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Mestrado em Educação Revista Profissão Docente
UNIUBE – Universidade de Uberaba ISSN:1519-0919
www.uniube.br/propep/mestrado/revista/
Revista Profissão Docente, Uberaba, v.9, n.19, 2009
www.uniube.br/propep/mestrado/revista/
A EVASÃO ESCOLAR NO ENSINO MÉDIO: UM ESTUDO DE CASO
THE SCHOOL DROPOUT IN HIGH SCHOOL: A CASE STUDY
BATISTA, Santos Dias
Licenciado em Geografia,
Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais,
Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC - Ilhéus-Bahia.
SOUZA, Alexsandra Matos
Licenciado em Geografia,
Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais,
Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC - Ilhéus-Bahia.
OLIVEIRA, Júlia Maria da Silva
Doutora em Educação pela Université de Montréal, Montréal - Quebec, Canadá.
Professora Adjunta do Departamento de Ciências da Educação,
Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC, Ilhéus, Bahia.
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RESUMO
O objetivo deste estudo foi analisar, descrever e compreender, a partir da percepção dos
discentes e docentes, o fenômeno da evasão escolar. Optamos por uma abordagem
qualitativa, do tipo estudo de caso. Os participantes da pesquisa foram 25 alunos do 1°
ano do Ensino Médio, do turno noturno e 10 docentes que ministraram aulas nessas
classes, no Colégio Estadual de Ilhéus. Empregamos como instrumento para coleta dos
dados, a entrevista semi-estruturada. Verificamos que apesar dos importantes avanços e
conquistas materializados na educação básica, o problema da evasão escolar persiste
entre os jovens e adultos que estão no ensino médio, sobretudo no espaço pesquisado.
Esse problema têm causas distintas e diversificadas, no entanto os participantes dessa
pesquisa enfatizaram as condições socioeconômicas como um dos principais fatores que
os conduziram a abandonarem a escola. Concluímos que a escola continua distante de
responder aos anseios dos jovens e adultos que a buscam, bem como o Estado não
efetiva políticas públicas eficazes que possam garantir melhores condições de trabalho
para os docentes que nela atuam.
Palavras-Chave: Educação. Ensino médio. Evasão escolar.
ABSTRACT
The aim of this study was to analyze, describe and understand, from the perception of
students and teachers, the phenomenon of dropout. We chose a qualitative approach, the
type of case study. Participants were 25 students of the 1st year of high school, the night
turn and 10 teachers who teach these classes in state college of Ilheus. We put as a tool
for data collection, the semi-structured. We found that despite important advances and
achievements materialize in basic education, the problem of dropout persists among
young people and adults who are in school, especially in the area searched. This
problem has different causes and diversified, however the participants of this study
emphasize the socio-economic conditions as one of the main factors leading to dropping
out of school. We conclude that the school is still far from responding to the wishes of
those who seek it, and the state doesn’t effective public policies that can ensure better
working conditions for teachers who work in it.
Key Words: Education. High school. School dropout.
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1. INTRODUÇÃO
A evasão escolar é um problema que vem sendo discutido por diversos
pesquisadores e educadores há muito tempo. Porém, essa é uma questão que está longe
de ser resolvida e os índices de abandono da escola têm aumentado a cada ano, bem
como as altas taxas de reprovação que juntos caracterizam o fracasso escolar.
São muitos os motivos que conduzem o estudante a abandonar seus estudos.
Dentre eles, destacam-se os fatores internos, associados ao desenvolvimento psíquico
do aluno, bem como os fatores externos de natureza socioeconômica. Muitas vezes,
jovens vêem-se obrigados a optar por trabalhar em lugar de estudar, devido à
necessidade de contribuir para o sustento da família. Além disso, o modelo de escola da
atualidade, já não desperta o interesse do aluno. Lara (2003) corrobora essa análise, ao
afirmar que o fenômeno da evasão escolar associado ao fato da escola estar pouco
preocupada em possibilitar aos alunos e professores a experiência do acontecer das
idéias, na sua produção, em consonância aos desafios concretos da vida, contribui
conseqüentemente ao abandono da escola, caminho que parece mais certo.
A complexidade que esse tema suscita nos instigou a desenvolver nosso
Trabalho de Conclusão do Curso, na Licenciatura em Geografia. Pretendemos analisar e
compreender a evasão escolar, a partir da percepção dos alunos e professores, nas
turmas do 1º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual de Ilhéus/Bahia.
2. REVISÃO DE LITERATURA
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 205, diz que a educação é um
direito de todos e dever do Estado e da família, assim como estabelece os princípios de
igualdade de condições para acesso e permanência na escola (art. 206, inciso I). Esse
direito é ratificado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/1996,
a qual apresenta a organização do sistema educacional brasileiro.
A despeito do direito assegurado na CF de 1988, a realidade da educação
brasileira é permeada por problemas seculares, ainda não resolvidos na atualidade.
Esses problemas dizem respeito àqueles que foram configurados como fracasso escolar,
isto é, a repetência e a evasão escolar.
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O problema da evasão escolar, objeto do nosso estudo, pressupõe uma análise
contextual que possa ser suscitada em sua estrutura enquanto produção social, singular e
na instituição escolar.
2.1 Fracasso escolar: repetência e a evasão escolar
O fracasso escolar, segundo Snyders (2005), é o fracasso escolar da política
vigente. Esse autor considera que a abertura política proporcionou ao campo
educacional brasileiro, uma abordagem que privilegiou a construção de uma sociedade
democrática e esta, por sua vez, superaria as relações sociais capitalistas.
Entretanto, a escola parece ter recebido como função, posta por uma sociedade
capitalista, a qual apresenta na sua estrutura, uma ideologia de desigualdade: a de
reclassificar os alunos de diferentes classes sociais, tendo como critério suas motivações
e potencialidades inatas. Essa função não é explicitada, porém ao discutir o fenômeno
do fracasso escolar, uma das primeiras explicações que surge, está relacionada à origem
social do educando.
É inegável o processo de democratização do sistema educacional brasileiro.
Assim, as pessoas menos favorecidas financeiramente estão tendo mais acesso à escola
por meio do aumento do número de matriculas nas unidades de ensino. Entretanto, cabe
considerar que somente o acesso não garante ao aluno êxito na continuidade de seus
estudos.
Segundo Connel (1999) jovens, vindos de famílias pobres, são, em geral, os que
têm menos êxito se avaliados através dos procedimentos convencionais de medidas. Isto
porque, perde-se a função da escola no que tange à responsabilidade de transmitir o
saber, associado às trocas de experiências entre os sujeitos envolvidos no processo de
ensino-aprendizagem. Nesse sentido, a escola necessita inovar e adotar como subsídio à
proposta pedagógica e curricular, a troca múltipla de experiências num processo criativo
e isso, por conseguinte, poderá nortear as experiências por meio mútuo dos
conhecimentos compartilhados. Nesse sentido, acompanhar o aluno em todo o seu
aprendizado, enquanto sujeito individual e social ainda constitui uma prática válida no
sistema educacional. Assim, todo o saber – fomentado em sala de aula e na troca de
experiência entre educando x educador, passa a ser relevante no tocante à construção de
um modelo de ensino-aprendizagem (CASTRO, 2006).
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Gagné (1974, p.55) em seu texto sobre como realizar a aprendizagem, afirma
que “a experiência é o maior dos mestres”. Dessa forma, não se pode adotar a postura
do “fazer de conta” no que tange ao conhecimento, bem como não se pode desprezar as
experiências do aluno, sejam elas empíricas ou cognitivas, uma vez que estas já fazem
parte do seu contexto social, até porque o sujeito se encontra em constante formação e
desenvolvimento psíquico.
Esse processo abarca em sua dimensão geográfica, um olhar crítico e reflexivo acerca
dos fenômenos, fatos e processos sociais que têm desencadeado diversas leituras de
mundo. É a partir desse olhar aguçado que o indivíduo constrói os seus próprios
conceitos acerca da complexidade que é a convivência entre seres em formação.
Segundo Cortella (2006) a educação, como direito objetivo de cidadania,
fortalece a percepção de que, no momento em que as classes trabalhadoras passam a
freqüentar mais amiúde os bancos escolares, os paradigmas pedagógicos, em execução,
passam a ser insuficientes para dar conta plenamente desse direito social e democrático.
O abandono à escola é composto então pela conjugação de várias dimensões que
interagem e se conflitam no interior dessa problemática. Dimensões estas de ordem
política, econômica, cultural e de caráter social. Dessa maneira, o abandono escolar não
pode ser compreendido, analisado de forma isolada. Isto porque, as dimensões
socioeconômicas, culturais, educacionais, históricas e sociais entre outras, influenciam
na decisão tomada pela pessoa em abandonar a escola.
Neves (2007) aponta que esse problema continua sendo visto como um fato
isolado e psicológico, ou seja, como conseqüência de um problema individual próprio
da criança ou do jovem que fracassa. No entanto, de acordo com o autor, a explicação
de que a evasão escolar e a repetência são causadas por problemas individuais, não
consegue esclarecer porque isso continua acontecendo em grande escala com um
número significativo de jovens oriundos de classes menos favorecidas economicamente.
Nesse mesmo sentido de idéias, Melo (1987) assinala como fato amplamente
reconhecido que as crianças e os jovens pobres são as que mais repetem e abandonam a
escola. Em oposição a essa população, há outros grupos sociais para os quais:
cursar o ensino médio é algo tão natural quanto comer, tomar banho etc. E,
muitas vezes, sua motivação está bastante associada à possibilidade de
recompensa (seja por parte dos pais ou pelo ingresso na universidade).
A questão está naquele grupo social para o qual o ensino médio não faz parte
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nem de seu capital cultural nem de sua experiência familiar e, por isso, o
jovem desse grupo, geralmente não é cobrado para continuar estudando. É aí
que está o desafio de criar a motivação pela escola (KRAWCZYK, 2009, p.
9).
O desafio de possibilitar aos jovens, aos adultos a aquisição dos instrumentos
necessários e possíveis, que lhes permitam romper com o ciclo de pobreza no qual estão
inseridos. Instrumentos estes que poderão lhes possibilitar participarem de forma ativa,
enquanto atores sociais, protagonistas e cidadãos, dos bens culturais e econômicos
produzidos pela e na sociedade.
2.2 (Des) caminhos do ensino médio
No Brasil, muitos jovens e crianças abandonam a escolar para ingressarem no
mercado de trabalho. Para estas pessoas a prioridade não é a educação, mas a própria
sobrevivência. Isto está legitimamente posto, pois, sabe-se que o Brasil é um dos países
mais perversos em distribuição de renda do continente – os 10% mais ricos concentram
mais da metade da renda nacional (PLANO DECENAL DE EDUCAÇÃO PARA
TODOS, 1993, p. 20).
Muitos obstáculos persistem, os quais são produtos dessa situação, sejam:
A heterogeneidade e a rigidez das estruturas econômicas; a concentração do
progresso técnico e da riqueza acumulada; os elevados índices de
desigualdade regional e social de renda; um mercado interno relativamente
limitado em face de seu porte demográfico (PLANO DECENAL DE
EDUCAÇÃO PARA TODOS, 1993, p. 20).
Tal situação levou o Brasil a desenvolver diversas estratégias com a finalidade
de enfrentar, mesmo que de forma paliativa, os problemas que emergem do setor
educacional. Sabe-se que a ampliação das matrículas no ensino fundamental, sobretudo,
é algo concreto, entretanto políticas públicas efetivas que possibilitem a permanência
das crianças, dos jovens e dos adultos na escola é um entrave de grande porte, o qual
ainda persiste.
Na tentativa de dirimir os altos índices de evadidos da rede pública de educação,
o governo federal pactuou com os entes federados a implementação do Programa Bolsa
Família. Esse programa é destinado a atender, por meio de uma bolsa no valor de até R$
120,00 (Cento e vinte reais) mensais.
O Programa Bolsa Família é uma forma de tornar obrigatória a permanência da
criança e do jovem na escola. Assim, para que a família obtenha esse benefício
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pecuniário, faz-se necessário que a criança e o jovem freqüentem a escola, caso
contrário, perde-se o benefício.
O Programa Bolsa Família, Lei de nº 10.219, foi implementado no Brasil no dia
11 de abril de 2001, na tentativa de combater a fome e a pobreza e promover a
emancipação das famílias mais pobres do país. Contrapondo a criação desse projeto de
cunho social com a questão da evasão escolar, verificou-se que mesmo assim, esta
perdura. Com isso, não se reduz o grande contingente de alunos que abandonam as
escolas.
O número de matrículas tem aumentado nos últimos anos em todos os níveis e
modalidades da educação. No entanto, o contingente de alunos que concluem o ensino
fundamental e médio continua sendo inferior ao número de matrículas propostas. Isto é,
o percentual de evadidos é maior do que o dos que ingressam na rede de ensino.
Segundo o INEP, em 1997, o número de evadidos no ensino médio foi de
212.431, sendo que 153.160 pertencem à rede estadual na região nordeste. Na Bahia,
esse percentual foi de 45.948 e, no que diz respeito à rede estadual de ensino foi de
34.414 no mesmo ano. Em Ilhéus, em 2007, o total de estudante matriculados no ensino
médio na rede estadual de ensino foi de 50.522, destes 27.456 abandonaram a escola.
Esses números absolutos demonstram que a evasão não diminuiu significativamente ao
longo dos últimos dez anos nesse nível de ensino. Krawczyk (2009, p.9) afirma que:
a evasão, que se mantém nos últimos anos, após uma política de aumento
significativo da matrícula no ensino médio, nos revela uma crise de
legitimidade da escola que resulta não apenas da crise econômica ou do
declínio da utilidade social dos diplomas, mas também da falta de outras
motivações para os alunos continuarem seus estudos.
Isto porque, a evasão escolar não é um problema restrito aos muros intra-
escolares, uma vez que reflete as profundas desigualdades sociais existentes em nosso
país e se constitui como um problema social. A situação é alarmante, principalmente por
se tratar de uma parcela jovem da população que está excluída dos bens culturais da
sociedade. Além disso, encontra-se fora do mercado de trabalho, por não atender às
exigências da sociedade hodierna, cada vez mais integrada à globalização e aos ditames
do projeto neoliberal no que diz respeito à qualificação da mão-de-obra.
Nessa perspectiva, o Governo Federal cria pela Lei nº 11.129, de 30 de junho de
2005, e institui o Programa Nacional de Inclusão de Jovens – ProJovem; assim como o
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Conselho Nacional da Juventude – CNJ e a Secretaria Nacional de Juventude. Alguns
dispositivos constantes nessa Lei são revogados pela Lei nº 11.692 de 10 de junho de
2008, como por exemplo, amplia a faixa etária do público alvo a ser atendido de 18 a 24
anos para 18 a 29 anos.
Para além desse programa, o MEC propõe a reestruturação e expansão no ensino
médio (GT Interministerial instituído pela Portaria nº 1.189 de 05 de dezembro de 2007
e a Portaria n° 386 de 25 de março de 2008) que tem como ponto central da proposta, o
ensino médio integrado, o qual seria segundo (Krawczyk, 2009, p. 16) uma “alternativa
de ruptura com a histórica dualidade entre formação propedêutica e profissionalizante,
que tinha se aprofundado na reforma dos anos 1990”. Para o MEC (2008) a articulação
do ensino médio “com a educação profissional técnica de nível médio constitui uma das
possibilidades de garantir o direito à educação e ao trabalho qualificado”.
Ainda é cedo para se fazer alguma avaliação sobre o ensino médio integrado,
entretanto sabemos que o alvo das críticas a todos os programas concernem à
descontinuidade das suas ações e a sobreposição destas. Outrossim, não podemos negar
que esses programas são exemplos de estratégias materializadas pelo governo federal
em parceria com os entes federados para reduzir o número significativo do contingente
de jovens que estão fora das escolas ou as abandonaram em algum momento da sua
trajetória estudantil. São programas que objetivam criar condições para que essas
pessoas possam ingressar de forma imediata no mercado de trabalho.
3. CAMINHOS DA PESQUISA
A abordagem privilegiada na nossa pesquisa foi qualitativa, e se inscreve na
perspectiva de um estudo de caso. A pesquisa foi realizada no Colégio Estadual de
Ilhéus – BA.
A escolha desse Colégio foi motivada pela apresentação do alto índice de evasão
escolar por seus alunos do primeiro ano do ensino médio, bem como pelo fato de não
termos encontrado nenhum registro de pesquisa feita anteriormente acerca da evasão
escolar nesta unidade de ensino. O Colégio Estadual de Ilhéus – BA, é um dos mais
antigos da cidade e, atende aos alunos do ensino fundamental e médio nos três turnos.
3.1 Seleção dos participantes da pesquisa
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Os participantes da pesquisa foram 25 alunos do 1° ano do Ensino Médio da
própria instituição do turno noturno e, todos os docentes (10) que ministram aulas
nessas classes. Os alunos participantes foram selecionados com base no relatório anual
do PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação), o qual destaca que em 2008 o maior
número de alunos evadidos se encontrava no 1° ano do ensino médio noturno.
A escolha dos alunos foi intencional e fizeram parte da pesquisa apenas aqueles
que em algum momento da vida abandonaram a escola, mas que retornaram à
instituição.
3.2 Coleta dos dados
A coleta de dados foi realizada no Colégio Estadual de Ilhéus – BA, bem como
nos sites do IBGE, INEP, PNAD e na DIREC 6 – Secretaria de Educação do Estado da
Bahia com o objetivo de levantar o maior número de informações possíveis
concernentes à evasão no ensino médio.
3.3 Instrumentos da pesquisa
Como instrumento privilegiado para a coleta dos dados, empregamos a
entrevista semi-estruturada, que foi aplicada aos alunos e corpo docente, no intuito de
analisar e compreender o processo da evasão escolar no referido Colégio. Para isso,
fizemos uma reunião com os docentes e estudantes para explicar os objetivos da
pesquisa, assim como para convidá-los a se tornarem participantes da mesma. No
momento posterior, marcamos o momento adequado para o participante assinar o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido, bem como para responder as questões da
entrevista.
3.4 Procedimentos éticos
O projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Estadual de Santa Cruz – Ilhéus -Bahia.
4. APRESENTAÇÃO E DESCRIÇÃO DOS DADOS
Os dados aqui apresentados são frutos da nossa pesquisa, desenvolvida no
Colégio Estadual de Ilhéus, no período de julho a agosto de 2009. Esse estudo tem
como objetivo analisar, descrever e compreender, a partir da percepção de discentes que
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estão cursando o 1º ano do ensino Médio, bem como dos docentes que atuam nessa
turma, o fenômeno da evasão escolar.
4.1 Dos alunos participantes da pesquisa
Na nossa pesquisa participaram 25 alunos, com idade entre 18 e 54 anos; a
maioria (70%) tem renda mensal de um salário mínimo; da totalidade dos entrevistados
56% declararam morar com os pais, 20% com cônjuge, 12% com filhos e 12%
afirmaram morar sozinhos; 60% dos participantes dizem ter filhos. Das declarações dos
entrevistados, o trabalho é o principal motivo assinalado por 56% dos participantes por
abandonarem os estudos, e o segundo motivo é o fator filho.
No Colégio Estadual de Ilhéus, em 2008, foram matriculados 597 alunos no 1º
ano do ensino médio, no período do noturno. Desse total de alunos matriculados, 07
(sete) pediram transferência, 98 (noventa e oito) foram aprovados, 82 (oitenta e dois)
reprovados e 410 (quatrocentos e dez) alunos abandonaram a escola. Assim, temos um
percentual de 68,7% de estudantes do noturno que evadiram.
Os motivos apresentados pelos participantes dessa pesquisa para abandonarem a
escola foram: 52% referiram-se à dificuldade de concentração nas aulas, devido o
cansaço físico decorrente da jornada de trabalho; 20% apontaram filhos e gravidez
como causa do abandono e os demais motivos apresentados coincidiram em 4%, sejam:
influência de colegas, a certeza de que seriam reprovados, dificuldades financeiras para
condução (transporte) até a escola.
Para tanto, concluir o ensino médio é o objetivo de 16% dos participantes; 12%
deles visam concluir o ensino médio, a fim de ingressarem no ensino superior; 8%
afirmaram ter sido motivados por considerarem os estudos importantes. Esse percentual
coincide com àqueles que declararam uma preocupação com o seu futuro e com àqueles
que não responderam à questão; 4% dos entrevistados voltaram à escola porque querem
recuperar o tempo perdido. O mesmo percentual se repete para os que afirmaram que só
agora tiveram oportunidade de retornar à escola. Para melhor visualização desses dados,
vide figura 1:
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Figura 1: Motivos pelos quais os entrevistados retornaram à escola. Fonte: C.E.I, 2009.
Todos os participantes da pesquisa afirmaram ter alguma dificuldade na escola.
Entre as dificuldades apontadas estão: aprender matemática, citado pela maioria dos
entrevistados, seja 70%, da amostra, como podemos observar na figura 2:
Aprender matemática
Não responderam
Falta de professores
Relacionamento com colegas
Outros motivos
Figura 2: Dificuldades encontradas na escola pelos alunos entrevistados. Fonte: C.E.I, 2009
4.2 Docentes participantes da pesquisa
Da nossa pesquisa também fazem parte os docentes que ministram aulas no 1º
ano do Ensino Médio do período noturno do Colégio Estadual de Ilhéus. Esses
professores têm idade entre 37 e 61 anos; com mais de 10 anos de exercício docente;
8%
4% 8%
16%
20%
12%
20%
8%
70%
5% 5%
5%
15%
4%
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80% trabalham na área de formação, 10% não possuem graduação na área em que estão
trabalhando e 10% não declararam a área de formação na qual atuam.
Constitui-se, também, objetivo da nossa pesquisa, investigar a percepção dos
docentes sobre a evasão. Dessa forma, solicitamos aos docentes que elencassem os
motivos que levam os alunos a abandonarem a escola. Para 60% dos docentes o trabalho
se configura como a principal causa do abandono. Pontuam que após um dia de
trabalho, os alunos chegam cansados à escola, o que gera desânimo e, ao final de um
momento os jovens desistem da escola. 20% acreditam que a família é a causa do
abandono. Isto porque crêem que a família exerce um papel fundamental na
permanência do aluno na escola, assim, quando não há um apoio adequado desta, o
aluno não se sente motivado para os estudos. Além disso, destacam, ainda, os problemas
familiares como divórcio, brigas, entre outros, como fatores que influenciam a decisão
em abandonar a escola. 20% apontam que a falta de interesse dos alunos pelos estudos
os conduzem ao abandono. Os professores, por sua vez, reconhecem ainda que além
destes fatores que incidem sobre a evasão escolar, há também o fator escola que não
desperta nenhum interesse no aluno.
No que concerne ao retorno desses alunos à escola, os professores observam que
o mercado de trabalho está cada vez mais exigente e, por isso, os alunos se vêem
obrigados a concluir o ensino médio, pois isso poderá possibilitar à sua inserção no
mercado de trabalho. Outros acreditam que os estudantes retornam aos estudos
motivados pelo Programa Bolsa Família, assim como pela possibilidade de obterem a
carteira de estudante. Ressaltam, ainda, no que diz respeito às mulheres, que muitas
destas desejam proporcionar melhores condições de vida a seus filhos.
Procuramos saber dos docentes/participantes, qual o procedimento adotado
quando observam que um estudante falta muito as suas aulas: 77,8% respondeu que
comunicam o fato à direção da escola; 11,1% disseram que procuram informações com
os colegas do aluno, ou esperam, pois caso o estudante retorne em algum momento, eles
conversam diretamente com o aluno e; 10,1% declararam não dispor de tempo para
verificar os motivos das ausências.
Os docentes, participantes da nossa pesquisa, enfatizaram que os estudantes
possuem dificuldades significativas quanto ao domínio da leitura e interpretação de
textos. Para 66,7% dos docentes os estudantes não são competentes na língua materna;
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22,2% dos docentes mencionam como dificuldade a falta de concentração, bem como a
ausência de acompanhamento familiar; para 11,1% dos professores, a falta de interesse
e dedicação dos alunos aos estudos são as maiores dificuldades apresentadas (vide
figura 3).
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Dificuldade de leitura e interpretação de texto
Falta de Concentração Falta de interesse e dedicação
Figura 3: As dificuldades apresentadas pelos estudantes, segundo os professores Fonte: C.E.I, 2009.
A Figura 3 demonstra que a dificuldade de leitura e interpretação de texto é
dominante, o que nos leva a inferir que esse aspecto influenciará diretamente na
produção de outro índice que tem crescido exponencialmente: o alfabetismo funcional
da população. Isto é, pessoas que concluíram ou estão em curso, mas que apresentam
significativas dificuldades em usar a leitura e a escrita (compreensão e interpretação de
textos) em atividades cotidianas, nas quais estas competências são demandadas.
5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
5.1 Trabalho x Escola
A categoria trabalho x escola prepondera tanto no discurso dos docentes quanto
dos discentes. Isto nos leva a inferir que o trabalho está intrinsecamente relacionado
com o elevado índice de evasão escolar no Colégio Estadual de Ilhéus. Apesar de a
evasão escolar ser percebida para muitos dos participantes dessa pesquisa como um
problema grave, uma vez que impacta significativamente na vida profissional, a
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prioridade não é para a educação, mas para o trabalho que se impõe como forma de
atender às necessidades básicas de sobrevivência.
A inserção do jovem ao mercado de trabalho passa a ser uma exigência continua
e, esses jovens e adultos são chamados cedo, considerando suas restrições financeiras, a
ingressarem nesse mundo. Muitos destes tentam conciliar o estudo com o trabalho, na
perspectiva de adquirirem um melhor emprego e, conseqüentemente, maior
remuneração. Entretanto, o cansaço físico, as exigências do trabalho, entre outros
motivos, termina por influenciar fortemente a decisão de abandonar à escola.
Segundo Carraher (1993), a questão do trabalho passa a percutir sobre a
demanda - sustento familiar. Este autor observa que os pais das classes desfavorecidas,
não podem assegurar aos seus filhos uma educação prolongada, desse modo, terminam
por empregá-los precocemente para contribuir para o sustento da família.
No Brasil, boa parte da população de jovens, que ingressam cedo no mercado de
trabalho, possui baixo grau de escolarização (Gomes, 1989). Isto tem reflexos sobre
toda a vida ativa do indivíduo, uma vez que este poderá ter maiores dificuldades em
ascender ou acessar postos que lhe proporcione maior remuneração, maior satisfação
com o trabalho que desenvolve; acesso aos bens culturais e melhoria das condições
materiais de vida, a qual poderá conduzir à mobilidade social, entre outros aspectos.
Melo (1987), nesse cenário conflituoso entre trabalho e educação, assinala que
esta se insere numa zona intermediária entre a necessidade e a possibilidade; entre a
estrutura e a infra-estrutura; entre o real e o imaginário; entre a ação e a
responsabilidade. Assim, o estudante – trabalhador vive a dualidade: inserção no
mercado de trabalho e a continuidade de seus estudos. Isto porque, as exigências do
mercado de trabalho quanto à escolaridade torna-se cada vez maior.
A mídia tem reforçado a idéia de que o despreparo dos trabalhadores é uma das
causas de desemprego e dificuldades de ascensão profissional. Esse fator tem motivado
muitos jovens a retornarem às salas de aulas na esperança de melhorar suas condições
de vida. Entretanto,
a revolução da microeletrônica e da informação provocou mudanças na
organização do trabalho e da produção, permitindo diminuição dos gastos e,
conseqüentemente, o aumento dos lucros. Mas, essa nova organização do
trabalho requer poucos trabalhadores/dirigentes altamente qualificados e,
uma pequena massa de trabalhadores que continua realizando tarefas
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mecânicas, que não exigem muitas habilidades cognitivas. (KRAWCZYK,
2009, p. 12).
A integração ao mercado, objetivo de grande parte dos sujeitos pesquisados,
fica assim cada vez mais distante, considerando que ao concluir o ensino médio a
pessoa poderá não se inserir imediatamente no mercado de trabalho, pois este elevará
suas exigências concernentes à escolarização, situação que diverge daquela propalada
pela mídia.
5.2 Vários discursos: docentes x discentes
A evasão escolar é resultado da somatória de diversos fatores que se conflitam
entre si. Entretanto, na nossa pesquisa, o trabalho é o fator preponderante na tomada de
decisão por abandonar a escola. Para os docentes, participantes da nossa pesquisa, a
família é um aspecto relevante no conjunto dos fatores que conduzem à evasão. No
contexto desse estudo, essa questão é complexa, uma vez que a nossa amostra é
composta por pessoas jovens e adultas, situadas na faixa etária de 18 a 54 anos, que
cursam o período noturno. Isto quer dizer diferentes composições familiares.
Desse modo, por um lado, os docentes afirmam que não há acompanhamento da
família para os estudos; por outro lado, alguns discentes apontam como causa do
abandono, o cuidado com os filhos e a gravidez. Os docentes sublinham, ainda, a
desestruturação familiar ocasionada por problemas familiares, tais como: divórcio,
violências domésticas, entre outros, como causas do abandono escolar. Podemos inferir,
então, a partir dos discursos, a existência de um descompasso entre a forma como a
escola – por seus docentes - percebe alguns dos motivos que conduzem à evasão e
àqueles pontuados por seus discentes. Isto porque, os jovens já não dependem mais dos
pais para levá-los à escola e estes creditam sobre os filhos a assunção da
responsabilidade total pelo desempenho escolar. Desse modo os jovens possuem a
opção de escolha e, o outro grupo de adultos, já são sujeitos autônomos, portanto,
podem decidir sobre o curso de suas vidas.
Observamos ainda no discurso dos docentes, ao apontarem os alunos, a família
como causa da evasão escolar, a reprodução dos pressupostos que prevaleceram na
década de 1970, os quais responsabilizavam o indivíduo e seu entorno pelo fracasso
escolar (MATTOS, 2007).
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Nesse mesmo sentido de idéias, um estudo realizado sobre “o estado da arte da
pesquisa sobre o fracasso escolar” Angelucci, Kalmus, Paparelli e Patto (2004, p. 59)
detectaram “a presença significativa de pesquisas que concebem o fracasso escolar
como fenômeno estritamente individual (...)”. Assim, apesar de atravessarmos décadas e
décadas com a temática em pauta, os discursos veiculados no interior das escolas e de
pesquisas se repetem. Porém, sabemos que não se trata de buscar culpados ou vitimas,
mas encontrar alternativas que possam permitir que escola, família e o individuo
consigam compreender os fatores externos e internos das relações que nesse espaço se
estabelecem e, que interferem de forma significativa no processo educativo.
Embora constatemos a existência de uma intricada teia tecida em torno da
questão da evasão no interior do espaço educativo – escola -, indagamo-nos: o quê
motiva o estudante a retornar à escola?
As transformações ocorridas, nas últimas décadas, no mundo do trabalho e nos
padrões societários em geral, resultaram na produção de uma complexa gama de
análises explicativas, muitas vezes, opostas. Isto implica dizer que, o sujeito – tanto o
aluno quanto o professor - no que tange à sua formação que é contínua está inserido
numa esfera global de interesses divergentes. O docente se prepara para um aluno que
não existe e, o discente integra uma escola que não responde aos seus interesses.
Entretanto, ambos são trabalhadores. Se por um lado os discentes reclamam do cansaço
físico decorrente da sua carga horária de trabalho, por outro lado o docente também se
reporta à extenuante carga horária a cumprir. Portanto, esse é um aspecto comum para
ambos trabalhadores. Percepções e discursos convergentes, mas que não se cruzam no
interior da escola, pois se percebem em campos opostos.
Essa pluralidade de questões remete a uma compreensão das múltiplas
configurações e manifestações sociais inseridas nesse problema social, requer uma
investigação acerca das transformações ocorridas nos padrões de organização da
produção e reprodução da classe trabalhadora.
O sistema capitalista, neoliberal junto com o processo de globalização cultural,
econômico
(...) enfatiza(m) que a educação deve estar subordinada às necessidades do
mercado de trabalho, estão se referindo a uma questão muito específica: a
urgência de que o sistema educacional se ajuste às demandas do mundo dos
empregos (GENTILI, 1996, p. 25, grifo do autor).
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Desse modo, o discurso dos docentes e dos discentes corresponde aos ideais
neoliberais que vem sendo disseminados desde a década de 1970. Discurso este
legitimado pelo Estado, o qual obedece às recomendações explícitas do Banco Mundial,
do FMI, bem como de outras agências internacionais quanto ao mercado como agente
de regulação social. Isto se torna evidente quando o Estado implementa programas
educacionais que visam o retorno desse estudante à escola para qualificação da mão-de-
obra. A função da escola, nesse contexto, é “promover o que os neoliberais chamam de
empregabilidade” (Gentili, 1996, p. 25, grifo do autor). Aqui, a educação como direito
social é destinada a responder às necessidades do mercado. Assim, a cidadania, como
direito humano do exercício pleno do indivíduo na sociedade, passa a ser percebida na
perspectiva do “cidadão privatizado, o entrepeneur, o consumidor” (GENTILI, 1996, p.
21, grifo do autor).
Nesse cenário, o acesso, sobretudo a permanência dos estudantes nas escolas a
fim concluírem seus estudos, não vem sendo alvo de políticas públicas efetivas do
Estado. Nessa perspectiva, o Estado tem se mostrando incapaz de promover mudanças
verticais na sua estrutura.
O ensino médio, gradativamente desmantelado e sem identidade própria, apesar
da LDB 9.394/1996 dizer o contrário, ao considerá-lo como etapa final da educação
básica e assegurar a possibilidade de se integrar com a profissionalização, encontra-se
numa zona nevoada, pois não permite ao estudante integrar-se ao ensino superior e dar
prosseguimento aos seus estudos, como tampouco o habilita, adequadamente, para
exercer uma função específica no mercado de trabalho. O elevado índice de evasão
escolar nesse nível de ensino demonstra que há uma discrepância entre o legítimo, posto
pela Lei e o real vivenciado pelos muitos estudantes das nossas escolas públicas
brasileiras.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados dessa pesquisa demonstraram que o discurso da escola,
representada aqui por seus docentes, ainda é o de culpar os jovens, os adultos e a família
pela evasão escolar. Acreditamos que muito mais que procurar a quem atribuir à culpa,
é preciso compreender que existem fatores exteriores que determinam na tomada de
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decisão dos discentes em abandonar a escola, que envolvem: as condições sociais,
culturais, econômicas, históricas, que permeiam a problemática da evasão escolar.
A escola, a família, os jovens, os adultos não podem assumir toda
responsabilidade nessa questão. Percebemos que o Estado tem cada vez mais recuado na
assunção dos seus compromissos com a educação. Afirmar que esta parcela da
população está na escola, não implica dizer que foi criada as condições necessárias para
que ela aí permaneça.
Constatamos que a permanência dos alunos na escola, bem como o retorno de
muitos jovens e adultos a ela está norteada pelas transformações ocorridas no cenário do
trabalho e nos padrões societários em geral. Essas transformações enfatizam a
necessidade do jovem inserir-se ao mercado de trabalho. Nessa perspectiva, o retorno
dos jovens, bem como dos adultos ao ambiente escolar pressupõe a aquisição das
competências básicas que possam atender as exigências do sistema capitalista.
Os discursos dos docentes e discentes refletem o descompasso entre a forma
como a escola percebe alguns dos motivos que conduzem à evasão e aqueles pontuados
por seus discentes. O discurso e as práticas são antigas, por um lado a escola continua a
não responder aos anseios dos jovens e adultos que nela estão; por outro lado, o Estado
não efetiva políticas públicas que possam possibilitar a melhoria das condições de
trabalho dos docentes que atuam nesse espaço educativo. Desse modo, talvez seja o
momento de se buscar alternativas as quais propiciem que escola, família e o individuo
consigam compreender as relações internas e externas que nesse espaço se estabelecem,
que interferem de forma significativa no processo ensino-aprendizagem e que acabam
por conduzir o abandono da escola por uma parcela jovem da população, o que,
conseqüentemente, impacta na vida sócio-econômica e cultural das futuras gerações.
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Alexsandra Matos Souza
Licenciada em Geografia, Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais,
Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC - Ilhéus-Bahia.
Endereço eletrônico: [email protected]
Julia Maria da Silva Oliveira
Doutora em Educação pela Université de Montréal, Montréal - Quebec, Canadá.
Professor Adjunto do Departamento de Ciências da Educação, Universidade Estadual
de Santa Cruz-UESC, Ilhéus, Bahia.
Endereço eletrônico: [email protected]
Artigo recebido em novembro/2009
Aceito para publicação em janeiro/2010