A família católica, 31 edição, dezembro 2015

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Uma hierarquia para duas igrejas Dominicanos de Avrillé Le Sel de la Terre n°59, inverno de 2006-2007 SANTOS E FESTAS DO MÊS: 03– São Francisco Xavier; 04– São Pedro Crisólogo; Santa Bárbara; 06– São Nicolau; 07– Santo Ambrósio; 08– Imaculada Conceição; 12– Nossa Senhora de Guadalu- pe; 21– São Tomé, apóstolo; 25– Natividade de Nosso Senhor; 26– Santo Estevão, Protomártir; 27– São João, Evangelista; 28– Santos Inocentes; 29– São Tomás de Cantuária; 31– São Silvestre. NESTA EDIÇÃO: Uma hierarquia para duas Igrejas 1 a 4 Comunicado 5 Colóquios com Dom Marcel Lefebvre 6 Congregação Mariana 9 Dezembro/2015 Edição 31 A Família Católica C A P E L A N O S S A S E N H O R A D A S A L E G R I A S Introdução Duas igrejas para uma mesma hierarquia. Du- as igrejas distintas em seus princípios e finalida- des, mas não completamente separadas na prática. Segue um excelente artigo dos Domini- canos de Avrillé, com esclarecimentos sobre mais este aspecto da desastrosa crise que en- frenta a Igreja. Uma situação completamente nova e delicada que se formou após o Concílio Vaticano II, um terreno frágil onde excessos po- dem levar ao sedevacantismo ou uma aproxima- ção perigosa para com Roma modernista. Nos próximos números colocaremos outros textos essenciais dos mesmos dominicanos, para dar formação a nossos leitores sobre este tema deli- cado e de importantíssima atualidade. *** Em uma carta datada de 25 de junho de 1976 enviada a Monsenhor Lefebvre por parte do Pa- pa, Monsenhor Giovanni Benelli emprega pela primeira vez uma expressão que se tornou famo- sa: “A Igreja Conciliar.” “Se eles (os seminaris- tas) são de boa vontade e seriamente prepara- dos para um ministério presbiterial na verdadei- ra fidelidade à Igreja Conciliar, encarregar-nos- emos de encontrar a melhor solução para eles.” Desta Igreja conciliar temos falado frequente- mente em “Le Sel de la Terre”, mas não nos é inútil voltar a esta questão já que é tão importan- te. A questão que particularmente queremos abordar aqui é a seguinte: A Igreja católica e a Igreja conciliar têm uma mesma hierarquia? ESTADO DA QUESTÃO Por princípio, de onde partimos? Procuraremos definir as duas Igrejas em questão. Fá-lo-emos segundo as quatro causas que geralmente dis- tinguem a filosofia escolástica. Uma sociedade é um ser moral (no caso da Igreja Católica, não há somente união moral. Também há união espiritual devido à participa- ção de bens sobrenaturais - a fé, por exemplo: é uma união de pessoas que estão unidas pelo mesmo fim - um mesmo bem comum). Pode-se distinguir: - A causa material, são as pessoas que estão unidas na sociedade. Diremos que no caso da Igreja Católica como no da Igreja conciliar, são os batizados (com um batismo válido). - A causa eficiente é o fundador da sociedade: Nosso Senhor Jesus Cristo no caso da Igreja Católica, os papas do concílio, no caso da Igreja conciliar. Depois da ascensão de seu fundador, é a autoridade quem continua fazendo o papel de causa eficiente e mantém unida à sociedade. Atualmente, é essa mesma hierarquia que cum- pre o papel de causa eficiente para a Igreja Cató- lica e para a Igreja conciliar. - A causa final é o bem comum buscado pelos membros da sociedade: no caso da Igreja Católi- ca, o bem que se busca é a salvação; no caso da Igreja conciliar o bem que se busca é – mais ou menos conscientemente – a unidade do gênero humano (o ecumenismo em sentido amplo) “O que define melhor toda a crise da Igreja é verda- deiramente este espírito ecumênico- liberal” (Monsenhor Lefebvre, conferência de 4 de abril de 1978). - A causa formal é a união dos espíritos e vonta- des dos membros na busca do bem comum. Na Igreja Católica, há união de espíritos em uma mesma profissão de fé e uma união de vontades na prática de um mesmo culto e na obediência aos mesmos pastores (portanto às leis que eles estabelecem, a saber, o Direito Canônico). Na Igreja conciliar, encontra-se também uma união de espíritos na aceitação de um mesmo ensina- mento (o Concílio) e união de vontades na práti- ca da nova liturgia e na obediência às novas diretrizes da hierarquia pós-conciliar (como o novo código de direito canônico). (Esta união de espíritos e de vontades é muito menos estrita na Igreja conciliar que na Igreja Católica. Basta “aceitar o concílio” e em seguida cada qual pode fazer o que quiser).

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Uma hierarquia para duas igrejas

Dominicanos de Avrillé

Le Sel de la Terre n°59, inverno de 2006-2007

SANTOS E

FESTAS DO MÊS:

03– São Francisco Xavier;

04– São Pedro Crisólogo;

Santa Bárbara;

06– São Nicolau;

07– Santo Ambrósio;

08– Imaculada Conceição;

12– Nossa Senhora de Guadalu-

pe;

21– São Tomé, apóstolo;

25– Natividade de Nosso Senhor;

26– Santo Estevão, Protomártir;

27– São João, Evangelista;

28– Santos Inocentes;

29– São Tomás de Cantuária;

31– São Silvestre.

N E S T A

E D I Ç Ã O :

Uma hierarquia para duas

Igrejas 1 a 4

Comunicado 5

Colóquios com Dom Marcel

Lefebvre 6

Congregação Mariana 9

Dezembro/2015 Edição 31

A Família Católica C A P E L A N O S S A S E N H O R A D A S A L E G R I A S

Introdução

Duas igrejas para uma mesma hierarquia. Du-

as igrejas distintas em seus princípios e finalida-

des, mas não completamente separadas na

prática. Segue um excelente artigo dos Domini-

canos de Avrillé, com esclarecimentos sobre

mais este aspecto da desastrosa crise que en-

frenta a Igreja. Uma situação completamente

nova e delicada que se formou após o Concílio

Vaticano II, um terreno frágil onde excessos po-

dem levar ao sedevacantismo ou uma aproxima-

ção perigosa para com Roma modernista. Nos

próximos números colocaremos outros textos

essenciais dos mesmos dominicanos, para dar

formação a nossos leitores sobre este tema deli-

cado e de importantíssima atualidade.

***

Em uma carta datada de 25 de junho de 1976

enviada a Monsenhor Lefebvre por parte do Pa-

pa, Monsenhor Giovanni Benelli emprega pela

primeira vez uma expressão que se tornou famo-

sa: “A Igreja Conciliar.” “Se eles (os seminaris-

tas) são de boa vontade e seriamente prepara-

dos para um ministério presbiterial na verdadei-

ra fidelidade à Igreja Conciliar, encarregar-nos-

emos de encontrar a melhor solução para eles.”

Desta Igreja conciliar temos falado frequente-

mente em “Le Sel de la Terre”, mas não nos é

inútil voltar a esta questão já que é tão importan-

te. A questão que particularmente queremos

abordar aqui é a seguinte: A Igreja católica e a

Igreja conciliar têm uma mesma hierarquia?

ESTADO DA QUESTÃO

Por princípio, de onde partimos? Procuraremos

definir as duas Igrejas em questão. Fá-lo-emos

segundo as quatro causas que geralmente dis-

tinguem a filosofia escolástica.

Uma sociedade é um ser moral (no caso da

Igreja Católica, não há somente união moral.

Também há união espiritual devido à participa-

ção de bens sobrenaturais - a fé, por exemplo: é

uma união de pessoas que estão unidas pelo

mesmo fim - um mesmo bem comum). Pode-se

distinguir:

- A causa material, são as pessoas que estão

unidas na sociedade. Diremos que no caso da

Igreja Católica como no da Igreja conciliar, são

os batizados (com um batismo válido).

- A causa eficiente é o fundador da sociedade:

Nosso Senhor Jesus Cristo no caso da Igreja

Católica, os papas do concílio, no caso da Igreja

conciliar. Depois da ascensão de seu fundador, é

a autoridade quem continua fazendo o papel de

causa eficiente e mantém unida à sociedade.

Atualmente, é essa mesma hierarquia que cum-

pre o papel de causa eficiente para a Igreja Cató-

lica e para a Igreja conciliar.

- A causa final é o bem comum buscado pelos

membros da sociedade: no caso da Igreja Católi-

ca, o bem que se busca é a salvação; no caso da

Igreja conciliar o bem que se busca é – mais ou

menos conscientemente – a unidade do gênero

humano (o ecumenismo em sentido amplo) “O

que define melhor toda a crise da Igreja é verda-

deiramente este espírito ecumênico-

liberal” (Monsenhor Lefebvre, conferência de 4

de abril de 1978).

- A causa formal é a união dos espíritos e vonta-

des dos membros na busca do bem comum. Na

Igreja Católica, há união de espíritos em uma

mesma profissão de fé e uma união de vontades

na prática de um mesmo culto e na obediência

aos mesmos pastores (portanto às leis que eles

estabelecem, a saber, o Direito Canônico). Na

Igreja conciliar, encontra-se também uma união

de espíritos na aceitação de um mesmo ensina-

mento (o Concílio) e união de vontades na práti-

ca da nova liturgia e na obediência às novas

diretrizes da hierarquia pós-conciliar (como o

novo código de direito canônico). (Esta união de

espíritos e de vontades é muito menos estrita na

Igreja conciliar que na Igreja Católica. Basta

“aceitar o concílio” e em seguida cada qual pode

fazer o que quiser).

Page 2: A família católica, 31 edição, dezembro 2015

Podemos definir a Igreja católica como a

sociedade de batizados que buscam salvar

suas almas professando a fé católica, pra-

ticando o mesmo culto católico e obede-

cendo aos mesmos pastores, sucessores

dos Apóstolos.

Quanto à Igreja Conciliar, ela é a socieda-

de de batizados que se submetem às dire-

tivas do papa e dos bispos atuais em sua

vontade de promover o ecumenismo conci-

liar e que, por consequência, admitem

todo o ensinamento do Concílio, pratican-

do a nova liturgia e submetendo-se ao

novo direito canônico.

Nestas condições, é possível que uma

mesma hierarquia possa dirigir as duas

sociedades?

OBJEÇÕES

- Primeira objeção: Não é possível que uma

mesma hierarquia dirija duas Igrejas. Pode

se imaginar que um mesmo patriarca pos-

sa dirigir os coptas católicos e os coptas

ortodoxos? Portanto é impensável imagi-

nar uma hierarquia comum à Igreja Católi-

ca e à Igreja Conciliar.

- Segunda objeção: De fato, não há uma

hierarquia, senão duas. De um lado estão

os bispos conciliares que dirigem a Igreja

conciliar e do outro os bispos da Tradição

que dirigem a Tradição, ou seja, a Igreja

Católica.

- Terceira objeção: Quem não vê que a

hierarquia da Igreja Conciliar é uma pseu-

do-hierarquia? O papa não é papa porque

não é católico; quanto aos bispos, não são

bispos porque o rito das consagrações

episcopais não é válido.

[Nós adicionamos uma quarta objeção,

lida na internet. Diz essa objeção: “a reli-

gião do Concílio Vaticano II é uma religião

especificamente distinta e inclusive oposta

à católica. É impossível que a religião con-

ciliar esteja dentro da Igreja Católica”.

Respondemos: a ideia é esta: “a religião

conciliar é uma heresia e é impossível que

haja hereges dentro da Igreja Católica”.

Mas a verdade é que se pode professar a

religião conciliar sem culpa, incorrendo em

heresia apenas material, e dado que os

batizados que incorrem em heresia unica-

mente material não deixam de pertencer à

Igreja, pode-se professar a religião concili-

ar sem deixar de ser católico ou de estar

na Igreja Católica.- Nota do blog Non Pos-

sumus]

ARGUMENTO DE AUTORIDADE

Nós não somos os primeiros a afirmar

que as duas Igrejas têm a mesma hierar-

P á g i n a 2 A F a m í l i a C a t ó l i c a

quia. Esta afirmação se encontra com a

maioria dos que abordaram a questão

antes de nós:

“Que exista no presente duas Igrejas,

com um só e mesmo papa Paulo VI à cabe-

ça de uma e outra, nós não o dissemos por

nada, não o inventamos, nós constatamos

que é assim.” Gustavo Corção na revista

Itineraires de novembro de 1974, em se-

guida o padre Bruckberger no “L’Aurore”

de 18 de março de 1976 tem-no sublinha-

do publicamente: a crise religiosa não é

como no século XVI de ter para uma só

Igreja dois ou três papas simultaneamen-

te; agora é de ter um só papa para duas

Igrejas, a Católica e a pós-conciliar […]

O mundo moderno nos apresenta um

espetáculo oposto ao do grande cisma do

ocidente: duas Igrejas com um só Papa.

O texto mais interessante é do padre

Julio Meinvielle. Data de 1970: é o primei-

ro texto que conhecemos sobre este as-

sunto. O sacerdote argentino escreveu – e

é a conclusão de seu magistral livro “De la

Cábala ao progresismo”:

“Um mesmo Papa presidiria ambas Igre-

jas, que aparente e exteriormente não

seriam senão uma. O Papa, com suas ati-

tudes ambíguas daria pé para manter o

equívoco. Porque, por um lado, professan-

do uma doutrina inatacável, seria a cabeça

da Igreja das Promessas. Por outro lado,

produzindo atos equívocos e até reprová-

veis, apareceria encorajando a subversão

e mantendo a Igreja gnóstica da Publicida-

de.

A eclesiologia não tem estudado suficien-

temente a possibilidade de uma hipótese

como a que aqui propomos. Mas se pen-

sarmos bem, a Promessa de assistência

da Igreja se reduz a uma assistência que

impeça o erro de introduzir-se na Cátedra

Romana e na mesma Igreja, e ademais

que a Igreja não desapareça nem seja

destruída pelos seus inimigos”.

REFLEXÃO TEOLÓGICA.

Nosso Senhor prometeu que as portas

do inferno – os poderes infernais – jamais

prevalecerão contra sua Igreja. Portanto

ela é indefectível: ela deve continuar até o

fim dos tempos para fornecer às almas de

boa vontade os meios de salvação, a sa-

ber: a sã doutrina, sacramentos válidos, o

santo Sacrifício da Missa, uma autêntica

vida espiritual. Tudo isto supõe que a hie-

rarquia católica durará até o fim do mundo

e poderá – ao menos para os que verda-

deiramente o desejam, cumprir com seu

fim que é conduzir as almas ao Céu.

Além disso, Nosso Senhor também anun-

ciou que sua segunda vinda seria precedi-

da de uma “tribulação tal que não houve

desde o princípio do mundo até agora, e

não haverá outra.” (Mt. XXIV, 21). Esta

tribulação será acompanhada de uma

decaída da fé ao ponto que Nosso Senhor

se pergunta se encontrará ainda fé sobre a

terra no momento de sua segunda vinda

(Lc. XVII, 8). Esta apostasia está profetiza-

da por São Paulo (II Tes. III, 4) e São To-

más de Aquino explica comentando este

versículo, que os povos cristãos se emanci-

parão da fé da Igreja Romana. Isto parece

indicar bem que uma boa parte da hierar-

quia será infiel à sua missão.

No tempo que precede à vinda de Nosso

Senhor, o sol e a lua não iluminarão mais

(Mt. XVIII, 8), o que, em sentido simbólico,

significa que a Igreja e a sociedade cristã

perderão a sua influência.

RESPOSTAS ÀS OBJEÇÕES.

Podemos agora responder às objeções

contra a possibilidade de uma única hie-

rarquia para as duas “Igrejas”.

- O erro da primeira objeção é o de imagi-

nar a Igreja conciliar como uma sociedade

que impõe formalmente o cisma ou a here-

sia, tal como uma igreja ortodoxa ou uma

comunhão protestante. Se eu me adiro à

igreja anglicana, por exemplo, sou formal-

mente cismático, ou seja, herege, e já não

faço parte da Igreja Católica.

Mas eu posso ser conciliar – ou seja,

para simplificar, ecumenista – conservan-

do a fé católica. Sem dúvida que ponho

minha fé, e a de outros, em perigo. Mas

não abjuro dela em seguida.

É por isso que os membros da hierar-

quia, desde o momento em que não levam

seus erros ao ponto de renegar a fé católi-

ca, continuam sendo membros da hierar-

quia católica, inclusive quando são concili-

ares.

O que concedemos ao objetante é que os

bispos da Tradição não formam parte da

Igreja conciliar.

- Contrariamente ao que declara a segun-

da objeção, os bispos conciliares e os bis-

pos da Tradição não constituem duas hie-

rarquias. Monsenhor Lefebvre, ao consa-

grar os bispos em 30 de junho de 1988,

protestou contra a ideia de estabelecer

outra hierarquia. Não há mais do que uma

hierarquia, tendo em sua cabeça o papa e

sob ele todos os bispos católicos (inclusive

os da Tradição).

Quando um sacerdote da Tradição cele-

Page 3: A família católica, 31 edição, dezembro 2015

bra a santa Missa, nomeia no cânon os

membros da hierarquia: o papa e o bispo

do local.

O que dá uma aparência de verdade à

objeção, é que o papa e os bispos atuais,

muito frequentemente, atuam como repre-

sentantes da Igreja conciliar: nesta quali-

dade – quando promovem os novos sacra-

mentos, o novo catecismo, etc. – os bons

católicos, com razão, não os obedecem.

- Quanto à terceira objeção, esta repousa

em afirmações gratuitas, como temos ex-

plicado muitas vezes nesta revista. Nin-

guém jamais apontou a prova decisiva de

que o papa não seja papa, nem que os

bispos atuais sejam consagrados com um

rito inválido. Temos de tê-los – pela falta

de prova em contrário – por representan-

tes da hierarquia, resistindo-lhes quando

utilizam sua posição para impor os erros

conciliares.

ANEXO SOBRE A IGREJA CONCILIAR

Monsenhor Lefebvre:

Um tempo após haver recebido a carta

de Monsenhor Benelli, em 29 de julho,

Monsenhor Lefebvre comentou também

esta expressão “igreja conciliar”:

"Nada mais claro! De agora em diante, é

à igreja conciliar que se deve obedecer e

ser fiel, já não à Igreja católica. Esse é

precisamente todo o nosso problema. Nós

estamos suspensos a divinis pela Igreja

conciliar, e para a Igreja conciliar, da qual

nós não queremos fazer parte.

Esta igreja conciliar é uma igreja cismáti-

ca, porque ela rompe com a Igreja católica

de sempre. Tem seus novos dogmas, seu

novo sacerdócio, suas novas instituições,

seu novo culto já condenado pela Igreja

em repetidos documentos oficiais e defini-

tivos.

É por isso que os fundadores da igreja

conciliar insistem tanto sobre a obediência

hoje em dia, fazendo abstração da Igreja

de ontem, como se ela já não existisse.

(…)A igreja que afirma semelhantes er-

ros, é por sua vez cismática e herética.

Esta igreja conciliar não é, portanto, católi-

ca. Na medida em que o papa, os bispos,

sacerdotes ou fiéis aderem a esta nova

igreja, eles se separam da igreja católica. A

igreja de hoje não é a verdadeira Igreja

mais que na medida que ela continue em

unidade com a Igreja de ontem e de sem-

pre. A norma de fé católica é a Tradição”.

Outras citações de Monsenhor Lefebvre:

"Deste concílio nasceu uma nova igreja

reformada que o mesmo Monsenhor Be-

nelli chama a igreja conciliar.

É muito fácil pensar que qualquer um que

se oponha ao concílio, seu novo evange-

lho, será considerado como fora da comu-

nhão da Igreja. Podemos lhes perguntar:

de qual Igreja? Eles respondem: da igreja

conciliar. (Acuso o Concílio, pg. 7)

Este concílio representa, tanto aos olhos

das autoridades romanas como aos nos-

sos, uma nova igreja que eles chamam “a

igreja conciliar”. (…)

Todos os que cooperam na aplicação

desta alteração, aceitam e aderem a esta

nova igreja conciliar, como a designou

Monsenhor Benelli na carta que me enviou

da parte do Santo Padre, em 25 de junho

passado (1976), entram no cisma” (Um

Bispo Fala, pgs. 97 e 98).

"A nova missa, como a nova igreja conci-

liar, está em ruptura profunda com a Tradi-

ção e o magistério da Igreja. É uma con-

cepção mais protestante que católica que

explica tudo o que está indevidamente

exaltado e tudo o que tem sido reduzido

(...) A reforma litúrgica de estilo protestan-

te é um dos maiores erros da igreja concili-

ar e um dos mais nocivos à fé e à gra-

ça.” (Carta Aberta ao Papa, suplemento nº

37 de Fideliter, janeiro-fevereiro de 1984,

pg. 10).

"Os católicos que se assustam com a

nova linguagem utilizada pela igreja conci-

liar, têm a vantagem de saber que isto não

é novo, que Lamennais, Fuchs, Loisy o

iniciaram desde um século atrás, e que

eles mesmos não fizeram mais que reunir

todos os erros que correram no curso dos

séculos” (Carta Aberta aos Católicos Per-

plexos, cap. 16).

"O cardeal Ratzinger se esforça uma vez

mais em dogmatizar o Vaticano II. Nos

deparamos com pessoas que não têm

nenhuma noção da Verdade. Estaremos

cada vez mais forçados a atuar conside-

rando esta nova igreja como já não católi-

ca” (Carta de Monsenhor Lefebvre a Jean

Madiran, em 29 de janeiro de 1986).

"Louis Veuillot disse: “Dois poderes vi-

vem e estão em guerra no mundo: A Reve-

lação e a Revolução”. Escolhemos conser-

var a Revelação enquanto que a igreja

conciliar escolheu a Revolução. A razão de

nossos vinte anos de combate está nesta

escolha” (Conferência em Ecône em se-

tembro de 1986, Fideliter 55, pg. 18).

"Como é este espírito de diálogo liberal

que é inculcado desde o início aos sacer-

dotes e missionários, compreendemos por

que a igreja conciliar tem perdido comple-

tamente seu zelo missionário, o espírito

mesmo da Igreja” (O Destronaram, pg.

104).

(…) "Esperando que vós possais realizar

meu desejo de uma revista que destrua os

erros do concílio e da igreja conciliar pro-

fessados cada vez mais abertamente pelo

papa e a cúria romana, trazendo à luz a

doutrina católica. Agora enfrentamo-nos

com os assassinos da fé católica, sem

nenhuma vergonha” (Carta de Monsenhor

Lefebvre ao padre prior de Avrillé, 7 de

janeiro de 1991).

Terminemos com um extrato do sermão

de Monsenhor Lefebvre em 30 de junho

de 1988, durante a consagração dos qua-

tro bispos:

"Penso que vossos aplausos de uns mo-

mentos atrás eram uma manifestação

espiritual que traduz vossa alegria por ter

enfim bispos e sacerdotes católicos que

salvem vossas almas, que deem a vossas

almas a vida de Nosso Senhor Jesus Cris-

to, através da doutrina, dos sacramentos,

da fé e do Santo Sacrifício da Missa. A vida

de Nosso Senhor, da qual tendes necessi-

dade para ir ao Céu, está desaparecendo

em todas as partes nesta igreja conciliar.

Segue uns caminhos que não são os cami-

nhos católicos. Simplesmente conduzem à

apostasia. (...)

Se estou no erro, se ensino erros, está

claro que se me deve trazer de novo à

verdade, de acordo com os que me enviam

este protocolo para ser assinado reconhe-

cendo meus erros. Como se me disses-

sem: se reconhece seus erros, lhe ajudare-

mos para que volte à verdade. Que verda-

de é esta, segundo eles, senão a verdade

do Vaticano II, a verdade desta igreja con-

ciliar? Portanto é certo que para o Vaticano

a única verdade que existe hoje é a verda-

de conciliar, o espírito do Concílio, o espíri-

to de Assis. Essa é a verdade de hoje. E

isso não o queremos por nada do mundo.”

Outras citações:

Não foi Monsenhor Lefebvre o único em

utilizar esta expressão. O Padre Calmel,

em 1971, falava da falsa igreja pós-

conciliar.

"A falsa igreja que vemos entre nós des-

de o curioso concílio Vaticano II, afasta-se

sensivelmente, ano a ano, da Igreja funda-

da por Jesus Cristo. A falsa igreja pós-

conciliar se distancia cada vez mais da

Santa Igreja que salva as almas há vinte

séculos. A pseudo-igreja em construção se

divide cada vez mais da Igreja verdadeira,

a única Igreja de Cristo, pelas inovações

mais estranhas, tanto na constituição hie-

rárquica como no ensino da moral”.

Sob expressões análogas, encontramos

a mesma noção em Gustavo Corção, em

1974 e 1978:

Page 4: A família católica, 31 edição, dezembro 2015

"Esta desordem que reina no cristianismo, amplifica-se dia a

dia, e nos deixa em uma situação única na história depois da

santa natividade de Nosso Senhor: nós já não sabemos onde

está nossa Igreja! Pelos sinais visíveis, temos uma ideia de pesa-

delo: o mundo moderno nos apresenta um espetáculo oposto ao

do grande Cisma do Ocidente: duas Igrejas com um só papa.

Minha convicção firme e tenaz, tantas vezes sustentada aqui e

em todas as partes, é que entre a Religião Católica professada

em todo o mundo católico até poucos anos atrás e esta religião

imposta abertamente ao século como "nova", "progressista",

"evoluída", existe uma diferença de espécie ou diferença por

alteridade. Temos atualmente duas Igrejas, governadas e servi-

das pela mesma hierarquia: a Igreja Católica de sempre, e a Ou-

tra. (…)

E note bem, leitor: quando dou a essa “outra” o nome de Igreja

pós-conciliar não é de modo algum para insinuar aos espíritos a

infeliz ideia de que, após o Concílio, a Igreja de Cristo se transfor-

mou a ponto de tornar-se irreconhecível, nem que os fiéis de boa

doutrina católica devam submeter-se por pura obediência a esta

nova forma visível da Igreja, na qual a maioria das pregações e

dos novos ensinamentos são radicalmente estranhos e algumas

vezes opostos à doutrina católica. Não! A Igreja Católica e Apostó-

lica existindo no mundo após o concílio, submetida a duras pro-

vações, mas sempre fiel na conservação do depósito sagrado.

Se o leitor me pede algumas essenciais diferenças que sepa-

ram as duas religiões, eu respondo: diferença de espírito, diferen-

ça de doutrina, diferença de culto e diferença moral. Como terei

chegado a tão assustadora convicção? Pois bem, como todos os

católicos que compartilham comigo tal convicção: por anos de

sofrimentos e reflexão. Começamos por confrontar os novos tex-

tos, as novas alocuções, as novas publicações pastorais com a

doutrina ensinada até... anteontem. A começar pelos textos saí-

dos dos mais altos escalões, cujo exame doloroso nos força a

concluir que estão inspirados por outro espírito e se firmam em

outra doutrina.”

Em 1976, no Supplement-Voltigeur da revista Itineraires, Jean

Madiran escreveu:

"FORA DE QUAL IGREJA?

Em seu discurso ao consistório de 24 de maio (1976), onde

Monsenhor Lefebvre é mencionado muitas vezes, Paulo VI (...) o

acusa de se colocar fora da Igreja”.

Porém fora de qual Igreja? Há duas. E Paulo VI não renunciou a

ser papa destas duas igrejas simultaneamente. Nestas condi-

ções, “fora da Igreja” resulta em equívoco e não resolve nada.

Que haja na atualidade duas Igrejas com um só e mesmo Paulo

VI à frente de uma e da outra, não o inventamos, constatamos

que é assim.

Alguns episcopados que se declaram em comunhão com o

papa, e que o papa não nega sua comunhão, têm saído objetiva-

mente da comunhão católica (...) Sim, mas prevaricadores, deser-

tores, impostores, Paulo VI segue sendo sua cabeça sem desa-

prová-los e nem corrigi-los, conserva-os em sua comunhão, ele

preside esta igreja também (...).

Se o concílio tem sido interpretado constantemente como o foi,

é com o consentimento ativo ou passivo dos bispos em comu-

nhão com o papa. Assim se constituiu uma igreja conciliar, dife-

rente da Igreja Católica. (…)

Há duas Igrejas sob Paulo VI. Não ver que são duas, ou não ver

que são completamente diferentes uma da outra, ou não ver que

Paulo VI até agora preside uma e outra, é a cegueira, e em certos

casos pode ser uma cegueira invencível. Mas tendo-o visto e não

tendo-o dito seria a cumplicidade de seu silêncio e uma anomalia

monstruosa.

Gustavo Corção na revista Itinerários de novembro de 1974,

logo em seguida o Padre Bruckberger em L’Aurore de 18 de mar-

ço de 1976, expressaram-no publicamente: A crise religiosa já

não é como no século XVI, quando se teve uma só Igreja e dois

ou três papas simultaneamente: Hoje é ter um só papa para du-

as Igrejas, a católica e a pós-conciliar " (...)

O Padre Meinvielle, em 1970, falava da Igreja da publicidade

para designar o que chamamos a igreja conciliar: mas ele descre-

ve muito bem a situação atual, de uma mesma hierarquia gover-

nando duas Igrejas:

"Não é necessária muita perspicácia para ver que desde há

cinco séculos o mundo se está conformando à tradição cabalísti-

ca – O mundo do Anticristo de adianta velozmente. Tudo ocorre

para a unificação totalitária do filho da perdição. Daí também o

êxito do progressismo. O cristianismo se seculariza ou vai se

tornando ateu.

Como se hão de cumprir, nesta era cabalística, as promessas

de assistência do Divino Espírito à Igreja e como se verificará o

portae in feri non prevalebunt, as portas do inferno não prevale-

cerão, não cabe na mente humana. Mas assim como a Igreja

começou sendo uma semente pequeniníssima1, e se fez árvore e

árvore frondosa, assim pode reduzir-se em sua abundância e ter

uma realidade muito mais modesta. Sabemos que o mysterium

iniquitatis já está trabalhando2; mas não sabemos os limites de

seu poder. Por outro lado, não há dificuldade em admitir que a

Igreja da publicidade possa ser enganada pelo inimigo e conver-

ter-se de Igreja Católica em Igreja gnóstica. Pode haver duas

Igrejas, uma, a da publicidade, Igreja magnificada na propagan-

da, com bispos, sacerdotes e teólogos publicitários, e ainda com

um Pontífice de atitudes ambíguas; e outra, Igreja do silêncio,

com um Papa fiel a Jesus Cristo em seu ensinamento e com al-

guns sacerdotes, bispos e fiéis que lhe sejam dependentes, es-

palhados como "pusillus grex" por toda a terra. Esta segunda

seria a Igreja das promessas, e não aquela primeira, que poderia

deserdar. Um mesmo Papa presidiria ambas Igrejas, que aparen-

te e exteriormente não seria senão uma. O Papa, com suas atitu-

des ambíguas, daria subsídios para manter o equívoco. Porque,

por um lado, professando uma doutrina intocável seria cabeça

da Igreja das promessas. Por outro lado, produzindo atos equívo-

cos e quiçá reprováveis, apareceria como alentando a subversão

e mantendo a Igreja gnóstica da Publicidade.

A eclesiologia não estudou suficientemente a possibilidade de

uma hipótese como a que aqui propusemos. Mas se se pensa

bem, a Promessa de Assistência da Igreja se reduz a uma Assis-

tência que impeça que o erro se introduza na Cátedra Romana e

na mesma Igreja, e além disso que a Igreja não desapareça nem

seja destruída por seus inimigos."

(1) Mq 13, 32.

(2) 2 Ts 2, 7.

Fonte: http://nonpossumus-vcr.blogspot.com.br/

Tradução: Capela Nossa Senhora das Alegrias

Page 5: A família católica, 31 edição, dezembro 2015

Sobre a polêmica com os comentários Eleison de Dom Williamson

Pronunciamento oficial da Capela Nossa Senhora das Alegrias

Vitória, 31 de dezembro de 2015

Aos nossos respeitáveis fiéis, que graças a Deus, tem bom senso e raciocinam:

1° - No undécimo dia deste mês fizemos um primeiro comunicado a respeito da polêmica gerada pelos comentários Eleison escritos

por S.E.R Dom Williamson. Nestes comentários, dom Williamson trata a respeito do suposto milagre ocorrido em Buenos Aires, envol-

vendo uma Hóstia consagrada no rito bastardo e protestantizado do Vaticano II. Neste comunicado dizíamos que não opugnávamos

àqueles que tinham dúvidas ou questionamentos aos mesmos comentários, mas que nos opugnávamos a maneira com que estava

sendo feita por alguns.

2° - Mantemos a mesma posição.

3° - Embora seja uma questão de opinião sobre se houve ou não milagre com a hóstia supracitada, os fiéis que tiverem alguma dúvi-

da, saibam que a posição de Dom Faure é a dita por ele mesmo no sermão disponibilizado no site “Non Possumus” em que defende

D. Williamson daqueles que o julgam.

4° - Saibam que a posição de nosso diretor espiritual, Dom Tomás de Aquino, permanece a mesma: Ele leu tranquilamente os co-

mentários Eleison e não encontrou nada contra a fé.

5° - Que conheçam também a posição do diretor de nossa Congregação Mariana e do Apostolado da Oração, o Revmo. Padre Joa-

quim de Sant’Ana e de seu superior, o Padre Jahir Brito, que é a mesma de D. Tomás.

Ele nos escreveu especialmente, dizendo: “Se esforcem pela santificação que, sobretudo nos dias de hoje, deve ser precedida e

acompanhada por uma sólida formação, a qual não deve ser confundida com o prurido de conhecer, opinar e discutir, que tantas

vezes conduz a iniciativas quixotescas. ”

6° - Que conheçam também a do especialista em tomismo no Brasil, o sr. Prof. Carlos Nougué, que escreveu vários artigos em seu

blog “Estudos Tomistas”, que disponibilizaremos abaixo, explicando a posição de D. Williamson segundo Santo Tomás. (Que segundo

D. Tomás agradou aos Dominicanos).

7° - Mantenhamos sempre nossas discussões no campo doutrinal, como fazem os amantes da verdade. Pedimos aos nossos fiéis

que não se envolvam em discussões privadas com pessoas que tratam de maneira irreverente os nossos bispos e sacerdotes. Por

favor, caros fiéis, mantenhamo-nos no bom espírito que graças a Nossa Senhora tem nos acompanhado nestes últimos anos de com-

bate contrarrevolucionário.

8° - Quando forem discutir, mesmo doutrina e moral, discutam com firmeza e intransigência, mas sempre com mansidão e caridade,

pelo bem da verdade, com pureza de intenção, pois nossa força é ter razão, e a glória de Deus nosso ideal. Não precisamos absoluta-

mente de nos alterarmos, senão por causas raríssimas, que pensamos não serem as atuais. Seguindo o conselho de Nosso Senhor:

“Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração. ” E do conselho apostólico: “Há entre vós algum que se tem por sábio e bem

formado para instruir os outros? Mostre pelo bom porte de seu proceder e de uma sabedoria cheia de doçura. ” São Tiago 3, 13.

8° - Pedimos aos nossos fiéis que estudem bem D. Lefebvre, D. Antônio de Castro Mayer, o magistério papal dos séculos XVIII, XIX e

do início do XX, que denunciaram a seita maçônica e sua pérfida ação no mundo. Estudem os bons autores antiliberais: Dom Barbier,

Monsenhor Gaume, Padre Salvany, Monsenhor Delassus, Cardeal Pie e outros mais. Leiam bem as publicações dos dominicanos que

“Non Possumus” sempre traduz para o espanhol, ou além disso, acompanhem o “Le Sel de la Terra”. Por falar nisto, D. Tomás nos

presenteou com uma assinatura anual desta revista. O primeiro exemplar está à disposição para a leitura na Casa de formação S.

José – casa anexa a nossa capela.

9° - Fiquem longe dos teólogos(a) de internet e mais perto de Santo Tomás de Aquino.

10° - Acompanhem o blog “Estudos tomistas” do sr. Prof. Carlos Nougué.

11° - Lamentamos e rezamos por mais esta provação.

12° - Evitem uma frequência desnecessária a internet, que tão facilmente nos insere em um mundo superficial, ilusório e fantasioso,

tão longe do real mundo católico, da prática constante da virtude, do tradicional estudo pelos livros, e da oração – sobretudo dos

quinze mistérios do Rosário e da devoção aos Sagrados Corações.

13° - Sejamos santos, pois é esta a mais importante contribuição que podemos dar para a restauração do Reinado de Nosso Senhor

Jesus Cristo. Fizéssemos o que fizéssemos, se não nos tornássemos santos por infidelidade, nada tínhamos feito. Peçamos a Nossa

Senhora que ilumine a nossa inteligência e mova a nossa vontade sempre em direção ao Coração de Seu Divino Filho. É para isso

que esta capela existe, para continuar o trabalho divino da Igreja, transformando cada um de seus fiéis em Jesus Cristo, por Maria,

para maior glória de Deus, no tempo e na eternidade e isso temos a confiança que conseguiremos com o apoio de nossos diretores e

auxílio de nossos excelentíssimos bispos Dom Williamson e D. Faure.

+ Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, para sempre seja louvado, e nossa Mãe Maria Santíssima, salve.

Instaurare Omnia in Christo per Mariam,

Deivid de A. N

Capela Nossa Senhora das Alegrias – Vitória/ES.

Membro da Congregação Mariana Nossa Senhora do Rosário de Fátima – Vitória/ES.

www.nossasenhoradasalegrias.com.br

A F a m í l i a C a t ó l i c a — 3 1 ª E d i ç ã o

Page 6: A família católica, 31 edição, dezembro 2015

“Foi em 1975 que vi Dom Lefebvre pela primeira vez. Ele viera a

nosso Mosteiro de Santa Maria Madalena em Bedoin, no Sul da

França, para conferir as ordens menores a dois de nossos irmãos,

o Ir. Jehan de Belleville e o Ir. Joseph Vannier. A pregação de Dom

Lefebvre me impressionou pela sua serenidade. Ele respirava a

paz, essa paz que é a divisa dos beneditinos e que ele parecia

possuir mais do que nós.

Esta cerimônia não passou despercebida aos progressistas, que

não nos perdoaram. Receber Dom Lefebvre! Deixá-los conferir

ordens a nossos estudantes! Isto não podia ficar sem uma puni-

ção exemplar. O superior geral de nossa congregação veio ver-nos

trajado à maneira progressista, como o exigem os tempos moder-

nos, isto é, de paletó e gravata. Talvez a gravata seja fruto da

minha imaginação, mas do paletó eu me lembro bem. Conclusão.

Nós fomos excluídos da ordem beneditina. Na verdade era Dom

Lefebvre que eles procuravam atingir, ou melhor, era Nosso Se-

nhor que eles perseguiam.

Em 1976 eu pude escutar Dom Lefebvre pregando em Ecône no

início daquele verão, que ficou conhecido como “verão quente”

devido à gravidade dos acontecimentos que marcaram a vida da

Fraternidade São Pio X e da Igreja naqueles dias heróicos em que

Dom Lefebvre teve de dizer não a Paulo VI. Interrogado pelos jor-

nalistas a respeito de sua atitude, Dom Lefebvre respondeu com

simplicidade:

“Quando eu estiver diante de meu juiz, não quero que Ele possa

dizer-me: ‘O senhor também, o senhor deixou que destruíssem a

minha Igreja’.” 1

Mas foi somente em 1984 que tive contato pessoal com Dom

Lefebvre. Eu havia sido enviado para o seminário de Ecône, sendo

já padre, para completar os meus estudos e para cuidar da saú-

de.

Aproveitando a presença de Dom Lefebvre, fui vê-lo com certa

freqüência. Sua bondade paternal tornou fácil essas conversas,

cujo essencial transcrevo aqui. Como eu tinha o costume de es-

crever o conteúdo desses colóquios após cada entrevista, hoje

me sirvo dessas notas na redação desse artigo.

Na terça-feira, 6 de novembro de 1984, Dom Lefebvre falou-me

do Ecumenismo:

“Se as outras religiões não são obra do demônio, então não há

razão para não admiti-las; não há razão para combatê-las. Ora,

todas as religiões, fora a Religião Católica, são obras que não vem

de Deus. ‘Quem não é por Mim, é contra Mim’, disse Nosso Se-

nhor. Toda religião, fora a Religião Católica, é obra do demônio.

Toda atenuação desta verdade concorre para a perda das almas.

Esta heresia está de tal maneira espalhada que mesmo nossos

fiéis não escapam inteiramente à sua influência. Eu penso que

nós estamos diante de uma verdadeira heresia. Penso como Dom

Antônio de Castro Mayer, mas não quis dizê-lo publicamente até

agora.”

No dia 12 de Março de 1985, Dom Lefebvre falou-me da ques-

tão dos acordos com Roma. Penso que Dom Lefebvre abordou

este assunto por causa de Dom Gérard, que por essa época pro-

curou obter de Dom Lefebvre apoio para um acordo com Roma.

Por Dom Tomás de Aquino— Revista Co-Redentora nº 1

Colóquios com Dom Marcel Lefebvre

Dom Gérard dizia que com o Cardeal Ratzinger era possível de se

entender e que Dom Lefebvre era fechado demais. Mesmo assim,

Dom Gérard procurava a aprovação de Dom Lefebvre, sem a qual

ele não teria a aprovação dos fiéis da Tradição.

“Submeter-se a homens que não têm a integridade da Fé Católi-

ca? Submeter-se a homens que proclamam princípios contrários

aos princípios da Igreja? Ou nós seremos obrigados a romper de

novo com eles e a situação se tornará pior que antes, ou seremos

conduzidos insensivelmente à diminuição e à perda da Fé.

Há ainda uma terceira possibilidade. Uma vida bem difícil por

causa do contato freqüente com homens que não tem a Fé católi-

ca, conduzindo à desorientação e ao enfraquecimento do espírito

de combate dos fiéis.”

Esta questão conduziu Dom Lefebvre a falar das Sagrações:

“Eu esperei o mais possível para que Deus me esclarecesse a

respeito das sagrações. Em Roma eles se afundam cada vez mais

nos seus erros. Eu penso que é necessário assegurar a perma-

nência do sacerdócio católico. Eu esperei a confirmação deste

dever. Parece que a tenho cada vez mais.

O Liberalismo é uma heresia. Eu não o quis dizer até agora. Não

se podia imaginar que um Papa pudesse chegar a tal ponto. Ele já

não é Papa por causa disso? Eu não penso que se possa afirmar

isto. É uma coisa que não se podia imaginar.”

E voltando à questão dos acordos:

“Nossa posição, tal como é agora, nos permite ficar unidos na fé.

Todos aqueles que quiseram fazer um compromisso com os mo-

dernistas se desviaram. Penso que nós não devemos nos subme-

ter a eles.

Eu desconfio imensamente. Passo as noites a pensar nisso. Não

somos nós que temos de assinar nada. São eles que têm de assi-

nar garantindo que aceitam a doutrina da Igreja. Eles querem

nossa submissão, mas não nos dão a doutrina.”

Bela conclusão. Submissão? Sim, mas com a doutrina. Sem a

Verdade Revelada, sem a Tradição, nada feito, pois seria o suicí-

dio da Fé e a perda da vida eterna.

No dia 30 de março de 1985, Sábado da Paixão, Dom Lefebvre

Page 7: A família católica, 31 edição, dezembro 2015

faz observações interessantes sobre a política, conversando com

os professores do seminário em Ecône.

“Em vez da ONU, o Vaticano deveria ter encorajado a união dos

Estados católicos. Houve um momento, após a guerra, em que

havia vários chefes de Estado católicos na Europa: Salazar em

Portugal, Franco na Espanha, De Valera na Irlanda, Alphonsini na

Itália, Cotti na França e Adenauer na Alemanha, o qual, apesar de

não ser católico, tinha alguns princípios católicos.”

Falando de Salazar, Dom Lefebvre contou que o grande presi-

dente português se queixara dos bispos de seu país:

“É necessário reformar as universidades, mas os bispos não me

ajudam. Eles parecem não compreender a importância. Mas, sem

isso, como conseguir uma geração francamente católica?”

Neste mesmo dia, ou pouco depois, Dom Lefebvre, comentando

a ilusão de alguns que estão sempre a procura de compromissos,

disse:

“O Sr. X é sempre ambíguo. Ele quer nos conduzir a compromis-

sos. Se a missa não é herética, é ortodoxa, diz o Sr. X. Como? E

todas as nuances e graus entre a heresia e a ortodoxia?”

E, falando dos bispos que procuram semear esse clima de ambi-

güidade, diz:

“Eles se esforçam por propagar a Missa de indulto2, mas com a

finalidade de aproximar os fiéis da Missa nova e da doutrina de

Vaticano II.”

No dia 14 de maio de 1985, no seu escritório, Dom Lefebvre me

fala do Concílio:

“Eles vivem na mentira. Inconscientemente. Talvez. Mas, objetiva-

mente, vivem na mentira. No Concílio, eles diziam: ’O Concílio é

pastoral.’ O próprio Papa dizia: ‘O Concílio é pastoral e não dog-

mático.’ Agora eles querem impô-lo como um concílio dogmático.”

Na segunda-feira de Pentecostes, Dom Lefebvre me fala do

retiro que ele devia nos pregar no Barroux. As relações com Dom

Gérard estavam bem tensas nesta época por causa dos acordos

que ele queria fazer com Roma.

“Eu estou num grande embaraço”, diz Dom Lefebvre. “Receio que

as palavras não me saiam da boca.”

Confissão comovente que mostra que, se Dom Lefebvre era um

combatente, não era insensível e lhe custava enfrentar certas

situações. Mas, mesmo assim, foi ao Mosteiro e nos pregou o

retiro anual de 1985.

Este retiro foi uma nova ocasião de conversar com Dom Lefeb-

vre. A questão das sagrações se tornava cada vez mais atual.

“Devo sagrar um bispo? Isto me repugna”, dizia ele, “mas me cite

um só bispo que tenha um seminário onde se dê uma formação

católica, sem mistura de modernismo. Penso que, se eu não fizer

nada, Nosso Senhor me repreenderá após a minha morte, dizen-

do: ‘O senhor tinha o caráter episcopal, o senhor devia ter assegu-

rado a continuação do sacerdócio católico.’”

Em outra ocasião, Dom Lefebvre deu mais esta razão para as

sagrações, razão que me parece decisiva e que guardei na memó-

ria:

“Se Roma fosse capaz de formar padres católicos, eu não teria

nenhuma razão de sagrar sem a autorização de Roma. Mas Roma

já não é capaz.”

Tornava-se então necessário sagrar novos bispos. No entanto,

Dom Lefebvre iria esperar ainda dois anos, prova de sua grande

prudência. Ele queria ter a certeza de que isto era verdadeiramen-

te o seu dever. Talvez quisesse também preparar os padres e os

fiéis para este ato tão necessário, mas também tão insólito.

Estando de passagem em Ecône, em janeiro de 1986, aproveito

para ver Dom Lefebvre. Entre outras coisas, ele me disse:

“O Papa anunciou um congresso de todas as religiões em Assis.

Um congresso de todas as religiões! Que Deus vão eles invocar?

Eu não vejo senão o Grande Arquiteto! Tudo isso é uma idéia ma-

çônica. Creio que haverá reações. Itália. Assis. Tudo isso é ainda

por demais católico. Eles vão, talvez, pedir um lugar menos católi-

co. Jerusalém, talvez. “

Diante de tudo isso, pergunto a Dom Lefebvre qual era a es-

sência da doutrina do Santo Padre. Dom Lefebvre responde:

“ - Que não há verdade. Que a verdade evolui. O que conta é

a vida.

- Mas isto é a essência do Modernismo.

- Eles são modernistas - diz Dom Lefebvre. - Ratzinger e o Papa

são modernistas. Essa é a razão por que não compreendem nada

de nossas reclamações. Eles dizem: ‘Mas que mal há em tudo

isto?’ É por essa razão que eles foram escolhidos. Por causa

de seu espírito impreciso. Jamais dariam esses postos a alguém

que tivesse o espírito escolástico, o espírito claro, límpido. Não.

Eles já não querem isso.

É a maçonaria - prossegue Dom Lefebvre - que dirige o Vaticano.

O Cardeal Cagnon me disse, ele mesmo. Não são necessariamen-

te os que ocupam os postos principais que são maçons, mas eles

são colocados de maneira a dirigir tudo.”

No final de 1986 Dom José Vannier e eu fomos envidados para

ver um terreno que nos era oferecido para a fundação de um

mosteiro no Brasil. Antes de deixar a Europa, fomos a Ecône para

nos despedir de Dom Lefebvre. Ele nos falou então de Assis e de

um desenho explicativo que ele queria difundir para alertar os

fiéis sobre a gravidade desta reunião ecumênica. Ele nos mostrou

dois desenhos. Um era de um seminarista e outro de uma irmã da

Fraternidade. O do seminarista era mais bem feito, mas o da irmã

era mais respeitoso. Dom Lefebvre preferia o da irmã. Ele não

queria uma caricatura. Queria simplesmente explicar com ima-

gens o pecado gravíssimo da reunião de Assis. Antes de partir-

mos, assegurei a Dom Lefebvre nossa adesão sem restrições à

idéia do desenho.

Tendo partido para a América do Sul, nossa primeira visita foi ao

seminário da Fraternidade São Pio X na Argentina. Dom Lefebvre

e Dom Antônio de Castro Mayer aí se encontravam para as orde-

nações daquele ano, nas quais dois padres de Campos recebe-

ram o sacerdócio: o Rev. Pe. Hélio Rosa e o Rev. Pe. José Paulo

Vieira, assim como o Rev. Pe. Álvaro Calderón e alguns outros

padres da Fraternidade São Pio X.

Reencontrando Dom Lefebvre, ele nos falou novamente de As-

sis, e comentou as reações havidas a respeito dos famosos dese-

nhos:

“Eu fiquei surpreso com a reação. Já a esperava, mas não tanto.

Porém é uma lição de catecismo! Pode-se dizer o mesmo de to-

dos os pecados. No céu não há ecumenistas, assim como no céu

não há divorciados. No céu não há ninguém em estado de pecado

mortal.

Peço a Deus que estes desenhos cheguem às mãos do Santo

Page 8: A família católica, 31 edição, dezembro 2015

Padre e que ele acorde e se diga: ‘Aonde irei parar se continuo

assim?’ É preciso que o Santo Padre salve a sua alma! Ele convi-

dou o chefe das falsas religiões a rezar nos seus erros. É um con-

vite a permanecer no erro. É um reconhecimento desses erros.

Depois disso, eu disse que só faltava agora dançar com o demô-

nio. Parece que o Papa já o fez, dançando ao som do rock, com

estola, no meio de moças, na Austrália. Alguns se escandalizam

mais com isso do que com a reunião de Assis. É uma falta de

espírito de Fé. Assis é mais grave. É mais teológico. A reunião que

se realizou na véspera foi ainda pior. As palavras do príncipe Edi-

mbourg foram blasfematórias.”

Este príncipe, marido da rainha da Inglaterra, disse que era ne-

cessário terminar com esse escândalo, que já dura dois mil anos,

de um homem que disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade, e a Vi-

da.” O que se poderia esperar de diferente quando se trata de

convidar todos os heréticos, cismáticos e infiéis a se manifestar?

Ainda no seminário da Argentina, Dom Lefebvre nos disse, falan-

do das sagrações:

“Do ponto de vista teológico Dom Antônio de Castro Mayer nem vê

dificuldade, mas tanto ele como eu pensamos que é melhor espe-

rar um pouco.”

A respeito do Papa, acrescentou:

“Quanto a dizer que o Papa não é Papa, eu não sei. Os teólogos

não estão de acordo a esse respeito. Não quero entrar nesta

questão. Isto não me parece ainda muito claro. Prefiro dizer ape-

nas que ele é um pecador público. Um Concílio decidirá, depois da

sua morte, se ele foi Papa ou não.”

Em seguida nos falou do Cardeal Villot:

“Villot mentiu para Paulo VI, dizendo-lhe que eu havia feito os

seminaristas assinar um documento contra o Papa. Quando pude

ver Paulo VI, Villot estava furioso. Ele impôs que Benelli estivesse

presente à conversa. O Santo Padre me falou desse famoso docu-

mento que eu teria feito os seminaristas assinar. Eu disse clara-

mente a Paulo VI que não existia nada daquilo. Depois, o cardeal

Benelli, em L’Osservatore Romano, negou que nós tivéssemos

falado deste assunto. São uns bandidos. Mesmo a honestidade, a

mais elementar, eles já não a têm.

Villot havia organizado tudo. Ele dizia que dentro de seis meses a

Fraternidade não existiria mais. Deu-se então a visita canônica a

Ecône, o chamado a Roma, a entrevista com Garrone, Tabera e

Wright e o que se seguiu. Pior que os soviéticos; nem mesmo a

aparência de um julgamento. Eu disse isso a João Paulo II. Ele

sorriu. Nada mais [...].”

Falando de Montini e Pio XII, Dom Lefebvre nos disse:

“No começo do Concílio eu fiquei sabendo da história de Montini.

‘Promoveatur ut removeatur’.3 E, no dia da sagração de Montini,

Pio XII fez um discurso ditirâmbico. Que costume desastroso! Até

Pio XII.”4

Em seguida vieram os anos da fundação da Santa Cruz, durante

os quais Dom Lefebvre nos ajudou com seus preciosos conselhos.

Eu tinha a consciência bastante incomodada por causa das modi-

ficações litúrgicas introduzidas por Dom Gérard na missa. Não se

tratava ainda da nova missa, mas também já não era o missal de

João XXIII, de 1962. Eram algumas modificações introduzidas por

Paulo VI e por Dom Gérard ele mesmo. Escrevi então para Dom

Lefebvre, que, embora não aprovando Dom Gérard, me aconse-

lhou sobretudo guardar boas relações com o nosso mosteiro da

França, o Barroux. Por aí se vê que Dom Lefebvre era bastante

conciliador. Se se opôs ao Santo Padre, era porque realmente não

havia outra solução. Ele se opôs por dever e não por inclinação

natural.

Mas estas boas relações com nosso mosteiro da França não

iam durar muito tempo. Dom Gérard, depois das sagrações, fará

um acordo que porá os nossos mosteiros debaixo da autoridade

dos modernistas.

Dom Lefebvre me escreveu então uma carta datada de 18 de

agosto de 1988, na qual dizia:

“Como lamento que o senhor tenha partido antes dos aconteci-

mentos do Barroux.5 Teria sido mais fácil considerar a situação

resultante da decisão desastrosa de Dom Gérard. O Padre Tam se

ofereceu para visitá-lo ao voltar ao México e lhe entregar estas

linhas.

Dom Gérard, na sua declaração, expõe o que lhe é concedido e

aceita pôr-se debaixo da obediência de Roma modernista, que

permanece fundamentalmente antitradicional, o que motivou o

meu afastamento.

Ele queria ao mesmo tempo guardar a amizade e o apoio dos

tradicionalistas, o que é inconcebível. Ele nos acusa de

‘resistencialismo’.

Eu bem o avisei. Mas sua decisão estava já tomada havia muito

tempo, e ele não quis mais escutar conselhos.

As conseqüências agora são inevitáveis. Mas não teremos mais

nenhuma relação com o Barroux e avisamos todos os nossos fiéis

para que não ajudassem mais uma obra que daqui para frente

está nas mãos de nossos inimigos, dos inimigos de Nosso Senhor

e de seu reino universal.

As irmãs beneditinas estão angustiadas. Elas vieram me ver. Eu

lhes aconselhei o que lhe aconselho igualmente: guardar a sua

liberdade e recusar todo laço com esta Roma modernista. Dom

Gérard usa de todos os argumentos para paralisar a resistência

[...].

O senhor devia se unir com Dom Lourenço e com o argentino6, e

com seus noviços [...].

Os senhores três, com os noviços de Campos, os senhores pode-

rão continuar e constituir um mosteiro independente de Roma. É

necessário não hesitar em afirmá-lo publicamente. Deus o ajuda-

rá.

E o senhor poderia em seguida, depois de algum tempo, reconsti-

tuir um mosteiro na França. O senhor seria muito apoiado e teria

vocações.

Dom Gérard suicidou a sua obra.

O Padre Tam lhe dirá de viva voz o que eu não escrevi. Peço a

Nossa Senhora que o ajude na defesa da honra de seu divino

Filho.

Que Deus o abençoe e abençoe o seu mosteiro.”

Eis como Dom Lefebvre via a situação. Nós seguimos os seus

conselhos. Uma declaração pública foi feita, e nós nos separamos

de Dom Gérard. Esta declaração foi feita com a ajuda do Rev.

Padre Fernando Rifan, do Rev. Padre Tam e do Dr. Júlio Fleich-

man, pai de Dom Lourenço. Dom Lefebvre queria que esta decla-

ração fosse conhecida dos monges do Barroux e que estes depu-

sessem Dom Gérard “se ele não quiser romper com Roma”.7

“As sagrações trouxeram um reforço de vida à Tradição”, escrevia

Dom Lefebvre nesta mesma ocasião. “Os fiéis estão contentes.

Eis por que a defecção de Dom Gérard é duramente criticada e

ninguém o segue; exceto alguns falsos tradicionalistas.”

Page 9: A família católica, 31 edição, dezembro 2015

Edição:

Capela Nossa Senhora das Alegrias - Vitória, ES.

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Entre em contato conosco pelo e-mail:

Após as sagrações e os acontecimentos que se seguiram de

perto, Dom Lefebvre teve de suportar uma dura provação com o

caso do Padre Morello, na Argentina. Isto não o impediu de conti-

nuar a nos aconselhar com sua paternal solicitude. Não somente

nós fomos ajudados por ele, mas também Campos e mais especi-

almente o Rev. Padre Rifan.

No entanto, era sobretudo Dom Antônio de Castro Mayer, seu

amigo e irmão no episcopado, que ocupava o coração de Dom

Lefebvre.

“Ecos me chegam do Brasil”, escrevia ele a Dom Antônio, “a res-

peito de vossa saúde, que declina. O apelo de Deus estará próxi-

mo? Esta eventualidade me enche de profunda dor. Em que soli-

dão vou me encontrar sem meu irmão mais velho no episcopado,

sem o combatente exemplar pela honra de Jesus Cristo, sem o

amigo fiel e único no terrível deserto da Igreja Conciliar!”8

Dom Lefebvre e Dom Antônio iam nos deixar quase ao mesmo

tempo, em 1991, deixando-nos o exemplo da sua Fé e de seu

espírito de combate recebidos em Roma durante os anos de semi-

nário junto ao túmulo do príncipe dos Apóstolos. Que suas herói-

cas virtudes e seus méritos nos obtenham a graça da fidelidade.

***

Notas:

1- Dom Tissier de Mallerais, Marcel Lefebvre, une vie, Ed. Clovis,

2002, p. 644;

2- Indulto de 1984 para celebrar a Missa de São Pio V, concedido

pelo Papa João Paulo II, mas com uma restrição: não rejeitar a

Missa de Paulo VI. Conclusão: indulto só para os que não tinham

motivos para fazer uso exclusivo da Missa de São Pio V. Como

dizia, com humor, um escritor francês: “Este indulto é reservado

exclusivamente àqueles que não têm nenhuma razão para pedi-

lo.” Na verdade, como nota Dom Lefebvre, este indulto tinha co-

mo objetivo habituar os padres e os fiéis às duas missas e, desta

forma, fazê-los aceitar a Missa nova, como foi o caso de Dom

Fernando Rifan e o de tantos outros;

3- “Promovido para ser removido”;

4- Secretário de Estado de Pio XII, Montini havia traído Pio XII. Pio

XII o destituiu, mas deu-lhe cargo de arcebispo de Milão e fez um

sermão elogioso ao seu mau servidor;

5- Eu tinha voltado ao Brasil antes da conclusão ou, ao menos, da

publicação dos acordos de Dom Gérard com Roma;

6- Dom João da Cruz;

7- Carta de 2 de setembro de 1988;

8 Carta de 4 de dezembro de 1990. Apesar de sua análise pene-

trante desse “terrível deserto da Igreja Conciliar” e das indaga-

ções que ele se fazia a respeito do Santo Padre, Dom Lefebvre

nunca foi sedevacantista, muito pelo contrário. Sua posição se

baseava na atitude de São Pio X em relação aos modernistas e da

atitude de Pio IX em relação aos liberais.

CONGREGAÇÃO MARIANA

No dia 8 de dezembro, Festa da Imaculado Conceição da Vir-

gem Maria, os candidatos da Congregação Maria receberam suas

fitas em uma belíssima e emocionante cerimônia presidida pelo

Rev. Pe. Joaquim (FBMV).

Os Congregados neste dia elegeram a Santíssima Virgem Ma-

ria, mãe de Deus, como sua especial Senhora, Advogada e Mãe,

fazendo o propósito de servi-la sempre e fazer quanto puderem

para que ela seja servida e amada por todos os demais. Prome-

tendo também jamais se afiliarem a quaisquer sociedades secre-

tas, “sob qualquer denominação que seja”, especialmente a

Franco-maçonaria, “obedecendo com amor filial à autoridade dos

Vigários de Cristo— e nomeadamente aos desejos– de Sua Santi-

dade Leão XIII, expressos na Encíclica Humanum Genus” e

“combater animosamente, em todo tempo e lugar, as suas tra-

mas, doutrinas e influências”.

Rezemos por nossos Congregados para que se mantenham fiéis

a tão importantes promessas.

Causa nostrae laetitiae, ora pro nobis!