A FORMAÇÃO DE

UM CASAL

MINUCHIN, S. e NICHOLS, M. P. A cura da Família: histórias de esperança e

renovação contadas pela terapia familiar. Porto Alegre, Artes Médicas,

1995.

Conheci Pat quando ambos trabalhávamos no mesmo local, ela era psicóloga e eu residente em psiquiatria. Me senti atraído por Pat e a levei a um clube israelita, onde gastei um salário de uma mês em uma jantar. Isso convenceu a nós dois de que minha intenções eram sérias, e logo depois nos casamos. Concordamos que iríamos morar em Israel.

Ela me apresentou a seus pais e, posteriormente eu a apresentei aos meus pais que moravam na Argentina.

Minha família é enorme e meus pais não me vêem a uma ano. Eles exigem minha presença de modo que Pat acha excessivo. Eu me sinto dividido, mas naturalmente reconheço o isolamento de Pat. Meu relacionamento com meus pais muda, eu me sinto primariamente uma marido, enquanto eles estão tentando me manter um filho.

Pat fala sobre a minha família, e subitamente minha perspectiva muda. Começo a ver minha família pelos olhos dela.

Comecei a construir um novo passado, um passado que incluía o ponto de vista de Pat, mesmo que ela não fizesse parte dele. Eu acho que não conseguiria recuperar memórias de antes do meu casamento que não tenham sido editadas e reeditadas por 40 anos de casamento.

Fomos para Israel, começamos a experienciar a vida como um casal. Eu era diretor médico do Youth Aliyah e Pat, por algum tempo, foi dona de casa.

A memória romantiza e encobre os pontos desagradáveis. A vida era dura, um pouco primitiva e perigosa; nós éramos imigrantes e estávamos por fora das coisas. Tivemos que nos adaptar às condições difíceis.

Eu e pat negociamos regras sem perceber. Algumas diferenças podiam ser aceitas com facilidade, mas outras, geravam discussões inflamadas. A capacidade de resolver questões pequenas e visíveis depende da boa-vontade e flexibilidade, invisíveis, mas essenciais.

Após 6 meses em Israel , Pat encontrou um emprego na Lasker Clinic em Jerusalém.

Diariamente alimentávamos nossa interdependência. Meu trabalho era difícil; Pat ouvia minhas histórias e as minhas queixas. Ela me apoiava, mas também me ajudava a perceber as distorções. Aprendi a confiar na sua perspectiva ampliada, exatamente como confiara em sua revisão da minha visão com relação à minha família. Havia momentos em que eu gostaria de um apoio sem críticas, mas aprendi a apreciar sua ótica diferente.

Lentamente, começamos a construir um presente e também um passado que não pertencia unicamente a um de nós; ele era nosso. Na medida em que passava do eu para o nós, não perdi a mim mesmo, eu me expandi. Em nossos 40 anos juntos, expandimos nossos específicos estilos de ser, de pensar, de sentir, mas eles continuam sendo muito distintos e diferentes.

Eu sou diferente hoje porque ela me modificou. E ela é diferente por minha causa. Quando funciona bem nós nos completamos. Mas quando as coisas ficas realmente más, nossos eus competitivos mostram seus respectivos ancestrais. Eu me torno Salvador Minuchiun novamente, e ela é Patrícia Pittluck. A batida de nossos tambores individuais se torna mais alta.

Carrego comigo dois modelos do que significa ser um casal: o modelo de meus pais, que assimilei sem questionar enquanto criança, e o modelo no qual tenho trabalhado por quatro décadas. Pat e eu sentimos a tensão entre o casal e o self durante 40 anos. Lutamos, cooperamos e crescemos. Com o passar dos anos nossa complementaridade se tornou mais complexa.

Após 2 anos de casamento, Pat e eu aumentamos a complexidade de nossas vidas e do nosso casamento ao nos tornarmos pais. Tivemos 2 filhos: Daniel e Jean. Cada filho trouxe prazeres e dificuldades para a nossa família. Descobrimos logo que o nosso conhecimento profissional não nos ensinaram muito sobre nossos idiossincráticos filhos e como nos ajustarmos a eles.

A responsabilidade da paternidade trouxe desentendimentos, questões simples desencadeavam discussões acaloradas. Minhas experiências como pai alteraram radicalmente minhas idéias sobre a família e minha prática como terapeuta individual e familiar. Devo muito a minha família. Hoje, quando atendo famílias, Pat, Dan e Jean são partes de mim.