A Estrutura de Uma Carta Argumentativa

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A ESTRUTURA DE UMA CARTA ARGUMENTATIVA Parte 01: Local, data e vocativo (saudação inicial) Identifica o interlocutor. A forma de tratá-lo vai depender do grau de intimidade existente. A língua portuguesa dispõe dos pronomes de tratamento para estabelecer esse tipo de relação entre interlocutores. O essencial é mostrar respeito pelo interlocutor, seja ele quem for. Na falta de um pronome ou expressão específica para dirigir-se a ele, recorra ao tradicional "senhor" "senhora" ou Vossa Senhoria. Parte 02: Corpo do Texto, dividido em Introdução, Desenvolvimento e Conclusão. O texto dissertativo é dirigido a um interlocutor genérico, universal. A proposta de carta argumentativa pressupõe um interlocutor específico para quem a argumentação deverá estar orientada. Essa diferença de interlocutores deve necessariamente levar a uma organização argumentativa diferente, nos dois casos. Até porque, na carta argumentativa, a intenção é freqüentemente a de persuadir um interlocutor específico (convencê-lo do ponto de vista defendido por quem escreve a carta ou demovê-lo do ponto de vista por ele defendido e que o autor da carta considera equivocado). Mas que fique bem claro: no cumprimento da proposta em que é exigida uma carta argumentativa, não basta dar ao texto a organização de uma carta, mesmo que a interlocução seja natural e coerentemente mantida; é necessário argumentar. Parte 03: Saudação Final, Despedida. Geralmente é utilizado “Respeitosamente” ou “Cordialmente” para o interlocutor que tem cargo hierárquico maior do que o de quem escreve; “atenciosamente” para quem tem cargo hierárquico igual ou abaixo. Também pode utilizar as fórmulas: “Sem mais para o momento, despeço-me” ou “Certos de contar com sua compreensão, pedimos deferimento” ou outra equivalente. Parte 04: Assinatura/Cargo ou Função que ocupa. De todos os textos, a carta é a única que deve levar assinatura. Mas atenção: leia atentamente o enunciado da questão para saber o que deve assinar: suas iniciais, o nome de um personagem, etc. Logo abaixo da assinatura, o cargo ou a função de quem escreve a carta. São Paulo (SP), 29 de novembro 1992. Prezado Sr. E.B.M. Em seu artigo publicado pelo jornal Folha de São Paulo a 1.º de setembro, deparei com sua opinião expressa no Painel do Leitor. Respeitosamente, li-a e percebendo equívocos em suas opiniões quanto à veracidade dos motivos que colocaram milhares de jovens na rua, de maneira organizada e cívica, tento elucidar-lhe os fatos. Nosso país, o senhor bem sabe, viveu muitos anos sob o regime militar ditatorial. Toda e qualquer manifestação que discordasse dos parâmetros ideológicos do governo era simplesmente proibida. Hoje, ao contrário daquela época, as pessoas conquistaram a liberdade de expressão e o país vive o auge da democracia. Assim, perante essa liberdade o Brasil evoluiu. Atravessamos um período de crises econômicas, mas as pessoas passaram a se interessar de maneira mais acentuada pelo seu cotidiano diante da própria liberdade existente. Dessa forma, deparamos com uma população ideologicamente mais madura. Em sua carta enviada à Folha de São Paulo, o senhor assegura que a juventude é absolutamente imatura e incapaz de perceber a profundidade dos

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A ESTRUTURA DE UMA CARTA ARGUMENTATIVA

Parte 01: Local, data e vocativo (saudação inicial)Identifica o interlocutor. A forma de tratá-lo vai depender do grau de intimidade existente. A

língua portuguesa dispõe dos pronomes de tratamento para estabelecer esse tipo de relação entre interlocutores. O essencial é mostrar respeito pelo interlocutor, seja ele quem for. Na falta de um pronome ou expressão específica para dirigir-se a ele, recorra ao tradicional "senhor" "senhora" ou Vossa Senhoria.

Parte 02: Corpo do Texto, dividido em Introdução, Desenvolvimento e Conclusão.  O texto dissertativo é dirigido a um interlocutor genérico, universal. A proposta de carta

argumentativa pressupõe um interlocutor específico para quem a argumentação deverá estar orientada. Essa diferença de interlocutores deve necessariamente levar a uma organização argumentativa diferente, nos dois casos. Até porque, na carta argumentativa, a intenção é freqüentemente a de persuadir um interlocutor específico (convencê-lo do ponto de vista defendido por quem escreve a carta ou demovê-lo do ponto de vista por ele defendido e que o autor da carta considera equivocado).Mas que fique bem claro: no cumprimento da proposta em que é exigida uma carta argumentativa, não basta dar ao texto a organização de uma carta, mesmo que a interlocução seja natural e coerentemente mantida; é necessário argumentar.

Parte 03: Saudação Final, Despedida.Geralmente é utilizado “Respeitosamente” ou “Cordialmente” para o interlocutor que tem cargo

hierárquico maior do que o de quem escreve; “atenciosamente” para quem tem cargo hierárquico igual ou abaixo. Também pode utilizar as fórmulas: “Sem mais para o momento, despeço-me” ou “Certos de contar com sua compreensão, pedimos deferimento” ou outra equivalente.

Parte 04: Assinatura/Cargo ou Função que ocupa.De todos os textos, a carta é a única que deve levar assinatura. Mas atenção: leia atentamente o

enunciado da questão para saber o que deve assinar: suas iniciais, o nome de um personagem, etc. Logo abaixo da assinatura, o cargo ou a função de quem escreve a carta.

São Paulo (SP), 29 de novembro 1992.

Prezado Sr. E.B.M.

Em seu artigo publicado pelo jornal Folha de São Paulo a 1.º de setembro, deparei com sua opinião expressa no Painel do Leitor. Respeitosamente, li-a e percebendo equívocos em suas opiniões quanto à veracidade dos motivos que colocaram milhares de jovens na rua, de maneira organizada e cívica, tento elucidar-lhe os fatos.

Nosso país, o senhor bem sabe, viveu muitos anos sob o regime militar ditatorial. Toda e qualquer manifestação que discordasse dos parâmetros ideológicos do governo era simplesmente proibida. Hoje, ao contrário daquela época, as pessoas conquistaram a liberdade de expressão e o país vive o auge da democracia. Assim, perante essa liberdade o Brasil evoluiu. Atravessamos um período de crises econômicas, mas as pessoas passaram a se interessar de maneira mais acentuada pelo seu cotidiano diante da própria liberdade existente. Dessa forma, deparamos com uma população ideologicamente mais madura.

Em sua carta enviada à Folha de São Paulo, o senhor assegura que a juventude é absolutamente imatura e incapaz de perceber a profundidade dos acontecimentos que a envolvem. Asseguro que tal opinião não é a mais justa. Nós já fomos jovens e sabemos perfeitamente que é uma época de transição.

Mudamos nossos conceitos, nossos desejos e nossa visão de mundo. Mesmo assim, determinados valores que assumimos como corretos persistem em nossas vidas de forma direta ou não. Não sei se o senhor tem filhos, mas eu invejo a concepção que os meus assumem perante inúmeros acontecimentos. São adolescentes, que se interessam pelos fatos políticos e se preocupam com o destino da nação, pois estão cientes de que num futuro próximo serão as lideranças do país.

Outro aspecto relevante em sua carta é o de dizer que a juventude, generalizadamente é indisciplinada. Tal opinião não condiz com a verdade. Nas manifestações pró "impeachment que invadiram o país visando a queda do Presidente Collor, não se viram agressões, intervenções policiais ou outras formas de violência. Fica, portanto, claro, que a manifestação dos chamados caras-pintadas não é

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vazia. Conscientes de que uma postura pouco organizada não lhes daria credibilidade, os jovens manifestaram-se honrosamente. Com isso, frente ao vergonhoso papel do próprio Presidente da República, Fernando Collor de Mello, a juventude demonstrou um grau de maturidade e percepção maior que o do próprio chefe de estado.

Vemos, com isso, que os jovens visam ao bem do país e o seu processo de conscientização não se deu de uma hora para outra. Assim, dizer que a juventude é motivada pelo espírito da época, visando ao hedonismo é errôneo. Nossos jovens, senhor E.B.M., são reflexos da liberdade existente no país e a sua evolução político-ideológica.

Sem mais, despeço-me.

K.C.M. de M. 

CARACTERIZANDO A CARTA ARGUMENTATIVA

É um gênero argumentativo, pois tem a finalidade de persuadir o  interlocutor a partir de argumentos convincentes. Apresenta introdução (ponto de vista defendido), desenvolvimento  (sustentação do ponto de vista através de argumentos) e conclusão (síntese das ideias, recomendação, sugestão, proposta). Tem uma estrutura semelhante a das cartas em geral: local e data, vocativo, corpo da carta, expressão cordial de despedida, assinatura. Pode ser: carta de reclamação (quando o objetivo é reclamar sobre algum problema às autoridades competentes) ou carta de solicitação (com o objetivo de solicitar soluções para um problema) e outros. Apresenta linguagem clara e objetiva, conforme o padrão culto formal.

Londrina, 10 de setembro de 2002

Prezado editor,

O senhor e eu podemos afirmar com segurança que a violência em Londrina atingiu proporções caóticas. Para chegar a tal

conclusão, não é necessário recorrer a estatísticas. Basta sairmos às ruas (a pé ou de carro) num dia de “sorte” para

constatarmos pessoalmente a gravidade da situação. Mas não acredito que esse quadro seja irremediável. Se as nossas

autoridades seguirem alguns exemplos nacionais e internacionais, tenho a certeza de que poderemos ter mais tranquilidade na

terceira cidade mais importante do Sul do país.

Um bom modelo de ação a ser considerado é o adotado em Vigário Geral, no Rio de Janeiro, onde foi criado, no início de

1993, o Grupo cultural Afro Reggae. A iniciativa, cujos principais alvos são o tráfico de drogas e o subemprego, tem

beneficiado cerca de 750 jovens. Além de Vigário Geral, são atendidas pelo grupo as comunidades de Cidade de Deus,

Cantagalo e Parada de Lucas.

Mas combater somente o narcotráfico e o problema do desemprego não basta, como nos demonstra um paradigma do exterior.

Foi muito divulgado pela mídia – inclusive pelo seu jornal, a Folha de Londrina – o projeto de Tolerância Zero, adotado pela

prefeitura nova-iorquina há cerca de dez anos.

Por meio desse plano, foi descoberto que, além de reprimir os homicídios relacionados ao narcotráfico (intenção inicial), seria

mister combater outros crimes, não tão graves, mas que também tinham relação direta com a incidência de assassinatos. A

diminuição do número de casos de furtos de veículos, por exemplo, teve repercussão positiva na redução de homicídios.

Convenhamos, senhor editor, faltam vontade e ação políticas. Já não é tempo de as nossas autoridades se espelharem em

bons modelos? As iniciativas mencionadas foram somente duas de várias outras, em nosso e em outros países, que poderiam

sanar ou, pelo menos, mitigar o problema da violência em Londrina, que tem assustado a todos.

Espero que o senhor publique esta carta como forma de exteriorizar o protesto e as propostas deste leitor, que, como todos os

londrinenses, deseja viver tranquilamente em nossa cidade.

Atenciosamente,

M.

(“site” Mundo Vestibular)

I – Os elementos que identificam o texto como uma carta são

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a) Local, data e vocativo.

b) Vocativo e despedida.

c) Local, data, vocativo, assinatura.

d) Local, data, vocativo, assinatura e despedida.

e) Local, data, vocativo, despedida, segunda pessoa e assinatura.

II – Segundo o autor da carta,

a) A violência em Londrina está um caos e não possui solução.

b) É possível desviar a violência de sua cidade.

c) Pode-se diminuir a violência na cidade.

d) Será muito difícil acabar com a violência em Londrina.

e) N. d. a.

III – Para argumentar, M. lança mão de

a) Ideias próprias.

b) Estatísticas.

c) Exemplos.

d) Comparação.

e) N. d. a.

IV – Segundo o autor, por que a violência na referida cidade, como nos exemplos citados, não diminui?

V – Por que motivo M. escreveu a carta?

VI – Os argumentos localizam-se nos seguintes parágrafos:

a) Primeiro, segundo e quarto.

b) Segundo, terceiro e sexto.

c) Segundo terceiro e quarto.

d) Primeiro, segundo e quinto.

e) Terceiro, quarto e quinto.

VII – Quando se substitui em “outras, em nosso e em outros países, que poderiam sanar ou, pelo menos, mitigar o problema

da violência em Londrina, que tem assustado a todos.” o termo destacado por abrandar, amansar, diminuir, faz-se o uso da

a) Antonímia.

b) Polissemia.

c) Sintaxe.

d) Sinonímia.

e) N. d. a.