A Geografia Escolar - reflexões sobre o processo didático-pedagógico do ensino.

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A Geografia Escolar: reflexões sobre o processo didático-pedagógico do ensino.

Historicamente o currículo idealizou o conhecimento como algo estático, transmissível,

passivo de simples reprodução e memorização, além de muitas vezes estar afastado do cotidiano e

de processos sociais dos indivíduos. Sua elaboração consistia na definição do programa escolar,

enfatizando os conceitos de cada área científica em detrimento dos processos que lhes originam e

lhes dão significados (COIMBRA, 2006).

Percebemos que a prática da geografia na escola está recheada de tradicionalismos e,

esses continuam a distorcer a realidade construída historicamente distanciando os homens de uma

apropriação do espaço. A trajetória da geografia escolar tem sido permeada por um discurso

ideológico que mascara a importância estratégica dos raciocínios centrados no espaço. Ela tem sido

marcada por um enciclopedismo e por uma enumeração mecânica de fatores de ordem natural e

social presentes num dado território. Isso faz da Geografia uma disciplina que por vezes desperta

pouco interesse no aluno, pois o que é visto em sala pouco tem relação com o cotidiano do aluno

fora da escola.

Essa situação é evidenciada ao encontrarmos professores que adotam em suas aulas

conteúdos que, quase invariavelmente, são analisados de forma isolada, seguindo a postura

tradicional de alguns livros didáticos, mostrando, assim, ser a Geografia uma disciplina simplória,

inútil, sem nenhuma aplicação prática fora da sala de aula. Esse fato desperta nos alunos uma noção

de inutilidade, gerando o desinteresse pelos estudos geográficos e, consequentemente, acaba por

distanciar os sujeitos do conhecimento de si, enquanto sujeitos sociais e construtores da história no

que concerne à cidadania.

Há alguns anos as propostas de construção do currículo escolar, em especial para o

ensino de Geografia, sofreram e ainda sofrem transformações em busca de melhorias no processo

educacional. Estas novas propostas objetivam recriar os métodos, buscando a construção do

conhecimento mutuamente entre professor e aluno.

O professor de Geografia deve elaborar um currículo escolar que não só destaque os

conteúdos dessa disciplina como a transforme em um conhecimento ao aluno aplicável em seu

cotidianos para, assim, este compreender a importância dessa ciência. Essa forma de ensino é

possível a partir do momento que o professor desempenha o papel de mediador entre o

conhecimento e o aluno, dando oportunidade do discente articular o conteúdo em suas próprias

reflexões. Caso o professor não entenda o aluno como um sujeito sociocultural, uma série de

problemas passa a ser gerada, como a contestação da finalidade da Geografia, enquanto disciplina

obrigatória do currículo escolar, o desinteresse dos discentes e, por conseguinte dos docentes.

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O espaço geográfico hoje, segundo Milton Santos (2002, 1986) é concebido como um

conjunto de sistemas de objetos, de sistemas de ações e de sistemas de informações, ultrapassa a

mera visão da materialidade como teatro de ação, mas é condição para a ação, e é a partir desse

entendimento que surge o homem livre que igualmente se afirmará no grupo. Desse modo, o ensino

da Geografia terá por finalidade formar sujeitos capazes de se situarem corretamente no mundo e de

influírem para que se aperfeiçoe a sociedade humana como um todo. A educação nçao pode ser

encarada como uma mercadoria, porque assim ela reproduz e amplia as desigualdades, sem eliminar

as mazelas da ignorância. “Essa educação setorial, profissional e consumista só (re) produz gente

deseducada para a vida” (SANTOS, 1997).

A Geografia não pode negar suas implicações políticas, econômicas e sociais, ao ser

abordada de forma tradicionalmente descritiva e acrítica no ambiente escolar. Essa realidade deve-

se, principalmente, à forma com que esta ciência é exposta e trabalhada pelos educadores. É comum

que seja trabalhada como uma aula enciclopédica, com enumerações e descrições sobre o planeta

Terra e a sociedade. Em muitos casos a abordagem destina-se às questões e problemas

descontextualizados. Decorar afluentes de rios, bem como capitais e produtos de exportação de

diversos países não responde às questões mais profundas que estão engendradas na Geografia.

Devemos refletir se nós educadores estamos realmente trabalhando com conhecimentos

que possam ser contextualizados a vivência dos alunos, para que o mesmo perceba que o objetivo

da Geografia Escolar é contribuir para o desenvolvimento de conhecimentos, atitudes e valores que

tornem o estudante solidário, crítico, ético e participativo a partir da compreensão das relações de

produção e transformação do espaço geográfico da qual os homens (alunos) fazem parte

ativamente. A escola deve ter como objetivo potencializar o saber do aluno.

É preciso compreender a sala de aula como um espaço de reflexões e reivindicações

permanente do direito civil e político, da autonomia e da justiça social, para tanto, se faz necessário

que assumamos o compromisso de tornar a geografia escolar um verdadeiro caminho para a

construção da cidadania, atribuindo a ela sua verdadeira identidade que não foge de uma dimensão

ideológica e política.