A Cura Da Da Depressão Pelo Magnétismo - Jacob Melo

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O Magnetismo no tratamento da depressão.

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  • COPYRYGTH 2 0 0 7 JACOB MELO

    IDEALIZAO E REALIZAO: Vida & Saber PROJETO GRFICO: Mackenzie Melo REVISO: Lusa Vaz EDITORAO ELETRNICA

    Editora Vida & Saber Av. Xavier da Silveira, 1 1 7 4 (Prx. Colgio Castro Alves) Nova Descoberta. Natal/RN. 5 9 0 5 6 - 7 0 0 Tel.-Fax: ( 8 4 ) 3 2 3 1 . 4 4 1 0 .

    [email protected]

    Este livro foi composto e reimpresso no ano de 2 0 0 7 .

    M528e Melo, Jacob A cura da depresso pelo

    magnetismo: depresso tem cura sim / Jacob Melo. Fortaleza: Premius, 2007.

    224 p. ISBN: 85-7564-325-8

    1. Depresso psicologia I. Ttulo

    Edifora Vida & Saber ILUSTRAES

    Capa: Marcos Carvalho Miolo: Mackenzie Melo

    REIMPRESSO E ACABAMENTO

    CDU 616.89-008.454

  • S U M R I O

    Agradecimentos 7 Prefcio (A estrada - por Mackenzie Melo) 9 Introduo (Importa Ler...) 13 Fuga e mergulho no escuro 17 O incio de minha histria 23 O intraduzvel sofrimento 29 Para onde o caos me levou 35 O fim de "minha" depresso 41 O genrico da depresso 49 Perisprito e Campo fludico 57 Mecanismos de ao dos fluidos nas terapias 69 O que diz o tato-magntico 77 Filtros: a queda das fichas 89 A obsesso na depresso 99 Roteiro utilizado nos Tratamentos de Depresso por Magnetismo TDM. Tcnicas e padres 103 Quando dar alta 143 Correlao com a Acupuntura 149 Abordando a Esperana 155 Insignificncia: no aceite 161 Esperana: a grande Esperana 167 Alguns mitos 173 E o suicdio? 179 Reflexes positivas 185

  • Alguns Depoimentos 199 Concluso 205 Bibliografia 213

  • AGRADECIMENTOS

    Como todo filho, tambm no o tive sozinho. Nem posso ficar com ele s para mim. Portanto, entrego-o a voc, para que cuide dele to bem como voc gostaria de receber, do mundo, de todo mundo, a melhor compreenso.

    Por ele rendo graas a Deus; foi sua grandiosidade que me permitiu chegar aonde eu queria, ainda que por caminhos inesperados.

    Agradeo tambm a Jesus, por seus exemplos de perseverana, seu poder de curar e de elevar homens e almas, me ajudando sempre a crescer e progredir.

    Aos Maiores da Espiritualidade, pelas inspiraes, e a Allan Kardec, pela sabedoria de seus escritos.

    Mesmer, Swedenborg, Puysegur, Deleuze e tantos outros corajosos magnetizadores do passado, meus cumprimentos e minha gratido.

    Criaturas maravilhosas, que me permitiram investigar a cura da depresso atravs de suas dores e resignao, muito obrigado.

    Minha me, exemplo grande para uma coletividade sem fim, obrigado por sua fora, seu apoio, seu sorriso e pela vida.

    Lu, anjo de minha vida, inspirao e suporte inoxidvel de todos os climas, tempos, temperos e grandes navegaes, porto onde ancoro minhas fortalezas e fraquezas, onde deito meu cansao e recobro minha energia, onde tenho alento e no fico ao relento, agradeo-te por tudo, sempre renovando meu amor por ti.

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    qui est mais um filho meu!

  • Filhos amados, que me suportam, me conhecem e mesmo assim me amam, obrigado.

    Ana Cristina, Karla e Yonara, este trabalho no estaria completo sem a fora de vocs.

    Time, equipe, famlia LEAN, nunca trabalhei com pessoas to maravilhosas, dedicadas, amigas e especiais como vocs. Vale muito a pena trabalhar com uma turma como essa!

    Revisoras Ins e Beth, da aquarela vocs foram os tons; muito agradecido.

    Amigos do exterior, do interior, de casa e da rua, no imaginam como vocs so importantes.

    No tem jeito, no sei mesmo dizer nada mais do que MUITO OBRIGADO. E isso eu digo de todo corao e com muito amor.

    Que nosso amor Vida seja retribudo fazendo sempre o melhor, o algo mais, o diferenciado, o excelente, o grandioso, o Bem.

    Jacob Melo, junho de 2006.

  • P R E F C I O

    lugar especfico. Para o autor, felicidade era o trilhar, era o caminhar, era o mover-se em direo a esse "lugar". Ento fica a pergunta: "que lugar esse que todos ns estamos em busca - nessa busca incessante?"

    No o meu objetivo, neste prefcio, desvendar esse mistrio que, de uma forma ou de outra, est no consciente ou subconsciente de todos ns. Ser ento que o livro que voc tem agora nas mos dar essa resposta? Tambm no!

    Esse "lugar", igual ao horizonte, por mais que tentemos dele nos aproximar, sempre se mantm mesma distncia de ns. E, por mais estranho que isso possa parecer, essa sua grande virtude, pois nos fazer caminhar, na tentativa de l chegar, ou de chegar mais perto. Da a frase do Rabi da Galileia, quando nos afirmou que "a felicidade no desse mundo". Como podemos compreender totalmente algo que no desse mundo? Caminhando rumo a ele.

    S que para chegar ao fim da jornada poderemos seguir diversos caminhos. Alguns podem ser em linha reta que na geometria a menor distncia entre dois pontos , ou em zigue-zague, em curvas, com paradas, muito acelerado, bem lentamente... E ento, o que determina o caminho que vamos percorrer? Ser que ele fruto do acaso?

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    A ESTRADA Mackenzie Melo

    erto dia ouvi que a felicidade no estava nem era um

  • Colhemos aquilo que plantamos. Analisada profundamente, essa orao nos faz perceber que apesar de muitas vezes acharmos que o caminho que temos que trilhar foi-nos imposto pelos outros ou por uma fora superior, que dita o que eu vou ter ou no que fazer ns somos os principais, para no dizer os nicos responsveis pela estrada que "plantamos", construmos, e que agora temos que "colher", ou melhor, percorrer. Entretanto, apesar de termos sido ns que a construmos, isso significa que temos que carregar o fardo desse percurso sozinho ao trilh-la? No! O prprio Jesus, em se aproximando do momento supremo, aceitou ajuda do Cireneu, que carregando um pouco Sua cruz deu oportunidade a Ele de se recuperar e retom-la um pouco mais fortalecido para concluir sua misso.

    "A Cura da Depresso pelo Magnetismo", dcimo primeiro livro da safra de Jacob Melo, no apenas um "Cireneu" em nossas vidas; muito mais. Ele nos traz luz cm pontos de nossa jornada, onde as trevas apareceram por termos escolhido, nalguns momentos, caminhar por baixo da terra. Ele remove, aplaina e reduz montanhas de desconhecimentos, nos ajudando a no mais precisarmos subir ladeiras ngremes c interminveis. E, com esse material removido das montanhas, ele tapa vrios dos buracos mais perigosos de nosso caminho. Jacob nos ajuda a recomear e a ter foras suficientes para fechar as depresses que encontramos em nossas estradas.

    Ele vai ainda mais longe. Muito mais que simples sugestes ou "apenas" discusses filosficas acerca do assunto que so muito teis e voc encontrar vrias aqui no livro sua obra nos mostra o que fazer, na prtica, para conseguir uma cura completa da depresso, sem misticismo, sem meias palavras e. que se diga em letras garrafais, sem desprezar as contribuies da Medicina, da meditao, da respirao e de todas as tcnicas que possam ser bem empregadas para ajudar a curar esse mal imenso, a depresso.

    1 O

  • Um livro no apenas para quem tem ou j teve depresso, mas tambm e principalmente para aqueles que querem ajudar aos irmos do caminho que passam pelo problema que afeta milhes de pessoas no mundo inteiro. Este livro deve ser lido com muita ateno e, se possvel, combinado com os prvios livros sobre Passes e Magnetismo, tambm escritos por ele, para que a compreenso do tema seja bem absorvida e os efeitos dos tratamentos sejam os melhores e o mais duradouros possveis.

    Sigamos em mais essa jornada com Jacob Melo. Com ele, com sua experincia e o seu conhecimento, o caminho fica mais tranqilo, mais cheio de esperana e nos faz ter vontade, mesmo os que, como eu, no tm prtica nenhuma com passes e/ou magnetismo, de comear a estudar mais e poder, quem sabe, ajudar aqueles que precisam de mais amparo do que ns. Vamos com ele pavimentando as depresses da nossa estrada para, quem sabe, dentro em breve, nos encontrarmos no que achamos ser o fim da jornada, apenas para percebermos que, quando l chegarmos, o caminho foi to prazeroso que no quereremos parar e continuaremos caminhando sempre, em direo ao Amor Supremo. Se no chegarmos felicidade completa por esse caminho, certamente viveremos tantos bons e intensos momentos de felicidade que nossa colheita apresentar positivos saldos de alegria, sade, paz e harmonia!

    New York, 21 de junho de 2006.

  • I N T R O D U O

    IMPORTA LER...

    " S e os mdicos so malsucedidos, tratando da maior parte das molstias, que tratam do

    corpo, sem tratarem da alma. Ora, no se achando o todo em bom estado, impossvel que

    uma parte dele passe bem". Allan Kardec, na introduo de O Evangelho Segundo o

    Espiritismo, em seu item XIX.

    ste livro , entre outras coisas, o resultado de uma longa pesquisa, da qual o saldo positivo alcanado o maior estimulante para que ele fosse escrito.

    Tive um pouco de dificuldade para definir como o escreveria, pois embora muitos dados tcnicos peam, imperiosamente, para serem descritos, no gostaria que o resultado do trabalho deixasse de ser lido por quem leigo, mas que, nem por isso, tenha menor interesse em contribuir para a soluo de to grave e enlouquecedora doena.

    Apesar de os nmeros oficiais ainda serem bastante imprecisos, calcula-se que cerca de 20% da populao mundial enfrentar o problema da depresso em um dado momento da vida, eles so fortes. Isso se torna mais grave quando sabemos que a doena atinge crianas, adolescentes, adultos e idosos, ricos e pobres, orientais e ocidentais, sendo verificada uma incidncia duas vezes maior em mulheres na faixa dos 20 aos 40 anos. Segundo Andrew Solomon {Demnio do meio-dia,

  • 2002). "A depresso ceifa mais anos do que a guerra, o cncer e a AIDS juntos. Outras doenas, do alcoolismo aos males do corao, mascaram a depresso quando esta a causa; se levarmos isso em considerao, a depresso pode ser a maior assassina sobre a Terra". Apesar disso, Solomon nos lembra, na mesma obra, que "A depresso um estado quase inimaginvel para algum que no a conhece".

    Assim, decidi por comear o livro numa espcie de thriller, onde uma imagem bastante comum na vida dos depressivos graves pouco percebida por quem nunca viveu um episdio desses. Na seqncia relato o que comigo se passou quando sofri a violncia desse mal. Depois de descrever os principais e piores episdios que amarguei, adentro no mundo histrico da depresso. Ato contnuo convido o leitor para juntos analisarmos os componentes sutis que envolvem e favorecem o entendimento de toda a pesquisa, bem como da percepo de novos horizontes de como lidar com a depresso. Aspectos mais especficos, como a obsesso, os mitos e os cuidados so abordados de maneira direta e bastante conclusiva, sem falar na descrio, item por item, de toda a seqncia do tratamento, sendo cada item longa e fartamente explicado e justificado, de forma a no deixar dvidas sobre os procedimentos indicados e suas razes. Antes da concluso, ainda apresento algumas reflexes e partes de depoimentos enriquecendo tudo o que foi apresentado ao longo da obra, com especial destaque para a valorizao de um grande sentimento, o qual tem sido seguidamente negligenciado por religiosos de todos os credos e seitas: a esperana.

    Com muita propriedade se diz que a misso tradicional do mdico aliviar o sofrimento humano; se puder curar, cura; se no puder curar, alivia; se no puder aliviar, consola. Lamentavelmente, nem tudo, no terreno das curas, os mdicos, com suas formaes acadmicas, podem resolver. E por mais relutantes que sejam, terapias ditas alternativas tm sido muito eficientes em muitas situaes e casos. O Magnetismo uma delas.

  • Portanto, creio que entre o alvio e o consolo interpe-se a necessidade de se considerar o que vem funcionando positivamente, mesmo que esteja fora dos chamados padres acadmicos ou convencionais. E isto no discurso de entusiasta; trata-se da fora das evidncias, quando se percebe o surgimento de novos ramos da Cincia, como, por exemplo, a Psiconeuroimunologia, atravs da qual se busca a compreenso da inter-relao entre os aspectos psquicos, neurolgicos e imunolgicos, onde, quando e como um interfere no outro bem como quais mecanismos sutis se desenrolam por trs de tudo coisas que o Magnetismo j realiza h sculos.

    A Psicologia nos informa que a anedonia a incapacidade de ter prazer ou divertir-se ou ainda uma forma especial de rigidez afetiva em conseqncia de experincias traumticas de vida (por exemplo, a passagem do indivduo por um campo de concentrao ou a vivncia de um seqestro). Com este livro pretendo ajudar muita gente a readquirir suas capacidades de sorrir, agir, interagir, ter prazer na vida e com a vida, superando suas dificuldades e limitaes emocionais, a vencer seus traumas, encontrar a "escada" e ter foras para escal-la, subindo e saindo do poo escuro da depresso rumo luminosidade do Amor e da Vida. Mas quero tambm ajudar outras pessoas a ajudarem a "salvar" muitas mais, levando-as a desenvolverem seus potenciais magnticos, mostrando-lhes que sempre possvel fazer o bem, literalmente ao alcance das prprias mos. Enfim, na alegria de quem j venceu essa grande tormenta, apresento idias felizes para que nunca mais tenhamos motivos para nos precipitarmos nesse estado triste nem em nada de ruim e degradante que dele decorre: a depresso.

  • FUGA E MERGULHO NO ESCURO

    "Escrever sobre depresso doloroso, triste, solitrio e estressante".

    Andrew Solomon, in O Demnio do Meio-dia

    Como ato de produo literria, ele (Andrew Solomon) tem razo, mas como profilaxia anti-depressiva esta escrita profcua, iluminada e

    abenoada. Jacob Melo, aps um doloroso, triste, solitrio e

    estressante dia na produo deste livro.

    vida daquela criatura, neurtica com a escurido, era o retrato daquilo que ela tanto dizia temer. De to apavorada com o escuro, temia o dia por ele prenunciar a noite.

    Por conta de seus sombrios pensamentos, costumava se imaginar metida numa sala escura, ou mesmo numa caixa, num caixo, num buraco, numa caverna, tudo sempre escuro, muito escuro. Naquele ebneo ambiente mental, o pavor era seu companheiro mais constante.

    A conjugao de coisas como medo, escurido, neurose, fobia e uma boa dose de irracionalidade, sempre geram monstros e demnios ferozes, agressivos, impiedosos e, o que pior, sentidos espreita, ao derredor.

    O medo apavorante de sua alma alimentava toda espcie de monstros que pululavam ao seu derredor. Como

  • conseqncia, "seus" monstros a levavam a viver num incontrolvel estado de nsia, uma tormentosa expectativa de repentinamente se defrontar, cara a cara, com eles e simplesmente no saber o que

    Primeiro porque no os conhece de fato e, a partir da, no sabe se os reconhecer; depois porque os imagina sempre grandes, poderosos, aniquiladores, travestidos de pessoas conhecidas e sorrateiros.

    Pressupe que eles a atacaro na surdina, disfaradamente, a qualquer hora, especialmente aproveitando-se da escurido.

    De tanto imaginar, primeiro suas confuses mentais a levaram a pressenti-los nas pessoas desconhecidas da rua; depois passou a imagin-los nos amigos, nos familiares, no trabalho, no estudo... Enfim, eles estavam em todas as pessoas, em todos os lugares, inclusive em ningum e em lugar algum.

    Tudo isso toma um rumo crescente em sua vida, de forma impiedosa, embotando qualquer tipo de viso lgica.

    Certo dia, quando anoitece, com o medo crescido e o pavor ensoberbecido sobre a razo, vem a tentativa de fuga; a busca por um lugar recluso, escondido, profundo, prprio.

    Cone para casa e tranca-se no quarto escuro, verdadeira masmorra, um tipo de presdio, quase indevassvel.

    Sua lgica quase ilgica: se no se pode dali sair, tampouco no h como ali entrarem. Por segundos, sente-se segura, distante do alcance dos monstros, da escurido, de tudo, de todos... Mas tudo muito rpido.

    O escuro de fora, que era apavorante, naquele quarto denso e estranho no permite que a coragem se demore. Os temores e tremores no diminuram; ao contrrio disso, cresceram sobremaneira.

    Pelas frestas da porta, onde colou o rosto tremendo dos ps cabea, do fgado ao corao, ela v fantasmas! Identifica-os, mesmo no sabendo quem so nem como so. Fica mais apavorada ainda, pois embora os vendo, no os reconhece, no lhes distingue as formas.

  • Numa tentativa suprema de interagir com o exterior de outro modo, cola os ouvidos, igualmente trmulos, entrada, parede, porta e ouve passos desprovidos de cadncia, passos cujos pisares no definem peso nem tamanho. Coisas de monstros mesmo pensa.

    Recua de imediato. No quer enfrentar os monstros. Tampouco quer morrer ou ser morta por eles. Pensou que havia corrido, todavia mal conseguira mover-

    se alm de dois pequenos passos para trs. De tanto pavor, considera a hiptese de abrir a janela. Poderia pensar em abrir a porta e ver se eles chegaram

    de fato, se estavam por ali, pois j imagina estar apenas plasmando aquilo tudo. Gostaria, quase que como ltimo desejo, de saber se esto ali mesmo, mas no consegue raciocinar nem mover mais nada.

    Volta a pensar na janela. Deduz que s mesmo atravs dela poder alcanar sua salvao, resolver sua vida.

    Consegue, a muito custo, aproximar-se da janela. De l, pelo menos no vm sombras nem rudos

    estranhos, apenas o silencioso convite de uma noite indefinida, que parece no abrigar luz nem sons.

    Abre uma pequena fresta para ver o exterior e no v nada: tudo est breu, escuro, o mesmo cenrio dark do qual diz temer e que, de tanto terror, nele mergulha, cada vez mais, numa louca tentativa de escapar de suas profundezas.

    Quer fugir para aquele lugar, no para o escuro ou o silncio de l, mas simplesmente para o outro lado, ainda que ele seja igualmente escuro, frio e silencioso. Quem sabe aquela escurido seja menos escura do que a escurido que lhe persegue os dias e noites sem luz! tudo o que consegue raciocinar.

    Quando pensa que no, quase foge. Mas a reincidente idia de que os monstros tambm podem residir por ali lhe faz estancar os movimentos.

    Nossa! Que conflitos tormentosos! Quo tenebroso um mundo assim!

  • Enquanto escrevo isso, recordo-me de uma referncia do Novo Testamento:

    Porque onde estiver o teu tesouro, a estar tambm o teu corao. A candeia do coipo so os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo teu corpo ter luz; se, porm, os teus olhos forem maus, o teu corpo ser tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti h so trevas, quo grandes so tais trevas! (Mateus, 6, 21 a 23)

    No meio disso tudo, uma luz! Dormir! Sim, dormir! Provavelmente dormindo ela fugir para

    lugares menos atormentados. uma boa idia. Mas o qu! Mal fechou os olhos, os monstros cresceram,

    ampliaram-se; seus gritos ficaram mais fortes e agudos, suas unhas cresceram em direo ao seu corao, seus bafos quentes e midos fizeram com que ela transpirasse a cntaros, chegando mesmo a derramar-se em urina.

    Nesse instante ouve algum batendo porta. Sua impresso de que os monstros agora vo se materializar de vez e derrubaro a porta. Grita, a plenos pulmes, pedindo para que eles vo embora, mas de sua boca no sai qualquer rudo, nenhum soluo.

    Encolhida num canto minsculo da cama ela v que a porta vai se abrindo lentamente. Arriscando abril- um olho descobre que o monstro vestiu-se de sua prpria me.

    Que pnico! Que pavor! Mas ela no se engana, pois uma me jamais agride o filho amado e aquele monstro vestido de me a agride pedindo silncio, pedindo que tenha f. mostrando-lhe um crucifixo como quem quer exorcizar o mal que, para o monstro, est dentro dela. mas que para ela no passa de artifcio para enganar a todos que saibam daquela histria.

    Oh! Quanta confuso!

  • Desconsolada, a me. aps beijar-lhe a fronte beijo assimilado como se fosse a inoculao de um veneno que a adormeceria para, enfim, os monstros a possurem , saiu de mansinho, com os olhos marejados.

    E ela, que tanto queria o alvorecer, para que este espantasse de vez aquela escurido inconcilivel com o equilbrio que se busca manter na vida, cerra os olhos com fora para no ver os primeiros raios que ousam atravessar as pequenas frestas da janela. Em sua cabea, qualquer luz apenas destacar, de forma mais eloqente ainda, o lugar onde tanto busca se esconder dos monstros. E, naquela nova claridade, eles, por fim, a possuiro.

    A claridade, que seria uma bno, faz revelar os monstros que se disfaram nos que a cercam, o que a leva a ansiar novamente pela noite, onde se refugiar, espera de alcanar algum tipo de sucesso.

    E passa o dia ruminando a idia de fugir pela janela, pois no pode ser o escuro desconhecido pior do que o desconhecido escuro em que vive e se atormenta, sempre mais, sempre mais...

    Todo esse enredo pode parecer filme de fico, histria de perturbado mental ou ainda uma loucura de um escritor que no sabia sobre como descrever, de forma muito prxima da realidade, um dos tipos muito comuns de crises existenciais em que vive um enorme batalho de depressivos.

    A claridade das relaes os apavora, pois os deixa desnudos, emocional e psiquicamente.

    A escurido que vai chegando ao final da tarde o conjunto dos conflitos dos prprios sentimentos, onde amor vira desconfiana, carinho se transforma em interesse subalterno, abraos so beijos de Judas, adeuses se revertem em atitudes ameaadoras e f no passa de artigo jamais existente em qualquer prateleira da alma. Como viver num mundo desses se entregar para servir de alimento

  • para os inimigos, procuram sustentar-se apenas do prprio eu, acreditando que pelo menos a ainda resta alguma coisa de saudvel e proveitosa. Entretanto, no h como se extrair gua de um poo que no foi cavado.

    Esforos hercleos so requeridos para se fazer da prpria alma o prprio complemento, a base da prpria estrutura. Mas como ter uma base fixa e poderosa se a estrutura precisa mover-se? Que articulaes magistrais sero essas que faltam nessa construo para que ela d certo?

    Contudo, embora envolvidos na necessidade de progresso, no despendem muito tempo para que concluam acerca da impossibilidade de tal feito, pelo menos at que se tenha firmado posio na certeza do que se busca. Sem isso, vo-se as esperanas. Nessa hora, quem sabe do outro lado haja alguma coisa alm de monstros e ofensores! quando o desespero recomenda a tentativa de buscar mais trevas para se fugir das prprias obscuridades.

    E por a seguem as reflexes acerca dos dramas ntimos de muitos depressivos graves. um jogo escuro, dantesco, thriller horrendo de uma tragdia sempre mpar.

    No sobre histrias como essa que quero abordar neste livro, mas, sobretudo, como ajudar, eficientemente, pessoas a sarem desse cubo de escurido e trevas, desse mundo que no o conhece quem nunca nele esteve mas, por favor, quem no o conhece faa todo o possvel para dele no chegar sequer aos umbrais.

  • O INCIO DE MINHA HISTRIA

    "Nunca diga: dessa gua no bebo, desse po no como".

    Ditado popular

    faz um certo tempo. Alguns anos se passaram... Era um domingo, final de tarde, quando comecei a me sentir

    estranho. O clima estava ameno, mas uma sbita sensao de calor, acompanhada de uma sudorese estranhamente fria, foi me envolvendo, levando-me correta suspeio de que algo mais grave ocorria em meu organismo. Como sempre, a cabea parecia estar boa, mas o corao, este despencava...

    Naquele dia havia almoado muito pouco. A comida estava "difcil de descer", mesmo com as pessoas afirmando, insistentemente, que estava saborosa. Na verdade, aquela indisposio alimentar j fazia parte do conjunto de sensaes de pequenos desconfortos pelos quais vinha passando. Aquela era to somente a penltima gota d'gua, como a sinalizar que uma culminncia chegaria em breve.

    Sem nada comentar, fui ao meu quarto, peguei o tensimetro que sempre tenho mo e verifiquei minha presso. Estava elevada, muito elevada, apesar dos medicamentos, todos tomados corretamente como, alis, sempre tive o cuidado de fazer. Era isso: por conta da hipertenso, o corao reclamava mandando mensagens para todo o corpo.

  • Ressabiado por experincias anteriores, fui imediatamente para o hospital, fazendo um caminho que meu carro parecia conhecer, tantas foram as vezes para l transitado. Ali chegando perguntei quem era o mdico de planto. Aquela pergunta parecia irrelevante, mas eu sempre achei que a primeira virtude do mdico est na qualidade da relao que ele consegue estabelecer com seu paciente. Ouvindo o nome do plantonista indaguei qual seria a hora da troca de planto e quem seria o prximo mdico.

    Meia hora depois chegava ao hospital uma outra mdica, a que entraria de servio.

    Vendo-me sentado num canto e um tanto quanto plido perguntou o que eu estava fazendo naquela hora, num domingo, porta de um hospital.

    Doutora respondi , minha presso est naquelas alturas...

    J sei respondeu-me sorrindo e apertando minha mo.- D para perceber por sua cara...

    Disse isso com um sorriso e foi entrando, pegando-mc pelo brao.

    Em seguida, ainda de costas enquanto caminhava, comentou:

    Quer dizer, ento, que voc veio tomar mais um pouquinho de veneno, no ?!

    Embora eu tenha ficado espantado com aquela histria de "tomar veneno" sorri e nada comentei.

    Chegamos na enfermaria. 190 x 120. Est altssima, Jacob. O que voc andou

    fazendo? Confesso que no cometi qualquer excesso nem deixei

    de tomar os medicamentos nas horas certas. E as emoes, Jacob, a quanto andam? A senhora sabe que quem vive de comrcio no tem

    como evit-las...

  • T bom... disse ela abanando negativamente a cabea. Vamos aqui!

    Levou-me para a sala de emergncia e tomou todas as providncias.

    Depois de medicado e ter-me demorado naquele pronto socorro por quase quatro horas, retornei para casa, com a presso normalizada e uma nova lista de "venenos" para tomar.

    Uma semana depois estava eu, novamente, conversando com um mdico. Agora era um endocrinologista. Havia reconhecido que no haveria como fugir daqueles "venenos" se no perdesse peso urgentemente.

    Associei caminhadas a um regime bem balanceado, acompanhando tudo com exames peridicos, de tal forma que em tomo de seis meses eu havia chegado a um peso muito satisfatrio e tinha adquirido uma resistncia fsica muito boa.

    Bem adaptado s mudanas de hbitos, minhas dosagens de "veneno" foram drasticamente reduzidas. Paralelamente, a presso arterial mantinha-se em patamares saudveis e confortavelmente equilibrada.

    Nisso apareceu um "bichinho de nada", quase insignificante, listradinho como uma zebra, dono de um nome muito sofisticado, aedes aegypti, transmissor de um vrus igualmente renomado, flaviviridae. Sem que eu percebesse, ele resolveu me picar, prostrando-me dengoso, cheio de dengo, cheio de dengue.

    Que coisa chata! Como so desagradveis os sintomas da dengue! Lembro-me que poca imaginei que no poderia haver nada mais desagradvel do que aquela virose prostrante. aniquilante, desconfortvel ao extremo.

    Passei quase duas semanas me alimentando muito mal e o resultado foi que 15 dias depois eu havia perdido mais cinco quilos. Fiquei muito magro mesmo.

    Lembro-me que at comemorei esse emagrecimento extra, pois no peso em que eu estava se quisesse perder mais cinco quilos

  • isso corresponderia a um "sacrifcio" de mais de trs meses de quase fome.

    De to magro, as pessoas mais prximas olhavam para mim espantadas:

    Nossa, Jacob! Como voc est doente! O que houve?! era voz geral.

    Teve at quem dissesse que eu estava com cara de aidtico.

    Hoje, revendo fotos da poca, concordo que realmente fiquei com feies cadavricas, j que sempre tive uma compleio mais para cheinho do que para magricela.

    Cerca de dois meses depois de recuperado da dengue, fui convidado para fazer uma palestra sobre depresso. Preparei-me da melhor forma, lendo, pesquisando e estudando bastante. Consultei vrios livros e revistas, inclusive da rea mdica e psicolgica, ampliando minhas anotaes que, de h muito, compilava. Afinal, desde muito jovem sempre estive muito voltado ao estudo do suicdio e da morte e, conseqentemente, tinha que ler e estudar sobre a depresso.

    Na noite da palestra, algo indefinvel me inquietava. Apesar de bem preparado para a exposio do tema sentia-me vazio, tremendo mais do que o normal, com uma terrvel sensao de insegurana.

    Comecei a palestra de forma vacilante, mas no desenrolar do tema fui-me acalmando e ao final j estava me sentindo completamente confortvel.

    Aps o fim da conferncia, vrias pessoas vieram conversar comigo e ento voltei a me sentir vacilante. Se por um lado estava feliz por ter atingido os objetivos que o tema pedia, por outro sentia haver faltado algo muito imprtame, porm eu no identificava nem o que era nem do que se tratava.

    Chegando em casa orei a Deus pedindo que Ele me ajudasse a descobrir o que havia faltado naquela palestra e o que estava me deixando to inseguro. Queria saber o que havia

  • de to importante e que, por mais que eu tentasse, no conseguia identificar. Recordo-me hoje que quase chorei de inquietao, mas acomodei-me ao leito na certeza de que Deus ouviria minha rogativa.

    E no que Ele ouviu? No apenas ouviu como me mandou, de forma inexorvel, o "texto" vivencial para que eu jamais me esquecesse do que se tratava. Fato que, dois dias depois dessa noite, aps ter vivido um dia supemormal dentro de minhas atividades rotineiras, acordei, pela manh, em completo estado de depresso. E depresso grave, profunda, tenebrosa.

    A partir da foram quarenta e dois dias. Dias terrveis, os mais sombrios, estranhos, povoados de nadas e cheios de "nos", dantescos, purgatoriais e umbralinos que eu vivi.

    Dias de nulidade, apatia, de no-vida. E eu s sei hoje que foram quarenta e dois dias porque

    minha mulher registrou isso em sua agenda, pois a minha forma interior de registrar o tempo no me permite, ainda hoje, ter certeza plena se foram tantos ou quantos dias.

    Como expressou Andrew Solomon, no seu O Demnio do meio-dia (2002): "O tempo devorado pela depresso est perdido para sempre".

    Frase forte, instigante, geradora de reflexes. S no concordo plenamente com o enunciado dela

    porque, no final das contas pelo menos no meu caso . sobraram lies impagveis, aprendizado inesquecvel, soberbo enriquecimento no saber acerca do sofrer da alma humana o qual, de outra forma, nenhum livro ou qualquer descrio jamais me daria.

    E sobre esse sofrimento que quero falar agora.

  • O INTRADUZVEL SOFRIMENTO

    relatarei de fato aconteceu, no sei a exata ordem cronolgica, nem posso dar certeza se tudo foi tal qual expressarei, pois a depresso parece obnubilar, de forma portentosa, nossa memria, misturando sensaes e emoes com uma quase total ausncia de razo. E, envolvidos ou sob o efeito da depresso, quando a razo quer se manifestar parece enredar-se em fluxos e teias de pesadelos com confusas viagens onricas alucinadas. Mas vrias dessas coisas foram confirmadas depois por parentes e amigos mais prximos, pelo que atribuo uma relativa exatido dos fatos.

    J no primeiro dia desse mergulho na depresso rejeitei todo e qualquer tipo de alimento, inclusive gua. Sentia que embora no fosse uma rejeio peremptria, no permitia que me impusessem qualquer coisa diferente daquilo que eu decidira. Sem me alimentar fiquei o dia quase todo deitado, olhar vago, perdido, direcionado ao nada e. embora alguns aparelhos fossem ligados e desligados de vez em quando, no ouvia, ou melhor, no registrava o sentido de seus sons nem de suas imagens. Lembro-me, no sei se foi no segundo dia, mas acredito que sim. que tentei ler um livro. Num lampejo.de lucidez pensei que poderia reagir mal leitura, ento, para evitar que tal se desse,

    O homem est sempre disposto a negar tudo aquilo que no compreende.

    Pascal

    e incio, no sei precisar quando cada passo do que

  • busquei um interessante livro que estava lendo e do qual gostava muito. Surpreendi-me com as nuseas que, de imediato, ele me causou. A vista ficou turva e o esfago parecia transportar letras amarrotadas de cima para baixo e vice-versa, sem permitir que a "digesto" das poucas palavras lidas se completasse. Era uma

    digresso sem znite, sem razo em si mesma. D'outras vezes, ficava ntida a sensao de que o aparelho digestivo havia se deslocado para o crebro, pois era ali que a digesto queria fazer-se, ou melhor, no se processava, quer dizer, era acol que a digesto deveria ser feita, mas no acontecia nada l, nem mesmo ingesto ou congesto de palavras, idias, sentimentos, luzes, o que quer que fosse... Mas... No era congesto, indigesto, m digesto ou ingurgitamento; era isso tudo junto e no era nada parecido com quaisquer dessas desarmonias.

    A essas alturas, alguns leitores pensaro que estou doido ou muito perturbado escrevendo um texto to confuso e circular, catico e vazio como este. Na verdade, apenas tento reproduzir o confuso mundo ntimo de quem viveu uma violenta crise de depresso. E estou me esforando para descrever, ainda que de forma superficial, algumas das sensaes daqueles primeiros dias...

    Simplificando tudo, a cada noite eu acreditava que enfim chegava ao fim, chegaria o fim. Queria dormir, pois pensava que assim tudo se acabaria e certamente o final dos tempos haveria de chegar galopante nos corcis noturnos das noites sombrias de coturnos enlameados lembro que para o depressivo no h noite enluarada nem estrelas cintilantes; no h vida que no seja sepulcral ou pantanosa nem risos que no tragam a marca do macabro; tudo funesto, pesado, infrutuoso... Sendo assim, no criava qualquer expectativa positiva quanto possibilidade de surgir um novo dia. Era a nsia pela noite, pelo escuro, pelo estorvo vital, pelo fim. Porque aqui tambm h outra encruzilhada: o depressivo no sente nem quer nada novo, nenhuma novidade, nada que o leve a pensar ou descobrir o que

  • quer que seja, passado, presente ou futuro. No quer saber de si tanto como no se interessa por ningum. No quer luz... Embora odeie a treva em que vive.

    Definitivamente, em seu derredor est estabelecido o caos. E o caos desestruturador. Era assim comigo.

    Quer-se ver televiso, mas no se suporta v-la ligada. Busca-se msica, todavia o som incomoda, inquieta, perturba. De repente lembra-se de um paladar especial. Pensa-se em comunicar isso, mas a opo no decidida leva-o a calar-se. E se algum, por algum meio paranormal, adivinha-lhe os pensamentos e lhe traz aquele prato, o sabor fica acre, azedo, passado, tudo se perde, como se o condo funcionasse ao contrrio, desvirtuando tudo o que toca. E assim o apetite se vai, se esvai, no morre, pois sequer nasceu.

    As refeies s existem por obrigao imposta, da no resultando qualquer prazer, quando no impera um asco igualmente inconcebvel, pois ele no-humano, inexprimvel.

    Desejo de fazer sexo? Nem pensar, No h nojo tanto quanto no h querncia. Libido inexiste. Se no tem prazer, se no existe emoo, se no h sequer perspectiva de xtase, como imaginar excitao?

    Para completar a complicao, uma pessoa como eu, que sempre esteve s turras contra a idia de suicdio, repentinamente me surpreendo pensando em morrer, em sair daquela vida, em escapar desse labirinto inexpugnvel. Mas que fique muito claro um fato: no havia em mim o desejo de me matar; era o desejo do no-viver. certo que para algumas pessoas isso no passa de eufemismo, tentati va de esconder ou simbolizar diferente o que os registros humanos apontam para uma s direo: querer se matar. Fica difcil, muito difcil mesmo, para quem nunca passou por isso, entender quo complexos ficam tais reflexes no ntimo de quem se debate nos braos da Dama do inexistir, simplesmente no tem como imaginar.

  • Quando essa idia comeou a crescer dentro de mim, num relance sublime de repentino raciocnio, morbidamente pedi para ser levado a um mdico. "Um mdico!" Nunca esta expresso verbalizou to bem a tentativa da fuga da morte. Era, nada mais, nada menos, do que a busca no pronunciada pela salvao, pela vida.

    Prozacdisse, secamente, o mdico. Dois comprimidos por dia. Procure alimentar-se melhor, pois voc est muito magro, muito abatido e isso pode afetar suas defesas, criando complicaes maiores depois. Se possvel, tome bastante gua de coco...

    Dessas recomendaes me lembro perfeitamente bem. Como me lembro de, na ocasio, no ter entendido a razo de tomar gua de coco. Ali, inclusive, at achei muito boa a idia, pois sempre adorei esse lquido dos deuses. Mas chegando em casa, s de ouvir o faco abrindo os cocos j me deu nuseas, acompanhadas da mudez que s gritava para dentro e que, apesar disso, no conseguia externar quase nada, num silncio indecifrvel. Era como num pesadelo em que, estando perseguidos por ferozes bandidos ou animais, queremos gritar e reagir, mas percebemos, aterrorizados, que da garganta no sai qualquer som, qualquer palavra, nenhum grito, nenhum rudo; das pernas, nenhum movimento, apenas tremores. E nos apavoramos mais ainda na vivncia dessas cenas, que parecem jamais pararem de se repetir, de se intensificar.

    Apesar do prozac, a cada dia meus sentimentos eram mais obtusos, distantes e confusos.

    Queria muito que os amigos fossem me visitar, mas ao saber que chegara algum em casa, sinalizava para que trancassem a porta. Era sempre um grande sacrifcio dizer: "No quero ver ningum". E ao mesmo tempo em que me aborrecia por muitos no insistirem para me ver. me incomodava terrivelmente quando outros conseguiam entrar para me visitar. Isso o que eu chamo de paradoxo dos paradoxos, aberrao da luta entre emoo louca e razo curta.

  • Durante o dia era comum o desejo de chorar, de jogar-me contra a parede, de arrancar os cabelos ou fazer loucuras parecidas, mas nada disso acontecia. Era como se o corpo fosse de um ser e a alma de outro possuidor distinto. Funcionava como uma mediunidade maluca: no ser, o corpo estava dopado, quase inerte, futilmente, sem respostas; na alma, o corao no conseguia estabelecer um ritmo cadenciado, no era possvel sentir prazer com presenas nem se confortar com ausncias.

    Sempre difcil, muito difcil mesmo lidar, no dia-a-dia, com as dificuldades e impossibilidades que a depresso gera. Ficamos lerdos, por dentro e por fora. Fome e apetite desaparecem como por encanto, o mesmo se dando com a sede. A libido at parece nunca ter existido. Nenhum interesse sexual, nenhum atrativo, nenhuma sensualidade interessa, se aplica ou sequer ponderada. Abstrao total.

    No me lembro bem, mas parece que at o ritmo cardaco fica insano, como se estivesse sob o efeito de fortes calmantes, parecendo bater num ritmo insuficiente ou ineficiente para as necessidades gerais do organismo.

    Funes bsicas, como mico, defecao, sudorese, salivao, lacrimao e mesmo o desejo de asseios e banhos parecem sumir. Os odores perdem sentido e o tato fica semi-sensvel apenas. um transtorno de profundidade imenso.

    Embora sem definio clara, eu vivi a mais tenebrosa solido, ironicamente estando ao lado de parentes e amigos, dentro do prprio lar.

    Experimentei a mais desconfortvel fome, ainda quando no faltava nada mesa. Contudo, insistia em nada querer comer.

    Lar?! E o que era isso? Uma casa? Companhias conhecidas?

    Paredes nem pessoas faziam sentido, nada tinha significado em minha percepo. Nenhum ser, nenhuma coisa fazia ressoar vida dentro do que sobrava desta em mim.

    Vivia dias manhs e tardes to noturnos quanto as noites mais trevosas. No havia sol nem clares, apesar do vero

  • sem nuvens. No vivia o vero, pois era como se em plena poca de trridos ventos do Nordeste brasileiro, conhecido, me sentisse saudoso do inverno noruegus, imaginado, no qual se busca o sol, nem que seja o da meia-noite, para derreter as glaciais e glidas montanhas de enrijecidas neves. Tratava-se de viver o vero dentro do frio que no esfria nem aquece, nem para mais nem para menos, aquela alma ptrea, insalubre, feito po zimo, sem miolo, prestes a se entregar ao bolor.

    Eu me sentia a essncia do caos. Eu era o caos! Mas... a Bblia sugere que do nada o Pai criou o

    Universo... E criou o homem tambm. A Cincia, na sua viso mais pragmtica, testifica que

    esse mesmo Universo surgiu do caos. Bendito caos! Se do caos surgiu o Universo, to equilibrado, to

    perfeito, certamente minha estrutura catica estaria servindo de base para futuros e organizados universos.

    Este pensamento surgiu como um raio observado por meteorologista ou um cometa na mira do telescpio de hbil cientista: iluminando e ensinando mais do que assustando e fazendo temer. Ele projetou-se no meio do escuro das soturnas trevas daquela noite interminvel, na qual minh'alma mergulhara sem avaliar a profundidade. Um mergulho realizado sem vontade, embora determinado a ir sempre mais ao fundo, sem considerar que precisaria de muito tempo e esforo para emergir depois... E para isso seria necessrio flego... Onde busc-lo?

    Num timo, aquele raio transformou-se num relmpago prolongado e logo mudou sua aparncia para ser um cometa no cu de minha embotada razo.

  • PARA ONDE O CAOS ME LEVOU

    formao esprita. Sendo assim, logicamente me caberia fazer uso da profilaxia e da terapia do passe tambm conhecido como "imposio de mos", "magnetismo animal ou espiritual", "transferncia fludica", "doao e captao de energia sutil" etc. Afinal muitos dizem isso , a depresso problema de ordem obsessiva, ou seja, existe uma influncia espiritual negativa envolvendo a pessoa em depresso e essa influncia, dentre outras coisas, ataca o sistema nervoso e, conseqentemente, leva o obsediado a um desequilbrio mental e emocional.

    Particularmente vejo a influncia obsessiva, notadamente nos casos de depresso, de uma forma um pouco diferente da maioria, mas comentarei isso com mais detalhes em captulo apropriado mais adiante.

    Por ter nascido num lar esprita, desde cedo tive minha ateno voltada para certos fenmenos, especialmente os ligados a curas e milagres termo que eu usava com freqncia at minha adolescncia. Desde os quinze anos de idade me descobri magnetizador. Os passes que eu costumava aplicar eram tidos como muito "fortes" e muitas pessoas que os recebiam se sentiam vivamente revigoradas e renovadas com um nico desses passes.

    Todo mundo capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente.

    William Shakespeare

    muito provvel que os leitores saibam que eu tenho

  • Devo confessar que. pela pouca idade e menor experincia poca, aquilo me deixava um pouco vaidoso, mas tambm me convidava a tentar entender melhor tudo o que ocorria, pois sabia que se eu conseguia realizar coisas meio sem saber o porqu do que fazia, imagina o que eu conseguiria se conhecesse bem e dominasse as tcnicas daquele Magnetismo!?

    Esse instinto de querer saber o porqu das coisas me levou a, desde muito cedo, ocupar cargos de coordenao de estudos e, posteriormente, de direo da Federao Esprita do Rio Grande do Norte, em Natal (RN). Essa "coisa" de indagar e investigar os efeitos dos passes bem como sobre questes ligadas morte e mediunidade relembro minha forte atrao que os temas morte e suicdio sempre exerceram em meus interesses de compreenso posicionava-me, paradoxalmente, mais prximo da condio de orientador, expositor e palestrante do que da de aluno ou ouvinte. Talvez porque os meus pares e orientadores da poca no se dessem muito bem com aprofundamentos ou questionamentos intrigantes. Por conta disso, a cada dia tinha que estudar mais, ler mais, experimentar e pesquisar mais e mais. E como no contava com quem tivesse disposio de estudar comigo, de testar e experimentar aquilo que eu lia e deduzia, tive que viver, com intensidade, a experincia de ser autodidata. Para tanto, desobedeci algumas regras, do tipo: "No se pode conversar com os pacientes", "devemos deixar a Deus a soluo", "no somos nada, pois os Espritos so os nicos que fazem tudo", "no criem 'modismos' nem considerem 'coisas novas' em suas prticas", "no leiam livros esotricos" etc. Nessas "desobedincias" pude estabelecer condies de pesquisas, comparaes, avaliaes e confirmar ou negar dedues, minhas e de outras pessoas e autores.

    De posse de muitos testes e experincias, agora enriquecidos pela prtica sempre aprimorada no esforo dirio, alguns companheiros comearam a acreditai' que o Magnetismo era mais amplo e poderoso do que se supunha. A conseqncia natural desse estado de coisas me levou a estar sempre preparando

  • cursos, treinamentos e reciclagens na rea do Magnetismo, elaborando muitas apostilas e resumos, o que gerava valiosas oportunidades de testar o que aprendia e permutar experincias e pontos de vista.

    Assim foi que criei os primeiros grupos de estudos de aplicao de passes, adaptando as principais regras de magnetismo ao passe esprita que no tem outra base seno o prprio Magnetismo. Aessa altura, eu j tinha bem sabido que as imposies de mos, como tcnicas ditas simples, puras e que deveriam ser nicas numa Casa equilibrada, por si ss no eram to boas e inofensivas como sempre se apregoou. Na outra vertente, os dispersivos j faziam parte de meu vocabulrio com uma naturalidade que incomodava muita gente. Um terceiro fato que no fazia muito sentido era o uso de "correntes magnticas", fato j rechaado por Allan Kardec (1985) logo no incio de O Livro dos Mdiuns (item 62).

    De tantos cursos, treinamentos e seminrios realizados, um dia todo material que eu usava estava resumido numa apostila com aproximadamente 110 pginas o que, convenhamos, muita coisa para ser chamada de apostila , apostila essa que depois transformei em meu primeiro livro sobre o tema: O passe: seu estudo, suas tcnicas, sua prtica editado pela Federao Esprita Brasileira.

    Quando alguns companheiros se deram conta da seriedade dos estudos e pesquisas que eu vinha desenvolvendo, antes mesmo da publicao do livro O Passe, tive "permisso" para estabelecer, de forma oficial, uma pesquisa dentro da prpria FERN. Assim, durante mais de trs anos foram aplicados passes magnticos naquela Casa pela equipe que eu dirigia. Tudo era feito com acompanhamento de fichas, apuradas atravs de entrevistas junto aos pacientes e passistas, com avaliao semanal. Por pouca felicidade, um dia algum achou por bem destruir todo aquele acervo, deixando apenas o que tnhamos, eu e a equipe, gravado no livro das experincias pessoais de cada um.

  • Quando sa da FERN, por ocasio de mudana de diretoria, transferi para o GEAK (Grupo Esprita Allan Kardec de Natal/ RN) o trabalho, ali permanecendo at o ano de 2001, oportunidade em que novamente transferi as pesquisas, dessa vez para o LEAN (Lar Esprita Alvorada NovaPamamirim/RN), onde continuamos at hoje. No LEAN havia como h um grande campo para pesquisas, pois a Instituio lida com idosos carentes e tambm recebe a visita de muitos interessados nos benefcios do magnetismo, alm de contarmos com o apoio irrestrito da diretoria. Nos dias atuais primeiro semestre de 2006 temos uma equipe de aproximadamente 25 companheiros e semanalmente prestamos atendimento a uma mdia de 80 pessoas, entre idosos do LEAN e pacientes externos.

    Fiz toda esta digresso para ilustrar que, pela poca da crise depressiva que vivi, eu no s conhecia o assunto do magnetismo com bastante experincia terica e prtica como tambm contava com a amizade de vrios companheiros, os quais sabiam, com boa base, como aplicar e extrair bons proveitos dos passes. Muitos desses amigos sempre estiveram em atividade conjuntamente comigo. Portanto, alm de se tratar de pessoas prximas e queridas, ainda pesava a favor o fato de eles conhecerem suficientemente bem a teoria e a prtica do magnetismo.

    E foi a que se deu o n. Contando com tantos amigos experientes, seria mais do

    que bvio que, estando eu em depresso, eles viriam me visitar e me facultar os benefcios dos passes como, de fato, aconteceu praticamente todos os dias em que estive acometido desse mal. Quer eu pedisse, quer eu no expressasse nada, eles sempre vieram. Demonstrao viva e pulsante da verdadeira amizade, do esforo para ajudar o amigo em prostrao. Hoje sei. reconheo e agradeo muito por isso, mas, poca, eu no tinha o menor registro da valia daquele esforo, no percebia neles qualquer sinal de amizade seno o de uma piedade que mais me amarguravae abatia do que me estimulava.

  • Eles vinham diariamente, mesmo quando, com cara de poucos amigos, eu deixava entrever que no estava gostando de nada daquilo: nem da visita, muito menos dos passes. No lembro se cheguei a agradecer alguma vez a presena deles que tanto vinham um a um como em grupo ou se expressei verbalmente meu desagrado. S sei que eles no desistiram.

    O bom era que todos eles tinham perfeita convico de que os passes seriam fundamentais para o meu restabelecimento e a superao daquela incmoda e injustificada crise. Mas, a despeito dessa expectativa, apesar de haver amizade, f e trabalho perseverante, algo me torturava mais ainda. Quando eles se iam do quarto, mesmo com tudo sendo iniciado com leituras de profundo valor moral e oraes que criavam um clima de harmonia e paz e, aps os passes, eram feitas preces extremamente envolventes, no era mais uma sensao e sim uma das poucas certezas que eu conseguia registrar com nitidez: nada daquilo havia adiantado para coisa alguma, ou, o que pior, geralmente as sensaes de piora eram inegveis e dolorosas. S no chegava a chorar e nem sei se chorei algumas vezes porque as emoes do depressivo no se expressam to relacionadas e imediatamente, no se extravasam, quase nunca chegam a se materializar.

    Para mim era uma dureza insuportvel constatar que o magnetismo no apenas no resolvia como ainda piorava meu estado.

    Lembro-me, hoje, que um conflito enorme parecia reger meu mundo ntimo, todavia no conseguia identificar a razo. Depois de passada a crise depressiva, rapidamente me dei conta do que me perturbava tanto. No era o fato dos passes no me ajudarem, pois, como ocorre grande maioria dos depressivos, eu j me havia condenado a no mais sair daquilo. A grande perturbao estava fundada na falta de eficincia dos passes para ajudar pessoas em depresso. Como era que eu iria dizer, depois, que o passe ajuda a resolver a depresso se em mim no

  • funcionava e at piorava meu estado? E o que eu diria aos companheiros que, tendo estudado e aprendido comigo, seus passes no serviam para pessoas metidas numa depresso da dimenso da que eu me encontrava? Seria possvel eu dizer que o que eles tinham aprendido sobre passes no se aplicava no auxlio depresso e, em contrapartida, no tinha qualquer sugesto de como funcionava ou mesmo se haveria algum meio que viesse a favorecer superao daquele tipo de problema? Ser que aplicar passes seria no se saber aplic-los? De que jeito eu iria dizer que a f fundamental se ali a f no funcionava, ou por outra, a f no conseguia adentrar na mente nem no corao de quem est deprimido? Haveria soluo para aquilo ou aquilo no serviria nunca como soluo para problema de tal envergadura? Por fim, trazendo toda a responsabilidade para os meus ombros, seria eu o mais empedernido exemplar dos portadores de depresso, devidamente "castigado" pela "ira do Senhor" e que, por isso mesmo, no tinha como ser ajudado nem vir a ajudar mais ningum?

    Depois que sa da depresso no me restavam muitas opes a respeito dessas inquietaes. S vislumbrei trs. Uma: no falaria nada e deixaria tudo no silncio, desconversando se algum viesse tratar do assunto; outra: assumiria, baseado no que vivera, que o magnetismo no est indicado para casos de depresso: e a outra: partiria para descobrir as razes dos passes no terem funcionado comigo e, entendendo melhor todos os aspectos configurados na depresso, detectar qual ou quais caminhos e tcnicas seriam corretas para serem aplicadas nesses casos.

    Do fato de voc estar lendo este livro fica fcil deduzir que minha deciso foi exatamente essa terceira. Foi para ela que o caos da depresso me levou. Mas depois voltarei a este assunto, pois ainda tenho coisas para relatar acontecidas at que eu tivesse chegado a esse ponto.

  • O FIM DE "MINHA" DEPRESSO

    porque embora ela tenha se demorado em mim por um perodo intensamente complicado, mas suficiente para poder consider-la como ntima, ela no tem nada meu, no tenho nada dela nem ela tem nada comigo, salvo pelo que aprendi com sua (dificlima) convivncia. Mas...

    Constatado que muitas vezes os passes me faziam sentir muito pior, tentei evitar receb-los, todavia era impossvel, pois os amigos agiam na certeza de que, no mago de toda boa vontade que os movia, aquilo era o melhor remdio com o qual poderiam me beneficiar e com a ajuda do qual eu poderia superar, vencer, sobreviver. E assim os passes se repetiam, diariamente, inclusive, em vrias ocasies, mais de uma vez por dia. Alm disso, ainda tinha a fluidificao da gua, tomada religiosamente cinco vezes por dia. Entretanto, quando a ingeria, devo confessar, vrias vezes tive nsias de vmito.

    Outra coisa muito desconfortvel de ser enfrentada, creiam-me. era inimaginvel: os olhares daqueles amigos me pareciam terrveis, percucientes demais, sdicamente perfurantes em direo ao fundo de minha alma a qual. mais do que nunca, eu a queria

    Crede-me, resisti com energia a essas impresses que vos enfraquecem a vontade.

    Franois de Genve, no Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. V

    omeo chamando-a de "minha", devidamente aspeado,

  • indevassvel. Vinham sempre transbordando piedade e anseios positivos, desarticiilando-me ainda mais, pois no era assim que eu os sentia. O fato de eles terem pena de mim levava a me acreditar mais e mais depauperado e incapaz, e a nsia, do tipo "no possvel que Jacob tenha se deixado abater tanto e no faa nada para reagir", torturava-me sobremaneira, j que, no fundo, tudo o que eu mais queria era ter foras para reagir, para lutar, para vencer, mas minha luta tinha por cenrio um terreno de areia movedia, um pntano faminto de cadveres, pois quanto mais esforo eu desenvolvia para sair daquele monstro que, dentro de mim, devorava minhas entranhas e minha vontade, mais eu me afundava naquele monturo, mais a ele eu me entregava, mais eu me perdia. Inenarrvel. No h sinnimos que eu conhea que possam descrever, com mais detalhes e preciso, tanta crueza.

    Os amigos eram por mim olhados, a princpio, como tais, mas o instvel e indefinvel mundo ntimo fazia-me perceb-los e receb-los como se fossem inimigos cruis, sdicos, desalmados. Essa era mais uma das terrveis.faces da depresso que eu vivia.

    Um dia, aps receber os passes, tomei uma deciso: vou me internar, no fico mais em casa!

    Quero ir para o hospital! repeti isso vrias vezes para mim mesmo a fim de ganhar foras e poder verbalizar tal deciso com clareza.

    Acho que pensei nisso por um ou dois dias at que consegui gritar... E gritei... E pedi... E implorei...

    No dia anterior havia acabado o "estoque" de Prozac. Assim, convenci-me a procurar o mdico e, junto a ele, eu pediria para ser internado.

    Meu estado fsico e emocional guardavam a aparncia de um prisioneiro de guerra. Vencido, alquebrado, sem nimo ou foras, sem lucidez sequer para entender o que se passava.

    Enquanto seguia para o consultrio, esforava-me para no esquecer do motivo que para l me levava. No podia esquecer de dizer que a nica coisa que eu queria era ficar

  • hospitalizado, seno, eu pensava, terminaria vencido, terminaria morrendo, pois a vida j no encontrava albergue em minha alma.

    No lembro do olhar do mdico nem de quem me acompanhava, mas repetem-se at hoje em minha mente estas palavras: "Nada de se internar! Compre mais uma caixa de Prozac e continue. Uma hora dessas ele far efeito".

    Aquilo era para mim como uma sentena de morte. Devo ter ficado pattico, pois chorei e tentei convencer

    o mdico de que era imprescindvel eu ficar internado, mas creio que, naquelas condies, eu jamais conseguiria fazer com que qualquer pessoa pusesse crdito em minhas palavras. Alis, a reside outro grande problema do depressivo: o de no conseguir verbalizar muitas idias nem muito menos convencer a quem quer que seja, do que quer que seja; e, se conseguir, ser sempre sob o guante de inauditos esforos e numa espcie de troca de pedido de um miservel por uma resposta como mera compaixo. Esses esforos so to desgastantes que as palavras e expresses terminam perdendo sentido, nfase e eco. Quando em depresso profunda, no conseguimos falar o que precisamos nem dizer baixinho o que pretendemos gritar. Nossa revolta no passa de um sussurro e nossos desejos no se traduzem alm de um quase imperceptvel movimento da cabea ou dos olhos. o inexprimvel querendo dizer o intraduzvel, como quem com um gesto no ar quer definir as cores para um cego. o absurdo.

    No voltei para casa: trouxeram-me! No, no redundante isso. Eu simplesmente parecia estar no cano. meu coipo desceu em casa, novamente me via naquele quarto, no havia o eixo espao-tempo em que eu me encontrasse. No sabia, mas vivi, naqueles momentos que intermediaram as palavras "condenatrias" do mdico at o instante em que eu abri a caixa de Prozac e da carteia extra uma plula, a alucinante experincia de vagar pelo indefinido, rumo ao desconhecido, destino no-passado. no-presente, no-futuro. rumo no ao nada c sim ao lugar chamado no-existir. Mais do que nunca me senti entregue e, ao mesmo tempo, sendo entregue

  • aos braos da Dama do Inexistir melhor denominao que consegui compor para essa doena, a depresso.

    Todas as vezes que a noite parece no mais acabar, um sorrateiro raio de luz num horizonte longnquo se faz presente, prenunciando uma alvorada proftica dizendo que um novo dia est raiando.

    Ocorreu, ento, esse raio de luz, um verdadeiro instante "mgico", quando ento senti uma fora nova, uma coragem superlativa da qual eu no conseguia adivinhar-lhe o nome.

    Relmpago! Cometa! Caos! Flashes! Raios! Luz! Luzes! Ao!

    Pensei tratar-se de f, mas. pensando bem, esta eu nunca deixei de t-la. Pode at ser que nos dias em que estive mais distante da vida eu no tenha conseguido articular produtivamente a minha f, mas no creio que a tenha abandonado ou mesmo duvidado de sua existncia em mim. Sei que houve momentos em que descri de minha capacidade de suportar ou de resolver o problema cm que estava metido. Noutros cheguei a pensar que o nada era o manobrador dos destinos ou ento nada do que eu aprendera estaria correto. Mas sabia que aquilo que tanto me embaralhava no era nem podia ser to forte a ponto de me roubar esse sentido. Sobretudo, a f prevalecera.

    O que seria ento aquilo que eu sentia? Seria a chamada "mo de Deus"? Talvez fosse, mas esse nome no soava bem. j que a mim ele me passa a idia de que se tem horas que existe essa mo, horas outras ela desaparece, como se ficssemos, de tempos em tempos, no pior sentido da expresso, "ao deus dar". Fato que at hoje no me acostumo com essa forma que muitos querem dar a Deus. que a de um Deus tinhoso, cheio de "hora disso, hora daquilo, hora daquilo outro". Sei sim do Deus que perfeioe que. nessa perfeio, criou tudo, inclusive cdigos e lei naturais, atravs das quais Ele se manifesta.

    Lembrando da cano de Gonzaguinha, fiquei com a frase na cabea: "E a pergunta roda"... E rodava mesmo, pois eu queria

  • saber que sensao de certeza era aquela que eu tinha absorvido de forma to intensa e integral naquele momento.

    Por fim, descobri: era a esperana. E eu, que j tinha falado algumas vezes sobre ela em minhas

    palestras, s agora descobria, verdadeiramente, o que esperana. Inclusive, por se tratar de assunto extremamente relevante na estrutura da busca de sadas para a depresso, deixarei para escrever adiante um captulo exclusivo sobre ela, onde procurarei transmitir a fora que tive ao alberg-la, bem como algumas coisas significativas sobre esse tema to pouco comentado.

    Retomando a narrativa do ponto em que eu me debatia contra a insistncia do mdico por to somente me medicar, posso garantir que quando se vai a esse ponto, ou acorda-se ou enlouquece-se. Graas a Deus a loucura foi derrotada; acordei! Acordei e j fui comeando a tomar decises e a falar.

    O caos iria criar novamente o Universo... Ou um universo novo brotaria do caos, do catico que habitava em minhas entranhas, do inimaginvel. Do fundo do poo se extrairia a vida, a gua da vida. Afinal, de tanta luta, dor e sofrimento eu conseguira cavar o poo.

    J tinha em mos o comprimido de Prozac, pronto para ingeri-lo. Em vez de engoli-lo, fiquei olhando fixamente para ele, como quem queria descobrir-lhe os ouvidos, e lhe falei, alto e bom som:

    Voc no vai resolver meu problema, portanto, no preciso de voc!

    No. No pensem que foi insanidade, pois nunca tinha estado to so, to lcido, to decidido. Conversei mesmo com o remdio. E falei com total convico. Ele era o primeiro que eu venceria, pois, acordado, decidira, com aquela fora, chamada esperana, da qual eu jamais me imaginei possuidor, que sairia daquela crise sem fim, que havia chegado a hora de seu fim.

    Fao uma ressalva importante: embora tenha funcionado comigo, no aconselho a quem esteja fazendo uso de medicamentos contra a depresso a simplesmente ignor-los ou "falarem" com

  • eles na espera de que tudo se resolva. Perceba que o remdio que eu tomava no vinha fazendo qualquer efeito em mim nem aliviando a crise em nada e que, na ocasio em que o ingeria, eu tambm no tinha disposio para enfrentar o que viria, o que se configurava totalmente diferente quando tomei essa deciso.

    Ento, joguei o comprimido no lixo e bebi a gua. Procurei, conscientemente, descobrir o sabor da gua e ali mergulhei em reflexes as quais, no sei como, levaram-me mais cristalina certeza, uma invulgar esperana, lcida viso da vitria, da luz.

    No sei se com raiva ou por puro mecanismo amassei a caixa de Prozac e arremessei-a para longe. Nem pensei que estava jogando fora algo que certamente seria til para uma infinidade de pessoas. S sei que naquela hora aquele medicamento simbolizava priso, no mximo meia-liberdade, dependncia visceral, desnimo perene. E era disso que eu fugia e fugiria para sempre. Era isso o que eu estava jogando para longe, para onde seria impossvel regressar.

    Chorando lgrimas de dentro da alma, orando do fundo do esprito, tremendo com todo o mecanismo que um sistema nervoso saturado pode tremer, chamei por Deus, clamei por Ele e comecei louvando-O:

    Oh Senhor! Quanta glria h em Ti! E eu, como um cego enlouquecido, tateava pelos infernos dos desesperados, esquecendo-me de que Tu s a Luz que me deu vida! Como Te sado. Senhor, pois contigo retornarei Vida.

    E orei, orei, orei... E chorei, sorri, dormi, acordei... E orei, orei, orei...

    Tive fome e comi. No foi fcil, porm. No incio regurgitava, queria

    vomitar, tinha azias violentas, mas no deixava sair. Sempre engolia um pouco mais e mais um pouco, at readaptar o organismo a ingerir alimentos.

    E bebi gua. Tambm houve dificuldades para isso, mas no desisti.

    Insisti, repeti, bebi aos poucos, mas bebi.

  • gua! Que bno! Fui para a sala e ali sentei-me. No incio senti-me

    incomodado, mas no poderia deixar que aquilo, agora, fosse mais poderoso do que eu mesmo. Assim fiquei, assisti um pouco de televiso, fechei os olhos por algumas vezes, mas sempre voltava a abri-los, encarando o mundo da tela de forma decidida, como quem veste as armaduras para ir ao combate final, pois muito em breve eu teria que encarar o mundo real. Assistir televiso, portanto, era um desafio muito grande, era uma verdadeira preparao para as lutas certamente vitoriosas que se avizinhavam.

    Depois fui me deitar. Disse para mim mesmo que s me levantaria da cama depois que conseguisse dormir de verdade, sem medicamentos, sem qualquer tipo de mimo, simplesmente dormiria, pois precisava dominar-me e dominar meu corpo. Algum veio me chamar antes mesmo que eu tivesse dormido o tanto que me satisfizesse e eu, agora com firmeza, pedi que voltasse depois, pois eu estava tentando dormir. Essa foi uma vitria espetacular: falei, recusei, argumentei, deitei, dormi e acordei quando achei que tinha feito o que me prometera.

    Naquele dia, os passes dos amigos no me fizeram mal nem a gua fluidificada provocou enjos. E, o melhor, os amigos me abraaram, felizes pelo que viam e eu me felicitava com o brilho de seus olhares.

    Desajeitadamente brinquei com os meus filhos menores, mas, devido ao longo perodo acamado, logo cansei e fui me deitar dessa vez apenas para recobrar energias, pois me sentia muito fraco fisicamente. Gostaria de ter conversado mais, brincado mais, assistido mais tv, mas temi pelas conseqncias dos excessos. Preferi tentar relaxar e, quem sabe, at dormir mais um pouco, afinal, aquele era mais um problema a ser conquistado plenamente: ter prazer em deitare dormir.

    Claro! Mas claro que fiz mais uma prece, mais uma louvao, convereei mais uma vez com o Pai Celestial, agora tambm

  • agradecendo e pedindo. Agradeci pela vida, pela fora, pelas lies, embora nem to bem aprendidas, e pedi para que aquela fora continuasse em mim, pois aproveitaria melhor a vida. Mesmo sem perceber profundamente, j reconhecia que vivera a maior de todas as lies de minha vida.

    Dormi como uma criana bem acomodada, devidamente amamentada, sem sentir frio ou calor.

    Acordei ainda deprimido, mas no desanimei: aquela era a minha batalha final, aquele era o momento da vitria.

    Vivi mais um dia de difceis conquistas, pequenas, milimtricas, porm todas eram saborosas, todas infundiam em minha alma um prazer diferente, real, eloqente.

    Ao anoitecer, j me via subindo ao podium. E finalmente, no dia seguinte, acordei no depressivo, no

    doente, ressurgi para a vida so e salvo, sem qualquer resqucio danoso de todo o tormentoso perodo do qual acabara de sair ileso.

  • O GENRICO DA DEPRESSO

    e apontada como o mal do milnio particularmente, sou da idia de que se no forem tomadas providncias srias, mais amplas e tambm mais acessveis , esta segunda hiptese ser, lamentavelmente, a mais correta. Entretanto, a depresso, como doena, no nova. H quem sustente que Ado foi o primeiro depressivo da histria; mesmo considerando a semitica na qual ele est inserido, de se concordar que o pedido de uma companheira ao Senhor j traduzia uma busca de sada para aquela vida de angstia, de infrutfera solido, alm de outros fatores, que determinaram sua melancolia e inevitvel depresso: a perda daquele paraso, com todos os seus mans e suas posses sem fim, de onde foi expulso e condenado a trabalhar (depois dessa perda, deixou de ver as belezas do den e que, apesar disso, nunca deixaram de estar ao seu redor) e a luta fratricida entre Caim e Abel, que no s lhe arrebatou um filho ainda jovem como transformou o outro no primeiro assassino da histria (dores insuportveis para quaisquer pais de qualquer tempo).

    No de estranhar, pois, que a descendncia desse "exemplar primitivo" tenha surgido "contaminada", ainda que geneticamente, desses fatores predisponentes a melancolias, angstias, depresses.

    ... imperioso arredar de ns o hbito da tristeza destrutiva, como quem guerreia o culto do entorpecente.

    Emmanuel, por Chico Xavier, n ' 0 Livro da Esperana

    ara uns, a depresso o mal do sculo, para outros j

  • No Ocidente. Hipcrates (460 a.C. - 377 a.C), o "pai da Medicina", j apontava a depresso, poca chamada de melancolia, como uma doena do crebro afetado pela ao da bile negra, supostamente produzida no bao , para a qual, alm de sangrias e vmitos provocados, remdios orais deveriam ser receitados. Na Idade Mdia (do sculo V ao XV d.C), a depresso passou a ser vista como uma punio divina, uma espcie de excomunho do Reino Celestial, o que atribuiu doena um estigma to pesado que at os dias atuais ainda se reflete, no imaginrio de muita gente, como punio nefasta, verdadeira ao demonaca. Durante o Renascimento (do sculo XV ao XVI) ocorreu o romantismo da depresso, baseado na observao da apatia denotada por grande nmero dos altistas bem como pelo transparecer de um certo gnio melanclico em suas expresses e artes. A partir do sculo seguinte (XVII) a Cincia comeou a investigar as funes do crebro e a elaborar estratgias biolgicas e sociais para controlar ou melhor administrar as mentes que saam do controle. Entrementes, as sangrias seguiam ceifando vidas e as terapias no-oficiais eram as que melhores resultados apresentavam. Porm foi na era Moderna, a partir do sculo XX, que o estudo da psique, profundamente modificado pelas idias psicanalticas de SigmundFreud, deu novo impulso anlise do que estaria por trs da depresso.

    Nesse breve retrospecto deixei de fora o que o Magnetismo e o vitalismo em geral trouxeram como valiosa contribuio para a compreenso e viso mais consentnea dessa problemtica da sade do corpo e da mente, a qual poderia ter sido utilizada como propulsora das graves mudanas pelas quais um dia a Medicina e a humanidade ainda passaro. Igualmente ficou de fora o ainda pouco conhecido e muito desvirtuado Espiritismo de Allan Kardec, cujos benefcios um dia sero incorporados no rol das maiores bnos que Deus j concedeu ao homem. Certamente, ao longo deste livro por vrias vezes trataremos desses assuntos aparteados, porm nunca menosprezados ou despercebidos.

  • A palavra depresso s surgiu, em termos ingleses, em 1660. Ainda assim, foi em meados do sculo XIX que entrou definitivamente para o uso comum, to comum que hoje qualquer tristeza, cansao ou fadiga faz com que pessoas logo se apressem em se autodiagnosticarem como "em depresso". Certamente quem assim procede no tem a menor idia do que est falando. E, como querem os supersticiosos, "se falar no danado o capeta aparece", o melhor saber mesmo o que depresso e evitar ficar atraindo-a como quem brinca com fogo. Mas... Ser to fcil saber quem est ou no em estado de depresso?

    Como dizem Bullone GJ, Ortolani IV, Pereira Neto, E, seria muito simples e cmodo se a depresso fosse caracterizada, exclusivamente, por um rebaixamento do humor com manifestao de tristeza, choro, abatimento moral, desinteresse, e tudo aquilo que todos sabemos que uma pessoa deprimida apresenta. Na verdade, trata-se de um problema de amplitude e magnitude complexas, com variveis muito intricadas e de relacionamento nem sempre to visveis. Por exemplo, eu vivi uma depresso profunda, grave e passvel de ser classificada sob diversas formas, mas de catalogao real imprecisa. Tanto verdade que, ouvindo muita gente, mdicos inclusive, e lendo vrias obras sobre o assunto, no foi possvel, com preciso, dizer sequer o que de fato, tecnicamente falando, disparou a depresso em mim. Alegam uns que foi a perda de peso; outros asseguram que a dengue exerceu um papel muito forte; h quem garanta que problemas emocionais certamente me afligiam; amigos espritas querem assegurar a hiptese da obsesso; do fato de meu pai ter desencarnado um ano e pouco antes aferem que essa perda foi fundamental... Eu, por minha vez, acredito que tudo isso pode ter contribudo, mas minha maior certeza pende para o lado de que, de certa forma, o que me aconteceu foi uma resposta de Papai do Cu minha orao. E no pensem que eu seja uma pessoa crdula ao extremo e que no analise a vida com critrios prximos ao ceticismo. Essa maneira de ver esta

  • questo tem muito a ver com a conscincia que opera em minha mente apontando a necessidade de ter vivido tal experincia para me sentir melhor credenciado a estudar e discutir o tema. Todavia... Este item depresso por atendimento a pedido em orao no est na relao dos indutores ou desencadeadores clssicos da depresso. Como us-lo, pois, na diagnose desse caso?!

    Comparando com o que eu vivi, outras pessoas, para chegarem to ao fundo do poo como eu fui, precisam passar por situaes emocionais ou fisiolgicas muito srias e graves, enquanto outras, sofrendo muito menos, vo muito alm de onde eu fui e ainda se demoram por l uma vida inteira. Pessoas perdem membros e parentes num acidente e se transformam em exemplos de superao, fora e coragem para uma sociedade, enquanto isso, outras, por terem seu carro arranhado por uma pessoa maldosa, prostram-se de tal jeito que terminam entregando suas vidas aos braos da Duma do Inexistir. Existem depressivos expressando, no dia-a-dia, alegria e demonstrando estarem de bem com a vida, surpreendendo a todos quando vm a saber de seus diagnsticos ou de uma atitude desesperada por eles perpetradas; tem os que ensimesmam-se de tal forma que parecem retrocederem s formas fetais, regredindo na vida de tal modo que nada parece faz-los despertar sequer para suas funes bsicas; outros surtam de tempos em tempos, passando longos perodos praticamente "normais", para, logo a seguir, carem em estados completamente insuportveis; no faltam os que se enquadram em vrios tipos de depresso de uma s vez; e contam-se aos montes os que se dizem e se sentem depressivos quando no passam de pessoas momentaneamente estressadas ou circunstancialmente tostes, saudosas ou melanclicas.

    O que a cincia mdica afirma, de forma quase unnime, que a explicao mais provvel para a causa bsica da depresso o desequilbrio bioqumico dos neurnios, os quais so responsveis pelo controle do estado de humor do ser humano. A seu favor ela alega que a ao dos medicamentos destinados a

  • essa rea do crebro os antidepressivos muito eficaz. Mas... e esse "mas..." longo demais para ser desprezado a mesma cincia mdica afirma que no esto dispensadas as conversaes estimulantes, os tratamentos atravs da palavra psicologia e at mesmo as oraes, alm das tentativas de fazer despertar, no depressivo, o desejo de superar as dificuldades porque passa esperana, porque essas prticas "no convencionais" tambm corroboram, e muito, para a recuperao do deprimido. Isso tudo hoje muito afirmado por eles, ainda que termine por abalar um pouco o materialismo mecanicista e reducionista de seus pares. Portanto, digamos assim, esses "padres menos objetivos" de ao no se somam com a teoria da plena ao dos antidepressivos. Verdadeiramente, h muito mais coisas por trs desses "neurnios amalucados" do que um simples embotamento bioqumico ocorrido por pura insanidade dos neurnios. E aqui vale uma pequena discusso. Se dilogos e oraes podem e exercem grande influncia na terapia geral dos depressivos e estes conseguem modificar o comportamento neural que, inadequadamente, est alterando o humor do paciente, fica evidente que h outros "canais" de ao sobre os neurnios, o que nos permite visualizarmos a possibilidade de que a "causa primordial" pode ser uma outra, onde a estrutura dos neurnios ou das reaes bioqumicas ali constatadas em alterao nada mais estariam fazendo do que responderem ao dessa outra causa.

    Por outro lado, qualquer pessoa que analise uma depresso ou leia um livro ou artigo srio sobre o assunto, logo perceber que as causas desencadeantes no so as mesmas para todas as pessoas. Como j disse acima, perdas tanto podem ser classificadas como fatores estressores, que desencadearo depresso em alguns pacientes como. em outros, apesar do luto, da dor e dos embaraos circunstanciais, a fase dolorosa rapidamente passar e elas continuaro a vida sem crises ou quedas mais graves por causa dessas perdas. De igual forma, algumas doenas deprimem uns, mas tambm fazem descobrir potenciais de renovao de vida em

  • muitos. Na verdade, de sofrimentos todos tm suas cotas. S no d para comparar o que representa determinado sofrimento para uma pessoa e outra. Cada criatura reage de forma muito pessoal, inclusive na questo da depresso. Pessoas religiosas entram em depresso assim como ateus, descrentes e zombadores. Criaturas que vivem malhando se deprimem tal como acontece com gente que nunca faz qualquer esforo fsico. Portanto, se quisermos buscar uma causa bsica, nossa amostragem dever ser muito ampla e certamente passar por fatores nem sempre considerados pelos estatsticos de planto.

    J se fala hoje que a causa da depresso de origem bio-psico-social. Bem se v que estamos chegando perto, contudo ainda faltam a dois fatores essenciais: um de estrutura energtico-vital, que chamo de fludico ou mesmo magntico, e o mais essencial de todos, o espiritual. E ser buscando integr-los nesse contexto que iremos investig-los, tentar decifr-los, entend-los e procurar desvendar se neles esto os mais determinantes caminhos que levam depresso.

    Num rpido exame, contemporaneamente classifica-se a depresso, segundo sua origem, em pelo menos trs grandes grupos de causas: as causas biolgicas, as psicocomportamentais e as religiosas.

    Nas causas biolgicas so apresentadas as depresses decorrentes de aes genticas, onde a hereditariedade teria um valor muito bem pronunciado em muitos casos. Aqui tambm so apontados os fatores bioqumicos, desde as influncias hormonais do prprio organismo portanto no provocadas , ao de glndulas como a pituitria e a tireide, o metabolismo do sdio e do potssio no crebro, a sntese da catecolamina no crebro (dopamina, norepinefrina, epmefrina etc), indolamina (serotonina, melatoninaetc.) ou mesmo problemas com a diminuio de aminas biognicas, at as conseqncias de distrbios provocados por uso de drogas, m alimentao, intoxicaes, algumas infeces virais ou bacteriolgicas, dores ou

  • inflamaes grandiosas, choques e traumatismos, intervenes cirrgicas, e outras variantes.

    Dentro das causas psicocomportamentais, no mbito das trs grandes matrias do psiquismo humano, a Psicologia, a Psiquiatria e a Psicanlise, temos que as neuroses so verdadeiras catalisadoras para futuras depresses. Aliados ou paralelamente a isso, temos ainda: a dificuldade em lidar com as perdas amorosas, familiares, de empregos, cargos, funes ou mesmo de oportunidades , a "guarda" muito baixa no campo da auto-estima, a forma negativa como absorve a realidade da vida muitas vezes dentro de fenmenos comuns, repetitivos e tremendamente naturais para a grande maioria da populao , a autopunio, o excesso de perfeccionismo, o viver intensamente o papel de vtima, manter o pensamento e as idias sempre desfocadas de uma postura positiva e eficaz... Tudo isso pode levar uma pessoa a severas crises de depresso.

    Alguns estudos tm apontado em torno de 66% o nmero de pacientes com infarto do miocrdio que sofrem algum transtorno emocional, principalmente de depresso ou ansiedade (U.S. Department of Health ande Humam Services, 1998). Adepresso maior esteve presente em aproximadamente 20% dos pacientes que tiveram infarto do miocrdio e a forma menor foi um pouco mais presente (27%). Em contraste, na populao geral, a incidncia de depresso maior e menor, tem sido de 3% e 5%, respectivamente. Mais alarmante ainda a ocorrncia de depresso ps-ponte coronria (ou outra cirurgia de revascularizao), chegando a cifras assustadoras de 68% dos pacientes (Petersom, 1996). Adepresso nesse grupo de pacientes reduz as possibilidades de uma retomada das atividades ocupacionais ou sociais, e mais grave ainda, aumenta o risco de futuros eventos cardacos com maior mortalidade, tais como o re-infarto e a morte sbita. O pior prognstico da doena coronariana tem sido associado tanto fonna "clnica" como "sub clnica" da depresso.

    Segundo Jackson-Triche, Kenneth B. Wells e Katherine Minnium (2003), a Depresso Clnica pode afetar: sono. apetite.

  • pensamento, capacidade de trabalhar, esperana, divertimento, sexo. relacionamento com familiares e amigos, nvel de energia e desejo de viver. Mas como saber quem est com depresso clnica? Simples: se tiver vrios desses campos afetados, mas se sentir melhor quando as coisas melhoram, pode ser no clnica, mas se as coisas melhorarem e a pessoa continuar indiferente, ento clnica.

    Analisando as doenas e suas relaes com a depresso, chamou-me ateno o que esse trio anotou: "O risco tambm aumenta nos pacientes com cncer. Em alguns casos, como no cncer de pncreas, a depresso clnica acontece antes de outros sinais da doena" (grifei). Em seguida, relacionaram as doenas clnicas que podem aumentar o risco da depresso, alm do cncer: Mal de Parkinson, Esclerose mltipla, Demncia, Ferimentos na cabea, Doenas da tireide, Diabete, Doenas do fgado, Tuberculose, Sfilis, AIDS e Hipertenso.

    Uma outra colocao interessante que eles fizeram foi que "um dos sintomas mais problemticos e assustadores a desesperana".

    No terceiro grupo, as causas religiosas so assim classificadas quando se consideram as influncias sutis externas ao indivduo. A grande maioria est dividida em: punio Divina (seja Deus, Al, Jeov...), influncia demonaca (ao de Satans e seus embaixadores) e, no caso esprita, por efeito das obsesses (sobre este item irei conversar mais ao final do livro). Mas ainda existem outras variantes: desarmonias energticas, desequilbrio ou desorientao da kundalini, obstruo dos canais de vida, campos fludicos sem filtragens etc. Sobre alguns destes ltimos, ainda farei algumas abordagens ao longo do livro.

  • PERISPRITO E CAMPO FLUDICO

    raciocine com um mnimo de abertura mental rapidamente concluir que entre a volatilidade do Esprito e a inrcia do coipo h de haver um campo sinrgico que intermedeie e permeie esses dois mundos de freqncias e densidades to dspares. Em termos de Espiritismo, esse campo j tem nome e atribuies prprias; chama-se perisprito. Ele o elemento que traz, em uma de suas vertentes, a sutileza em seu mais alto grau, por isso mesmo convergindo para o Esprito, e, na outra extremidade, ergue-se num consistente padro de adensamento, o qual necessrio confluncia com o corpo fsico.

    Multipotencializado, esse campo fludico exerce influncia marcantemente positi va tanto sobre a essncia espiritual como sobre o organismo. Isto se d mesmo antes do nascimento fsico, posto que, de certa forma, preside-o e prolonga-se vida afora, rumo ao perene progresso. A positividade da influncia se deve ao sempre inegvel de sua estrutura de foras, agindo e interagindo com os sistemas ascendentes e descendentes das zonas ou campos a que se interliga.

    J houve tempo em que. considerando-se a pouca percepo fsica dessa estrutura monumental que o perisprito, se

    O perisprito representa importantssimo papel no organismo e numa multido de afeces, que se ligam a fisiologia,

    assim como psicologia. Allan Kardec, in A Gnese

    ndependente de religio ou crena, qualquer pessoa que

  • dizia que algo to sutil e de registro quase sempre impreciso e isso se d, obviamente, pela nossa pouca evoluo na direo da deteco desses campos energticos vitalistas e ainda considerados muito sutis no teria, em si mesmo, condies de interferir e marcar os campos sob sua influncia, notadamente o campo fsico. Mas as demonstraes da Psicologia, da Psicossomtica e mesmo de reflexes elementares sobre coisas que no vemos e que nos marcam de fornia indelvel deixaram patente que o argumento do "no ser visvel" ou mesmo "no ser mensurvel" insustentvel para negar esse arrazoado de lgica e equilbrio que a prpria cincia evidencia mais e mais a cada dia.

    Dissecando um pouco esse campo denominado perisprito, fcil ser concluirmos que ele composto de elementos to sutis quanto nossa imaginao sequer concebe, bem como de outros to densos que chegariam a se confundir com a prpria matria orgnica. Todo esse campo difuso de "energia" recebe, de uma forma bastante reduzida, o conceito de fluido. E esse fluido no outro seno o elemento primordial de toda a estrutura material, desde sua sutileza mais difana e etrea at sua densidade mais condensada e bruta.

    Como se no bastassem nossos raciocnios lgicos e at mesmo as observaes superficiais que qualquer um pode fazer acerca da possibilidade das interferncias entre reinos sutis e densos, os Maiores da Codificao j nos ensinaram que a "matria" do perisprito a mesma dos fluidos magnticos magnetismo, portanto.

    Unindo essas rpidas reflexes acerca da excelncia do perisprito em nossas vidas, rapidamente chegaremos s concluses que nos levaro ao entendimento acerca de como podem as aes magnticas, assim como as mentais, repercutirem positivamente nos nossos corpo e esprito.

    Para dar uma idia geral da ao do perisprito na estrutura do coipo orgnico, basta que observemos o fenmeno da gestao de uma criana. Com os avanos atuais, j existem vdeos reais

  • que mostram, com total riqueza de detalhes, o desenvolvimento do embrio, do feto, do beb. E o que mais impressiona a sabedoria aparentemente catica com que tudo se desenvolve. Pela cissiparidade, o ovo fecundado pelo espermatozide reparte-se em dois, proporcionalmente iguais em tamanho e potncia, para depois esses dois, numa escala geomtrica, se repartirem igualmente, e assim sucessivamente, irem se multiplicando. Ento observado que, a princpio, nada faz sentido, nenhum direcionamento parece existir, at que, a partir de determinado momento, como se todos os elementos celulares comeassem a receber "ordens" e comandos especficos para se dirigirem para tais ou quais partes do embrio, numa seqncia de ordem e preciso de difcil elaborao puramente humana. Bem se v que h, por trs disso tudo, um grande campo energtico dirigindo, direcionando, administrando todo o processo, um verdadeiro "field of life" (campo de vida).

    Quando hoje se estuda aspectos da clonagem bem como das clulas tronco, percebe-se que j est bastante "visvel" a presena, em tudo que vida, de uma "idia diretora" a qual, por assim dizer, administra a intimidade do processo reprodutivo. Por excessos de uma cincia ainda demasiadamente materialista, aplica-se, com regular convico, o conceito de que a prpria matria quem administra a matria e, portanto, as hlices do DNA seriam as responsveis por todo o processo de reproduo e gerenciamento da vida orgnica. S que tal argumentao arremete-nos, mais uma vez, questo bsica: como se justifica que o DNA de uma pessoa "morta" no tenha mais nenhum poder em si mesmo? Por que o DNA de um "morto" s volta a exercer ao se for inserido num ser "vivo"? Fato que a vida no pertence matria em si e sim "sutileza" que os materialistas se demoram por referendar. D at para desconfiar acerca dos reais motivos qe tm certos cientistas para insistirem negando sobre a realidade do Esprito, da alma e da Criao!

    Aproveitando esse parntese devo dizer que fico impressionado querendo saber de onde vem tanta teimosia de

  • um ser que, tendo estudado e aprendido tanta coisa, como um cientista ou um filsofo aplicados, ainda resista em afirmar a possibilidade da existncia do esprito, quando ele mesmo sabe que as aes e reaes psicolgicas que vive e sente no podem proceder de simples e mecnicos arranjos e desarranjos celulares, neurais ou o que seja de meramente fsico. Com as modernas argumentaes da fsica, onde a matria cada vez mais "desaparece", dando lugar ao quase invisvel, impalpvel e inimaginvel, e sendo esses "estados" e essas "no-matrias" os responsveis pelo que vemos, sentimos e percebemos de material, como podem essas mesmas criaturas no perceberem que a sutileza da alma, do Esprito, a responsvel pela excelncia de seres que somos?! Deveras, fico abismado como podemos, enquanto seres humanos, no "querermos ver" a realidade espiritual! Seria o vocbulo esprito o que os assusta e, envergonhados de reconhecerem essa "bizarrice", tmidos de se descobrirem imortais, acham-se mais nobres e vivos quando simplesmente se determinam como mortais, sem origem e sem finalidade til para o tempo que se segue ao findar do funcionamento celular? Julgariam eles uma pessoa, doando-lhe ctedra de genialidade, como sendo uma criatura perfeita cm seus anseios e realizaes se elas, como gratido aos mestres que lhes ensinaram os segredos da vida e da morte, compilassem tudo o que aprenderam, exercitaram, descobriram e criaram e, apondo tudo numa obra de perfeio muitas vezes superior aos mais complexos engenhos j criados, por fim a tudo enterrassem, sem deixar rastros ou sombras para o uso daposteiidade, incluindo a si mesma? Seria justo criar-se uma vida genial como a humana para depois no mais que sepult-la, destin-la a mero alimento de vermes? Ento, para que a Natureza teria evoludo tanto'? Um dia ainda muito nos riremos do tempo em que o ser humano era to presunoso que acreditava tudo conhecer e, pelo seu saber, destronara o Criador e destinara tudo ao Fim do escuro sepulcral ou do fogo crematrio! Oh. Deus! Quanta ingenuidade!

  • Recordo-me de uma historieta lida alhures, digna de ser reproduzida aqui.

    Um homem estava colocando flores no tmulo de um parente, quando v um chins deixando um prato de arroz na lpide ao lado.

    Ele se vira para o chins e pergunta: Desculpe, mas o senhor acha mesmo

    que o defunto vir comer o arroz? Sereno, o chins responde: Sim, vir quando o seu vier cheirar as

    flores... Muitas vezes acreditamos em nossas crenas, sem sequer

    pensarmos no porqu acreditamos nelas e, em cima dessas crenas, desacreditamos e descredenciamos todos os que pensam diferente, mesmo quando a fora