PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO Antonia Mac… · A Deus pela vida, família,...

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/SP Mariza Antonia Machado de Lima Formação Continuada de Professores de Matemática: processos formativos e possibilidades de ruptura. MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA SÃO PAULO 2013

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC/SP

Mariza Antonia Machado de Lima

Formação Continuada de Professores de Matemática:

processos formativos e possibilidades de ruptura.

MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

SÃO PAULO

2013

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC/SP

Mariza Antonia Machado de Lima

Formação Continuada de Professores de Matemática:

processos formativos e possibilidades de ruptura.

Dissertação apresentada à Banca Examinadora

da Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo, como exigência parcial para obtenção do

título de MESTRE em EDUCAÇÃO

MATEMÁTICA, sob a orientação da Prof. Drª.

Ana Lúcia Manrique.

SÃO PAULO

2013

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Banca Examinadora

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Autorizo exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou

parcial desta dissertação por processos de fotocopiadora ou eletrônicos.

Assinatura: ________________________________ São Paulo, ___ / ___ / _____.

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À minha mãe Zulmira pelo amor, paciência, dedicação e por suas orações.

À minha irmã Marli pelo apoio, incentivo, por estar sempre ao meu lado e por não me deixar desistir.

Ao meu pai José (in memoriam) pelo incentivo aos estudos e por despertar em mim a paixão

pela Matemática.

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AAGGRRAADDEECCIIMMEENNTTOOSS

Agradecer é reconhecer que não cheguei aqui sozinha, que em meu

caminho encontrei pessoas que contribuíram para realização e concretização

deste trabalho. Assim, meus eternos agradecimentos.

A Deus pela vida, família, amigos e pessoas que tenho

encontrado em meu caminho.

A minha família, minha mãe, meus irmãos e sobrinhos,

meu porto seguro e fonte de vida, energia e inspiração.

A Rose, minha fiel colaboradora, que cuida das

questões práticas da minha casa para que eu tenha

tranquilidade para estudar e trabalhar.

Aos meus amigos de longa data e de todas as horas,

Cristina, Sérgio, Célia, Carlos, Maria Alice, Wandir e

Michael, pela amizade sincera e por não desistirem de

mim, apesar da ausência.

À professora Drª Ana Lúcia Manrique, parceira nesta

caminhada, pela confiança, amizade, ensinamentos, por

acreditar no meu trabalho e pelas preciosas

orientações.

Às professoras doutoras Barbara Lutaif Bianchini e

Maria de Fátima Abdalla por aceitarem participar da

Banca de defesa e por suas recomendações e

importantes sugestões.

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Aos meus professores de mestrado, pelo capital cultural

incorporado.

Aos meus amigos do mestrado, pelos momentos

compartilhados, pela amizade e por tornar mais fácil

esta caminhada, em especial ao Douglas da Silva Tinti

pela parceria e pela ajuda na finalização deste trabalho.

Aos meus companheiros do Núcleo Pedagógico da

Diretoria de Ensino – Região de Assis, pelo incentivo,

respeito e amizade que tenho encontrado nesse

ambiente de trabalho.

À Luciana de Vito Zollner pela ajuda nas transcrições

das entrevistas e pela correção do abstract.

À Patrícia Regina de Morais Bertolucci Cardoso, pela

leitura final e revisão da língua.

À Rosemary Trabold Nicácio responsável pela minha

inserção no Mestrado em Educação Matemática, pelo

incentivo e pela amizade sincera.

Ao professor Cleomenes José Santana,Dirigente

Regional de Ensino da Diretoria de Ensino – Região de

Assis, pela confiança e por possibilitar que eu pudesse

continuar estudando.

À Secretaria de Estado da Educação de São Paulo pela

bolsa concedida.

Em especial, agradeço aos professores de Matemática

que participaram desta pesquisa, pela disponibilidade e

pela confiança. Sem vocês não seria possível realizar

este trabalho.

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OO SSeennhhoorr...... mmiirree ee vveejjaa::

oo mmaaiiss iimmppoorrttaannttee ee bboonniittoo,, ddoo mmuunnddoo,, iissttoo éé::

qquuee aass ppeessssooaass nnããoo eessttããoo sseemmpprree

iigguuaaiiss,, aaiinnddaa nnããoo ffoorraamm tteerrmmiinnaaddaass

mmaass qquuee eellaass vvããoo sseemmpprree mmuuddaannddoo..

AAffiinnaamm oouu ddeessaaffiinnaamm..

VVeerrddaaddee mmaaiioorr

ÉÉ qquuee aa vviiddaa mmee eennssiinnoouu..

IIssssoo mmee aalleeggrraa..

((JJooããoo GGuuiimmaarrããeess RRoossaa))

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LIMA, Mariza Antonia Machado de. Formação Continuada de Professores de Matemática: processos formativos e possibilidades de ruptura. 2013. 137f. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) – Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo.

RREESSUUMMOO

O objetivo deste trabalho é investigar as ações de formação continuada oferecidas pelos órgãos públicos, procurando diagnosticar os limites e potencialidades dessas ações enquanto facilitadoras do trabalho docente, bem como identificar as relações entre esses processos formativos e as necessidades dos professores quanto à sua prática educativa. A pesquisa de abordagem qualitativa foi realizada por meio da análise de documentos, referentes às ações de formação continuada de professores da Educação Básica da Rede Pública de São Paulo, disponibilizados por uma Diretoria de Ensino do Interior de São Paulo, no site da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo e em arquivos da própria pesquisadora, além de análise de 43 (quarenta e três) questionários respondidos por professores de Matemática participantes das ações de formação oferecidas e da análise de entrevistas realizadas com três desses professores. A análise das entrevistas foi realizada por meio de narrativas contadas a partir da trajetória formativa dos professores entrevistados tendo como referencia os conceitos de Capital Social, Capital Cultural e Habitus de Pierre Bourdieu. As informações contidas nos questionários permitiram traçar o perfil dos professores de Matemática participantes das ações formativas oferecidas, bem como identificar as percepções desses professores sobre as ações que participaram. Para análise dos depoimentos dos professores consideramos três categorias: Motivações; Potencialidades e Fragilidades. A análise dessas categorias possibilitou identificar que a atuação profissional, a aprendizagem dos alunos e a questão salarial têm sido os fatores que mais tem mobilizado os professores a participar das ações de formação continuada, e que as ações formativas tem possibilitado aos professores conhecimento curricular, didático, sobre avaliação, tecnologia, além da troca de experiências. A análise dos resultados nos mostra que de certa forma os processos formativos oferecidos pelos órgãos públicos, provocam rupturas à prática educativa dos professores de Matemática participantes desses processos, à medida que se constituem como espaços sociais que possibilitam a incorporação de Capital Cultural e produção de novos habitus. Contudo, os depoimentos revelam algumas fragilidades dessas ações uma vez que elas são pontuais, não são oportunizadas a todos os professores e são realizadas em massa, não considerando a realidade de cada escola. Palavras Chave: Políticas Públicas; Formação Continuada de Professores de Matemática; Capital Social; Capital Cultural; Habitus; Ruptura.

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LIMA, Mariza Antonia Machado de. Continuing Education of Teachers of Mathematics: formative processes and possibilities of rupture. 2013. 137f. Dissertation (Master in Mathematics Education) – Program for Post Graduate Studies in Mathematics Education. Pontifical Catholic University de São Paulo. São Paulo.

AABBSSTTRRAACCTT

This work aims to investigate the actions of continuing education offered by government agencies, seeking to diagnose the limits and potential of these actions as facilitators of teaching, as well as identifying the relationships between these processes and the training needs of teachers about their educational practice. A qualitative study was conducted through the analysis of documents, relating to the shares of continuing education for teachers of Basic Education of the Public São Paulo, made available by a Board of Education of the Interior of St. Paul, on the site of the Secretary of State Education of São Paulo and in the archives of the researcher, and analysis of 43 (forty-three) questionnaires answered by mathematics teachers participating shares offered training and analysis of interviews with three of those teachers. The data analysis was performed by means of narratives told through the lives of the teachers interviewed formative taking as reference the concepts of Social Capital, Cultural Capital and Habitus of Pierre Bourdieu. The information contained in the questionnaires allowed profiling of mathematics teachers participating in the training activities offered and to identify perceptions about the actions of these teachers who participated. For analysis of the statements of teachers consider three categories: Motivations, Strengths and Weaknesses. The analysis of these categories identified that the professional performance, student learning and the salary issue have been the factors that has mobilized teachers to participate in continuing education activities, and that the training activities has enabled teachers knowledge curriculum, teaching, on evaluation, technology, and exchanging experiences. The analysis shows that in some ways the formative processes offered by public agencies, disruptive to the educational practice of mathematics teachers participating in these processes, as they are constituted as social spaces that allow the incorporation of cultural capital and production of new habitus. However, the testimonies reveal some weaknesses of these actions, since they are punctual, opportunities are not given to all teachers, are held in bulk and do not consider the reality of each school. Keywords: Public Policy; Continuing Education of Teachers of Mathematics, Social Capital, Cultural Capital, Habitus; Break.

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SSUUMMÁÁRRIIOO

Introdução ............................................................................................................ 15

Capítulo I: Das políticas públicas para a formação continuada de professores aos

processos formativos............................................................................................. 21

1.1 Políticas públicas de formação continuada de professores ............................. 21

1.2 Formação Continuada de Professores de Matemática: o que dizem respeito.29

1.2.1 Um estudo de trabalhos específicos sobre formação continuada de

professores de Matemática ................................................................................... 37

1.3 Os processos formativos e as necessidades dos professores frente aos

desafios da prática ................................................................................................ 46

Capítulo II: Referencial Teórico ............................................................................ 53

2.1 Capital Social, Capital Cultural e Habitus: elementos para uma discussão

sobre formação e prática docente ......................................................................... 53

2.2 Capital Social .................................................................................................. 54

2.3 Capital Cultural ................................................................................................ 56

2.3.1 Estado Incorporado ...................................................................................... 57

2.3.2 Estado Objetivado ........................................................................................ 57

2.3.3 Estado Institucionalizado .............................................................................. 58

2.4 Habitus ............................................................................................................ 59

Capítulo III: Metodologia ...................................................................................... 66

3.1 Delineamentos Metodológicos ........................................................................ 67

3.2 Pesquisa bibliográfica e Análise documental .................................................. 68

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3.3 Questionário ................................................................................................... 70

3.4 Entrevista ....................................................................................................... 71

Capítulo IV: Resultados ....................................................................................... 75

4.1 A Formação Continuada de Professores na Diretoria de Ensino – Região de

Assis ..................................................................................................................... 75

4.2 Perfil dos Professores que participaram das ações formativas realizadas na

Diretoria de Ensino – Região de Assis................................ ................................ .85

4.3 Participação dos Professores nas ações de formação continuada ................ 90

4.3.1 Percepções dos professores de Matemática sobre as ações de formação

continuada ............................................................................................................ 93

Capítulo 5: Análise ........................................................................................... 100

5.1 Narrativas – Trajetórias de professores de Matemática ............................... 100

5.2 Narrativa 1 – Professora Cida ...................................................................... 102

5.3 Narrativa 2 – Professor Juca ........................................................................ 106

5.4 Narrativa 3 – Professora Lia ......................................................................... 111

5.5 O encontro das Narrativas ............................................................................ 116

Considerações Finais ...................................................................................... 118

Referências ....................................................................................................... 122

Apêndice ........................................................................................................... 126

Anexos............................................................................................................... 126

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LLIISSTTAA DDEE QQUUAADDRROOSS EE TTAABBEELLAASS

QQUUAADDRROOSS

Quadro 1: Identificação das pesquisas sobre Formação Continuada de

Professores de Matemática selecionadas para estudo .............................. ...........38

Quadro 2: Ações de Formação Continuada de Professores de Matemática,

desenvolvidas na Diretoria de Ensino da Região de Assis, no período de 2005 a

2010 ...................................................................................................................... 84

Quadro 3: O que buscam os professores de Matemática nas ações formativas em

relação a sua Atuação Profisional ......................................................................... 94

Quadro 4: O que buscam os professores de Matemática nas ações formativas em

relação prendizagem dos alunos. .......................................................................... 95

Quadro 5: O que as ações formativas possibilitam aos professores em relação ao

Conhecimento curricular. ...................................................................................... 96

Quadro 6: O que as ações formativas possibilitam aos professores em relação ao

Conhecimento didático. ......................................................................................... 96

Quadro 7: O que as ações formativas possibilitaram aos professores em relação

à Troca de Experiências ........................................................................................ 98

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TTAABBEELLAASS

Tabela 1: Número de pesquisas realizadas, por período, sobre Educação

Matemática, Professores de Matemática e envolvendo ambos os temas............ 31

Tabela 2: Temas das pesquisas realizadas no período de 1987 a 2011 de acordo

com o banco de teses da CAPES ........................................................................ 32

Tabela 3: Número de palavras-chave agrupadas por assunto pesquisado ..........33

Tabela 4: Distribuição das pesquisas sobre Formação de Professores no período

de 1987 a 2011 ..................................................................................................... 35

Tabela 5: Distribuição, por período, das pesquisas sobre Formação Continuada

de Professores de Matemática. ............................................................................ 36

Tabela 6: Disribuição das pesquisas sobre formação continuada de professores

de Matemática por Instituição ............................................................................... 37

Tabela 7: Distribuição do Número de Professores de Matemática que

responderam ao questionário quanto ao sexo...................................................... 86

Tabela 8: Distribuição do Número de Professores por período de conclusão da

graduação............................................................................................................. 87

Tabela 9: Distribuição do Número de Professores por tempo de

magistério........................ ..................................................................................... 87

Tabela 10: Distribuição do Número de Professores quanto ao tipo de graduação88

Tabela 11: Distribuição do Número de Professores quanto ao tipo de formação

realizada ............................................................................................................... 89

Tabela 12: Número de ações formativas por temática de formação .................... 91

Tabela 13: Número de professores participantes nas ações de formação

continuada por temática de formação .................................................................. 92

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IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO

Esta pesquisa tem como objetivo investigar as ações de formação

continuada oferecidas pelos órgãos públicos, procurando diagnosticar os limites e

potencialidades dessas ações enquanto facilitadoras do trabalho docente, bem

como identificar as relações entre esses processos formativos e as necessidades

dos professores quanto à sua prática educativa.

Entendemos que a concepção sobre formação de professores não é a

mesma para todas as épocas e sociedades. A formação de professores está

situada social e historicamente, refletindo o que cada sociedade, em diferentes

períodos, pensa sobre educação e sobre “ser professor”. No que se refere à

formação do professor de matemática, não é diferente. O que se espera da escola

hoje com relação à aprendizagem matemática é diferente da matemática

aprendida pela maioria dos professores que ensinam esta disciplina na educação

básica.

A experiência tácita como formadora de Professores da Educação Básica,

na área de Matemática, mostra que essa dicotomia entre “o aprendido” e “o a

ensinar” tem gerado desconfianças em relação às tendências apontadas pelas

pesquisas em Educação Matemática realizadas nos últimos anos e insegurança

quanto às mudanças de práticas requeridas pela sociedade atual, no que se

refere às aprendizagens Matemáticas.

Entendemos que a formação dos professores de Matemática da Educação

Básica, no contexto da sociedade atual, precisa ser concebida como um processo

contínuo de desenvolvimento profissional, em que identidade, crenças,

concepções, valores e conhecimentos sejam considerados, para que de fato

possam provocar rupturas e promover a melhoria da aprendizagem matemática

dos alunos.

O Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo –

SARESP e o Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB mostram que ao

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final da educação básica os alunos não têm garantido os conhecimentos

matemáticos mínimos necessários para atender às demandas da sociedade atual.

A necessidade de adequar o trabalho docente a uma realidade social marcada

pela crescente presença do conhecimento Matemático e da tecnologia em

diversos campos da atividade humana faz-se necessário, uma vez que as

transformações sociais, tecnológicas e políticas modificam a forma de pensar e

fazer Educação. Este é o cenário no qual se trava a luta pela renovação da

“identidade docente”, conforme pontua Tenti Fanfani (2007, p.336):

Existe uma série de mudanças sociais, que junto com as transformações ocorridas nos sistemas educacionais, a interpelar o trabalho dos professores da educação básica. Estas transformações constituem o pano de fundo sobre o qual se desenvolve a luta pela renovação da identidade docente. (tradução nossa)

1.

A mudança na forma como a sociedade interage com o conhecimento,

impulsionada pelo uso dos recursos tecnológicos, torna mais complexo o trabalho

do professor, uma vez que, as informações estão mais acessíveis e chegam a

diferentes lugares em tempo real. Com isso, a escola já não é mais o único lugar

da informação e, consequentemente, ao professor já não basta o papel de

transmissor de conhecimento.

Esse movimento de mudanças sociais e educacionais faz com que se (re)

pense os processos de formação de professores. No contexto da sociedade atual,

Mizukami (2002, p.12) considera que o aprender “ser professor” não se conclui

com o aprendizado de conteúdos e técnicas de ensino, mas sim “por meio de

situações práticas que sejam efetivamente problemáticas, o que exige o

desenvolvimento de uma prática reflexiva competente”.

Nesse sentindo, podemos afirmar que dentre as variáveis intervenientes do

processo de ensino e aprendizagem de Matemática encontram-se a formação

inicial e continuada dos professores. Consideramos que o problema da qualidade

do ensino, e em especial do ensino de Matemática, passa também pela formação

1 Existen una serie de cambios sociales que, junto con las transformaciones acontecidas en los

sistemas educativos, interpelan el trabajo de maestros y profesores de educación básica. Estas transformaciones constituyen el telón de fondo sobre el que se desenvuelve la lucha por la renovación de la identidad docente.

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do professor, e pelas características da formação continuada oferecida pelos

órgãos públicos e pelas condições de sua realização.

Entendemos o processo educacional como um movimento dinâmico e que

os professores precisam acompanhar essa dinâmica sistemática num continuum

de formação que, conforme pontuam Fiorentini e Nacarato (2005, p. 9) pode

“ajudá-los a se tornar os principais protagonistas de seu desenvolvimento

profissional e do processo educacional”. O que a nosso ver, não isenta as

entidades educacionais e os órgãos públicos da responsabilidade com a formação

continuada dos professores.

Quando falamos em formação continuada de professores estamos nos

vinculando ao exposto por Garcia (1999, p. 26):

A formação de Professores é a área de conhecimentos, investigações e de propostas teóricas e práticas que, no âmbito da Didáctica e da Organização Escolar, estuda os processos através dos quais os professores – em formação ou em exercício – se implicam individualmente ou em equipe, em experiências de aprendizagem através das quais adquirem ou melhoram os seus conhecimentos, competências e disposições, e que lhes permite intervir profissionalmente no desenvolvimento do seu ensino, do currículo e da escola, com o objectivo de melhorar a qualidade da educação que os alunos recebem.

Esse conceito de formação está relacionado, portanto, com a ideia de

formação que se inicia na graduação, mas, que não acaba aí. Vai se

desenvolvendo ao longo de toda a trajetória profissional e se concretizando no

próprio fazer educativo.

Com relação à Matemática, compartilhamos do exposto por Bicudo et al

(1987, p.9-10):

A Matemática, enquanto uma área do conhecimento humano, mostra aspectos do Ser. Possui um modo próprio de ser e de mostrar-se, o qual aparece na sua linguagem, nas suas afirmações, no afirmado nas suas proposições, nas formas de raciocínio utilizadas para ligar umas proposições às outras, na maneira pela qual estrutura suas teorias, no significado social que possui, nas suas ligações com outras áreas de conhecimento, na forma utilitária em que é usada pelas ciências aplicadas, pela técnica e pela tecnologia, pelo componente ideológico que a sustenta, no sentido de verdade que atribui às suas afirmações.

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Quanto ao ensino de Matemática e a formação de professores de

Matemática, Fiorentini e Lorenzato (2006, p.3) pontuam a diferença entre o olhar

do matemático e do educador matemático. Segundo ele:

O matemático, por exemplo, tende a conceber a matemática como um fim em si mesma, e, quando requerido a atuar na formação de professores de matemática, tende a promover uma educação para a matemática priorizando os conteúdos formais dela e uma prática voltada à formação de novos pesquisadores em matemática. O educador matemático, em contrapartida, tende a conceber a matemática como um instrumento importante à formação intelectual e social de crianças, jovens e adultos e também do professor de matemática do ensino fundamental e médio e, por isso, tenta promover uma educação pela matemática.

Essas reflexões levaram-nos a questionar sobre quem são os professores

de Matemática que participaram das diferentes ações de formação continuada, no

período de 2005 a 2010, realizadas na Diretoria de Ensino – Região de Assis por

meio de convocação, para as Orientações Técnicas e ou via convite para os

cursos realizados fora do horário de trabalho dos docentes. Por que esses

professores participaram desses processos formativos? Qual a motivação para

sua participação? O que buscavam nos encontros? Qual a relação entre os

processos de formação continuada oferecidos e a prática educativa na

perspectiva dos professores de Matemática participantes desses processos?

Quais os limites e as potencialidades desencadeados por esses processos em

termos de facilitadores do trabalho docente na visão do Professor de Matemática?

Essas indagações demandaram a realização de investigação sobre as

ações formativas oferecidas pelos órgãos públicos no sentido de identificar as

relações entre esses processos e a prática dos professores que ensinam

Matemática na escola pública. Neste sentido, esta pesquisa investiga as ações de

formação continuada oferecidas aos Professores de Matemática da Rede

Estadual de Ensino de São Paulo, no período de 2005 a 2010 na Diretoria de

Ensino da Região de Assis, procurando diagnosticar os limites e potencialidades

dessas ações enquanto facilitadoras do trabalho docente, bem como ainda

identificar as relações entre esses processos formativos e as necessidades dos

professores quanto à sua prática educativa.

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Para buscar respostas aos nossos questionamentos realizamos uma

pesquisa de abordagem qualitativa por meio de revisão bibliográfica sobre o tema,

análise documental, aplicação de questionários e realização de entrevista

semiestruturada com professores de Matemática. A análise dos dados foi

realizada com base nos conceitos de Capital Cultural, Capital Social e Habitus de

Pierre Bourdieu.

Apresentamos aqui os resultados de nosso estudo, os caminhos

percorridos, os dados coletados, as análises e nossas considerações sobre

algumas das possíveis respostas encontradas.

No Capítulo I apresentamos uma reflexão sobre as políticas públicas de

formação continuada tomando como base os estudos de Gatti et al (2011).

Analisamos as principais tendências das pesquisas relacionadas à formação

continuada de professores de Matemática, exibimos um estudo detalhado de

cinco trabalhos, realizados em nível de mestrado e doutorado, sobre formação

continuada de professores de Matemática e apresentamos algumas reflexões

sobre os processos formativos e as necessidades dos professores de Matemática

frente aos desafios da prática.

No Capítulo II, discutimos os conceitos de Capital Social, Capital Cultural e

Habitus, desenvolvidos por Pierre Bourdieu, como referencial teórico para análise

das percepções dos professores entrevistados sobre as ações de formação

continuada das quais participaram.

No Capítulo III, indicamos os caminhos percorridos, a opção metodológica

e os instrumentos utilizados para a coleta dos dados imprescindíveis para nossa

investigação.

No Capítulo IV, elucidamos os resultados obtidos, indicando as ações de

formação continuada realizadas, traçando o perfil dos professores participantes

dessas ações, mostrando como tem sido a participação dos professores nas

ações de formação continuada oferecidas, e destacando alguns aspectos

relacionados às motivações, fragilidades e potencialidades dessas ações.

No Capítulo V, analisamos as entrevistas realizadas com três professores

de Matemática, participantes de ações de formação continuada. Esta análise foi

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feita a partir da construção de narrativas sobre a trajetória de formação dos

professores entrevistados, tendo como pressuposto os conceitos de capital social,

capital cultural e habitus.

Por último tecemos nossas Considerações Finais sobre a pesquisa

realizada na qual procuramos responder as questões iniciais e apresentar

algumas reflexões sobre as políticas públicas de formação continuada de

professores de Matemática da Educação Básica.

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CCAAPPÍÍTTUULLOO II

Das políticas públicas para a formação

continuada de professores aos processos

formativos

Neste Capítulo, apresentamos uma reflexão sobre o contexto mais amplo e

as implicações das políticas públicas para a formação de professores.

Inicialmente, discutimos as políticas públicas de formação continuada de

professores realizada no Brasil, a partir da década de 1990, sob a influência da

política neoliberal e do impacto do processo de globalização tomando por base os

estudos de Gatti et al (2011).

Em seguida, analisamos as principais tendências das pesquisas

relacionadas à formação continuada de professores de Matemática, tendo como

referência os trabalhos de Oliveira e Ponte (1996); Fiorentini e Lorenzato (2006) e

um levantamento realizado em 2012, junto ao banco de teses da Capes. Neste

momento ainda, apresentamos um estudo detalhado de cinco trabalhos,

realizados em nível de mestrado e doutorado, sobre formação continuada de

professores de Matemática.

Por fim, expomos algumas reflexões sobre os processos formativos e as

necessidades dos professores de Matemática frente aos desafios da prática.

1.1 Políticas públicas de formação continuada de professores

A formação continuada de professores tem se tornado nas últimas

décadas, com mais intensidade a partir da década de 1990, foco das ações

desenvolvidas pelas políticas públicas em educação em diversos países ao

mesmo tempo em que vem recebendo a atenção de pesquisadores nacionais e

internacionais na área de Educação Matemática.

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A preocupação dos pesquisadores com a formação continuada de

professores iniciada nos anos 90 reflete o movimento político e econômico da

época. E não sem razão, uma vez que neste período os órgãos públicos

brasileiros começaram a desenvolver ações voltadas para este fim. Segundo

Fiorentini (2008, p. 44 - 45):

A pressão sobre a mudança da escola e a atualização dos professores [...] é decorrente, de um lado, das rápidas transformações no processo de trabalho e de produção da cultura no contexto da globalização, sob um regime de política econômica neo-liberal e, de outro, do desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação.

O contexto da globalização, regido pela política neoliberal, passa a intervir

nas políticas públicas educacionais brasileiras do mesmo modo que modifica a

forma de pensar a formação continuada de professores. Fiorentini et al (2002, p.

156) apontam uma “mudança paradigmática em relação à concepção de pesquisa

e de processo de formação docente”, que passam a partir dos anos 90 “de uma

concepção de pesquisa para professores para uma concepção de pesquisa com

professores” (p. 158).

No que se refere às políticas públicas o governo brasileiro, sob a influência

e com o apoio do Banco Mundial, aprova em 1996 a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional - LDB/96 e as reformas curriculares para o Ensino Básico,

com a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (BRASIL, 1996),

e em 2001 a elaboração do Plano Nacional de Educação – PNE (BRASIL, 2001).

Segundo Fiorentini (2008, p.46), dentre essas ações o que provocou “maior

impacto sobre a formação do professor foi o PNE, pois colocou a exigência de

que todos os professores do Ensino Básico deveriam, até 2007, concluir sua

formação em nível superior”.

No intuito de mostrar a dinâmica das políticas docentes desenvolvidas nos

últimos anos, Gatti et al (2011) fazem um balanço das políticas públicas em

educação implementadas no Brasil pelas três esferas de governos, federal,

estadual e municipal. Para tanto, as autoras identificaram e analisaram políticas

educativas relacionadas à formação inicial e continuada de professores; à carreira

docente; às formas de recepção e acompanhamento dos professores iniciantes; e

aos subsídios ao trabalho docente. O estudo é resultado de uma pesquisa

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realizada pelas autoras em parceria com a UNESCO - Organização das Nações

Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura e o MEC - Ministério da Educação,

com apoio do CONSED - Conselho Nacional de Secretários de Educação e da

UNDIME - União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação.

A respeito das pesquisas que envolvem a formação de professores, as

autoras apontam que os estudos nessa área sofreram um aumento significativo

nos últimos anos, sendo que na década de 90 apenas 7% das pesquisas em

educação tinham como foco a formação de professores enquanto que, logo no

início dos anos 2000, esse percentual cresce rapidamente chegando a 22% em

2007. Além do aumento na quantidade de pesquisas, esses trabalhos apontam

também uma mudança no objeto de estudo dessas pesquisas que nos anos 90

centravam-se nos cursos de formação inicial de professores e nos anos 2000

volta-se para o professor, seus saberes, práticas, opiniões e representações.

Para Gatti et al (2011, p. 15),

[...] essa mudança de foco das pesquisas provoca dois tipos de preocupação: por um lado, que não se deixe de investigar a formação inicial, que ainda carece de muito conhecimento sobre como formar professores competentes para atuar no mundo atual; por outro lado, as pesquisas não podem correr o risco de reforçar uma ideia, corrente no senso comum, de que o (a) professor(a) é o único elemento no qual se deve investir para melhorar a qualidade da educação. Há outros elementos igualmente importantes – como a valorização social da profissão, os salários, as condições de trabalho, a infraestrutura das escolas, as formas de organização do trabalho escolar, a carreira – que devem fazer parte de uma política geral de apoio aos docentes. São múltiplos os fatores que não podem ser esquecidos, nem desconsiderados no delineamento de políticas para os professores.

Para as autoras, as características da sociedade atual (globalizada e

inclusiva); a educação como direito de todos; a origem social dos professores,

principalmente dos anos iniciais, e o discurso da competência (do professor e a

desenvolver no aluno) são aspectos que precisam ser considerados quando se

refere à formação continuada de professores.

Gatti et al (2011, p. 31) ponderam que “para melhor entender as políticas

públicas docentes é preciso considerá-las no bojo das políticas educacionais que

as configuram”, o que envolve financiamento e gestão curricular.

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Quanto ao financiamento, a LDB/96 prevê em seu artigo 69, Título VII –

dos Recursos Financeiros, que “a União aplicará, anualmente, nunca menos de

dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, vinte e cinco por cento,

[...] da receita resultante de impostos [...] na manutenção e desenvolvimento do

ensino público”.

Para garantir a distribuição de verba para todas as regiões do país foi

criado em 1996 o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), que foi substituído em

2007 pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de

Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) ampliando, assim, o

atendimento a toda a educação básica. O Fundeb prevê que 60% dos seus

recursos devem ser destinados à remuneração e ao aperfeiçoamento dos

docentes e demais profissionais da educação.

Segundo Gatti et al (2011, p. 33), esses fundos possibilitaram “a

construção de políticas mais equânimes de valorização do magistério” e

“alicerçaram nos estados e nos municípios as bases para o incremento de

políticas de ampla envergadura de formação em serviço de docentes, entendidas

como um direito dos profissionais da educação e como uma condição

indispensável ao exercício da profissão” (p. 34).

Além desses fundos, as autoras apontam também que outras medidas

foram tomadas, pelo governo federal a partir do ano 2000, voltadas ao

financiamento e desenvolvimento da educação brasileira, dentre essas ações

podem ser destacados: o fortalecimento do Fundo Nacional de Desenvolvimento

da Educação – FNDE enquanto financiador das ações promovidas pelo Ministério

da Educação; o Plano de Metas Compromisso de Todos pela Educação lançado

pela Presidência da República e o Plano de Desenvolvimento da Educação –

PDE do MEC, ambos de 2007. Este último, com o objetivo de reduzir as

desigualdades sociais e regionais relativas à educação básica, a alfabetização, a

educação continuada e a diversidade, educação tecnológica e profissional e a

educação superior, tendo como um de seus desdobramentos o PAR - Plano de

Ações Articuladas, que segundo Gatti et al (2011, p. 34 - 5):

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[...] permite ao MEC oferecer apoio técnico e financeiro aos municípios com índices insuficientes de qualidade do ensino. O PAR está estruturado em quatro dimensões: gestão educacional, formação de professores e dos profissionais de serviço e apoio escolar, práticas pedagógicas e avaliação, infraestrutura física e recursos pedagógicos. Considerado fundamental pelo MEC para a melhoria da educação básica, o PAR acentua o caráter centralizador das políticas educativas na esfera federal. Uma vez que todas as transferências voluntárias e a assistência técnica do governo federal passam a ser vinculadas à adesão ao Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação e à elaboração do PAR, este constitui um instrumento adicional de regulação financeira das políticas docentes.

A respeito da formação continuada de professores, observamos que esta

tem recebido a atenção dos legisladores desde a promulgação da LDB/96. Em

2001 foi criado o Plano Nacional de Educação (PNE), com objetivos de elevar o

nível de escolaridade da população; melhorar a qualidade do ensino em todos os

níveis; reduzir as desigualdades sociais e regionais no tocante ao acesso e à

permanência e democratizar a gestão do ensino público, nos estabelecimentos

oficiais. Segundo Richit (2010, p. 58):

O PNE tem favorecido [...] a formação em serviço e continuada de professores em diversas áreas do conhecimento, pois pressupõe que a qualificação da educação não se dissocia da qualificação profissional do professor. Dentre as ações que estão sendo disseminadas a partir do ano de 2009, destaca-se a distribuição de material pedagógico aos professores de diversas áreas do conhecimento. Esses materiais abordam temas pedagógicos da prática docente, referenciais teóricos sobre formação de professores, as recentes tendências no ensino e sugestões para a prática da sala de aula.

Segundo Gatti et al (2011, p. 49), na perspectiva de construir um sistema

nacional de educação voltado para a formação em serviço dos profissionais da

educação e com base na dispersão e fragmentação das políticas docentes no

país; no descompasso entre os programas de formação para o magistério e nas

demandas da educação básica, o governo federal “tomou uma série de iniciativas,

tendo em vista promover a sua articulação, particularmente no âmbito das

instituições públicas, em busca de assegurar uma educação de qualidade como

direito de todos”. Essas iniciativas correspondem a:

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Criação em 2006 da UAB – Universidade Aberta do Brasil, com o objetivo

de promover a formação inicial e continuada de professores por meio da

Educação a distância;

Alteração em 2007 na estrutura e atribuição da CAPES que passa a

responsabilizar-se pelos processos de formação docente em todos os

níveis de ensino;

Instituição em 2009 de uma política nacional de formação dos profissionais

da educação básica para a promoção de programas de formação inicial e

continuada dos profissionais do magistério das redes públicas de educação

básica;

Formulação do plano nacional de formação de professores da educação

básica – PARFOR, para ministrar cursos superiores aos professores em

exercício na educação básica;

Ampliação das funções da Rede Nacional de Formação Continuada de

Profissionais da Educação Básica que passa a definir e coordenar a

atuação do MEC, da Capes e do FNDE com as Instituições de Ensino

Superior e os Sistemas de Ensino. Integram as ações dessa rede, os

programas: Pró-Letramento; Gestar II e Especialização em Educação

Infantil.

A partir da análise dos processos de formação continuada desenvolvidas

em diferentes estados e municípios brasileiros, Gatti et al (2011, p. 198)

evidenciaram que essas ações

consistem geralmente em realização de oficinas, palestras, seminários e cursos de curta duração, presenciais e a distância, ofertados pelas próprias secretarias da Educação ou decorrentes de contratos firmados com instituições universitárias, institutos de pesquisa ou instituições privadas.

Quanto ao foco das ações de formação continuada, o estudo realizado por

Gatti et al (2011, p. 199) revela que estes se orientam para o desenvolvimento do

currículo, sendo a língua portuguesa e a matemática as áreas priorizadas nessas

ações. Segundo as autoras, “essa perspectiva assinala que o investimento na

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formação continuada se orienta para que os professores possam aperfeiçoar a

ação docente, de modo que seus alunos obtenham sucesso na aprendizagem”.

No caso do Estado de São Paulo, Gatti et al (2011) assinalam que este

estado desde a década de 1980, tem se sobressaído no desenvolvimento de

programas de formação continuada de professores de “largo alcance”, tais como:

o Programa de Educação Continuada (PEC); O Programa da Educação

Continuada de Formação de Professores (PEC/FOR PROF) que mais tarde

passou a denominar-se PEC Formação Universitária e o Programa Teia do Saber.

O Programa de Educação Continuada (PEC), realizado entre os anos 1997

e 1998, incluía projetos voltados à formação continuada de diferentes

profissionais da educação básica: supervisores de ensino; diretores de escola;

assistentes técnico-pedagógicos; professores coordenadores; professores do

ensino fundamental, e à avaliação externa. Segundo Gatti et al (2011, p. 227),

esse programa foi desenvolvido com o objetivo de “articular as ações

desencadeadas pela Secretaria de Estado de Educação de São Paulo (SEE/SP)”.

O Programa da Educação Continuada de Formação de Professores

(PEC/FOR PROF) ou PEC Formação Universitária, conforme passou a ser

denominado em sua segunda edição, era destinado a professores das séries

iniciais do ensino fundamental em exercício com o intuito de promover a formação

em nível superior para esses professores. Esse programa foi desenvolvido pela

Secretaria de Estado da Educação de São Paulo – SEE/SP em parceria com a

USP, a UNESP e a PUC-SP.

O Programa Teia do Saber foi implementado em 2003 contemplando ações

centralizadas e descentralizadas constituindo-se como principal eixo da política

educacional do estado, ao qual a maioria das ações de formação docente

desenvolvidos pela SEE/SP passa a vincular-se. Segundo a Secretaria da

Educação, esse programa foi concebido com a finalidade de: aliar à teoria as

vivências dos professores que atuam nas escolas públicas estaduais; atualizar os

professores quanto às metodologias de ensino voltadas para práticas inovadoras;

e instrumentalizar os professores para o uso das tecnologias no ensino, organizar

situações de aprendizagem e enfrentar as contradições vividas nas salas de aula.

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Entre as ações centralizadas vinculadas ao Programa Teia do Saber, Gatti

et al (2011) destacam os programas: Letra e Vida, Alfabetização e Inclusão (PAI),

Capacitação sobre Currículo do Ensino Médio, Capacitação sobre Protagonismo

Juvenil, Capacitação em Arte e Educação Física para docentes das séries iniciais

do Ensino Fundamental e o Projeto Construindo Sempre/USP.

A respeito das ações descentralizadas ligadas à Teia do Saber, Gatti et al

(2011, p. 228) pontuam que estas:

Ocorreram nas Oficinas Pedagógicas situadas nos órgãos regionais ou, para sua realização podem ser contratadas por esses órgãos IESs ou especialistas, com o objetivo de capacitar os professores dos quatro anos finais do ensino fundamental e do ensino médio. As ações são baseadas nos princípios da ação-reflexão-ação, os cursos e os temas desenvolvidos norteiam-se pelas diretrizes e pelos parâmetros curriculares nacionais, tendo como referência os indicadores de desempenho dos alunos. As ações podem ser de mobilização, consolidação, formação e especialização profissional e ações de formação específica.

Apesar da preocupação da Secretaria da Educação do Estado de São

Paulo com a formação continuada dos profissionais da educação, Fiorentini

(2008) considera que os programas e ações implementados pela SEE/SP tem se

alinhado a um modelo estrutural2 de formação. Segundo o autor, esse modelo

fundamenta-se na racionalidade técnica, organizada a partir de uma proposta

previamente organizada pressupondo atualização de conhecimentos, informações

e inovações metodológicas. Caracterizam-se por cursos instrutivos produzidos e

sistematizados distanciados das práticas profissionais. Na avaliação de Fiorentini

(2008, p. 61), o Programa Teia do Saber da SEE/SP articulado ao modelo

estrutural de formação acabou reproduzindo uma prática descontínua de

formação de professores.

Descontínua em relação à sua prática docente na escola, pois não a toma como ponto de partida e objeto de estudo e problematização nos encontros de formação. Descontínua em relação à freqüência, pois é oferecida de tempos em tempos, com grandes intervalos de interrupção. Descontínua também em relação à formação inicial do professor ou aos conhecimentos que o professor adquiriu anteriormente ou vem adquirindo a partir dos desafios de sua prática.

2 Um dos modelos básicos de formação continuada de professores denominados por Nóvoa

(1992).

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O trabalho de Gatti et al (2011) e Fiorentini (2008) nos fazem pensar, se e

como, as ações formativas desenvolvidas pelos órgãos públicos possibilitam

rupturas e construção de novos habitus no espaço escolar e nas práticas dos

professores envolvidos. As ações aqui apresentadas são algumas das quais

mencionamos em nosso trabalho e que nos ajudaram no levantamento dos

processos de formação continuada desenvolvidas na Diretoria de Ensino da

Região de Assis, no período de 2005 a 2010.

1.2 Formação Continuada de Professores de Matemática: o que dizem

respeito

Conforme Ponte (1998, p.1), “Falar de formação é um terrível desafio”

devido ao grande número de fatores que precisam ser considerados quando

abordamos esta temática, seja ela inicial ou continuada. Investigar os processos

de formação continuada de professores exige do pesquisador um olhar para

diferentes aspectos dessa formação que envolve identidade, crenças,

concepções, valores, conhecimentos e profissão docente. O que, aliás, tem sido

objeto de estudo em vários trabalhos de pesquisa na área de educação

matemática.

O estudo realizado por Oliveira e Ponte (1996), em que procura delinear as

tendências internacionais sobre o professor de matemática, apontam três grandes

áreas de interesse dos pesquisadores: 1- Fundamentos, relacionados às

concepções, crenças, atitudes e identidade Profissional; 2 - Conhecimento de

Base, relativos à Matemática, conhecimento matemático, aprendizagem, aluno; e

3- Conhecimento na Ação e Práticas, referentes ao saber-fazer, dilemas,

tomada de decisões.

As pesquisas com enfoque nos Fundamentos, segundo os autores,

evidenciam que o estudo das concepções só tem sentido se estiver ligado ao

estudo das práticas e das condições profissionais dos locais de exercício da

atividade docente, o que envolve crenças e atitudes do professor quanto à

matemática, ao seu ensino e à didática. Sobre conhecimento de base o estudo

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realizado por Oliveira e Ponte (1996, p. 8) revela que, de forma direta ou indireta,

as pesquisas com esse enfoque utilizaram como quadro teórico o modelo de

Shulman, uma vez que envolvem conhecimento do conteúdo, conhecimento

pedagógico e conhecimento didático. No quadro teórico dos estudos relativos ao

conhecimento na ação e práticas há predomínio da psicologia, que pode ser

explicado devido às perspectivas didáticas e à metodologia de investigação-ação

das pesquisas analisadas.

Em termos de Brasil, Fiorentini e Lorenzato (2006) mostram que tentativas

sistemáticas de estudos referentes à aprendizagem, ao ensino e ao currículo de

Matemática surgiram a partir dos anos 1970, ainda que de forma dispersa. No

período entre 1971 e 1978, os autores encontraram 29 pesquisas produzidas

relacionados à Educação Matemática, tendo como focos temáticos: estudo,

desenvolvimento e testagem de métodos de ensino ou de propostas pedagógicas;

estudos sobre currículo escolar ou processo de ensino-aprendizagem da

Matemática e estudos de natureza psicológica ou cognitiva. Sendo que a maioria

desses trabalhos foi produzida em programas ligados às faculdades de educação.

A partir dos anos 1980, com o processo de redemocratização do país após

o fim da ditadura militar, novos problemas são colocados e com eles surgem

novas formas de investigação. Segundo Fiorentini e Lorenzato (2006), entre 1983

e 1990 foram produzidas, entre teses e dissertações, mais de 120 estudos na

área de Educação Matemática. O foco temático dessas pesquisas refere-se: ao

estudo ou experimentação de métodos ou técnicas de ensino; etnomatemática e

educação de adultos; cognição matemática; filosofia, história, epistemologia e

ensino de matemática; formação inicial e continuada de professores; materiais

didáticos e meios de ensino; currículo; cotidiano escolar; concepções,

significados, ideologia no ensino-aprendizagem.

Em 2012, realizamos um levantamento no banco de teses da Coordenação

de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) considerando o

período de 1987 a 2011 e utilizando as consignas: “Educação Matemática”;

“Professores de Matemática”; “Educação Matemática e Professores de

Matemática”. Encontramos, entre dissertações e teses, 2769 trabalhos

relacionados à Educação Matemática, 2939 referentes ao Professor de

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Matemática e relacionando os dois assuntos encontramos 1726 trabalhos.

Somente no ano de 2011 foram produzidos 375 trabalhos sobre Educação

Matemática, 370 sobre o Professor de Matemática e 246 sobre Educação

Matemática e Professores de Matemática, conforme mostra a tabela a seguir:

Tabela 1: Número de pesquisas realizadas, por período, sobre Educação Matemática, Professores de Matemática e envolvendo ambos os temas.

Período

Educação

Matemática

Professores

de Matemática

Educação Matemática

e Prof. de Matemática

1987 - 1989 19 25 7

1990 – 1995 95 94 37

1996 – 2000 254 299 157

2001 – 2005 668 732 420

2006 – 2010 1358 1419 859

2011 375 370 246

Totais 2769 2939 1726

Fonte: banco de teses da Capes

Os dados apresentados na tabela 1 mostram uma evolução no número de

pesquisas envolvendo Educação Matemática e Professores de Matemática. Isto

reflete que a preocupação dos pesquisadores brasileiros em relação a essas

temáticas vem se intensificando nos últimos anos.

Para identificar o foco das pesquisas realizadas no período de 1987 a 2011

envolvendo ambos os descritores “Educação Matemática e Professores de

Matemática”, analisamos o título e as palavras-chave dos trabalhos encontrados

no banco da CAPES. Num primeiro momento copiamos o título dos trabalhos na

planilha excel e utilizando a ferramenta “localizar” buscamos pelos temas

apontados nas pesquisas realizadas por Oliveira e Ponte (1996) e Fiorentini e

Lorenzato (2006). Em seguida, procuramos por temas relacionados ao nosso

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objeto de estudo, tais como: Ensino de Matemática; Formação Continuada de

Professores de Matemática; Políticas Públicas; Habitus; Capital Cultural e

Ruptura.

Tabela 2: Temas das pesquisas realizadas no período de 1987 a 2011 de acordo com o banco de teses da CAPES

Temas Quantidade encontrada

Matemática, Conhecimento Matemático, Aprendizagem, Aluno.

1305

Concepções, Significados, Ideologia no Ensino-Aprendizagem

101

Concepções, Crenças, Atitudes e Identidade Profissional.

97

Filosofia, História, Epistemologia do Ensino de Matemática

74

Ensino de Matemática 65

Formação Inicial e Continuada de Professores 56

Currículo 30

Etnomatemática 27

Processo de Ensino-Aprendizagem da Matemática

24

Métodos ou Técnicas de Ensino 23

Saber-Fazer; Dilemas; Tomada de Decisão 17

Formação Continuada de Professores de Matemática

15

Políticas Públicas 1

Cotidiano Escolar 3

Capital Cultural; Habitus; Ruptura 1

Fonte: banco de teses da CAPES

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A busca feita nos títulos dos trabalhos mostra que as temáticas elencadas

foram investigadas pelas pesquisas realizadas entre 1987 e 2011, no entanto, não

foi possível afirmar que apenas essas temáticas tenham sido investigadas

tampouco quais outros temas foram investigados nesse período. Assim, após a

busca nos títulos, analisamos as palavras-chave desses trabalhos procurando

identificar as temáticas que mais tem sido objeto de investigação das pesquisas

realizadas nas duas últimas décadas em relação à Educação Matemática e a

Professores de Matemática.

Para isto, copiamos todas as plavras-chave na planilha excel e

classificamos essas palavras ou expressões em ordem alfabética, o que permitiu

agrupar as que apareceram mais de uma vez. A partir deste agrupamento

identificamos 1761 palavras-chave diferentes.

Como o número de palavras encontradas é muito grande optamos por

agrupá-las por assuntos. Entretanto, devido à variedade de temas abordados não

foi possível agrupá-los em um único assunto. Neste sentido, elencamos apenas

os que mais apareceram nos trabalhos publicados no banco da CAPES.

Tabela 3: Número de palavras-chave agrupadas por assunto pesquisado

Assuntos pesquisados Quantidade encontrada

Matemática e Educação Matemática 642

Formação de Professores 488

Ensino e Aprendizagem 360

Tecnologia, informática, software educacional, ambientes virtuais de aprendizagem

296

Políticas Públicas 290

Educação 209

Professor e Prática Docente 191

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Objetos Matemáticos 185

Geometria 125

Etnomatemática, Educação de Jovens e Adultos, Educação Indígena

123

Avaliação da aprendizagem e avaliação institucional

114

Concepções, Crenças, Identidade e Saberes Docentes

93

Resolução de Problemas e Modelagem 84

Educação Especial e Educação Inclusiva 81

Jogos 39

Ao comparar as temáticas das pesquisas envolvendo o professor de

Matemática e Educação Matemática com as apresentadas nas tabelas 2 e 3

constatamos que o interesse das investigações tem acompanhado os movimentos

de mudanças culturais, tecnológicas e políticas que ocorrem na sociedade atual.

A partir do final da década de 1980 passam a merecer atenção dos

pesquisadores temas, como: políticas públicas; tecnologia na educação e

educação à distância, educação de jovens e adultos, educação indígena,

educação inclusiva; práticas avaliativas; modelagem e resolução de problemas;

jogos e, outros como formação de professores que aparecem em pesquisas

anteriores, continuam despertando o interesse dos pesquisadores.

Realizando uma investigação com o tema mais abrangente “Formação de

Professores”, encontramos no período de período de 1987 a 2011, 16109

trabalhos envolvendo tanto a formação inicial quanto a formação continuada de

professores. Considerando apenas o descritor “Formação Continuada de

Professores” encontramos nesse período 4233 trabalhos, o que representa

aproximadamente 26% das pesquisas sobre formação de professores.

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Tabela 4: Distribuição das pesquisas sobre Formação de Professores no período de 1987 a 2011

Período Formação de Professores

Formação Continuada de Professores

1987 - 1989 108 3

1990 – 1995 514 41

1996 – 2000 1651 361

2001 – 2005 4565 1171

2006 – 2010 7502 2164

2011 1796 493

Totais 16109 4233

Fonte: banco de teses da Capes

O banco de teses da Capes divulga as pesquisas realizadas a partir de

1987, embora nem todas no período inicial estejam presentes neste banco.

Contudo, pelos dados obtidos podemos constatar que a preocupação dos

pesquisadores com a formação de professores de modo geral, e mais

especificamente com a formação continuada, começa a se intensificar a partir da

década de 90.

Utilizando o descritor “Formação Continuada de Professores de

Matemática”, encontramos 440 trabalhos no período de 1987 a 2011.

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Tabela 5: Distribuição, por período, das pesquisas sobre Formação Continuada de Professores de Matemática

Período

Formação Continuada de Professores de Matemática

1987 - 1989 0

1990 – 1995 3

1996 – 2000 39

2001 – 2005 114

2006 – 2010 222

2011 62

Totais 440

Fonte: banco de teses da Capes

Os dados apresentados na tabela 5 mostram que até meados do ano de

1995 a preocupação com a “formação continuada de professores de Matemática”

praticamente não existia. No entanto, em 1996 o número de pesquisas relativas a

essa temática dá um salto significativo, passando de 3 trabalhos no período de

1990 a 1995 para 39 trabalhos, no período de 1996 a 2000, o que representa um

aumento de 13 vezes no número de pesquisas realizadas. Essa mudança de

postura em relação ao foco das pesquisas pode ser explicada pelas reformas

políticas e econômicas ocorridas nos anos 1990, que provocou modificações no

cenário mundial, inclusive nas políticas educacionais brasileiras.

Efetuando uma busca por instituição, no período de 1987 a 2011,

encontramos trabalhos realizados nas diversas instituições, públicas e

particulares, espalhadas nas diferentes regiões do país.

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Tabela 6: Distribuição das pesquisas sobre formação continuada de

professores de Matemática por Instituição

Instituição PUC/ SP UNESP USP UFSCAR UNICAMP

Nº de

pesquisas

realizadas

52 44 22 19 11

Fonte: banco de teses da Capes

Neste levantamento, observamos que cerca de um terço das pesquisas,

envolvendo o descritor “Formação Continuada de Professores de Matemática”,

foram desenvolvidas por Universidades Paulistas, sendo a PUC/SP e a UNESP

as instituições que mais produziram trabalhos com essa temática.

Conforme os dados coletados no banco da CAPES pode-se observar que

as pesquisas realizadas nos Programas de Pós-Graduação nos níveis de

mestrado e doutorado nas Universidades Brasileiras evidenciam preocupação dos

pesquisadores a respeito da formação continuada de professores de Matemática.

1.2.1. Um Estudo de trabalhos específicos sobre formação continuada de

professores de Matemática

A partir da análise dos títulos e palavras-chave das pesquisas sobre

formação continuada de professores de Matemática encontradas no banco de

teses da Capes, no período de 1987 a 2011, selecionamos para estudo cinco

trabalhos com os quais nos identificamos e que se relacionam com o nosso objeto

de pesquisa.

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Quadro 1: Identificação das pesquisas sobre Formação Continuada de

Professores de Matemática selecionadas para estudo.

Autor Ano

Nível

Acadêmico

Programa Instituição

MODESTO, Marco

Antonio 2002 M

Educação para a

Ciência

UNESP –

Campus

Bauru

MANRIQUE, Ana

Lúcia 2003 D

Educação:

Psicologia da

Educação

PUC - SP

COSTA,

Reginaldo

Rodrigues da

2005 M Educação PUC - PR

TONON, Sandra

de Fátima Tavares

Rodrigues

2010 M Educação

Matemática PUC - SP

RICHIT, Adriana 2010 D Educação

Matemática

UNESP –

Campus de

Rio Claro

Os trabalhos de Modesto (2002), Manrique (2003), Costa (2005), Tonon

(2010), e Richit (2010) investigam a formação continuada de professores de

Matemática por meio da pesquisa de abordagem qualitativa. Com exceção do

trabalho de Modesto, as pesquisas realizadas focam suas análises em uma ação

de formação específica, procurando investigar as contribuições dessa ação na

produção de mudanças em concepções e práticas dos professores que dela

participaram.

Utilizando-se da pesquisa qualitativa com enfoque de inspiração

fenomenologia, Modesto (2002) investigou dez professores de Matemática da

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rede pública estadual e municipal das cidades de Agudos, Bauru, Jaú, Lençóis

Paulista e Macatuba, com o objetivo de analisar e compreender como professores

de Matemática vivenciam – e analisam – suas participações em cursos,

seminários, workshops, e outros momentos de formação permanente, nas quais

estão ou estiveram envolvidos.

Os procedimentos metodológicos utilizados pelo autor consistiram na

coleta de depoimentos por meio da aplicação de questionários, para obtenção de

dados pessoais e profissionais dos professores de Matemática que

possibilitassem a caracterização dos mesmos, e na realização de entrevistas com

os professores participantes da pesquisa efetuadas em seu próprio local de

trabalho. Após a coleta dos depoimentos, o autor realizou a transcrição e a leitura

destes, procurando se familiarizar com as declarações feitas, posteriormente fez

um recorte e separou os dados considerando os pontos comuns que

possibilitassem a constituição de unidades de significado, procurando, desse

modo, identificar nessas unidades elementos característicos a cada uma delas.

Feito isto, o autor procurou evidenciar aspectos convergentes nos depoimentos

dos professores, e em seguida, realizou a sistematização dos depoimentos

reescrevendo-os.

Para análise dos dados o autor optou, num primeiro momento, focar a

percepção da formação continuada a partir do olhar dos próprios professores

participantes da pesquisa, procurando identificar suas motivações, resistências,

sugestões, perspectivas e concepções. A análise feita possibilitou a formação de

dez categorias: graduação; volta à universidade; conteúdos matemáticos x

questões do dia-a-dia; reflexão e ação; coletivo; aplicabilidade; mudança,

atualização e transformação; dificuldades; continuidade; e informática.

Ao final de seu estudo o autor defende a escola como espaço privilegiado

de formação de professores uma vez que, segundo ele, só é possível ocorrer

mudanças se essas forem elaboradas e implementadas neste âmbito. Para

Modesto (2002, p. 102):

é na escola que o professor se desenvolve enquanto tal e constrói seu saber, feito de experienciações, inalienável, enraizado, conhecimento mediado pelas relações com seus pares, com os alunos e seu meio sócio-cultural, num processo de troca e de reflexão permanente sobre a prática.

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Outro aspecto defendido pelo autor, é que a formação continuada deve

considerar a prática profissional dos envolvidos, ou seja, deve ser vista como

atividade de reflexão crítica sobre o saber e a prática. Assim, o autor defende que

a formação deve centrar-se no professor, como agente, e na escola, como lócus

de sua ação.

Com o objetivo de compreender como se desenvolvem mudanças nas

concepções e práticas pedagógicas de professores de Matemática, Manrique

(2003) investigou um grupo de professores de Matemática participantes de um

processo de formação em Geometria, desenvolvido pela PUC – SP, no período

de 2001 a 2003. O grupo investigado era formado por seis professores de

Matemática, de uma mesma escola pública da região central da cidade de São

Paulo, que atuavam nas séries finais do ensino fundamental e médio da rede

estadual de ensino.

Para responder se as concepções dos professores em relação à Geometria

e ao seu ensino sofreram mudanças ao longo do processo de formação e que

características desse processo de formação continuada favoreceram as

mudanças, ou seja, que experiências de formação vivenciaram os professores

que permitiram a eles pensar sobre suas concepções e suas práticas

pedagógicas e, em alguns casos, até reconstruí-las, a autora utilizou-se da

pesquisa de abordagem qualitativa, segundo as definições de Bogdan e Biklen

(1994). A coleta de dados para a pesquisa envolveu: aplicação de questionários,

para professores e alunos; observações realizadas nos encontros de formação e

nas salas de aula dos professores participantes da pesquisa; entrevistas semi-

estruturadas; análise de documentos produzidos pelos professores e mapas

conceituais.

Tendo como objeto de pesquisa os Processos de Mudança, a

pesquisadora estudou três componentes: externo, interno e relacional, que em

sua avaliação compõem esses processos.

Em relação ao componente externo, a autora apresenta algumas

referências de pesquisas realizadas com foco nos processos de formação

realizado para desencadear mudanças desejadas e apresenta uma delimitação

do conceito de formação de professores e uma aproximação do conceito de

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formação com a aprendizagem de adultos. A respeito do componente interno, a

autora explicita alguns dos fatores considerados desencadeantes de processos

de mudança como: concepções e crenças que os professores possuem e

apresenta o conceito de habitus. Quanto ao terceiro componente, o relacional, a

autora aponta algumas possíveis relações para a promoção das mudanças, tais

como: as relações do professor com o saber e as que ocorrem em diversos

ambientes do contexto escolar e de formação.

Ao analisar os processos de mudanças, a partir da participação de um

grupo de professores de Matemática em um curso de formação em geometria, a

pesquisadora constatou mudanças nas concepções e indícios de alterações na

prática pedagógica desses professores. Para Manrique (2003, p.158):

Os processos de mudança estudados explicitaram a procura de autonomia por qual passou o professor, bem como a necessidade de reflexão a respeito do contexto escolar e das próprias práticas pedagógicas. Mostraram, portanto, uma interdependência das mudanças pessoais, profissionais e organizacionais, operadas pelos professores. Salientaram, também, a importância de um processo de formação que valorize os saberes docentes (porque são construídos e reconstruídos nas interações e relacionamentos do professor) e que aja sobre as capacidades individuais, propiciando a construção de meios de ação.

Considerando o trabalho de Manrique (2003), podemos dizer que os

processos de mudanças podem ser desencadeados em uma ação de formação

continuada, mas é necessário que esta ação considere o contexto escolar e as

práticas pedagógicas, além de valorizar os saberes docentes dos professores

envolvidos.

Partindo do pressuposto que a formação continuada não pode ocorrer

desvinculada do fazer pedagógico do professor, Costa (2005) buscou identificar

as possibilidades que podem ser oportunizadas por uma ação de formação para a

mudança nas práticas dos participantes desta ação, no sentido de melhoria do

ensino e aprendizagem de Matemática e do desenvolvimento profissional dos

professores. O autor se propôs também: levantar concepções a respeito da

matemática, do processo de ensino e aprendizagem dessa disciplina, da relação

professor aluno, da melhoria do ensino de Matemática; refletir com os professores

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sobre os problemas enfrentados na sala de aula; e avaliar a proposta de formação

continuada de professores de Matemática.

A pesquisa, de abordagem qualitativa, envolveu 11 professores de

Matemática do Ensino Fundamental da Rede Pública do Estado do Paraná -

todos atuantes em escolas de uma mesma região da cidade de Curitiba, e

consistiu no desenvolvimento de uma proposta de formação continuada, realizada

em cinco encontros de cinco horas cada, tendo como objetivo propiciar ao grupo

de professores um espaço coletivo de reflexão e análise das práticas pedagógicas

de Matemática.

Para a coleta de dados, o autor aplicou questionários no início e ao final do

curso de formação, com objetivo de coletar informações a respeito da formação

inicial dos professores participantes, carga horária de trabalho semanal,

participações em cursos de formação continuada e, principalmente, dados sobre

os problemas e as necessidades dos participantes quanto ao ensino e

aprendizagem de Matemática e avaliar a proposta de formação continuada

desenvolvida, buscando informações acerca das possibilidades da proposta de

formação para a melhoria do processo de ensino e aprendizagem de Matemática.

Além dos questionários, o autor se valeu de: diário dos professores, para registro

de ideias e reflexões sobre a ação pedagógica; e diário de itinerância do

pesquisador, destinado às anotações e narrativas de situações ocorridas durante

os encontros de formação com o objetivo de registrar o desenvolvimento da

proposta de formação.

Ao analisar as percepções dos professores a partir de um processo de

formação continuada, o autor destaca que a partir do momento em que os

professores se sentem mais confiantes, em relação a sua ação pedagógica,

começam a se perceber como responsáveis pelos problemas relacionados ao

ensino e a aprendizagem e, consequentemente, percebem a necessidade de

ressignificar seus conceitos acerca do que é ensinar e aprender Matemática.

Neste sentido, o autor defende que a formação do professor ocorra ao longo de

sua “vivência” e não apenas em momentos específicos.

Tomando por base o estudo de um processo de formação oferecido pela

Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, entre os anos de 2001 e 2002,

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o projeto Ensinar e Aprender – Corrigindo o Fluxo do Ciclo II, Tonon (2010)

pesquisou a formação continuada do professor de Matemática, com o objetivo de

identificar que tipos de mudanças ocorreram com os profissionais que

participaram dessa formação e determinar as condições proporcionadas pelo

projeto analisado que possibilitaram, facilitaram e/ou contribuíram para tais

mudanças.

Para investigar quais foram as mudanças produzidas no modo de pensar e

agir dos profissionais estudados e quais as condições proporcionadas por este

projeto que permitiram, facilitaram e/ou contribuíram para tais mudanças, a

pesquisadora utilizou a pesquisa qualitativa realizada por meio da análise de

documentos referentes à implantação e implementação do projeto e de protocolos

de alunos e professores da época da formação, além da análise de entrevistas

realizadas com três profissionais participantes do projeto e de um registro

reflexivo realizado pela autora da proposta pedagógica de matemática do projeto

em estudo.

Como referencial de análise, a autora apoiou-se nos trabalhos de Pierre

Bourdieu sobre: Reprodução, violência simbólica, habitus e capital cultural e de

Gary Sikes e Michael Huberman sobre as fases de vida dos professores e sua

carreira.

A partir da análise dos dados, a autora identificou algumas transformações

na prática docente de alguns profissionais participantes do projeto relacionadas

às formas de mediações, às organizações dos campos, ao capital cultural

institucionalizado e ao reconhecimento do processo de reprodução e violência

simbólica exercida pela escola, bem como, a ruptura desse processo

proporcionado pelo projeto.

Quanto aos aspectos facilitadores aos processos de mudanças, Tonon

(2010) identificou três fatores que favoreceram nas mudanças: o fato da formação

ter sido realizada por meio de convocação – aquisição de capital cultural

institucionalizado; o envolvimento, participação e compromisso de vários “sujeitos”

com o projeto – condições de trabalho; apoio institucional; material de apoio;

trabalho em grupo e as mediações proporcionadas pelos formadores e entre os

pares.

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Com o intuito de pesquisar a formação continuada de professores de

Matemática na perspectiva do desenvolvimento profissional com o objetivo de

analisar a apropriação dos conhecimentos pedagógico-tecnológicos em

Matemática desses professores, Richit (2010) investigou um grupo de professores

de Matemática da rede pública estadual de ensino do Rio Grande do Sul. Em seu

estudo, a autora considerou os processos que perpassam essa apropriação, o

modo como as políticas públicas impactam o desenvolvimento profissional

docente, bem como os reflexos da experiência na cultura e na prática docente.

Segundo a autora, a escolha por um grupo de professores de uma mesma

localidade possibilita a reflexão sobre suas realidades e sobre as possibilidades e

a necessidade de modificá-la, uma vez que possuem os mesmos interesses,

necessidades, ideologias e objetivos. Para Richit (2010, p. 97), “promover a

interação entre docentes de um mesmo núcleo de ensino é uma forma de

perceber e analisar as disparidades, a diversidade e as contradições que

coexistem nesse contexto”.

O estudo, em questão, envolveu onze professores de Matemática da

cidade de Erechim/RS e se desenvolveu a partir do questionamento a respeito do

processo de apropriação de conhecimentos pedagógico-tecnológicos em

Matemática por professores da rede pública de ensino a partir de uma prática

formativa semipresencial. Para compreender como se dá este processo, a autora

realizou observações no contexto da prática de sala de aula dos professores e de

um curso de extensão elaborado pela pesquisadora na modalidade

semipresencial. Para identificar os reflexos da experiência formativa vivida na

cultura e na prática docente cotidiana dos sujeitos, a autora realizou entrevistas

com os participantes da pesquisa dois anos após a conclusão do curso.

A análise e a interpretação do objeto de estudo foram realizadas por meio

da pesquisa de abordagem qualitativa com enfoque fenomenológico. A partir do

confronto entre os dados obtidos, procurando explicitar a convergência entre eles,

a autora buscou unidades de significado que possibilitaram a constituição de

quatro categorias de análise: possibilidade do professor frente à realidade

educacional e política da formação docente no Rio Grande do Sul; processos que

perpassam a apropriação de conhecimentos pedagógico-tecnológicos em

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matemática; como o professor experimenta uma nova prática pedagógica usando

tecnologias; pistas da formação pedagógico-tecnológicos em matemática na

prática e cultura docente.

Essas categorias foram analisadas e interpretadas com base no

materialismo-histórico e considerando aspectos da experiência vivida. A opção

metodológica para análise dos dados é justificada pela autora tendo em vista o

fato de que “esses aspectos evidenciam, de maneira significativa, a dialética do

movimento da apropriação de conhecimentos pedagógico-tecnológicos em

matemática no processo de desenvolvimento profissional docente” (RICHIT, 2010,

p. 126).

Como resultados, o estudo sinaliza que as possibilidades de formação do

professor da escola pública são potencializadas positiva ou negativamente por

fatores estruturais da realidade escolar e das políticas de formação docente e

que, o modo como os professores envolvidos na pesquisa enxergam os recursos

tecnológicos, tanto no processo de formação quanto em sua prática, é

influenciado pelas concepções que esses professores possuem acerca do papel

das tecnologias no ensino de matemática. Para Richit (2010, p.23),

As compreensões sobre o impacto de prática formativa sinalizam movimentos de mudança na cultura e prática docente dos professores, visto que os conhecimentos pedagógico-tecnológicos em matemática se fazem presentes nas práticas sociais e profissionais desses sujeitos, ampliando as possibilidades de interação e de desenvolvimento profissional, bem como contribuindo na constituição de uma cultura de informática educativa.

A autora conclui sua pesquisa apontando para a necessidade de novos

estudos que considerem as condições do trabalho do professor, as possibilidades

formativas mediante essas condições e os conhecimentos e experiências

oriundos da prática docente.

Nos estudos apresentados percebemos a importância de se considerar nas

ações de formação continuada de professores de Matemática, a prática docente,

o contexto escolar e a troca de experiências entre os pares, para que estas

possam produzir mudanças em concepções e práticas e, consequentemente,

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proporcionar o desenvolvimento desses sujeitos enquanto profissionais da

educação.

Destacamos aqui, apenas algumas pesquisas na área de formação

continuada de professores de Matemática por entendermos que se aproximam

muito daquilo que tem nos inquietado ultimamente.

As pesquisas sobre a formação continuada de professores de Matemática

realizadas no período de 1987 a 2011 mostram, de modo geral, que mudanças

em práticas e desenvolvimento profissional têm sido o foco das ações formativas

que envolvem os professores de Matemática da educação básica. Além disso,

essas pesquisas apontam: o contexto escolar; as condições de trabalho; a troca

de experiências; a valorização dos saberes e práticas docentes; o apoio

institucional; a reflexão sobre a prática e a continuidade das ações de formação

como fatores que interferem diretamente para o sucesso ou fracasso dessas

ações. Com isto, podemos dizer que a formação continuada de professores de

Matemática está inserida no contexto das políticas públicas de educação que,

segundo Richit (2010, p.56), “dizem respeito ao conjunto de diretrizes que se

destinam a estruturar, gerir e melhorar a educação brasileira em todos os níveis.

Incluem a estrutura física, pedagógica, corpo docente e discente, programas

educativos diversos etc”.

1.3. Os processos formativos e as necessidades dos professores frente

aos desafios da prática

Como mostramos nos tópicos anteriores, a preocupação com a formação

de professores passou a se intensificar no país nos últimos anos, tanto por parte

dos órgãos públicos quanto das pesquisas acadêmicas, impulsionada pelas

mudanças sociais e políticas mundiais.

Os estudos aqui apresentados mostram um avanço em termos das

políticas públicas para a formação de professores no Brasil, desenvolvidas a partir

da década de 1990, no que se refere à legislação e ao financiamento de ações

voltadas para este fim. Mostram também, uma intensificação nas pesquisas

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acadêmicas relacionadas à formação continuada de professores de modo geral e

mais especificamente, em relação à formação continuada dos professores de

Matemática.

Apesar dos avanços, as políticas docentes realizadas em nível nacional e

pela SEE/SP voltadas para a formação continuada de professores têm sido

implementadas mais no sentido de atualização de conhecimentos, informações e

inovações metodológicas do que no sentido de promover o desenvolvimento

profissional e atender às necessidades dos professores frente aos desafios da

prática. Este modelo de formação caracteriza-se com o que alguns pesquisadores

como Barroso (2003) e Canário (2003) denominam de modelo escolar de

formação, que considera a formação contínua como um prolongamento da

formação inicial. Seguindo assim, como pontua Canário (2003, p. 9), “uma lógica

de “reciclagem””.

Em contraposição ao modelo escolar de formação, Canário (2003, p. 205)

identifica como esforço de inovação dos processos formativos três dimensões:

Individual: relacionada à pessoa e voltada, para a promoção de situações

que possibilitem aprender “com e contra a experiência”, por meio da

“alternância entre o experiencial e o simbólico”; para a construção de

processos de aprendizagem que “reconhece o erro e aceita que a

aprendizagem supõe um estágio inicial de confusão”; e para a produção de

saberes.

Organizacional: relacionada à organização (no nosso caso à escola) e

voltada para a promoção da “inserção social da formação” no contexto de

ação profissional, considerando a identificação dos problemas como ponto

de partida da formação.

Concepção de situações educativas: relacionada à concepção de

educação e formação “como inscritas num processo largo e multiforme de

socialização, coincidente com o ciclo vital” que supõe a coprodução de

situações formativas a partir da interação entre formadores e formandos,

no próprio contexto de ação dos mesmos (a escola).

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Para Canário (2003, p. 9), a “questão da articulação entre a formação e os

contextos de trabalho representa, hoje, uma problemática central na formação de

adultos”. Parafraseando Canário (2003), podemos dizer que a articulação entre a

formação e o contexto escolar, configura-se como uma problemática central na

formação de professores. Para esse autor (2003, p. 10):

a revalorização e a redescoberta do potencial formativo das situações de trabalho propiciam a produção de estratégias, dispositivos e práticas de formação que valorizam fortemente a aprendizagem por via experiencial e o papel de cada sujeito num processo de auto-construção como pessoa e como profissional.

O que possibilita, conforme assinalado por Canário (2003, p. 10), a

reconstrução das situações de trabalho a partir de situações formativas que

promovam a interação e a socialização entre seus profissionais, passando assim,

de “uma concepção (instrumental e adaptativa) de formação para a mudança,

para uma outra concepção de formação na mudança”.

Nesta perspectiva, estudos como os de Barroso (2003), Bolívar (2003) e

Abdalla (2006) apontam a escola como espaço de formação e aprendizagem do

professor (como pessoa) e da escola (como organização). Assim, no que se

referem aos processos formativos, estes autores propõem: “a formação centrada

na escola” (BARROSO, 2003); “a escola como organização que aprende”

(BOLÍVAR, 2003) e “a escola como espaço de “ser” e “estar” na profissão”

(ABDALLA, 2006).

Para justificar a importância de se considerar o contexto de trabalho nas

ações de formação, Barroso (2003, p.68) considera que atuando “sobre as

pessoas, fora da sua situação de trabalho, a formação autonomiza-se e acaba por

ter um efeito reduzido sobre a organização cujo funcionamento era suposto ajudar

a melhorar ou a transformar”. No caso da formação de professores, o autor

propõe pensar “a formação centrada na escola” de forma que se integre o “lugar

de aprender” com o “lugar de fazer” e se crie condições para a produção de novas

relações entre “saber” e “poder” nas escolas.

Para Barroso (2003, p. 75) a “formação centrada na escola” deve ser

entendida como uma ação política cuja racionalidade e legitimidade são extraídas

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a partir dos problemas observados na ação concreta dos seus “atores” e nas

características dos seus sistemas de atuação. Neste sentido, segundo o autor,

A formação deve permitir que os próprios professores disponham de um conceito aprofundado e concreto sobre sua organização, elaborem um diagnóstico sobre seus problemas e mobilizem as suas experiências, saberes e ideias para encontrar e aplicar as soluções possíveis (p. 75).

Esta forma de pensar a formação produz uma ruptura em relação à

formação do tipo “escolar”, uma vez que é produzida “com” os sujeitos em seu

contexto de ação.

Nesta mesma linha de pensamento, Bolívar (2003, p. 81) propõe pensar “a

escola como organização que aprende”. Para esse autor:

O estabelecimento de ensino, para além de um lugar de trabalho, só será a unidade básica de formação e inovação se, no seu seio, houver lugar para uma aprendizagem institucional e organizativa. Quer isto dizer que o contexto e as relações de trabalho ensinam e que a organização, como conjunto, aprende a partir da sua própria história e memória como instituição (p.81).

Esta forma de pensar, nos mostra que os processos formativos precisam

considerar, além das pessoas, a aprendizagem da própria organização, o que

implica, conforme pontua Bolívar (2003) construir seu conhecimento a partir de

dois processos: aprender com a experiência acumulada; e aprender com os

projetos postos em prática.

As organizações que aprendem, pontua Bolívar (2003, p. 90), “estão

mobilizadas à volta de cinco grandes atividades”, conforme assinaladas por

Garvin (1993, apud BOLÍVAR, 2003, p.90-91):

1. Resolução sistemática dos problemas: capacidade de diagnosticar e

resolver os problemas detectados, pensando e atuando sobre eles;

2. Experimentação com novos enfoques: capacidade de estender o campo

de ação, possibilitando aprender com a experiência;

3. Aprendizagem com a experiência passada: capacidade de análise sobre

êxitos e fracassos para extrair “ensinamentos que permitam ter

conhecimento acumulado”;

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4. Aprendizagem com a experiência dos outros: capacidade de ouvir e

aprender com o outro, considerando ideias e experiências utilizadas em

outras organizações (escolas);

5. Transferência de conhecimento: capacidade de disseminar e partilhar

conhecimento.

No entanto, Bolívar (2003, p.91), alerta para o fato de que “as organizações

de aprendizagem não surgem do nada", para que a escola se constitua enquanto

uma organização que aprende é preciso que se construa “um ambiente que

favoreça a aprendizagem em grupo: tempo para a reflexão, visão partilhada,

aprendizagem em equipe, autonomia, novo exercício da liderança, etc”.

Tendo como pressuposto a escola como espaço de “ser” e “estar” na

profissão, Abdalla (2006) aponta a instituição escolar como lugar da formação do

professor, tendo como perspectiva seu desenvolvimento profissional. Espaço

este que possibilita a aprendizagem e aprende com seus professores.

Para Abdalla (2006, p. 16), “novos espaços de transformação poderiam ser

criados no contexto da escola e da sala de aula – revelando uma maneira de ser

e estar na profissão”. Com base nos tipos de necessidades relativos aos

indivíduos e aos contextos, definidos por Stufflebeam (1985), a autora procura

situar o conceito de “necessidade” como prática de definir objetivos de ação e

mudança. Deste modo, Abdalla (2006, p. 27 - 28) considera que a necessidade

pode se apresentar como:

1. discrepância ou lacunas: concebida como vazio, espaço entre “o estado

atual e o desejado”;

2. mudança ou direção desejada por uma maioria: neste caso, significa

“querer” e é caracterizada pelas práticas e relacionada as necessidades

percebidas pelo grupo;

3. direção em que se prevê que ocorra um melhoramento: relacionada a

superação dos pontos “fracos”; e

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4. algo cuja ausência ou deficiência provoca prejuízo ou cuja presença é

benéfica: este principio apresenta a dificuldade em se estabelecer “a

relação causal entre benefício e prejuízo”.

Considerando a necessidade como “discrepância ou lacuna” e refletindo

sobre “o que falta aos professores”, Abdalla (2006, p. 31 - 32) identifica três

formas de necessidades dos professores, tendo como referência suas

necessidades habituais e desejadas:

Necessidades pessoais ou subjetivas: relacionada ao professor como

pessoa: o que lhe falta e o que deseja;

Necessidades profissionais ou intersubjetivas: relacionadas ao coletivo

de professores; e

Necessidades organizacionais ou objetivas: relacionadas à gestão da

escola e as formas de participação nessa ação.

Segundo Abdalla (2006, p. 55), “quando isolados (fragmentados), os

professores enfatizam as suas necessidades subjetivas. Quando unificados pela

organização, o professor respira as necessidades objetivas”.

Assim, “apesar” e “por conta” dos problemas e da vontade de superação

destes, Abdalla (2006, p. 59) estabelece alguns indicadores de que “a escola é o

contexto da produção docente”. Dentre estes indicadores, a autora destaca: a

gestão escolar; o projeto político-pedagógico; a organização e articulação do

currículo e o compromisso (ou falta dele) com o desenvolvimento profissional de

seus professores. Segundo Abdalla (2006, p. 83),

quando discutimos se os professores aprendem na escola e se a escola pode aprender com seus professores, precisamos ter em mente a forma pela qual a cultura escolar contribui para costurar as múltiplas possibilidades de construção de um espaço que seja, efetivamente, de formação/produção docente.

Para criar esse espaço de possibilidades, Abdalla (2006, p. 90 - 91)

considera importante ao “corpo-escola” pensar sobre: a aprendizagem da

profissão; a organização dos espaços das possibilidades (que promovam a troca

de experiências); a direção/coordenação como “agentes cruciais para apoiar

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espaços de reflexão, investigação e tomadas de decisão”; a construção de uma

cultura colaborativa, em que ocorra “uma efetiva implicação dos agentes da

escola”.

Assim, no que se refere à formação de professores Abdalla (2006)

apresenta quatro princípios, considerados por ela como estruturantes aos

processos formativos:

1. Os programas de formação não podem desprivilegiar a análise de

necessidades centradas nos interesses e expectativas dos professores;

2. A escola como instituição social precisa se esforçar para abrir

possibilidades de mudanças em suas práticas;

3. Pensar no ensino, enquanto lugar da pesquisa, e na pesquisa, enquanto

lugar da aprendizagem;

4. Tornar a formação como componente determinante da mudança e

integrada no próprio exercício da profissão.

Partindo da análise dos estudos apresentados, nos perguntamos: as ações

de formação continuada de professores têm privilegiado ações que possibilitem

aos professores aprender na escola (formação centrada na escola) e a escola

aprender com seus professores (escola como organização que aprende)?

Acreditamos que não, uma vez que, como mostram os estudos de Gatti et al

(2011) apresentados no início desse Capítulo, os processos formativos

implementados pelo governo federal e estadual, tem se voltado para o trabalho

em sala de aula, com a preocupação de instrumentalização e atualização em

larga escala, sem considerar a escola como espaço de aprendizagem docente

e/ou como espaço que aprende.

Resta-nos, então, seguir em frente, e investigar se os processos formativos

desenvolvidos pelos órgãos públicos têm atendido as necessidades dos

professores, procurando identificar as relações entre esses processos e as

necessidades dos professores quanto à sua prática educativa.

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CCAAPPÍÍTTUULLOO IIII

Referencial Teórico

Neste Capítulo, apresentamos o referencial teórico que utilizamos para

analisar a fala dos professores participantes da pesquisa.

Como nossa intenção é analisar as implicações das ações de formação

continuada na mudança da prática do professor de Matemática, não queríamos

um referencial que abordasse especificamente as políticas públicas nem a prática

docente. Queríamos um referencial que nos possibilitasse compreender se e

como as ações formativas podem contribuir para essas mudanças.

Assim, após o estudo de alguns trabalhos relacionados à formação de

professores chegamos a Pierre Bourdieu. Acreditamos que os conceitos de

Capital Social, Capital Cultural e Habitus, desenvolvidos por esse autor poderiam

nos ajudar a responder: Qual a relação entre os processos de formação

continuada oferecidos e a prática educativa na perspectiva dos professores de

Matemática participantes desses processos? Quais os limites e as

potencialidades desencadeados por esses processos em termos de facilitadores

do trabalho docente na visão do Professor de Matemática?

2.1 Capital Social, Capital Cultural e Habitus: elementos para uma

discussão sobre formação e prática docente.

Apesar de pouco utilizado pelos pesquisadores da área da Educação

Matemática, Pierre Bourdieu desenvolveu um corpo teórico que modificou as

formas de pensar a educação e que em nossa opinião não pode ser

negligenciado quando se pretende estudar as relações entre formação e prática

do professor de Matemática.

Sabemos que o ensino de Matemática durante muito tempo esteve

relacionado aos “dons” individuais, atribuindo àqueles que apresentavam

melhores rendimentos a qualidade de “gênio” e, com isto, muitos fracassos em

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relação à aprendizagem Matemática foram justificados. Para Nogueira e Catani

(2011, p.9), Bourdieu:

Rompendo com as explicações fundadas em aptidões naturais e individuais e ensejando – de modo praticamente pioneiro – a crítica do mito do “dom”, o autor desvenda as condições sociais e culturais que permitiram o desenvolvimento desse mito. E desmonta também os mecanismos através dos quais o sistema de ensino transforma as diferenças iniciais – resultado da transmissão familiar da herança cultural – em desigualdades de destino escolar.

Um dos pontos centrais da Sociologia da Educação de Bourdieu, segundo

Nogueira e Nogueira (2002, p. 18), “é a de que os alunos não são indivíduos

abstratos que competem em condições relativamente igualitárias na escola, mas

atores socialmente constituídos que trazem em larga medida incorporada, uma

bagagem social e cultural”. A nosso ver o mesmo pode ser dito em relação aos

Professores de Matemática que também são constituídos socialmente e, assim

como os alunos, trazem de forma incorporada uma bagagem social e cultural que

se reflete em sua ação docente.

Nesse sentido, entendemos que os conceitos de Capital Social, Capital

Cultural e Habitus desenvolvidos por Bourdieu são elementos importantes para a

discussão sobre as ações de formação continuada de professores de Matemática

e sua relação com a prática docente. Além disso, consideramos que esses

conceitos podem contribuir para compreender, se e como, ocorrem os processos

de Ruptura com relação a concepções e práticas desses professores.

2.2 Capital Social

Segundo Bourdieu, a forma como nos comportamos, nossos gestos,

nossas escolhas, preferências e aspirações são constituídos socialmente e, como

tal, influenciam a forma como vemos o outro e como somos visto por ele. Ao

conjunto de relações sociais que mantemos (com a família, a escola, os amigos,

os contatos profissionais) e que podem nos beneficiar na obtenção de bens

materiais ou simbólicos, Bourdieu denominou de capital social.

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Boudieu (2011, p. 67) define capital social como:

O conjunto de recursos atuais ou potenciais que estão ligados à posse de uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de interconhecimento e de inter-reconhecimento ou, em outros termos, à vinculação a um grupo, como conjunto de agentes que não somente são dotados de propriedades comuns (passiveis de serem percebidas pelo observador, pelos outros ou por eles mesmos), mas também são unidos por ligações permanentes e úteis.

Segundo Bourdieu (2011, p. 67), “o volume de capital social que um agente

individual possui depende da extensão da rede de relações que pode ou

consegue mobilizar e do volume do capital (econômico, cultural ou simbólico) que

é posse exclusiva de cada um daqueles a quem está ligado”. Segundo ele, o

capital social não é completamente independente do capital econômico e cultural

possuído, uma vez que “exerce um efeito multiplicador sobre o capital possuído

com exclusividade”. Contudo, Bourdieu (2011, p. 68) afirma que “a existência de

uma rede de relações não é um dado natural, nem mesmo um „dado social‟”, mas

“o produto de estratégias de investimento social consciente ou inconscientemente

orientadas para a instituição ou a reprodução de relações sociais diretamente

utilizáveis”, ou seja, para a transformação das relações fortuitas em relações

necessárias e eletivas.

Para Bourdieu (2011, p. 68), “a reprodução do capital é tributária” das

instituições que visam ao favorecimento de trocas legítimas e a exclusão de

trocas ilegítimas, produzindo ocasiões, lugares ou práticas “que reúnem, de

maneira aparentemente fortuita, indivíduos tão homogêneos quanto possível, sob

todos os aspectos pertinentes do ponto de vista da existência e da persistência do

grupo”. Além disso, “a reprodução do capital social também é tributária do

trabalho de sociabilidade” que promove incessantemente um processo de

afirmação e reafirmação do reconhecimento no e pelo grupo.

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2.3 Capital Cultural

Segundo Nogueira e Catani (2011, p. 9), Bourdieu desenvolveu o conceito

de capital cultural “para dar conta da desigualdade de desempenho escolar de

crianças oriundas de diferentes classes sociais, procurando relacionar o “sucesso

escolar” [...] com a distribuição desse capital específico entre as classes ou

frações de classe”. Com isso, Bourdieu rompe com a visão de que o sucesso ou o

fracasso são efeitos de “dons” naturais e com as teorias do “capital humano” que

consideram o desenvolvimento econômico como resultado da educação.

Bourdieu (2011, p. 73) reconhece o mérito dos economistas ao “colocar

explicitamente a questão da relação entre as taxas de lucro asseguradas pelo

investimento educativo e pelo investimento econômico”. Contudo, ele salienta

que,

[...] deixando de colocar as estratégias de investimento escolar no conjunto das estratégias educativas e no sistema de estratégias de reprodução, sujeitam-se a deixar escapar, por um paradoxo necessário, o mais oculto e determinante socialmente dos investimentos educativos, a saber, a transmissão doméstica do capital cultural. Suas interrogações sobre a relação entre a “aptidão” (ability) para os estudos e o investimento nos estudos provam que eles ignoram que a “aptidão” ou o “dom” são também produtos de um investimento em tempo e em capital cultural.

Para Bourdieu (2011, p. 74), “o rendimento escolar da ação escolar

depende do capital cultural previamente investido pela família”. Assim, podemos

inferir que a posse de determinados conhecimentos, competências, códigos

(linguísticos, artísticos, matemáticos, entre outros), que constituem o capital

cultural, interfere na forma como a criança se relaciona com a escola e,

consequentemente, afeta seu desempenho nos estudos podendo, assim, levá-la

ao sucesso ou ao fracasso escolar.

O capital cultural, segundo Bourdieu (2011), apresenta-se de três formas:

no estado incorporado, relacionado às posturas e saberes interiorizados pelo

individuo (bens imateriais); no estado objetivado referente à posse de bens

culturais (materiais e simbólicos) e no estado institucionalizado relativo aos

certificados escolares.

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2.3.1. Estado Incorporado

O capital cultural em seu estado incorporado está relacionado ao

organismo e se reflete em nossos comportamentos e em nossas escolhas

pessoais apresentando-se em nossos gestos, na entonação da voz, no domínio

maior ou menor da língua culta; nos gostos e ou “bom-gosto” (musical, esportivo,

literário) e em nossas preferências (de lazer, de vestuário, de alimentos,...).

Apesar de parecer algo “inato” essa forma de comportamento é construída no

espaço familiar e social no qual o indivíduo está inserido.

Para Bourdieu (2011, p. 74), “a maior parte das propriedades do capital

cultural pode inferir-se do fato de que em seu estado fundamental, está ligado ao

corpo e pressupõe sua incorporação” que exige tempo e investimento pessoal, ou

seja, exige “um trabalho do “sujeito” sobre si mesmo” e, por isso mesmo, não

pode ser transmitido diretamente de uma pessoa para outra.

A aquisição do capital cultural incorporado se dá de forma inconsciente, o

que constitui para Bourdieu (2011, p. 76) “a forma mais dissimulada de

transferência hereditária de capital”. Para o autor, é “na própria lógica da

transmissão do capital cultural que reside o princípio mais poderoso da eficácia

ideológica dessa espécie de capital”.

2.3.2. Estado Objetivado

Diferentemente do estado incorporado, que se relaciona ao corpo, o capital

cultural no estado objetivado refere-se à posse de bens culturais, socialmente

valorizados como: livros, quadros, objetos de decoração, instrumentos musicais.

Essa forma de capital cultural, segundo Bourdieu (2011, p. 77), “objetivado em

suportes materiais [...] é transmissível em sua materialidade”. No entanto, a posse

material de um objeto ou instrumento não garante ao proprietário desfrutá-lo, para

isto é necessário possuir certa familiaridade com esse objeto ou instrumento.

Assim, pode-se dizer que a apropriação do capital cultural em seu estado

objetivado está relacionada com a aquisição material de bens culturais, que

pressupõe capital econômico e com a apropriação simbólica desses bens, que

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pressupõe capital cultural incorporado. Nas palavras de Bourdieu (2011, p. 77),

para “possuir máquinas, basta ter capital econômico; para se apropriar delas e

utilizá-las de acordo com sua destinação específica [...] é preciso dispor,

pessoalmente ou por procuração, de capital incorporado”.

2.3.3. Estado Institucionalizado

O capital cultural em seu estado institucionalizado consolida-se

basicamente por meio dos diplomas e títulos escolares, que está diretamente

relacionado com o volume de capital cultural, principalmente no estado

incorporado, investido pelo indivíduo. O retorno do capital cultural investido em

forma de capital institucionalizado pode, segundo Nogueira e Nogueira (2009, p.

44), “ser reinvestido, por exemplo, nos mercados de trabalho e matrimonial”.

Para Bourdieu (2011, p. 78-79):

Ao conferir capital cultural possuído por determinado agente um reconhecimento institucional, o certificado escolar permite, além disso, a comparação entre os diplomados e, até mesmo, sua “permuta” (substituindo-os uns pelos outros na sucessão); permite também estabelecer taxas de convertibilidade entre o capital cultural e o capital econômico, garantindo o valor em dinheiro de determinado capital escolar.

Neste sentido, o capital cultural institucionalizado tido como resultado da

conversão entre os dois tipos de capital - econômico em cultural, estabelece a

comparação entre os detentores de diplomas, conferindo valor ao detentor de

determinado diploma em comparação com outros e de modo inseparável,

atribuindo a ele, valor em dinheiro que pode ser trocado no mercado de trabalho.

Contudo, segundo Bourdieu (2011, p. 79), pelo “fato de que os benefícios

materiais e simbólicos que o certificado escolar garante, dependem também de

sua raridade, pode ocorrer que os investimentos [...] sejam menos rentáveis do

que se previa no momento em que eles foram realizados”. Com isto, Bourdieu

(2008, p. 28-29) nos alerta que “ao assegurar formalmente uma competência

específica (por exemplo, um diploma de engenheiro), está inscrito que ele garante

realmente a posse de uma “cultura geral”, tanto mais ampla e extensa quanto

mais prestigioso for esse documento”.

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2.4 Habitus

Conforme apresentamos anteriormente, a forma como nos relacionamos,

nossas escolhas, nossas crenças, a apreciação e percepção que temos do

mundo, são construídas socialmente. Por sua vez, os diferentes espaços sociais

(família, escola, amigos, trabalho, igreja, associações) produzem um determinado

tipo de capital social e cultural, que determinam nossas ações. Assim, para

compreendermos porque agimos de determinada forma, é preciso conhecer o

mundo social no qual estamos inseridos para entendermos de que maneira

nossas práticas são construídas e de que forma elas interferem em nossa forma

de ser e estar no mundo.

Segundo Nogueira e Nogueira (2009, p. 21-24), Bourdieu argumenta que é

possível conhecer o mundo social de forma fenomenológica, objetivista e

praxiológica. A forma fenomenológica estaria restrita a apreender a experiência

do mundo social, “tal como vivida cotidianamente pelos membros da sociedade”,

representando assim uma forma subjetiva de interpretar as interações sociais. A

forma objetivista, ao contrário, “tenderia a conceber a prática apenas como

execução de regras estruturais dadas, sem investigar o processo concreto por

meio do qual essas regras são produzidas e reproduzidas socialmente”. A forma

praxiológica seria então, segundo os autores, uma alternativa proposta e

defendida por Bourdieu “capaz de solucionar os problemas do subjetivismo e do

objetivismo”, de forma que seria possível identificar as estruturas externas ao

indivíduo, bem como investigar como elas “encontram-se interiorizadas nos

sujeitos constituindo um conjunto estável de disposições estruturadas que, por

sua vez, estruturam as práticas e as representações das práticas”.

Essa teoria da prática, proposta por Bourdieu como alternativa ao

subjetivismo e objetivismo, segundo Nogueira (2002), Wacquant (2007) e

Nogueira e Nogueira (2009), está centrada no conceito de habitus.

Para Nogueira e Nogueira (2009, p. 24), esse conceito “seria assim a

ponte, a mediação, entre as dimensões objetiva e subjetiva do mundo social, ou

simplesmente, entre a estrutura e a prática”. Com base em Bourdieu, estes

autores pontuam que,

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As práticas sociais seriam estruturadas, isto é, apresentariam propriedades típicas da posição social de quem as produz, porque a própria subjetividade dos indivíduos, sua forma de perceber e apreciar o mundo, suas preferências, seus gostos, suas aspirações, estariam previamente estruturadas em relação ao momento da ação (p.24-25).

Desta forma, Nogueira e Nogueira (2009, p. 25) apontam que Bourdieu usa

o argumento de que dependendo da função que ocupa nas estruturas sociais,

cada sujeito, “vivenciaria uma série característica de experiências que

estruturariam internamente sua subjetividade, constituindo uma espécie de “matriz

de percepções e apreciações” que orientaria, estruturaria, suas ações em todas

as situações subsequentes”. Assim, o “habitus seria formado por um sistema de

disposições gerais que precisariam ser adaptadas pelo sujeito a cada conjuntura

específica de ação”. Para os autores,

[...] A ação de cada sujeito tenderia, assim, a refletir e a atualizar as marcas de sua posição social e as distinções estruturais que definem, não, em primeiro lugar, por uma estratégia deliberada de distinção e ou de dominação, mas principalmente, porque essas marcas tornaram-se parte constitutiva de sua subjetividade. (p. 26)

Bourdieu (1996, p. 21) aponta que uma “das funções da noção de habitus

é a de dar conta da unidade de estilo que vincula as práticas e os bens de um

agente singular ou de uma classe de agentes”. Sendo desta forma o “princípio

gerador e unificador que retraduz as características intrínsecas e relacionais de

uma posição em um estilo de vida unívoco” (p. 22). Para Bourdieu (1996, p. 22),

Os habitus são princípios geradores de práticas distintas e distintivas – o que o operário come, e sobretudo sua maneira de comer, o esporte que pratica e sua maneira de praticá-lo, suas opiniões políticas e sua maneira de expressá-las diferem sistematicamente do consumo ou das atividades correspondentes do empresário industrial; mas são também esquemas classificatórios, princípios de classificação, princípios de visão e de divisão e gostos diferentes. Eles estabelecem as diferenças entre o que é bom e mau, entre o bem e o mal, entre o que é distinto e o que é vulgar etc., mas elas não são as mesmas. Assim, por exemplo, o mesmo comportamento ou o mesmo bem pode parecer distinto para um e pretensioso para outro ou ostentatório para outro e vulgar para um terceiro.

Para Bourdeiu (2008), uma determinada condição de existência,

objetivamente classificável e a posição que um indivíduo ocupa na estrutura das

condições de existência produzem um determinado tipo de habitus. O habitus

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como estrutura ao mesmo tempo estruturada e estruturante produz um sistema de

esquemas geradores de práticas ou de obras classificáveis e um sistema de

esquemas de percepção e de apreciação (o gosto) que a partir dos atos de

percepção e de apreciação levam as práticas e obras classificáveis, ou seja,

formam um determinado estilo de vida. Segundo Bourdieu (2008, p. 164),

Pelo fato de que as condições diferentes de existência produzirem habitus diferentes, sistemas de esquemas geradores suscetíveis de serem aplicados, por simples transferência, às mais diferentes áreas da prática, as práticas engendradas pelos diferentes habitus apresentam-se como configurações sistemáticas de propriedades que exprimem as diferenças objetivamente inscritas nas condições de existência sob a forma de sistemas de distâncias diferenciais que, percebidos por agentes dotados dos esquemas de percepção e de apreciação necessários para identificar, interpretar e avaliar seus traços pertinentes, funcionam como estilos de vida.

Neste sentido, conforme pontua Bourdieu (2008, p. 164), os estilos de vida

são produto do habitus “que, percebidos em suas relações mútuas segundo os

esquemas do habitus, tornam-se sistemas de sinais socialmente qualificados –

como “distintos”, “vulgares”, etc”.

Com base na obra de Bourdieu, Wacquant (2007, p. 7) apresenta a gênese

da noção de habitus e em forma de síntese procura documentar algumas

propriedades teóricas relativas a essa noção. Assim, na perspectiva deste último

autor, habitus:

resume não uma aptidão natural, mas social que é variável através do

tempo, do lugar e, sobretudo, através das distribuições de poder;

é transferível para vários domínios de prática, no interior e entre indivíduos

da mesma classe e que fundamenta os distintos estilos de vida;

é durável, mas não estático ou eterno;

contudo é dotado de inércia incorporada, na medida em que o habitus

tende a produzir práticas moldadas depois das estruturas sociais que os

geraram, e na medida em que cada uma das suas camadas opera como

um prisma através do qual as últimas experiências são filtradas e os

subsequentes estratos de disposições sobrepostos;

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introduz um desfazimento, e por vezes um hiato, entre as determinações

passadas que o produziram e as determinações atuais que o interpelam.

Segundo Wacquant (2007, p.8), o habitus fornece um princípio de

“sociação”, relacionado ao fato de que nossas opiniões e ações, “vindas da

sociedade, são partilhadas por todos aqueles que foram submetidos” as mesmas

condições e condicionamentos sociais, determinando assim, o que se pode

chamar de um habitus social, ou um “habitus de classe”. Além disso, o habitus

fornece também um princípio de “individuação”, uma vez que cada pessoa possui

uma trajetória e posição única no mundo e, por isso mesmo, “internaliza uma

combinação incomparável de esquemas”.

Neste sentido, podemos dizer que nossos habitus estruturados nos

diferentes espaços sociais (família, escola, amigos, igreja, associações) definem

nossa forma de agir e estar no mundo, ao mesmo tempo em que o espaço social

no qual estamos inseridos, produz e estrutura um determinado tipo de habitus.

Desta forma, retomando o que o que foi dito anteriormente, o habitus como

estrutura ao mesmo tempo estruturada e estruturante produz um sistema de

esquemas que geram nossas práticas.

Conforme pontuamos no início desse capítulo, Bourdieu desenvolveu um

corpo teórico que modificou as formas de pensar a educação. Por meio de sua

obra, e mais especificamente dos conceitos de capital social e capital cultural,

Bourdieu provocou uma ruptura com as ideias relacionadas às aptidões naturais e

individuais, que atribuíam o sucesso ou fracasso escolar aos “dons” e às aptidões

naturais das crianças, e com os mecanismos utilizados pelos sistemas de ensino

para transformar diferenças sociais em desigualdade de direção na trajetória

escolar.

Ao desenvolver uma teoria da prática centrada no conceito de habitus,

Bourdieu provoca mais uma ruptura, desta vez com a forma de conhecer o

mundo. Em contraposição a visão subjetivista, da fenomenologia, e a visão

objetivista, Bourdieu apresenta uma visão praxeológica do mundo, na qual propõe

investigar como as estruturas externas encontram-se internalizadas formando um

conjunto de disposições estruturadas e como essas disposições estruturam as

práticas e suas representações.

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As rupturas produzidas por Bourdieu, tanto no que se refere às concepções

de ensino e as práticas reprodutoras de desigualdade, quanto às formas como

nossas práticas sociais, nossos habitus, são construídos, nos ajudam a pensar:

como as ações de formação continuada de professores podem se constituir em

processo produtor de capital cultural e de habitus possibilitando a produção de

novas práticas?

Para ampliar a reflexão sobre o processo de ruptura a partir do conceito de

habitus, apresentamos alguns pontos do estudo realizado por Setton (2002, p. 60)

em que a autora propõe uma leitura contemporânea da teoria de Bourdieu,

“considerando a família, a escola e a mídia como instâncias socializadoras que

coexistem numa intensa relação de interdependência”. Para Setton (2002):

habitus pode ser concebido como um instrumento conceitual para pensar a

relação, a mediação entre os condicionamentos sociais exteriores e a

subjetividade dos sujeitos;

habitus não é destino, mas uma noção que possibilita pensar as

características de uma identidade social, de uma experiência biográfica,

um sistema de orientação ora consciente ora inconsciente;

habitus pode ser visto como uma matriz cultural que predispõe os

indivíduos a fazerem suas escolhas;

habitus surge como um conceito capaz de conciliar a oposição aparente

entre realidade exterior e as realidades individuais;

habitus é “concebido como um sistema de esquemas individuais,

socialmente constituído de disposições estruturadas (no social) e

estruturantes (nas mentes), adquirido nas e pelas experiências práticas

(em condições sociais específicas de existência), constantemente

orientado para funções e ações do agir cotidiano” (p. 63);

habitus é “um instrumento conceitual que auxilia a apreender uma certa

homogeneidade nas disposições, nos gostos e preferências de grupos e/ou

indivíduos produtos de uma mesma trajetória social” (p. 64);

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habitus não pode ser interpretado apenas como sinônimo de uma memória

sedimentada e imutável; mas também um sistema de disposição

construído continuamente, aberto e constantemente sujeito a novas

experiências.

Partindo desses pressupostos, Setton (2002, p. 65) pontua que:

[...] Os habitus individuais, produtos da socialização, são constituídos em condições sociais específicas, por diferentes sistemas de disposições produzidos em condicionamentos e trajetórias diferentes, em espaços distintos como a família, a escola, o trabalho, os grupos de amigos e/ou a cultura de massa.

Para Setton (2002), o conceito de habitus expressa uma ordem social na

qual os agentes participam do fazer história, reagindo, adaptando-se e

contribuindo, com esse processo, numa relação dialética entre as disposições

individuais e o conjunto de acontecimentos ocorridos em determinado momento, e

não apenas resultado de um mecanismo e reprodução e conservação. Para a

autora, “a perspectiva histórica, a interpenetração entre passado, presente

(trajetória) e futuro (o devir) são dimensões constitutivas dos habitus individuais”

(p. 66).

Setton (2002, p. 66) considera ainda

[...] possível pensar o habitus do indivíduo da atualidade formulado e construído a partir de referências diferenciadas entre si. Isto é, um habitus produto de um processo simultâneo e sucessivo de uma pluralidade de estímulos e referências não homogêneas, não necessariamente coerentes. Uma matriz de esquemas híbridos que tenderia a ser acionada conforme os contextos de produção e realização.

Setton (2002, p.66), crê que o habitus do indivíduo moderno, pode ser

pensado, como sendo “forjado pela interação de distintos ambientes, em uma

configuração longe de oferecer padrões de conduta fechados”. Segundo a autora,

essa forma de interpretação abre “a possibilidade de pensar o surgimento de um

outro sujeito social, [...] construído não apenas como expressão de um sentido

prático incorporado e posto em prática de maneira “automática”, mas uma

memória em ação e construção”.

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Nesse sentido, Setton (2002, p. 67) aponta para a necessidade de se

considerar o habitus como:

um sistema flexível de disposição, não apenas resultado da sedimentação de uma vivência nas instituições sociais tradicionais, mas um sistema em construção, em constante mutação e, portanto, adaptável aos estímulos do mundo moderno: um habitus como trajetória, mediação do passado e do presente; habitus como história sendo feita; habitus

como expressão de uma identidade social em construção.

Com isto, a autora propõe pensar o habitus, na sociedade contemporânea

como um processo em construção, um processo dinâmico, em constante

transformação e, portanto, passível de rupturas.

Essa interpretação do conceito de habitus nos leva a conjecturar que se

por um lado o pertencimento a este ou àquele grupo ou instituição social é

determinante da forma de pensar e agir, por outro, a forma como pensamos e

como agimos podem interferir no comportamento do grupo ou instituição. Do

mesmo modo, podemos dizer que no caso do professor de matemática, enquanto

sujeito social, sua trajetória escolar, sua relação com a matemática e sua

experiência como aluno deste ou daquele professor, a escola onde exerce sua

função e as relações que estabelece com os demais professores, influencia sua

prática, refletindo na forma como esse professor compreende os processos de

aprendizagem dos alunos, em como ele vê a avaliação, e ainda, na forma como

ele busca sua própria formação. Ao mesmo tempo, a forma com que o professor

desenvolve sua prática pode modificar a visão e a relação que a escola, os

demais professores, os alunos e seus pais têm da matemática.

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Metodologia

O senhor poderia me dizer, por favor, qual caminho que devo tomar para sair daqui?

Isso depende muito de para onde você quer ir, respondeu o Gato.

Não me importo muito para onde, retrucou Alice.

Então não importa o caminho que você escolha, disse o Gato.

Contanto que dê em algum lugar, Alice completou.

Oh, você pode ter certeza que vai chegar se caminhar bastante, disse o Gato.

(Alice no País das Maravilhas - Lewis Carroll)

O diálogo entre “Alice” e o “Gato”, na obra “Alice no País das Maravilhas”

de Lewis Carroll, mostra a importância de saber onde se quer chegar para

escolher o caminho a ser seguido. No caso da pesquisa, também é preciso

delinear qual o caminho a ser seguido para atingir os objetivos traçados e

responder a questão de pesquisa. Entre a percepção de aonde se quer chegar e

a busca do caminho certo, às vezes precisamos retroceder, outras vezes ficamos

apreensivos com os obstáculos, mas seguimos em frente, com a certeza de que

estamos no caminho certo. Assim, para não ficarmos perdidos como a Alice, sem

saber qual caminho seguir, elaboramos nosso projeto de pesquisa e enviamos,

em julho de 2011, para o comitê de ética da PUC/SP. Em 31 de outubro de 2011

o comitê emitiu parecer favorável ao desenvolvimento da pesquisa, conforme o

Protocolo de Pesquisa Nº 280/2011.

Neste Capítulo apresentamos os caminhos percorridos, a opção

metodológica e os instrumentos utilizados para a coleta dos dados

imprescindíveis para nossa investigação.

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3.1. Delineamentos Metodológicos

Para tentar responder aos questionamentos feitos, atingir os objetivos

propostos e considerando que a pesquisadora está diretamente envolvida com

algumas das ações investigadas realizamos esta pesquisa por meio da

abordagem qualitativa. Segundo Garnica (2004), a abordagem qualitativa

pressupõe o pesquisador como parte do objeto de pesquisa, uma vez que o

conhecimento não é isento de valores, intenções e da sua própria história de vida,

pressupondo a pesquisa como um processo de construção.

Segundo Lüdke e André (1986, p.1), “para realizar uma pesquisa é preciso

promover o confronto entre os dados, as evidências, as informações coletadas

sobre determinado assunto e o conhecimento teórico acumulado a respeito dele”.

Assim, para desenvolver este trabalho utilizamos pesquisa bibliográfica,

documental e empírica. Na pesquisa empírica utilizamos questionários,

entrevistas semi estruturadas e análise de dados.

Para a coleta de dados realizamos um levantamento das ações formativas

desenvolvidas na Diretoria de Ensino – Região de Assis no período de 2005 a

2010, utilizando para isto a análise de documentos pertencentes à própria

pesquisadora; à Oficina Pedagógica, atualmente passou a ser denominado

Núcleo Pedagógico; aos Professores Coordenadores das Oficinas Pedagógicas –

PCOP das diferentes disciplinas curriculares, a partir de 2012 com a

reestruturação da SEE/SP esses profissionais passaram a ser designados PCNP

- Professores Coordenadores do Núcleo Pedagógico. Este levantamento permitiu

mapear as ações formativas, desenvolvidas na Diretoria nos últimos anos, nas

quais houve participação de professores de Matemática.

Após o levantamento das ações realizadas aplicamos um questionário à

155 professores de Matemática das 38 Escolas Estaduais, jurisdicionadas à

Diretoria de Ensino da Região de Assis, procurando identificar quem são esses

professores e de quais processos de formação continuada promovidos nos

últimos anos esses professores participaram. A análise do questionário permitiu

conhecer os fatores internos e externos que mobilizaram os professores de

Matemática para participar das ações realizadas.

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A partir do questionário selecionamos 3 professores para a entrevista.

Consideramos que a análise documental e a pesquisa bibliográfica,

juntamente com a entrevista, permitem formar um quadro mais completo e mais

preciso sobre os processos formativos e o desenvolvimento profissional, no que

se refere ao ensino de Matemática e à formação continuada de Professores da

Educação Básica. As leituras teóricas possibilitaram, ainda, fazer uma leitura mais

aguçada e mais comprometida dos dados, permitindo compreender sua dimensão

histórica e cultural.

3.2. Pesquisa bibliográfica e Análise documental

A revisão bibliográfica, como uma forma de coleta de dados para

realização de pesquisa acadêmica, coloca o pesquisador em contato com

trabalhos científicos relativos ao tema da investigação fornecendo, assim, as

bases estruturais para sua pesquisa.

Alguns autores, como Fiorentini e Lorenzato (2006, pp. 102), consideram

que a pesquisa bibliográfica também pode ser chamada de “estudo documental”.

Para eles, “os documentos para estudo apresentam-se estáveis no tempo e ricos

como fonte de informação, pois incluem: filmes, fotografias, livros, propostas

curriculares, [...], planejamentos, dissertações ou teses acadêmicas, diários

pessoais [...]” (p. 103).

A análise documental insere-se na pesquisa qualitativa como uma técnica

valiosa para coleta de dados à medida que complementa e ou revela novos

aspectos sobre um mesmo assunto ou questão. Além disso, segundo Lüdke e

André (1986, p. 39):

Os documentos constituem também uma fonte poderosa de onde podem ser retiradas evidências que fundamentem afirmações e declarações do pesquisador. Representam ainda uma fonte „natural‟ de informação. Não são apenas uma fonte de informação contextualizada, mas surgem num determinado contexto e fornecem informações sobre esse mesmo contexto.

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Na investigação sobre ações formativas de educação desenvolvidas pelos

órgãos públicos, a análise documental torna-se um instrumento importante para o

pesquisador, visto que possibilita levantamento e organização das informações

sobre os projetos e programas voltados para formação continuada de

professores.

Para Bardin (1977, p.45 - 6)

Enquanto tratamento da informação contida nos documentos acumulados, a análise documental tem por objetivo dar forma conveniente e representar de outro modo essa informação, por intermédio de procedimentos de transformação. O propósito a atingir é o armazenamento sob uma forma variável e a facilitação do acesso ao observador, de tal forma que este obtenha o máximo de informação (aspecto quantitativo), com o máximo de pertinência (aspecto qualitativo).

Apesar de não possuir função de inferência a análise documental exige do

pesquisador um trabalho intelectual que envolve recorte da informação,

organização em categorias e representação. Por meio de condensações ou

indexações, segundo Bardin (1977, p. 46), “a análise documental permite passar

de um documento primário (em bruto), para um documento secundário

(representação do primeiro)”. Para essa autora, “o objetivo da análise documental

é a representação condensada da informação”.

Neste sentido, ao levantar as ações formativas realizadas no período de

2005 a 2010, fizemos um recorte que situa num contexto social, político e cultural,

os projetos e programas de formação continuada desenvolvidos na Diretoria de

Ensino – Região de Assis. Além disso, procedemos ainda a um recorte sobre o

público alvo dessas ações, pois nosso interesse era o Professor de Matemática.

Neste sentido, levantamos todas as ações que envolveram direta ou

indiretamente a participação desses sujeitos.

Para a pesquisa bibliográfica, nos apoiamos em informações

disponibilizadas pelo banco de teses da Capes, do qual selecionamos as

dissertações de Modesto (2002), Costa (2005) e Tonon (2010) e as teses de

Manrique (2003) e Richit (2010) e nos trabalhos de Oliveira e Ponte (1996) e

Fiorentini e Lorenzato (2006). Para a pesquisa documental nos baseamos em

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Gatti et al (2011), nos documentos disponibilizados pela Diretoria de Ensino da

Região de Assis, propostas de cursos, pautas de reuniões, ata de entrega de

certificados, nos site da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo e nos

sites dos Programas/Projetos. Para análise dos resultados nos fundamentamos

nos conceitos de Capital Social, Capital Cultural e Habitus de Pierre Bourdieu.

3.3. Questionário

Além do estudo bibliográfico e análise de documentos, o pesquisador pode

lançar mão do questionário para obtenção de informações. Apesar de ser mais

identificado com as pesquisas de abordagem quantitativas, o questionário

constitui-se uma importante ferramenta na investigação qualitativa.

Segundo Fiorentini e Lorenzato (2006, p. 117), “os questionários podem

servir como uma fonte complementar de informações, sobretudo na fase inicial e

exploratória da pesquisa”. Os questionários permitem traçar um perfil dos sujeitos

da pesquisa, fornecendo informações pessoais, profissionais, acadêmicas entre

outras. Além de fornecer ao pesquisador informações mais diretas e objetivas

sobre o objeto pesquisado.

Para Fiorentini e Lorenzato (2006), os questionários podem ser compostos

de questões: fechadas, abertas ou mistas. Nas questões fechadas o pesquisador

apresenta alternativas de respostas para as questões formuladas; nas questões

abertas, o pesquisador não tem controle sobre a resposta dada, o que possibilita

obter informações que não foram previstas; já nas mistas o pesquisador combina

perguntas fechadas com abertas.

Outro aspecto importante sobre os questionários é que eles, conforme

pontuam Fiorentini e Lorenzato (2006), podem ser aplicados a um número grande

de sujeitos sem a presença do pesquisador, podendo ser enviado via correio

eletrônico, ou por um intermediário.

Com o intuito de identificar e caracterizar os participantes das ações de

formação continuada realizadas na Diretoria de Ensino da Região de Assis no

período de 2005 a 2010, elaboramos um questionário para ser respondido pelos

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professores de Matemática que participaram destas ações. O questionário é

composto por questões abertas que buscam informações sobre a situação

funcional; formação acadêmica; tempo no magistério; motivações e contribuições

da participação nos cursos oferecidos pela SEE/SP, e por questões fechadas

para identificar se o professor tem participado de ações de formação continuada e

em caso afirmativo quais são essas ações, conforme pode ser observado no

Anexo II.

Como a Diretoria de Ensino compreende 38 escolas, localizadas em 14

municípios, solicitamos aos Professores Coordenadores Pedagógicos dessas

escolas que entregassem o questionário aos professores de suas escolas. Os

questionários foram entregues considerando o número de professores informado

pelos Coordenadores.

Os questionários foram aplicados no segundo semestre de 2011 e do total

de 155 questionários entregues 45 foram devolvidos devidamente respondidos.

3.4. Entrevista

Segundo Bogdan e Biklen (1994, p.134), na investigação qualitativa a

entrevista pode se constituir como estratégia principal na coleta de dados ou

como complemento a outros procedimentos. Nas duas situações, conforme

afirmam os autores “a entrevista é utilizada para recolher dados descritivos na

linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver

intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos

do mundo”.

Laville e Dione (1999) apresentam quatro tipos de entrevista: entrevista

estruturada; semiestruturada; parcialmente estruturada e não estruturada.

Partindo da definição desses autores, podemos considerar que a:

entrevista estruturada: se constitui como um questionário uniformizado

com as opções de respostas determinadas;

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entrevista semiestruturada: se constitui por uma série de perguntas

abertas, feitas verbalmente em uma ordem prevista, na qual o

entrevistador pode acrescentar perguntas de esclarecimento;

entrevista parcialmente estruturada: se constitui de temas

particularizados em que as questões são preparadas antecipadamente,

mas que o entrevistador tem liberdade quanto a retirada ou acréscimo de

questões, e quanto a ordem em que as questões serão colocadas;

entrevista não estruturada: se constitui de um ou vários temas, com

algumas questões iniciais, mas com liberdade para improvisação de

acordo com as suas intenções e com as respostas obtidas de seu

interlocutor.

Para esses autores, no caso das entrevistas estruturadas, o participante

fica preso em um rol de respostas previamente estabelecidos, o que permite

interrogar um grande número de pessoas ao mesmo tempo e com baixo custo,

além de possibilitar que os dados sejam tratados estatisticamente. Já nas outras

formas de entrevistas, menos ou nada estruturadas, isto se perde. No entanto,

conforme afirmam Laville e Dione (1999, p. 190), “a flexibilidade adquirida permite

obter dos entrevistados informações muitas vezes mais ricas e fecundas, uma

imagem mais próxima da complexidade das situações, fenômenos ou

acontecimentos”.

Fiorentini e Lorenzato (2006) classificam as entrevistas em dois tipos

apenas: estruturadas e não estruturadas, no entanto, eles consideram a

existência da entrevista semiestruturada como um terceiro tipo de entrevista,

intermediária as duas anteriores. Segundo estes autores:

nas entrevistas estruturadas as questões são precisas, formuladas

previamente, seguem uma ordem determinada da qual não se pode

desviar, e são mais fáceis de serem tratadas estatisticamente;

nas entrevistas não estruturadas não há um roteiro prévio, o informante

aborda o assunto livremente, podendo estabelecer um diálogo com o

entrevistador;

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nas entrevistas semiestruturadas o entrevistador organiza um roteiro a

ser contemplado durante a entrevista, mas que dependendo do

desenvolvimento da mesma, pode alterar a ordem, acrescentar, ou retirar

questões, o que, possibilita ao entrevistador aprofundar-se sobre um

fenômeno ou questão específica.

Quanto à atuação do entrevistador, Fiorentini e Lorenzato (2006, p. 122 -

123) destacam uma série de recomendações que devem ser seguidas em todas

as etapas de realização da entrevista e que apresentamos a seguir:

Antes de iniciar a entrevista - explicar o objetivo e natureza do trabalho, e o

porquê da escolha do entrevistado para entrevista;

Assegurar o anonimato dos entrevistados e o sigilo dos depoimentos;

Solicitar autorização para gravar a entrevista e assegurar o acesso do

entrevistado a transcrição da gravação após revisão;

Escolher um local tranquilo que favoreça o diálogo e esclarecer o

entrevistado que ele deve ficar à vontade para não responder a todas as

questões, podendo inclusive interromper a entrevista a qualquer momento;

Demonstrar interesse no que diz ou narra o entrevistado, não deve discutir

seus pontos de vista ou opiniões e nem mostrar surpresa ou desaprovação

e muito menos, avaliar negativamente sua fala;

Não interromper o curso do pensamento do entrevistado.

Entendemos que a entrevista semiestruturada, conforme definida por

Laville e Dione (1999) e Fiorentini e Lorenzato (2006) constitui um instrumento

importante para a identificação das relações entre os processos formativos

oferecidos pelos órgãos públicos e as necessidades dos professores de

Matemática quanto à sua prática educativa, e para aprofundar a reflexão sobre os

limites e potencialidades das diferentes ações formativas desenvolvidas na

Diretoria de Ensino – Região de Assis em termos de facilitadoras do trabalho

docente.

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Neste sentido, realizamos ao final de 2012 três entrevistas semi-

estruturadas, conforme definida por Fiorentini e Lorenzato (2006), com

professores de Matemática da Diretoria de Ensino da Região de Assis. Os

professores entrevistados foram selecionados a partir do questionário respondido

considerando:

1. A participação em diferentes ações formativas desenvolvidas na Diretoria

de Ensino da Região de Assis no período de 2005 a 2010;

2. Que não fossem da mesma escola;

3. As características das escolas;

4. A formação acadêmica;

5. A situação funcional.

A partir destes critérios, selecionamos três professores, um homem e duas

mulheres, que participaram de mais de uma ação formativa oferecida, sendo

estas realizadas por convocação e por convite. Os três possuem Licenciatura

plena em Matemática, sendo dois efetivos. Esses professores ministram aulas em

escolas diferentes, duas estão localizadas no Município sede da Diretoria de

Ensino.

As entrevistas foram gravadas com a autorização dos entrevistados e

posteriormente foram transcritas pela pesquisadora.

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CCAAPPÍÍTTUULLOO IIVV

RESULTADOS

Neste Capítulo apresentamos resultados de nossa pesquisa. Na primeira

parte indicamos e descrevemos as ações de formação continuada, realizadas na

Diretoria de Ensino - Região de Assis, em que houve a participação de

professores de Matemática. Na segunda parte, traçamos o perfil dos professores

participantes dessas ações, procurando responder quem são os professores de

Matemática participantes das ações formativas oferecidas na Diretoria. Na

terceira parte, mostramos a participação dos professores nas ações de formação

continuada oferecidas, buscando responder de quais ações os professores de

Matemática têm participado.

4.1. A Formação Continuada de Professores na Diretoria de Ensino -

Região de Assis

Conforme afirmam Gatti et al (2011), o Estado de São Paulo, por meio da

Secretaria da Educação, tem se destacado no desenvolvimento de ações de

formação continuada de professores de maneira abrangente. O que sem dúvida é

um grande desafio, considerando o tamanho da rede pública de ensino deste

estado, composta por 91 Diretorias de Ensino espalhadas na grande São Paulo e

no interior.

As ações de formação continuada de Professores são oferecidas pela

SEE/SP nas modalidades presenciais, semipresenciais e à distância. Cabe às

Diretorias de Ensino a divulgação e incentivo à participação nos cursos à

distância; acompanhamento das ações semipresenciais; e elaboração e ou

implementação das ações presenciais.

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Dentre as ações de formação continuada desenvolvidas na Diretoria de

Ensino – Região de Assis, voltadas direta ou indiretamente ao professor de

Matemática, destacamos os programas/projetos: Números em Ação, Teia do

Saber, São Paulo Faz Escola, REDEFOR, e Currículo e Prática Docente; os

cursos: Introdução à Língua Brasileira de Sinais – Libras, Cinema na Escola e

Práticas de Leitura e Escrita na Contemporaneidade; e as Orientações Técnicas

sobre Currículo e Avaliação.

O Projeto Números em Ação foi realizado no período de 2004 a 2007 com

o objetivo de atender alunos das 5ª séries (6º anos) e 6ª série (7º ano) do Ensino

Fundamental Ciclo II, com defasagem de aprendizagem em relação aos cálculos

matemáticos, por meio do uso pedagógico das tecnologias.

O projeto foi desenvolvido sob a responsabilidade da Coordenadoria de

Estudos e Normas Pedagógicas – CENP e do Departamento de Informática

Educativa da Fundação para o Desenvolvimento da Educação – FDE, com o

intuito de oferecer formação ao professor das turmas, para diagnóstico, realização

de atividades e avaliação do resultado da ação pedagógica, visando à melhoria

da aprendizagem desses alunos no que se refere aos cálculos matemáticos, à

resolução de problemas, a capacidade de argumentação e posicionamento crítico

em relação às informações e a utilização da linguagem matemática.

A Teia do Saber foi um Programa de Formação Continuada, desenvolvido

pela SEE/SP, no período de 2003 a 2007, com a finalidade de aliar teoria e

prática docente, atualizar sobre metodologias de ensino e instrumentalizar os

professores para o uso de tecnologias no ensino. Esse programa combinou ações

centralizadas, realizadas pelos órgãos centrais da SEE com ações

descentralizadas, organizadas nas Diretorias de Ensino.

Dentre as ações centralizadas da Teia do Saber destacamos o Programa

Letra e Vida e o Programa Ensino Médio em Rede.

O Programa Letra e Vida - programa de formação de professores

alfabetizadores constituiu-se em um curso de formação destinado aos professores

dos anos iniciais do Ensino Fundamental e demais profissionais da educação que

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desejassem aprofundar seus conhecimentos sobre o ensino da leitura e da

escrita. Esse programa teve como objetivos:

Melhorar os resultados da alfabetização;

Contribuir para a mudança de paradigma sobre formação de

professores;

Contribuir para a formação de quadros estáveis de formadores de

professores alfabetizadores;

Contribuir para construção do sentimento de responsabilidade com a

aprendizagem de todos os alunos;

Favorecer a ampliação do universo cultural dos formadores e dos

professores, especialmente em relação ao seu letramento.

Apesar de ser um programa voltado para professores do ciclo I do Ensino

Fundamental, esse curso também foi oferecido para os professores do ciclo II do

Ensino Fundamental e para os professores do Ensino Médio de todas as

disciplinas curriculares.

O Ensino Médio em Rede - EMR foi um programa de formação continuada,

desenvolvido no período de 2004 a 2006, e foi concebido e coordenado pela

CENP - Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas e gerenciado pela

Fundação Vanzolini, destinado aos assistentes técnico-pedagógicos (ATP),

supervisores de ensino, professores coordenadores (PC) e professores do Ensino

Médio regular. Esse programa contou com o financiamento do Programa de

Melhoria e Expansão do Ensino Médio (PROMED), vinculado ao Fundo Nacional

de Desenvolvimento da Educação (FNDE) do governo federal, por meio de

convênio firmado entre a Secretaria de Estado da Educação (SEE), o Ministério

da Educação (MEC) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Para a realização do Ensino Médio em Rede foram utilizados os recursos

disponibilizados na Rede do Saber por meio de teleconferências,

videoconferências, ferramentas web, além de materiais impressos desenvolvidos

especialmente para o programa. Esse programa foi idealizado e desenvolvido

tendo como objetivos:

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aprofundar a discussão sobre as especificidades curriculares do

Ensino Médio;

fortalecer a integração entre os professores das áreas de

Linguagens e Códigos e suas Tecnologias – LCT; Ciências

Humanas e suas Tecnologias – CHT e Ciências da Natureza,

Matemática e suas Tecnologias – CNMT, a partir de projetos

temáticos e de uma perspectiva interdisciplinar;

desenvolver metodologias de ensino das disciplinas das diferentes

áreas curriculares;

fortalecer as equipes escolares promovendo a articulação e

integração de aspectos ligados à gestão educacional e à gestão

didático-pedagógica;

fornecer subsídios teórico-práticos para o trabalho pedagógico dos

professores das diferentes disciplinas e áreas do conhecimento;

orientar o trabalho pedagógico dos professores representantes das

áreas;

ampliar o desenvolvimento de competências leitoras e escritoras dos

professores das diferentes disciplinas;

possibilitar aos educadores o aprofundamento do conhecimento e da

utilização de novas tecnologias de comunicação e informação.

O EMR foi desenvolvido em duas fases, a primeira realizada entre 2004 e

2005 e a segunda realizada em 2006. Na primeira fase foram abordados

conteúdos voltados para a contextualização da proposta de formação e para

discussão das representações dos envolvidos na prática educativa. Na segunda,

a ênfase foi dada ao desenvolvimento do currículo do Ensino Médio, referente às

três áreas de conhecimento, LCT, CHT e CNMT.

A maioria das atividades do curso foi desenvolvida no horário de trabalho

dos envolvidos. No caso dos professores, as atividades foram realizadas nos

horários de HTPC e em sala de aula, sob a coordenação dos Professores

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Coordenadores das escolas. Os Supervisores, ATPs e PCs realizaram as

atividades e seu local trabalho, nas Diretorias de Ensino, nas escolas e nos

ambientes da Rede do Saber.

A respeito das ações descentralizadas, vinculadas a Teia do Saber,

realizadas na Diretoria de Ensino – Região de Assis entre 2005 a 2010

destacamos os cursos:

Metodologia do Ensino da Leitura em todos os Componentes Curriculares,

realizado em 2004, 2005 e 2006, oferecido para professores do Ensino

Fundamental ciclo II e Ensino Médio de todos os componentes curriculares;

Metodologia de Ensino das disciplinas da área de Ciências da Natureza,

Matemática e suas Tecnologias, realizado em 2005 e 2006, voltado para

Professores do Ensino Fundamental ciclo II das disciplinas de Ciências e

Matemática;

Metodologia de Ensino das disciplinas da área de Ciências da Natureza,

Matemática e suas Tecnologias – Ensino Médio: Matemática, voltado para

professores de Matemática do Ensino Médio e realizado nos anos de 2005,

2006 e 2007;

Metodologia de Ensino das disciplinas de Ciências da Natureza,

Matemática e suas Tecnologias – EF ciclo II, realizado em 2007 voltado

para professores do Ciclo II do Ensino Fundamental, das disciplinas de

Ciências e Matemática;

Ler para Aprender – Ensino Fundamental ciclo II e Ensino Médio, realizado

em 2007 voltado para professores do Ensino Fundamental ciclo II e Médio

de todos os componentes curriculares.

As ações descentralizadas do Programa Teia do Saber se caracterizaram

pela realização de cursos oferecidos pelas Diretorias de Ensino e desenvolvidos

por Instituições de Ensino Superior, contratadas especificamente para ministrá-los

aos professores do ensino fundamental e médio.

Esses cursos foram realizados fora do horário de trabalho dos professores,

gerando certificação de participação possibilitando, ao professor/cursista,

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evolução funcional. Por esse motivo esses cursos, em sua maioria, foram

oferecidos e desenvolvidos aos sábados.

O Programa Teia do Saber teve início em 2003 e foi encerrado em 2007.

Em 2007, tendo como foco a implantação de um currículo pedagógico

unificado para todas as escolas da Rede Pública Estadual, a SEE/SP criou o

Programa São Paulo Faz Escola, que consistiu na elaboração e distribuição de

materiais pedagógicos bem como ainda, a realização de cursos de formação

continuada para professores. Em relação aos materiais, foram produzidos: um

documento base para todas as disciplinas, em que são apresentados os

princípios norteadores do Currículo Oficial do Estado de São Paulo e materiais de

apoio para gestores (Caderno do Gestor), professores (Caderno do Professor) e

alunos (Caderno do Aluno).

Complementarmente a elaboração e distribuição dos materiais de apoio, a

SEE/SP realizou cursos de formação continuada para professores como “A Rede

Aprende com a Rede” e “Grandes Temas da Atualidade”.

O curso A Rede Aprende com a Rede foi realizado em 2008 e 2009, com o

objetivo de possibilitar aos professores o aprofundamento dos conceitos e teorias

que norteiam o currículo de cada disciplina, bem como das metodologias

indicadas nos materiais de apoio aos professores. O curso foi realizado à

distância e consistiu basicamente em assistir as videoaulas gravadas pelos

especialistas que participaram da elaboração dos Cadernos do Professor,

disponibilizadas no site do curso e na participação em fóruns de discussão,

mediados pelos Professores Coordenadores das Oficinas Pedagógicas - PCOP.

O curso Grandes Temas da Atualidade fez parte do projeto de Apoio à

Continuidade de Estudos, voltado ao aprofundamento de estudos das disciplinas

curriculares da 3ª série do Ensino Médio e em temas transversais da atualidade.

Esse projeto foi desenvolvido com o propósito de subsidiar alunos e professores

com materiais pedagógicos e “preparar” os professores para o desenvolvimento

das atividades relacionadas à parte diversificada do currículo, envolvendo casos

bem sucedidos, conteúdos, metodologias, estratégias e critérios de avaliação.

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O curso foi desenvolvido por meio de videoconferências e atividades

coletivas presenciais realizadas em horas de trabalho pedagógico coletivo (HTPC)

nas escolas, com os professores da parte diversificada do currículo das áreas de

Linguagens e Códigos, Ciências Humanas e Ciências da Natureza e Matemática,

sob a orientação do Professor Coordenador do Ensino Médio.

Ainda como parte do Programa São Paulo Faz Escola, em 2010, a SEE/SP

realizou o curso de Implementação do Currículo de Matemática para Professores

do Ciclo II do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. O curso foi realizado, nas

Diretorias de Ensino sob a orientação dos PCOP de Matemática, em quatro

módulos de 60 horas cada um, sendo 24 horas presenciais, e 36 horas online,

mediante atividades de estudo, pesquisa e videoaulas disponibilizadas pela

CENP.

Apesar de ter um formato único, os PCOP tiveram autonomia quanto à

escolha das atividades e à dinâmica do curso. O curso teve como objetivos:

esclarecer os professores sobre a concepção e organização do currículo de

Matemática proposto pela SEE/SP; discutir as ideias fundamentais que norteiam

esse currículo; e estudar as Situações de Aprendizagem presentes nos Cadernos

do Professor e do Aluno.

Em 2010, por meio de convênio firmado com as Universidades Públicas

Estaduais – USP, UNESP e UNICAMP, o Governo do Estado de São Paulo

instituiu o Programa Rede São Paulo de Formação Docente – REDEFOR para

oferta de cursos de pós-graduação para professores e gestores visando o

desenvolvimento profissional dos educadores que atuam na escola e em demais

órgãos da SEE/SP.

O Programa oferece 16 (dezesseis) cursos de especialização, sendo 13

(treze) referentes às disciplinas do currículo, oferecidos para Professores e PCOP

e 3 (três) cursos de gestão oferecidos para Supervisores de Ensino, Diretores,

Vice-Diretores e Professores Coordenadores.

Dentre os cursos oferecidos, está o de Especialização para Docentes em

Matemática, com duração de 360 horas de duração. Esse curso é realizado pela

UNICAMP, na modalidade semipresencial, e oferecido aos professores e aos

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PCOP de Matemática com o objetivo de proporcionar o aperfeiçoamento

profissional desses educadores.

Mais recentemente, no intuito de aprofundar as discussões sobre currículo,

a SEE/SP por meio da Escola de Formação de Professores – EFAP criou, em

2011, o Programa Currículo e Prática Docente, oferecendo cursos aos

professores da Rede Pública Estadual das diferentes disciplinas curriculares.

Os cursos do Programa Currículo e Prática Docente são realizados à

distância e abordam conteúdos, estratégias e metodologias a serem aplicados em

sala de aula, visando melhores resultados nos processos de ensino e de

aprendizagem, o desenvolvimento de ambos se deu em duas etapas: a primeira

é comum a todos os professores e envolve informações sobre o ambiente virtual

de realização do curso, a política educacional da SEE/SP e questões gerais

referentes à formação na área pedagógica. Já a segunda é exclusiva para a

disciplina de atuação do professor e compreende formação específica nos

conteúdos de cada disciplina e em educação especial.

Além dos programas e projetos descritos acima, identificamos nas ações

de formação desenvolvidas na Diretoria de Ensino de Assis, a participação de

professores de Matemática nos cursos de Introdução à Língua Brasileira de Sinais

– Libras, Cinema na Escola e Práticas de Leitura e Escrita na

Contemporaneidade.

O curso de Introdução à Língua Brasileira de Sinais (Libras) foi oferecido

aos Professores do Ensino Fundamental Ciclo I e II e Ensino Médio de todos os

componentes curriculares, com intuito de melhorar o atendimento aos alunos com

necessidades educacionais especiais na área de surdez e aperfeiçoar a

comunicação entre os professores e os alunos surdos.

O curso Cinema na Escola foi desenvolvido no período de 2004 a 2007 e

oferecido aos Professores Coordenadores e aos Professores do Ensino

Fundamental Ciclo II e Ensino Médio de todos os componentes curriculares. O

curso teve como finalidade ampliar o repertório de possibilidades e de práticas em

sala de aula dos professores, quanto à utilização de filmes como recurso

didático/pedagógico, por meio de análise e discussão sobre o movimento

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cinematográfico nacional tendo como foco o panorama do cinema brasileiro dos

anos 1920 a 1950.

O curso foi realizado mediante convocação dos professores inscritos e

desenvolvido por meio de uma parceria estabelecida entre a Oficina Pedagógica

da Diretoria de Ensino de Assis com o Núcleo de Ensino, do departamento de

História, da UNESP – Campus Assis. Os encontros consistiram em exposição

sobre o período histórico do cinema brasileiro abordado, questionamentos sobre o

processo de industrialização e suas consequências para a vida social brasileira,

na exibição e discussão sobre os filmes apresentados.

O curso Práticas de Leitura e Escrita na Contemporaneidade foi realizado

em 2008 e teve como objetivo o desenvolvimento de capacidades relativas à

leitura e escrita, visando à ampliação do letramento geral e digital dos

supervisores de ensino, Assistentes Técnicos Pedagógicos (ATP), professores

coordenadores das escolas (PC) e professores do Ensino Fundamental Ciclo II e

Ensino Médio de todas as disciplinas.

O curso teve duração de 360 horas e foi desenvolvido pelo Programa de

Pós-Graduação em Linguística Aplicada aos Estudos da Linguagem da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, na modalidade à distância.

Outra configuração de ação de formação continuada desenvolvida nas

Diretorias de Ensino refere-se às Orientações Técnicas para professores,

realizadas na Diretoria de Ensino mediante convocação ou nas escolas em

horários de HTPC. Esse modelo de formação, apesar de ser um processo

constante e desenvolvido ao longo do ano letivo, caracteriza-se como uma ação

pontual cujo objetivo é orientar os professores quanto ao currículo, à avaliação e à

recuperação da aprendizagem.

No quadro 2 apresentamos um quadro resumo das ações formativas

levantadas a partir da análise de documentos disponibilizados pela Diretoria de

Ensino da Região de Assis.

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Quadro 2 - Ações de Formação Continuada de Professores de Matemática, desenvolvidas na Diretoria de Ensino de Região de Assis, no período de 2005 a 2010.

Ação desenvolvida Período de

Realização

Projeto Números em Ação 2005 a 2007

Programa Teia do Saber 2003 a 2007

Programa São Paulo Faz Escola A partir de 2007

Programa Rede São Paulo de Formação Docente -

REDEFOR A partir de 2010

Programa Currículo e Prática Docente A partir 2010

Curso: Introdução a Língua Brasileira de Sinais -

Libras 2007

Curso: Cinema na Escola 2004 – 2007

Curso: Práticas de Leitura e Escrita na

Contemporaneidade 2006 – 2007

Orientações Técnicas Todos os anos

Como descrevemos anteriormente, os projetos e programas apresentados

na tabela, se desdobraram em outras ações de formação continuada, cursos e

orientações para os professores de Matemática da Rede Pública Estadual.

A diversidade de ações de formação continuada apresentadas mostra

preocupação dos órgãos públicos com a formação de seus professores. Contudo,

ao analisarmos os objetivos dessas ações, percebemos que exceto o curso

“Cinema da Escola” que teve como intuito ampliar o universo cultural, aquisição

de capital cultural Bourdieu (2011), dos professores participantes, as outras ações

têm se preocupado com a instrumentalização para o uso de tecnologias e

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atualização sobre metodologias para o trabalho interdisciplinar e com temas

transversais.

4.2. Perfil dos Professores que participaram das ações formativas

realizadas na Diretoria de Ensino – Região de Assis

Feito o levantamento das ações de formação continuada em que houve a

participação de professores de Matemática, elaboramos um questionário com o

objetivo de identificar qual o perfil dos professores que participaram dessas

ações. Esse questionário foi enviado para as 38 (trinta e oito) escolas, de Ensino

Fundamental Ciclo II e Ensino Médio da Diretoria de Ensino da Região de Assis,

para ser respondido pelos professores de Matemática.

As informações sobre o número de questionários a ser entregue para cada

escola foram obtidas com os Professores Coordenadores, o que não representa

uma informação precisa, pois há professores que ministram aulas em mais de

uma escola, outros que estavam ou que entraram em licença no período em que

os questionários foram aplicados, outros ainda, que se afastaram por um curto

período para exercer a função de vice-diretor.

Com base nessas informações, foram distribuídos cento e cinquenta e

cinco (155) questionários dos quais, quarenta e cinco (45) foram respondidos

pelos professores matemática representando aproximadamente 29% do total

distribuído. Dos questionários respondidos, dois professores informaram que não

participaram de nenhuma ação de formação continuada desenvolvida na Diretoria

de Ensino da Região de Assis, no período de 2005 a 2010. Neste sentido,

contamos em nossa pesquisa com um grupo de quarenta e três (43) professores,

sendo dezoito (18) do sexo masculino e vinte e cinco (25) do sexo feminino,

conforme mostramos na tabela 7:

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Tabela 7 – Distribuição dos Professores de Matemática que responderam ao questionário quanto ao gênero

Gênero M F

Nº de Participantes

18 25

Como podemos observar aproximadamente 58% dos professores que

responderam ter participado de alguma ação de formação continuada é do sexo

feminino. Apesar da pequena diferença entre o número de homens e mulheres,

elas representam a maioria no grupo.

Os quarenta e três professores que responderam terem participado de

alguma ação de formação continuada estão distribuídos em dezoito (18) escolas,

localizadas em dez (10) municípios, sendo uns localizados a mais de 100 km de

distância da Diretoria de Ensino. Dessas escolas, algumas estão localizadas em

distritos ou municípios pequenos com menos de mil habitantes.

A respeito do número de questionários respondidos por escola,

observamos que esse dado difere de uma escola para outra, enquanto em

algumas apenas um questionário foi respondido em outras esse número chegou a

seis (6). É importante ressaltar que o número de questionários respondidos não

representa necessariamente o número de professores da escola.

Quanto à formação inicial, vinte e nove (29) professores informaram que

cursaram a graduação em instituições particulares e catorze (14) responderam ter

cursado a graduação em instituições públicas. Apesar de dois professores não ter

informado a data de conclusão da graduação, observamos que houve uma

concentração maior de professores graduados no período de 2001 a 2005.

Contudo, a maioria dos professores que respondeu ao questionário, apontou ter

concluído a graduação há mais de dez anos, conforme apresentamos na tabela 8.

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Tabela 8: Distribuição do Número de Professores por período de conclusão da graduação.

Período de conclusão do curso de graduação

Nº de Professores

1981 - 1985 4

1986 - 1990 7

1991 - 1995 4

1996 - 2000 8

2001 - 2005 10

2006 - 2010 8

não informou 2

Em relação ao tempo na função, o grupo de professores que respondeu ter

participado de ações de formação continuada mostra-se heterogêneo, com

presença de professores em diferentes etapas da carreira. Alguns iniciando na

docência e outros em fase de aposentadoria. Na tabela 9 apresentamos a

distribuição do número de professores conforme o tempo de exercício no

magistério.

Tabela 9: Distribuição do Número de Professores por tempo de magistério

Tempo no magistério Nº de

Professores

Menos de 5 anos 7

Entre 5 e 10 anos 12

Entre 11 e 15 anos 12

Entre 16 e 20 anos 6

Mais de 20 anos 6

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Apesar da presença de professores nas diferentes etapas da carreira do

magistério notamos que o número de professores que responderam ter

participado de alguma ação de formação continuada na Diretoria de Ensino da

Região de Assis, está concentrado entre 5 e 15 anos de magistério.

A respeito do tipo de formação inicial, verificamos que parte desses

professores não possui habilitação específica para ministrar aulas de matemática,

conforme mostra a tabela 10:

Tabela 10: Distribuição do Número de Professores quanto ao tipo de graduação

Formação Inicial Nº de Participantes

Ciências com habilitação em Matemática

18

Ciências e Biologia 4

Licenciatura em Matemática 11

Matemática 8

Química Industrial 1

não informado 1

Ao observarmos a tabela verificamos que cinco dos professores que

responderam ao questionário não possuem licenciatura em Matemática. Desses,

quatro (4) possuem habilitação em Ciências e Biologia, um (1) possui graduação

em Química Industrial e um professor não informou a graduação cursada. Apesar

de haver professores que não possuem licenciatura em matemática, observamos

que a maioria dos professores que participou das ações de formação continuada

possui habilitação para ensinar Matemática.

Em relação à formação continuada, dos quarenta três (43) professores

participantes da pesquisa, quinze (15) são especialistas e três são mestres. Dos

professores especialistas, sete informaram apenas a instituição, mas não

informaram a área de especialização. Os demais possuem especialização em:

Novas Tecnologias para o Ensino da Matemática; Matemática; Design

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Instrucional; Estatística; Administração Escolar; Ensino de Química; Matemática

Aplicada; Matemática para o Ensino Básico e Pedagogia Empresarial. Em relação

aos mestres, apenas um informou possuir Mestrado em Educação para as

Ciências os outros informaram apenas a instituição.

No que se refere à atuação profissional, dos quarenta e três professores

que responderam ter participado de alguma ação formativa, treze (13) informaram

que além da Rede Estadual trabalham em outras redes de Ensino. Desses, sete

atuam tanto na Rede Estadual quanto na Rede Particular, cinco atuam na Rede

Estadual e na Rede Municipal e um professor informou trabalhar nas três Redes

de Ensino.

No questionário não foi solicitada a informação sobre a situação funcional

dos professores, o que não possibilitou, a priori, identificar se os mesmos são

professores efetivos ou não. Contudo, considerando que esta poderia ser uma

informação relevante para a nossa pesquisa, realizamos um levantamento junto

ao banco de dados da Diretoria de Ensino de Assis a fim de identificarmos os

professores efetivos. A partir desta análise, observamos que dos 43 professores

que responderam ao questionário, 26 são efetivos. O que mostra que mais de

60% dos professores que participaram das ações formativas são efetivos.

Na tabela 11 apresentamos a distribuição dos professores quanto à forma

de participação nos processos formativos.

Tabela 11: Distribuição do Número de Professores quanto ao tipo de formação realizada

Tipo de Formação

Situação Funcional

Convocação Convite Ambos Total

Efetivo 6 1 19 26

Não efetivo 2 2 13 17

Total 8 3 32 43

Conforme apresentado na tabela, em relação ao tipo de formação,

observamos que trinta e dois (32) professores participaram tanto de ações

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realizadas por meio de convocação, quanto de ações para as quais foram apenas

convidados, sendo dezenove (19) efetivos e treze (13) não efetivos. Nas ações

realizadas por convocação houve a participação de oito (8) professores, seis (6)

efetivos e dois (2) não efetivos. Apenas três (3) professores, um efetivo e dois não

efetivos, participaram somente de ações realizadas por meio de convite.

Para as ações formativas realizadas por convocação, o Dirigente de Ensino

convoca um professor de matemática de cada escola. Normalmente, é solicitado

que este professor tenha perfil de multiplicador3. Contudo, isto nem sempre é

garantido, uma vez que a indicação de quem vai participar é da responsabilidade

do Diretor da escola. É o Diretor da escola que determina, caso a escola tenha

mais de um professor de matemática, qual deles participará da ação.

Para as ações que não envolvem convocação são enviados comunicados

às escolas sobre a realização dos mesmos. No caso dos cursos realizados pela

Diretoria, são encaminhadas fichas para os professores se inscreverem. No caso

dos cursos online, nos comunicados é informado o link do site em que o professor

deverá se inscrever, caso tenha interesse. Neste caso, o professor é informado

sobre a realização da ação e convidado a participar dela.

4.3. Participação dos Professores nas ações de formação continuada

Com o intuito de conhecer como tem sido a participação dos professores

de Matemática nas ações de formação continuada elencamos, no questionário,

algumas ações formativas desenvolvidas na Diretoria de Ensino da Região de

Assis e solicitamos aos professores que assinalassem aquelas das quais

participaram. Solicitamos, também, que pontuassem outras ações de que

participaram e que não estavam relacionadas no questionário.

Como resultado desse levantamento, observamos que houve participação

dos professores de Matemática que responderam ao questionário, em todas as

ações elencadas, e que as Orientações Técnicas sobre Currículo, Saresp e

3 Perfil de multiplicador: professor de Matemática que participa das reuniões pedagógicas da

escola, que possui bom relacionamento com os colegas, que tenha facilidade para trabalhar em equipe e para promover na escola, uma discussão e reflexão sobre o assunto tratado na reunião, de forma colaborativa.

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Recuperação e os cursos Ensino Médio em Rede e Grandes Temas da

Atualidade foram as ações que contaram com o maior número de participantes.

Em relação à participação em outras ações formativas, os professores

informaram ter participado de outros cursos, além dos que estavam relacionados

no questionário. Desses, dois informaram ter participado do curso para

Professores Ingressantes, realizados pela Escola de Formação e

Aperfeiçoamento de Professores (EFAP). Ressaltamos que esse curso é parte

integrante do concurso público para provimento de cargo efetivo de Professores

da Educação Básica II.

Os demais professores informaram ter participado dos cursos: M@tmídias

3; Conhecimento básico em Informática; Cabri; Supermática; Internet na

Educação; Escola Caminho para a inclusão; Biologia Molecular; Cabricando com

geometria; Supermáticas; A Rede Aprende com a Rede EF e EM; Pró Ciências -

Temas transversais no Ensino e Aprendizagem de Matemática no EM; Formação

de valores no processo de Ensino Aprendizagem; Um salto para o Futuro - PCN -

meio ambiente e leitura.

A partir das informações obtidas, foi possível agrupar as ações formativas

em cinco (5) temáticas relacionadas à Matemática; à leitura; à inclusão; à

tecnologia e à docência, conforme apresentamos na tabela 12.

Tabela 12: Número de ações formativas por temática de formação

Temática Nº de Ações de

Formativas

Matemática 6

Leitura 3

Inclusão 2

Tecnologia 6

Docência 11

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Como podemos observar a temática referente à docência é a que possui o

maior número de ações de formação continuada desenvolvidas na Diretoria de

Ensino de Assis.

Quanto à participação dos professores nessas ações, verificamos que se

por um lado existem ações que contaram com a participação de um único

professor, por outro, muitos professores participaram de mais de uma ação

formativa.

Na tabela 13 apresentamos o número de professores que participaram de

ações de formação continuada relacionadas às temáticas apresentadas.

Tabela 13: Número de professores participantes nas ações de formação

continuada por temática de formação

Temática Nº de Professores

Matemática 40

Leitura 10

Inclusão 2

Tecnologia 3

Docência 39

Os dados apresentados mostram que apesar da maioria dos professores

ter participado de ações que envolvem as temáticas Matemática e Docência, é

significativo o número de professores que participou de ações formativas

relacionadas à leitura.

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4.3.1. Percepções dos professores de Matemática sobre as ações de

formações continuada4

Que percepções os professores tem sobre as ações de formação

continuada das quais participaram? Tendo como finalidade conhecer as

percepções dos professores Matemática sobre as ações de formação continuada

das quais participaram, solicitamos que comentassem sobre os motivos que os

levaram a participar das ações de formação continuada oferecidas e sobre as

possíveis contribuições dessas ações para a sua prática docente.

No relato dos professores de Matemática, identificamos três aspectos:

Motivações, Potencialidades e Fragilidades, referentes às percepções desses

professores sobre as ações de formação continuada, oferecidas pela SEE/SP e

desenvolvidas na e/ou pela Diretoria de Ensino de Assis.

Em relação às Motivações, observamos três fatores que tem mobilizado

os professores de Matemática a participar de ações de formação continuada: a

atuação profissional, a aprendizagem dos alunos e a questão salarial.

A preocupação com a atuação profissional pode ser observada nas falas

dos professores, quando afirmam que:

De modo geral a minha participação nas ações citadas teve como objetivo aprimorar minha atuação como professor. (P1

5, questionário

respondido em 2011). Estar constantemente envolto na área de atuação e buscar novas metodologias e conhecimentos melhora e muito a forma de atuação em sala de aula, direciona o docente em seu trabalho no dia-a-dia. (P17, questionário respondido em 2011).

Além do que pontuaram os professores P1 e P17, apresentamos no quadro

3, uma síntese sobre o que os professores esperam das ações realizadas em

relação a sua atuação profissional.

4 Como nosso foco era fazer uma análise qualitativa, para a análise dos resultados consideramos

todos os fatores apontados pelos professores, mesmo que tenha aparecido uma única vez.

5 Para preservar a identidade dos professores numeramos os relatos de 1 a 43, de acordo com a

ordem em que foram digitados. Assim, ao nos referirmos às falas dos professores, utilizaremos a letra P maiúscula para professor, seguido do número relativo à ordem em que os relatos foram digitados.

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Quadro 3: O que buscam os professores de Matemática nas ações

formativas em relação a sua Atuação Profissional

Atuação Profissional

Aprimoramento dos conhecimentos, técnicas e metodologias utilizadas no trato e no ensino de Matemática em sala de aula;

Atualização em relação ao uso das tecnologias e ao currículo;

Compreender e desenvolver melhor o trabalho com o Currículo de Matemática do Estado de São Paulo e com a recuperação de alunos;

Encontrar melhor gestão da sala de aula;

Melhorar a formação profissional e a prática docente;

Sintonia com os “novos rumos” da educação, com a implantação de novas formas de aprendizagem, currículo, etc;

Ter melhor desempenho em temas da atualidade.

Outro tema que tem mobilizado os professores a participar de ações

formativas, identificado nos relatos, é a preocupação com a aprendizagem dos

alunos. Sobre essas motivações, a professora P16 relata que:

Para todas as ações de formação das quais participei houve o seguinte propósito: me capacitar para melhor desenvolver meu papel de educadora, buscando sempre novas experiências para que pudesse aplicá-las na sala de aula e que a aprendizagem matemática fosse mais significativa. (P16, questionário respondido em 2011).

No quadro 4 apresentamos alguns tópicos que apareceram nos relatos dos

professores e que demonstram esta preocupação.

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Quadro 4: O que buscam os professores de Matemática nas ações

formativas em relação a Aprendizagem dos alunos

Aprendizagem dos alunos

Proporcionar aprendizagem matemática mais significativa;

Buscar práticas e estratégias que mobilizem os alunos em busca de aprendizagem e sentir prazer nisso;

Capacitação para oferecer boas situações de aprendizagem aos alunos;

Ter melhor compreensão sobre as questões e a aplicação do SARESP.

Além dos aspectos relacionados à atuação profissional e a aprendizagem

dos alunos, alguns professores relataram que têm participado das ações de

formação, para obter certificado. Neste caso, o que tem mobilizado os docentes é

a questão salarial, uma vez que os certificados de participação nos cursos,

realizados fora do horário de trabalho, contam pontos para evolução funcional, o

que significa um aumento de 5% no salário base do professor. Isso fica evidente,

quando o professor afirma que participou da ação para “obter certificado para a

evolução funcional” (P22, questionário respondido em 2011).

Sobre as Potencialidades, identificamos nos relatos que a participação

nas ações de formação possibilitou aos professores de Matemática adquirir

Conhecimento curricular, Conhecimento didático, Conhecimento sobre avaliação,

Conhecimento sobre Tecnologia e Troca de Experiências.

A respeito do Conhecimento Curricular, os relatos dos professores

mostram que o processo de formação deve acompanhar o processo de

implementação curricular. No quadro 5 destacamos alguns fatores pontuados

pelos professores que retratam esse aspecto.

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Quadro 5: O que as ações formativas possibilitaram aos professores em

relação ao Conhecimento curricular

Conhecimento curricular

Estudo e conhecimento do Currículo de Matemática do Estado de São Paulo e dos materiais da SEE;

Discussão e esclarecimento sobre questões importantes do Currículo de Matemática e de outros materiais da SEE;

Apropriação das ideias e intenções dos autores do Currículo de Matemática;

Orientação sobre a condução dos trabalhos e esclarecimento sobre algumas ideias, propostas e conteúdos abordados no Currículo de Matemática;

Os professores apontam em seus relatos o Conhecimento didático como

maior contribuição das ações formativas para sua prática, conforme podemos

observar no quadro 6.

Quadro 6: O que as ações formativas possibilitaram aos professores em

relação ao Conhecimento didático

Conhecimento didático

Obtenção de embasamento teórico e prático para aperfeiçoar e tornar mais eficiente a prática docente;

Compreensão de como preparar uma aula de acordo com o que está proposto no currículo.

O uso de novos conhecimentos e metodologias para a atuação em sala de aula;

Uma nova abordagem e foco para o trabalho com um material específico e direcionado;

Diretrizes para um trabalho interdisciplinar;

Entendimento sobre os processos de alfabetização;

Esclarecimento de algumas dúvidas sobre como trabalhar conteúdos e habilidades;

O trabalho com outros gêneros textuais enfatizando a leitura como

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ponto de partida na resolução de situações problema e leitura de gráficos e tabelas;

Compreender como trabalhar a Matemática de forma diversificada e contextualizada.

Dentre as contribuições para o conhecimento didático do professor de

Matemática, destacamos àquelas relacionadas ao trabalho com leitura e com

gêneros textuais. A respeito dos cursos que tiveram como foco o trabalho com

leitura e gêneros textuais, os professores consideram que:

O curso propiciou uma melhoria significativa em minha prática docente, pois em minha área de atuação pude trabalhar com outros modelos textuais e enfatizar mais a leitura como ponto de partida na resolução de problemas (P17, questionário respondido em 2011).

Este foi um dos cursos que mais tirei proveito, por ser da área de Humanas; aprendi muita coisa. Na prática docente já trabalhava com a leitura de gráficos e tabelas, mas este curso abriu horizontes de outros modos (metodologias) que poderiam ser usadas em sala de aula (P24, questionário respondido em 2011).

Em relação à Avaliação, os professores apontaram que as ações

formativas relacionadas a este tema contribuíram para melhorar o entendimento

sobre o SARESP, à medida que forneceram parâmetros para aplicação de provas

e possibilitaram maior compreensão das escalas de proficiência e nível de

adequação dos alunos – Abaixo do Básico, Básico, Adequado e Avançado, em

cada ano/série avaliado.

Para a professora P41, as ações formativas possibilitaram ampliar o

conhecimento sobre avaliação, à medida que ajudou “a entender mais sobre o

Saresp. A importância desta prova, como podemos nos orientar através de seus

resultados para superar as defasagens dos alunos, etc.”.

Outra potencialidade das ações formativas diz respeito ao Uso de

tecnologias. Para os professores de Matemática de Assis, as ações formativas

contribuíram para ampliar o conhecimento sobre o uso das tecnologias à medida

que possibilitaram: “usar tecnologia a favor da aprendizagem matemática” (P14,

questionário respondido em 2011); conhecer e utilizar alguns softwares para

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melhorar a aprendizagem dos alunos e desenvolver alguns conteúdos de forma

contextualizada.

Além dos conhecimentos relativos ao currículo, à didática, à avaliação e ao

uso das tecnologias, os professores apontaram ainda, como potencialidade das

ações formativas, a Troca de experiência.

Na opinião do professor P5, a troca de experiências possibilita entrar em

contato com os “novos rumos da educação, com as mudanças, com a

implementação de novas formas de aprendizagem”. Para este professor nos

“cursos estamos sempre em contato com esse novo, trocamos experiências,

conhecemos angústias e medos dos colegas, encontramos experiências bem

sucedidas ou não”.

No quadro 7 apresentamos uma síntese dos aspectos levantados pelos

professores em relação à troca de experiências.

Quadro 7: O que as ações formativas possibilitaram aos professores em

relação a Troca de Experiências

Troca de Experiências

O debate com os tutores e com outros professores sobre temas relevantes no cotidiano escolar;

A mobilização de experiências individuais e coletivas;

Conhecimento sobre as angústias e medos dos colegas;

Socialização de experiências bem sucedidas ou não;

Percepção sobre as dificuldades relativas a prática docente e relevância do papel social do professor.

Além das motivações e das potencialidades, também foi possível identificar

nos relatos dos professores algumas Fragilidades das ações formativas

oferecidas.

Uma das fragilidades apontadas refere-se à carga horária. Alguns cursos,

segundo o professor P7, foram realizados “com carga horária insuficiente para o

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desenvolvimento pedagógico das atividades e temas”, comprometendo, assim, a

qualidade da ação e não possibilitando reflexões mais aprofundadas sobre o tema

tratado.

Apesar de terem aparecido como potencialidades, a avaliação e a

recuperação de alunos merecem um cuidado especial, por parte dos que

propõem ações de formação continuada para professores, especialmente para os

professores de Matemática da Rede Pública. Segundo o professor P42, “faltaram

orientações de como montar e aplicar uma avaliação diagnóstica, para realizar a

inclusão dos alunos da recuperação”.

Outra fragilidade apontada por uma das professoras, a docente P26, é a

falta de oportunidades para participar das ações de formação continuada. Em

relação a sua participação nos cursos, essa professora observa que as

“oportunidades para realização de cursos e OT são raras” e que em relação aos

cursos, tem “por princípio, participar de todos (que são poucos) que me são

oferecidos”.

A análise dos relatos dos professores, contidos no questionário respondido

em 2011, mostra que apesar das fragilidades apontadas, os professores de

Matemática de Assis, de modo geral, possuem uma percepção positiva em

relação aos cursos e orientações das quais participaram.

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CCAAPPÍÍTTUULLOO VV

ANÁLISE

Neste Capítulo apresentamos a análise da nossa pesquisa por meio de três

narrativas, nas quais apresentamos as trajetórias formativas de professores de

Matemática tendo como referencial os conceitos de Capital Social, Capital

Cultural e Habitus de Bourdieu. As narrativas foram construídas a partir das

entrevistas realizadas com três professores de Matemática da região de Assis que

tem participado das ações de formação continuada oferecidas pela SEE/SP e

pela Diretoria.

5.1. Narrativas – Trajetórias formativas de professores de Matemática

Vejo melhor os rios quando vou contigo6...

(Alberto Caeiro7)

Para compreender se os processos formativos possibilitaram rupturas e

construção de novos habitus à prática docente, fomos conversar com o professor.

A análise dos questionários possibilitou conhecer quem são os professores

de Matemática da Diretoria de Ensino de Assis participantes das ações de

formação continuada, realizadas no período de 2005 a 2010, os motivos que

levaram a participar dessas ações e algumas percepções dos professores sobre

elas.

Mas era preciso “ver melhor os rios”, aproximar a lente, ver mais de perto,

era preciso dialogar com o professor. Ver nas entrelinhas o que pensa o professor

de Matemática sobre o processo de formação e qual a relação entre esses

6 De “O Pastor Amoroso” de Alberto Caeiro, no livro “Vozes da Saudade” de Fernando Pessoa.

7 Um dos pseudônimos de Fernando Pessoa.

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processos e a sua atuação profissional. Por isso, a partir das informações do

questionário, selecionamos três professores para entrevistar.

Nessa escolha consideramos: a formação acadêmica; a forma de

participação nas ações formativas (por convocação e por convite); as

características da escola do professor e a sua situação funcional. Feito este

levantamento, convidamos os professores: Cida, Juca e Lia8, que prontamente

aceitaram participar da entrevista.

Esses professores possuem licenciatura plena em Matemática, ministram

aulas para os alunos do Ensino Fundamental Anos Finais (6º ao 9º ano) e para o

Ensino Médio, atuam apenas na escola pública estadual e participaram de ações

de formação (presencial e à distância) por meio de convocação e por convite.

Com a intenção de deixar os professores à vontade para expressarem suas

percepções sobre as ações formativas, sem interrupções e/ou interferências, por

solicitação dos próprios professores, marcamos as entrevistas para um local que

não tivesse relação direta com o ambiente escolar, de forma que a entrevista

pudesse transcorrer em um clima informal, que permitisse ao professor se sentir

não em uma relação entrevistador e entrevistado, mas em uma relação de diálogo

na qual pudesse se expressar com liberdade.

Assim, realizamos a entrevista com a Prof. Cida no dia 23 de novembro de

2012, às 14 horas, na residência da professora, a entrevista com o Prof. Juca, no

dia 07 de dezembro, às 18 horas e com a Prof. Lia, no dia 15 de dezembro, às 16

horas. As entrevistas com o Prof. Juca e com a Prof. Lia foram realizadas na casa

da entrevistadora. Cada entrevista teve duração aproximada de 1 hora.

Após as entrevistas, realizamos a transcrição dos diálogos entre

pesquisador e professores. A partir de cada diálogo, construímos um esquema:

montamos um esqueleto no qual fomos identificando o perfil, as características da

escola, a trajetória escolar e o histórico de formação continuada dos professores

entrevistados. Foi assim que, transformamos as falas dos professores em

8 Foram utilizados nomes fictícios para preservar a identidade dos entrevistados

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narrativas. Narrativas essas, que nos permitem contar a história da Cida, do Juca

e da Lia.

A seguir apresentamos essas narrativas, que foram tecidas a partir das

falas dos professores, e entrelaçadas pelos conceitos de Capital Social, Capital

Cultural e Habitus de Pierre Bourdieu.

5.2. Narrativa 1 – Professora Cida

A Cida é uma jovem professora de Matemática da Educação Básica, que

se preocupa com sua formação. Por isso, desde que iniciou sua carreira no

magistério, há nove anos, está sempre participando das ações de formação

continuada, oferecidas pela SEE/SP. Ela possui licenciatura plena em Matemática

e especialização em estatística. No momento da entrevista, a Prof. Cida estava

aguardando o resultado do processo seletivo para o mestrado ProfMat9.

A Prof. Cida trabalha em uma pequena escola, da Rede Pública de Ensino

do Estado de São Paulo, localizada em um bairro distante do centro da cidade,

que apesar de possuir poucas salas de aula, atende alunos do 1º ao 9º ano do

Ensino Fundamental e alunos do Ensino Médio. A equipe gestora da escola é

composta por Diretor, vice-diretor e um único Professor Coordenador – PC, para

atender os três níveis de ensino.

A Prof. Cida tem um carinho muito especial pela escola onde trabalha. Isto

se percebe, na forma como fala da escola. Há três anos, que está nessa escola e

diz que não pretende sair de lá, demonstrando que possui uma identificação com

esse espaço escolar, que se sente parte desse espaço e do grupo de

professores, gestores e alunos.

Assim, ao afirmar “ficarei aqui enquanto puder”, a professora Cida mostra

que construiu uma rede de relações sociais com essa escola, na qual reconhece

e é reconhecida no e pelo grupo que ali está. Essa rede de relações sociais

constitui o que Bourdieu (2011) denomina de capital social. Essa relação fica clara

9 ProfMat – Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional, curso semipresencial,

realizado no contexto da Universidade Aberta do Brasil e coordenado pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM).

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na fala da Prof. Cida quando se refere à escola: “é uma escola onde você tem um

bom convívio com todos e isso é importante, você estar no ambiente que você se

sinta bem, que você goste, que te dê prazer e tal é primordial”. Essa sensação de

pertencimento favorece o trabalho da Prof. Cida, pois “eles têm um contato assim

aberto, onde, mesmo que você converse com professores de outra área, eles te

ouvem, te dão ideias e os alunos são participativos”.

Para a Prof. Cida a austeridade é considerada uma qualidade positiva do

professor, “eu sempre gostei dos professores que eram rígidos, que eram bravos,

que pegavam no pé”. Quando recorda sua trajetória escolar, ela fala com carinho

de dois professores da graduação e um professor do ensino médio que eram

muito rígidos, pois via nesses professores “que eles queriam era que a gente

aprendesse”. Essa “rigidez” é amenizada no fato de não ser unilateral, que se

refletia em cobrança e ao mesmo tempo em entrega, “eles eram muito rígidos,

exigentes, mas ensinavam muito bem, tinham cuidado, tinha atenção, se você

tivesse dúvida eles te atendiam, explicavam novamente”.

Essa forma de relacionamento, com os seus professores, foi incorporada

pela Prof. Cida em sua prática e se traduz no modo como ela se preocupa com

seus alunos, “eu pego muito no pé deles, sabe, eu fico muito brava, quero que

eles prestem atenção, quero que eles aprendam então eu acho que eu peguei

isso deles”.

O comportamento relatado mostra o capital cultural incorporado

(BOURDIEU, 2011) pela Prof. Cida, a partir das atitudes de seus professores.

Capital esse que se constituiu no habitus desta professora e se reflete na forma,

como ela se relaciona com a aprendizagem de seus alunos.

A escolha profissional, não foi uma tarefa simples para professora Cida.

“Primeiro queria ser dentista”, depois “queria ser jornalista”, depois ficou na dúvida

entre Matemática e Pedagogia e acabou optando por Matemática “porque, tinha

aqui por perto,... e era a disciplina que eu mais me identificava na escola”.

A Cida gosta de ser professora “porque existe uma troca, um carinho,

então compensa bastante o seu esforço, é gratificante”. Para ela, o professor de

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Matemática precisa ouvir os alunos, para saber o que pensam, “não só eles

ouvirem a gente sabe, a gente tem que parar para ouvi-los”.

Em relação à atuação do professor de Matemática, a Prof. Cida considera

que não basta saber Matemática, para ela é preciso que o professor saiba como

ensinar, por isso, valoriza as ações formativas que possibilitam ampliar seu

conhecimento didático e que valorizam a troca de experiências. Tanto, que ao se

referir as ações de formação continuada a Prof. Cida relata que:

[...] esse ano eu acho que eu cresci um pouco mais em relação aos anos anteriores, eu acabei mudando meu método de trabalhar, eu achei que funcionou e tudo isso veio justamente por conta de orientações, capacitações, formações que foram feitas. Pelas trocas de experiências com os colegas de trabalho que eu acho importantíssimo. Lá [...] tem eu e a [...], mas ela não faz ATPC

10 lá, então eu acabo ficando sozinha

digamos assim. Da minha área de Matemática só tem eu, então pra trocar ideia com professor da minha área não tem. Então onde acontece essa troca, seria nos encontros que tem de formação. O que eu acho muito legal, pois um professor diz o que fez de legal e aí você faz adequações de acordo com a sua turma (Prof. Cida, entrevista, 2012).

A troca de experiências é um aspecto que aparece, em vários momentos,

na fala da Prof. Cida ao se referir às ações formativas das quais participou.

Referindo-se, especificamente, ao curso Currículo e Prática Docente, a

Prof. Cida pontua que a troca de experiência com outros professores de

Matemática do Estado possibilitou conhecer “como que ele atua, o que ele faz,

que critérios ele usa, [...] então você leva uma estratégia, tem um debate, troca

ideias”.

A respeito das contribuições das ações formativas para sua ação docente,

a professora citou uma orientação sobre avaliação, que a fez repensar sua

prática. Para ela, essa orientação foi importante em relação “a forma de analisar

as avaliações que são aplicadas, que digamos, até a um tempo, eu acho que eu

aplicava o mesmo método dos professores que deram aula pra mim,

simplesmente corrige, acertou tanto e pronto”.

10

ATPC: Atividade de Trabalho Pedagógico Coletivo, em substituição à HTPC: Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo.

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A partir da orientação sobre avaliação a Prof. Cida, diz ter compreendido

que:

não é só corrigir por corrigir, ver quantos ele acertou e por um número ali pra ele “tirou x”, não, eu vou corrigir essa avaliação pra ver o que ele já sabe, até onde ele sabe, onde eu vou continuar com esse aluno, o que eu tenho que fazer agora, o que ele está precisando pra eu poder ensiná-lo, então, essa formação que foi feita em relação à avaliação pra mim foi assim meio que um divisor (Prof. Cida, entrevista, 2012).

Essa nova compreensão de avaliação, se constituiu em um novo habitus

para essa professora. A experiência relatada a seguir mostra essa mudança.

Eu dei uma avaliação para um segundo ano e aí eu devolvi pra eles essa avaliação, corrigida, já com a nota e normalmente eu faço o que, vou pra lousa, faço a devolutiva junto com eles e pronto. Agora fiz diferente, eu entreguei pra eles e pedi pra eles refazerem olhando no caderno pra ver as questões que erraram. Podem buscar no caderno, ou no livro, ou no material de apoio que vocês tem para vocês acharem o que é melhor pra vocês, pra ver o que tá errado e aonde tem que corrigir e como, precisando pode me chamar eu vou até a carteira. Então assim, eles foram procurar ver onde eles erraram. E aí em outro momento eu vou fazer com eles junto, então foi legal que a maioria veio pra mim e falou: “professora, eu errei aqui, mas não to conseguindo entender por que e tal” porque se eu for direto pra lousa, o que acontece, um ou outro me ajuda e aquele que de repente precisa ele fica quietinho, pode ser que ele preste atenção ou pode ser que ele simplesmente olhou pra lousa e ficou por isso mesmo.

Apesar de sentir necessidade de mais orientações e considerar que tanto

as orientações, quanto os cursos são importantes para sua formação,

contribuindo para a mudança da sua prática, construção de novos habitus, a

professora Cida, aponta que faltou a essas ações abordar formas de “como

atender a necessidade daquele aluno que está com dificuldade”. Para ela, as

ações formativas não focaram o trabalho de intervenção com os alunos que

apresentam defasagem de aprendizagem. Como gerenciar a aprendizagem

desses alunos sem comprometer a aprendizagem dos demais que também

querem e precisam aprender, “como trabalhar dentro de uma sala com 3 ou 4

alunos que não vão pra frente?”.

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5.3. Narrativa 2 – Professor Juca

O Juca é licenciado em Matemática e especialista em Educação. Tem

quinze anos de magistério e há treze anos atua como professor efetivo de

Matemática, na Rede Pública do Estado de São Paulo. O Prof. Juca leciona na

escola, onde está hoje, desde que se efetivou.

A escola em que o Prof. Juca trabalha está localizada em um bairro central

da cidade e atende alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e da 1ª a 3ª

série do Ensino Médio, em dois períodos de aula, manhã e tarde. A equipe

gestora da escola é composta por um diretor substituto; dois vice-diretores e dois

professores coordenadores, ambos efetivos na escola.

Os alunos são oriundos de bairros próximos à escola e da zona rural. A

escola conta com sala ambiente de informática; sala de leitura; sala de vídeo e

duas quadras poliesportivas, sendo uma coberta.

Boa parte dos professores é efetiva na escola, cinco desses professores

estão afastados para exercer função de direção ou coordenação. Apesar disso,

conta com um corpo docente aparentemente estável, uma vez que os professores

afastados são substituídos por professores Ocupantes de Função Atividade –

OFA, com sede de exercício na escola.

O Juca apresenta-se como um professor preocupado com as questões

sociais, os rumos da educação e o ensino de Matemática. Para ele a Matemática

é muito solitária e, a não ser o Prof. de Matemática, “ninguém quer saber de

Matemática”. Ele considera que “existe um problema de credibilidade em relação

à Matemática, o mundo acha que não precisa dela”.

O Prof. Juca possui boas recordações da escola e dos seus professores.

Ele lembra com carinho de uma professora da Educação Básica que lhe

emprestou um livro e quando foi devolver ela disse: “não estou pedindo de volta,

leva e fica quieto”. Segundo ele, nessa época “era diferente, a história era outra”.

A escola proporcionou ao Juca uma formação humana, em que a relação

entre professor e aluno era construída alicerçada na confiança e na aproximação.

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Para ele, isto se perdeu e faz falta à escola hoje, “você gostava do professor,

você tinha uma confiança muito grande nele e isso não tem mais”.

O capital cultural incorporado (BOURDIEU, 2011) pelo Prof. Juca no

espaço social da escola foi estabelecido na base da proximidade; da

responsabilidade com a sua formação, de sua parte e por parte de seus

professores; na forma como seus professores “acreditaram” nele; no modo como

o chamavam para a responsabilidade com os estudos, “ao mesmo tempo em que

cobrava, confiava muito, via em você coisas pela frente, que você podia crescer”,

“a cobrança era muito grande, mas a entrega também era muito grande”.

Para o professor Juca, esta relação de confiança faz falta à escola, “mas

está muito difícil hoje conseguir isso”. Segundo ele, essa dificuldade é

consequência da família, ou da ausência dela na formação escolar dos seus

filhos, “não adianta a família jogar toda a responsabilidade para a escola, isso na

minha opinião não vai resolver, eu não sou o pai do aluno, não adianta não ter a

presença do pai ou da mãe e você fazer esse papel”. Esse desabafo do Prof.

Juca pode estar relacionado ao que Bourdieu (2011, p.73) denomina por

“transmissão doméstica do capital cultural”, uma vez que, o “rendimento escolar

da ação escolar depende do capital cultural previamente investido pela família”

(BOURDIEU, 2011, p. 74).

Considerando sua origem social “era um cara de família humilde, sofrendo

pra caramba naquela vida danada”, o Juca viu na graduação uma possibilidade

de ruptura com o seu capital social por meio da aquisição de capital cultural

institucionalizado (BOURDIEU, 2011).

A opção pela Matemática, como relata o Prof. Juca, aconteceu como que

em uma brincadeira, entre ele e um colega de escola, foi como um jogo de

exclusão, em que eles pensavam: “Fazer História? Fazer História é ficar lendo

livrinho. Fazer o quê? Geografia? Fazer mapinha? Português? Análise sintática e

ler demais, não adianta, vou ter que escrever? Vou fazer Matemática! É,

Matemática tem que escrever pouco”. E foi assim, “quase uma brincadeira”, mas

Matemática, “era um curso que tinha à noite. Dentre os cursos que tinham à noite

na Universidade, esse foi o que gente optou”.

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Sobre as necessidades do professor de Matemática, o Prof. Juca considera

necessário ser mais “aberto”, “ficar mais legal” para “conquistar o aluno”. Isto

porque, segundo ele falta “credibilidade à Matemática”, no sentido de as pessoas

acharem que não precisam da Matemática. Para o Juca, muitos pais não cobram

dos filhos a responsabilidade em estudar Matemática, pais que “não se vêem no

direito de cobrar do filho”, algo que eles mesmos não valorizam. Novamente,

aparece a questão da “transmissão doméstica do capital cultural” (BOURDIEU,

2011, p. 73).

A visão do Prof. Juca a respeito da sua profissão é que esta “é o tipo de

profissão que te corrompe dentro de você, que te obriga a mudar o que você é

para continuar trabalhando”, “em muitos casos é a sua personalidade, e você

precisa mudar”. Segundo ele, diferentemente de quando era aluno, hoje há a

necessidade de “agradar” para “dar aula de Matemática”. Em sua opinião, “estão

transformando tudo em uma empresa”, e se as coisas não acontecem “é porque

você não está vendendo bem o seu produto”.

Assim, para exercer sua função hoje, o Prof. Juca considera necessário,

que logo na graduação, sejam discutidas as questões relativas à realidade das

salas de aula. Para que o futuro professor possa saber, antes de ingressar no

magistério, qual realidade o espera.

Em relação à formação continuada, o Prof. Juca parece preocupado com

os processos de mudanças. Para ele, o fato de o “professor ser um formador”,

implica compreender que se faz necessário “ser um formador em transformação e

mudança”, o que “é uma coisa que choca muito”, pois considera que é “mais difícil

você mudar isso, do que mudar conceitos, o jeito de dar aula”.

Podemos inferir que essa transformação, apontada pelo Prof. Juca, se

relaciona com a necessidade de ruptura com um determinado habitus e a

construção de um habitus novo, “pelo fato de condições diferentes de existência

produzirem habitus diferentes” (BOURDIEU, 2008, p. 164). Talvez seja por isto

que o Prof. Juca considera que essa transformação é mais fácil para quem está

começando. Para ele, “quem está chegando vai se abrir mais para as mudanças”.

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Em 2010 o Prof. Juca, com a intenção de assumir um segundo cargo,

prestou o concurso para provimento de cargo da SEE/SP e em 2011 participou do

curso para professores ingressantes. Devido à distância entre escolas não foi

possível assumir o segundo cargo. Contudo, a participação em todo o processo

possibilitou ao Prof. Juca Capital Cultural Institucionalizado (2011, p. 79).

Na opinião do Prof. Juca, esse curso foi “um divisor de águas”. Isto porque,

ao prestar um concurso público, normalmente “você investe em uma carreira que

você não sabe como funciona, você não sabe quais os seus direitos, suas

obrigações”. Deste modo, para o Prof. Juca, como o professor não conhece o

funcionamento da Rede, “ele vai aprendendo com os erros, levando tropeções”.

Nesse sentido, ele considera que o curso para professores ingressantes foi

um divisor de águas na medida em que abordou questões relacionadas ao

funcionamento e estrutura da SEE/SP e questões relacionadas à formação do

professor “enquanto pessoa, enquanto mediador de conflitos”. Para o Prof. Juca,

“isso serve de alerta para o professor sobre as situações que vai ter que

enfrentar, que não é só entrar e dar aula”.

Em 2010 e 2011, o Juca participou também do curso de Implementação do

Currículo de Matemática, realizado na Diretoria de Ensino de Assis. Neste curso

foram estudados, o Currículo de Matemática e os Cadernos do Professor e do

Aluno disponibilizados aos professores da Rede pela SEE/SP.

Segundo ele, essa ação deveria ter sido realizada “antes do material ter

entrado em circulação”, uma vez que seu uso sem orientação provocou

desconforto e insegurança, fazendo com que o docente não trabalhasse de forma

adequada. Isto ocorreu, de acordo com o Prof. Juca, devido à visão parcial e a

falta de esclarecimento do professor de como o Currículo foi proposto.

Apesar de o curso ter sido realizado dois anos depois que os materiais já

estavam sendo utilizados, o Prof. Juca considera que ele foi importante, pois

trouxe tranquilidade para trabalhar com o atual Currículo de Matemática. Além

disso, possibilitou que esse professor fosse multiplicador dessa ação na escola,

orientando e discutindo com os colegas de Matemática de sua escola sobre como

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trabalhar o novo Currículo de Matemática e com os Cadernos disponibilizados

pela SEE/SP.

O Prof. Juca conta que, no primeiro ano em que trabalhou com o Caderno

do Professor, ele achou interessante a abordagem dada pelos autores para o

ensino de proporcionalidade, uma abordagem que segundo ele, não aparece

normalmente nos livros didáticos. Contudo, ele ficou se perguntando: “é só isso?

Vou ficar nisso?”. Observa-se na fala do Prof. um estranhamento entre o proposto

e o que estava acostumado a trabalhar. Assim, ele sente “necessidade de

aprofundar o assunto, pois tinha a visão que tinha que dar o conteúdo todo de

uma vez”. Essa postura provocou no Prof. Juca, “uma angústia de que não

terminou, a cobrança de que não conclui”.

Aponta ainda que a participação no curso de Implementação do Currículo

trouxe tranqüilidade em relação ao seu trabalho. Para ele o curso possibilitou

compreender que um “assunto trabalhado num ano, não se esgota naquele ano”,

pois, “num ano trabalha aqui, ao chegar no ano que vem, aqui”.

Além desses cursos, o professor Juca também tem participado de

Orientações que são realizadas por convocação. Sobre essas ações, ele

considera importante que aconteçam, pois, “as pessoas precisam se encontrar na

área delas para debater, pensar temas relacionados às pesquisas na área e que

são importantes para sua atuação”. Para ele “esse contato, essa troca de

informação, de saber como tá lá, esse momento, isso precisa, senão eu fico só

aqui no meu ambiente e não sei o que está acontecendo no mundo lá fora, na

outra sala do fulano, na escola”. Essa necessidade de estar com os pares, de

vínculo com o grupo de professores de Matemática da Diretoria e do Estado que

permite a cada um dos participantes se identificarem como membro desse grupo,

constitui o Bourdieu denominou de capital social.

Neste sentido, podemos dizer que as ações formativas se configuram como

espaços sociais que estabelecem um princípio de “sociação” e a constituição de

um “habitus social”, conforme pontuado por Wacquant (2007, p. 8). Além disso, o

depoimento do Prof. Juca nos leva a considerar que os cursos e orientações

possibilitam aos professores de Matemática incorporação de capital cultural que,

de certa forma, contribui, se não para a ruptura, ao menos para repensar suas

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práticas em relação ao uso dos materiais disponibilizados pela SEE/SP e a forma

de relacionamento com os alunos.

5.4. Narrativa 3 – Professora Lia

A Lia é professora de Matemática efetiva na Rede Pública Estadual de São

Paulo, possui licenciatura em Matemática e Mestrado em Educação para as

Ciências. Tem dezessete anos de magistério e há seis anos leciona na escola em

que está atualmente.

A escola em que a Prof. Lia trabalha está localizada no centro da cidade e

atende alunos do 5º ao 9º ano do EF e alunos do Ensino Médio de todos os

bairros. A equipe gestora da escola é formada por um Diretor efetivo; um vice-

diretor, e dois Professores Coordenadores. O corpo docente é constituído por

professores efetivos e por professores OFA, mas nem todos possuem sede de

exercício na escola.

A Lia se apresenta como uma professora desconfiada, aparentemente

descrente em relação às possibilidades das ações formativas oferecidas pela

SEE/SP contribuírem para atender suas necessidades da prática. Mesmo sem

muita expectativa, a Prof. Lia tem participado das orientações e dos cursos

oferecidos aos professores de Matemática da Diretoria de Ensino da Região de

Assis. Contudo, os motivos que tem levado essa professora a participar dos

cursos oferecidos é a busca pela certificação.

Os certificados conferidos pelos cursos realizados pela SEE/SP

possibilitam a aquisição de certo tipo de capital cultural institucionalizado,

conforme Bourdieu (2011, p. 79), pelo fato de que estabelece a comparação entre

os que possuem e os que não possuem esses certificados, garantindo àqueles

que possuem “estabelecer taxas de convertibilidade entre o capital cultural e o

capital econômico”, garantindo assim aumento salarial.

A formação escolar da Prof. Lia, que possibilitou a aquisição do seu capital

cultural (BOURDIEU, 2011) e a construção do seu habitus (BOURDIEU, 2008), é

marcada pela dualidade. Assim, ao recordar sua trajetória escolar, a profissional

distingue duas formas distintas de perceber sua relação com seus professores,

uma positiva e outra negativa.

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Do início de sua trajetória escolar, a Prof. Lia recorda com carinho de uma

professora da 4ª série, que hoje corresponde ao 5º ano do EF. A recordação que

ela tem dessa professora está relacionada não à formação escolar em si, mas a

um tipo de formação social e humana, voltada para solidariedade e o aprender a

partilhar, “ela levava a gente pra fazer doação, de coisas que ela trazia do sítio

dela, na casa das crianças”, com isso essa professora “me ensinou, que por mais

que a gente não tenha condições, você tem sempre alguma coisa para dar, [...]

nem que seja carregar no colo, brincar. Era o que a gente fazia com as crianças,

a gente ia lá, a gente brincava com as crianças”. Desta fase, ela não apontou

nenhuma experiência negativa.

Do ensino médio, a Prof. Lia recorda de forma positiva um professor que,

em sua opinião, “era praticamente uma mãe para os alunos [...] ele era assim

carismático, ele tava ali, tinha aquela coisa de estar sempre apoiando”, e de forma

negativa ela recorda uma “professora que era o oposto, daquela que sentava na

mesa e dizia abra o livro na página tal e siga o exemplo, entendeu?”

Da graduação, ela recorda “de forma positiva dos professores relacionados

à área de Educação [...] porque sempre davam uma visão da Matemática como

sendo uma coisa mais prática, um lado mais prático da Matemática”. Para ela os

professores da área de Educação, apresentavam uma abordagem da Matemática,

diferente da abordagem dada pelos professores da área restrita à Matemática,

“você percebia que a abordagem deles, o tratamento com o conteúdo e a relação

conteúdo aluno era diferente”.

A bagagem social e cultural incorporada pela Prof. Lia em sua trajetória

formativa foi determinante para a forma como essa professora construiu sua

prática, ou seja, o seu habitus.

A opção da Prof. Lia pela Matemática se deu por causa “da minha

ignorância, eu sempre fui uma aluna que tirava “cezinho” em matemática, nas

outras disciplinas eu conseguia B, A, eu entendia. E a matemática não ia, não

tinha jeito”. Sobre essa escolha, a Prof. Lia (dez/2012) diz:

[...] eu entrei no curso de Matemática como desafio. E foi o desafio da Matemática, porque eu só percebi que eu ia ser professora, que eu estava num curso de licenciatura em Matemática, do primeiro para o segundo ano. O meu interesse era na Matemática, não era na profissão

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de professor, entendeu? Comecei a fazer o curso pela Matemática. E depois que eu descobri que eu tava num curso de licenciatura em Matemática, que eu ia ser professora.

Neste sentido, o investimento pessoal em sua formação, em relação à

apropriação de conhecimentos matemáticos, mostra que a da Prof. Lia buscou no

curso superior mais do que aquisição de capital cultural institucionalizado. Mesmo

não tendo muita clareza do que o curso escolhido poderia oferecer a Lia viu na

graduação a possibilidade de incorporação de capital cultural (BOUDIEU, 2011).

A descoberta de que estava em curso voltado para formação de

professores não foi um problema para a Prof. Lia. Logo que soube que “seria

professora”, a Lia começou a exercer a função. Assim, quando ainda estava no

segundo ano de licenciatura, começou a trabalhar como professora em uma

escola particular. “A primeira escola que eu comecei dar aula foi uma escola

particular”. Já no último ano de faculdade, a Professora Lia começou a trabalhar

na rede pública.

Apesar de ter descoberto qual seria sua profissão somente ao final do

segundo ano da graduação, a Prof. Lia diz que “desde o princípio, eu me adaptei

bem com essa questão de ser professora, sabe? Eu não tive problema com essa

questão de ser professor, eu sempre me dei bem com isso”.

Apesar, ou por causa, da sua primeira experiência ter sido em uma escolar

particular, a Prof. Lia conta que sua identificação é maior com a escola pública, do

que com a escola particular. Para ela “na rede pública, [...] todo mundo é igual

todo mundo, ninguém é herdeiro de ninguém, ninguém é mais que ninguém,

entendeu? Tá todo mundo junto...”. Essa relação de identidade constitui o capital

social (BOURDIEU, 2011) construído pela professora com a rede pública.

Sobre a atuação do professor de Matemática, a Lia considera que este

“tem que ter muito jogo de cintura”. “Porque você tem que ter um conhecimento

de várias formas de ensinar a mesma coisa”. Tendo em vista que as pessoas não

são iguais e, portanto, a forma como elas aprendem também não, ela afirma que

não adianta o professor “repetir a mesma coisa, porque ele não vai. Não é falar

duas vezes que vai fazer você entender”. Conforme pontua Bourdieu (2011, p.

74), a incorporação de capital cultural “custa tempo e deve ser investido

pessoalmente pelo investidor”.

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Para a Prof. Lia, “a grande sacada aí, é você ter esse conhecimento

diversificado, saber várias formas de ensinar a mesma coisa, para você poder

atingir o maior número de pessoas possíveis”.

A diversidade de interesses e de conhecimento dos alunos, na opinião da

Prof. Lia, é uma dificuldade atual no exercício da função, necessitando que o

professor de Matemática tenha “além de todo conhecimento matemático, ainda

você tem que ter essa facilidade de mexer com essa diversidade de pessoas”.

Neste sentido, além de ensinar o conteúdo matemático, o professor “acaba se

envolvendo com tudo que acontece ali, no contexto de escola”. Segundo a Prof.

Lia:

Não é porque a gente é professor que você entra em uma sala de aula e fala somente de Matemática, surgem assuntos, eles contam histórias, a gente vê histórias acontecendo. E aí, existe essa questão de você saber o momento de parar a história de falar de Matemática, a hora de você sentar e dar ouvido pra aquilo.

Apesar das dificuldades apontadas em relação às exigências impostas

atualmente ao trabalho do professor de Matemática, a Prof. Lia não acredita que

as ações de formação continuada possam ajudá-la. Para ela, a formação do

professor acontece na escola, “a gente tem participado de vários cursos, mas eu

acho que a vivencia do professor na escola, sabe? Sempre com aqueles alunos,

nenhuma capacitação vai conseguir te dar, entendeu?”. Essa concepção de

formação se aproxima da concepção de situações educativas, conforme

assinalado por Canário (2003).

Mesmo considerando que “o professor se capacita dentro da escola”, a

Prof. Lia não se isenta de participar das ações formativas oferecidas pela

SEE/SP.

No período entre 2004 e 2006, ela participou dos cursos de formação de

Metodologia do Ensino do Programa Teia do SABER. A respeito de sua

participação neste curso, a Prof. Lia diz ter se identificado com os professores da

área de Educação Matemática, “sabe para mim é o máximo aqueles professores,

eles traziam material, sabe que você não imaginava que você ia usar aquilo na

Matemática, para dar exemplos para gente”. Segundo ela, “quando você descobre

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aqueles materiais e aquela coisa da Educação Matemática, você fala: Nossa que

legal! a Matemática não é tão seca assim, não é o pensamento cartesiano”.

Nesse mesmo período, a Prof. Lia participou do Ensino Médio em Rede.

Sobre esta ação, a professora destaca duas palavras “sequencia didática”. A esse

respeito, a professora faz uma crítica ao curso uma vez que “parecia que era uma

obrigação, sabe? Você fazer, você criar uma sequencia didática! Você tinha essa

obrigação”. E para ela, “você criar uma sequencia didática e se apegar nisso daí,

é a mesma coisa de você adotar um livro didático e ficar 50 anos trabalhando com

o mesmo, entendeu? Você está engessado, você está preso naquilo”.

Mais recentemente, a Lia participou do curso Currículo e Prática Docente,

realizado pela EFAP11 na modalidade à distância. Sobre esta ação, ela diz que

“não foi um curso difícil de fazer, foi um curso agradável de fazer”. Este curso “foi

direcionado as atividades que estão nas apostilas do Estado e eu achei legal, por

que deu uma nova visão daquelas apostilas, entendeu?” Segundo ela, “a gente

teve oportunidade de fazer críticas, de discutir as apostilas no curso. Então eu

acho que foi válido, foi válido”.

Apesar de considerar que o curso poderia ter sido mais aprofundado, a

Prof. Lia diz que “foi um apoio legal, para compreender a estrutura que a apostila

tem [...]. Por que até coisas assim bobas que [...] passa despercebido e depois

que você vê que é importante”.

Além dos cursos, que possibilitam a aquisição de certificados, a Prof. Lia

também participa de orientações técnicas realizadas na Diretoria de Ensino.

Sobre estas orientações, ela considera importantes aquelas que se relacionam ao

objeto matemático e à sua didática, “tem algumas que eu acho que são legais,

principalmente quando a gente trabalha com questões, assim, quando traz

material, quando traz questões de matemática para a gente resolver, quando traz

coisas da Matemática mesmo”. Mas tem restrições ao discurso ideológico que

muitas vezes acompanham algumas dessas ações.

11

EFAP – Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Professores

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Além do trabalho com diferentes abordagens para o ensino de Matemática,

a Prof. Lia considera a avaliação um tema importante para ser discutido nas

orientações técnicas.

Ainda que perceba “boa vontade” por parte de quem elabora os cursos de

formação continuada da SEE/SP, a Prof. Lia critica a forma “massificada” com

que essas ações são realizadas. Em relação a esses cursos ela considera que “é

uma coisa feita em massa, é massificado, é uma coisa muito grande, sabe?”. Em

sua opinião, “trabalhos pequenos, coisas menores surtem mais efeito do que

esses grandes projetos”. Além disso, “eles fazem uma abordagem imensa, eu

acho que coisas mais intimistas, menores, é que surtem mais efeito, não adianta

massificar a cabeça das pessoas que isso não resolve nada”.

Para a Prof. Lia, a formação deve acontecer na escola, de “forma que a

pessoa “que vá dar” essa orientação, essa capacitação, tenha contato também

com nossos alunos, com as dificuldades dos nossos alunos, entendeu?”.

Apesar da crítica à forma como as ações formativas são realizadas, as

orientações e os cursos, oportunizaram a Prof. Lia novas possibilidades de

trabalhar em sala de aula, novos modos de pensar a Matemática e novas formas

de se relacionar com os materiais disponibilizados pela SEE/SP. Ou seja, mesmo

com as fragilidades os processos formativos se mostraram como espaço social

que propiciaram a essa professora a aquisição de capital cultural incorporado, e

de certa forma a construção de novos habitus.

5.5. O encontro das Narrativas

Três professores, três histórias, três formas de “ser” e “estar” na profissão

(ABDALLA, 2006), três modos de ver as ações de formação continuada

desenvolvidas pela SEE/SP. Do encontro das narrativas emergiram três

identidades profissionais e três formas distintas de pensar a relação entre os

processos formativos e as possibilidades de ruptura.

A Cida, uma professora em processo de consolidação da sua identidade

profissional, procura nas ações de formação continuada troca de experiências

com seus pares para assim ter referências para sua própria atuação, ou seja,

aquisição de capital cultural, por meio de uma rede de relações sociais

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estabelecidas com outros professores de Matemática (Capital Social) que

possibilitam a formação do seu habitus.

O Juca, um professor em processo de transformação, um professor em

conflito entre manter a identidade construída em sua formação, o seu habitus, e

as necessidades impostas pela realidade da escola hoje. Conflito entre a cultura

incorporada e a construção de um novo habitus. Vê na formação continuada um

espaço que possibilita compreender e lidar com esse processo de mudança.

A Lia, uma professora em processo de contestação. Não crê que os

processos formativos, do modo como estão sendo realizados, possam

transformar sua prática, favorecendo a manutenção do seu habitus. Apesar de

afirmar que procura nos processos formativos certificação para evolução funcional

(Capital Cultural Institucionalizado), ela considera válidas as ações formativas que

apresentam atividades práticas, que abordam “o como fazer”, ampliação de

Capital Cultural para incorporar ao seu habitus.

As histórias da Cida, do Juca e da Lia mostram como o habitus de cada um

desses professores foi construído ao longo de sua trajetória escolar, por meio das

relações que cada um deles estabeleceu com seus professores. Mostra ainda as

possibilidades de ruptura com esses habitus e a construção de novos habitus a

partir das relações estabelecidas no espaço social da escola e nos espaços de

formação continuada de professores de Matemática.

As narrativas construídas a partir da trajetória formativa e profissional dos

três professores mostram que as ações formativas oferecidas pelos órgãos

públicos se constituem em “instâncias socializadoras” que confirmam o habitus

como “expressão de uma identidade social em construção” (SETTON, 2002).

Deste modo, podemos inferir com Bourdieu (2011, p. 67) que os cursos e

orientações proporcionaram aos professores de Matemática aquisição de Capital

Social, à medida que vincula seus participantes a um grupo com propriedades e

interesses comuns e unindo-os por “ligações permanentes e úteis”. Além disso,

podemos considerar com Wacquant (2007) que essas ações possibilitaram aos

professores participantes a constituição de um “habitus social” e com Setton

(2002) a constituição de novos habitus individuais.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Iniciamos esta pesquisa com o objetivo de investigar as ações de formação

continuada de professores, oferecidas pelos órgãos públicos, procurando

diagnosticar os limites e potencialidades dessas ações enquanto facilitadoras do

trabalho docente, bem como identificar as relações entre esses processos

formativos e as necessidades dos professores quanto à sua prática educativa.

A necessidade de compreender as relações entre os processos formativos

e as necessidades dos professores é resultado de algumas inquietações surgidas

da nossa atuação como formadora de professores de Matemática da Educação

Básica e dos estudos e discussões que vínhamos realizando na SEE/SP, na

Diretoria de Ensino e em cursos de especialização sobre Gestão Educacional.

Inquietações essas que nos levaram a questionar sobre quem são os professores

de Matemática que participaram das diferentes ações de formação continuada, no

período de 2005 a 2010, realizadas na Diretoria de Ensino – Região de Assis. Por

que esses professores participaram desses processos formativos? Qual a

motivação para participar deles? O que buscavam nos encontros? Qual a relação

entre os processos de formação continuada oferecidos e a prática educativa na

perspectiva dos professores de Matemática participantes desses processos?

Quais os limites e as potencialidades desencadeados por esses processos em

termos de facilitadores do trabalho docente na visão do Professor de Matemática?

Para atingir os objetivos propostos e responder essas e outras questões

que foram surgindo ao longo deste trabalho, fizemos um levantamento das ações

realizadas pela SEE/SP e pela Diretoria de Ensino de Assis, em que houve

participação de professores de Matemática. A partir deste levantamento

montamos um questionário que foi aplicado aos professores de Matemática de

todas as escolas vinculadas à Diretoria em questão. Quarenta e três professores

de Matemática da região de Assis responderam ao questionário.

A análise do questionário nos permitiu traçar o perfil dos professores de

Matemática que tem participado das ações de formação continuada: são em sua

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maioria do sexo feminino; possuem entre 5 e 15 anos de magistério, possuem

Licenciatura em Matemática e, apesar do número de efetivos ser maior que dos

não efetivos, há uma participação significativa dos professores não efetivos nas

ações realizadas.

Além do perfil, é possível dizer, a partir da análise feita, que os professores

de Matemática têm participado das ações de formação continuada por dois

motivos: um porque são convocados e outro por interesse pessoal. Sobre as

motivações, observamos que os professores de Matemática buscam nas ações

formativas aspectos relacionados à sua atuação profissional, à aprendizagem dos

alunos e à certificação.

Em relação aos limites e potencialidades, a análise dos questionários nos

possibilitou considerar que as ações formativas têm possibilitado aos professores

conhecimento curricular, conhecimento didático, conhecimento sobre avaliação,

conhecimento sobre uso das tecnologias no ensino e troca de experiências.

Contudo, a análise feita evidencia que ainda faltam a essas ações aprofundar o

estudo e a discussão em relação à gestão da sala de aula, a avaliação e a

recuperação de alunos. Além disso, o número de ações oferecidas é pequeno, e

muitas dessas ações não são oportunizadas para todos os professores de

Matemática, ficando restrita aos indicados pelo Diretor da escola, como no caso

de convocação.

Além dos questionários realizamos, também, entrevistas com três dos

professores de Matemática participantes de ações de formação continuada

oferecidas pela SEE/SP e pela Diretoria de Ensino de Assis que responderam ao

questionário.

A análise das entrevistas, realizadas por meio de três narrativas, mostra a

necessidade das ações de formação continuada voltar seu olhar para a escola e à

sala de aula, de forma que sejam oportunizados espaços para troca experiências,

que possibilitem aprender com o outro e espaços para estudo, reflexão e

discussão sobre novas abordagens em relação: ao ensino de Matemática; à

aprendizagem dos alunos, principalmente dos que estão com defasagem; e aos

processos de avaliação e de recuperação de alunos.

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Assim, dentro dos limites desta pesquisa consideramos ter respondido

nossas questões iniciais e atingido nossos objetivos. Mas temos ainda algumas

ponderações a fazer acerca do que nossas análises apontam em relação às

ações formativas desenvolvidas pelos órgãos públicos.

Com base em nosso referencial teórico, relativos aos conceitos de Capital

Social, Capital Cultural e Habitus de Bourdieu, e nas análises dos questionários e

das narrativas apresentadas, podemos considerar que os processos formativos se

constituem como espaço social, que de certa forma, possibilitam a troca de

experiências e, em conseqüência disso, a incorporação de capital cultural e

produção de novos habitus. Ao menos é o que se pode inferir a partir da fala dos

professores de Matemática que participaram desta pesquisa.

Contudo, ao considerar os estudos realizados por Canário (2003), Barroso

(2003), Bolívar (2003) e Abdalla (2006) verificamos que as ações realizadas são

limitadas, uma vez que são realizadas considerando um número muito grande

professores, tendo como forma o modelo escolar de formação (CANÁRIO, 2003)

e não considerando as necessidades dos professores de Matemática (ABDALLA,

2006). Mesmo nos casos em que os processos formativos tenham sido realizados

nos ATPC12, essas ações são propostas externas, desconsiderando os problemas

específicos da escola. Neste caso a formação não está centrada na escola como

pontua Barroso (2003).

Outro aspecto que podemos considerar a partir das análises é que apesar

da fala de alguns professores, de que a escola seja uma organização que

aprende (BOLÍVAR, 2003), não vimos nessas falas indícios de que os processos

formativos tenham possibilitado que isso aconteça. Nos casos em que

observamos na fala dos professores de Matemática uma tentativa de tornar a

escola um espaço de aprendizagem, isso tem ocorrido por iniciativa da equipe

gestora da escola, e não por causa das ações de formação continuada oferecidas

aos professores.

12

Com a mudança na carga horária do professor no Estado de São Paulo, na qual a hora aula passou a ser de 50 min., a partir de 2012, o HTPC passou a ser chamado de ATPC – aula de trabalho pedagógico coletivo).

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Consideramos, por fim, que as reflexões apresentadas dentro dos limites

desta pesquisa, podem contribuir para uma discussão maior em torno da

formação continuada de professores de Matemática da escola pública, tanto no

que se refere a novas pesquisas na área, quanto no que se refere às políticas de

formação docente. Sobre as políticas públicas, entendemos que este estudo pode

ser uma fonte de informação para se repensar as ações de formação oferecidas,

de forma que estas possibilitem a formação na e pela escola, tendo como foco a

sala de aula. Em relação às pesquisas, propomos que estas busquem investigar

como a formação de professores de Matemática acontece no espaço da escola e

quais as implicações delas na prática dos professores.

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APÊNDICE

Categorias de Análise – Questionários

Motivações Potencialidades Fragilidades

Aprimorar a atuação profissional;

Melhorar a formação;

Melhorar a atuação na escola;

Evolução funcional;

Ter mais conhecimento sobre a prática docente;

Atualização;

Atualização diante às técnicas e métodos empregados em sala de aula;

aprimoramento das metodologias utilizadas no trato e no ensino de cada disciplina;

sintonia com os “novos rumos” da educação, com as mudanças, com a implantação de novas formas de aprendizagem, currículo, etc;

ampliar a capacidade pedagógica;

melhorar o

foi essencial ter conhecido o real objetivo do projeto em suas etapas nos diferentes ciclos e séries;

Nesses cursos estamos sempre em contato com esse “novo”, trocamos experiências, conhecemos angústias e medos dos colegas, encontramos experiências bem sucedidas ou não. Percebemos como é difícil a prática docente e quanto a nossa responsabilidade é grande diante da sociedade;

esclarecer dúvidas e estratégia focada na meta principal do professor o aluno;

resultados e reflexões sólidas e conceituais;

me proporcionaram obter embasamento teórico e prático para aperfeiçoar e tornar mais eficiente a minha prática docente.

mobilizar experiências individuais e coletivas;

compreensão do novo currículo;

melhoria da prática de ensino;

melhorar a prática pedagógica em sala;

integração do conteúdo

carga horária insuficiente para desenvolvimento das atividades;

As oportunidades para realização de cursos e OT são raras.

faltou orientações de como montar e aplicar uma avaliação diagnóstica;

Poderia ter sido incluída também algumas orientações de como tornar a recuperação paralela mais atrativa para os alunos e de como trabalhar a recuperação paralela com os alunos impossibilitados de participarem em outro período (principalmente com aqueles que moram na zona rural);

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desenvolvimento das atividades escolares;

Aprender e aperfeiçoar;

Ampliar conhecimentos;

melhorar minha formação profissional;

aumentar pontos para evolução funcional;

me capacitar para melhor desenvolver meu papel de educadora;

buscar novas experiências para aplicar em sala de aula;

aprendizagem matemática mais significativa;

compreender os fundamentos do conteúdo que preciso ensinar;

melhorar a minha formação;

encontrar melhor gestão da sala de aula;

melhorar minha prática docente;

compreender melhor o novo Currículo do Estado de São Paulo;

matemático com informações da atualidade;

Contribuiu para uma nova abordagem e foco de trabalhar com um material específico e direcionado;

Compreensão das escalas de proficiência e nível de adequação dos alunos a partir da análise dos resultados do SARESP;

Apropriação das ideias e intenções dos autores do currículo;

Orienta sobre a condução dos trabalhos e esclarece algumas ideias, propostas e conteúdos abordados no currículo;

contribuiu para meu crescimento;

aprendi algo que pudesse diversificar meu trabalho em sala de aula;

facilitou a implementação do currículo;

cursos de leitura meu olhar mudou e muito, uma vez que passei a entender as diversas formas de leitura que fazemos o tempo todo sem perceber;

esclarecem dúvidas pendentes e nos orientam no caminho a seguir;

aprendi a usar a tecnologia a favor da aprendizagem matemática;

Acrescentou algo novo me fazendo crescer;

serviu para esclarecer habilidades devem ser trabalhadas para que os educando consigam

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Me capacitar e melhorar oferecendo boas situações de aprendizagem aos alunos;

obter o certificado para a evolução funcional;

atualizar com as novas tecnologias e o currículo, para que possa melhorar sua prática docente;

Ter um melhor aperfeiçoamento na metodologia de Matemática;

Ter um melhor desempenho nos temas de atualidades;

Ter uma boa aplicação nos exercícios aplicadas no SARESP;

Como ter um bom desempenho sobre a aplicação da Recuperação Paralela;

Ter uma boa aplicação do Currículo no decorrer do ano letivo;

aperfeiçoar minha prática pedagógica;

evolução via não acadêmica;

conta ponto para a progressão não

assimilar melhor os conteúdos;

aprimorou o meu conhecimento sobre as atualidades;

tirar algumas dúvidas de como devem ser trabalhados os conteúdos e as habilidades específicas;

Como preparar uma aula de acordo com o que está proposto no currículo;

Propiciou melhoria significativa em minha prática docente;

trabalhar com outros modelos textuais e enfatizar mais a leitura como ponto de partida na resolução de situações problema;

diretriz de como ministrar tópicos de forma interdisciplinar;

As atividades semanais implementam aquilo que vivenciamos em sala de aula com nossos alunos;

estudos de uma complexidade que contribui para a busca de pesquisas em várias fontes diferentes do que estamos acostumados;

buscar novas metodologias e conhecimentos melhora e muito a forma de atuação em sala de aula, direciona o docente em seu trabalho no dia-a-dia;

desenvolver minha prática docente;

enriquecendo a minha formação pedagógica;

Com esses cursos minha

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acadêmica;

aprimorar os conhecimentos;

buscar práticas e estratégias que mobilizem os alunos em busca de aprendizagem e sentir prazer nisso;

evolução funcional;

para contribuir com minha formação específica;

participei porque gosto;

prática docente teve um grande avanço, pois tenho nova visão Currículo;

sugestões apresentadas para desenvolver alguns conteúdos de maneira contextualizadas, o desenvolvimento de alguns softwares para melhorar a aprendizagens dos alunos;

melhorar o embasamento teórico, bem como as práticas docentes;

servir para trocas de experiências entre os professores;

abriu horizontes de outros modos (metodologias) que poderiam ser usadas em sala de aula;

mostrou metodologias aplicáveis em sala de aula;

contribuem para nossa formação e prática em sala de aula;

sendo todos enriquecedores para a vida profissional;

a contribuição para a prática docente, foi em alguns cursos, muito grande e em outros mais amena;

sendo espetacular ou sofrível, dificilmente deixam de acrescentar algum ou muito conhecimento;

ajudaram a melhorar a minha prática pedagógica uma vez que sempre estou atenta à novas mudanças;

acrescentaram nosso currículo de docente;

mostrou-nos a importância de estar atento as disciplinas em contexto geral com a

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contextualização de seus conteúdos para a aprendizagem dos alunos;

entender um pouco sobre os processos de alfabetização;

foram importantes para estarmos sempre atualizados em nossos conteúdos e trabalhar melhor nossa prática;

conhecer e estudar o Currículo do Estado de São Paulo e os materiais da SEE;

debater com os tutores e com outros professores sobre temas relevantes no cotidiano escolar;

discutir e esclarecer questões importantes sobre o próprio Currículo e os materiais da SEE;

orienta sobre como trabalhar a Matemática de forma diversificada;

aprimorar meus conhecimentos;

tive a chance de entender diferentes conteúdos relacionadas a diferentes disciplinas;

serve para atualização;

trouxe contribuição para uso na sala de aula;

contribuíram muito para minha formação profissional e claro que refletiram em sala de aula;

Ajudou muito a entender mais sobre o Saresp;

ajudou bastante para a elaboração das aulas;

importante para a orientação

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de meu trabalho com os alunos;

demonstram o interesse do sistema de tentar aprimorar conhecimentos nos alunos, tendo em vista as dificuldades do cotidiano, mas visando um melhor caminho para o professor e para o aluno, tanto nas práticas pedagógicas quanto as oportunidades de campo de estudo;

sempre tem novidades;

serviram como parâmetros para aplicação de provas;

extrema importância para a minha experiência profissional, tudo o que foi e o que tem sido oferecido pela SEE;

desenvolver as minhas capacidades e favorecer a aprendizagem e a relação com meus alunos;

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132

ANEXO I TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO

Caro professor,

meu nome é Mariza Antonia Machado de Lima, sou aluna de mestrado acadêmico, sob

orientação da profa. Dra. Ana Lúcia Manrique, do Programa de Pós-Graduação em Educação

Matemática da Faculdade de Ciências Exatas e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica de

São Paulo – PUC/SP.

Venho, por meio desta, convidá-lo para participar da pesquisa de minha dissertação de

mestrado, que tem como objetivo estudar as ações de formação continuada oferecidas pelos

órgãos públicos, procurando diagnosticar os limites e potencialidades dessas ações enquanto

facilitadoras do trabalho docente, bem como, identificar as relações entre esses processos

formativos e as necessidades dos professores quanto à sua prática educativa e ao seu

desenvolvimento profissional. Tenho certeza que essa pesquisa possibilitará novas reflexões

sobre os processos de formação continuada oferecidos pelos órgãos públicos procurando

compreender os limites e as potencialidades desencadeadas por essas ações em termos de

facilitadoras do trabalho docente.

Sua participação nesta pesquisa consiste em responder a um questionário informativo

sobre seus dados profissionais e sobre sua participação em ações de formação continuada e

posteriormente, você será convidado a responder a uma entrevista semiestruturada sobre os

processos de formação continuada, promovidos pela Diretoria de Ensino Região de Assis.

Saliento que as informações obtidas nesta pesquisa serão divulgadas para fins

estritamente acadêmicos, e para tanto asseguro o sigilo sobre sua participação. Os dados não

serão divulgados de forma a possibilitar sua identificação, para preservar sua identidade utilizarei

nomes fictícios.

Seus dados serão mantidos sob minha guarda e responsabilidade.

Além disso, estarei disponível para quaisquer esclarecimentos antes, durante e após a

conclusão da pesquisa sobre a metodologia e outros assuntos a ela correlatos, podendo ser

contatado através dos dados que seguem:

Pesquisadora Comitê de Ética em Pesquisa13

Mariza Antonia Machado de Lima Cel. (18) 8114 1206 e-mail: [email protected]

Comitê de Ética em Pesquisa da PUC/SP R. Ministro Godói, 969 – sala 63C 05015-001 – Perdizes – São Paulo – SP Tel. (11) 3670-8466 e-mail: [email protected]

Você também poderá a qualquer tempo, com ou sem justificativa, retirar o seu

consentimento de participação desta pesquisa sem qualquer ônus e/ou penalização.

Desde já agradeço a sua colaboração para a realização deste trabalho.

13

Esta pesquisa foi encaminhada para análise e revisão ética do Comitê de Ética em Pesquisa da PUC/SP – Campus Monte Alegre, obtendo aprovação em 31/10/2011 sob o protocolo de pesquisa e parecer nº 280/2011.

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133

Declaração de consentimento

Fui alertado que não posso esperar benefícios pessoais advindos desta pesquisa.

Recebi os esclarecimentos necessários de que não existem possíveis desconfortos e

riscos decorrentes do estudo.

Estou ciente de que minha privacidade será respeitada, ou seja, meu nome ou

qualquer outro dado ou elemento que possa, de qualquer forma, me identificar será

mantido em sigilo.

Também fui informado de que posso me recusar a participar do estudo ou retirar

meu consentimento a qualquer momento, sem precisar justificá-lo, e de que, por desejar

sair da pesquisa, não sofrerei qualquer prejuízo.

É garantido o livre acesso a todas as informações e esclarecimentos adicionais

sobre o estudo e suas conseqüências durante a pesquisa; enfim, tudo o que eu queira saber

antes, durante e depois da minha participação.

Enfim, tendo sido orientado quanto ao teor de tudo o que aqui é mencionado e

compreendido sobre a natureza e o objetivo do referido estudo, manifesto meu livre

consentimento em participar, estando totalmente ciente de que não há nenhum valor

econômico a receber ou a pagar por minha participação.

Por estar assim ciente

Assinam o presente em (02) duas vias de igual teor, na presença de duas

testemunhas.

Mariza Antonia Machado de Lima

Autora da pesquisa

CPF: 110.733.848-45

RG: 17.523.221

Nome:

Sujeito participante da pesquisa

CPF:

RG:

Testemunha 1:

CPF:

RG:

Testemunha 2:

CPF:

RG:

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134

ANEXO II

Questionário

Faculdade de Ciências Exatas e Tecnologia – FCET

Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática Rua Marquês de Paranaguá, 111 - Prédio 1 - 2º andar - Consolação - 01303-050 –

São Paulo - SP - Brasil

Tel. (55-11) 3124.7200 - ramal 7210 - fax. (55-11) 3159.0189 - e-mail: [email protected]

Mestrado Acadêmico em Educação Matemática

Linha de Pesquisa: A Matemática na Estrutura Curricular e Formação de

Professores

Nome:

Curso de

Graduação

Curso:

Local (nome Instituição):

Tipo de Instituição: ( ) Pública ( ) Privada ( ) Outra

Data de conclusão da graduação (mês/ano):

Quanto tempo você tem de magistério (como professor)?

Experiência como professor

Atualmente ministra aulas em

Séries que leciona atualmente:

Nome da Escola em que atua como professor:

E-mail e telefone para contato:

Curso de Pós-

Especialização/Instituição:

Ensino Fundamental – Ciclo II

Escola Publica Municipal

Escola Particular

Ensino Médio

Escola Publica Estadual

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Graduação Mestrado/Instituição:

Doutorado/Instituição:

Desde que começou a lecionar na Rede Pública Estadual, você participou de

alguma ação de formação continuada promovida pela SEE/SP e pela Diretoria de

Ensino – Região de Assis? ( ) Sim ( ) Não

Das ações de formação continuada realizadas nos últimos anos e que estão

elencadas abaixo, de qual ou quais você participou?

( ) Teia do Saber: Metodologia do Ensino da Leitura em todos os componentes

Curriculares do ciclo II e Ensino Médio;

( ) Teia do Saber: Metodologia de Ensino das disciplinas da área de Ciências da

Natureza, Matemática e suas Tecnologias – Ensino Fundamental;

( ) Teia do Saber: Metodologia de Ensino das disciplinas da área de Ciências da

Natureza, Matemática e suas Tecnologias – Ensino Médio: Física, Química e

Biologia;

( ) Teia do Saber: Metodologia de Ensino das disciplinas da área de Ciências da

Natureza, Matemática e suas Tecnologias – Ensino Médio: Matemática;

( ) Teia do Saber: Ler para Aprender – Ensino Fundamental ciclo II e Ensino

Médio;

( ) Introdução à Língua Brasileira de sinais – Libras;

( ) Curso: Práticas de Leitura e Escrita na Contemporaneidade;

( ) Ensino Médio em Rede;

( ) Ensino Médio em Rede: Currículo em Áreas;

( ) Ensino Médio em Rede: Currículo em Áreas – Professor Representante;

( ) Grandes Temas da Atualidade – disciplina de Apoio à Continuidade de

Estudos;

( ) Orientações Técnicas do Projeto: Números em Ação;

( ) Letra e Vida;

( ) Cinema na Escola;

( ) Orientações Técnicas da Oficina Curricular: Experiências Matemáticas das

Escolas de Tempo Integral;

( ) Orientações Técnicas sobre SARESP;

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( ) Orientações Técnicas sobre Recuperação Paralela;

( ) Orientações Técnicas sobre a Implementação do Currículo de Matemática do

Estado de São Paulo;

( ) Curso de Atualização: Implementação do Currículo de Matemática – Ciclo II

e Ensino Médio – Módulo I;

( ) Curso de Atualização: Implementação do Currículo de Matemática – Ciclo II

e Ensino Médio – Módulo II;

( ) REDEFOR – Rede São Paulo de Formação Docente;

( ) Programa Currículo e Prática Docente;

( ) Outros. Quais? ________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

Para cada uma das ações de formação continuada assinalada acima, comente

sobre por que você participou e quais as contribuições dessas ações para sua

prática docente.

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

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ANEXO III

Roteiro para realização de Entrevista

1. Fale um pouco sobre você

Escola que atua:

Situação funcional:

Tempo de exercício no magistério:

2. Comente a respeito de sua formação

Onde se formou:

Tipo de graduação:

Os professores que o marcaram como aluno da educação básica e na graduação: como eram as aulas desses professores? O que eles tinham em comum?

3. Sobre sua atuação profissional

As razões que o levaram a se dedicar ao ensino de Matemática:

Em sua opinião quais as competências desejáveis e imprescindíveis ao professor de Matemática da educação básica hoje? São as mesmas que esperava dos seus professores?

Que formação você considera que o professor de Matemática, que está na sala de aula, precisaria receber para atender as necessidades atuais da educação básica?

Cite alguns acontecimentos, experiências e episódios vivenciados que considera relevante à formação continuada de professores de Matemática

4. Fale um pouco sobre os cursos e orientações oferecidos pela Secretaria da Educação:

De quais ações você participou?

O que o levou a participar desta ação?

Esta ação trouxe aquilo que você procurava?

Esta atividade trouxe alguma contribuição para a sua prática pedagógica em sala de aula? Quais? Dê um exemplo.

Esta ação tiveram alguma repercussão na sua escola e na sua prática? De que forma?

Você foi multiplicador, na sua escola, de alguma dessas ações? Comente sobre essa experiência.

Em sua opinião, o que faltou a esses cursos e orientações para que atendesse melhor as suas necessidades?

Tem cursos que fazemos e que nos deixam cheio de ideias para desenvolver com a sala de aula e propor para a escola, mas nem sempre conseguimos colocar essas ideias em prática. Isso aconteceu com você? Fale sobre isso.

Local do depoimento________________________

Data / Horário______________________________