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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” A ELEIÇÃO DE DIRETORES COMO INSTRUMENTO DE DEMOCRATIZAÇÃO DETERMINA A MUDANÇA DO EIXO DAS RELAÇÕES DE PODER NO COTIDIANO ESCOLAR Autor: Jussara Soares dos Reis Orientador :Profº. Marco Antonio Chaves Rio de Janeiro, RJ, maio /2002.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

A ELEIÇÃO DE DIRETORES COMO INSTRUMENTO DE

DEMOCRATIZAÇÃO DETERMINA A MUDANÇA DO EIXO DAS

RELAÇÕES DE PODER NO COTIDIANO ESCOLAR

Autor: Jussara Soares dos Reis

Orientador :Profº. Marco Antonio Chaves

Rio de Janeiro, RJ, maio /2002.

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A ELEIÇÃO DE DIRETORES COMO INSTRUMENTO DE

DEMOCRATIZAÇÃO DETERMINA A MUDANÇA NO EIXO DAS

RELAÇÕES DE PODER NO COTIDIANO ESCOLAR

AUTORA: JUSSARA SOARES DOS REIS

Trabalho Monográfico apresentado

como requisito parcial para obtenção

do Grau de Especialista em Supervisão Escolar

Rio de Janeiro, RJ, maio/2002.

Agradecimento(s)

Agradeço a Deus, por ter permitido que eu estivesse vivo, e as minhas

amigas Mônica, Regiane e Maria das Graças (Gracinha) que sempre me

deram apoio.

Dedicatória

Dedico este trabalho de pesquisa aqueles que têm o pé no chão e

encaram a realidade educacional, não se deixando abater pelas injustiças,

Epígrafe

“A escola é parte de um todo e para compreendê-la temos que

compreender as dimensões que a tecem”.

“A Escola é instituição de tal modo fundamental no funcionamento da

sociedade, que o seu progresso será menos efeito de leis, do que do

progresso real da sociedade brasileira e da melhor expressão dos seus

anseios”.

Anísio Teixeira

Sumário

Resumo

1- Introdução.................................................................................... 08

2- Desenvolvimento

2.1– Gestão democrática e o projeto político

pedagógico.........................................................................................10

2.2- Autonomia e identidade .............................................................12

2.3 – Educação e democratização escolar..........................................13

2.4- As expectativas dadas pela eleição................................... .......15

2.5 – O diretor e o time técnico-administrativo e sua

integração............................................................................................15

2.6 – O processo ensino-aprendizagem, num contexto de

autoritarismo...................................................................................... 16

2.7- O cotidiano escolar como reflexo das relações

sociais.......................................................................................17

2.8- As contradições e os avanços da eleição de

diretores.................................................................................. 17

2.9- O diretor de ontem e o diretor de

hoje...........................................................................................18

Conclusão............................................................................................22

Anexos.................................................................................................23

Bibliografia...........................................................................................24

Webbliografia.......................................................................................25

RESUMO

A administração de uma escola vem se tornando, uma tarefa

complexa, a medida que a sociedade se transforma.São exigências cada

vez maiores: A formação do cidadão, o preparo para o mercado de trabalho,

atitudes éticas, etc. Dentro desse contexto houve a necessidade de

mudanças e elas chegaram. Uma delas foi a eleição dos diretores nas

escolas públicas. E isto aconteceu, não sem muita luta e barreiras que foram

vencidas. Com a eleição veio também, a gestão democrática, a

descentralização dos recursos financeiros, a delegação de poderes e

conseqüentemente uma maior autonomia da escola. No entanto,

considerava-se que a eleição era a última barreira para que as mudanças se

concretizassem no ambiente escolar. Entretanto, as mudanças que

chegaram encontraram uma estrutura antiga, com a mentalidade

conservadora, por isso ocasionou muita resistência. A adaptação a uma

nova forma de pensar e agir e decidir necessitou de tempo, já que isso não

acontece por leis, decretos ou deliberações e sim com conscientização,

informação, pois a escola não é só um espaço físico, ela é a manifestação

das relações sociais. Estão aí, o bom entrosamento entre diretor,

professores, alunos e pais. O diretor tem que ser uma pessoa flexível, se

propor a escutar o que os seus profissionais têm a dizer, considerar o que os

responsáveis pelos alunos desejam da escola e levar o grupo a elaboração

do projeto político pedagógico da escola. Assim tornar a todos co-

participante e responsáveis pelas decisões tomadas tanto no âmbito

administrativo quanto no âmbito pedagógico.

RESUMO ( esta página não vale)

A administração de uma escola vem se tornando, uma tarefa

complexa, a medida que a sociedade se transforma.São exigências cada

vez maiores: A formação do cidadão, o preparo para o mercado de trabalho,

atitudes éticas, etc. Dentro desse contexto houve a necessidade de

mudanças e elas chegaram. Uma delas foi a eleição dos diretores nas

escolas públicas. E isto aconteceu, não sem muita luta e barreiras que foram

vencidas. Com a eleição veio também, a gestão democrática, a

descentralização dos recursos financeiros, a delegação de poderes e

conseqüentemente uma maior autonomia da escola. No entanto,

considerava-se que a eleição era a última barreira para que as mudanças se

concretizassem no ambiente escolar. Entretanto, as mudanças que

chegaram encontraram uma estrutura antiga, com a mentalidade

conservadora, por isso ocasionou muita resistência. A adaptação a uma

nova forma de pensar e agir e decidir necessitou de tempo, já que isso não

acontece por leis, decretos ou deliberações e sim com conscientização,

informação, pois a escola não é só um espaço físico, ela é a manifestação

das relações sociais. Estão aí, o bom entrosamento entre diretor,

professores, alunos e pais. O diretor tem que ser uma pessoa flexível, se

propor a escutar o que os seus profissionais têm a dizer, considerar o que os

responsáveis pelos alunos desejam da escola e levar o grupo a elaboração

do projeto político pedagógico da escola. Assim tornar a todos co-

participante e responsáveis pelas decisões tomadas tanto no âmbito

administrativo quanto no âmbito pedagógico.

1- INTRODUÇÃO

Sabe-se que a escola vem há muito tempo passando por

questionamentos sobre o seu papel na sociedade e praticamente todos os

setores que a integram, bem como os profissionais que nela atuam passam

por críticas. Colocando-se em cheque o papel do professor, os métodos de

avaliação e como não poderia deixar de ser, chegou-se à atuação do diretor,

as decisões por ele tomadas, a forma como lida com as diferentes opiniões

no ambiente escolar, como se articula com os profissionais de que dispõe e

sua relação com as instâncias superiores, ou seja, Secretarias Estaduais e

Municipais de Educação.

Em alguns municípios do Estado do Rio de Janeiro e na própria rede

estadual de ensino. Vem sendo implantado, ou implementado o sistema para

eleição de diretores. Dentro dessa realidade, qual a relação que tem o

diretor (que até há pouco tempo, estava em sua sala de aula) com os outros

seus colegas, e funcionários da unidade escolar.

Entende-se mudando as funções as perspectivas são diferentes, e os

problemas pedem por decisões acertadas sem hesitações.

Considerando que a autonomia dada por esse sistema é relativa,

muitas vezes o diretor se vê uma situação de difícil escolha. Exemplo: Greve

de professores.

O processo eleitoral legitima a ocupação do cargo, no entanto, não

impede que seu ocupante aja com opressão e use o poder em seu benefício,

tomando para si as determinações a serem passada, interferindo

negativamente na atuação dos outros profissionais, não delegando poderes

nem autonomia, levando a estagnação de idéias, e conseqüentemente um

empobrecimento do trabalho pedagógico.

Esquece-se muitas vezes que a escola existe em função do aluno e

não o contrário.

Esta pesquisa foi realizada numa escola pública do município de São

Gonçalo, no Estado do Rio de Janeiro, que funciona no sistema de três

turnos diurnos, com primeiro segmento do Ensino Fundamental.

2- Desenvolvimento

2.1 Gestão democrática e o Projeto Político Pedagógico

Muito se tem discutido sobre a necessidade de melhorar a escola, e

coloca-se muitas vezes em debate seu valor para a sociedade atual, e com

isso vem a reboque o papel dos profissionais que nela atuam.

Em função de várias mobilizações nacionais, das entidades de classe

do magistério público e privado que defendiam entre outras questões

educacionais, a gestão democrática da escola pública, foi incorporada ao

texto constitucional. Posteriormente, foi instituído, em vários estados, o

preceito da eleição para dirigente escolar. Esta conquista propiciou a

participação popular nas decisões tomadas no ambiente escolar.

É notório que a educação é uma das mais importantes políticas

públicas, principalmente num país como o Brasil.

Normalmente, as secretarias de educação dos municípios são áreas

destacadas. Entretanto, apesar das medidas legais (por exemplo, a

aplicação de 25% dos recursos neste setor), assiste-se a uma gradativa

deterioração do ensino oferecido pela escola pública.

“Também os que esperavam que a eleição de diretoresprovocasse mudanças substanciais na escola em direção ao incremento daqualidade e da quantidade do ensino oferecido sentiam-se frustrados diantedos resultados verificados. A atual situação da precariedade da escolapública só poderá ser superada a partir de forte vontade política dosgovernantes. A esse respeito à eleição de diretores não tem o imediatismoque muitos desejariam”. Paro-1996-pp.130

Os rumos da educação exigem uma prática calcada na realidade. E

para isso é necessário ir em busca de uma identidade própria para cada

escola. Essa identidade se faz na construção do projeto político pedagógico.

Esse projeto deve fundamentar-se com vistas à melhoria qualitativa do

processo ensino-aprendizagem.

Na elaboração do projeto político pedagógico, a escola terá mais

condições de atender as necessidades reais do educando, indo em direção

á escola cidadã, onde todos estão envolvidos, direção, equipe técnico-

pedagógica,docentes, discentes, pais e funcionários e serão beneficiados

direta ou indiretamente.

Dentro deste contexto, devemos primeiro entender o que é gestão

democrática. O termo gestão vem de gestio, que por sua vez, vem de

gerere (trazer em si, produzir) fica mais claro que a gestão não é só

administrar um bem alheio, mas, é a gestão de um serviço público. Se é

público é de todos, para todos.

“Constitui-se, portanto, gestão democrática, um importanteespaço de definições de políticas pedagogias representativas dosideais da comunidade escolar ali envolvida, mostrando que a escolapode se construir como um espaço democrático, não só por suaprática administrativa, mas tornar-se democrática por toda sua açãopedagógica”.

www.ufsm.br/adeonline/p1_sueli.html

A participação se dá na tomada de decisões e na atuação direta ou

indiretamente, com vistas a construção de um futuro, no presente, no dia-a-

dia.Nas palavras de Danilo Gandim ”Para você transformar a realidade

precisa do outro”. O outro que é o professor, o diretor, servente a

merendeira, o aluno, enfim. Pois o processo educativo é um processo

coletivo.

Considerando que a gestão democrática está prevista no art. 206 da

Constituição Federal e na LDB 9394/96, em seu artigo 15 estabelece a

autonomia da escola, portanto, favorece a participação, na construção do

projeto político pedagógico de cada unidade escolar.

Neste contexto está se caracterizando a escola democrática, mesmo

que seja por determinação legal, demonstrando que a escola não pode ser

mais vista como uma organização burocrática, mas como espaço para a

construção de um projeto político, compartilhado pela direção, professores,

alunos, funcionários e a comunidade.

Nesta escola, não há lugar para burocratas, nem súditos. Todos são

atores/cidadãos na construção de suas histórias pessoais.

2.2 Autonomia e identidade

A descentralização do poder é uma conseqüência natural da

autonomia em todas as áreas sociais, e como não poderia deixar de ser

incluída a escola, quando as decisões podem e devem ser tomadas pelo

coletivo.

Aliada a gestão democrática vem a autonomia, e assim caminha-se

para a construção da identidade própria de cada escola. Neste contexto, deve

–se considerar, questões sociais, culturais, vivências próprias da realidade em

que está inserido o estabelecimento de ensino.“A identidade da escola é

construída em um contexto, pelos segmentos que a compõem, levando-se em

conta valores e necessidade”. Rios-Avesso do avesso

A autonomia envolve também dois aspectos: O administrativo e o

pedagógico.

A dimensão administrativa da autonomia esbarra nas ações do

Estado, que não pode deixar de cumprir o seu dever com relação ao ensino.

Quanto à dimensão pedagógica, há ainda certa dependência também

do Estado, que é quem estabelece um currículo mínimo necessário para a

formação do cidadão (até porque, as pessoas vão e vem de um lugar para o

outro e deve pelo menos ter uma base que seja comum em todas as

unidades do Brasil e, além disso, a educação está voltada para os

interesses de toda a sociedade e não individuais de cada sujeito).

Todavia, cabe a escola organizar seus métodos de ensino, conteúdos

que atendam as peculiaridades de cada lugar.

“A escola afirmará sua identidade se cumprir sua função desocializar o saber e formar a cidadania democrática Sua fisionomia,sem dúvida, vai se transformando. E apresentará marcas demudanças, exigidas pelas contradições que estão a nos desafiar”.

Rios – Avesso do avesso

Apesar de ser essa a perspectiva em relação à escola, a idéia que

hoje ainda prevalece é a de que a centralização é a garantia de melhor

funcionamento da escola, demonstrando que a estrutura da escola está

presa ainda ao modelo da empresa, onde há divisão rígida do trabalho,

hierarquia de cargos, ações intelectuais e instrumentais distantes umas das

outras. Esse modelo tem efeito contrário a participação e para a formação

de cidadãos críticos e criativos.

“O risco, em tudo isso, é a escola perder o rumo no seuprojeto e, ao invés de ocupar o espaço de autonomia administrativa epedagógica, oportunizadas pelas novas políticas globais, em busca daconstrução do cidadão, produza pessoas destinadas à exclusão”.

www.ufsm.br/adeonline/p1_sueli.html

2.3 Educação e democratização escolar

No mundo vêm ocorrendo profundas modificações e principalmente

no mundo do trabalho ocorrem significativas mudanças para o campo

educacional.

Assim, a globalização, a internacionalização de capitais, a nova

ordem econômica, inovam as relações entre Estado e sociedade, que

afetam as práticas administrativas.

Entende-se que a escola faz parte de uma totalidade e passa

a transpor estruturalmente as relações de trabalho na sociedade.

Diante desse quadro a democratização da escola, vem ocorrendo

rápida e desordenadamente, por isso, os caminhos para que esta

democratização ocorre não estavam bem definidos e mesmo assim, chegou-

se à eleição de diretores nas escolas públicas. A maior democratização da

sociedade levou também a um novo debate sobre a função da própria

escola, sua estrutura e os rumos do seu caminhar.

Nesta situação o papel do diretor é de suma importância, já que é ele

quem deverá levar a termo as discussões das quais possam resultar em

melhoria do processo educativo. Desta forma, o princípio da eleição de

diretores serviria para atender a necessidade de participação vigente, com

um dirigente que realmente fosse o representante do voto da maioria.

A escola está inserida hoje, numa realidade bem diversificada, os

parâmetros sociais estão bem diferentes e mudam muito rapidamente.

Assim, o processo escolar influencia e é influenciado por ideologias, valores,

culturas, não sendo, portanto, neutra.

“A escola não é uma instituição neutra frente à realidadesocial. Temos de compreender a realidade onde ela se situa parapodermos clarear o grau de interferência e a possibilidade de ela agirtambém sobre essa realidade”. Rodrigues-1988-pp.57

A bandeira da democratização da sociedade e conseqüentemente do

processo escolar, vem sendo levantada faz algum tempo, e na medida em

que surgem debates políticos e públicas pressões por parte de pessoas

envolvidas direta ou indiretamente com o processo educacional, essa

democratização ganhou espaço e vem surtindo efeito, como capacitar o

sistema para responder às demandas populares, isto é, devem ser

oferecidas tantas vagas, quantas forem às necessidades da comunidade; os

processos pedagógicos devem ter a participação dos agentes educacionais,

nas decisões do conteúdo e da forma da prática educacional e um dos mais

polêmicos que foi e ainda é a eleição dos dirigentes escolares, pois se

querem democratizar os processos administrativos.

2.4 As expectativas dadas pela eleição

Como tudo o que é novo, as perspectivas de mudanças, com a

eleição são grandes e provocam muitas idéias realistas e às vezes ilusões.

Muitas das expectativas se encontravam na opinião dos professores,

quanto a se obter maior autonomia do processo pedagógico; controlar mais

as ações dos diretores (já que foram eleitos com respaldo deles,

professores) e com isso, ter o diretor do seu lado, em casos de embates

políticos, como no caso de uma greve.

No entanto, não só pelos interesses corporativistas, que a eleição de

diretores veio com grandes expectativas, mas o fato de ascender a um cargo

um administrador que contemplasse alguns requisitos básicos, como: saber

ouvir, discordar educadamente; conviver com as divergências; trabalhar em

grupos sem favorecimentos pessoais; estar comprometido com o processo

educacional.

2.5 O diretor e o time técnico-administrativo e sua integração

Considerando-se que a escola é a soma do trabalho integrado de um

time, se torna mais necessário que o diretor, não se coloque como centro

das atenções, tomando para si as decisões a serem tomadas, ou seja, deixe

de ser “chefe” para se tornar um “líder”, capaz de desenvolver um projeto

interativo entre seus profissionais.

Esses profissionais que compõe o time têm seu papel e atividades

definidas, porém com suas naturezas voltadas para o melhor

desenvolvimento do educando em todos os seus aspectos, habilidades,

atitudes.

Assim, o diretor é o responsável pela boa convivência de seu time

tanto pedagógico, quanto de apoio e deve promover suas articulações como

grupo. “Partindo da afirmativa de que a escola é uma construção coletiva”

2.6 O processo ensino-aprendizagem, num contexto de autoritarismo.

O profissional da escola apesar de trabalharem em conjunto, tem suas

funções específicas e necessitam para isso de liberdade de ação. Na

medida em que suas decisões devidamente embasadas, com objetividade e

lógica.

Nesse contexto, é o diretor em princípio que guiará a todos (pais,

alunos e professores) a um porto seguro, ou seja, para um ensino de

qualidade e melhor aproveitamento do espaço escolar.

Nem sempre quem foi eleito legitimamente, é aquele que vai atuar de

acordo com os anseios de seus eleitores. Em muitos casos ele toma para si

todas as decisões, não leva em consideração o que a equipe tem a dizer, ou

ainda, estabelece favoritos para seu grupo, isto é, admite aqueles que

concordem sempre com suas idéias, sejam elas quais forem ou então

aqueles que apesar de discordarem, se mantém calados, se omitindo,

caracterizando assim uma situação de aceitação.

Diante desse quadro, acontece um efeito em cadeia que gera casos

de constrangimentos da equipe, gerando frustrações, (desnecessárias) que

vão influir na atuação da equipe e, por conseguinte no trabalho pedagógico.

Muitos diretores se sentem ameaçados (apesar de eleitos) quando

suas opiniões são contestadas, ou ainda superadas por idéias, sugestões

melhores que as suas, e passam ás vezes a exercer pressão sobre o grupo

de profissionais para que façam exatamente o que ele quer.

O clima que se instala, a partir daí, é quase de terrorismo, pois as

pessoas ficam acuadas e desmotivadas, chegando a uma situação de

marasmo, sendo insuportável para todos, principalmente para os alunos.

O processo ensino-aprendizagem se desestrutura e estagna, em

função de um elemento.

2.7 O cotidiano escolar como reflexo das relações sociais

A escola antes de tudo, é seus alunos e professores e antes ainda de

ensinar os saberes acumulados e necessários, para sua inserção no mundo,

como um cidadão responsável e sujeito de suas ações, a escola ensina, nas

entrelinhas das palavras e atitudes de seus professores, diretores e

funcionários. Pela observação da realidade que o circunda, o aluno percebe

quem de fato, detém o poder na escola; como se desenvolvem as formas de

poder no interior do ambiente escolar.

Os professores se sentem muitas vezes, cerceados em seu direito de

opinar e tomar iniciativas, ou ainda são desconsiderados em suas

atividades, principalmente, quando estas envolvem, algo diferente (um

passeio, ou atividade extra-escola) que envolvem o desenvolvimento integral

do aluno, e a própria direção cria obstáculos para que a atividade não se

realize, e o professor assim, não se sobressaia mais que ele.

“A escola é um local de confronto com o mundo social.Nela o aluno observa os outros, adquire o conhecimento de outroscomportamentos das intenções, dos valores, e das normas que ossustem. É nesse contexto que vai sendo desenvolvida, também, aquestão do imaginário individual e social que se alimenta da realidade.A compreensão da realidade de onde está a escola e aonde pretendechegar”. Grinspun-2002

Nessa realidade, um dado significativo à compreensão da escola é o

exercício de poder de determinadas pessoas, ou até o “poder” que ela

adquire como instituição na sociedade, são as relações que o poder gera

dentro da escola, as formas de saber que o próprio poder vai criando nas

diversas instâncias, onde se manifesta (algumas vezes como justificativa da

própria existência, outras, como garantia de sobrevivência), que farão com

que ela desenvolva uma linha, autoritária, coercitiva ou democrática.

2.8 As contradições e os avanços da eleição de diretores

Quanto às questões de ingerência política de agentes, como

vereadores, deputados e outros, verificou-se uma diminuição e o diretor ficou

mais à vontade, ou pelo menos, com mais liberdade, não temendo ser tirado

do cargo, ao sabor dos partidos, desarticulando qualquer projeto na escola,

apesar de ainda estar muito afeito e preso a determinações e pressões das

secretarias municipais e estaduais.

A eleição de diretores era vista, como uma panacéia milagrosa que

resolveria praticamente, todos os problemas da escola, assim a expectativa

em relação a sua implementação era grande, no entanto há questões no

cotidiano escolar que não dependiam e não dependem desse processo. A

eleição trouxe alguns avanços em alguns aspectos, enquanto que em outros

se tornou impotente.

Já no que diz respeito ao autoritarismo, aos desmandos, isso está

mais relacionado à postura do profissional que está engajado na prática

educativa e não vinculado à eleição.

Uma outra questão é a participação de fato das pessoas que estão

envolvidas no processo e que muitas vezes não se sentem sujeitos de sua

própria história, se omitem, deixando ao diretor toda a responsabilidade e

poder de decisão sobre o melhor encaminhamento das questões das

questões da prática educativa.

Verifica-se que o processo eleitoral constitui-se uma possibilidade e

não uma garantia, para o envolvimento e co-participação no processo da

prática escolar.

2.9 O diretor de ontem e o diretor de hoje

A discussão em torno do papel do diretor vem há muito permeando os

questionamentos na escola.

O papel do diretor ontem era o de mero repassador das diretrizes

emanadas das Secretarias de educação. Era uma pessoa que viva

praticamente isolada em seu gabinete, cumprindo funções burocráticas e

agindo nos casos considerados graves ou fora de controle, por parte do

professor, ou seja, ele era a figura que representava o poder máximo junto

aos professores, e uma pessoa rígida e severa, que poderia aplicar e

aplicava os piores castigos (inclusive corporais) aos alunos em nome da boa

disciplina.

Este tipo de diretor era uma figura que a comunidade (pais e

responsáveis) não tinham acesso. E se alguns eram chamados ao seu

gabinete, certamente seria para falar sobre o comportamento do filho ou

suas notas, sendo então repreendido, por ser considerado permissivo,

indulgente na educação dada.

Nos dias atuais, esse profissional não representa mais, tanto aquela

figura dominadora, repressiva, temida, no entanto, ainda há algumas

pessoas que sustentam um certo ar de superioridade e de posição

privilegiada por ocuparem esse cargo.

Esses são aqueles que estabelecem a verticalidade do poder, ou seja,

controlam todas as ações da escola, com atitudes de detentor da sabedoria

universal. Eles não delegam as funções e criam uma situação de

dependência, pois centralizam o poder nos mínimos atos executados.

“Geralmente esses diretores não conseguem ver nos seuscolaboradores pessoas capazes de crescer. Costumam tomar a todoscomo possíveis concorrentes aos seus próprios cargos e, cercam-se detodos os poderes possíveis, não os delegando a quem quer que seja.Centralizam. No dia em que adoecem a escola pára. A grandedesculpa quando se fala em delegação é a de que os outros nãosabem fazer e não se pode comprometer coisa tão sagrada quanto àeducação das crianças”. Werneck-2001-pp.40

Na atualidade educacional, o cargo de diretor está se tornando de

pouco atrativo, pois as responsabilidades são maiores e as cobranças

também. Além disso, o retorno financeiro não é considerado condizente com

as atribuições.

Esta realidade se verifica, quando se começa, ou alguém da escola

movimenta-se em função do processo eleitoral, procurando por pessoas

para formarem chapas de oposição, e se defronta com diversas respostas

negativas.

Assim sendo, quem está continua a exercer sua influência, pois não

existe com quem precise concorrer. Esta situação não é a desejável e

descaracteriza o processo democrático.

E hoje ainda se verifica manipulação de votos, as votações

influenciadas ou coagidas.

Considerando esse panorama, percebe-se o quanto ainda está longe

o ideal de democratização de todo processo educativo.

A tendência para autonomia vem acontecendo progressivamente nas

escolas públicas e com isso, delegam-se os poderes e dividem-se as

responsabilidades. Os gestores (diretores) têm um papel destacado, são

aqueles que implementarão as várias iniciativas, projetos e vão fomentar o

desenvolvimento das competências.

O início desse processo é a descentralização, dar a escola o poder de

decidir seu plano pedagógico, o material que utilizará e como gastará o

dinheiro. Neste processo a participação das famílias é fundamental, pois

serão os filhos deles que se beneficiarão. “Os pais devem assumir junto a

responsabilidade pela administração e pelo processo educativo”.

Casagrande e Zenti - 2000,pp.13-19

O projeto pedagógico é a chave para a autonomia e para a gestão

escolar. Ele deve ser visto e revisto a cada ano, sendo ajustado na medida

em que se transforma a realidade.

No entanto, não se aponta mudanças na formação acadêmica,

necessárias a este profissional na assunção dessas novas competências.Ou

isso será apreendido na prática, no ensaio e erro.

“A constatação das novas competências do diretor deescolas eleito pelo voto, mostra a urgência de repensarmos a formaçãodos docentes, Não apenas do pedagogo, buscando garantir-lhecondições para melhor conhecerem a organização e funcionamento daunidade escolar e contribuírem para a sua gestão democrática”.

www.chicoalencar.com.br/novaescola

Conclusão

O processo educativo é resultado de vários fatores: psicológicos,

históricos, culturais, sociológicos, políticos. Assim a escola deve ser

compreendida como uma estrutura dinâmica administrativa, com o inter-

relacionamento de seus elementos.

Dessa forma, uma escola democrática deve desenvolver condições

para que seus elementos sejam desafiados a refletir e agir sobre a realidade

que os cercam.

Hoje, há uma conscientização real, principalmente por parte do

governo de que só há um jeito de melhorar o país e o caminho, ou o ponto

de partida é a escola.

A questão mais importante é envolver os pais no debate, na

participação sobre o ensino de seus filhos.

A gestão democrática é a princípio o caminho para que essa

participação aconteça e leve a descentralização, quando então os pais

devem se sentir responsáveis pela administração dos recursos e pelo

processo educativo.

Considerando que Educação e escola não são só assuntos de

governo, mas de toda a sociedade, a escola boa, portanto não se faz por

decretos, mas pela vontade de um coletivo.

Apesar destas constatações, ainda há unidades escolares, que se

transformaram em guetos e os grupos são fechados às mudanças, nestes

estabelecimentos os diretores agem como déspotas e se isolam do contexto

social, aliado a uma comunidade que aceita com resignação esse estado de

coisas, que acabam sendo consideradas normais.

O ambiente escolar é um grande laboratório social, onde funcionam

em pequena escala, representações de diversos grupos sociais, e é nesse

ambiente que se cria condições para que o aluno aprenda participando,

atuando diretamente, influenciando, sendo mais ator que expectador.

Dentro dessa realidade, a escola ensina muito mais pelo exemplo, do

que pelo sermão, ou seja, os estudantes tiram suas lições na prática

cotidiana e assim se educa para a ética, a honestidade e para justiça.

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