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A GESTÃO EDUCACIONAL E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A ORGANIZAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO ESCOLAR. Ionara Bezerra Nelson * [email protected] RESUMO Este trabalho tem por objetivo investigar a gestão educacional e suas implicações para a organização e o desenvolvimento do trabalho escolar. A pesquisa foi organizada sob a ótica de: Luck (1997) que considera a gestão educacional como fato que vem ocorrendo no contexto das organizações e do sistema de ensino, como parte de um esforço fundamental para a mobilização, organização e articulação do desempenho humano e promoção da interação coletiva. Bem como Catani e Gutierrez (2003), os quais afirmam que a participação democrática se baseia no exercício do diálogo entre as partes. Por conseguinte Libâneo (2001), conclui que atualmente, o modelo democrático- participativo tem sido influenciado por uma corrente teórica que compreende a organização escolar como cultura e identidade organizacional. Foi realizado um levantamento bibliográfico observacional, com o objetivo de proporcionar a fundamentação teórica para desenvolver um estudo mais abrangente sobre gestão escolar. Nos quais incidirá as implicações da gestão educacional na falta de oportunidade de formação e capacitação dos gestores educacionais; no relacionamento interpessoal com os colaboradores de escola e no desenvolvimento de habilidades e competências. São objetos deste artigo o conceito de gestão educacional, como novo paradigma da organização do trabalho escolar; os instrumentos de ação gestora para a organização do trabalho escolar e a gestão democrática. Palavras-Chave: Gestão Educacional. Trabalho Democrático. Organização Escolar. _________ * Geógrafa – Universidade Estadual do Piauí – UESPI; Graduada em Gestão e Supervisão Escolar – Faculdade Santo Agostinho – FSA; Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Piauí – UFPI.

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A GESTÃO EDUCACIONAL E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A

ORGANIZAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO ESCOLAR.

Ionara Bezerra Nelson* [email protected]

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo investigar a gestão educacional e suas implicações para a organização e o desenvolvimento do trabalho escolar. A pesquisa foi organizada sob a ótica de: Luck (1997) que considera a gestão educacional como fato que vem ocorrendo no contexto das organizações e do sistema de ensino, como parte de um esforço fundamental para a mobilização, organização e articulação do desempenho humano e promoção da interação coletiva. Bem como Catani e Gutierrez (2003), os quais afirmam que a participação democrática se baseia no exercício do diálogo entre as partes. Por conseguinte Libâneo (2001), conclui que atualmente, o modelo democrático-participativo tem sido influenciado por uma corrente teórica que compreende a organização escolar como cultura e identidade organizacional. Foi realizado um levantamento bibliográfico observacional, com o objetivo de proporcionar a fundamentação teórica para desenvolver um estudo mais abrangente sobre gestão escolar. Nos quais incidirá as implicações da gestão educacional na falta de oportunidade de formação e capacitação dos gestores educacionais; no relacionamento interpessoal com os colaboradores de escola e no desenvolvimento de habilidades e competências. São objetos deste artigo o conceito de gestão educacional, como novo paradigma da organização do trabalho escolar; os instrumentos de ação gestora para a organização do trabalho escolar e a gestão democrática. Palavras-Chave: Gestão Educacional. Trabalho Democrático. Organização Escolar. _________ * Geógrafa – Universidade Estadual do Piauí – UESPI; Graduada em Gestão e Supervisão Escolar – Faculdade Santo Agostinho – FSA; Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Piauí – UFPI.

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INTRODUÇÃO

A pesquisa intitulada “A gestão educacional e suas implicações para a

organização e o desenvolvimento do trabalho escolar”, representou um estudo temático

sobre a gestão escolar, a partir de uma nova visão de organização do trabalho e

desenvolvimento das ações democráticas do gestor e supervisor em sintonia com a

equipe escolar. Atualmente a realidade está marcada pelas desigualdades sociais,

incertezas e tensões. Desta forma a escola necessita rever sua organização para atingir

seu real objetivo que é ensinar, democratizando os conhecimentos da ciência e da

tecnologia. Assim, não é mais possível trabalhar de forma fragmentada e hierarquizada,

é preciso que os membros da escola se apropriem da nova perspectiva de se trabalhar

em equipe e de fato apliquem esta teoria na prática do cotidiano escolar.

Foi a partir destas implicações que surgiu a necessidade de buscar respostas para

a seguinte problemática: Como é desenvolvida a gestão educacional para a organização

e o desenvolvimento do trabalho escolar? Diante desse problema levantado, a pesquisa

tem como objetivo geral investigar a gestão educacional e suas implicações para o

desenvolvimento do trabalho escolar. Desta forma, pretende-se dar uma contribuição

acadêmica e social ao tema, pois a gestão educacional é o pilar do desenvolvimento ou

retrocesso dos resultados educacionais. Ela faz acontecer e mover esse processo que

repercutirá durante toda vida do cidadão, pois toma decisões que direcionam o andar

educacional, logo merece atenção e investigação detalhada.

Esse artigo encontra-se especificamente fundamentado numa pesquisa de cunho

bibliográfico observacional, com o objetivo de proporcionar esclarecimentos teóricos

mais abrangentes sobre o tema em questão.

CONCEITO DE GESTÃO EDUCACIONAL, COMO NOVO PARADIGMA DA

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ESCOLAR

No Brasil, menos de um ano após a promulgação da Constituição democrática de

1988, assistiu-se o início da nova ordem econômica, social e política prevista pela Carta

Magna. O orçamento participativo, o voto, os conselhos municipais, o incentivo

permanente à organização da sociedade civil e o fortalecimento dos meios alternativos

de comunicação como os rádios, jornais e televisões comunitárias são alguns dos

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importantes mecanismos de democracia direta e de participação direta do cidadão e de

grupos de cidadãos na construção da democracia no país.

Nesse contexto de grandes tranformações na esfera econômica, social, política,

científica, cultural e, principalmente tecnológica, a educação não poderia ficar à

margem de tais mudanças, sendo mera expectadora. No plano educacional começa a

desenvolver idéias associadas a um ensino significativo, interdisciplinar e pela busca da

qualidade, tendo como objetivo principal a formação crítica e participativa do cidadão.

As discussões acerca dessas novas concepções educacionais deram origem a uma vasta

literatura jurídica que visa orientar, organizar, normatizar e estabelecer princípios

pedagógicos inovadores condizentes com o modelo atual de sociedade. A Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/96), Parâmetros Curriculares do

Ensino Médio e Ensino Fundamental (1999), Plano Nacional de Educação (Lei

10.172/2001), Plano Nacional do Livro Didático (PNLD - Decreto nº 91.542, de

19/8/85), Constituição Federal do Brasil (1998), entre outros, são alguns desses

documentos norteadores dos pressupostos teóricos sobre educação.

“A formação do aluno deve ter como alvo principal a aquisição de

conhecimentos básicos, a preparação científica e a capacidade de utilizar as diferentes

tecnologias relativas às áreas de atuação”. (Parâmetros Curriculares Nacionais do

Ensino Médio, 1999).

O conceito de Gestão Escolar é relativamente recente e de extrema importância,

na medida em que desejamos uma escola que atenda às atuais exigências da vida social:

formar cidadãos críticos, oferecendo, ainda, a possibilidade de apreensão de

competências e habilidades necessárias e facilitadoras da inserção social. Isto permite

pensar gestão no sentido de uma articulação consciente entre ações que se realizam no

cotidiano da instituição escolar e o seu significado político e social. Para fim de melhor

entendimento, costuma-se classificar a Gestão Escolar em 3 (três) áreas, funcionando

interligadas, de modo integrado ou sistêmico:

1. Gestão Pedagógica - Estabelece objetivos para o ensino, gerais e específicos.

Define as linhas de atuação, em função dos objetivos e do perfil da comunidade e dos

alunos. Propõe metas a serem atingidas. Elabora os conteúdos curriculares. Acompanha

e avalia o rendimento das propostas pedagógicas, dos objetivos e o cumprimento de

metas. Avalia o desempenho dos alunos, do corpo docente e da equipe escolar como um

todo.

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Suas especificidades estão enunciadas no Regimento Escolar e no Projeto

Pedagógico (também denominado Proposta Pedagógica) da escola. Parte do Plano

Escolar (ou Plano Político Pedagógico de Gestão Escolar) também inclui elementos da

gestão pedagógica: objetivos gerais e específicos, metas, plano de curso, plano de aula,

avaliação e treinamento da equipe escolar. O Diretor é auxiliado nessa tarefa pelo

Coordenador Pedagógico (quando existe).

2. Gestão Administrativa - Cuida da parte física (o prédio e os equipamentos

materiais que a escola possui) e da parte institucional (a legislação escolar, direitos e

deveres, atividades de secretaria). Suas especificidades estão enunciadas no Plano

Escolar (também denominado Plano Político Pedagógico de Gestão Escolar, ou Projeto

Pedagógico) e no Regimento Escolar.

3. Gestão de Recursos Humanos - Sem dúvida, lidar com pessoas, mantê-las

trabalhando satisfeitas, rendendo o máximo em suas atividades, contornar problemas e

questões de relacionamento humano fazem da gestão de recursos humanos o fiel da

balança - em termos de fracasso ou sucesso - de toda formulação educacional a que se

pretenda dar consecução na escola. Direitos, deveres, atribuições - de professores, corpo

técnico, pessoal administrativo, alunos, pais e comunidades - estão previstos no

Regimento Escolar.

A organização acima - gestões pedagógica, administrativa e de recursos

humanos - correspondem a uma formulação teórica, explicativa, pois, na realidade

escolar, as três não podem ser separadas mas, isto sim, devem atuar integradamente, de

forma a garantir a organicidade do processo educativo.

A LDB/96, em seus artigos 14 e 15, apresenta as seguintes determinações:

Art. 14 – Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão

democrática do ensino público na educação básica, de acordo com

as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:

I. participação dos profissionais da educação na elaboração do

projeto pedagógico da escola;

II. participação das comunidades escolar e local em conselhos

escolares ou equivalentes.

Art. 15 – Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares

públicas de educação básica que os integram progressivos graus

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de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira,

observadas as normas de direito financeiro público.

Cabe aqui, nesta regulamentação o princípio da autonomia delegada, pois esta lei

decreta a gestão democrática com seus princípios vagos, no sentido de que não

estabelece diretrizes bem definidas para delinear a gestão democrática, apenas aponta o

lógico, a participação de todos os envolvidos. Nesse ínterim, o caráter deliberativo da

autonomia assume uma posição ainda articulada com o Estado.

É preciso que educadores e gestores se reeduquem na perspectiva de uma ética e

de uma política no sentido de criar novas formas de participação na escola pública, tais

como ouvindo, registrando e divulgando o que alunos e comunidade pensam, falam,

escrevem sobre o autoritarismo liberdade da escola pública e as desigualdades da

sociedade brasileira. É tecendo redes de falas e de registros, ações e intervenções que

surgirão novos movimentos de participação ativa e cidadã.

Na realidade existem escolas com excelentes condições físicas e materiais, em

que os alunos vivenciam um ensino conservador; outras, em que o trabalho consciente

de professores competentes perde-se no conjunto de ações pedagógicas desarticuladas;

outra ainda que embora tenha uma proposta pedagógica avançada e bem articulada, não

conseguem traduzi-la em ações efetivas, por falta de harmonia coletiva e

comprometimento conjunto de seus profissionais. Outras, ainda mais, em que é indicada

a ocorrência de grande participação dos pais e trabalho de equipe de seus profissionais,

sem, no entanto, ocorrerem bons resultados de aprendizagem dos alunos (LUCK, 1997).

Estas escolas adotam a concepção técnico-científica baseada na hierarquia de cargos e

funções visando à racionalização e fragmentação do trabalho, a eficiência dos serviços

escolares, que tende a seguir princípios e métodos da administração empresarial.

Em relação ao processo de comunicação Catani e Gutierrez (2003), enfocam que

a participação democrática se baseia no exercício do diálogo entre as partes. Esta

comunicação ocorre, em geral, entre pessoas com diferentes formações e habilidades, ou

seja, entre agentes dotados de distintas competências para a construção de um plano

coletivo e consensual de ação.

Desta forma há uma compreensão de que tem faltado uma visão global de escola

como uma instituição social e uma percepção geral da teia de relações entre os vários

componentes que participam das articulações educacionais para a promoção da

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qualidade da educação. Visão e percepção estas capazes de promover uma sintonia

pedagógica de que muitas das melhores instituições educacionais estão carentes. Essa

sintonia seria promovida, estimulada e orientada sob a liderança do diretor do

estabelecimento de ensino, juntamente com sua equipe gestora, voltada para a

dinamização e coordenação no processo participativo para atender, na escola, as

demandas educacionais da sociedade dinâmica e centrada na tecnologia e

conhecimentos.

A partir das relações harmônicas estabelecidas e da interação entre gestores,

coordenadores pedagógicos, professores, funcionários, alunos, pais e comunidade, a

escola vai adquirindo traços culturais próprios, desenvolvendo uma cultura

organizacional, para isso também é preciso que os professores acreditem que há outras

formas de se organizar e gerir uma escola e desta forma conhecer as teorias

organizacionais que permeiam as novas tendências de gestão escolar, precisam assim,

ter clareza de que há objetivos e metas a serem traçados, para o alcance do que de fato a

escola contemporânea possa atingir seu álibi.

O principal desafio da escola é a complexidade do processo de ensino que, para

seu desenvolvimento e aperfeiçoamento, faz-se necessário a participação consciente da

equipe gestora e de toda a comunidade escolar. Para tanto, a escola define seus

objetivos, suas metas estratégicas e os planos de ação para alcançá-los conjuntamente.

Preocupados principalmente com o crescimento individual de cada um, a escola deve

criar uma identidade organizacional através de uma estratégia de relacionamento com a

comunidade escolar, visando à melhoria na qualidade do ensino e a participação dos

pais através também de reuniões comemorativas consideradas importantes pela

comunidade, pois se ela é tímida em relação a uma aproximação da escola, cabe a

direção dar o primeiro passo e a partir daí a própria comunidade decidir a freqüência de

seus encontros. Desta forma Libâneo (2001), diz que atualmente, o modelo

democrático-participativo tem sido influenciado por uma corrente teórica que

compreende a organização escolar como cultura e identidade organizacional. Esta

corrente afirma que a escola não é uma estrutura totalmente objetiva, calculável,

independente das pessoas, ao contrário, ela depende muito das experiências subjetivas

das pessoas e de suas interações sociais, ou seja, dos significados que as pessoas dão as

coisas em quanto significados socialmente produzidos e mantidos.

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Pimenta (1993), fala que o resultado que a escola pretende que é de contribuir

para o processo de humanização do aluno- cidadão consciente de si no mundo, capaz de

ler e interpretar o mundo no qual está e nele inserir-se criticamente para transformá-lo -

não se consegue pelo trabalho parcelado e fragmentado da equipe escolar- à semelhança

da produção de um carro, onde um grupo de operários aperta cada parafuso, sempre da

mesma maneira, conforme o que foi concluído fora da linha de montagem, mas sim com

o trabalho coletivo. Neste, há contribuição de todos no todo e de todos no de cada um.

A especialização de um não é somada a especialização de outro, mas ela colabora com e

se nutre da especialização do outro, visando a finalidades comuns.

OS INSTRUMENTOS DE AÇÃO GESTORA PARA A ORGANIZAÇÃO DO

TRABALHO ESCOLAR

O processo de organização e desenvolvimento escolar dispõe de funções,

propriedades comuns ao sistema organizacional de uma instituição, com base nas quais

se definem ações e operações necessárias ao funcionamento institucional. Libâneo

(2005), fala que são quatro as funções constitutivas desse sistema: planejamento,

organização, direção e avaliação. O planejamento consiste em ações e procedimentos

para tomada de decisões a respeito de objetivos e de atividades a serem realizadas em

razão desses objetivos. É um processo de conhecimento e de análise da realidade escolar

em suas condições concretas, tendo em vista a elaboração de um plano ou projeto para a

instituição. Desta forma, toda organização precisa de um plano de trabalho que indique

os objetivos e os meios de sua execução, superando a improvisação e a falta de

direcionamentos.

A atividade de planejamento resulta no projeto pedagógico-curricular, estes

propõem uma direção política e pedagógica para o trabalho escolar, elabora metas,

prevê as ações, institui procedimentos e instrumentos de ação. A ausência deste

instrumento no âmbito escolar implicará no comprometimento eficaz e satisfatório no

processo de ensino e aprendizagem, além da decadência nas articulações educacionais.

A organização geral do trabalho refere-se à racionalização do uso de recursos

humanos, materiais, físicos e financeiros e à eficiência na utilização desses recursos e

dos meios de trabalho. A organização incide diretamente na efetividade do processo de

ensino e aprendizagem, à medida que garante as condições de funcionamento da escola.

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Sua presença ou ausência interfere na qualidade das atividades de ensino (LIBÂNEO,

2005).

É necessário, portanto, que todos os aspectos da vida escolar sejam devidamente

contemplados na organização geral de escola, ao longo de todo ano letivo. A

organização geral diz respeito: condições físicas, materiais, financeiras; assistência

pedagógico-didática ao professor; serviços administrativos, de limpeza e de

conservação; horário escolar, matrícula, distribuição de alunos por classes; normas

disciplinares; contatos com os pais, etc.

A direção e a coordenação correspondem a tarefas agrupadas sob o termo gestão.

A gestão refere-se a todas as atividades de coordenação e de acompanhamento do

trabalho das pessoas, envolvendo o cumprimento das atribuições de cada membro da

equipe, a realização do trabalho de forma coletiva, a manutenção do clima de trabalho,

avaliação do desempenho. Essa definição aplica-se aos dirigentes escolares, mas é

igualmente aplicável aos professores, seja em seu trabalho na sala de aula, seja, quando

são investidos de responsabilidades no âmbito da organização escolar.

Dirigir e coordenar significa, no entanto, assumir, no grupo, a responsabilidade

por fazer a escola funcionar mediante o trabalho conjunto. Para isso, compete a quem

dirige assegurar a execução coordenada e integral de atividades dos setores e dos

indivíduos da escola, o processo participativo de tomada de decisões e a articulação das

relações interpessoais na escola (LIBÂNEO, 2005).

A formação do gestor escolar é imprescindível e implicará diretamente no

processo de grandes mudanças, inovações e desafios na escola. A premissa da formação

desse líder reside em nível superior, bem como cursos de formação contínua. O sistema

de ensino se responsabiliza em promover cursos de capacitação para preparação de

gestor escolar, pois tem a tarefa de monitorar resultados (planejar, implementar o

projeto político pedagógico, promover integração escola-comunidade e também fazer

negociações, mobilizar os envolvidos na educação e ainda manter a comunicação e

diálogo abertos). Portanto o trabalho de gestão requer competências, liderança, presteza

e comprometimento.

A avaliação é função primordial do sistema de organização e de gestão. Ela

supõe acompanhamento e controle das ações decididas coletivamente, sendo este último

a observação e a comprovação dos objetivos e das tarefas, a fim de verificar o estado

real do trabalho desenvolvido. A avaliação permite pôr em evidência as dificuldades

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surgidas na prática diária, mediante a confrontação entre o planejamento e o

funcionamento real do trabalho. Visa ao melhoramento do trabalho escolar, pois,

conhecendo a tempo as dificuldades, podem-se analisar suas causas e encontrar meios

de sua superação.

O controle e a avaliação dependem de informações concretas e objetivas sobre o

andamento dos trabalhos, tendo como base o projeto pedagógico-curricular e ações

efetivas praticadas pelos vários elementos da equipe escolar. Para a coleta de

informações, o diretor pode subsidiar-se da observação dos resultados de projetos

executados na escola, do acompanhamento das atividades em salas de aula e no recreio,

de entrevistas pessoais com professores e com outros servidores, de reuniões

sistemáticas ou extraordinárias, de encontros informais com o pessoal docente, técnicos

e administrativos. Portanto o acompanhamento e o controle comprovam os resultados

do trabalho, evidenciam os erros, as dificuldades, os êxitos e os fracassos relativos ao

que foi planejado. A avaliação das atividades implica análise coletiva dos resultados

alcançados e a tomada de decisões sobre as medidas necessárias para solucionar as

deficiências encontradas (LIBÂNEO, 2005).

A repercussão deste instrumento de ação gestora incidirá na qualidade do ensino,

nos índices que demonstrarão o perfil geral da escola e, por outro lado, dará suporte aos

reparos e consertos de possíveis contratempos detectados durante o processo.

Toda instituição escolar além dos instrumentos de ação para pôr em prática o

desenvolvimento do trabalho, necessita também de uma estrutura de organização

interna, geralmente prevista no Regimento Escolar ou em legislação específica estadual

ou municipal. Libâneo (2001) fala que a estrutura organizacional de escolas se

diferencia conforme a legislação dos Estados e Municípios e, obviamente, conforme as

concepções de organização e gestão adotada, mas pode-se apresentar a estrutura básica

com todas as unidades e funções típicas de uma escola, como: conselho escolar, direção,

setor técnico-administrativo, setor pedagógico, instituições auxiliares e corpo docente.

Libâneo (2001) relata que o conselho de escola tem atribuições consultivas,

deliberativas e fiscais em questões definidas na legislação estadual ou municipal e no

regimento escolar. Essas questões, geralmente, envolvem aspectos pedagógicos,

administrativos e financeiros, sua função básica é democratizar as relações de poder. Na

direção, o diretor coordena, organiza e gerencia todas as atividades da escola, auxiliado

pelos demais componentes do corpo de especialistas e de técnico-administrativo,

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atendendo às leis, regulamentos e determinações dos órgãos superiores do sistema de

ensino e às decisões no âmbito da escola assumida pela equipe escolar e pela

comunidade. Já o setor técnico-administrativo responde pelas atividades do meio que

asseguram o atendimento dos objetivos e funções da escola. Este setor responde pelos

serviços da secretaria escolar, limpeza, vigilância e atendimento ao público.

O setor pedagógico compreende as atividades de coordenação pedagógica e

orientação educacional. As funções desses especialistas variam conforme a legislação

estadual e municipal, sendo que em muitos lugares suas atribuições ora são unificadas

em apenas uma pessoa, ora são desempenhadas por professores. No setor de instituições

auxiliares, muitas escolas possuem associação de pais e mestres (APM), o grêmio

estudantil dentre outros órgãos. Por último vem o corpo docente que é constituído pelo

conjunto dos professores em exercício na escola, que tem como função básica realizar o

objetivo prioritário da escola, o ensino e a aprendizagem.

GESTÃO DEMOCRÁTICA

Diante dos processos, estrutura e organização da gestão educacional já

enfatizado, torna-se importante reforçar que o assunto sobre gestão democrática

encontra-se respaldado na Constituição Federal/1988 em artigo 206, no inciso VI e VII:

“o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: gestão democrática do

ensino público e garantia de padrão de qualidade”, como também na LDB/96 em seu

artigo 3 º, inciso VIII, que reza sobre a gestão democrática do ensino público como um

dos princípios e fins da educação nacional . Bem como ainda em seu art. 14 e 15 já

mencionados.

Averigua-se, no entanto que, com a denominação de gestão o que se vivencia na

realidade é simplesmente uma nova óptica de organização e direção de instituições,

tendo em mente a sua transformação e de seus processos, mediante a transformação de

atuação, de pessoas e de instituições escolares, de modo que sejam efetivas na

promoção da educação e de seus alunos.

Desta forma, a gestão democrática é vista como um novo enfoque teórico-

metodológico, visto que também se encontra tanto na constituição federal e também na

LDB/96, como modelo a ser seguido nas escolas. No entanto, nada adianta os gestores

saberem o que existe na lei, se estes não tiverem consciência de aplicá-las de fato.

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Portanto o desenvolvimento e a organização da gestão bem como da escola em si

depende muito da equipe de gestores que estão dirigindo o ambiente escolar, pois cada

pessoa possui crenças e conseqüentemente um comportamento diferente que influi

diretamente na forma de se trabalhar.

A escola tem por finalidade desenvolver um espaço onde se vivencia a plenitude

da democracia que vem implicar a construção de uma política pública voltada para

participação efetiva de diretores, professores, alunos, pais e comunidade intencionando

a formulação e implementação da gestão democrática de maneira harmoniosa.

Esse tipo de gestão traz como benefícios a construção do currículo por parte da

própria escola o que provoca a permanente formação dos profissionais da educação e

também o fortalecimento da presença da escola na comunidade que a circunda

possibilitando-lhe intervenção voltada para a melhoria da realidade social, econômica e

cultural da região.

A gestão escolar tem como aliada um princípio constitucional de

democratização: autonomia da escola. Atrelado a esta autonomia, encontramos os

recursos administrado pela escola, a liderança do gestor e a participação da comunidade,

os quais são os pilares que proporcionam a eficácia da escola. A autonomia proporciona

o processo de gestão participativa. Por conseguinte ela está atrelada à capacidade de

tomar decisões compartilhadas além de estar comprometida com o todo, voltando-se ao

uso do talento e a competência organizada coletivamente e ao mesmo passo que é

articulada.

A autonomia possui dimensões financeiras, políticas, administrativas e

pedagógicas que para atingir a eficácia devem ser desenvolvidas concomitantemente de

forma interdependente e recíproca.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, para que ocorra o desenvolvimento do trabalho escolar é preciso que os

gestores tenham uma visão abrangente, ou seja, uma percepção geral nas relações entre

os vários componentes que participam das articulações educacionais, para que desta

forma consigam orientar-se através do novo paradigma de que norteiam o trabalho

escolar. Esse paradigma se encontra fundamentado no trabalho democrático e

participativo entre os membros das instituições. A partir dessas características

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intelectuais absorvidas pelos gestores, é que estes irão construir com a escola traços

culturais próprios sobre as funções gerais constitutivas do sistema, como: planejamento,

organização, direção e avaliação.

Para que de fato a escola organize suas ações é imprescindível que os gestores

trabalhem com a sensibilização dos professores, esclarecendo a estes as metas e os

objetivos a serem alcançados na instituição educacional. Assim, diante da

conscientização do trabalho em conjunto de toda a equipe escolar, é que resultará em

uma melhor comunicação da própria instituição com a comunidade. Contudo, é preciso

que a escola seja um exemplo de organização democrática para a sociedade, pois é desta

forma que alcançaremos o desenvolvimento do educando e seu preparo para o exercício

da cidadania e sua verdadeira qualificação para o trabalho.

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REFERÊNCIAS

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