva (milhões de
toneladas/ano) México 21 28,5 EUA 1 1,1 Espanha 9 11,6 Venezuela 3 4,3 Colômbia 6 3,5 Panamá 1 0,4 Caribe 4 0,9 Filipinas 2 0,8 Total 47 51
Fonte: Cemex - www.cemex.com
TABELA 3-11 - PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DA CEMEX NO MERCADO DE CIMENTO EM PAÍSES SELECIONADOS
PAÍS PARTICIPAÇÃO % México 60 República Dominicana
60
Venezuela 50 Panamá 50 Colômbia 37 Espanha 28
Fonte: Cemex - www.cemex.com Atualmente, o grupo conta com 47 fábricas espalhadas por 22 países, com distinta
distribuição de capacidade produtiva. Os países que contam com maior capacidade produtiva
são México e Espanha. Em ambos o grupo é o maior produtor e desfruta de um mercado em
crescimento. Parte da produção mexicana é exportada para os Estados Unidos, onde o grupo
possui uma fábrica com capacidade instalada de 1,1 milhão de toneladas/ano (ver tabela
anterior).
Cerca de 41% das vendas da Cemex foram realizadas no México, 20% na Espanha e
12% nos Estados Unidos e na Colômbia e Venezuela com 11% cada. A participação do tipo
de consumidor final de cimento varia de acordo com o país. Nos Estados Unidos, a
51
51
participação de concreteiras e construtoras é maior que na América Latina, onde a presença do
consumidor formiga é mais expressiva expressiva e, consequentemente, as vendas a varejo são
maiores. Na Venezuela, por exemplo, 70% das vendas são em sacos.
3.2.3.4.Estratégia de complementação de linhas de produto
A Cemex comercializa dez tipos de cimento portland e cimento branco e é o maior produtor
mundial de cimento branco.
O grupo vende três tipos de concreto desenvolvidos em laboratórios certificados, com
distintos tipos de resistências, aditivos, fornecendo serviços de bombeamento, assessoria
técnica e plantas portáteis. ( http://www.cemex.com/mexico/cmxprod/ concreto.htm)
Conforme afirmado anteriormente, a Cemex atua na distribuição de seus produtos, uma
vez que há necessidade de reduzir os custos de transporte. Esse expediente tem permitido a
manutenção de sua competitividade no mercado, além de acumular capacitações. A Cemex
opera a maior frota marítima do mundo especializada em transporte de cimento, sendo
proprietária de uma frota de treze navios e operando outros onze por contrato de leasing.
3.2.3.5. Investimentos em tecnologia de produto e processo
Paralelamente ao processo de expansão geográfica, a Cemex passou a investir
pesadamente no estabelecimento de uma rede de comunicação entre as fábricas. Através da
utilização de tecnologia da informação o grupo criou um ambiente informacional que
possibilitasse a identificação e exploração de novas oportunidades de negócios no mundo
inteiro.
Dentre o período de 1985 e 1997, o grupo investiu US$ 150 milhões em tecnologias da
informação (http://www.cemex.com/outside/eng/default.htm). Com um sistema informacional
ligando todas as subsidiárias e a matriz, além de clientes e fornecedores, a comunicação se
tornou um instrumento importante no acesso e na difusão de informações-chave, agilizando as
operações da companhia.
A rede fornece vários tipos de informação, como sistemas de contabilidade, “escalas,
produção de dados, despacho de cimento e concreto por diferentes centros de distribuição”
7 Joint-owned plants.
52
52
(http://www.cemex.com). Também são disponibilizados relatórios financeiros de todas as
fábricas do grupo com dados sobre a produção, custos e vendas. Segundo disponibilizado no
site do grupo, as fábricas têm seus equipamentos ligados na rede e um sistema capaz de medir
a quantidade de material usado por cada um deles.
Nesses sentido, há maior controle sobre a produção e os custos, além de fornecer maior
suporte à tomada de decisões do grupo.
A preocupação com a qualidade da produção também é chave em função das distintas
fontes de matéria prima que alimentam as fábricas. O grupo tem a sua disposição um software
capaz de compor um tipo de cimento de acordo com as especificações de qualquer
consumidor. Além disso, o grupo tem realizado investimentos para sincronizar suas atividades
de modo a conseguir prestar seus serviços dentro dos prazos estipulados, impondo-se multas
caso haja atrasos de entrega.
Adicionalmente, o grupo se preocupa com a certificação sobre práticas na qualidade de
processos e de meio ambiente. Muitas de suas fábricas já possuem certificados ISO9000 ou
estão investindo para tal, e, em menor número, certificado ISO14000.
No que diz respeito ao desenvolvimento de novos produtos, a Cemex possui um
laboratório na Espanha que recentemente estava envolvido no desenvolvimento de um cimento
específico para uma ponte no mar Báltico, que exige propriedades especiais, dada a
instabilidade climática da região.
3.3. CONCLUSÃO: A GLOBALIZAÇÃO NA INDÚSTRIA DE CIMENTO
A produção mundial de cimento é marcada pela presença de grandes grupos
empresariais, em sua maioria de propriedade familiar, que têm operações espalhadas por
diversos países. Os cinco grupos com maior participação no mercado mundial são
apresentados na tabela 3-1.
53
53
TABELA 3-12 AS MAIORES EMPRESAS DE CIMENTO EM CAPACIDADE INSTALADA (milhões de toneladas)
1995/96 1997/98
1 HOLDERBANK 73 1 HOLDERBANK 77.8 2 LAFARGE 50 2 LAFARGE 67.7 3 CEMEX 47 3 CEMEX 52.5 4 ITALCEME 40 4 ITACELME 41.5 5 HEIDELBERG 30 5 CHICHIBU ONODA 38 6 CHICHIBU ONODA 2.. 6 HEIDELBER 35.6 7 BLUE CIRCLE 21 7 UBE 24,.. 8 VOTORANTIM 19 8 BLUE CIRCLE 23.5 9 SUMITOMO 16 9 VOTORANTIM 20.5 10 SIAM 15 10 SIAM 20,..
Fonte: Indústrias Votorantim A nível mundial, a participação desses grupos é relativamente pequena - conforme se
observa da tabela 3-2, mas quando observadas suas respectivas participações nos mercados
onde atuam, a importância desses grupos é explicitada. A Holderbank, por exemplo, possui
mais de 40% do mercado de pelo menos nove dos 55 países onde atua. Somente no México, a
Cemex possui 60% do mercado e, na Espanha, onde entrou recentemente, 28% do mercado.
TABELA 3-13 - PARTICIPAÇÃO DOS CINCO MAIORES GRUPOS NA PRODUÇÃO MUNDIAL DE CIMENTO
PAÍSES ORIGEM PARTICIPAÇÃO (%)
Holderbank Suíça 5,0 Lafarge França 3,9 Cemex México 3,8 Italcementi Itália 3,0 Heidelberger Alemanha 2,6
Fonte: Indústrias Votorantim
O quadro abaixo apresenta algumas informações importantes sobre os três maiores
grupos fabricantes de cimento.
54
54
TABELA 3-14 - INFORMAÇÕES SOBRE OS TRÊS MAIORES GRUPOS DE CIMENTO
Cemex Holderbank Lafarge Vendas (US$ bilhões) 3,48 7,62 9,5 Crescimento dos investimentos (1993-1997)
62%
Número de empregados 19.000 40.800 66.000 Capacidade produtiva do grupo (milhões de toneladas)
51 78,9 42
Total de fábricas de cimento 20 100 65 Total de países com fábricas e instalações
22 55 20
Total de países com relações comerciais
60 60 55
Poder de mercado no país da matriz (%)
60
Estratégia de produtos concen-tração
concen-tração diversifi-cação
Estratégia de mercado mercados emergentes
mercados emergentes
mercados emergentes
Frota de transporte marítmos 24 nd 8 Nota; nd - não disponível
Fontes:, www.lafarge.fr, www.cemex.com
As áreas de atuação destes grupos eram, inicialmente, regionalizadas. Os grupos
europeus, por exemplo, costumavam atuar no continente de origem e em regiões acerca, como
norte da África. Conforme pode-se observar nas tabelas 3-1, 3-2 e 3-3, atualmente, os grupos
possuem um elevado grau de internacionalização de suas atividades, o que é coerente com a
estratégia de diversificação geográfica comum a todos.
55
55
TABELA 3-15 PRINCIPAIS MOVIMENTOS DE EXPANSÃO INTERNACIONAL DAS GRANDES EMPRESAS DE CIMENTO
Antes da década de 70: EUROPA
� Reestruturação nos mercados de origem
Final anos 70 e até meados anos 80: AMÉRICA DO NORTE
� EUA - 65% da capacidade controlada por empresas estrangeiras (87% européias; 13% japonesas, mexicanas, australianas)
� Canadá (80% da capacidade controlada por empresas estrangeiras)
Década de 80: PAÍSES EMERGENTES
� Mudança de foco para os mercados emergentes na Ásia e Europa Oriental
Década de 80: PAÍSES
EMERGENTES
� Mudança de foco para os mercados emergentes na
Ásia e Europa Oriental
� Novo movimento de entradas na A. Latina
Década de 90: PAÍSES EMERGENTES, AMÉRICA LATINA
� Continua expansão nos mercados emergentes � consolidação de controles na América Latina � Crescimento do comércio internacional
Fonte: Indústrias Votorantim Em meados da década de noventa, as maiores empresas internacionais de cimento se
voltaram para a América Latina, adquirindo empresas nacionais e ampliando sua participação
em diversos mercados. A tabela 3-5 mostra as participações de empresas nacionais e
internacionais na Venezuela, Colombia e Brasil.
TABELA 3-16 PARTICIPAÇÃO DOS GRUPOS INTERNACIONAIS NA AMÉRICA DO SUL
VENEZUELA 1994 % VENEZUELA 1996 % Vencemos 43 Cemex 42 Holder. Caribe 10 Holderbank 27 Concega 16 Lafarge 25 Lafarge Catatumbo 7 Andino 6 FNC 18& Andino 6 COLÔMBIA 1994 % COLÔMBIA 1996 % Argos 49 Argos 53 Hercules 1 Hercules 1 Holder. Boyaca 11 Holderbank 11 Samper 13 Cemex 35 Diamante 20 Paz del Rio 6 BRASIL 1995 % BRASIL 1997 % Internacionais 19 Internacionais 29 Brasileiras 81 Brasileiras 71
Fonte: Indústrias Votorantim
56
56
Estes movimentos se fazem através de pressão sobre os preços nos mercados alvo.
Como as empresas nacionais não são internacionalizadas e têm menor resistência financeira, a
queda do preço do cimento diminui sua rentabilidade, mostra a força do concorrente
internacional e obriga as empresas nacionais a venderem suas instalações a um custo menor. A
evolução dos preços médios do cimento, nos três países citados da América Latina, é
apresentada na tabela 3-6.
TABELA 3-17 EVOLUÇÃO DO PREÇO MÉDIO FOB LÍQUIDO (US$)
1993 1994 1995 1996 1997
Venezuela 114 96 60 73 95 Colômbia 85 80 73 70 92 Brasil 89 77 65 63 65
Fonte: Indústrias Votorantim
4. A OPERAÇÃO DO MERCADO DE CIMENTO NO BRASIL
4.1. INTRODUÇÃO
O cimento destina-se, basicamente, à construção civil. Neste setor, o cimento é
consumido nos diferentes segmentos de construção pesada (barragens, rodovias, obras de
saneamento...), construção de edificações, (habitação e prédios comerciais e industriais),
serviços de construção (execução de etapas específicas de obras, ex.: terraplanagem,
instalações...) e o setor informal da construção (pequenas obras e reformas). O outro segmento
da construção civil, montagem industrial, também consome cimento, embora em quantidade
menor.
Portanto, analisar a evolução da demanda por cimento significa analisar a evolução da
própria construção civil. Para isto, o capítulo faz, inicialmente, uma retrospectiva deste setor,
mostrando os cinco ciclos de evolução da construção civil e da demanda por cimento desde a
implantação da indústria do cimento no Brasil, em 1926 até 1980. A seção posterior é dedicada
à discussão dos ciclos de crescimento da construção civil nas décadas de 80 e 90.
Posteriormente, é analisada a evolução da capacidade instalada na indústria de cimento, bem
como, os investimentos previstos em ampliação da capacidade instalada dos principais
57
57
produtores na indústria. Finalmente, o capítulo termina apresentando e discutindo a evolução
dos preços do cimento a partir da década de 1990.
4.2. AS ETAPAS DE EVOLUÇÃO DA CONSTRUÇÃO CIVIL ATÉ A DÉCADA
DE OITENTA
GRÁFICO 4-1 TAXAS MÉDIAS DE CRESCIMENTO ANUAL DO CONSUMO
APARENTE DE CIMENTO NO BRASIL (1926 - 1983)
-50,00
-40,00
-30,00
-20,00
-10,00
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
AN
O/1
927
AN
O/1
929
AN
O/1
931
AN
O/1
933
AN
O/1
935
AN
O/1
937
AN
O/1
939
AN
O/1
941
AN
O/1
943
AN
O/1
945
AN
O/1
947
AN
O/1
949
AN
O/1
951
AN
O/1
953
AN
O/1
955
AN
O/1
957
AN
O/1
959
AN
O/1
961
AN
O/1
963
AN
O/1
965
AN
O/1
967
AN
O/1
969
AN
O/1
971
AN
O/1
973
AN
O/1
975
AN
O/1
977
AN
O/1
979
AN
O/1
981
AN
O/1
983
Fonte: SNIC
A evolução da demanda por cimento, desde a implantação da indústria, em 1926, pode ser
dividida em cinco ciclos que compreendem fases de expansão e retração no consumo de
cimento. Como é visto a seguir, cada ciclo tem características distintas dos demais.
O primeiro ciclo abrange o período de 1920 a 1930. Neste período, ocorre a
implantação da indústria de cimento no Brasil em bases permanentes, através da instalação da
Companhia de Cimento Brasileira, em 1926. Esta empresa era de propriedade de capitais
canadenses (70%) e nacionais (30%). Antes da instalação dessa empresa, várias tentativas
pioneiras de produção foram postas em prática, por pequenos intervalos de tempo. A mais
importante delas foi levada a cabo durante a Primeira Guerra, pelo industrial fundador do atual
58
58
grupo Votorantim.
Nesta fase, a economia do café era a principal propulsora de toda economia brasileira. A
construção civil, em particular o subsetor da construção pesada, cresceu rapidamente,
impulsionado pelo auge da economia cafeeira, industrialização nascente do país e pelo
processo de urbanização. Esses três segmentos demandavam a construção de uma infra
estrutura de escoamento da produção: estações ferroviárias, portos e usinas geradoras de
energia. O crescimento da construção civil dura até 1929, quando a crise mundial fez com que
os preços internacionais do café despencassem, levando à estagnação prolongada da economia
brasileira.
O segundo ciclo acontece entre 1930 a 1942 e corresponde à consolidação da indústria
cimentaria.
Após a crise de 1929, a economia permanece estagnada até meados da década de 30.
Apesar da estagnação da economia, a produção nacional de cimento volta a crescer já a partir
de 1932, substituindo importações, proibitivas por causa da crise externa. Em 1933, começou a
operar a segunda fábrica de cimento no país, a primeira do grupo Votorantim.
A partir de 1937, a demanda por cimento volta a crescer, atrelada à recuperação
econômica do país, que, por sua vez, foi proporcionada pelo redirecionamento do
desenvolvimento econômico para atividades voltadas para o mercado interno. Novamente, essa
demanda é impulsionada pela construção pesada: açudes, barragens, usinas para geração de
energia e obras ligadas a urbanização. Tem início, nesse período, o movimento de construção
de estradas e rodovias que, posteriormente, vai garantir a supremacia dos transportes
rodoviários frente aos outros tipos de transportes. Outro movimento com início nessa fase e
com repercussões positivas sobre o consumo de cimento, nos anos subsequentes, foi o aumento
da área de piso das edificações, uma mudança nos métodos construtivos em favor de
edificações mais altas.
Em síntese, a principal característica desse ciclo não é a expansão da demanda por
cimento (até mesmo porque ela só se recupera, de fato, em meados do ciclo) mas sim a
retração das importações. As barreiras à importação (tarifas etc.), impostas pela política do
governo diante da crise mundial, se somaram aos custos de transportes, ampliando
significativamente as vantagens dos produtores localizados no Brasil. Cresceu a participação
dos produtores nacionais na oferta interna, em detrimento das importações.
As oportunidades do mercado de cimento atrairam grupos nacionais para o setor. Estes
59
59
grupos, além da demanda em rápida ascensão, tiveram a vantagem de não ter que competir
com novos investidores externos. Grupos econômicos de outros países, nesta fase, estavam
com sua capacidade de investimento exaurida, por causa da crise internacional. Além da
entrada do grupo Votorantim, é nesta fase que entram, no setor de cimento, os grupos Paraíso,
Itaú e João Santos.
O terceiro ciclo vai de 1943 a 1954. Ele marca a consolidação da estrutura industrial do
setor de cimento. Este é o ciclo com o mais rápido aumento no consumo de cimento, a taxa
média de crescimento anual foi de 12,86 %. A produção nacional, entretanto não conseguiu
acompanhar o ritmo de crescimento da demanda (a produção cresceu, em média, 9,75% a.a.)
Dessa forma, o período assiste a uma regressão em relação a situação de auto suficiência
alcançada. No intervalo entre 1944 e 1946, as importações chegaram a 30% do consumo
nacional. O hiato entre consumo e produção, ocorrido nesse período, pode ser atribuído a três
fatores distintos: menor proteção alfandegária (fruto da política econômica do imediato pós
guerra), escassez de bens de capitais e ao fato de que o crescimento da demanda nessa década
foi inesperado (tanto com relação aos surtos iniciais quanto a sustentação do crescimento).
Contudo, já a partir de 1948, as importações passam a ter um caráter de complementaridade
em relação à produção nacional, perdendo importância após a expressiva ampliação da
capacidade produtiva ocorrida entre 1952 e 1955.
Nesta fase, o café foi perdendo seu papel anterior de propulsor da economia brasileira.
A demanda da economia cafeeira por obras de construção, por conseguinte, também foi
diminuindo. O crescimento da construção civil foi puxado pelo surto de urbanização e rápido
crescimento populacional verificado no período (cerca de 3,9% a.a.) e teve como característica
marcante a propagação dos edifícios de apartamentos nas grandes cidades. É desta época, por
exemplo, a construção de grande parte dos prédios do bairro de Copacabana, na cidade do Rio
de Janeiro, e o estádio Mario Filho (Maracanã).
A construção habitacional era financiada, nesse período, pela poupança privada da
população e impulsionada pela especulação imobiliária. Contudo, com a restrição legal à
cobrança de juros nos contratos de aluguéis, a inflação, que corroeu as poupanças, e com a
dificuldade de financiamento de habitações, essa atividade foi progressivamente perdendo
importância.
O quarto ciclo, que se estende de 1954 até 1967, é caracterizado pela retomada da
importância da construção pesada. Este segmento cresce, no período, em função do aumento
60
60
dos gastos governamentais em obras públicas. Com a progressiva expansão do complexo
industrial-urbano, já iniciada no ciclo anterior, a construção civil adquiriu novos aspectos,
tanto no tocante às formas de construir, como em relação aos agentes envolvidos. No subsetor
da construção pesada (estradas e barragens), o Estado se coloca como o principal agente
demandante e os grandes construtores nacionais aparecem como os principais executores, após
uma longa fase de predomínio das empresas estrangeiras. Nesse período, os governos (Federal
e Estaduais) procuram eliminar as deficiências de infra estrutura, investindo na construção de
rodovias e na oferta de energia (hidrelétricas, termoelétricas).
O ciclo seguinte, que vai de 1968 a 1984, compreende, na fase ascendente, o período do
chamado milagre econômico da economia brasileira. A fase descendente, que se inicia em
meados de 1980, abrange a crise econômica que se seguiu. A construção civil apresenta um
ritmo de crescimento intenso durante todo o período ascendente. Após o primeiro choque do
petróleo, quando as taxas de crescimento econômico de outros setores já não eram tão
expressivas, a construção civil continua em expansão, comprovando sua importância para a
sustentação do crescimento econômico.
No “ciclo do milagre”, o incentivo à construção civil se deu, num primeiro momento,
principalmente pela evolução da construção habitacional associada, principalmente, à atuação
do Banco Nacional da Habitação (BNH). O BNH foi criado em 1964, com o objetivo de
financiar novas moradias, incentivando o segmento. As fontes de recursos, para os
financiamentos à habitação, eram o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e as
poupanças voluntárias.
A instituição do BNH, juntamente com outras reformas instituídas após a revolução de
1964, concernentes à regulação de leis de inquilinato, financiamento etc., levaram a um rápido
desenvolvimento do segmento da construção habitacional. O crescimento dessa atividade,
entretanto, também se comportou de forma cíclica, ou seja apresentou maior dinamismo até o
início dos anos 70, quando perdeu seu impulso. A partir de então, o subsetor da construção
pesada e, em particular, a construção de estradas e barragens, assumiu uma maior importância
relativa. Cabe destacar que o aumento dos gastos governamentais nesses dois segmentos fazia
parte das metas estipuladas pelos planos de desenvolvimento (PND I e II), principalmente as
metas relacionadas ao setor de energia (construção de barragens) e as relacionadas ao
desenvolvimento urbano (obras de transportes, saneamento e edificações).
A expansão da construção civil, quer liderada pelo segmento da construção
61
61
habitacional, nos anos iniciais do ciclo, quer impulsionada pelas obras de construção pesada,
após 1974, provocou um consistente e elevado crescimento da demanda por cimento. No
período de 1968/1980, o consumo de cimento cresceu a uma taxa média de 12 % a.
A recessão de 1981, entretanto, fez com que a construção civil se retraísse. O consumo
decresceu 3,54 % em 1981 e 1,88 % em 1982. Apenas as maiores obras públicas, como a
rodovia Transamazônica, Hidrelétricas de Itaipu, usina nuclear de Angra e a ferrovia do aço
continuam. Houve uma concentração dos gastos em grandes projetos, realizados basicamente
pela União. Se em 1973, os gastos da União representavam cerca de 63,9% dos gastos que
compõem a formação bruta de capital fixo do governo, em 1982, ela representava 83,9%.
GRÁFICO 4-2PRODUÇÃO E CONSUMO DE CIMENTO (1982-1994)
0
5
10
15
20
25
30
1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994
Consum o Produção
Milhões t
Fonte: BNDES
Como mostra o gráfico 4-3, o consumo de cimento volta a crescer a partir de 1985. Mas
somente em 1986, quando é implementado o Plano Cruzado, há uma recuperação significativa.
A atividade construtiva declina após 1989 e só volta a crescer em 1994, com o Plano Real.
Ambos os plano beneficiaram a construção civil, aquecendo o mercado habitacional e os
investimentos em construção. Os planos Cruzado e Real caracterizam, então, os novos ciclos
econômicos, discutidos na seçãoErro! A origem da referência não foi encontrada.
4.3. OS CICLOS DA DÉCADA DE OITENTA E NOVENTA
Os dados sobre a formação bruta de capital fixo na construção civil e consumo de
62
62
cimento, apresentados nos gráficos 4-4 e 4-5, indicam o movimento cíclico da construção civil.
Como mostram os gráficos, em meados da década de oitenta, inicia-se um novo ciclo da
construção. Seu auge é em 1989 e o declínio se estende até 1993. A partir de 1994, com o
reaquecimento da economia, a construção civil volta a crescer, dando início a um novo ciclo.
Devido à importância dos planos econômicos governamentais na reativação da economia, tanto
em meados da década de oitenta como a partir de 1994, os dois ciclos podem ser denominados,
respectivamente, de ciclo do Cruzado e ciclo do Real.
GRÁFICO 4-6 FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL FIXO NA CONSTRUÇÃO
CIVIL EM US$ BILHÕES CORRENTES
01 02 03 04 05 06 07 08 09 0
1 0 0g o v ern oem p res a s e fa m í lia s
Fonte: Laffis
63
63
GRÁFICO 4-7 CONSUMO DE CIMENTO ENTRE 1990 E 1997
Consumo de cimento de 1990 a 1997*
0
5.000
10.000
15.000
20.000
25.000
30.000
35.000
40.000
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997*
anos
em m
ilões
de
tons
Fonte: Secretaria de Política Econômica
(*) Acumulado entre maio de 1996 a abril de 1997
4.3.1. O CICLO DO CRUZADO
A construção civil cresce entre 1985 e 1989. A formação bruta de capital fixo na
construção apresenta um crescimento médio anual de cerca de 33,4% nesse período, passando
de US$ 27 bilhões em 1985, para US$ 81 bilhões em 1989.
A expansão do subsetor habitacional explica parte do crescimento da construção. Um
indicador, a oferta de apartamentos novos na cidade de São Paulo é apresentado no gráfico 4-8
abaixo. Como se pode observar, a atividade no segmento da construção habitacional segue, em
geral, o padrão do ciclo da construção como um todo.
64
64
GRÁFICO 4-9 OFERTA DE APARTAMENTOS NOVOS NA CIDADE DE SÃO PAULO
1 14 00 1 2 40 0
32 20 0
1 63 00
2 3 40 0
1 8 70 0
14 3 001 28 0 0
1 02 0 0
0
5 0 00
10 0 00
15 0 00
20 0 00
25 0 00
30 0 00
35 0 00
ano/
1984
ano/
1985
ano/
1986
ano/
1987
ano/
1988
ano/
1989
ano/
1990
ano/
1991
ano/
1992
Fonte: Boletim Macrométrica, n 133
Uma característica dessa fase de expansão da atividade imobiliária é a perda progressiva
da importância do SFH no financiamento habitacional. Em 1982, um ano de auge, o SBPE
(Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo) financiou cerca de 270 mil habitações e o
FGTS cerca de 250 mil. No período de 1986 a 1990, o SBPE financiou, cerca de 66 mil
unidades habitacionais ao ano e o FGTS apenas 116 mil unidades/ano. Em 1992, não houve
financiamentos pelo FGTS e os pelo SBPE ficaram em torno de 45 mil unidades habitacionais
- Macrométrica (Boletim n133).
Com relação ao subsetor da construção pesada, o programa de investimentos do
governo federal em grandes obras foi continuado, embora com menor intensidade. Destacam-
se, nesta fase os investimentos tradicionais em transportes e energia e, também, obras de
irrigação. O gráfico 4-10 abaixo indica o nível de atividade do setor de obras públicas.
Observa-se que o nível de atividade na construção pesada, medido pelo número de
empregados, chega ao auge antes do ápice do ciclo da construção como um todo. Este já é um
indicador da maior importância relativa que a construção habitacional tomou, em relação à
construção pesada, na década de 90.
Fica marcado então o início da perda de importância relativa do governo como principal
agente fomentador da atividade da construção civil.
65
65
GRÁFICO 4-11 NUMERO DE EMPREGADOS EM OBRAS PÚBLICAS
E M P R E G A D O S E M E M P R E IT E IR A S D E O B R A S P Ú B L IC A S
( ín d ic e d e s s a z o n a l iz a d o )
0
2 0
4 0
6 0
8 0
1 0 0
1 2 0
1 4 0
1 6 0
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
Jan/
82=1
00
Fonte: Laffis
A partir de 1990, a Formação Bruta de Capital Fixo na construção civil começa a
declinar, por causa da recessão econômica porque passa a economia. Na construção
habitacional, reduz-se a oferta de imóveis. Em 1992, foram ofertados, na cidade de São Paulo,
apenas 10.200 apartamentos, nível inferior ao observado em 1984, último ano do ciclo anterior
- gráfico 4-12.
A atividade no segmento da construção pesada diminuiu por causa da redução dos
gastos governamentais em obras. Essa redução foi causada pela deterioração das finanças
públicas, isto é, o alto nível de endividamento dos governos federal, estaduais e municipais
limitou a sua capacidade de investimentos. A saída encontrada pelas grandes empreiteiras foi,
mais uma vez, a internacionalização e diversificação de suas atividades. Na crise anterior, no
início dos anos 80, o mesmo movimento já havia ocorrido, ver Prochnik (1987).
4.3.2. O CICLO DO REAL
Com o plano Real, em 1994, a construção civil volta a crescer, começando um novo
ciclo de desenvolvimento. Uma característica deste ciclo mais recente é o predomínio da
construção habitacional, que assume o papel de segmento mais dinâmico dentro do setor da
construção. Há mudanças com relação aos principais agentes do setor. Os órgãos públicos,
antes os principais demandantes, e as grandes empreiteiras de obras públicas, antes os
principais ofertantes, cederam, parcialmente, lugar aos agentes do segmento habitacional, com
destaque para pequenos e médios construtores.
O nível de atividade do segmento da construção pesada continuou declinando. Para
66
66
diminuir os déficits nas contas públicas, os governos (federal, estadual e municipal)
continuamente reduziram seus gastos com obras.
No ano de 1994, por ser um ano eleitoral, esperava-se uma recuperação da atividade
desse segmento. Contudo, o nível de atividade da construção pesada, em 1994 (medido pelo
nível de emprego na construção civil) foi ainda inferior ao observado no ano de 1993 - gráfico
4-13.
Neste contexto, as maiores construtoras especializadas neste segmento continuaram a
buscar oportunidades no exterior e oportunidades em outras áreas. A empresa de consultoria
Laffis estima que 15% do faturamento das principais empresas do subsetor da construção
pesada sejam geradas por contratos no exterior. Por exemplo, de acordo com a Gazeta
Mercantil (04/02/98), o setor de Engenharia e Projetos da Odebrecht, opera atualmente em 19
países e tem um faturamento de cerca de US$ 1 bilhão, cerca de metade do faturamento atual
do grupo.
A partir de 1996, melhora o desempenho da construção pesada, porque as empresas
começaram a focalizar suas atenções em outro nicho de mercado, as concessões de serviços de
infra estrutura e as privatizações. Dessa maneira, as grandes construtoras voltaram a focar seus
investimentos no seu negócio principal, atendendo às concessões. Os setores de maiores
interesses dos grandes conglomerados de construção pesada são os setores de energia (geração
e distribuição), transportes, saneamento básico e ambiental e telecomunicações.
Essa mudança estratégica dos grandes grupos de construção pesada, que vem se
intensificando nos anos de 1997 e 1998, decorreu da perda de importância do governo como
indutor de grandes obras e o aumento do papel do setor privado nesse sentido. Investimentos
em obras de pequeno e médio porte estão passando às mãos da iniciativa privada.
Apesar da recuperação da construção pesada, o principal segmento responsável pelo
crescimento da construção civil, nessa fase, foi o habitacional. Basicamente, as atividades mais
dinâmicas foram a construção de novas moradias e reformas. De acordo com a Secretaria de
Política Econômica, o número moradias permanentes subiu de 37 milhões, em 1993, para 39
milhões em 1995. É também considerável o número de ampliações e reformas dos imóveis
existentes no período que se seguiu aos anos do Real, embora não existam estatísticas precisas
(um indicador é o aumento do consumo de materiais de construção, entre os quais se destaca o
cimento).
Como visto, o plano Real proporcionou um aumento do poder aquisitivo,
67
67
principalmente das classes média e baixa, explicando o maior dinamismo da construção
habitacional. Dada a inexistência de opções viáveis de financiamento da casa própria, as
classes mais baixas praticaram a autoconstrução. Esse foi o impulso básico da construção civil
nos anos de 1994 e 1995. A partir de 1995, a vendas de imóveis, principalmente para a classe
média aumentou consideravelmente, com impacto positivo para a atividade de construção.
O aumento nas vendas de imóveis está demonstrado na tabela 5.3.2, fornecida pela Lafis. Essa
agencia calcula um índice denominado Índice de Velocidade de Vendas, que é a razão entre a
quantidade de apartamentos vendidos e a oferta total de apartamentos. O comportamento do
índice é mostrado na tabela abaixo:
TABELA 4-1 ÍNDICE VELOCIDADE DE VENDAS POR FAIXA DE PREÇOS DOS
IMÓVEIS (EM R$ MIL)
até 50 de 50 a
75
de 75 a
125
de 125 a
250
mais de
250
geral
1996 8,95 10,22 7,53 7,63 5,94 8,02
jan-nov/96 8,17 6,97 7,52 7,63 6,01 7,45
jan-nov/97 10,75 9,35 10,20 8,32 5,65 8,28
Fonte: Lafis
A tabela mostra que a velocidade de vendas foi maior em 1997 do que em 1996. Este
crescimento é atribuído ao aumento dos financiamentos disponíveis, tanto governamentais
quanto privados, principalmente na comercialização após a sanção do SFI. A estabilização da
economia também contribuiu para o aumento na oferta de crédito para a aquisição de imóveis.
Isto porque os bancos, nesse cenário, passaram a investir na área de fornecimento de crédito
imobiliário, atividade antes pouco rentável, por causa da alta inflação.
Também se observa, na tabela 4-1, que a maior parte dos imóveis vendidos foram
imóveis na faixa de preços até R$ 50 mil. A maior venda de imóveis mais baratos se deve ao
aumento no poder aquisitivo das classes mais baixas e da classe média, proporcionado pelo
plano Real.
A construção de novas moradias cresceu 14,6%, em 1997, com relação ao ano anterior.
Foram construídas cerca de 170 mil novas unidades contra as 157 mil construídas em 1996, os
melhores resultados da década. No final do ano, entretanto, muitas empresas do setor
68
68
diminuíram suas atividades, por causa do impacto recessivo do pacote fiscal do governo.
Outra característica interessante desse boom da construção habitacional são as formas
de financiamento. Frente à decadência do SFH, as próprias construtoras passaram a financiar
os imóveis vendidos. De acordo com a Macrométrica cerca de 60% do total dos financiamento
imobiliários feitos nesse período, foram oferecidos pelas construtoras e incorporadoras.
Mas a partir de 1996, o governo Federal começou a desenhar novas medidas de fomento
ao setor habitacional, o que não acontecia desde 1986. Dentre estas, cabe mencionar a
securitização de créditos vencidos (posta em prática nesse mesmo ano, por meio de medida
provisória) e a expansão dos créditos diretos para a classe média, dentre outras medidas que
em conjunto compõem um novo sistema de financiamento habitacional: O Sistema Financeiro
Imobiliário.
Este sistema foi criado como uma alternativa ao Sistema Financeiro da Habitação (SFH)
e visa, através do aquecimento da atividade, combater o desemprego, uma vez que esse setor é
um dos que mais emprega mão de obra. As diferenças básicas entre o sistema novo e o antigo
são mostradas na tabela abaixo:
TABELA 4-2 DIFERENÇAS BÁSICAS ENTRE O SFI E O SFH
Sistema Financeiro da
Habitação
Sistema Financeiro
Imobiliário
Valor
imóvel
Máximo: R$ 180 mil Não tem
Condições Permite-se saldo devedor até
limite de R$ 90 mil
Não tem
Retomada
do imóvel
Mutuário tem a propriedade.
Em caso de inadimplência,
retomada é demorada
(hipoteca)
Agente financeiro tem o
domínio do imóvel; retomada é
rápida
Fonte de
recursos
Caderneta de poupança e
FGTS
Venda de crédito imobiliário
para investidores internos e
externos
Taxa de
juros
Taxa Referencial (TR) e mais
12% a.a.
Livre negociação
69
69
Prazos de
financiamen
to
Máximo de 25 anos Não tem prazo máximo
Reajuste
das
prestações
Variação salarial ou
comprometimento da renda
Negociação entre as partes -
agente financeiro/mutuário
Fonte: Laffis
As questões polêmicas com relação ao antigo sistema - os valores máximo, os limites de
saldo devedor, taxa de juros, prazos e reajustes - são todas resolvidas entre as partes
contratantes, não havendo nenhum limite imposto a priori pela lei. Com relação ao ponto mais
problemático - a retomada do imóvel quando da inadimplência, pelo menos em teoria, houve
uma mudança significativa a favor do interesse do sistema financeiro. Uma das causas
apontadas da falência do SFH era relativa ao que se fazer com aqueles que não pagavam as
prestações. Como o mutuário tinha a propriedade do imóvel as resoluções, via judicial eram
bem demoradas. No novo sistema o imóvel só é passado definitivamente para o mutuário
quando este é quitado, o que facilita as ações de retomada do bem.
A inovação mais importante desse sistema, porém, é a securitização dos créditos
imobiliários, tanto dos já vencidos do antigo sistema quanto dos próximos e também através do
lançamento de um mercado secundário de hipotecas. Isto de dará basicamente por meio da
emissão de CRI - Certificados de Recebíveis Imobiliários - certificados garantidos pelo
Tesouro Nacional, que proporcionarão liquidez aos créditos de longo prazo. Com isso, as
instituições que concedem esses créditos não ficam tão frágeis ao risco de inadimplência, uma
vez que podem revender os contratos das dívidas. Outra grande vantagem é que o sistema pode
ser realimentado por outros investimentos, aumentando assim o volume de crédito.
Na verdade, apesar de ter sido implementado em 1997, a emissão de CRI, deve ser feita
a partir da metade de 1998. Isto porque não havia sido regulamentada ainda a negociação
desses papéis. Em junho de 1998, foi criada a Companhia Brasileira de Securitização
(Cibrasec), a partir de 34 instituições financeiras, que negociará esse papel no mercado. Foi
estabelecido que apenas investidores institucionais (fundos de pensão, seguradoras e
sociedades de capitalização) podem investir nesses papéis. Os fundos de pensão por exemplo,
podem investir até 80% do total de suas reservas em CRI. De acordo com O Estado de S. Paulo
(01/07/98), cerca de 80 % dos créditos imobiliários são securitizados nos EUA, enquanto que
70
70
no Brasil, esse percentual é em torno de 3%.
Um risco a ser ressaltado desse novo sistema é o de que, como o empréstimo pode ser
repassado, aumenta a possibilidade de circulação de “créditos podres”. Como as instituições
concedentes de crédito perdem a responsabilidade sobre o devedor, pode acontecer dessas
instituições ficarem menos rígidas com relação à quem emprestar. Ainda mais que as
condições de crédito (inexistência de limite de renda e afrouxamento das garantias), reforçam o
risco de inadimplência. Conforme colocado por Lancellotti, coordenador da Comissão da
indústria da Construção da Fiesp/Cesp (Revista da indústria n.10, Out/96), esse sistema abre
margens para que sejam encobertos “furos” de operações financeiras na área imobiliária.
O novo sistema de financiamento da habitação tem diversas e importantes
consequências para a indústria do cimento. Uma análise exaustiva das suas implicações não
cabe neste trabalho. Mas cabe observar que a institucionalidade proposta abre o setor de
construção habitacional à participação do sistema financeiro internacional e, ao mesmo tempo,
diminui a participação do governo. Com isto, a disponibilidade de recursos e as condições de
contratação de financiamento passam a depender de variáveis externas ao país. Para o mutuário
final, estas novas condições devem implicar em risco redobrado. Também pode-se observar
que o financiamento da casa popular fica relativamente mais prejudicado, pois esta modalidade
não é do interesse dos agentes privados. Afasta-se, portanto, uma possível fonte de gastos de
cimento, com prejuízo para a indústria.
4.4. PERSPECTIVAS DE AMPLIAÇÃO DA DEMANDA
4.4.1. A CURTO PRAZO
A crise de outubro de 1997 desenhou um cenário pouco favorável para a parcela
produtiva da economia, principalmente em função do aumento nas taxas de juros. Em
princípio, projetava-se um crescimento negativo da economia (recessão). Após as pequenas
reduções nas taxas básicas de juros, que passaram de cerca de 35% a.a (após o pacote fiscal)
para 20% a.a (em junho de 1998) as projeções de crescimento, para 1998, ficam em torno de
1,5% e, para, 1999 era esperado, antes de setembro de 1998, um crescimento entre 2% e
2,5%.
As expectativas estão bem abaixo daquelas desenhadas em 1996, que previam um
crescimento em torno de 5,2% para 1998 e de 5,4% para 1999 (Boletim Macrométrica n.133).
71
71
Com o processo especulativo de setembro de 1998 e o novo pacote fiscal, novas revisões das
estimativas de crescimento futuro, para baixo, podem ser esperadas.
A construção civil ainda é vista como um dos setores menos afetados pela crise e,
dependendo dos desdobramentos da situação financeira do país, pode apresentar um bom
desempenho nos próximos dois anos. Atualmente, a alta da taxa de juros tem um impacto
relativamente menor, porque a maior parte dos financiamentos a esse setor estão sendo feitos
pelas próprias construtoras. Nesses contratos de financiamento a correção das prestações é
feita pela inflação (IGPM) e não pela taxa de juros do mercado.
Outro motivo é a possibilidade de aumento do investimento em imóveis, como um dos
desdobramentos da crise financeira atual. A expectativa é de que os investidores adotem um
comportamento mais conservador, aplicando relativamente mais recursos em imóveis, que são
reservas de valor mais garantidas, e menos em papéis, cujo valor é mais volátil.
Com relação à construção pesada, seu desempenho, nesses próximos dois anos, tende a
ser muito ruim. Primeiro, porque esse ano é um ano com eleições nas esferas federal e
estaduais, o que por si só já configura uma expectativa de menor demanda por obras públicas
no período posterior. Dada a pressão sobre as contas públicas, a contratação de obras deve cair
bastante. Atualmente, apenas as concessões privatizadas podem vir a realizar alguns tipos de
obras.
4.4.2. A MÉDIO E LONGO PRAZO
A construção civil, ou o constrobusiness, é atualmente responsável por cerca de 14,8%
do PIB (O Estado de S. Paulo - 01/07/98) e tem grande importância na determinação dos níveis
de desemprego, por ser, também, uma atividade intensiva em mão de obra. Como a maior parte
dos investimentos feitos ou a serem realizados no país passam pelo setor, direta ou
indiretamente, as expectativas com relação ao seu desempenho futuro requerem, num primeiro
momento, uma observação das intenções de investimento no país.
Rodrigues (1997), fez um levantamento das intenções de investimento anunciadas na
mídia, entre 1996 e 1997, para o período de 1997 a 2002. É claro que muitas dessas intenções
podem ter sido alteradas pelo cenário adverso provocado pelo final de 1997 e meados de 1998.
Mas um levantamento informal, realizado nos anúncios de investimento publicados
principalmente na Gazeta Mercantil, no período entre meados de 1997 a meados de 1998,
confirma que o grosso dos investimentos mostrados por Rodrigues em seu estudo, não se
72
72
alterou fortemente em função da crise.
TABELA 4-3 INTENÇÕES DE INVESTIMENTO SEGUNDO SETORES NO PERÍODO DE 1997/2002 ANUNCIADAS EM 1996 E 1997
SETORES INVESTIMENT
OS 1996 (US$ MILHÕES)
% INVESTIMENTOS 1997 (US$ MILHÕES)
% 1997/ 1996
Infra - Estrutura 27.097 25,2% 46.667 38,1% 72,2%
Mecânica/Metalurgica
15.539 14,5% 12.234 10,0% -21,3%
Telecomunicações 9.851 9,2% 8.531 7,0% -13,4% Alimentos, Bebidas e
Fumo 9.559 8,9% 6.754 5,5% -29,3%
Petroquímica 8.980 8,4% 11.186 9,1% 24,6% Siderurgia 5.897 5,5% 5.928 4,8% 0,5%
Papel e Celulose 4.067 3,8% 4.770 3,9% 17,3% Turismo, Shopping e
Lazer 4.063 3,8% 4.033 3,3% -0,7%
Eletroeletrônica 3.741 3,5% 2.218 1,8% -40,7% Serviços 2.917 2,7% 1.946 1,6% -33,3%
Financeiro 2.860 2,7% 2.471 2,0% -13,6% Mineração 2.721 2,5% 1.776 1,5% -34,7%
Química, Plásticos, Fertilizantes e Farmacêutico
3.147 2,9% 3.791 3,1% 20,5%
Comércio 1.911 1,8% 3.574 2,9% 87,0% Transportes 696 0,6% 1.235 1,0% 77,4%
Têxtil e Confecções 654 0,6% 921 0,8% 40,8% Higiene e Limpeza 644 0,6% 366 0,3% -43,2%
Calçados 146 0,1% 155 0,1% 6,2% Agropecuária 117 0,1% 55 0,0% -53,0%
Indústria: Diversos 2.788 2,6% 3.748 3,1% 34,4% TOTAL 107.395 100,0% 122.359 100,0% 13,9%
Fonte: Rodrigues, 1997 A partir da tabela acima, percebe-se que a maior parte do investimentos está
concentrada no setor de infra-estrutura, compreendendo as áreas de energia, transportes,
telecomunicações e saneamento básico. O investimento em infra-estrutura é particularmente
importante, não só com relação ao futuro da indústria de cimento, mas como para a economia
como um todo. De acordo com Rodrigues (1997): “ o aumento da oferta e da qualidade de
energia, dos transportes, das telecomunicações e do sanemaento básico eleva o produto final,
73
73
implica em maior produtividade dos fatores privados e reduz o custo por unidade de insumo o
que, por sua vez, estimula o investimento e o emprego”[ Rodrigues, 1997, pág.173].
Com relação aos investimentos em infra estrutura, os projetos relativos à área de energia são os
mais numerosos. Estão incluídos, nesses investimentos, a construção de hidrelétricas como
Machadinho (RS), Porto Estrela, Miranda e Queimado (MG); usinas termelétricas que visam o
auto abastecimento, como é o caso da termelétrica de Volta Redonda (RJ), voltada para o
abastecimento da CSN e, também, investimentos relacionados à distribuição de energia, como
é o caso da distribuição Norte-Sul de Itaipú, de Urucu para Manaus e de Tucuruí para
Fortaleza.
Esses projetos são conduzidos pelo setor privado, pois, como se sabe, a política
econômica procurou repassar, para este setor, as conhecidas oportunidades de investimento,
através do processo de privatizações e concessões. As perspectivas para o investimento público
são analisadas a seguir.
Os investimentos do setor público em infra-estrutura também estavam aumentando. O
governo, através do programa “Brasil” (ex-Brasil em Ação), estava realizando investimentos
da ordem de US$ 42 bilhões, conforme mostrado pela Lafis. Na parte de transportes, o
programa inclui a construção da rodovia do Mercosul, a rodovia Fernão Dias, pavimentação
da BR 174, recuperação das BR 163 e 364, dentre outras obras de infra estrutura a serem
realizadas em parcerias com o setor privado.
O programa “Brasil” visa a eliminação dos entraves à maior competitividade da
indústria brasileira (redução do “custo Brasil”), por meio dos investimentos nesse setor, de
forma a montar uma base para o crescimento econômico de longo prazo. Contudo, o papel do
Governo, nesse programa, não é o de agente demandante direto de obras públicas, como
anteriormente. Seu papel atual é identificar as áreas principais de investimento (localização,
setor, valor, finalidade e conseqüências para regiões afins) e estimular parcerias entre o setor
privado e o público, na realização desses investimentos. A meta é tornar os investimentos em
infra-estrtura atrativos para o setor privado.
Uma maneira que vem sendo empregada pelo Governo na promoção dessas parcerias,
além dos já mencionado programa de privatização e concessões, vem sendo estimular a maior
utilização do Project Finance. O Project Finance é um tipo de financiamento baseado
exclusivamente no Projeto a ser realizado. A garantia do financiamento são os recursos a
74
74
serem obtidos com o projeto e não recursos das empresas envolvidas na realização do mesmo.
De maneira mais formal: “O Project Finance é uma forma de engenharia /colaboraçào
financeira sustentada contratualmente pelo fluxo de caixa de um projeto servindo como
garantia à referida colaboração os ativos desse projeto a serem adquiridos e os valores
recebíveis ao longo do projeto.” [Borges, 1997,pág.108]. Esse tipo de financiamento não é
específicamente voltado para setores de infra-estrutura, mas se aplica de forma melhor nesse
setor. Construção de grandes obras necessitam de grandes financiamentos, que podem ser
conseguidos com base no projeto. Dessa forma, os riscos envolvidos em cada projeto são mais
facilmente identificados e distribuídos entre as partes envolvidas, havendo também a
reciclagem desses créditos por meio da venda de Recebíveis8.
Esse tipo de financiamento ainda não está muito popularizado no Brasil. Isto até porque
somente atualmente projetos como construção de rodovias dentre outros de utilidade pública
são vistos como atividades lucrativas para o setor privado. Assim, o Project Finance, apesar de
ter uma estrutura mais complexa do que o dos financiamentos tradicionais (Corporate
Finance), ao se tornar mais difundido, fará com que os recursos para grandes projetos se
tornam mais abundantes, configurando-se então num estímulo a grandes projetos.
Os fatores enumerados acima, podem trazer boas perspectivas para os subsetores da
construção pesada e de montagem industrial basicamente, nos próximos anos.
TABELA 4-4 POTENCIAL DE INVESTIMENTO EM PROJETOS DE INFRA ESTRUTURA
Setor US$ bilhões n.o de
projetos eletricidade 85.7 557 transportes/portos 38.7 132 petróleo 32.1 134 papel e celulose 12.5 39 saneamento 9.6 44 produtos minerais/cimento
5.9 33
ferro e aço 5.4 62 total 189.9 1,001
Fonte: Laffis
8 Para maiores esclarecimentos sobre Project Finance ver: BORGES, Luiz Ferreira Xavier Project Finance e Infra-Estrutura: Descrição e Críticas Revista do BNDES, n.9. Rio de Janeiro, 1997
75
75
A construção habitacional também apresenta perspectivas animadoras a médio e longo prazo.
Em 1995, o Ministério da Indústria do Comercio e do Turismo estimou o déficit habitacional
brasileiro em cerca de 5,6 milhões de unidades residenciais:
“A questão habitacional é especialmente relevante, destacando-se nos contextos social e
econômico nacional e constituindo um importante instrumento para o equilíbrio social. Estima-
se que a população brasileira é composta de cerca de 50 milhões de jovens entre 19 e 29 anos,
faixa etária que necessitará, a curto e médio prazos, de moradia, aumentando o déficit já
existente (5,6 milhões de unidades residenciais em 1995) na oferta de habitação. Se não
considerarmos a existência das subhabitações (favelas, palafitas, etc.) o déficit alcança a marca
de 12 milhões de unidades.” – Ações Setoriais para o Aumento da Competitividade da
Indústria Brasileira, XIII – Indústria da Construção, Programa Brasileiro de Qualidade e
Produtividade, Home Page do Ministério da Indústria e Comércio
Assim, levando-se em conta a faixa de renda, o mercado potencial de habitações se
configura como mostrado pela tabela abaixo.
TABELA 4-5 DÉFICIT HABITACIONAL (1995)
URBANO RURAL TOTAL
Faixas salariais Mil
Famílias
% Mil
Famílias
% Mil
Famílias
%
até 2 SM 2192 55 1290 78 3482 62
de 2 a 5 SM 1157 29 262 16 1419 25
Acima de 5 SM 623 16 94 6 717 13
Total 3.973 100 1646 100 5618 100
Fonte: Revista da Indústria, dez/1996
Os mercados que apresentam o maior potencial de crescimento, aqueles com o maior
déficit, são os da população de menor poder aquisitivo. Esses segmentos necessitam dos
investimentos governamentais, pois a classe mais baixa precisa de financiamentos muito
longos, que não são tão interessantes para a iniciativa privada.
Contudo, com as transformações ocorridas no sistema de financiamento mostradas na
seção anterior, a tendência é de que o interesse da setor privado por esses segmentos, que já é
76
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crescente, aumente ainda mais. É provável, também, que as construtoras direcionem seus
investimentos para os setores de renda mais baixa, percebendo o potencial de crescimento
desses segmentos.
Outro fator que pode influenciar o desempenho da construção civil como um todo, a
médio e longo prazo, é a continuidade dos investimentos do governo. O plano plurianual,
divulgado pelo governo em 1996, apresenta boas perspectivas para a construção civil em geral,
até mesmo pelo fato de buscar parcerias no setor privado para a realização dos investimentos
planejados.
A tabela abaixo nos mostra os investimentos previstos pelo governo federal para o
período de 1996 e 1999.
TABELA 4-6 INVESTIMENTOS PREVISTOS NO PLANO PLURIANUAL - 1996
A 1999 EM R$ MILHÕES
Privado e governos
estaduais e municiapis
Governo
Federal
Total
Infra-estrutura 37.837,00 47.552,00 85.389,00
Recursos Hídricos 2.741,00 4.001,00 6.742,00
Agricultura 7.289,00 7.289,00
Indústria e Comércio
Exterior
2.171,00 1.564,00 3.735,00
Turismo 391,00 700,00 1.091,00
Ciência e Tecnologia 6.800,00 2.630,00 9.430,00
Meio Ambiente 100,00 1.635,00 1.735,00
Desenvolvimento Social 6.774,00 23.064,00 29.838,00
Cultura, Justiça,
Segurança e Cidadania
229,00 1.602,00 1.831,00
Estados e Administração
Pública
658,00 658,00
Defesa Nacional 5.652,00 5.652,00
Total 57.043,00 96.347,00 153.390,00
Fonte: Boletim Macrométrica n 133.
77
77
O plano previa gastos totais maiores do que os 100 bilhões de dólares anunciados pelo
Presidente quando da sua candidatura. O gasto total previsto inicialmente de 153 bilhões
contava com as mudanças no orçamento promovidas pelas reformas fiscal e tributária.
Contudo, como se percebe, o governo ainda não conseguiu aprovar tais reformas no
Congresso. Com isso é provável que a colocação efetiva desse plano em prática só se dará num
possível segundo mandato do atual presidente e considerando-se, também, a hipótese de
superação da crise financeira atual.
A longo prazo, porém, a tendência é de que o déficit no orçamento governamental
influa menos na demanda de obras públicas. Isso porque, devido às privatizações e outras
parcerias citadas acima (concessões de serviços públicos e parcerias de investimentos), o setor
privado passará a ser um demandante mais importante na execução dos investimentos
necessários em infra estrutura.
Os investimentos totais em construção civil previstos para serem realizados nos
próximos anos são mostrados no gráfico abaixo.
GRÁFICO 4.4-1 INVESTIMENTO TOTAL EM CONSTRUÇÃO CIVIL
INVESTIMENTO TOTAL EM CONSTRUÇÃO CIVIL
46 43
57
65
74
66
70
78 80 80 79
62
56
63 65
73
68
73
83 86 88 89
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
US
$ bi
lhõe
s
US$ correntesUS$ de 1996
Fonte: Laffis
4.5. CENÁRIOS SOBRE A DEMANDA POR CIMENTO
O SINDUSCOM-SP estimou a elasticidade da demanda de cimento em relação ao PIB
em 1,4. Essa elasticidade da demanda por cimento em relação ao PIB é válida para taxas de
crescimento da economia maiores do que 2,5% ao ano. Assim, o consumo cresceria sempre
78
78
mais do que o crescimento da economia, para qualquer taxa de crescimento do PIB maior que
2,5%. A partir dessa estimativa, podem ser construídas projeções para o consumo de cimento
4.5.1. CENÁRIO 1
Neste cenário, é proposta uma hipótese de crescimento do PIB a 4.9% a.a., num
contexto de concentração e globalização. O consumo de cimento aumentaria 6,86% ao ano.
O crescimento econômico elevaria a renda per capita brasileira, fazendo com que o
consumidor formiga continuasse ampliando sua participação no consumo de cimento. A
reformulação do Sistema Financeiro Imobiliário ( alternativa ao antigo SFH que foi sancionado
em novembro de 1997) deve estimular o setor formal da construção. Num contexto de
globalização, os investimentos em infra estrutura de transportes e comunicações são de suma
importância para que o país seja atrativo aos investimentos estrangeiros. Esses investimentos
devem ser realizados ou por iniciativa estatal ou, o que é mais provável, pala iniciativa privada,
uma vez que esses são os setores que estão sendo privatizados.
Com esses três fatores influenciando a demanda pelo produto, é natural se esperar que
os investimentos estrangeiros nesse setor aumentem. Isto significa que, nesse cenário, a
participação estrangeira na produção deve crescer.
Pela ótica da oferta, os grupos atuantes aumentariam a capacidade produtiva, investindo
na implantação de novas plantas. O peso do setor no PIB também cresceria, através do
aumento da produção e através do aumento nos preços relativos que se daria, por sua vez em
função do crescimento da demanda e pela redução dos níveis de capacidade ociosa.
4.5.2. CENÁRIO 2
O segundo cenário procura estimar o futuro da indústria de cimento caso o crescimento
hipotético do PIB seja de 3,1% a.a. A participação dos consumidores formiga, nas vendas de
cimento, se manteria elevada. Nesse cenário, esses consumidores continuariam a tentar
resolver seus problemas de habitação por conta própria.
As obras de infra-estrutura necessárias ocorreriam a um ritmo mais lento do que no
primeiro cenário, fazendo com que o aumento na demanda por cimento fosse menor. Com isso,
não haveria grandes estímulos para que os produtores investissem no aumento da capacidade
produtiva.
Se as empresas optassem por trabalhar com preços mais elevados, elas sofreriam com os
79
79
custos de operar com um maior grau de capacidade ociosa. Outro fator, nesse contexto, que
limitaria a expansão dos preços do cimento, é a importância do consumidor formiga no
consumo. Este tipo de consumidor tem uma maior elasticidade preço-demanda, é mais sensível
às variações de preços.
4.5.3. CENARIO 3
Este cenário se baseia em uma hipótese de crescimento anual do PIB da 5,8%,
associado a uma melhora na distribuição de renda nacional. Neste quadro, a indústria de
cimento cresceria em 8,1% ao ano. Haveria uma ampliação do consumo per capita, devida a
melhor distribuição da renda e o consequente aumento da renda per capita. O consumo formiga
se expandiria, mas não com tanta importância no consumo total da indústria. Isso porque,
nesse cenário, ocorreria um impulso da construção formal, principalmente através de políticas
habitacionais mais abrangentes e obras de infra estrutura e saneamento, levadas a cabo pelo
governo. Este teria maior volume de recursos disponíveis para realizá-las. O local onde a
indústria mais se expandiria seria no Nordeste , onde se opera com os maiores níveis de
capacidade ociosa. De acordo com Haguenauer (1997), esta seria de 40% nessa região em
1996.
A demanda aquecida poderia levar a um aumento de preços, num primeiro momento,
mas as empresas podem também vir a reduzir os níveis de capacidade ociosa e, posteriormente,
a expandir a capacidade produtiva de modo a atender a crescente demanda. As empresas
poderiam optar por essa segunda alternativa, com a finalidade de obter maiores fatias do
mercado.
De qualquer forma espera-se que, frente a esse quadro, a indústria de cimento aumente a
sua participação no PIB, seja pelo aumento de preços, seja pela maior quantidade ofertada.
4.5.4. CENÁRIOS DO BNDES
O BNDES (Informe Setorial n.6) também estimou cenários de futuro para a demanda
por cimento. O estudo de cenários do BNDES tem, como base, a taxa de crescimento
populacional do IBGE, que é de 1,35% a.a. O primeiro cenário do BNDES considera que o
consumo aparente de cimento vai crescer à mesma taxa média que veio crescendo nos últimos
seis anos, 5,05% a.a. Esta hipótese prevê que, no ano 2000, o consumo aparente será da ordem
de 42,53 milhões de toneladas, chegando a 57,16 milhões em 2006.
80
80
PROJEÇÃO DO CONSUMO DE CIMENTO - 1997/2006
ANO 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
População 159,7 161,9 164,1 166,3 168,5 170,8 173,1 175,5 177,8 180,2
Consumo
per capita
229,7 238,1 246,8 255,8 265,1 274,7 284,8 295,2 306,0 317,2
consumo
aparente
36,7 38,5 40,49 42,5 44,6 46,9 49,3 51,8 54,4 57,2
Fonte: BNDES, Informe Setorial n.6 pág.95
Cenário 5
O segundo cenário, por sua vez, é montado com base na mesma taxa de crescimento
populacional, mas leva em conta uma taxa de crescimento do consumo aparente cimento de
3,31%, que é a taxa de crescimento média observada nos últimos 10 anos.
Baseado nessa hipótese, o consumo de cimento no Brasil chegará a 39,78 milhões de
toneladas e em 2006 este será de 48,37 milhões de toneladas.
TABELA 4-7 PROJEÇÃO PARA O CONSUMO DE CIMENTO - 1997/2006
ANO 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
População 159,7 161,9 164,1 166,3 168,5 170,8 173,1 175,5 177,8 180,2
Consumo
per capita
225,9 230,3 234,7 239,2 243,9 248,6 253,3 258,3 263,3 268,4
Consumo
aparente
36,1 37,3 38,5 39,78 41,1 42,5 43,9 45,3 46,3 48,4
Se este segundo cenário for observado, a atual capacidade instalada seria suficiente para
suprir o consumo de cimento no ano 2006. Assim, não seria necessário o investimento em
novas unidades produtivas. Contudo, como a mensuração da capacidade ociosa é imprecisa, é
provável que sejam necessários investimentos na reposição de equipamentos existentes,
conservação, automação e modernização das plantas existentes.
Foi procurado mostrar os efeitos de diferentes conjunturas econômicas para a indústria
de cimento, buscando os fatores que tem impactos mais positivos sobre ela. Os cenários do
81
81
BNDES equivalem aos cenários 1 e 2 estimados por Haguenauer et alli (1997).
O estudo do BNDES também afirma que, independente do cenário que venha a ocorrer,
é possível esperar uma maior participação dos grupos estrangeiros no mercado. Com a menor
proteção dos produtores nacionais, em função do processo de globalização, estes grupos
produtores devem investir na redução dos custos e na adequação das suas empresas aos novos
padrões de concorrência que estão surgindo no setor.
Por último, cabe ressaltar que uma maior taxa de crescimento da economia e uma
melhor distribuição de renda são os fatores mais favoráveis ao desenvolvimento da indústria de
cimento. O cenário que foi traçado com base na combinação desses dois fatores foi o que deu
o melhor resultado para a indústria, um crescimento rápido e auto sustentado do setor
cimenteiro.
4.6. GRAU DE UTILIZAÇÃO DA CAPACIDADE PRODUTIVA INSTALADA
Mesmo durante os anos de recessão dos anos 80 os grupos produtores de cimento se
mantiveram otimistas com relação a demanda de cimento. As razões para o otimismo dos
produtores de cimento eram o déficit habitacional e a carência de infra-estrutura básica de
transportes e transportes e energia, refletidas no baixo consumo de cimento per capita
brasileiro. Com isso, houve uma expansão da capacidade produtiva mesmo nesses anos de
grande retração do consumo. O resultado foi a manutenção de altos graus de capacidade
ociosa, que se colocou como uma das grandes preocupações para a indústria nos períodos
recentes.
Existem algumas dificuldades quanto à avaliação da capacidade instalada. Isto é devido
ao fato de que a introdução de um novo forno na produção não implica na imediata
substituição dos fornos mais antigos. Estes são desativados num primeiro momento mas,
frente a um aumento inesperado na demanda ou outro problema qualquer, podem voltar a
operar. Essa é a metodologia de análise do SNIC, a inclusão desses fornos na mensuração da
capacidade produtiva. Nessa seção, é adotada a mesma metodologia do SNIC, que leva em
conta a capacidade produtiva potencial, uma vez que a maior fonte de dados é esse sindicato.
Os investimentos na indústria, em função das altas escalas mínimas de produção
requeridas, se dão em saltos, implicando sempre numa certa capacidade ociosa. Contudo,
apesar da estratégia da industria em geral de manutenção do nível de capacidade a frente da
demanda, com o objetivo de responder a eventuais booms, esta capacidade esteve acima do
82
82
desejado na indústria.
Em média, a capacidade ociosa na indústria chegou ao nível de 40% da capacidade total
instalada em 1995. Deve-se considerar, entretanto, como já mencionado, que os níveis atuais
de capacidade produtiva instalada encontram-se superestimados, computando-se fornos
correntemente desativados e que, somente em condições muito especiais, retornariam à
atividade por longo período. As dificuldades de analisar a indústria vem aumentando ainda
mais, uma vez que o Sindicato da Indústria do Cimento deixou de fornecer dados sobre
capacidade produtiva a partir de 1997.
Gráfico 4-2 Evolução do grau de utilização da capacidade instalada total em
operação
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
100,00%
1979
1880
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
Fonte: SNIC
83
83
TABELA 4-8 CAPACIDADE INSTALADA DE CIMENTO TOTAL EM OPERAÇÃO,
PRODUÇÃO NACIONAL, GRAU DE UTILIZAÇÃO E DE AMPLIAÇÃO DA CAPACIDADE
Ano Capacidade
Instalada
Produção
Brasileira
Utilização da
capacidade
Aumento da
capacidade
instalada
1979 29,085 24,9 85,61% ---
1880 31,997 27,2 85,01% 10,01%
1981 32,796 26,1 79,58% 2,50%
1982 32,916 25,6 77,77% 0,37%
1983 37,058 20,9 56,40% 12,58%
1984 38,131 19,5 51,14% 2,90%
1985 38,131 20,6 54,02% 0,00%
1986 39,054 25,3 64,78% 2,42%
1987 39,084 25,5 65,24% 0,08%
1988 41,288 25,3 61,28% 5,64%
1989 41,993 25,9 61,68% 1,71%
1990 42,083 25,8 61,31% 0,21%
1991 43,725 27,5 62,89% 3,90%
1992 44,139 23,9 54,15% 0,95%
1993 44,744 24,8 55,43% 1,37%
1994 43,984 25,2 57,29% -1,70%
1995 46,431 28,3 60,95% 5,56%
1996 47,201 34,6 73,30% 1,66%
Fonte: SNIC
Como mostra a tabela, 4-1, houve, posteriormente, uma tendência à redução dos níveis
de ociosidade da indústria, principalmente como resultado do crescimento esperado da
demanda.
Voltando a melhorar as perspectivas no crescimento no consumo do produto, é bem
provável que a capacidade ociosa continue caindo. Contudo, nada se pode afirmar sobre os
84
84
níveis de ociosidade futuros do setor. Isso porque, com o crescimento no consumo de cimento,
os produtores terão que fazer novos investimentos em ampliação e modernização da
capacidade produtiva, de modo a manterem suas fatias no mercado.
Outro fator que leva ao aumento da capacidade produtiva é a necessidade de manter um
patamar mínimo de eficiência. Quanto maior a capacidade produtiva dos fornos, em
decorrência da existência de economias de escala, menores os custos de produção e,
consequentemente, maior a eficiência e a competitividade do produtor. Os fornos brasileiros
são relativamente pequenos, se comparados, por exemplo, com as fábricas mais modernas da
Ásia - Haguenauer (1996). A análise do BNDES – Gomes (1997) é semelhante.
Um terceiro motivo ainda para o aumento dos investimentos é a maior concorrência na
indústria, motivada pelos movimentos de expansão das empresas multinacionais no país.
Assim, as perspectivas, para a indústria, são de que os grupos produtores invistam em novas
fábricas e na redução dos custos. Essa redução nos custos deverá ser conseguida tanto pela
ampliação das escalas de produção como por meio de inovações tecnológicas, que diminuam
os custos com energia.
5. A REESTRUTURAÇÃO DA INDÚSTRIA DE CIMENTO NO BRASIL
5.1. INTRODUÇÃO
Desde o início do plano Real, a indústria de cimento no Brasil passa por um importante
ajuste patrimonial. São visíveis duas tendências concomitantes, o aumento do tamanho médio
dos grupos econômicos que compõem a indústria, com a saída de grupos pequenos, e o
aumento da participação do capital estrangeiro no setor.
Estas tendências se derivam tanto de causas externas como de causas internas ao país.
Entre as primeiras, destacam-se as apontadas nos capítulos 2 e 3 deste trabalho: aumento das
vantagens do porte empresarial (economias ao nível da firma), maiores vantagens na atuação
transnacional e o consequente crescimento de grandes empresas internacionais produtoras de
cimento. Adicionalmente, o crescimento mais lento das economias desenvolvidas, leva as
empresas transnacionais a dirigirem seus recursos sobrantes para mercados emergentes.
No Brasil, essas empresas foram atraídas pelo clima de incentivo ao investimento direto
externo, parte do programa de abertura da economia à concorrência externa, déficit
habitacional e o potencial de mercado de grandes obras, e a retomada do crescimento
85
85
econômico a partir do plano Real.
A confluência do súbito aumento do interesse das grandes empresas internacionais de
cimento na economia brasileira, entre outras economias latino-americanas, com a estratégia de
grupos líderes nacionais, entre os quais, com destaque, o Votorantim, redundaram em uma
guerra competitiva com flutuações de preços e aquisições de grupos menores e menos
capacitados.
Assim, após o plano Real, a indústria do cimento vem passando por um forte processo
de reestruturação patrimonial. Em 1994, a indústria era composta por 17 grupos econômicos,
dos quais treze de capital nacional e quatro de capital estrangeiro. Atualmente, existem 11
grupos, dos quais apenas seis de capital nacional. Houve sete processos de aquisição de
grupos, apresentados na tabela seguinte. As aquisições são descritas na próxima seção. As
perspectivas para a indústria são analisadas na última seção.
Note-se a concentração temporal da reestruturação na indústria. Entre as nove
aquisições de participação acionária, oito ocorreram entre setembro de 1996 e abril de 1997.
TABELA 5-1 REESTRUTURAÇÃO PATRIMONIAL DA INDÚSTRIA DE CIMENTO 1996-1998
TABELA REESTRUTURAÇÃO PATRIMONIAL DA INDÚSTRIA DE CIMENTO 1996-1998
Grupo atual Aquisição 1996-1998
Grupo anterior
Valor (1)
Holderbank jul. 96 (6) Cimento Paraíso Fam. Severino da Silva
200
Lafarge set. 96 (7) Matsulfur Grupo Soares 215 Votorantim set 96 (7) (2)
Ribeirão Grande 96
João Santos 52
Lafarge (3) (8) Tupi Fam. Tavares Oliva
Nd
Votorantim out 96 (7) (4)
Itambé Sirama Part. 132,6
Cimpor(8) jan. 97 Cia Cisafra Família Maranhão
106
Cimpor(8) jan. 97 Serrana Bunge e Born 430 Camargo Correa (8) abr.97
Cimento Cauê Juventino Dias
400
Lafarge 98 (5) (8) Cimento Maringá Fam Gastão Mesquita
Nd
86
86
Notas (1) Dados em milhões de dólares (2) Dados em milhões de Reais. Metade investido pelo grupo Votorantim, metade pela
CSN. (3) Aquisição de participação minoritária (25%) (4) Aquisição de participação minoritária (38%) (5) Aquisição de participação minoritária (20%) Nd dados não disponíveis Fontes: (6) Minério/Minerales Num. 213 (8) Gazeta Mercantil 29/06/97 (7) Gomes (1997)
5.2. AS FUSÕES E AQUISIÇÕES DE EMPRESAS
O quadro abaixo apresenta a estrutura de oferta da indústria de cimento no Brasil, os
grupos econômicos, respectivas empresas, sua localização e capacidade de produção.
TABELA 5-2 GRUPOS ECONÔMICOS, ORIGEM DO CAPITAL, CAPACIDADE PRODUTIVA E PARTICIPAÇÃO NA CAPACIDADE PRODUTIVA
DA INDÚSTRIA DE CIMENTO NO BRASIL EM 1989, 1993 E 1996
NOME DO GRUPO e ESTRANGEIRO OU
NACIONAL
CAPACIDADE 1.000 T.
PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL NA
CAPACIDADE
1989 1993 1996 1989 1993 1996 HOLDERBANK e 2626 2865 4995 6,3 6,4 10,6 LAFARGE e 2566 2566 4016 6,1 5,7 8,5 CIMPOR e 0 0 2155 0,0 0,0 4,6 CHAMPALIMAUD (SOEICOM)
e 1535 1535 1535 3,7 3,4 3,3
CIMENTO TUPI 1400 1400 1400 3,3 3,1 3,0 BUNGE Y BORN e 1825 1945 0 4,3 4,3 0,0
TOTAL ESTRANGEIROS
9952 10311 14101 100,0 100,0 100,0
VOTORANTIM n 15940 16800 20464 38,0 37,5 43,4 JOÃO SANTOS n 5198 5198 4953 12,4 11,6 10,5 CAMARGO CORREA
n 1100 2480 4643 2,6 5,5 9,8
BRENNAND n 2310 2310 2310 5,5 5,2 4,9 CIPLAN n 258 410 410 0,6 0,9 0,9 MARINGÁ (2) n 320 320 320 0,8 0,7 0,7 CAUE n 2163 2163 5,2 4,8 0,0
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PARAISO n 2130 2130 5,1 4,8 0,0 CISAFRA n 210 210 0,5 0,5 0,0 ITAMBÉ n 962 962 2,3 2,2 0,0 MATSULFUR n 1450 1450 3,5 3,2 0,0
TOTAL NACIONAIS 32041 34433 33100
TOTAL GERAL 41993 44744 47201 100,0 100,0 100,0
PARTICIPAÇÃO ESTRANGEIRAS
23,70 23,04 29,87 23,7 23,0 29,9
Fonte: Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (1) Incluindo aquisições realizadas até abril de 1997 e não incluindo possíveis expansões de capacidade no mesmo período; (2) adquirida pela Lafarge, em junho de 1998 O grupo Votorantim e a Companhia Siderúrgica Nacional investiram R$ 26 milhões,
cada um, na aquisição da Cia Ribeirão Grande, que pertencia ao Grupo João Santos. Ambos
passaram a ter uma participação de 25% no controle da empresa. A Companhia Siderúrgica
Nacional passou a ser um novo grupo produtor na indústria do cimento. Seu interesse no setor,
entretanto, parece se limitar aos ganhos advindos do melhor aproveitamento dos resíduos da
usina que opera.
Ao final de 1996, o grupo Votorantim adquiriu uma participação de 20% na Cia Itambé.
A companhia Itambé é a principal empresa de um grupo familiar. A aquisição deve valorizar a
posição competitiva desta firma, através da incorporação de know-how desenvolvido pelo
grupo Votorantim.
O grupo Holderbank, por sua vez, gastou US$ 200 milhões e assumiu uma dívida de
US$ 30 milhões, na compra de 88% do capital do grupo Paraíso, adquirindo a obrigação de
compra do restante nos próximos quatro anos. O grupo investiu mais 175 milhões nas unidades
produtivas compradas, destinados à ampliação da capacidade produtiva e reorganização da
produção com vistas a redução dos custos.(Gazeta Mercantil 09/09/97).
Em 1997, foi consolidada a fusão da Paraíso com a Ciminas, dando origem a uma única
empresa de cimento, Holdercim, que controla todas as plantas pertencentes ao grupo. De
acordo com os dados apresentados pelo BNDES relativos à 1996 (Informe Setorial n.6 pág.
91), as plantas adquiridas pelo grupo tinham capacidade produtiva total de 2,5 milhões de
toneladas por ano. O grupo, antes da aquisição, já controlava a Ciminas, que tinha, em 1996,
capacidade produtiva de 2,7 milhões de tons/ano, além da fábrica Ipanema em Sorocaba, que
de acordo com o SNIC tinha capacidade produtiva em 1996 de 165 mil tons/ano.
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No final de 1996, o Grupo portugues Cimpor comprou as fábricas da Serrana, que
pertenciam ao grupo argentino Bunge y Born por R$ 390 milhões ( Jornal do Brasil ). Em
junho de 1997, o mesmo grupo adquiriu o controle da Cia Cisafra, que pertencia à família
Maranhão por US$106 mais uma dívida de US$ 12 milhões. (Gazeta Mercantil, 29/06/97). De
acordo com a Gazeta Mercantil, o grupo gastou ao todo, incluindo pequenos investimentos
iniciais, US$ 530 milhões dos quais grande parte saiu do caixa do grupo, graças ao seu bom
desempenho no mercado de origem.
Ao fim de 1996, o grupo Camargo Correa compra a Cia de Cimento Cauê, que
pertencia ao grupo Juventino Dias por R$ 400 milhões, de acordo com o Jornal do Brasil. A
cia de Cimento Cauê tinha capacidade instalada em 1996 de 1,2 milhão de tons/ano.
O Grupo Lafarge gastou US$ 215 milhões na aquisição da Matsulfur segundo a Revista
Minérios (09/96, pág. 30). As duas plantas da Matsulfur tem capacidade instalada total de 1,7
milhão de toneladas/ano, segundo os dados presentes no site da Matsulfur na Internet. A planta
de Montes Claros - MG responde por 1,2 milhão dessa capacidade e os outros 500 mil de
capacidade ficam na moagem de clínquer em Brumado na Bahia. Anteriormente, o grupo já
havia adquirido o controle da Cimento Mauá , que, segundo o BNDES, conta com uma
capacidade total instalada 2,3 milhão de tons/ano (dados de 1996) e, nesse processo de
reestruturação, adquiriu também participação acionária na Cimento Tupi. Esse grupo,
juntamente com a Cia de Cimento Portland Maringá (Grupo Bueno Vidigal), tem participação
no controle acionário da Cooperativa Minas Oeste de Cimento
Por último, em junho de 1998, a Lafarge adquiriu as ações da empresa Cimento
Maringá. A família brasileira, que controlava acionariamente o empreendimento, passou a ser
sócia minoritária da Lafarge no Brasil.
Nesse processo de reestruturação, seis grupos desapareceram, sendo incorporados por
grupos maiores, estrangeiros e nacionais, aumentando o grau de concentração industrial. De
acordo com matéria publicada pela Gazeta Mercantil, as operações de aquisições ocorridas
nesse período movimentaram cerca de R$ 1 bilhão.
5.3. PERSPECTIVAS SOBRE INGRESSOS DE PRODUTORES / EXPANSÃO
DOS CONCORRENTES (AQUISIÇÕES E AMPLIAÇÃO DA CAPACIDADE
PRODUTIVA).
A participação dos grupos estrangeiros no setor vem aumentando. No período de 1993 a
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1996, essa participação passou de 23% para 30%.À nível nacional somente dois grupos se
expandiram: o grupo Camargo Correa comprou a Cia de Cimento Cauê e o grupo Votorantim
adquiriu participação acionária na Itambé (35%) e na Ribeirão Grande (8%), que pertencia ao
grupo João Santos, envolto em dificuldades financeiras. Os grupos menores e atuantes em
mercados mais disputados sairam do mercado.
Nesse gráfico podemos perceber a recuperação do grupo Votorantim que, em 1994, teve
a sua importância na produção nacional (capacidade instalada) diminuída. O grupo
Holderbank, o maior produtor mundial de cimento, passou a ser o segundo maior no país
ocupando o lugar do grupo João Santos que por muito tempo ocupou essa posição. O grupo
João Santos perdeu sua participação no mercado do sudeste, mas manteve a sua liderança no
Norte e Nordeste do país se mantendo como o terceiro grupo no mercado. Nesse período de
1994 a 1997, assistimos também à expansão da participação do grupo Lafarge, o segundo
maior produtor mundial, e ao crescimento do grupo Camargo Corrêa no setor.
A expansão de grupos estrangeiros no país faz parte de sua estratégias de atuação a
nível mundial. Esse grupos têm suas sedes em países europeus, cujos governos vem reduzindo
seus gastos em obras públicas. A demanda por cimento, nesses países, apresenta poucas
perspectivas de crescimento frente à retração dos investimentos em infra estrutura e da
demanda do setor privado. O resultado é que esses grupos europeus decidiram direcionar seus
investimentos para países com boas tendências de crescimento e com situação política e moeda
estáveis.
É provável que as expectativas com relação ao aumento na demanda pelo produto no
mercado brasileiro associada à continuidade do lento crescimento do mercado nos países
desenvolvidos atraia mais investimentos estrangeiros para o setor. A tendência é de que haja
uma expansão dos grupos estrangeiros aqui instalados, por meio da expansão da capacidade
produtiva. Espera-se que haja, também, a entrada de outros grandes grupos estrangeiros, como
o mexicano CEMEX que está se expandindo pelo mercado latino americano (Cuba e
Venezuela) e que, com a estagnação -dos mercados mexicano e espanhol, suas bases de
atuação, cogita seriamente a expansão pelo Mercosul pela instalação de novas plantas.
5.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante muito tempo, causas intenas e externas ao país permitiram a participação dos
produtores nacionais em concorrência com os estrangeiros. Na década de oitenta, por causa da
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grande atratividade das economias do sudeste asiático e das sucessivas crises na economia
brasileira, as empresas multinacionais investiram menos no Brasil.
Contudo, a partir do início dos anos 90, a economia brasileira veio passando por
transformações estruturais: abertura comercial, estabilização econômica, sobrevalorização da
moeda e o processo de privatizações, que acabaram por estimular a entrada do capital
estrangeiro em diversos os setores de atividade, entre os quais o de cimento.
A maior atração do capital estrangeiro foi, entretanto, apenas uma das modificações
verificadas na economia das empresas. Observou-se, também, uma diminuição da importância
das empresas estatais e das empresas nacionais de administração familiar.
De acordo com Siffert (1998), em 1990, dentre as 100 maiores empresas no Brasil,
existiam 27 empresas de propriedade familiar nacional (quando uma pessoa ou uma família
detém mais de 50% das ações com direito a voto) e 27 empresas de propriedade estrangeira.
Essas 27 empresas nacionais e familiares respondiam por 23% da receita total gerada pelas 100
maiores empresas e as estrangeiras eram responsáveis por 26% desse total. Em 1997, das 100
maiores empresas, 33 empresas eram de capital estrangeiro, contra 23 empresas de propriedade
familiar nacional (tipo de propriedade mais comum entre as empresas nacionais de acordo com
o autor). A participação na receita total das empresas de capital estrangeiro subiu para 37%,
enquanto que as empresas de propriedade familiar nacional passaram a responder por apenas
16% da receita gerada pelas 100 maiores.
O impacto dessas mudanças na indústria de cimento foi sentida com a maior entrada dos
grupos estrangeiros no mercado. Como foi mostrado anteriormente, as perspectivas frente ao
crescimento do mercado nacional do produto, além dos fatores macroeconômicos da economia
brasileira, podem levar os grupos estrangeiros a investirem na ampliação de sua capacidade
produtiva de modo a se apropriar de maiores fatias do mercado em ascensão. Porém, existem
ainda outros fatores atuando no sentido de favorecer a expansão desses grupos no mercado em
detrimento da participação dos produtores nacionais.
Estes são de duas ordens, financeiros e técnicos. Os fatores financeiros referem-se a
capacidade de financiamento das atividades empresariais. Os grupos nacionais, dadas as
restrições do mercado acionário brasileiro e as altas taxas de juros e sua volatilidade, recorrem,
primordialmente, ao financiamento próprio.
O outro conjunto é formado pelos fatores técnicos. Entre estes estão as vantagens dos
grupos maiores, entre as quais se destacam as vantagens competitivas da atuação transnacional,
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analisadas no capítulo 3.
De acordo com um estudo realizado em 1992 sobre a Competitividade da Indústria de
Cimento (FINEP, MICT & PADCT, 1993) foram apontadas ainda outras desvantagens
competitivas dos produtores nacionais frente aos estrangeiros. A primeira delas diz respeito à
gestão empresarial. Os grupos nacionais são em sua maioria de propriedade e gestão familiar, o
que implica numa organização mais hierárquica e menos “profissional” das empresas.
A outra desvantagem apontada diz respeito à administração dos recursos financeiros. Os
grupos nacionais adotam uma postura conservadora, mantendo seus projetos de investimentos
baseados primordialmente na sua capacidade de autofinanciamento. Este conservadorismo
decorre da própria estrutura de propriedade predominante no setor. Empresas de propriedade
familiar, tendem a manter tal postura não recorrendo a outras formas de financiamento (como a
abertura de capital ou um maior grau de alavancagem financeira), por não desejarem ter seu
controle e suas decisões questionadas por outros. Nesse sentido, grupos que poderiam estar se
expandindo a um ritmo maior, têm seu desenvolvimento limitado.
Frente a essas modificações ocorridas na indústria, tanto a nível nacional quanto
internacional, e ao potencial competitivo dos novos concorrentes no mercado brasileiro, os
produtores nacionais devem procurar mudar sua postura e adotar práticas que os tornem mais
competitivos de modo a acompanhar essas mudanças e conseguirem se manter no mercado.
6. BIBLIOGRAFIA
BARTLETT, C. A. & GHOSHAL, S. Beyond the M-Form: Toward a Managerial Theory of the Firm, Carnegie Bosch Institute, Texto para Discussão 94-6, 1994
DRUCKER, P. ; The Coming Of The New Organization in McGOWAN, Revolution In Real Time - Managing Information Technology in the 1990s; Harvard Business Press; 1990
FERRAZ, J. C. KUPFER AND HAGUENAUER, L. Made in Brazil Desafios Competitivos para a Indústria, Ed. Campus, 1996.
EUROPEAN COMMISSION Reports Of Commission Decisions Relating To Competition 1993, 1994, Articles 85, 86 and 90 of the EC Treaty, Luxemburgo, Office for Official Publications of the European Communities, 1996
GOMES, M. T. O.; DAEMON, I. G.; AYRES, M. L. A E FERNANDES, P. C. S. A INDÚSTRIA DE CIMENTO BNDES Setorial nº 6 (setembro/97), 1997
MOTA, G. “CIMENTO PREÇOS MAIS BAIXOS LIMITARÃO O POTENCIAL DE GANHOS” Relatório Setorial 3 de julho de 1996, Banco de Investimentos Garantia S. A., São Paulo, S.P.
PROCHNIK, V. “A DINÂMICA DA INDÚSTRIA DE CIMENTO NO BRASIL”, Tese de Mestrado, Instituto de Economia Industrial, UFRJ, 1983.