A Crise Hídrica no cenário mundial: análise de suas causas ... · poluição. Defini-se ainda...
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A Crise Hídrica no cenário mundial:
análise de suas causas, conseqüências e proposição
de soluções que possibilitem a reversão desse quadro
Autora:
Marcia Cristina Santos de Mello
Orientadora:
Maria Esther de Araújo Oliveira
Rio de Janeiro
Setembro de 2010
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A Crise Hídrica no cenário mundial:
análise de suas causas, conseqüências e proposição
de soluções que possibilitem a reversão desse quadro
OBJETIVO:
Haja vista o consumo ineficiente e
indiscriminado de água, assim como a não
valoração desta como um bem finito e indispensável
à vida, este trabalho tem como objetivo dissertar
sobre as causas, as conseqüências e a perspectiva
da falta de água no mundo, além de propor ações
para mitigação do problema.
GESTÃO AMBIENTAL
Marcia Cristina Santos de Mello
AGRADECIMENTOS
À Deus pela proteção em todos os momentos
de nossa vida e a todas as pessoas que
contribuiram direta ou indiretamente para a
elaboração deste trabalho.
DEDICATÓRIA
À minha família, meus pais e meu noivo,
pela colaboração, paciência, compreensão,
dedicação e amor.
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo geral dissertar sobre a existência de uma
iminente situação de escassez de água no mundo, analisar suas causas e
propor possíveis soluções. A crise hídrica é tratada como uma crise global,
apresentada com base em uma analogia com a crise do petróleo ocorrida nos
Estados Unidos na década de 70. Ela é disseminada, principalmente, pelo mau
uso dos recursos hídricos, seja pelo desperdício, consumo ineficiente e
poluição. Defini-se ainda que entre os aspectos que tendem a agravar o
cenário de escassez estão as alterações climáticas e a destinação de água
para a produção de biocombustíveis, potencial fonte de energia com mercado
ascendente. Para finalizar, deve-se destacar que entre as soluções apontadas
estão algumas ações para evitar a continuidade da crise e outras apenas para
mitigar os efeitos de secas e conflitos já percebidos em determinados locais do
mundo. Adiciona-se o fato de que qualquer ação para o combate a essa crise
silenciosa e de caráter mundial deve envolver todos os níveis sociais e
econômicos da sociedade, isto é, povos e governos, ricos e pobres e, parte do
princípio, de que a tomada de consciência sobre a importância da água e sua
valoração como um bem limitado é a primeira ação a ser tomada.
Palavras-chave: Água. Recurso hídrico. Poluição. Consumo. Escassez. Pico
da água.
METODOLOGIA
A metodologia utilizada para confecção do trabalho foi desenvolvida de
acordo com a seqüência de fases descrita abaixo:
Fase 1: Definição dos pontos abordados, além da forma e disposição com
que os mesmos encontram-se descritos no corpo do texto.
Esta fase consistiu na definição dos tópicos que são discutidos por este
estudo, os quais estão representados pelas causas, conseqüências e
propostas de soluções para a questão da escassez de água e a maneira pela
qual esses itens são tratados e organizados ao longo da monografia.
Fase 2: Coleta e análise de informações, a fim de verificar a pertinência
ao tema proposto (baseada em item e subitens já definidos na fase anterior da
pesquisa).
O material utilizado como base para este texto busca contemplar
informações que caracterizem tempo e espaço. Entre estas estão: dados que
relacionem a quantidade de água existente e a demandada, a fim de
comprovar a existência do suposto pico de água; correlações comparativas
entre regiões e continentes; citação de soluções encontradas na literatura;
entre outras;
Fase 3: Seleção e organização do material surpracitado segundo os
tópicos que constituem o trabalho.
Esta etapa inclui a avaliação do material encontrado, de modo a
caracterizá-lo como adequado ou não com base no objetivo pré-definido.
Ademais, é nesta fase que os itens julgados adequados são segregados em
função de suas características para serem inseridos conforme ordenação
proposta para melhor conexão das idéias;
Fase 4: Execução da dissertação proposta.
Esta fase inclui a montagem do trabalho propriamente dita, isto é, sua
formação, e o detalhamento que deve ser alcançado com o uso de dados
ilustrativos que retratem os objetos de argumentação, desde as causas aos
efeitos, muitos dos quais já observados; a apresentação dos fatos em função
de sua posição em escala temporal e a proposição de soluções julgadas
viáveis dentro do contexto atual. Vale citar que, as soluções apresentadas são
compostas por citações já existentes, pela discussão das possíveis
oportunidades de melhorias, quando oportuno; além de algumas proposições
baseadas em novas idéias;
Fase 5: Finalização do trabalho.
Este item consiste na leitura, revisão do texto final e listagem da
bibliografia utilizada.
Nota: Apesar das fases serem realizadas na ordem proposta, a execução
do trabalho ocorreu de forma dinâmica, isto é, uma fase já trabalhada pôde ser
retomada contínua e paralelamente ao andamento das demais, à medida que
foram observadas possibilidades de inserção de melhorias. Isso pôde
acontecer, ao passo que informações adicionais surgiam, dados interessantes
foram encontrados e novas idéias surgiram visando o enriquecimento
constante do produto almejado pelo estudo em questão.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................. 9
CAPÍTULO I
ÁGUA: SUA IMPORTÂNCIA E DISTRIBUIÇÃO .......................................... 14
CAPÍTULO II
AS CAUSAS DA FALTA DE ÁGUA ............................................................. 39
CAPÍTULO III
O PICO DA ÁGUA ....................................................................................... 65
CAPÍTULO IV
OS PRINCIPAIS IMPACTOS DE UMA ESCASSEZ DE ÁGUA .................. 75
CAPÍTULO V
POSSÍVEIS SOLUÇÕES PARA MITIGAR A CRISE ................................... 99
CONCLUSÃO .............................................................................................. 116
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 119
ANEXOS ...................................................................................................... 128
ÍNDICE DE FIGURAS .................................................................................. 152
ÍNDICE DE TABELAS .................................................................................. 155
FOLHA DE AVALIAÇÃO .............................................................................. 156
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INTRODUÇÃO
Um assunto muito discutido atualmente e fruto de grandes investimentos
é o desenvolvimento de novas tecnologias e fontes alternativas de energia que
possam ser utilizados como substitutos do petróleo e seus derivados. No
entanto, é preciso dedicar uma parcela de atenção a iminente escassez dos
recursos hídricos que existem no planeta, pois para a água não existem
substitutos.
Com base nessa expectativa, projeções científicas estimam que, até o
ano de 2025, o planeta poderá encarar um problema nunca verificado pela
humanidade: a crise hídrica. Estima-se que dois em cada três habitantes
sentirão os efeitos da escassez de água, seja pela ausência desse recurso ou
pela má qualidade do mesmo.
Assim, a elaboração desse trabalho é dedicada ao levantamento, à
análise e à discussão de dados que demonstrem a possibilidade de ocorrer
uma escassez de água mundial, de modo a considerar algumas de suas
principais causas, impactos e conseqüências a médio e longo prazo. Além
disso, pretende-se propor possíveis alternativas que possam ser utilizadas
rumo a tomadas de ações corretivas e preventivas, a fim de que essa crise de
caráter catastrófico possa ser evitada. Para tanto, permanece a pergunta:
“Quais os principais impactos decorrentes dessa crise e o que pode ser feito
para evitá-los?”.
Para responder a questão supracitada, é importante considerar a água
como um recurso essencial e insubstituível para assegurar a sobrevivência da
vida na Terra. Além disso, é necessário que esse recurso seja analisado como
um bem renovável, porém finito, visto que o suprimento de água fornecido pela
natureza está próximo de ser superado pela quantidade demandada para
mover a sociedade atual.
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Com base nisso, esse trabalho visa alertar ao leitor sobre o fato de que a
água, assim como o petróleo, pode passar por um pico. Isso porque, a
população está preocupada apenas com a crise do petróleo visto o alto valor
agregado desde bem, esquecendo-se da crise hídrica que pode ser alcançada
caso a sociedade continue caminhando em direção à cultura do desperdício e
da poluição.
Dessa forma, é importante ressaltar que a qualidade de vida, saúde e
desenvolvimento da população dependem intimamente da qualidade e
disponibilidade deste recurso.
Em função disso, água deve ser observada com sua devida importância,
dado que sua escassez poderá trazer graves conseqüências para a
manutenção da vida existente no planeta. Com esse intuito, é preciso que este
bem seja mais valorizado e que seja adquirida uma consciência ambiental
rumo ao uso sustentável.
Um aspecto que demonstra a importância da água é o fato de que,
atualmente, uma questão muito discutida tem sido a disponibilidade desse bem
para a economia e para a manutenção da vida. Isso porque, apesar de a
superfície da Terra ser constituída por três quartos de água, somente uma
quantidade ínfima desta é útil para a população, isto é, a maior parcela desse
recurso encontra-se em formas de difícil acesso ou sob condições que
exigiriam o gasto de muitos recursos financeiros e energéticos para torná-la
passível para atender as necessidades da sociedade moderna.
Com base nos fatos apresentados, destaca-se que entre as causas que
intensificam o cenário de escassez estão: o alto nível de degradação da
qualidade da água alcançado nos últimos anos; o crescimento exponencial da
demanda, devido ao rápido aumento demográfico e as irregularidades de
distribuição hídrica quando comparadas às necessidades de consumo
localizadas.
Haja vista os dados apresentados, este trabalho apresenta como principal
objetivo dissertar sobre as causas e impactos que caracterizam uma
perspectiva de falta de água mundial, além de propor ações para mitigação do
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problema. Diante disso, pode-se definir os seguintes itens como objetivos
específicos:
ü Analisar a importância da água e a distribuição desse bem nos
diferentes setores da sociedade;
ü Discutir sobre as principais causas da falta de água;
ü Dissertar sobre a perspectiva, a médio prazo, de ocorrer o pico da
água, que é definido como o momento em que a demanda por
água será maior do que a oferta, isto é, sua reposição pela
natureza;
ü Apresentar um comparativo entre o suprimento mundial de água e
a distribuição da população por continente;
ü Apresentar os mais importantes impactos sócio-econômicos e
ambientais oriundos do problema;
ü Citar como a ocorrência de uma crise hídrica influenciará na
situação política mundial, isto é, avaliar a potencialidade da
ocorrência de guerras provenientes desta;
ü Definir algumas propostas de soluções para evitar a crise
supracitada.
Nesse contexto, vale ressaltar que os impactos ambientais, sócio-
econômicos e políticos são muitos, entre os quais se destacam: possibilidade
de ocorrência de conflitos ou, até mesmo, guerras; aumento da incidência de
doenças; altas taxas de desemprego; redução da expectativa de vida
populacional; decréscimo da produção de alimentos e da maioria dos bens de
consumo utilizados atualmente, visto que praticamente todos os processos
produtivos fazem o uso da água como matéria-prima ou como utilidades de
processo; entre outras conseqüências drásticas.
Ademais, verifica-se que se as causas que definem a degradação e o
consumo desordenado da água não forem devidamente tratadas, o decréscimo
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da quantidade desse bem será proporcional às variações do ciclo hidrológico
ocasionadas pela interferência humana.
No decorrer deste trabalho serão levantadas algumas hipóteses que
apresentam o objetivo de fundamentar a discussão proposta pelo tema em
questão. São elas:
ü O histórico da pouca valorização da água vem promovendo uma
cultura de utilização demasiada e inconsciente deste bem. Além
disso, o crescimento populacional sem controle e a busca cada vez
maior pelo desenvolvimento econômico agravam mais o consumo
de água e aproxima-se uma situação em que sua distribuição
ficará prejudicada, ocorrendo assim, uma crise mundial;
ü A população mundial já começa a sentir os efeitos da crise hídrica,
seja pelo aumento do valor comercial adquirido por este bem ou
por seu decréscimo já observado em determinadas regiões do
mundo;
ü O quadro de crise iminente pode ser revertido. Para isso, um uso
sustentável da água é essencial e este pode ser conseguido por
meio de ações que permeiam diversos níveis da sociedade, desde
o governamental e empresarial até o domicilar;
ü A educação ambiental deve atuar como uma peça chave neste
contexto, perpetuando-se como ferramenta fundamental para que
a população entenda a água como um bem finito e indispensável à
economia e à vida, assim como o petróleo. Com base nisso, a
redução do desperdício diário, muito comum no cotidiano, é uma
medida importante e que depende diretamente da consciência da
sociedade para a questão. Ademais, uma mudança de
comportamento pode ser adquirida pelo uso de conceitos da
educação ambiental.
Para finalizar, este trabalho pretende apresentar propostas de possíveis
soluções que buscam a mudança desse cenário de crise global no qual a água
já pode ser definida como um bem em extinção. Para isso, busca-se propor
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alternativas para mitigar a ocorrência dessa crise e, assim, evitar que no futuro,
os conflitos não sejam mais relacionados ao petróleo, mas motivados pela
escassez dos recursos hídricos.
Quanto à delimitação abordada no trabalho, deve-se mencionar que
serão estudados os impactos ambientais, bem como os de âmbito político e
sócio-econômico, ocasionados pela possibilidade da escassez de água. Além
disso, entre as soluções apresentadas, serão discutidas ações que envolvem
os setores governamental, agropecuário, industrial e domiciliar.
Adicionalmente, as causas da crise hídrica serão analisadas em uma
escala temporal que envolve o desperdício de água ocorrido no passado, sua
manutenção e conseqüências já observadas no presente e sua continuidade
como tendência de agravamento futuro.
Outrossim, o estudo em tela pretende utilizar alguns dados que, muito
embora possam, eventualmente, ser correlacionados de forma regional, serão
tratados em âmbito mundial, visto que a falta de água é um tema de efeitos
globais.
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CAPÍTULO I
ÁGUA: SUA IMPORTÂNCIA E DISTRIBUIÇÃO
“(...) Terra! Planeta água (...)” Guilherme Arantes (1981).
1.1. Origem e importância da água
Conforme descrito na lei N°9433 de 08 de janeiro de 1997, que trata
sobre a Política Nacional de Recurso Hídricos, a água apresenta, entre outras,
as seguintes definições:
“(...) Art. 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se
nos seguintes fundamentos:
I - a água é um bem de domínio público;
II - a água é um recurso natural limitado, dotado de valor
econômico; (...)”
Com base nisso, é importante entender a importância desse recurso para
que lhe possa ser dado o devido valor.
A existência da vida no planeta somente foi possível após o
aparecimento da água. Nesse contexto, é possível verificar, em uma escala de
evolução cronológica, a origem da água e a sua importância para o surgimento
das primeiras formas de vida.
Conforme Barros (2010), há 15 milhões de anos atrás, após a explosão
do Big Bang, a energia se condensou em partículas subatômicas, as quais
deram início aos primeiros átomos de hidrogênio e hélio. Estes deram origem a
nuvens dispersas que, ao se adensarem, formaram as primeiras estrelas.
Devido ao processo de fusão nuclear no interior desses corpos celestes,
formaram-se os elementos químicos mais pesados, tais como carbono,
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nitrogênio, oxigênio, entre outros. A partir de então, foi possível a existência de
moléculas de água, inicialmente na forma de vapor, uma vez que estas são
formadas pela combinação de dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio.
Deste modo (Barros, 2010; Freitas, 2010; Smithsonian, 2010), durante a
formação do planeta Terra, intensas atividades vulcânicas foram responsáveis
por expelir, dentre outros gases, grandes quantidades de vapor de água que
originaram a atmosfera primitiva.
As altas temperaturas observadas no período anterior foram
gradativamente reduzidas, de modo a tornar possível a formação das primeiras
nuvens, a partir da condensação do vapor de água da atmosfera. A formação
destas gotas de água aliadas à gravidade terrestre permitiu a ocorrência de
precipitações que deram origem a formação dos primeiros oceanos.
Segundo Smithsonian (2010), foram estes oceanos, os meios propícios
para a ocorrência das complexas reações químicas que transformaram
moléculas simples contendo carbono nas primeiras formas de vida, cujos mais
antigos fósseis datam de 3,5 bilhões de anos atrás. Assim, conforme a Figura
1.1, observa-se que a vida na Terra surgiu somente após o aparecimento de
água líquida.
A partir destas formas de vida mais rudimentares, surgiram os primeiros
seres fotossintetizantes, capazes de produzir seu próprio alimento a partir de
energia solar com liberação de oxigênio. Esta atividade fotossintetizante
promoveu a existência de oxigênio molecular na atmosfera e,
consequentemente, o surgimento de organismos mais complexos.
Finalmente, devido à evolução gradativa da Terra, observou-se a
formação dos atuais continentes, rios, lagos, geleiras e das demais formas
geográficas conhecidas.
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Figura 1.1 – Evolução da Terra (University de Wisconsin-Madison, 2010).
Dessa forma, verifica-se que desde a sua formação até hoje, a água
apresenta papel vital para a existência de todos os organismos vivos (Tundisi,
2009). Assim, por se tratar do melhor solvente disponível na natureza, ela
participa de funções biológicas essenciais à vida, além de atuar como meio de
transporte, na produção de alimentos e de qualquer outro bem de consumo
necessário ou não a sobrevivência.
No solo, a água atua como fator essencial a nutrição da flora; na
vegetação, existem cerca de 80% de água na composição das folhas e até
60% nos tecidos lenhosos. Nas frutas, mesmo aquelas que apresentam menor
quantidade desse bem, contém até 5% do mesmo. Além disso, deve-se
mencionar que embora o ser humano possa viver durante alguns dias sem
alimentos sólidos, não é capaz de sobreviver a mais de três dias sem água.
Segundo ABES (2010), se a água se apresenta em abundância, atua
como fonte necessária ao desenvolvimento agrícola, industrial, social, sanitário
e, consequentemente, na melhoria da qualidade de vida da população. Por
outro lado, sua ausência ou escassez é motivo para o agravamento da
pobreza, para a ocorrência crescente de enfermidades, para o surgimento de
estopins de guerras e para a estagnação econômica.
A tabela 1.1 demonstra alguns dos mais variados usos da água na
indústria. Com isso, é possível mostrar que a água está presente como entrada
Indicação do surgimento de vida após a formação de água
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de qualquer processo industrial. Além disso, verifica-se a quantidade média
utilizada para executar as mais diferentes atividades, ou seja, observa-se que
para a manutenção da economia atual e o contínuo desenvolvimento é
necessário um consumo significativo desse recurso.
Tabela 1.1 – Consumo de água na indústria (Idec, 2010; ANA, 2009;
Portal EcoDebate, 2009b).
Conforme Pereira (2010), até para produzir dinheiro é necessário água.
Segundo ele: “A revolução industrial não aconteceria sem a água”.
Quanto a produção de alimentos, Clarke e King (2005) definem o
consumo médio de água segundo a tabela 1.2. Como é demonstrado, para
produzir 1 Kg arroz, principal alimento em diversas partes da Ásia, são
necessários cerca de 1.900 litros de água. Outro exemplo bastante significativo
é a carne de boi, a qual para cada um quilo produzido, são necessários 19.000
litros de água, haja vista a quantidade necessária para cultivar as plantas que
os animais ingerem e o volume que bebem, isto é, para as atividades de
manutenção, pastagem e rações.
Os dados apresentados na tabela abaixo são baseados na relação entre
a quantidade total de água usada no cultivo e/ou processo industrial e a
produção obtida, relação esta definida como “água virtual”, que corresponde a
uma medida indireta dos recursos hídricos consumidos por bem. Vale citar
Tipo de indústria Consumo médio (litros/tonelada de produto) Tipo de indústria Consumo médio
Revestimento Cerâmico 1800-2000 L por t revestimento
Computador 20.000 L por computador
Automobilística 38.000 L por veículo
Cimento Portland 550-2500 L por t de cimento Querosene 40.000 L por tonelada
Saboarias 2.000 L por t de sabão Couros (curtumes) 55.000 L por t de couro
Laticínios 2.000 L por t de produto Explosivo 80.000-83.500 L por t de explosivos
Cobre 3.100 L por t cobre Laminação de aço 85.000 L por t de aço
Minério de ferro 4.200 L por t de minério Vidro 88.000 L por t de vidro
Lavanderia 10.000 L por t de roupa Polietileno 8.400-231.000 L por tonelada
Gasolina 7.000-8.000 L por kL de gasolina Papel 250.000 L por t de papel
Produtos de aço 8.000-12.000 L por t de produto Refinação de petróleo 290.000 L por barril refinado
Fábrica de conservas 20.000 Lpor t de conserva Indústria têxtil 1.000.000 L por t de tecido
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ainda, que a estimativa de água requerida para o cultivo ou produção industrial
dos vários bens agrícolas e industriais varia em torno dos valores
apresentados, em função da técnica de plantio e irrigação, do tipo de solo e de
clima, além do processo produtivo utilizado (Travitzki, 2009).
Tabela 1.2 – Consumo de água para a produção de alguns alimentos.
(Clarke e King, 2005; ANA, 2009; IBM, 2010; Portal EcoDebate, 2009b).
Ademais, este recurso natural presente em mais de 70% da constituição
do corpo humano desempenha atuação fundamental na produção das formas
mais utilizadas de energia e, por isso, se destaca como um bem de extrema
importância não somente a existência, mas também a manutenção da
qualidade de vida alcançada nos vários anos de desenvolvimento humano.
Na produção de energia, a queda de água, e sua conseguinte passagem
por turbinas, é empregada como recurso essencial a geração de energia
elétrica em hidroelétricas; em refinarias, termelétricas e usinas de geração de
energia nuclear, a água é muito utilizada como fluido de utilidades, entre outros
usos. Deve-se adicionar a isso a importância desse recurso no crescente
mercado dos biocombustíveis, no qual a água atua na produção dos insumos
agrícolas utilizados como matérias-primas (cana-de-açúcar, milho, oleaginosas,
entre outras) do processo seu produtivo.
Alimento (tonelada)
Consumo médio (litros)
Alimento (tonelada)
Consumo médio (litros)
Carne bovina 15.000.000 Gelatina 55.100-83.500
Carne de porco 4.800.000 Açúcar 75.000
Aves 3.500.000 Pescado enlatado 58.000
Arroz 1.900.000 Leite em pó 45.000
Soja 1.650.000 Salsicha 20.000-35.000
Pão 1.600.000 Queijo 2.000-27.000
Milho 1.100.000 Manteiga 20.000
Trigo 900.000 Iogurte 20.000
Alfafa 900.000 cerveja 19.600
Batata 500.000 Chocolate em barra 15.000-17.000
Pescado (fresco/congelado) 30.000-300.000
Sorvete 10.000
Leite 2.000-5.000
Tomate 184.000 Macarrão 1.200
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Outro aspecto que coloca a água em posição de destaque é o fato de que
grandes civilizações e cidades nasceram às margens de grandes rios, dado
que estes atuam não somente como fonte de água para produção de bens,
fonte de dessedentação, meio de escoamento de resíduos, recurso necessário
à irrigação e energia, como também para transporte e até higienização pessoal.
Exemplo disso foi o surgimento da Mesopotâmia, do Egito antigo e da Índia, às
margens dos rios Tigre e Eufrates, Nilo e Ganges, respectivamente. Além
disso, tem-se, atualmente, como exemplos, a Grande São Paulo em torno dos
rios Tietê e Pinheiros, a cidade de Roma às margens do Tibre e Paris com o rio
Sena (Governo de São Paulo, 2008).
Dessa forma, verifica-se a importância da água não somente sob aspecto
ambiental, que leva em consideração a biodiversidade, a regulação do clima (
dado que os oceanos por acumularem calor do sol, atuam como reguladores
do clima) e manutenção da vida. Percebe-se, também, o papel fundamental
que este recurso desempenha no setor econômico e social.
Conforme Oliveira (2008), mais do que 5 milhões de pessoas morrem
anualmente devido a doenças causadas por qualidade ruim da água, por
indisponibilidade desse recurso ou por péssima condição de higienização e
saneamento. Segundo ele, o relatório de Desenvolvimento Humano da ONU
de 2006 informa que uma das causas do elevado índice de mortalidade infantil
é a diarréia apresentada pela falta de acesso à água potável.
Nesse contexto, deve-se considerar que a água essencial é aquela de
boa qualidade, pois a poluição é considerada um fator de degradação que pode
afetar a saúde humana e, até mesmo, causar a morte de espécies marinhas.
Neste último caso, significa alterar a cadeia alimentar e marginalizar uma
parcela da população que tem a vida marinha como fonte de sustento familiar.
Além disso, a poluição das águas implica na necessidade de purificação por
meio prévios, que demandam energia; no entanto, para se produzir energia, é
necessário: água.
Por esses motivos, a água deve ser entendida como um bem essencial à
vida e, por isso, de grande valor. A degradação desse bem seja em termos de
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consumo ou de poluição, implica em redução de disponibilidade para o uso,
sem o qual não há energia, alimento, água apta ao consumo e,
consequentemente, não há vida.
1.2. Distribuição da água no planeta
Após realizar o primeiro vôo orbital em torno do planeta Terra, em 12 de
abril de 1961, o cosmonauta russo Yuri Gagarin fez a seguinte afirmação: “A
Terra é azul” (Barros, 2010). Essa citação é de fato o que qualquer um pode
afirmar ao ver fotos da Terra vista do espaço, nas quais, sob quatro ângulos
diferentes, é possível observar a imensidão azul e branca, cores que
correspondem ao oceanos, geleiras e nuvens, isto é, água em seus vários
estados físicos (Figura 1.2).
Figura 1.2 – Terra vista da sonda Galileo (NASA/JPL, 1990).
Conforme Clarke e King (2005), a Terra dispõe de aproximadamente de
1,386 Km³ de água. Contudo, tem-se que cerca de 97,4% dessa água
apresenta-se espalhada por oceanos, mares, lagos salgados e aqüíferos
salinos e somente uma pequena fração dessa imensa quantidade, 2,6%,
corresponde a água doce. Vale ressaltar que, dessa última, apenas uma
parcela menor ainda apresenta-se na forma de água doce acessível para
atender as necessidades atuais.
Assim, de acordo com a Figura 1.3, pode-se verificar que os 2,6% da
água doce do planeta se distribuem entre água disponível e indisponível. A
primeira, cerca de 23,3 %, corresponde a água de subsolos, lago, rios, plantas,
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animais e umidades de solo e do ar; enquanto a segunda, cerca de 76,7%,
corresponde a água aprisionada nas geleiras, neves, gelos e subsolos
congelados (Clarke e King, 2005; Miller, 2007).
Entre os recursos de água disponíveis, apenas 2,3% se encontram sob a
forma de águas de superfície, aquelas que de mais fácil acesso e, por isso,
mais facilmente degradadas (Clarke e King, 2005; Miller, 2007).
A outra parcela de águas disponíveis (97,7%) apresenta-se como águas
subterrâneas constituídas por lençóis freáticos e aqüíferos (Clarke e King,
2005; Miller, 2007), alguns tão complexos e heterogêneos, que tornam seu
acesso mais dificultado. Exemplo desse tipo de estruturação hidrogeológica é o
aquífero Gaurani, que apesar de abranger cerca de 1,2 milhão de Km2,
espalhando-se pelo Paraguai, Uruguai, Argentina e oito estados brasileiros,
contempla pontos em que não é possível acessar suas águas, como ocorre na
Argentina em que o sistema aqüífero apresenta-se confinado em grandes
profundidades (Machado, 2009).
Figura 1.3 – Dsitribuição de água no planeta (Clarke e King, 2005; Miller,
2007).
Como pode ser verificado na Figura 1.4, da pequena parcela
correspondente às águas de superfície, apenas cerca de 54% encontram-se
disponíveis ao fácil acesso, dada a existência de outras parcelas de água sob a
forma de umidade do solo, biota e vapor de água atmosférico (Clarke e King,
2005; Miller, 2007).
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Figura 1.4 – Distribuição das águas superficiais (Clarke e King, 2005;
Miller, 2007).
Conforme mostrado, a existência de água doce se dá em diversos locais
e formas. A figura 1.5 apresenta uma comparação gráfica, com base em
categorias, entre quantidade e distribuição desse recurso no mundo. A
categoria 1 relaciona a quantidade de água distribuída sob a forma de geleiras,
neves e gelos que aparecem nos pólos, principalmente, na Antártica e na
Groelândia; a categoria 2 representa o quantitativo de água na forma de
aquíferos (considerando a inclusão de águas salinas) espalhada pelo mundo e
a categoria 3 representa a distribuição média desse recurso sob a forma de
lagos e rios (IEAv, 2010).
53,0%
37,9% 0,8 % 0,8 % 7,6%
Lagos
Umidade do solo
Vapor de água atmosférico
Rios
Biota
Águas de Superfície
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Categoria (1)
Categoria (2)
Categoria (3)
Figura 1.5 – Distribuição de água no mundo em km3 (IEAv, 2010).
1.3. Ciclo Hidrológico
Toda essa quantidade de água presente no planeta é mantida, pois
existe um mecanismo dinâmico de circulação desse recurso, no qual todas as
formas nas quais a água se apresenta, seja como vapor na atmosfera, como
águas subterrâneas ou recursos superficiais, são interligadas e
interdependentes. Esse movimento dinâmico constitui o ciclo hidrológico,
Figura 1.6, e é importante para a manutenção do equilíbrio ecológico do
planeta.
- 24 -
Figura 1.6 – Desenho representativo do ciclo hidrológico (Graci, 2001).
Essa contínua circulação é movida pela energia proveniente dos raios
solares que contribuem para a evaporação das águas dos oceanos, rios, lagos,
solo e para a transpiração das plantas.
No ar, há a condensação do vapor e a formação de minúsculas gotículas
de água que dão origem às nuvens (Associação Guardiã da Água, 2010).
Após retornar a Terra como chuva, neve ou granizo, parte da água
escorre para rios, lagos e oceanos, enquanto outra parcela se infiltra no solo
constituindo as águas subterrâneas armazenadas em diferentes profundidades
e com complexidades distintas. Uma terceira parte regressa a atmosfera para
formar novamente as nuvens e, assim, tem-se a continuidade do ciclo
(IBM,2010).
Dessa forma, apesar da iminência de uma crise hídrica, o volume de
água na Terra não se altera, o que muda é a forma como este recurso se
distribui em função desse movimento cíclico (SBPC/Labjor Brasil, 2000).
Vale citar, que o retorno da água aos oceanos, não ocorre somente por
meio de precipitação, mas também através do escoamento que ocorre por
meio dos leitos dos rios e pelos fluxos subterrâneos de água (SBPC/Labjor
Brasil, 2000).
- 25 -
Assim, o ciclo hidrológico, constituído pelas etapas de evaporação ou
transpiração, condensação, precipitação, infiltração e movimento das águas
superficiais e subterrâneas, é o responsável pela constância da quantidade
total de água existente no planeta.
Por esse motivo, verifica-se que o volume de água na Terra não se altera,
o que muda é a forma como este recurso se distribui em função desse
movimento cíclico (SBPC/Labjor Brasil, 2000).
Ademais, apesar da manutenção da quantidade total de água existente
no planeta, a demanda por esse recurso cresce mais rápido do que o ciclo
hidrológico consegue repor. Acrescido a isso, tem-se a contaminação de parte
da água reposta na superfície e subsolo e a elevação do índice de evaporação
e transpiração ocasionada pelo aumento de temperatura, devido a crescente
poluição atmosférica causada pela intensificação dos gases estufa. Por esse
motivo, apesar da existência do reciclo natural da água, há a previsão de que
uma crise hídrica possa ocorrer.
1.4. Distribuição da água nos continentes
Em termos globais, a água doce apresenta uma distribuição não
uniforme, sua presença em maior ou menor quantidade depende
essencialmente dos ecossistemas de cada território (IDEC, 2010). Um exemplo
disso é o Lago Baikal que apesar de estar localizado em uma região pouco
povoada da Sibéria, contempla cerca de um quarto das provisões mundiais de
água doce (RDH, 2006).
Outro exemplo é o fato de que a América Latina possui doze vezes mais
água por habitante do que a Ásia do Sul; o Brasil e o Canadá apresentam mais
água do que conseguem consumir; enquanto outras regiões, como alguns
países do Oriente Médio possuem muito menos do que necessitam (RDH,
2006).
Essa discrepância é também verificada dentro de um mesmo continente,
ou mesmo, dentro de um país. A África Subsaariana, por exemplo, é
razoavelmente rica em termos de água doce disponível; contudo, tem-se a
- 26 -
República Democrática do Congo com mais um quarto da água da região, ou
seja, com 20.000 metros cúbicos ou mais por habitante, enquanto países como
Malawi, África do Sul e Quênia apresentam situações de pressão sobre os
recursos hídricos. Outro caso é o norte da China, que apresenta menos do que
um quarto da disponibilidade desse recurso por habitante, quando comparado
com o Sul desse país (RDH, 2006).
Conforme o Manual de conservação e reuso de água para a indústria da
FIESP (2010), essa ausência de uniformidade na distribuição dos recursos
hídricos entre as diversas regiões do globo, muitas vezes, tende a dificultar o
abastecimento de alguns locais menos privilegiados em termos desse recurso.
Por esse motivo, verificam-se aumentos gradativos nos custos apresentados
pelo fornecimento de água.
Por meio de uma análise da figura 1.7 observa-se que enquanto o
continente asiático apresenta a proporção de sua população equivalente a
quase o dobro do seu quantitativo de água, continentes como África e Europa
apresentam seu quadro populacional cerca de 2 a 5 % superior ao suprimento
de água que possuem, isto é, o quadro observado é o mesmo, mas em
menores proporções. Por outro lado, verifica-se que América do Norte, América
do Sul e Oceania ainda possuem sua população inferior a sua disponibilidade
de recursos hídricos.
Desse modo, observa-se que apesar do continente asiático ser o
possuidor da maior quantidade do suprimento de água mundial, é também o
detentor do maior quadro populacional, o que o torna uma região de grande
pressão hídrica, que já apresenta sintomas de escassez.
Outro aspecto que pode ser observado é o fato do continente sul
americano ser o mais rico em termos de suprimento hídrico mundial, apesar de
se destacar como o segundo maior continente em termos do suprimento de
água. Isso ocorre, pois seu quantitativo populacional é cerca de 20% inferior a
sua disponibilidade hídrica. Assim, conclui-se que, dispor de grandes reservas
hídricas não é garantia de possibilitar o abastecimento de água para toda a
população.
- 27 -
Figura 1.7 – Comparativo entre o suprimento de água e a população
global por continente.
Em termos globais, essa desigualdade na distribuição de água faz com
alguns países sejam extremamente pobres em água enquanto outros, muito
ricos. Locais desérticos como Arábia Saudita, Kwait, Ilhas Bahamas e Líbia
possuem 200 m³/ano por habitante, enquanto Brasil, Canadá, Gabão e Rússia
asiática apresentam cerca de 100.000 m³/hab/ano. Esses dados somente
evidenciam a discrepância entre a disponibilidade de água entre as regiões
quando comparados ao limite mínimo recomendado pela ONU de 1.000
m³/hab/ano (Gazeta Online, 2009).
A figura 1.8 demonstra a desigualdade uso da água sob o aspecto da sua
distribuição natural. Por meio do mapa do globo é possível verificar como se dá
o gasto de água por país em relação a água doce disponível. Observa-se no
Oriente Médio estão localizados os países com os maiores gastos relativos.
(SBPC/Labjor Brasil, 2000).
Distribuição por continentes
1%5%8%
11%15%
26%
36%
13%13%8%6%
60%
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
Ásia Ámerica doSul
Ámerica doNorte
África Europa Oceania
Val
or
(%)
Suprimento Mundial de água População Global
- 28 -
Figura 1.8 – Gasto de água por país quando comparado a quantidade de
água doce disponível (SBPC/Labjor Brasil, 2000).
Além da disponibilidade hídrica inerente a localização, o consumo de
água está intimamente relacionado às condições de desenvolvimento do país e
do nível de renda das pessoas. A África sulsaariana, por exemplo, que é
atravessada por grandes rios e apresenta um índice pluviométrico anual alto é
constitída por alguns dos países mais pobres do mundo e que, por isso,
possuem infra-estrutura para aproveitar apenas 3,8 % da vazão total de seus
rios (Almanaque Abril, 2008). É por esse motivo, um canadense pode gastar
600 litros de água por dia, enquanto um africano apenas pode consumir 30
litros diários para beber, irrigar plantações, fazer sua higiene, entre outros.
Quanto a distribuição do consumo de água por setor, verifica-se que 70%
do consumo mundial se destina a atividades agrícolas. A irrigação, a
responsável por toda essa demanda, consiste em um uso consuntivo, isto é,
aqule no qual o recurso utilizado não retorna para a mesma fonte de origem
(Grassi, 2001).
Já as atividades industriais, consideradas consuntivas, embora possam
causar a contaminação de suas águas com resíduos específicos para tipo de
indústria, são capazes de destinar seus efluentes para tratamento e, assim,
possibilitar a futura reutilização dos mesmos (Grassi, 2001). O consumo
industrial de água é cerca de 22%.
- 29 -
A utilização de água na indústria se destina aos mais diversos fins. Ela
pode ser incorporada ao produto final como matéria-prima, a exemplo de
fármacos e bebidas; pode ser utilizada para produção de energia, por meio da
acumulação de energia cinética, potencial ou térmica que pode ser
transformada em energia mecânica e, posteriormente, elétrica; além de ser
muito utilizada como solvente ou como fluido de utilidades, para aquecimento
ou arrefecimento de unidades operacionais, além de seu uso na limpeza do
maquinário. Milhares de litros de água estão envolvidos na produção de bens
como plástico e vidro, além de papel, metal e químicos, os três maiores
consumidores industriais.
A água atua na indústria como o sangue no corpo de um ser vivo. Seu
fluxo atende desde finalidades mais nobres até as de menos importância
dentro de uma linha de produção. Para produzir um automóvel, por exemplo, é
necessário pelo menos 120.000 litros de água, sendo 80.000 destinado a
produção do aço e os 40.000 restantes a produção automobilística
propriamente dita (Environment Canadá, 2010).
Outro uso da água é o doméstico, que é caracterizado pela
disponibilidade local desse recurso, pelo nível de renda da população e, até
mesmo, por questões culturais. Esse tipo de consumo mundial representa
cerca de 8%. Essa distribuição conforme citada é descrita pela figura 1.9.
Figura 1.9 – Distribuição de água por setor.
Essa distribuição por setores pode variar com o nível riqueza do país e é
mostrada pela figura 1.10. Verifica-se que países de maior rendimento
- 30 -
apresentam maior utilização industrial, apesar de apresentarem contribuição
significativa de utilização agrícola. Isso ocorre porque quanto maior a renda da
população, maior será a quantidade de bens industrializados e sofisticados que
ela irá exigir do mercado. Já uma população mais pobre, tenderá a apresentar
sua utilização de água mais dedicada ao consumo agrícola, que é mais voltado
a produção de alimentos, isto é, a bens primários (recursos mais essenciais).
Figura 1.10 – Consumo de água por nível de rendimento dos países
(BCSD Portugal, 2010).
Como pode ser verificado, o consumo de água está intimamente
relacionado com o nível de desenvolvimento de um país e com a renda de sua
população. Exemplo característico é definido quando se compara a quantidade
de água gasta para uma pessoa realizar suas atividades diárias. A ONU define
que o volume necessário para tais atividades é o equivalente a 40 litros por dia,
contudo um europeu utiliza em média 150 litros, enquanto um indiano consome
apenas 25 litros (IDEC, 2010).
Outro caso marcante que mostra o quanto as desigualdades sociais estão
relacionadas com a disponibilidade de água no mundo é o fato de que algumas
regiões do mundo, a situação de ausência de água já atinge valores críticos
(CETESB, 2001). A figura 1.11 apresenta o quadro de desigualdade no acesso
à água potável (Aldeodato, 2009b).
Utilização Doméstica 11%
Utilização Industrial 59%
Utilização Agrícola 30%
Utilização Doméstica 8% Utilização Industrial 10%
Utilização Agrícola 82%
Países de elevado rendimento
Países de baixo e médio rendimento
- 31 -
Figura 1.11 – A desigualdade no acesso à água potável a nível global
(Aldeodato, 2009b).
Conforme anexo I, alguns países africanos, como Nigéria, Quênia,
Etiópia, Angola e Bangladesh já se encontram no limiar que tange a faixa limite
de pobreza no consumo de água. Enquanto isso, um cidadão norte-americano
chega a consumir esse recurso de forma exagerada, podendo atingir a faixa de
570 litros de água por dia, o equivalente a 285 garrafas PET (Naime, 2010).
De acordo com Clarke e King (2005), quando verifica-se a distribuição do
consumo de água por setor nos continentes, observa-se que a maior parte
desse recurso é utilizada na agricultura, especialmente nas regiões mais secas
do mundo; enquanto na América do Norte e em alguns países europeus tem-se
predominância do consumo para fins industriais e para geração de energia. A
figura 1.12 demonstra a utilização desse bem por setor e por continente.
- 32 -
Figura 1.12 – Percentual de distribuição do consumo de água por setor
nos continentes (FAO, 2009).
Além disso, vale citar que a utilização dos recursos é desigual dentro de
um mesmo continente. Um exemplo disso é o fato de que em algumas regiões
do sul da Europa, a atividade agrícola é responsável pela captação de mais de
80% do consumo de água (Agência Européia do ambiente, 2009).
Uma distribuição mais detalhada por países, em ordem de quantidade
utilizada para o consumo destinado a cada um dos setores agrícola, industrial
e residencial, pode ser observada no anexo II.
Segundo a ONU, até 2025, o consumo de água deve aumentar de até
50% nos países em desenvolvimento e 18% nos países desenvolvidos. Além
disso, frente às estimativas de crescimento populacional esperado para os
05101520253035404550556065707580859095
África Ásia AméricaLatina
AméricaNorte
Oceania Europa Mundo
Doméstico Industrial Agropecuária
Região Percentual distribuição por setor
Doméstico (%) Industrial (%) Rural (%)
África 10 4 86 Ásia 7 11 81 América Latina 19 10 71 América Norte 22 17 61 Oceania 18 10 72
Europa 15 54 31
Mundo 11 16 73
- 33 -
próximos anos, conforme a figura 1.13, a expectativa é de uma maior utilização
de água para irrigação (Grassi, 2001).
Figura 1.13 – Projeção da captação setorial de água para 2025 em Km3
por ano (RDH, 2006).
Essa distribuição do consumo de água como disposto faz com que haja a
necessidade de que esse bem seja comercializado entre as nações. No
entanto, esse comércio é feito em termos de “água virtual”, ou seja, uma
medida indireta da quantidade desse recurso gasta para produzir um bem,
produto ou serviço.
Quando se trata de produtos primários, a relação corresponde a
quantidade total de água usada no cultivo e a produção obtida em m3/ton. Uma
vez obtido esse valor, todo um inventário hídrico é analisado por meio de
softwares específicos que calculam a teor de água utilizado na obtenção de
produtos finais (Travitzki, 2009).
Esse conceito promove uma gigantesca transferência de água de uma
região para outra no globo. Dessa forma, locais que apresentem esse recurso
em abundância podem transferi-lo para outras localizações em que há
- 34 -
escassez e, por isso, seu uso compete a outras atividades mais essenciais
(Travitzki, 2009).
Um exemplo desse tipo de trâmite estratégico é a China, na qual a
importação de cerca de 45 milhões m³ de água é realizada por meio do
ingresso de aproximadamente 18 milhões de toneladas de soja por ano no
país (Travitzki, 2009).
Outro caso é a típica exportação de água brasileira, que em 2003
exportou cerca de 19,5 bilhões de m³ por meio da transferência de cercade 1,3
milhão de toneladas de carne bovina (Travitzki, 2009).
Segundo Travitzki (2009), dados da Unesco apontam para um
crescimento desse tipo de comércio, que ocorrerá em paralelo ao esgotamento
e a contaminação dois recursos hídricos. Atualmente, tem-se a movimentação
de um volume de água virtual na faixa de 1.000 a 1.340 km³ por ano e a
distribuição desse quantitativo por tipo de produto comercializado é mostrado
na figura 1.14.
Comercialização de água virtual
Produtos Industriais
10%Produtos Agrícolas
67%Produtos Animais
23%
Figura 1.14 – Distribuição de água virtual comercializada por tipo de
produto (Travitzki, 2009).
Com disso, verifica-se que existe um desequilíbrio na disponibilidade
natural de água por região ou por continente. Contudo, deve-se considerar que
a utilização desse recurso pelo homem cresce a passos alarmantes nos
diversos setores, seja na agricultura, na indústria ou nas residências e, por
- 35 -
esse motivo, tem-se a atividade humana como contribuinte indiscutível para a
ocorrência de uma crise hídrica (Tundisi, 2009).
1.5. Distribuição da água no Brasil
O Brasil é um país contemplado por estar localizado sobre a maior bacia
fluvial do mundo, juntamente a Bolívia, Peru, Equador e Colômbia, a bacia
amazônica com seus 6.000.000 km2. Além disso, tem-se a bacia Platina,
segunda maior do mundo, localizada parcialmente sobre território brasileiro
(Webciência, 2008).
A riqueza hídrica do país também está localizada sobre águas
subterrâneas. Nesse contexto encontra-se o aquífero Botucatu/Guarani, com
cerca de 70% de uma área de quase 1,2 milhão de quilômetros quadrados
localizados sobre terras brasileiras (webciência, 2008).
Assim, o país apresenta aproximadamente 12 % da água doce mundial
distribuída por suas bacias hidrográficas, conforme Anexo 3. Contudo, essa
distribuição é não homogênea e algumas regiões já apresentam sintomas de
escassez de água (DAE, 2010).
Segundo a ONU, cada pessoa necessita de cerca de 2 milhões de litro
por ano para atender às suas necessidades de forma confortável. Contudo,
cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Goiás e Minas
Gerais apresentam uma oferta inferior a esta para alguns de seus habitantes.
(Planeta Orgânico, 2004).
A Amazônia, com a maior bacia fluvial do mundo, é a região menos
povoada do país; enquanto os grandes centros, locais mais povoados,
encontram-se distantes dos grandes rios brasileiros como o São Francisco, o
Paraná e o Amazonas (Moss e Moss, 2010a).
Desse modo, tem-se em torno de 70% de toda água superficial existente
no Brasil, principal forma de abastecimento de água do país, localizada na
região amazônica. Por outro lado, os 30% restantes encontram-se distribuídos
pelo país de forma heterogênea e destinados a abastecer cerca de 93% da
população (DAE, 2010).
- 36 -
Devido a essa grande heterogeneidade na distribuição, mostrada por
meio da figura 1.15, o Brasil apresenta menor disponibilidade de recursos
hídricos nas regiões mais populosas e industrializadas.
Enquanto um cidadão de Roraima tem acesso a 1,8 milhão de litro
anualmente, um Pernambucano tem acesso a muito menos. Nas regiões mais
populosas, onde se verifica maior consumo e poluição industrial, como o caso
da bacia do rio Tietê, região metropolitana de São Paulo, na qual muitos
habitantes têm acesso a um volume menor do que o recomendado pela ONU
como o necessário à vida saudável (Aldeodato, 2009c).
Recursos hídricos por região brasileira
8,0%
28,0%
42,3%
14,5%
7,3%
68,5%
3,3%6,0% 6,5%
15,7%
0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
60,0%
70,0%
80,0%
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Dis
trib
uiç
ão (%
)
População Recursos Hídricos
Figura 1.15 – Comparativo entre população e recursos hídricos por região
brasileira (IBGE, 2009; Montoia, 2006).
A região Norte com 68,5% da água superficial brasileira é junto com a
região centro-oeste, uma das regiões menos habitadas do país. Por outro lado,
a região nordeste, a mais árida e pobre do país é onde reside o maior problema
de escassez
Devido aos longos períodos de seca, a região nordestina, contribuiu de
significativamente para uma migração populacional intensa em direção os
- 37 -
grandes centros. Este fato, aliado a poluição, ao desperdício e ao manejo
inadequado dos mananciais, intensificou o problema da escassez de água nas
regiões Sul e Sudeste do país, locais onde residem cerca de 60% da
população brasileira (Castro e Scariot, 2005).
No Brasil, como na maior parte dos países, tem-se o setor agropecuário,
principalmente, a atividade de irrigação, como a atividade que mais consome
água. Segundo a figura 1.16, o uso humano responde por 21% e a indústria por
18 % dos usos no país.
Os usos da água no Brasil
Industrial; 18%
Humano; 21%
Agropecuário; 61%
Figura 1.16 – Distribuição do uso da água no Brasil por setores (ANA,
2009).
Além dessa formas consuntivas de utilização, devem ser lembrados os
usos múltiplos das bacias hidrográficas por meio da produção de energia,
navegação e pesca (De oho nos manaciais, 2010).
Com a intenção de resolver conflitos gerados pelo o uso da água, em
1977 foi criada a Lei das Águas (No 9.433/97). Esta lei institui a Política
Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e estabelece a criação do Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SNGRH), nos quais a água
é entendida como um bem de importância maior e os usos como o
abastecimento humano e a dessedentação são definidos como prioritários em
caso de situações de escassez e conflitos (De olho nos manaciais, 2010).
Agropecuário 61 %
Industrial 18 %
Humano 21 %
- 38 -
Além disso, essa lei prevê a gestão das bacias hidrográficas por meio de
recursos financeiros que devem ser gerados pela cobrança pelo uso da água e
empregados, de modo prioritário, na própria bacia (De oho nos manaciais,
2010).
- 39 -
CAPÍTULO II
AS CAUSAS DA FALTA DE ÁGUA
“Para gerar energia é preciso água. Para distribuir água é preciso energia. Os dois recursos limitam-se mutuamente e os dois estão se esgotando.Há uma saída?” Michael E. Webber (2009).
Destaca-se que entre as principais causas que intensificam o cenário de
escassez estão: o alto nível de degradação da qualidade da água alcançado
nos últimos 50 anos; o aumento exponencial e desordenado da demanda,
devido ao rápido crescimento demográfico, as irregularidades entre a
distribuição geográficas das disponibilidades hídricas quando comparado às
necessidades de consumo localizadas e o desperdício observado em toda
parte do globo. Além desses, deve-se citar a ação do aumento de temperatura,
observado pelo aquecimento global e o aumento na produção de energia,
principalmente, biocombustíveis.
Ao longo da história, o desenvolvimento industrial trouxe inventos
tecnológicos que transportam e controlam a água de forma a garantir maior
conforto e qualidade de vida a população; contudo, em paralelo, gerou a
capacidade de consumir, desperdiçar e poluir cada vez mais esse recurso.
(RDH, 2006).
O ciclo hidrológico garante que a água permaneça o seu processo de
reciclo, essencial à garantia da vida no planeta. Entretanto, a poluição que se
observa nos dias atuais pode ocorrer em qualquer fase desse ciclo seja por
meio do lançamento de esgotos domésticos, efluentes líquidos industriais nos
rios, lagos e oceanos; de agrotóxicos aplicados na agricultura, produtos de
aterros ou lixões, que aos serem carreados pela chuvas, atingem as águas
- 40 -
subterrâneas e, até mesmo, pelos efluentes gasosos, como aqueles expelidos
por veículos automotores. (SAPO, 2010)
Além da poluição que tem ocasionado a perda de muitas fontes de água,
o crescimento populacional e o desperdício tendem a contribuir
significativamente para redução da disponibilidade de água para o atendimento
das necessidades primárias à vida.
2.1. Desperdício e irregularidades na distribuição de água
Segundo Miller (2007), especialistas em recursos hídricos apontam que a
pouca valoração da água é a principal causa do desperdício. O subpreço
apresentado na forma de subsídio governamental, faz com que os usuários de
água não apresentem interesse em investir em tecnologias que economizem
água. Esses baixos preços contribuem com a questão cultural estabelecida em
anos de evolução, na qual se acredita que a água é um bem abundante e que,
por isso, pode ser desperdiçada.
Miller (2007) complementa ao afirmar que a segunda principal causa do
desperdício é a falta de subsídios governamentais que incentivem a melhora na
eficiência dos usos da água. Dessa forma, a retirada de subsídios que
estimulem o desperdício e o fornecimento de outros que, ao contrário,
incentivem o uso eficiente da água, reduziria significativamente o desperdício
desse recurso da forma como é observado no seu mal uso em todos setores:
doméstico, industrial e agropecuário.
Estima-se que em cada 100 litros de água em condições próprias para
consumo, 60 litros são perdidos por desperdício, isto é, maus hábitos de uso, e
distribuição ineficiente. Verifica-se que, em certos países, até 70% da água
proveniente de reservatórios seja perdida no escoamento por encanamentos
mal conservados. Essa perda no Brasil é calculado em 45% (Almanaque Abril,
2008 apud Planeta sustentável, 2008).
Nesse contexto, verifica-se que não é possível aumentar a quantidade de
água existente no planeta, no entanto, é possível e necessário evitar o
desperdício (DAE, 2010).
- 41 -
- Uso Doméstico
Como citado no capítulo 1, esse tipo de utilização da água corresponde a
cerca de 8% quando se analisa o quadro mundial. Entretanto, verifica-se que
quanto mais as pessoas elevam seu padrão de vida, mais esse consumo tende
a aumentar.
Contudo, não é somente o fator financeiro, o responsável pelo aumento
do consumo doméstico. Tem-se o desperdício gerado por uma questão cultural
que se estabeleceu a anos atrás, como um dos grandes problemas
relacionados ao consumo doméstico e municipal. A figura 2.1, mostra o
consumo dos principais usos da água em residências.
Durante muitos anos, as pessoas acreditavam que a água se tratava de
um bem infinito e que, por isso, poderia ser consumida indiscriminadamente
sem acarretar conseqüências. Acrescido a isso, tem-se a questão da valoração
do bem como um requisito importante para lhe seja atribuído o devido valor.
O consumo doméstico não precisa e não pode ser reduzido, o que deve
ser evitado é o desperdício associado a idéia de que a água é um recurso
barato e inesgotável. Na última década, por exemplo, o desperdício foi
responsável pela perda de cerca de 45 % de toda a água oferecida pelos
sistemas públicos de distribuição brasileiros. (ISA, 2005)
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%
Descarga em vaso sanitário
Limpeza
Cozinha e água de beber
Lavagem de roupa
Higiene Pessoal
Uso Doméstico da água
Figura 2.1 – Os principais usos domésticos da água (Clarke e King,
2005).
- 42 -
As discrepâncias são tão intensas entre as diversas localidades, que
demonstram que enquanto uns são obrigado a utilizar menos do que
necessitam, outros apresentam o privilégio de desperdiçar. Exemplo disso é o
comparativo que se tem ao verificar que volumes de água destinados às
residências e para abastecimento de áreas municipais variam de mais de 800
litros por dia no Canadá quando na Etiópia esse valor é de apenas 1 litro
(Clarke e king, 2005).
A utilização de aproximadamente 20 litros diários de água por pessoa
pode parecer um luxo em países em desenvolvimento, enquanto em nações
mais ricas, essa é quantidade de água usada para regar jardins (Clarke e king,
2005).
O fato de países pobres em recursos financeiros e água sobreviverem
com quantidades tão ínfimas desse bem não implica que outras partes do
mundo devam se adaptar ao mesmo nível de consumo. Isso significa;
entretanto, que o volume utilizado por países como o Canadá, citado no
exemplo acima, pode ser reduzido.
Segundo Clarke e King (2005), o consumo doméstico de água deve
aumentar significativamente até 2025, vide figura 2.2. E este é um dado
alarmante, quando se verifica que esse aumento deve ser acrescido do
quantitativo correspondente ao desperdício associado, se até este data a
consciência da população para o problema da escassez de água não for
alterada.
- 43 -
87
219
384
607
0100200300400500600700
1950 1980 2000 2025
Ano
Aumento do uso doméstico
Figura 2.2 – Distribuição anual de água em km³ para o consumo doméstico e
projeção para o ano de 2025 (Ckarke e King, 2005).
Vale ressaltar que o desperdício doméstico não reside apenas no uso
excessivo do bem pela população. Isso porque, o desperdício também é
observado nas redes de distribuição, nas quais cerca de 40% das águas
tratadas de países desenvolvidos são perdidas em vazamentos. Por meio
desses, uma parte da água perdida é devolvida para os depósitos
subterrâneos, rios e lagos; enquanto a maior parcela de perda é devido a
evaporação (Clarke e king, 2005). A figura 2.3 mostra fotos de vazamento em
rede de abastecimento, como muitas outros que são visivelmente percebidas
em diversos pontos da cidade.
- 44 -
Figura 2.3 – Fotos demonstrativas de vazamentos nos sistemas de distribuição
de água (Esquerda: Silveira, 2009 e Direita: Instituo SOS Rios do Brasil, 2009).
Esses vazamentos também são observados nas residências por meio de
problemas em tubulações internas, em descargas, máquinas de lavar, válvulas
e torneiras. A figura 2.4 demonstra o desperdício de água por uso inadequado
de torneiras.
Figura 2.4 – Demonstrativo do gasto devido ao uso inadequado de torneiras
(CEDAE, 2010).
Uma torneira pingando = 46 litros por dia
Um filete de 1 mm= 1.200 litros por dia
Um filete de 1,5 mm= 2.800 litros por dia
Um filete de 3 mm= 8.000 litros por dia
- 45 -
De acordo com uma matéria do Jornal Globo de 24/05/2010, um cano
com buraco de 2 mm desperdiça, diariamente, até 3.200 litros de água,
quantidade que seria suficiente para a dessedentação de uma família
constituída por quatro pessoas por cerca de um ano e um mês. Enquanto, esse
mesmo vazamento ocasiona um gasto mensal de 96.000 litros, valor suficiente
para atender a mesma família por quase 33 anos.
Dessa forma, o conjunto formado por maus hábitos e por instalações
pouco conservadas tende a agravar o desperdício de água no que corresponde
ao consumo doméstico.
- Uso Industrial
Assim como o uso doméstico, a atividade industrial também é
responsável por um elevado consumo de água. Entre os grandes
consumidores industriais estão as indústrias química e petrolífera, as de papel
e celulose, as de metal e de madeira e as de processamento de alimentos e de
maquinário (Clarke e King, 2005).
Embora mais da metade dessa utilização seja empregada para produção
de energia em usinas hidrelétricas, onde a maior parte da água usada retorna
inalterada para sua fonte; uma parcela significativa do uso industrial não é
reaproveitada (Clarke e King, 2005). Essa parcela é composta pela água
virtual, conforme já definido no item 1.4 desse trabalho e pela água constituinte
de efluentes industriais não tratados.
A água contaminada residual das indústrias pode ser tratada e
reaproveitada, tratada e lançada em corpos d’água ou, simplesmente,
despejada nesses sem qualquer espécie de tratamento anterior. Essa última
postura é responsável pelo aumento da poluição dos corpos hídricos e,
consequentemente, pela redução da quantidade de água disponível para
consumo.
Além disso, o não tratamento dos efluentes industriais constitui uma
forma de desperdício de recursos que poderiam ser reutilizados após o devido
- 46 -
tratamento, mesmo que apenas como fluido de limpeza, aquecimento e
resfriamento de unidades.
Outra forma de desperdício também observada no setor industrial é a
existência de vazamentos ocasionados por tubulações e redes de transporte
interno mal conservadas.
Estima-se que o problema de desperdício de água pelo consumo
industrial tenderá ao agravamento se as indústrias não buscarem o
desenvolvimento de processo produtivos mais eficientes, visto que conforme a
figura 2.5, há a projeção de que esse tipo de uso da água apresente um
aumento vertiginoso nos próximos anos, à medida que mais países se
industrializam (Clarke e King, 2005).
204
713 776
1170
0
200
400
600
800
1000
1200
1950 1980 2000 2025
Ano
Aumento do uso industrial
Figura 2.5 – Distribuição anual de água em km³ para o consumo industrial
e projeção para o ano de 2025 (Ckarke e King, 2005).
Com o objetivo de reduzir o desperdício por meio da reutilização das
águas usadas, alguns países estabeleceram técnicas de tratamento de
esgotos domésticos e industriais, que os deixam em estado passível de serem
reaproveitados em usos menos nobres e, dessa forma, contribuem para que
- 47 -
esses efluentes não sejam despejados sem tratamento em rios e represas
(Moss e Moss, 2010 b).
Um exemplo disso é caso de Israel que emprega, desde 1987, mais de
30% de suas águas urbanas, após tratadas, em suas atividades de irrigação.
Além disso, vale citar que esse país tem a intenção de aumentar para 80%
esse percentual.
- Uso Agropecuário
Considera-se que a atividade agrícola apresenta um dos mais graves
potenciais de desperdício, visto que utiliza 70% da água doce de lagos, rios e
aqüíferos.
Além disso, tem-se a pecuária com uma demanda significativa de água,
que precisa ser utilizada para a manutenção do rebanho, no preparo dos cortes
e na produção de derivados, como o leite e ovos. Dessa forma, tem-se que o
desperdício de comida está intimamente associado ao desperdício da água
utilizada em qualquer etapa de sua produção (UNESCO, 2007b).
Segundo Miller (2007), cerca de 60% da água aplicada na irrigação não
chega às plantações e, consequentemente, não contribuem para produção de
alimentos. As águas superficial ou subterrânea encaminhadas para esse fim
seguem pela ação da gravidade por valas sem coberturas, a fim de que as
culturas possam absorvê-las.
No entanto, esse método de irrigação conhecido por “irrigação por
alagamento” fornece mais recurso do que o necessário e as perdas por
vazamento, escoamento ou evaporação, respondem por cerca de 40% do
volume original de água utilizado (Miller, 2007).
Os países industrializados respondem por 25% das lavouras irrigadas,
enquanto uma grande parcela dos países em desenvolvimento utilizam para
fins de irrigação, cerca de 40 % de suas águas doces renováveis (Clarke e
King, 2005).
- 48 -
Além do desperdício, outro problema gerado pelo grande consumo de
água na irrigação é que, no caso de drenagem inadequada da terra, os campos
podem encharcar, ocasionando o aumento do nível de sais no solo e causando
a esterilização do mesmo (Clarke e King, 2005).
Com o objetivo de reduzir o consumo de água para irrigação, deve-se
adotar, quando possível, cultivo de culturas que exijam menor quantidade de
água. Além disso, deve-se utilizar técnicas que permitam o manejo mais
eficientes desse recurso. (Clarke e King, 2005; Miller, 2007).
O desenvolvimento de técnicas que tratem e reaproveitem esgotos
domésticos e industriais para destiná-los à agricultura é um meio significativo
para a redução do desperdício dos setores de forma interligada.
Dessa forma, possibilita que águas contaminadas provenientes dos dois
primeiros setores sejam reutilizadas e, não mais, desperdiçadas; além de
assegurar que a irrigação consuma menos águas provenientes de corpos de
água e as desperdice através de seus métodos de manejo, mesmo quando
aplicado o mais eficiente deles, aquele nos quais já existe uma redução de 5 a
20% do desperdício (Miller, 2007).
A perspectiva de crescimento do setor agrícola foi tratada no item 1.4;
enquanto a discussão sobre a utilização de diferentes tipos de métodos de
manejo no setor agrícola será tratada no capítulo 4 deste trabalho.
Assim, o setor agrícola, como o maior consumidor de água no mundo,
precisa administrar melhor suas formas de utilização desse recurso. Caso isso
não ocorra, a procura mundial por esse bem indispensável à sobrevivência
deverá crescer entre 70% a 90% até o ano de 2050 (Zenker, 2009).
De acordo com a figura 2.6, verifica-se que, ao longo dos anos, não é
somente a quantidade de água consumida pelos diferentes setores da
economia que apresenta tendência ao crescimento. Observa-se que há em
cada setor um aumento na discrepância entre a água extraída das fontes (rios,
lagos e fontes subterrâneas) e aquela que efetivamente consumida.
- 49 -
Figura 2.6 – Projeção do uso da água discriminado em extração e
consumo (UNEP, 2008d).
Os gráficos da Figura 2.6 retratam em cinza as diferenças existentes
entre a água extraída para atender as necessidades dos diferentes econômicos
e aquela que é efetivamente consumida. Água extraída: aquela retirada dos
corpos hídricos, que corresponde a soma das parcelas consumida,
reaproveitada, perdida por evaporação e devolvida aos mesmos, independente
de estar ou não degradada, isto é, toda a água retirada com a intenção do
consumo. Água consumida: parcela efetivamente utilizada no atendimento da
demanda de consumo (UNEP, 2008d).
Essa tendência evidencia a má utilização desse recurso, isto é, mostra
que é extraído mais do que o necessário para atender a demanda de consumo
nos diferentes setores econômicos. Em suma, verifica-se a necessidade de que
a utilização da água seja realizada com maior eficiências, de modo que as
perdas sejam reduzidas e o reaproveitamento seja uma ação mais presente e
eficaz.
- 50 -
2.2. Crescimento Populacional
A ONU afirma que a prospecção de água potável triplicou nos últimos 50
anos e atribui isso ao crescimento da população mundial. Esse aumento
demográfico é responsável por um incremento anual do equivalente a 64
milhões de metros cúbicos na procura por água (zenker, 2009). Soma-se o
aumento do padrão de vida da população trazido pelo desenvolvimento, fato
que responde por um consumo maior de água, já que esse recurso precisa ser
utilizado na produção de bens, desde aqueles destinados a necessidades
primárias, como alimentos, até aqueles mais sofisticados e, algumas vezes,
supérfulos.
A figura 2.7 demonstra que a extração de água para atender as diversa
atividades realizadas para atender a demanda mundial está diretamente
relacionada ao crescimento populacional.
Figura 2.7 – Comparativo entre crescimento populacional e extração de
água para consumo (WWAP, 2010).
- 51 -
Figura 2.8 – Projeção do crescimento populacional até 2050 (BBC-News,
2009)
Como observado na figura 2.8, a população mundial cresce a grandes
passos e, em conseqüência, esgota gradativamente os recursos hídricos do
planeta. Em seu relatório anual de população para 2001, a ONU afirma que os
recursos estão sendo consumidos com maior intensidade do que em qualquer
outro momento da história humana.(Lovell, 2001).
Para agravar a situação, todo o crescimento esperado ocorrerá em um
mundo onde as reservas já podem ser consideradas super-exploradas.
Segundo dados da ONU para 2025, as captações de água devem aumentar
em 50% nos países em desenvolvimento e 18% nos países desenvolvidos.
Além disso, em 2050, a água terá que atender a sistemas agrícolas e meios de
subsistência para uma população adicional equivalente a cerca de 2,7 bilhões
de pessoas. (RDH, 2006). A situação de exploração das bacias mundiais é
mostrada no anexo IV.
Contudo, enquanto há um aumento da população e, consequentemente,
de suas necessidades; a quantidade de água no planeta permanece inalterada
(figura 2.9). Quanto mais pessoas, maior o consumo de água para matar a
- 52 -
sede, para produção de grãos e carnes, para o uso doméstico e para atender a
demanda da indústria cada vez mais desenvolvida no cenário mundial.
Além do aumento do consumo de água devido ao crescimento
populacional, tem-se o aumento per capita trazido pelo desenvolvimento
econômico, isto é, não somente há um aumento da quantidade de pessoas,
como as pessoas estão consumindo mais. Conforme Clarke e King (2005),
tem-se o consumo médio diário de cerca de 1.700 litros de água por pessoa
crescendo em direção a um valor cada vez maior, enquanto a quantidade de
água permanece inalterada.
Figura 2.9 – Comparativa entre a quantidade de pessoas e de água ao
longo dos anos (WWAP, 2010).
Além disso, observa-se que o crescimento populacional é mais
significativo em regiões, como África e Ásia (figura 2.4), nas quais já há uma
tendência a pouca disponibilidade de água. Sabe-se que os países localizados
nas regiões mais secas desses dois continentes estão entre os mais carentes
de água no mundo (Clarke e King, 2005).
Mais de 1 bilhão de pessoas ainda não têm acesso fácil a uma fonte de
água confiável para atender as suas necessidades básicas e a tendência é o
- 53 -
agravamento desse cenário frente ao crescimento populacional esperado para
os próximos anos (Clarke e King, 2005).
Nesse contexto, deve-se considerar que uma parcela significativa da
população mundial não possui uma torneira em casa e precisa carregar baldes
ou latas, quase diversas vezes em um mesmo dia. Desse modo, as pessoas
que precisam carregar água consomem apenas cerca de cinco litros diários
desse recurso, quantidade capaz de atender a dessedentação, mas insuficiente
para a higiene pessoal; para limpeza de roupas, louças e panelas,
necessidades também consideradas básicas para a sobrevivência (Clarke e
King, 2005).
Para exemplificar o mencionado, tem-se o fato de que na África, mulheres
gastam mais de cinco horas por dia na coleta de água, após caminharem até
longos percursos, acompanhadas de crianças pequenas. Vale citar ainda, que
nesses locais, crianças precisam acordar antes de amanhecer para buscar
água, atividade que as deixam muito cansadas para o bom aproveitamento
escolar (Clarke e King, 2005).
Além disso, nessa busca por água, muitas vezes, há a utilização de
fontes não confiáveis, como tanques abertos, usado por animais e poços
perigosamente fundos. E mesmo quando há a possibilidade de utilizar uma
fonte de água pura, as mulheres precisam caminhar longas distâncias para
coletar o sustento hídrico diário de sua família (Clarke e King, 2005).
Enquanto se verifica o aumento da população em locais menos
desenvolvidos, com menos acesso a água; os continentes mais desenvolvidos,
como América do Norte, Europa e Oceania, que possuem melhor infra-
estrutura para suprir sua população de água tratada e canalizada, apresentam
ligeiro ou nenhum aumento populacional.
O acesso a fontes de água pura por porcentagem da população mundial
é mostrado pela figura 2.10. Verifica-se que os locais mais carentes são alguns
países africanos e uma parcela do Oriente Médio, locais onde o clima seco
contribui para a pouca disponibilidade de água, mesmo impura. Vale citar que
- 54 -
esse quadro tende a ser agravado pelo crescimento populacional esperado
para os próximos anos, aliado ao consumo insustentável desse bem.
Figura 2.10 – O mapa ilustra a % da população com acesso à fontes de
água pura (UNEP, 2008c).
Como indicado no gráfico acima, a África Subsaariana é a região que
apresenta o menor acesso a água potável, apresentando cerca de apenas 60%
da população servida por esse tipo de bem (UNESO, 2007a).
De acordo com Clarke e King (2005), cerca de 500 milhões de pessoas
vivem em países com escassez crônica de água, enquanto 2,4 bilhões vivem
em locais onde o sistema hídrico já se encontra ameaçado.
- 55 -
Junto ao crescimento populacional, a urbanização e a industrialização
agravam o consumo de água. Isso é explicado pela mobilidade da população
rural, acostumada a retirar a quantidade de água necessária ao seu consumo
diário de um poço de aldeia, em direção aos grandes centros urbanos, nos
quais passam a viver em residências com canalização de água e, que devido a
nova facilidade de acesso, triplicam seu consumo (CETESP, 2001).
Além dos fatos apresentados, deve-se considerar que o crescimento da
população ocasiona o aumento do desperdício e da poluição, que ao alterar o
aspecto qualitativo dos corpos hídricos, responde como um fator importante na
redução do seu quantitativo, isto é, sua disponibilidade em condições
necessárias ao uso humano. Dessa forma, há o aumento da contribuição para
o quadro de escassez esperado.
2.3. Poluição das águas
Não são apenas o crescimento do consumo e má utilização da água que
ocasionam sua escassez gradativa, mas também a má qualidade, determinada
pela poluição das reservas ainda disponíveis (SBPC/Labjor Brasil, 2000).
A poluição se dá pelo lançamento e acúmulo, nos corpos hídricos, de
esgotos domésticos, resíduos de lixões e despejos industriais, além de adubos
químicos, agrotóxicos e dejetos utilizados nas atividades agrícolas, cada vez
mais industrializadas (Batista, 2008; Clarke e King, 2005).
A gravidade da contaminação das águas não está somente na
intensificação da escassez, mas também na ocorrência de inúmeros outros
problemas, como a ocorrência de enchentes e de doenças causadas pelo uso
de água contaminada (SBPC/Labjor Brasil, 2000).
Segundo o capítulo 18 da agenda 21 do Plano Mundial de Metas
Ambientais estabelecido pela ECO 92, cerca de 80 % das doenças de origem
hídrica e mais de um terço das mortes de países em desenvolvimento são
causadas pelo uso de água contaminada (SBPC/Labjor Brasil, 2000).
Um aspecto que intensifica a ocorrência da poluição é o crescimento
populacional. Um exemplo, foi o crescimento da cidade do Rio de janeiro e das
- 56 -
áreas vizinhas, que acarreta uma carga diária de, aproximadamente, 400
toneladas de esgoto doméstico, além de 64 toneladas de lixo industrial
orgânico, 300 quilos de metais pesados e 7 toneladas de óleo. Todos esses
rejeitos contribuem para tornar a Baía de Guanabara um corpo hídrico
altamente contaminado (Pinotti, 2007).
Outro fator que agrava a poluição é pouca eficiência das redes de
distribuição de água. Além dos vazamentos já tratados no item 2.1, há a
ineficiência na coleta do esgoto gerado, ocasionada pela ausência de um
saneamento básico adequado. Assim, tem-se que 90 % do esgoto doméstico e
70 % dos efluentes industriais sendo lançados em rios, lagos e águas
litorâneas, sem qualquer forma de tratamento prévio (Gomes, 2010).
Esse quadro afeta, principalmente, os países em desenvolvimento, nos
quais a falta de saneamento adequado para toda a população e a negligência
quanto o destino dado aos rejeitos agrícolas e industriais fazem com cerca de
50 % da população esteja exposta a fontes de água contaminadas.
Outro ponto a ser discutido quando se trata de poluição de recursos
hídricos é a degradação das águas subterrâneas, que ocorre pela dissolução e
carreamento para o subsolo de resíduos acumulados em depósitos sem o
devido tratamento (SBPC/Labjor Brasil, 2000).
Contudo, o fato desses tipos de reserva hídrica serem enormes estoques
inertes, os quais são imunes à ação do sol, da atmosfera e da maioria dos
microorganismos, torna sua poluição um processo de difícil ação reversa
(Pinotti, 2007). Por esse motivo, os locais de escavação de poços e as áreas
do entorno devem ser cuidadosamente escolhidos para que esse tipo de
contaminação seja evitada (SBPC/Labjor Brasil, 2000).
Segundo Pinotti (2007), os Estados Unidos executam um intenso trabalho
com o objetivo de limpar aqüíferos contaminados. O método que eles utilizam
consiste em puxar a água para superfície, a fim de tratá-la e reinjetá-la.
Entretanto, segundo especialistas, a limpeza total da maioria dessas reservas é
uma tarefa quase impossível.
- 57 -
Exemplo de corpos hídricos poluídos são os rios Madeira, Cuiabá e
Paraguai, na região amazônica e no Pantanal, que já apresentam
contaminação por mercúrio, metal proveniente de garimpo clandestino e por
uso de agrotóxico nos campos de lavoura. Além desses, pode-se citar o caso
do rio Tietê e Pinheiros, localizados na grande São Paulo e do rio Guaíba,
localizado em Porto Alegre; cujo comprometimento da qualidade é devido as
intensas quantidades de esgotos de origem doméstico e industriais, além das
conseqüências trazidas pelo uso de agrotóxicos e fertilizantes (DAE, 2010).
Na china, em 2007, o governo assumiu que 70 % das reservas de água
do país encontram-se intensamente contaminados. Entre eles estão os lagos
Taihu e Chaochu (terceiro e quinto, respectivamente, em termos de capacidade
no país) e rios importantes, como o Yang-Tsé e o Amarelo. Tem-se, dessa
forma, a poluição das águas como um fator extremamente considerável como
causador da falta de um abastecimento adequado no país (Pujol, 2010).
A figura 2.11 apresenta fotos ilustrativas de casos de poluição
alarmantes.
Figura 2.11 – Fotos demonstrativas de poluição de corpos hídricos
(Esquerda: homem pescando em águas contaminadas na China (Pujol, 2010);
e Direita: espuma observada no rio Tietê, na cidade de Salto, a 101km de São
Paulo (Pessoa, 2008)).
- 58 -
Entre os poluentes mais comuns destaca-se o nitrato, proveniente da alta
concentração de nitrogênio em esgotos domésticos, em fertilizantes e nos
dejetos das atividades pecuárias. Esse contaminante afeta, de forma intensa,
regiões como Estados Unidos, China, Índia e Europa Ocidental, devido a alta
densidade populacional e o uso intensivo da terra em atividades agropecuárias.
Vale citar que no norte da china, o nível de nitrato correspondia a 50 mg/l em
1995, valor que já ultrapassava, há 15 anos atrás, o limite máximo estipulado
pela Organização Mundial de Saúde (OMS) equivalente a 45 mg/l (Pinotti,
2007).
Segundo Clarke e King (2005), alguns outros focos de poluição de
corpos hídricos devido a presença de nitratos que merecem destaque, são:
- Na Dinamarca, os níveis de nitrato em suas águas subterrâneas que
quase triplicaram desde a década de 1940;
- No Centro da Nigéria, o descarte de dejetos humanos e de animais
ocasionou um aumento de 50 a 500 mg/l desse poluente próximos as
pequenas cidades;
- No Canadá, o aqüífero Abbotsford-Sumas apresenta níveis de nitratos
que ultrapassam os limites estabelecidos pelo padrão de saúde do país;
- Nas Ilhas Canárias, Espanha, o uso nitratos destinado às plantações de
banana foi responsável pelo poluição de poços com cerca de 70-265 mg/l
desse poluente;
- Na índia, qualquer dos 14 sistemas fluviais encontram-se poluídos. Em
Deli, 200 milhões de litros de resíduos são despejados diariamente no rio
Yamuna (RDH, 2006);
- Na Malásia e Tailândia, o nível de poluição é tão grande que os rios
contêm, frequentemente, 30 -100 vezes mais a porcentagem de agentes
patogênicos permitida pelos limites necessários à saúde (RDH, 2006);
- No Brasil, o rio Tietê, em São Paulo, apresenta elevados teores de
poluição por efluentes não tratados e altas concentrações de metais pesados
(RDH, 2006).
- 59 -
Entre outros poluentes podem ser destacados os poluentes orgânicos,
que esgota o oxigênio vital à água; alguns metais pesados, como mercúrio e
chumbo; o DDT e os POPs (poluentes orgânicos persistentes). Estes últimos,
permanecem estáveis por longos períodos no meio ambiente e são
responsáveis por percorrer a cadeia alimentar e causar graves danos à saúde
(Clarke e King, 2005)..
Como exemplo tem-se o DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano), pesticida
famoso, que já foi banido em muitos países, tais como os Estados Unidos que
proibiu sua utilização há 30 anos atrás. Contudo, apesar de todos esses anos
passados, esse contaminante ainda pode ser encontrado em lençóis freáticos
do país. Em um levantamento realizado no meio da década de 1990 constatou-
se ainda haver a presença desse poluente em 60 % dos poços analisados em
áreas de lavoura (Pinotti, 2007).
Nesse contexto, a poluição dos corpos hídricos aparece como um fator
agravado pelo crescimento populacional e, também, como um fator que aliado
a esse crescimento é determinante para que se atinja o quadro de escassez
hídrica que já pode ser observado em alguns países. Isso porque, as águas
poluídas são não podem ser consideradas disponíveis para consumo, visto que
sua utilização pode acarretar em doenças graves á saúde de qualquer espécie
viva.
A degradação das águas apenas reafirma o cenário de consumo
insustentável desse recurso que, por esse motivo, contribui significativamente
para a iminência do pico da água.
Assim, o ideal é que sejam utilizados métodos de tratamento das águas
usadas para que possam retornar as condições de consumo, para fins de
reutilização, ou para que possam ser lançadas às suas fontes sem causar
danos ao corpo hídrico receptor, de forma a possibilitar o uso pelas futuras
gerações.
Além disso, o uso eficiente e o reuso da água constituem um modo de
ampliar o número de pessoas com acesso a um sistema de abastecimento sem
a necessidade de grandes investimentos (Franco Jr., 2007).
- 60 -
Os dados abaixo são alarmantes e mostram a importância de que a água
seja utilizada de forma racional, isto, de maneira que o desperdício e a poluição
sejam evitados (Moss e Moss, 2010a).
- Mais de um bilhão de pessoas não têm acesso a água potável no
planeta;
- Cerca de 40 % da população mundial sobrevive em condições de
ausência de saneamento básico;
- Por volta de 6 mil crianças morrem todos os dias por doenças
relacionadas a poluição e escassez de água, seja pelo consumo de água
contaminada, por problemas de higienização, ou mesmo, desidratação;
- Cerca de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo consome água
contaminada.
2.4. Aquecimento global
A ONU prevê que entre as causas da escassez hídrica, a alteração
climática, ocasionada pela ocorrência do aquecimento global, tenderá a
agravar às condições limite do quantitativo de água já observada em algumas
partes do mundo. Mesmo os locais, que ainda não apresentam problemas
relacionados à escassez desse recurso, terão uma redução dos níveis de água
de seus reservatórios pelo efeito do aumento da temperatura (Zenker, 2009).
A ação do aumento da temperatura está na elevação dos índices de
evaporação observados. A figura 2.12 mostra que a evaporação dos
reservatórios se destaca em uma curva ascendente ao longo dos anos, assim
como já observado para os dados de consumo doméstico e industrial da
população no mundo.
No setor agrícola, por exemplo, uma alta de temperatura e,
consequentemente, o aumento de perdas por evaporação de culturas poderá
acarretar um aumento da demanda por água para irrigação (IPCC, 2007 APUD
Freitas, 2009).
- 61 -
Dessa forma, o aquecimento global e, consequentemente, a elevação da
quantidade de água evaporada, atua por aumentar o teor da água no estado
vapor presente na atmosfera e, assim contribui para a redução da
disponibilidade do recurso em condições físicas que permitam o seu uso.
Figura 2.12 – Elevação da evaporação dos reservatórios ao longo dos
anos, determinado pelo efeito do aquecimento global. (UNEP, 2010).
As maiores taxas de evaporação ocasionarão a presença de secas mais
intensas ao redor do mundo. Oásis deixarão de existir, desertes aumentarão
sua extensão de área, o fluxo de rios será reduzido. Como exemplo, pode-se
citar a previsão de declínio de 40 % no fluxo do rio Indo, rio de grande
importância por estar entre os grandes sistemas mundiais de irrigação, além de
ser a única fonte de água do Paquistão (PUBLIFOLHA, 2009).
Outros exemplos de previsões de seca são: a redução de 30 % no fluxo
do rio Niger, no oeste da África; de 10 % do rio Nilo, importante fonte de água
- 62 -
no Egito e Sudão e de metade do fluxo de alguns rios australianos
(PUBLIFOLHA, 2009).
Nesse contexto, modelos de alterações climáticas que vêm sendo
analisado indicam que continentes como Europa, América do Norte e Austrália
irão aumentar suas extensões de secas. Enquanto o Grande lago Salgado, nos
Estados unidos, e os lagos Chade, Tanganica e Malauí, no Canadá,
apresentam o riso de deixarem de existir (PUBLIFOLHA, 2009).
2.5. Consumo de água para produção de energia
A demanda de água no setor energético é grande, pois as principais
fontes de energia, tanto as usinas que queimam combustíveis fósseis, como
as nucleares e termelétricas consome muita água, que ao ser extraída para fins
de produção de energia, tem seu fornecimento alterado para a população,
agropecuária e indústria (Webber, 2009).
O problema das alterações climáticas, que segundo algumas teorias, é
proveniente do aumento da presença de gases estufa na atmosfera terrestre,
causa o estímulo a uma modificação da matriz energética mundial.
Os Estados Unidos, por exemplo, definiram que a melhor forma de
acabar com seus problemas de segurança e energia é acabar com a
dependência do petróleo importado. Como o setor de transportes é o maior
dependente do petróleo e, o maior emissor de carbono, deve apresentar
algumas mudanças quanto ao combustível que passará a utilizar (Webber,
2009).
Entre as escolhas preferidas, por questão de eficiência e custo, estão a
eletricidade para os automóveis elétricos e os biocombustíveis (Webber, 2009).
Estudos feitos pela University of Texas, em Austin, concluíram que a
geração de energia elétrica para um automóvel elétrico ou híbrido consome até
10 vezes mais água e até 3 vezes mais água por quilômetro do que o
necessário para a produção de gasolina para um carro (Webber, 2009).
- 63 -
A tabela 2.1 apresenta o volume de água, em litros, necessário para gerar
um megawatt por hora de energia elétrica.
Tabela 2.1 – A quantidade de água necessária para gerar eletricidade (um
megawatt por hora)
Volume de água gasto na geração de energia elétrica em megawatt por hora
Ciclo combinado de gás e vapor 28 mil – 75 mil
Carvão e petróleo 0 -190 mil
Nuclear 95 mil -230 mil
Segundo Webber (2009), os biocombustíveis são as piores fontes
energéticas em termos de consumo de água. Segundo pesquisas, o ciclo
completo da produção, desde a irrigação dos grãos até o abastecimento do
carro, tende a consumir cerca de 20 vezes ou mais água para cada quilômetro
percorrido do que a produção de gasolina.
Apesar disso, o consumo desse tipo de fonte energética vem sendo muito
estimulado atualmente, conforme pode ser verificado nas reportagens do
Anexo V.
Por outro lado, a produção de água consome cada vez mais energia,
tanto para extração de lençóis freáticos e aqüíferos, para distribuição através
de dutos, para tratamento de efluentes e processos de dessalinização
(Webber, 2009).
Vale citar que, esses dois últimos usos são cada vez mais intensos, dado
os altos níveis de poluição apresentados atualmente pelos corpos hídricos e a
falta de disponibilidade desse recurso, já observada em alguns locais, nos
quais técnicas para dessalinizar água dos oceanos e mares já estão sendo
aplicadas. A tabela 2.2 dispõe dados sobre o consumo médio de energia para
distribuir 3,7 milhões de litros de água limpa (Webber, 2009).
- 64 -
Tabela 2.2 – Energia necessária na distribuição de água.
Energia, em quilowatts-hora, para a distribuição de 3,7 milhões de litros de água.
Extração de água limpa de lagos ou rios 1.400
Extração de água limpa de lençóis
freáticos 1.800
Tratamento e distribuição de efluentes
líquidos contaminados 2.350 – 3.300
Dessalinização e distribuição da água 9.780 – 16.500
Dessa forma, verifica-se que um pico na produção de petróleo, principal
fonte de energia atual, agravaria a situação de pico de água eminente, isto é,
escassez hídrica gerada pelo consumo maior e mais rápido do que a natureza
consegue repor.
Vale lembrar, que se a falta do petróleo pode ocasionar problemas
globais ao desenvolvimento econômico da sociedade, a falta de água poderá
acarretar danos não somente a economia, mas vida. Isto porque, a água não é
somente um bem necessário, é um recurso essencial.
De acordo com Webber (2009), uma forma de tratar esse paradoxo
existente entre água e energia é a integração entre os setores reguladores de
ambas, pois como os dois recursos são extremamente interdependentes, há a
necessidade que seus gestores tratem os mesmo com base em decisões
conjuntas.
- 65 -
CAPÍTULO III
O PICO DA ÁGUA
“Água Potável, um bem cada vez mais precioso”
Rafael Pinotti (2007).
O verso do poema do Velho Marinheiro de Samuel Coleridge retrata
claramente o problema do abastecimento mundial de água doce (RDH, 2006):
“Água, só vejo água por toda a parte, e nem uma só gota que se beba”
A escassez de água no planeta tem assumido papel de destaque em
algumas reuniões mundiais. Isso porque não é um problema de ação futura,
mas algo que já sendo observado no mundo cotidiano.
Segundo especialistas, a água está se tornando uma commodity em crise
e, no máximo em 20 anos, existirá uma crise semelhante à ocorrida com o
petróleo norte-americano em 1973 (Grassi, 2001).
Conforme citado, o pico da água pode ser tratado fazendo-se uma
analogia ao pico do petróleo previsto pelo geofísico Marion King Hubbert, que
verificou a ocorrência de um declínio da produção de petróleo nos estados
americanos entre os anos de 1950 e 1970 (Rifkin, 2003).
Como na época da previsão, os EUA apresentavam uma produção
recorde de petróleo, muitos geólogos e companhias energéticas duvidaram de
sua proposição. Contudo, apesar do descrédito percebido pelo geofísico, sua
previsão foi concretizada e a produção norte-americana atingiu realmente um
pico na década de 1970, ponto a partir do qual foi observada uma queda
quanto fora sua subida, que a curva correspondente assume o formato de um
sino (Rifkin, 2003).
Segundo Hubbert, a extração do petróleo iniciou-se lentamente e foi
acelerada de forma rápida; entretanto, após essa fase, passa a presentar um
- 66 -
retardamento devido a descoberta e exploração dos maiores campos. Após
isso, tornava-se mais dificultoso localizar campos menores, ao passo que a
perfuração e o processamento dos poços já existentes ficavam cada vez mais
caros (Rifkin, 2003).
Além disso, quanto maior a drenagem dos campos maiores, maior era a
dificuldade em bombear o óleo restante para a superfície. Dessa forma, pode-
se dizer que foras o declínio nas descobertas e na produção dos campos
existentes, aspectos responsáveis pela ocorrência do quadro de pico (Rifkin,
2003).
Com base nisso, pode ser feita uma analogia entre o pico do petróleo e o
pico da água. Neste contexto, esse último pode ser observado como o início de
uma situação de escassez desencadeada pela combinação de dois aspectos
relacionados a degradação dos recurso hídricos: a redução da sua quantidade
e a alteração de sua qualidade, conforme detalhado no capítulo 2 desse
trabalho.
Figura 3.1 – Gráfico representativo do pico da água similar a curva em
forma de sino observada por Hubbert para o petróleo.
- 67 -
É importante citar que a água, diferente do petróleo, é um bem renovável,
caracterizado pela existência do ciclo hidrológico. Todavia, o homem tem sido
responsável por consumi-la de forma muito mais rápida do que a natureza é
capaz de repor. Isso porque a renovação das fontes hídricas pode levar até um
século ou milênio, sendo necessário para tanto, mais de uma geração da
espécie humana.
Assim, verifica-se que o aumento do consumo e do desperdício da água
potável, adicionado a poluição de muitas fontes, além do agravamento da
disponibilidade devido às alterações climáticas, têm contribuído para que a
demanda por esse bem tenha superado gradativamente a quantidade ofertada.
É em função disso, que se justifica a existência de um ponto crítico mundial,
isto é, uma crise silenciosa, a crise hídrica.
Segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano de 2006, hidrologistas
calculam o grau de risco de escassez de um determinado local através de uma
análise da equação água por população.
Convencionou-se adotar 1.700 metros cúbicos por pessoa como o limite
mínimo para que sejam atendidas as necessidades dos usos agrícola,
industrial e doméstico. Além disso, tem-se que uma quantidade de água inferior
a 1.000 metros cúbicos já pode ser considerada uma situação de escassez
hídrica e que um valor abaixo de 500 metros cúbicos é considerada escassez
absoluta (RDH, 2006).
A figura 3.2 mostra a elevação do grau de escassez observado por
quantidade de pessoas até o ano de 2050 (RDH, 2006).
- 68 -
Figura 3.2 – Quantidade de pessoas
atingidas pela situação de pressão ou
escassez em relação aos recursos
hídricos (RDH, 2006).
Atualmente, já existem cerca de 700 milhões de habitantes em 43 países
que sobrevivem em condições inferiores ao limite mínimo considerado como
falta de água (RDH, 2006). Estima-se que esse número tenderá a aumentar
para 5 bilhões até 2025 (PUBLIFOLHA, 2009).
A figura 3.3 mostra que o mundo está entrando em uma região de stress
hídrico, uma combinação de aspectos ambientais (como problema de
estiagem) e socioeconômicos (como o rápido crescimento demográfico).
Contudo, existem regiões em que já foi atingido inclusive o quadro de escassez
(Almanaque abril, 2008 APUD Planeta Sustentável, 2008).
- 69 -
Figura 3.3 - Curva de disponibilidade de água no mundo projetada para
2050 (Kanitz, 2008).
Entre as regiões mais atingidas, tem-se o Oriente Médio com uma
reserva de 1.200 metros cúbicos por pessoa. Nessa região apenas Iraque,
Líbano, Irão e Turquia encontram-se acima do limite inferior. Enquanto isso,
Palestinos são obrigados a viver sobre condições críticas de escassez, visto
que possuem somente cerca de 320 metros cúbicos disponibilizados por
pessoa (RDH, 2006).
Vale mencionar o exemplo da África Subsariana, na qual quase um
quarto da população habita países que convivem com a falta de água, número
que se encontra em ascendência significativa (RDH, 2006). Até mesmo o
Brasil, apesar de sua grande reserva de água doce, não está imune a
ocorrência de escassez, dado seu padrão de desperdício e os altos níveis de
poluição apresentados por muitos de seus principais corpos hídricos.
A figura 3.4 mostra a pressão sobre os recursos hídricos e seu
crescimento acelerado em várias regiões do planeta, incluindo dados
projetados até o ano de 2050, caso não haja alteração na forma como a água
tem sido encarada até os dias atuais.
- 70 -
Figura 3.4 – Condições de pressão e escassez observada nas várias
regiões do planeta (RDH, 2006).
Outro fator observado pela figura 3.4 é o fato que regiões como América
Latina, Caribe, Ásia Oriental e Pacífico apresentarão suaves sintomas de
pressão, mas não tenderão a atingir a escassez até 2050. Escassez essa que
será atingida por locais como Países Árabes, África Subsariana e,
principalmente, Ásia do sul.
Outro fator que deve ser analisado, figura 3.4, é o fato de que embora
haja queda da disponibilidade de água por pessoa em todos os locais, pois a
falta desse recurso atinge todo o planeta; esse declínio é observado em níveis
que variam com o desenvolvimento econômico das regiões.
- 71 -
Figura 3.5 – Gráfico demonstrativo da disponibilidade em função do
desenvolvimento (RDH, 2006).
Verifica-se, pela figura 3.5, que os países desenvolvidos a redução na
disponibilidade de água é significativamente inferior àquela observada em
países em desenvolvimento, isto é, aqueles nos quais a maior extração de
água é devida ao aumento do consumo nos vários setores da economia em
ascensão.
Outro aspecto é que entre os países em desenvolvimento, aqueles
localizados em regiões áridas são mais afetados pela redução da
disponibilidade de água, devido aos fatores geográficos e, consequentemente,
climáticos, que determinam uma maior condição de seca.
Entre os indícios de escassez não está somente o mau uso em termos de
a quantidade, mas também de qualidade da água. Assim, muitas bacias ao
- 72 -
apresentarem elevados níveis de poluição, são consideradas ameaçadas pela
crise. Isso ocorre, pois a poluição dos corpos hídricos, ao afetar a quantidade
de água disponível para consumo, contribui para a ocorrência do cenário de
escassez.
Atualmente, 20 países já enfrentam a falta de água; no ano de 2025, 14
países passarão da condição de pressão hídrica para uma de escassez efetiva
e em 2050, o cenário de escassez de água afetará cerca de 7 bilhões de
pessoas em 60 países (Castro e Scariot, 2005; RDH, 2006).
Entre as previsões da evolução da crise hídrica, pode-se destacar:
- Na África subsariana, haverá a intensificação da condição de pressão
hídrica, em função do aumento da população esperado passar de 30 % para 85
% em 2025 (RDH, 2006)
- No Oriente Médio e no Norte da África, as reservas de água passarão
para cerca de 500 metros cúbicos por pessoa em 2025 e mais de 90 % dos
habitantes deverão estar expostos a condições de escassez de água (RDH,
2006);
- Na China, o Norte do país, mais árido, apresenta o lençol freático
exaurido; enquanto o Sul, onde se localizam suas maiores fontes de água, os
níveis de poluição são elevados nos maiores rios. Assim, caso o país continue
a crescer demográfica e economicamente com base nos padrões atuais, em
que metade das cidades já são afetadas com a escassez hídrica, 30 milhões
de chineses estarão sem água em 2030 (Webciência, 2008; RDH, 2006);
- Na Índia, verifica-se a ocorrência do esgotamento do seu principal curso
d’água, o rio Ganges (Webciência, 2008);
- No Oriente Médio, tem-se que a água utilizada em atividades agrícolas
e industriais precisará ser proveniente de esgoto tratado, dado que dentro de
40 anos a água doce será suficiente apenas para o consumo doméstico
(webciência, 2008);
- No Norte da África: A disponibilidade de água por pessoa será reduzida
em 80% (Webciência, 2008).
- 73 -
A tabela 3.1 apresenta algumas previsões relacionadas às condições de
escassez de água no ano de 2025. Destacam-se o grau de severidade da
ausência de água por população, sua disponibilidade, os principais problemas
ocasionados e alguns dos países a serem atingidos potencialmente.
Tabela 3.1 – Dados previstos sobre a escassez de água no mundo para
o ano de 2025 (Pinotti, 2007).
Escassez mundial de água em 2025
Grau de Severidade
(população)
Disponibilidade
(m³/pessoa/ano)
Principais
Problemas Países Afetados
Limitada (32,6 %) Entre 68,7 e 118,9 Restrições na
produção agrícola
Peru, Bélgica, Polônia, Índia,
Paquistão, Afeganistão, Irã,
Uzbequistão, Coréia do Sul,
África do Sul, Lesoto,
Zimbawe, Eritréia, Níger,
Nigéria, Togo, Líbano
Escassa (5,3 %) Entre 34,3 e 68,7
Restrições
persistentes na
agricultura e indústria
Somália, Etiópia, Quênia,
Ruanda, Burundi, Malawi,
Egito, Marrocos, Burkina,
Israel
Severa (2,8 %) Menor que 34,3
Ameaça séria em
potencial à
agricultura, indústria
e saúde humana
Argélia, Líbia, Tunísia,
Jordânia, Arábia Suadita,
Iêmen, Oman, Emirados
Árabes
De acordo com Benjamin Franklin, uma das grandes figuras da
Declaração da Independência dos Estados Unidos: “Quando os poços secam é
que nos damos conta do valor da água” (RDH, 2006).
Essa declaração define claramente o que está sendo observado quando
se pensa no quadro de crise hídrica iminente. Em outras palavras, foi
necessário que o mundo começasse a sentir os efeitos da escassez de água,
para que o povo e os governos começassem a tomar consciência da
importância desse recurso para a manutenção e desenvolvimento da vida sob
os mais variados aspectos.
- 74 -
Somente após inúmeros impactos causados pela redução da
disponibilidade da água, é que a consciência humana começa a entender e
estimular, ainda a passos lentos, uma política de conservação que preza pela
valoração e entendimento da água como recurso limitado.
- 75 -
CAPÍTULO IV
OS PRINCIPAIS IMPACTOS DE UMA ESCASSEZ DE
ÁGUA
“Apenas quando o poço seca é que aprendemos o valor da água”.
Beijamin Franklin (1706 – 1790).
Os impactos causados pela a escassez de água são muitos e podem ser
verificados nos mais diversos setores da sociedade. A crise ocasionará desde
problemas ambientais e sociais até aqueles relacionados à política e à
economia. Alguns desses impactos já podem ser observados ao longo do
tempo e apresentam forte tendência a piorar.
Entre essas ocorrências pode-se destacar a degradação observada no
mar de Aral, localizado na ex-URSS; a redução dos níveis de água de
aqüíferos e sua poluição; além de pontos de secas em corpos hídricos
superficiais como o rio Colorado, localizado na Califórnia.
Esse quadro de impactos destaca também a possibilidade de guerras
iminentes, que antes eram observadas apenas pela disputa de terra, petróleo
ou outro recurso de maior valor agregado.
Ademais, deve-se considerar o impacto causado diretamente ao
crescimento econômico, visto ser a água matéria-prima indispensável a
qualquer processo de produção, seja agropecuário ou industrial. Dessa forma,
a crise pela água certamente ocasionará a crise por alimentos e por qualquer
outro bem e dificultará gradativamente a manutenção do nível de qualidade de
vida alcançado por todas as classes sociais.
Neste contexto, considera-se o aumento da ocorrência de doenças
causadas não somente pela desidratação, como também pelo uso de água
- 76 -
contaminada ou alimentos produzidos a partir dessa. Com isso, a expectativa
de vida da população será reduzida e as condições serão desfavoráveis até
mesmo para a subsistência.
Outro aspecto relevante será a ocorrência de dificuldades financeiras que
deverão atingir inicialmente as empresas pequenas, mas que ao decorrer do
tempo deverão alcançar, até mesmo, os grandes impérios. Em função disso,
será observado um grande aumento no quadro de desemprego da população,
o que tornará as condições de sobrevivência ainda mais precárias.
4.1. O desastre do Mar de Aral
Entre um dos exemplos mais alarmantes do mau gerenciamento dos
recursos hídricos é o encolhimento do Mar de Aral.
Localizado na Ásia Central, conforme figura 4.1, na fronteira entre o
Casaquistão e o Uzbequistão, duas repúblicas da ex-União Soviética, o mar
era abastecido por dois rios, o Amu Darya e o Syr Darya (Pinotti, 2007; Revista
Planeta, 2008a).
Figura 4.1 – Localização do mar de Aral (Google Maps, 2010b).
- 77 -
Contudo, quando a ex-União soviética, em 1930, decidiu passar da
condição de importadora para a de exportadora de algodão, a região tornou-se
auto-suficiente e as práticas tradicionais de cultivo foram substituídas por
irrigação intensiva (Copozoli, 2000; Revista Planeta, 2008a).
Para isso, grandes canais foram construídos a fim de desviar as águas
dos rios supracitados e garantir para a região, a condição de grande produtora
de algodão. Fato este, responsável por dar ao Uzbequistão, destaque como
potência na produção do famoso “ouro branco” (Revista Planeta, 2008a).
No entanto, a partir de 1960, os efeitos do consumo elevado e ineficiente
de água começaram a ser percebidos. O desvio de água, aliado às secas e
elevadas taxas de evaporação ocasionadas pelo clima quente e seco da região
ocasionaram a redução do mar (Miller, 2007; Pinotti, 2007).
Até 1969, observou-se uma redução média do mar de 20 centímetros
anuais, que passaram a 60 centímetros por volta de 1970 e a até um metro em
1980. Considera-se que neste recuo do mar, sua área superficial caiu mais de
40 % entre os anos de 1960 e 1985 (Pinotti, 2007; Revista Planeta, 2008a). As
figuras 4.2 e 4.3 demonstram a evolução da degradação gradativa ocorrida no
mar de Aral.
Figura 4.2 – Evolução anual da redução do volume de água no mar de Aral
(UNEP, 2008b).
- 78 -
Figura 4.3 – Fotos de Satélite que demonstram o encolhimento gradativo do
mar de Aral (Revista Planeta, 2008b).
Outro aspecto importante a ser mencionado, é o fato de que devido à
mudanças climáticas, muitos fazendeiros passaram a cultivar arroz, uma
cultura que responde pelo consumo de uma quantidade maior de água, quando
comparada a necessária para a produção de algodão. Esse fator adicional
contribuiu para a redução do volume de água do mar. (Revista Planeta, 2008b)
O governo da então União Soviética tentou apoiar um plano que previa a
redução do plantio de algodão. Outro plano previa desviar rios da Sibéria para
a direção de Aral, mas devido ao alto custo e as alterações ambientais
envolvidas, preferiu-se a inércia de ações. Motivo pelo qual o mar de Aral pode
ser considerado um dos maiores problemas ambientais já vistos (Pinotti, 2007
e Revista Planeta, 2008a).
Em função da redução do volume das águas, o teor de salinidade do mar
passou de 10 mg/L para 45 mg/L e, em alguns locais de sua parte Sul, passou
a 98 mg/L. (Revista Planeta, 2008a). Atualmente, o nível das águas desse mar
já foi reduzido em mais de 16 metros, caracterizando-o com um ambiente
Maio de 1973 Agosto de 1987 Julho de 2000
- 79 -
marinho rico em salinas e muito raso (Revista Planeta, 2008b). A figura 4.4
mostra a foto de embarcações abandonadas sobre o leito seco do mar.
Figura 4.4 – As fotos mostram carcaças de navios sobre o leito seco do
Mar de Aral, além da presença de salinas - pó branco ao fundo (Revista
Planeta, 2008a).
Esse elevado teor de sal destruiu espécies de peixes nativas, o que
ocasionou o fim da atividade pesqueira local e tornou às margens do mar de
Aral um local habitado por vilas abandonadas. (Pinotti, 2007)
Dessa forma, além do custo ambiental observado, destacam-se os custos
sociais e econômicos. Na região, o índice de pobreza foi intensificado, pois a
indústria de pesca local era responsável pelo emprego de mais de 60 mil
pessoas (Miller, 2007).
Ademais, a população foi atingida por problemas respiratórios e outras
doenças relacionadas a presença de poeira tóxica, sal e água contaminada
(Miller, 2007).
Fortes ventos também contribuíram para espalhar o sal, que poluiu
águas, matou animais selvagens, plantações e outros vegetais. Vale citar, que
o sal, ao ser carregado por ventos e depositado nas geleiras do Himalaia,
- 80 -
contribui para o seu derretimento em velocidade mais rápida do que a normal
(Miller, 2007).
Outro impacto da redução desse mar é alteração climática observada,
visto que o mesmo atuava como isolador térmico moderando o calor do verão e
o frio excessivo do inverno. Essa alteração climática aliada a grave salinização
do ambiente alterou as temporadas de cultivo e reduziu a produção de grãos, o
que ocasionou o aumento do quadro de miséria existente. (Miller, 2007).
Neste contexto, vale mencionar que a construção de uma barragem com
fundos do Banco mundial e do governo do Casaquistão, com finalidade de
separar o Aral Sul do Aral Norte, já vem apresentando resultados. Após um ano
de conclusão das obras, a região Norte do mar apresentou uma elevação de
sei metros e já são observadas a incidência de gramíneas e pássaros
aquáticos na região (Revista Planeta, 2008c).
4.2. O encolhimento do Lago Chade
O Lago Chade, figura 4.5, localizado no continente africano, na fronteira
entre os países República do Chade, Níger, Nigéria e camarões, também pode
ser citado como exemplo marcante de impacto ocasionado pela escassez de
água que está alastrando pelo mundo. Este recurso hídrico praticamente
deixou de existir, dando lugar a seca e vegetação.
Figura 4.5 – Localização do Lago Chade (Google Maps, 2010a).
Lago Chade
- 81 -
Este lago apresenta cerca de 90% de suas águas provenientes dos rios
Chari e seu afluente, Rio Lagone, ambos localizados na sua parte Sul. Sua
parte Norte, correspondente a 10 % de sua área total, é formada pelo Rio
Komadougou Yobé, que chega da Nigéria já enfraquecido pela ação de duas
barragens (UNEP, 2006 APUD Wikipédia, 2010).
Segundo dados da UNEP, pesquisas realizadas nos últimos 40 anos
mostraram que a ação humana foi fator decisivo na redução do lago Chade
(UNEP, 2008a).
Desde 1963, devido a mudanças climáticas (o clima da região ficou mais
seco dado a intensa devastação da cobertura vegetal pela ação do sobre
pastoreio) e ao uso intensivo das águas para agricultura dos quatro países que
o cercam, por meio do desvio dos rios Chari e Logone, o lago apresentou uma
redução significativa de sua área (UNEP, 2008a).
A figura 4.6 demonstra a evolução da degradação do Lago Chade,
enquanto a figura 4.7 mostra a mesma degradação gradativa por meio de fotos
de satélite retiradas nos anos de 1972, 1987 e 2001.
Figura 4.6 – Evolução anual gradativa da redução do Lago Chade (UNEP,
2008a).
- 82 -
Figura 4.7– Fotos de Satélite que demonstram o encolhimento do Lago Chade
(Guardian, 2008).
Em 1963, o lago apresentava uma área de cerca de 23.000 a 25.000km2
(UNEP, 2006 APUD Wikipédia, 2010). Em 1982, sua área estimada atinge
aproximadamente 2.276 km2 e é reduzida para 1756 km2 em 1994
Atualmente, o lago apresenta a presença de espécies invasoras de plantas que
cobrem cerca de 50 % da sua superfície restante (UNEP, 2008a).
Assim, desde 1963 até 2001, estima-se que a área do Lago Chade tenha
sido reduzida de aproximadamente 25.000 km2 para 1.350 km2 (UNEP,
2008a).
Toda essa mudança ocasionou problemas que vão desde a escassez de
água local, dificuldade na manutenção da agricultura, morte de rebanhos, crise
na área pesqueira, salinidade do solo e, consequentemente, crescimento da
pobreza (UNEP, 2008a).
4.3. A redução do nível dos aquíferos
Os imensos reservatórios de água do mundo também tem sido super-
explorados e contaminados pela ação humana. Apesar das águas desses
- 83 -
reservatórios serem respostas pelo ciclo hídrico natural, esse bem está sendo
retirado em um ritmo muito mais rápido do que a natureza consegue repor.
Desde as primeiras civilizações, as pessoas retiram água dos aquíferos;
contudo, foi apenas nos últimos 50 anos que essa extração atingiu um nível
exagerado. Entre os usos dados a essa fonte de água estão a irrigação
intensiva, a utilização para encher piscinas e até mesmo para regar campos de
golfe (Clarke e King, 2005).
Devido à cobertura rochosa que cobre essas fontes de água, elas
deveriam ser menos poluídas. No entanto, o aumento da população, o uso
indiscriminado da terra e o avanço da industrialização têm contribuído para a
redução dos aquíferos.
Dessa forma, outra causa da escassez das águas desse tipo de fonte é a
poluição causada por esgotos sanitários; contaminação por resíduos de origem
doméstica e industrial que permeiam o solo, pelo uso inadequado de
fertilizantes agrícolas, por metais pesados e pela salinização causada pela
retirada excessiva de água doce, o que favorece a diferença de pressão em
nas fronteiras com os oceanos e mares, acarretando a invasão por águas
salobras (IEAv, 2010).
Entre os casos mais severos da redução desses reservatórios podem ser
destacados queda dos níveis dos aquífero Azraq, na Jordânia e do aquífero
Ogallala, nos EUA; além do afundamento e a fissuração observados na Cidade
do México.
O aqüífero Azraq, localizado na Jordânia, próximo a fronteira com a Síria
e a Arábia Saudita, teve seu volume de água extraída triplicado nas duas
últimas décadas. O resultado disso foi o recuo de cerca de 20 metros do lençol
subterrâneo, o que causa ameaça ao abastecimento de várias cidades do país,
como o caso de sua capital, Amã (Aldeodato, 2009a).
Outro problema marcante é o caso do aqüífero Ogallala que se estende
do estado do Texas até a Dakota do Sul. A região que teve suas primeiras
tentativas de cultivo desestimuladas pela erosão do solo e ciclos de seca,
passou a ser explorada em escala industrial apenas após a Segunda Guerra
- 84 -
Mundial, quando moinhos a vento foram substituídos por motores a diesel, que
culminaram por aumentar a vazão de retirada de água subterrânea de alguns
litros por minuto para centenas (Little, 2009).
O número de poços de irrigação aumentou e em 1977, uma das regiões
mais pobres dos EUA se transformou em uma das mais ricas. Isso tornou a
região exportadora de produtos agrícolas e contribuiu para engorda de seus
rebanhos que se alimentavam com os grãos ali cultivados. Essa região passou
a responder por 20 5 de toda a região agrícola americana (Little, 2009).
A figura 4.7 mostra a intensa quantidade de campos de irrigação
existente sobre o aqüífero Ogallala, que são responsáveis não somente pelo
crescimento econômico da região, mas também pela redução do nível de água
dessa importante e imensa fonte subterrânea.
Figura 4.7 – Campos de irrigação localizados sobre o aqüífero Ogallala (Little,
2009).
No entanto, toda esse crescimento foi obtido por meio do consumo
exagerado e veloz das águas do aqüífero Ogallala. Com base nisso, o Serviço
de Pesquisa Geológica dos Estados Unidos, juntamente a órgãos locais e
estaduais, verificou que entre os anos de 1949 até 1974, a extração anual de
água subterrânea havia quintuplicado. Verificou-se que, em alguns lugares, os
- 85 -
fazendeiros retiravam cerca de 1 a 2 metros de água por ano, enquanto a
natureza apenas recolocava menos do que 1,5 cm (Little, 2009).
Segundo Little (2009), os níveis de água da região haviam caído em 3
metros por volta do ano de 1980 e, em alguns pontos, como no centro e ao sul
das Planícies Altas, a redução já havia ultrapassado 30 metros. Ademais,
estima-se que, nos últimos 50 anos, os níveis de água da região caíram de
forma significativa na maior parte da região, com um empobrecimento que
corresponde a cerca de 12 trilhões de litros por ano (Aldeodato, 2009a; Little,
2009).
A figura 4.8 demonstra a intensidade das alterações no nível da água do
aqüífero entre os anos de 1950 e 2005.
Figura 4.8 – Alterações nos níveis de água do aqüífero Ogallala (Little, 2009).
Outro impacto causado pela retirada excessiva de água do subsolo é
registrado na Cidade do México, capital do país. A extração de água para o
- 86 -
abastecimento da população crescente aliado ao solo argiloso e, por isso,
instável e frágil, característico da região, tem ocasionado o afundamento da
cidade. Adiciona-se a isso, o fato da urbanização ter levado a intensa
pavimentação do solo, estragando áreas da superfície, por meio das quais as
águas da chuva deveriam penetrar para alimentar o aqüífero (Aldeodato,
2009a).
A Cidade do México retira do subsolo cerca de 72 % da água que
consome e, devido ao seu crescimento rápido e intenso, são extraídos 52,3
m3/segundo de água, enquanto apenas 28 m3 são repostos. Assim, o
esvaziamento do subsolo aliado a perfuração de 6.000 poços para extração do
lençol freático da região estão ocasionado o afundamento de,
aproximadamente, 20 cm por ano de partes da megalópole, considerada a
terceira maior do mundo (Estadão, 2008a; Super Interessante, 2010).
O afundamento observado coloca a cidade sob risco de enchentes, o que
levou o governo a instalar bombas de drenagem e executar obras para
contornar o problema (Super Interessante, 2010).
Para reduzir o consumo de água proveniente do subsolo da região e,
assim, minimizar o impacto, uma das soluções encontradas é a utilização de
água de outros locais, por meio do bombeamento a 1.200 metros de altura
através das montanhas que cercam a cidade. Para isso, são usadas águas da
cidade de Lerma, localizada a 60 km de distância e da cidade de Cutzmala, a
126 km. (Estadão, 2008a).
Outro dado alarmante relacionado ao problema existente na cidade do
México é o fato de que, à medida que o lençol freático é rebaixado, a pressão
sobre os canos de esgoto aumenta, o que pode ocasionar o rompimento das
tubulações e contaminação do aqüífero (Aldeodato, 2009a).
Na cidade podem ser observadas rachaduras em prédios, ruas e túneis
do metrô (Estadão, 2008a). Algumas dessas rachaduras, causadas pela
instabilidade do solo e o consumo excessivo de água, podem ser observadas
por meio da figura 4.9.
- 87 -
Figura 4.9 – Fotos de rachaduras na Cidade do México (Nájar, 2009).
Segundo Nájar (2009), em reportagem para a BBC Brasil (Anexo VI), em
junho de 2009 fortes ruídos foram ouvidos, casa tremeram e uma rachadura de
quase um quilômetro de extensão e seis metros de largura foi encontrada por
moradores de Villas San Martin.
Nesse contexto, vale citar o aqüífero Guarani, maior reserva de água
doce da América do Sul, com águas que cobrem mais de 1.000.000 de km2,
estando 80 % desse total localizada sobre região brasileira. Assim, para
garantir a preservação desse imenso reservatório, há um esforço coletivo por
parte de Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina, países em que se localiza
(Aldeodato, 2009a).
Em áreas metropolitanas, poços artesianos e semi-artesianos atuam com
o objetivo de complementar o abastecimento por meio de águas superficiais.
Isso pode ser observado, por exemplo, no Brasil, em que cerca de 250 mil
poços forma perfurados nos últimos 30 anos. Como parte desses poços são
particulares e, por isso, não recebem o devido controle, devem ser visualizados
como causas potenciais de problemas relacionados à das águas subterrâneas
(SBPC/Labjor Brasil(2000).
Com base nisso, o anexo VII aponta reportagens que mencionam sobre
problema relacionados a poluição e redução dos níveis das águas já
observados em alguns pontos do aqüífero Guarani.
- 88 -
Por meio do anexo VIII é possível verificar as fontes de águas
subterrâneas do mundo, desde bacias com os aqüíferos mais produtivos, os
mais complexos e importantes, até os mais pobres. Além disso, o mapa
mostrado define áreas em que devido à extração excessiva de água, existe alta
poluição dessas fontes pela causada pela invasão de águas salobras.
4.4. Os conflitos pela água.
Em algumas partes do globo, como aproximadamente 260 bacias
hidrográficas atravessam 145 fronteiras internacionais, uma mesma reserva de
água é divida por dois ou mais países. Como exemplo pode ser citado o Rio
Danúbio que é compartilhado por 17 países na Europa e o Rio Mekong dividido
por quatro países africanos (Montoia, 2006).
Em função disso, as nações localizadas a montante dos rios podem
utilizar mais água e construir represas que, algumas vezes, impactam a
situação dos países a jusante desses corpos hídricos que, por isso,
apresentam-se mais vulneráveis e sujeitos a abusos. (Clarke e King, 2005;
Montoia, 2006).
Com base nisso, estudiosos estimam que, assim como o petróleo, a água
também poderá ser motivo para a ocorrência de guerras. Conforme um alerta
feito pela Organização das Nações Unidas (ONU): em 25 anos, um terço da
população global sofrerá com a crise hídrica, o que irá ocasionar a ameaça da
ocorrência de graves conflitos internacionais. Isso porque, não existem
acordos disciplinados entre muitos dos países que possuem corpos hídricos
compartilhados (Capozoli, 2000).
Dessa forma, tem-se a água como uma das fontes potenciais de guerras
no século XXI. Sendo assim, sinais desse tipo de tensão já podem ser
observados em algumas partes do globo, principalmente, no Oriente Médio e
na África (ISA, 2005).
Na África, as águas do rio Nilo são utilizadas em grandes quantidades por
três países, Etiópia, Sudão e Egito. A Etiópia, onde brotam cerca de 85 % das
águas desse rio, devido ao rápido crescimento da população, planeja desviar
- 89 -
mais água do mesmo por meio da construção de uma série de pequenas
obras, que tendem a reduzir o fluxo das águas que antes chegavam até Sudão
e Egito. (Capozoli, 2000; Miller, 2007).
A figura 4.10 mostra a extensão do rio Nilo, localizado na África, ao longo
de Etiópia, Sudão e Egito. Ademais, esse mapa demonstra localização dos rios
Tigres e Eufrates e dos países localizados nessa região.
Figura 4.10 – Localização do Rio Nilo e dos Rios Tigres e Eufrates.
(Miller, 2007).
O Sudão, também tem planos de aumentar o uso das águas do Nilo e,
por esse motivo, o Egito, último país localizado ao longo da extensão do rio, e
que depende desse recurso para sobreviver, poderá ter sua quantidade de
água reduzida devido a esses desvios. (Miller, 2007).
- 90 -
Não existe acordo diplomático entre esses países relacionado ao
compartilhamento das águas do Nilo. Por esse motivo, em função dos seus
planos de investir em irrigação para aumentar sua produção agrícola, o Egito
possui algumas opções: utilizar técnicas mais econômicas de cultivo, reduzir
seu crescimento populacional ou importar mais grãos para reduzir a
necessidade de água para irrigação. Caso não considere nenhuma dessas
opções, este país pode entrar em guerra com Sudão e Etiópia pelo direito ao
uso da água (Miller, 2007).
Outro caso de iminência de guerra pelo uso da água é a bacia do rio
Jordão, região do Oriente Médio onde devido à intensa escassez de água, há
uma forte competição por esse recurso. Esse rio, nasce ao sul do Líbano e
atravessa Israel e Jordânia. Entre os países que disputam as águas dessa
bacia estão: Jordânia, Síria, Palestina (constituída pela Faixa de Gaza e pela
Cisjordânia) e Israel. (Miller, 2007; Webciência, 2008).
Segundo Miller (2007), Israel já comunicou que poderá destruir a maior
represa que a Síria pretender construir. Ademais, verifica-se que Israel não
está interessado na bela paisagem das Colinas de Golan, localizada na região,
mas nas nascentes do rio Jordão, importante fonte de recurso hídrico para o
local (Clarke e King, 2005).
Outro aspecto que definiu a condição de conflito na região foi o fato de
que os árabes realizaram obras a fim de desviar o fluxo do rio Jordão e seus
afluentes. Contudo, essa nova rota ocasionaria a perda de uma quantidade
significativa de água por parte de Israel. Essa divergência culminou com o
governo Israelense ordenando para bombardear as construções árabes, o que
tornou a situação mais rivalizada (Webciência, 2008).
Nesse contexto, vale lembrar que essa região já foi marcada por guerras
pela água. Isso ocorreu em 1967 com a Guerra dos Seis Dias, a qul foi
estimulada, em parte, como uma resposta de Israel a um planejamento da
Jordânia que previa o desvio das águas para seu uso. Como resultado dessa
guerra, Israel ganhou acesso as cabeceiras do Jordão e assumiu o controle do
aqüífero que existe abaixo da Cisjordânia (Clarke e King, 2005).
- 91 -
Com isso, os israelenses apresentaram um aumento de quase 50 % em
suas fontes de recursos hídricos. E enquanto na Cisjordânia, alguns palestinos
necessitam sobreviver com apenas 35 litros de água por dia; alguns colonos
israelenses desperdiçam esse recurso em atividades como molhar gramados e
encher piscinas (Clarke e King, 2005).
Vale citar que em 1993 foi estabelecido um acordo o Programa para o
Desenvolvimento Hídrico Comum e em 1995, um segundo acordo foi criado, o
Acordo Provisório de Oslo. Contudo, Israel ainda mantém o controle sobre os
recursos hídricos da região e por meio do Emissário Nacional de Israel, o país
extrai mais de 75 % do fluxo de água proveniente da parte superior do Rio
Jordão, permitindo que apenas uma pequena parcela de água chegue até a
Cisjordânia. Além disso, a única fonte de água para a Cisjordânia, o Aqüífero
das Montanhas também é controlado por Israel (Clarke e King, 2005).
A figura 4.11 mostra os aqüíferos existentes na região e o Emissário
Nacional de Israel, forma pela qual Israel mantém a escassa água local sob
seu controle.
Figura 4.11 – O Emissário Nacional
de Israel e os aqüíferos da região
(Clarke e King, 2005).
Outro foco de conflitos são os rios Tigres e Eufrates. Nessa região, a
Turquia, onde estão localizadas as nascentes desses rios está desenvolvendo
- 92 -
a construção de 24 represas ao longo da parte superior dos mesmos para fins
de irrigação e geração de eletricidade (Miller, 2007).
Entretanto, essa iniciativa ocasionará a redução de cerca de 35 % do
fluxo das águas que chegam até a Síria e Iraque. Adicionalmente, a Síria
também pretende construir uma grande represa ao longo do Eufrates, o que
pode gerar uma guerra com o Iraque, visto que este último será intensamente
prejudicado pela redução do fluxo de água que passará a receber (Miller,
2007).
Em outras partes do planeta, já foram observadas até batalhas judiciais
para reverter tentativas de desviar a água de uma região em favorecimento de
outra. Exemplo disso, foram os protestos realizados no Alasca, que
conseguiram derrotar uma proposta que visava utilizar águas dos rios Gualala
e Albion, a fim de encher grandes reservatórios destinados a serem rebocados
até a Califórnia. (Clarke e King, 2005).
Nesse contexto, verifica-se que, atualmente, não existem muitos acordos
de cooperação para o uso de mais da metade das bacias existentes entre dois
ou mais territórios. No entanto, para resolver esse problema de distribuição de
água é necessário que se estabeleçam acordos pelo uso da água (Miller,
2007). Caso contrário, muitos países terão apenas duas opções: sofrer as
conseqüências econômicas e humanas ocasionadas pela pobreza hídrica ou
entrar em guerra.
Entre os acordos realizados estão (Clarke e King, 2005; Montoia, 2006):
- acordo realizado entre Estados Unidos e México: os EUA extraem
muita água do rio Colorado deixando para os mexicanos apenas um fluxo
pobre e rico em sal. Por esse motivo, como uma medida de compensação, os
norte-americanos assinaram um compromisso de fornecer aproximadamente 2
km3 de água potável por ano para o México. Além disso, se comprometeram
com a qualidade de água enviada ao país, o que implicou na construção e
operação de uma usina de dessalinização em Yuma;
- acordo realizado por Tailândia, Camboja, Vietnã e Laos: esses países
negociam a utilização do rio Mekong por meio de um comitê criado em 1957;
- 93 -
- Índia e Paquistão: essas nações criaram uma comissão para tratar de
assuntos relacionados ao rio Indo;
- Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai: esses países esforçam-se para
manter a preservação e uso sustentável do aqüífero Guarani. Para isso,
criaram um comitê para regular e controlar a extração e utilização das águas do
aquífero.
Ademais, algumas reportagens que tratam sobre os conflitos mundiais
pelo uso da água são mostradas no Anexo IX desse trabalho.
4.5. Impactos causados pela poluição das águas
A poluição é um fator que reduz a quantidade de água potável disponível
para consumo, visto que o uso de água poluída deve ser evitado devido às
doenças que pode causar.
Cólera, febre tifóide, poliomielite, meningite, tacoma, diarréia e as
hepatites A e E estão entre as doenças de origem hídrica mais freqüentes.
Além disso, agentes patogênicos causadores de doenças infecciosas se
disseminam e são mais facilmente transmissíveis pela água contaminada
(Clarke e King, 2005).
Doenças de veiculação hídrica apresentam maior índice de aumento em
regiões de alto crescimento populacional, urbanização e industrialização. Isso
ocorre, pois aliado ao aumento dessas atividades, ocorre o crescimento de
geração de resíduos industriais, agrícolas e domésticos, muitos dos quais são
despejados nos meios hídricos sem qualquer forma de tratamento prévio.
A falta de saneamento adequado e a ausência de esgoto tratado
possibilitam a contaminação de solos e de águas superficiais e subterrâneas
por agentes patogênicos que ao entrarem em contato com água potável e
aquela utilizada no cultivo de alimentos, podem chegar as fontes de
alimentação. Além disso, deve-se mencionar as doenças que podem ocorrer
pelo simples contato com a água contaminada (Clarke e King, 2005).
- 94 -
Dados da ONU revelam que os rios e oceanos estão sendo
contaminados com milhões de toneladas de poluentes por dia. E em função
disso, a vida marinha está sendo envenenada e muitas doenças estão se
espalhando pelo mundo. (Reuters APUD G1-Globo, 2010).
Segundo dados da FAO, 50.000 km percorridos pelos principais rios da
China já não possuem peixes, devido aos altos índices de poluição (Pinotti,
2007). Além disso, devem ser citados a salinidade, a contaminação por
arsênico, fluoretos e outras toxinas como fontes poluidoras em potencial.
(Castro e Scariot, 2005).
De acordo com a ONU, no mundo, a água poluída causa mais mortes do
que a violência. Cerca de 2,2 milhões de pessoas morrem em decorrência de
diarréia causada pelo uso de águas contaminadas e, aproximadamente, 1,8
milhões de crianças com idade inferior a cinco anos morrem por falta de acesso
a água potável, sendo esses dados medidos com base em referência anual.
(Reuters APUD G1-Globo, 2010).
Além disso, deve-se considerar as doenças causadas pela precariedade
na disponibilidade de água, que pode ocasionar desidratação e, até mesmo,
doenças relacionadas a falta de higienização dada a escassez desse recurso.
Segundo SBPC/Labjor Brasil (2000a), é estimado que apenas 74 % da
população global consiga acessar água potável; contudo esse valor pode ser
reduzido para 46 % na África e chegar, até mesmo, a menos de 24 % nos
países africanos de Chade e Mali.
A figura 4.12 mostra dados mundiais relacionados ao número de mortes
por precariedade no sistema de abastecimento de água no ano de 2000. Essa
figura apresenta como o número de mortes por água suja atinge cada
continente do globo. Verifica-se que as regiões mais pobres do planeta são as
mais afetadas pela ocorrência de mortes ocasionadas pelo uso de água
contaminada. (Clarke e King, 2005)
- 95 -
Figura 4.12 – Número de mortes devido à ocorrência de água suja no ano
de 2000.
Outro tipo de doença relacionada à contaminação da água é a síndrome
do bebê azul. Essa doença é ocasionada pela presença de altos índices de
nitratos proveniente da utilização de fertilizantes. No organismo da criança, os
nitratos são transformados em nitritos, impedindo que o oxigênio seja
transportado pelo sangue, o que pode ocasionar asfixia e morte. Segundo
Clarke e King (2005), desde 1950, cerca de 3.000 mortes já foram registradas
em diversos países do mundo.
Alguns produtos químicos como organoclorados, provenientes de
despejos industriais, agrícolas e domésticos também são causadores de
doenças graves. Conforme Clarke e King (2005), os efeitos desses poluentes
na água ainda estão sendo analisados; contudo, estima-se que estejam
relacionados à queda de fertilidade masculina entre outras anormalidades.
Com base nos dados apresentados, verifica-se que a poluição das águas
é um dos fatores que causa grandes impactos na qualidade de vida humana,
seja por aumentar o número de casos de doenças relacionadas aos poluentes
- 96 -
disseminados nas águas contaminadas; por reduzir a quantidade de água
limpa disponível para consumo, podendo causar desidratação e problemas
relacionados falta de higienização adequada; ou mesmo, por atuar como
entrave no desenvolvimento econômico de locais, que tenham a água como
fonte de subsistência para suas atividades produtivas, como aquelas referentes
ao setor agrícola, pesqueiro, entre outros.
4.6. Água: fonte de vida e desenvolvimento econômico.
A vida humana e o desenvolvimento estão intimamente relacionados a
quantidade e a qualidade de água doce disponível (ABES, 2010).
A água está presente como o constituinte químico mais abundante nas
células, além de participar de todos os processo vitais aos seres. Uma pessoa
pode resistir até 40 dias sem alimento, mas sem água o tempo de
sobrevivência é de apenas três dias (Pereira, 2010).
Ademais, a água atua com componente essencial em todos os processos
produtivos existentes no planeta, o que a torna importante para os diversos
setores da economia. Dessa forma, não há crescimento e desenvolvimento
sem água.
Segundo informações da BBC-Brasil (2001), a crise hídrica fará com que
muitas pessoas sejam obrigadas a abandonar seus lares, o que ocasionará em
uma onda de imigração em direção a locais em que ainda exista quantidades
desse bem.
Com o aumento da população mundial, maior será a quantidade de água
demandada para a produção de alimentos. Em conseqüência disso, o preços
dos alimentos, dos bens de consumo primários ou não e, até mesmo da própria
água tenderá a aumentar. E em mundo cada vez mais pobre em
disponibilidade de água, os países mais pobres terão que optar entre utilizar
esse recurso para irrigação, para indústria ou para uso doméstico (BBC-Brasil,
2001).
Com isso, com preços cada vez maiores e com o aumento do
desemprego, dado o fechamento de muitas empresas e atividades que não
- 97 -
consigam se sustentar sem água barata, os índices de pobreza devem se
elevar em muitas partes do mundo. Aliado a isso, uma queda na produção de
alimentos ocasionará desnutrição em massa, agravará o quadro de doenças e
definirá um desastre ecológico (Clarke e King, 2005).
Na China, estima-se que a população que a população de 1,2 bilhão de
habitantes deva crescer para 1,5 bilhão em 2030, o que acarretará em um
aumento de 66 % na demanda de água no mesmo período (BBC-Brasil, 2001)
Vale lembrar que as condições das águas disponíveis no país já se encontram
precárias, principalmente, devido ao alto nível de poluição.
A região metropolitana chinesa já apresenta um terço de seus poços
secos e na região entre o Norte de Xangai e o Norte de Pequim, o lençol
freático é reduzido a um nível equivalente a 1,5 metros anualmente. Em função
disso, o setor agrícola sente as perdas causadas pelos desvios de água para
as cidades e pela exaustão dos aqüíferos (Leal e Vicária, 2008).
Na Índia, um sexto da produção agrícola depende do bombeamento de
água do lençol subterrâneo. Em Puniab, uma região agrícola altamente
produtiva do país, o nível do lençol freático cai cerca de 1 metro por ano. Além
disso, acredita-se que Nova Deli terá suas reservas de água esgotadas dentro
de 15 anos e, segundo estimativas do Banco Mundial, a demanda de água
nesse país deverá ultrapassar a quantidade disponível até 2050 (BBC-Brasil,
2001; Leal e Vicária, 2008).
No continente africano, a Líbia apresenta suas reservas subterrâneas
salobra e o país, por meio do financiamento do petróleo, pretende gastar
muitos bilhões de dólares, com o objetivo de construir um rio artificial de 1.000
km de extensão. Contudo, essa fonte apenas suportará o consumo até cerca
de 50 anos (Leal e Vicária, 2008).
Até mesmo o Brasil, país privilegiado em termos de quantidade de água,
apresenta problemas relacionados a escassez hídrica, principalmente pelo fato
de que há má distribuição desse curso, isto é, as regiões mais povoadas são
as que apresentam menor quantidade disponível desse bem.
- 98 -
O Estado de São Paulo, por exemplo, já apresenta o volume de água
disponível para uso igual a quantidade demandada pela população. O volume
de água dos rios e das represas da região estão se esgotando e existem
estimativas de que em cerca de cinco anos possa haver problemas
relacionados a falta de água na cidade (Leal e Vicária, 2008).
A crise esperada está relacionada a escassez de água que se dá pelo
consumo exagerado e pela poluição dos corpos hídricos existentes. Problemas
como desidratação, desnutrição, doenças ocasionadas pela ingestão de águas
contaminadas, falta de higienização e problemas sócio-econômico devem
atingir toda a população mundial em algum momento. Em função disso, o nível
de pobreza deverá aumentar, o que, certamente, trará impactos negativos ao
desenvolvimento econômico das nações.
- 99 -
CAPÍTULO V
POSSÍVEIS SOLUÇÕES PARA MITIGAR A CRISE
“Água doce é um recurso cada vez mais escasso e valioso. Deveria ser usado de maneira mais eficiente
possível”. Robin Clarke e Jannet King (2005).
Se para desenvolver hoje é necessário consumir grandes quantidades de
água, para que este desenvolvimento possa ser mantido é extremamente
importante que a utilização dessa água seja realizada de forma sustentável,
isto é, controlada e consciente. Contanto, para isso, urge que ações sejam
tomadas em direção à valoração da água como bem de consumo essencial e à
conscientização ambiental.
5.1. Redução do consumo de água na irrigação
A agricultura é o setor que mais consome água atualmente; contudo uma
significativa parcela de toda essa água é desperdiçada pelo uso ineficiente
desse recurso por meio das técnicas de irrigação tradicionais.
Em todo o mundo a água utilizada na irrigação é retirada de um rio
próximo ou de um poço de água subterrânea por meio de um sistema de
aqueodutos. No entanto, cerca de 60% da água aplicada não chega a atingir as
plantações (Miller, 2007).
Tradicionalmente é utilizado o método do fluxo gravitacional, no qual a
água flui pela ação da gravidade, sendo direcionada por valas sem cobertura
localizadas em meio às plantações. Todavia, esse método induz a perda de
40% da água inicialmente utilizada, que o se dá por vazamentos e evaporação
ao longo do escoamento pelos canais (Miller, 2007).
- 100 -
Com base nisso, é necessário a aplicação de outras tecnologias que
consumam menor quantidade de água. Entre elas destacam-se as técnicas da
irrigação por pivô central ou daquela realizada por gotejamento (Clarke e King,
2005; Miller, 2007).
A primeira delas utiliza bombas de aspersão para pulverizar, com baixa
pressão, água sobre a plantação e permite um consumo efetivo de cerca de
80% do recurso hídrico aplicado. Por outro lado, esse método pode ser ainda
mais preciso e garantir a utilização de 90 a 95% da água utilizada. Para isso, a
pulverização de água é feita mais próxima ao chão e através do uso de gotas
maiores (Miller, 2007).
Quanto à técnica de irrigação por gotejamento ou microirrigação, tem-se
este como o método mais eficiente. Nesta a água é distribuída por mangueiras
ou por uma rede de tubos plásticos perfurados que ao serem instalados no
nível do solo ou abaixo dele, permitem que as gotas de água sejam
depositadas lenta e constantemente próximo as raízes das plantas (Clarke e
King, 2005; Miller, 2007).
Segundo Clarke e King (2005), neste último método, tem-se uma perda
por evaporação equivalente a apenas 5%. Vale citar que esse sistema pode ser
adaptado de modo apresentar sua estrutura fixa ou móvel de acordo com
padrão de cultura utilizado e o custo associado (Clarke e King, 2005).
Devido ao custo relacionado a utilização desse método, ao baixo valor da
água, muitos agricultores preferem utilizar os métodos mais tradicionais que
demandam um consumo exagerado de água. Isso pode ser observado quando
se constata que apenas, aproximadamente, 1% das plantações no mundo
utilizam essa técnica de irrigação (Miller, 2007).
Esse número cresce em alguns lugares: nos EUA este valor corresponde
a 4%, sendo desse total 13% no estado da Califórnia; no Chipre, tem-se 905 de
uso; enquanto em Israel este valor equivale e 66% (Miller, 2007).
A figura 5.1 mostra uma ilustração dos desses três métodos de cultivo:
irrigação por fluxo gravitacional ou alagamento, irrigação por pivô central e
irrigação por gotejamento.
- 101 -
Figura 5.1 – Métodos de irrigação
Outras tecnologias estão sendo desenvolvidas para reduzir o consumo de
água na irrigação. Segundo Little (2009), engenheiros instalaram 16 sensores
infravermelhos sem fio em no braço de um sistema de irrigação por pivô central
para tratar uma plantação de algodão. A intenção é que os sensores verifiquem
a temperatura das folhas e permitam que o equipamento apenas utilize água
quando necessário. Este procedimento tem sido capas de economizar 5cm de
água por colheita.
Outra tecnologia de ponta que vem sendo testada é o uso de
equipamentos a laser que objetivam medir a turbulência provocada por ondas
de calor que existem sobre a plantação, devido a evapotranspiração das
pnatas (Little, 2009).
Nesse contexto, outras formas de reduzir o consumo de água pode ser a
utilização, quando aplicável, culturas que consumam menos água. Isso pode
ser verificado na região do aqüífero Ogallala, na qual alguns fazendeiros
substituíram milho por girassol, trigo, sorgo e outras culturas que exigem
menos água (Little, 2009).
Fluxo Gravitacional Gotejamento Pivô Central
- 102 -
Ainda na região do aqüífero Ogallala, alguns agricultores fizeram
modificações em seus métodos de cultivo. Eles deixaram de arar o campo após
a colheita, deixando a sobra da colheita anterior no solo a fim de plantar a nova
safra sobre os resíduos. Com isso, eles verificaram que havia redução da
erosão do solo e que ao reduzir as perdas por evaporação, reduziam a perda
de umidade a um equivalente a cerca de 3cm ou mais de chuva anualmente
(Little, 2009).
Podem ser também empregadas técnicas diferentes para o plantio de
uma mesma cultura. De acordo com Clarke e Kind (2005), o método tradicional
para o cultivo de arroz utiliza a lavoura constantemente embaixo d’água;
porém, por meio de alguns experimentos realizados na província de Guangxi,
China, constatou-se que as plantações de arroz são beneficiadas quando os
níveis de água são mais baixos. Assim, foi possível cultivar maior quantidade
dessa cultura através do consumo de menor quantidade de água.
Outro método que também pode ser aplicado é a captação e o acúmulo
da água das chuvas para serem empregadas posteriormente nas plantações
(Little, 2009).
Israel, no entanto, por ser um país onde há grande escassez de recursos
hídricos, trata e reaproveita cerca de 30% de suas águas residuais
provenientes de esgotos domésticos para fins de utilização na agricultura.
Ademais, esse país pretende elevar esse valor para 80% até o ano de 2025 .
No entanto, para isso, o governo precisou retirar grande parte dos subsídios da
água e aumentou preço da mesma para um dos mais altos valores do mundo
(Miller, 2007).
Assim, para o caso de agricultores pobres e que fazem o uso de de
culturas de baixo valor e que, por isso, não possuam condições de arcar com
os custos envolvidos nessas tecnologias mais sofisticadas, outras soluções
para redução do consumo de água podem ser apontadas.São elas: a utlização
de canais revestidos em susbstituição as valas abertas usadas no método de
irrigação por alagamento e , mais simples ainda, o uso da irrigação noturna, a
fim de reduzir as perdas por eveporação (Miller, 2007).
- 103 -
5.2. A dessalinização da água.
Em locais onde os recursos hídricos apresentam elevado grau de
escassez existem apenas dois meios para sobrevivência hídrica. Um deles é o
transporte de água doce proveniente de locais onde ela exista em abundância
para as localizações menos favorecidas. Outro método que também pode ser
empregado é a dessalinização da água (Clarke e King, 2005).
A dessalinização consiste na retirada dos sais dissolvidos em águas
salgadas provenientes do mar ou de água levemente salgada de aqüíferos ou
lagos. Todavia, dado o alto valor de sua tecnologia e a elevada quantidade de
energia necessária, esse método responde por apenas 1 % da água utilizada
no mundo (Clarke e King, 2005).
Atualmente, existem cerca de 3.500 usinas de dessalinização que
operam em 120 países do mundo. Estas estão localizadas, principalmente, em
locais mais desérticos e áridos do Oriente Médio, do norte da África, do Caribe
e do Mediterrâneo (Miller, 2007).
Entre os métodos de dessalinização estão a evaporação e a osmose
reversa (Miller, 2007).
A evaporação consiste em aquecer a água do mar até sua fervura, coletar
o vapor gerado e, em seguida, condensá-lo para produzir água doce. A figura
5.2 constitui um esquema representativo do que acontece nesse processo.
Figura 5.2 – Esquema representativo do processo de dessalinização por
evaporação.
- 104 -
O processo de osmose tradicional se baseia no contato de suas soluções
de concentrações diferentes, no qual a solução mais diluída se direciona para
no sentido da solução mais concentrada até que as pressões se igualem.
A osmose reversa, por outro lado, trata-se de um sistema de filtragem no
qual a água salgada é bombeada por meio de bombas movidas a eletricidade
ou diesel, com pressão superior a pressão osmótica, contra uma membrana
semipermeável que retém as moléculas maiores de sal e deixa passar as
moléculas menores de água limpa (Clarke e King, 2005; Miller, 2007).
Nesse ponto, vale mencionar, que esse processo precisa ser repetido
mais de uma vez até que sejam atingidos os níveis de pureza especificados
para considerar a água tratada em condições de uso. A figura 5.3 apresenta
um esquema representativo do que ocorre em processo de osmose reversa.
Figura 5.3 – Esquema representativo do processo de desalinização por osmose
reversa.
Existem, porém, duas grandes desvantagens para a utilização desses
processos: o alto custo e a grande quantidade de sais obtida como subproduto
(Miller, 2007).
O alto custo associado a esses métodos está intimamente relacionado a
grande demanda de energia empregada. Atualmente, custa cerca de duas a
três vezes mais caro dessalinizar água do que purificá-la por meio dos métodos
tradicionais (Miller, 2007).
- 105 -
Alguns avanços na tecnologia empregada na osmose reversa têm
apontado para a redução do consumo de energia (Miller, 2007). Uma
comparação, figura 5.4, pode ser feita para determinar a diferença entre as
quantidades de energia exigidas para dessalinização de água pelos métodos
apresentados.
Figura 5.4 – Energia necessária para produzir 1.000 litros de água doce por dessalinização. Dados baseados no ano de 2003. (Clarke e King, 2005).
Quanto a salmoura gerada como subprodutos desses métodos, essa
pode ser encarada como um problema, visto que por apresentar grandes
quantidades de sais e de outros minérios, seu despejo deve ser analisado com
o devido critério para não ocasionar problemas ecológicos.
A disposição da salmoura em local próximo ao mar, por acarretar em um
amento da salinidade da água marinha, pode ameaçar os recursos alimentícios
e as espécies de vida aquática local. Se, por outro lado, a salmoura for
depositada em terra, pode ocasionar a contaminação de águas subterrâneas e
superficiais.
Segundo Miller (2007), cientistas estão desenvolvendo membranas mais
eficientes para a realização da osmose reversa. Contudo, apesar de reduzir o
custo empregado, essas novas tecnologias ainda não apresentam as
condições necessárias para atender a demanda mundial por água potável.
Além disso, é necessário que sejam empregados métodos que utilizem
formas de alternativas para atuarem com fontes de energia (como a energia
Osmose Reversa Evaporação
25-200 kWh de eletricidade
6 kWh de eletricidade
- 106 -
solar, por exemplo) e, assim, reduzir o custo do processo. Entretanto, o
problema relacionado ao descarte da salmoura produzida como subproduto
deve permanecer. (Miller, 2007)
Dessalinizar fontes de água pode ser a solução para o caso de locais
onde realmente não há solução melhor para o abastecimento de água doce,
dada a intensa escassez apresentada, como o caso dos países do Oriente
Médio e alguns locais da África.
Contudo, esta opção não deve ser entendida como a solução dos
problemas relacionados à crise hídrica. Este é apenas um método alternativo e
emergencial para casos pontuais.
A dessalinização é um método que demanda muita energia e não resolve
o problema de escassez hídrica mundial. Isso porque, não seria possível
dessalinizar toda a água necessária para atender a demanda cada vez maior
da população mundial em curto prazo. E, em última análise, porque, dessa
forma, seria mantido o elevado consumo de água e a sua utilização de modo
descontrolado e abusivo, com base na manutenção de uma crença de que a
água deve ser vista como recurso ilimitado.
Dessa forma, a solução para evitar a crise hídrica ainda é a mudança na
linha de cultura que aponta o desperdício e a poluição dos recurso hídricos
como situações cotidianas e normais.
5.3. Educação Ambiental
A água como um bem inesgotável é uma visão que existia desde as eras
mais antigas e que se estabeleceu durante muito tempo, mesmo nas
sociedades mais modernas e desenvolvidas. Contudo, atualmente, sabe-se
que essa interpretação não condiz com a realidade presenciada no planeta.
Hoje, já existem populações de uma lista de locais que sobrevivem sob
condições de estresse hídrico e estima-se que, dentro de pouco tempo, muitos
outros locais também passarão a fazer parte dessa lista. A crise hídrica é um
problema de ordem global e, por esse motivo, cedo ou tarde será sentida por
todos.
- 107 -
Dados da ONU revelam que um terço da população mundial já vive em
condições de estresse hídrico médio e alto. Ademais, segundo projeções, essa
organização estima que o crescimento demográfico colocará,
aproximadamente, 5 bilhões de habitantes na mesma situação até o ano de
2025 (IPCC, 2007 APUD Freitas, 2009).
Assim, a degradação dos recursos hídricos precisa ser interrompida; mas,
para isso, é necessário que o consumo de água passe a ser realizado de forma
mais eficiente, o que inclui duas ações: desperdiçar menos e poluir menos
ainda. Essas atitudes são importantes, pois podem contribuir para que haja o
tempo necessário demandado para que a natureza consiga repor
constantemente os estoques desse recurso por meio do ciclo hidrológico.
Todavia, não basta que essas ações sejam tomadas por apenas uma
parcela da população, é preciso que sejam realizadas pelo maior número de
pessoas possível em toda parte do planeta.
Com base nos dados apresentados, verifica-se que a reversão do quadro
de escassez hídrica depende da colaboração direta ou indireta, maior ou
menor, de todos e envolve, sobretudo, uma mudança cultural significativa. Para
isso, é necessário que novos conceitos sejam considerados, abordando uma
visão diferenciada em relação àquela que apresenta a água como um bem
ilimitado.
Com esse objetivo, entende-se que uma boa solução seria investir em
projetos de educação ambiental, destinados a informar e, principalmente,
conscientizar a população quanto à importância da água e a necessidade de
que seja preservada.
Estes projetos deveriam propor programas diferenciados de educação
ambiental, em função das diferenças de idade do público alvo.
- Projeto 1
Objetivo: Desenvolver meios de conscientizar a população adulta.
- 108 -
Área de atuação: Esse projeto pode ser desenvolvido dentro de
empresas, de bairros, de pequenos municípios e, posteriormente, pode ser
estendido, em partes, a cidades e grandes centros.
Atividades:
1 - Promover a realização de palestras por grupos, nas quais as
informações seriam passadas de maneira diferenciada, visando atingir todos os
níveis de entendimento e utilizando-se, para isso, das mais variadas formas de
linguagem.
Nessas palestras devem ser abordados os seguintes temas: a
importância da água para vida e a escassez hídrica que já atinge algumas
partes do globo. Ademais, vale citar que devem ser tratados estudos de casos,
como o da China, que demonstra uma forma insustentável de desenvolvimento;
a possibilidade de guerras civis pela água e as doenças que podem ser
disseminadas pela falta de água e pelo uso de fontes poluídas.
Esses casos devem ser analisados de forma ilustrativa e em caráter
chocante, a fim de chamar a atenção, por meio de fotos, documentários e
dados presentes e de estimativas futuras.
2 - Podem ser realizadas pesquisas por meio de questionários, nos quais
algumas perguntas seriam:
-Você sabe que a água é um bem limitado?
-Você conhece a importância desse bem? Você acha que é possível
sobreviver sem água?
-Você sabe que existem estimativas que prevêem a existência de uma
crise hídrica?
-Você percebe quando desperdiça água em sua casa e/ ou local de
trabalho?
-Você sabe que o preço da água irá aumentar?
- 109 -
-O que você fará quando isso ocorrer? Vai mudar sua postura e
economizar mais? Ou vai continuar consumindo da mesma forma sem se
preocupar com a conta no fim do mês?
3 - Podem ser distribuídos muitos cartazes que tratem de modo ilustrativo
do mundo sem água: fotos de secas e de pessoas com dificuldades de acesso
à água. Estes podem também conter citações e questionamentos como: “O
poço está secando!” ou “Você conseguiria sobreviver sem água?”
4 - Entre outras atividades, podem ser realizadas gincanas e torneios a
fim de julgar o melhor slogan para o problema da crise hídrica ou a melhor
poesia sobre a água. Podem ser realizados, também, concursos para avaliar as
melhores pinturas que retratem a água e suas perspectivas futuras para a
humanidade.
Nesse ponto, vale citar que essas atividades estão mais relacionadas à
atuação dentro de uma empresa. Quando o foco é um grande centro urbano é
importante investir em propagandas repetitivas que retratem os impactos da
falta de água. Além disso, sempre que possível, durante grandes eventos e
fóruns, deve ser dedicado um tempo para tratar sobre a falta de água, suas
causas e, principalmente, seus principais impactos a saúde e ao
desenvolvimento.
Concursos de pinturas, slogans e poesias sobre a água também podem
ser realizados em associações de moradores de bairros e em condomínios.
- Projeto 2:
Objetivo: Desenvolver meios de conscientizar a população infantil.
Área de atuação: Esse projeto poderia ser desenvolvido dentro de
escolas.
Atividades:
1 - Realizar palestras informativas sobre a água e sua importância para a
manutenção da vida. Tratar sobre os males que a falta de água pode causar;
2 - Promover concursos de poesias e frases sobre a água;
- 110 -
3 - Incentivar, constantemente, o não desperdício, com base na utilização
das boas práticas de uso da água;
4 - Nas reuniões com os pais, sugerir que os mesmos, em seus lares,
incentivem o não desperdício e a redução da poluição dos corpos hídricos.
Essa iniciativa vai ajudar não somente a criação de uma cultura sadia na
criança, como também vai contribuir para mudança cultural dos próprios pais.
5 - Incentivar que as crianças se sintam proprietárias da água que as
cerca e que, por isso, sejam capazes de protegê-la, informando seus pais e
colegas, quando perceberem ações de desperdício e poluição de corpos
hídricos.
5.4. A valoração da água
Com base nos dados apresentados, que revelam a iminência de uma
crise hídrica mundial, a valorização da água é definida como uma das ações
necessárias para a reversão desse cenário.
Entre as ações relacionadas a essa valoração destacam-se: o
aproveitamento da água da chuva; o melhor gerenciamento dos resíduos e o
tratamento de efluentes a fim de que a água tratada possa ser reaproveitada
em outra atividade; a redução de vazamentos em tubulações de fábricas ou
redes de distribuição para o público, que favorecem o desperdício; o uso de
tecnologias que permitam realizar os processos tradicionais com o uso de
menores quantidades desse bem; além da ação do governo no
estabelecimento de leis e incentivos que estimulem a redução dos níveis de
consumo, de forma a regular e controlar o uso da água.
Uma boa forma de obtenção de água barata e que contribui para a
redução do consumo é a captação de água da chuva que, de outro modo, se
perderia no solo ou por evaporação. Essa ação pode ser realizada em
residências, na agricultura e nas indústrias. A água pode ser coletada de
telhas, calhas e telhados e direcionada para o acúmulo em cisternas, onde
permanecerá até que seja utilizada como recurso para irrigar lavouras, para
- 111 -
atuar como aquecimento e arrefecimento de instalações industriais e, entre
outros usos, para lavar carros, calçadas e ser utilizada em vasos sanitários.
Quanto à tecnologia empregada para essa captação, esta pode variar de
acordo com a necessidade e a disponibilidade de investimento de cada
atividade para qual seu uso se destine.
Como exemplo pode ser mencionado o aeroporto de Frankfurt na
Alemanha, o qual realiza a coleta de cerca de 16 milhões de litros de água da
chuva anualmente e a aplica em limpeza, jardinagem e vasos sanitários do
estabelecimento (Clarke e King, 2005). Com essa iniciativa, o aeroporto
favorece a mitigação da crise, além de reduzir seus gastos com utilidades.
Outra maneira de reduzir gastos e o desperdício é a melhor gestão de
tubulações e redes de abastecimento, a fim de permitir sua boa conservação
através de manutenções corretivas e preventivas, dificultando a ocorrência de
vazamentos.
O melhor reaproveitamento dos recursos hídricos pode ocorrer com base
no seu tratamento, após uso, para posterior reutilização. Segundo Clarke e
King (2005), em muitos países em que a condição de escassez é observada,
os esgotos urbanos são tratados e a água, após purificada, é utilizada na
irrigação.
Em Israel, por exemplo, é utilizada tecnologia avançada em usinas de
tratamento de esgoto, que direcionam a água tratada para irrigação de
aproximadamente 20.000 hectares de lavoura (Clarke e King, 2005).
O uso de métodos para transformar esgoto em água potável existe, por
exemplo, nas estações espaciais. Outro caso que pode ser citado é a cidade
de Singapura, em que seus habitantes bebem água residual tratada
diariamente e não apresentam efeitos colaterais devido a isso (Webber, 2009).
O emprego de novas tecnologias também deve ser realizado com objetivo
de propor processos que utilizem cada vez menos quantidades de água. De
acordo com Clarke e King (2005), países desenvolvidos, com o intuito de
reduzir custos, propuseram uma redução geral no seu consumo de água e
- 112 -
obtiveram grandes êxitos na manutenção de seus processos produtivos com
base na utilização de quantidades menores de água.
Como exemplo, pode-se citar que, atualmente, a produção de aço
consome menos do que um quarto da água que utilizava anteriormente. Outro
exemplo é a economia de água observada na indústria norte-americana de
1950-1990, período em que uso industrial por pessoa foi reduzido pela metade
no país e a produção foi quadruplicada (Clarke e King, 2005).
A economia no consumo de água também deve ser estendida no setor
agrícola, seu consumidor em potencial, conforme já discutido no item 5.1 deste
trabalho. O que pode ser feito por meio do uso de técnicas mais eficientes de
irrigação ou pelo uso de culturas que mais resistentes à falta de água, quando
aplicável.
Nas residências, além do uso da água da chuva, a utilização de vasos
sanitários com descarga controlada é um exemplo do uso de tecnologias
alternativas e, muitas vezes, simples, para a redução do consumo e do
desperdício de água. O vasos convencionais que utilizam cerca de 16 litros de
água por descarga estão sendo substituídos por vasos com descarga
controlada, nos quais o consumo corresponde a, aproximadamente, 6 litros por
descarga.
Na Califórnia, verificou-se que o custo de investimento para essa
tecnologia era inferior ao necessário para canalização de maiores quantidades
de outras fontes. Ademais, vale citar que cerca de 350 mil vasos sanitários com
descarga controlada foram instalados na Cidade do México, o que possibilitou
uma economia de 28 milhões em metros cúbicos de água por ano. Entretanto,
essas instalações só foram utilizadas devido a um aumento nas tarifas de água
locais (Clarke e King, 2005).
Assim, verifica-se que a valorização da água, que pode ser medida pelo
aumento direto de sue preço no mercado, é um fator determinante para
combater a crise. Pode-se dizer que a mudança de cultural de uma população
começa quando sua situação financeira começa a incomodar, em outras
palavras: “a mudança de postura é reflexo da situação financeira de cada um”.
- 113 -
Nesse contexto, tem-se que o preço que o consumidor paga pela água
influi diretamente na quantidade que ele utiliza. Dessa forma, quanto maior o
valor estipulado para a tarifa, maior o grau de conservação será dado a esse
bem e menor será a tendência ao desperdício e a poluição.
Por outro lado, enquanto a água for entendida como um recurso ilimitado
e sem valor, menor será o incentivo ao seu uso sustentável. Isso é o que se
observa em locais de elevada produtividade agrícola, no qual os subsídios
fornecidos pelos governos favorecem ao elevado consumo de água e a falta de
interesse para investir em métodos mais eficientes de irrigação.
Entre muitos exemplos dessa realidade, podem ser citados: a região do
aqüífero Ogallala nos EUA, no qual devida a intensa atividade agrícola, já se
observa sintomas de seca e o caso da Espanha, que apesar de ser um dos
locais mais secos da Europa, é comum o cultivo de plantas que exigem
grandes quantidades de água, como o milho, a alfafa e a batata. Essa atitude
espanhola é apenas o reflexo do fato do preço pago por alguns fazendeiros
locais representar o equivalente a apenas um por cento do custo real envolvido
no fornecimento de água (Clarke e King, 2005; Little, 2009).
Segundo Miller (2007), preços mais altos favorecem o melhor
entendimento da cultura da preservação dos recursos hídricos; contudo,
dificultam o acesso da água para que agricultores e população de baixa renda
possam atender as suas necessidades básicas.
Para resolver esse paradigma, o governo sul africano encontrou uma
solução que já está sendo utilizada por alguns outros países sob condições
diferenciadas.
A solução encontrada pela África do Sul foi o aumento do preço da água
por meio do estabelecimento da tarifa denominada “salva-vidas” que se baseia
em um sistema de cota pré-estabelecida. Nesse sistema, as residências podem
utilizar uma determinada quantidade de água a um preço baixo para atender às
suas necessidades básicas; entretanto, quando ultrapassam a quantidade
estabelecida, é observado um aumento no valor da tarifa.
- 114 -
Além do fornecimento de subsídios, uma das formas utilizadas pelo
governo para estimular a redução do consumo e a valoração da água é a
criação de uma legislação ambiental aplicada ao tema.
No Brasil, entre os instrumentos mais importantes para regular e controlar
o uso sustentável dos recursos hídricos, destacam-se: a outorga de uso, a
cobrança pelo uso e o princípio do poluidor-pagador.
A outorga de uso dos recursos hídricos consiste em um meio através do
qual o Poder Público autoriza, concede ou permite a um usuário fazer o uso
desse bem. É uma forma de controle qualitativo e quantitativo sobre a água.
A Política Nacional dos Recursos Hídricos, lei Nº9.433 de 1997, define
quais os tipos de empreendimentos e atividades que dependem de outorga,
dadas às alterações quantitativas e qualitativas ocasionadas aos corpos
superficiais ou subterrâneos.
A cobrança pelo uso da água é outro instrumento para gestão dos
recursos hídricos, também instituído pela lei Nº9.433 de 1997. Segundo a
Agência Nacional de Águas (2010), a cobrança é um meio que visa o estímulo
ao uso racional da água e a geração de recursos financeiros que serão
destinados à recuperação e preservação de mananciais de bacias.
Vale citar que a cobrança também está sujeita a outorga, visto que não
pode haver cobranças por atividades cujos usos não tenham sido outorgados.
Ademais, devido à degradação e à escassez dos recursos hídricos
ocasionados pela produção e consumo, outro instrumento, o princípio do
poluidor-pagador é um meio que obriga o usuário que polui a pagar pela
poluição real ou potencial causada
Esse princípio é tratado na Política Nacional dos Recursos Hídricos, lei Nº
6.938 de 1981, sob a segunda definição:
“(...) Art.4° A Política Nacional do Meio Ambientevisará:
VII – à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar
e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização
de recursos ambientais com fins econômicos. (...)”
- 115 -
Em vista dos fatos apresentados, verifica-se que muitas são as ações
envolvidas na preservação da água como um bem limitado. Todavia, a melhor
ação a ser empregada é aquela que melhor atende às necessidades
específicas de cada atividade e à legislação aplicável.
- 116 -
CONCLUSÃO
“Nosso planeta líquido brilha como uma safira azul macia na dura
escuridão do espaço. Não há nada como ele no sistema solar. Por causa
da água”. John Todd (1950-2007)
A água é um recurso essencial à manutenção da vida e de extrema
utilidade em todos os processos produtivos e nas atividades cotidianas.
Entretanto, desde os tempos remotos, devido a sua abundância relativa, não
apresenta valor significativo. Por esse motivo, uma cultura baseada na pouca
valoração desse bem e que favorece o desperdício e a poluição dos recursos
hídricos foi estabelecida.
Atualmente, verifica-se que a visão da água como um recurso inesgotável
está sendo conduzida a um processo de extinção gradativo. Vale mencionar,
que tal mudança somente está ocorrendo devido às evidências que apontam
para a eminência de uma crise hídrica.
Essa crise é silenciosa e já pode ser observada em algumas partes do
globo por meio dos quadros de seca, escassez e aumento no índice de
doenças. Essas últimas estão relacionadas à ingestão ou contato com águas
poluídas ou à utilização dos recursos hídricos em quantidades inferiores às
solicitadas ao atendimento das necessidades básicas à vida.
Assim, devido ao desperdício, à poluição e ao elevado consumo motivado
pelo desenvolvimento econômico das nações, o ciclo hídrico se encontra
comprometido e incapaz de repor toda a quantidade demandada em tempo
hábil.
Sabe-se que as causas expostas podem ser tratadas com incentivos a
novas tecnologias; a adoção de boas práticas de uso da água, desde grandes
- 117 -
indústrias até nas residências; o uso de projetos de educação ambiental que
invistam em mudança de cultura e estimulem a valorização e o respeito aos
recursos hídricos e, em suma, maior comprometimento de toda a população.
Com esse objetivo, é importante que seja criada uma maior
conscientização ambiental, mesmo que, para isso, seja necessário aumentar o
valor das tarifas pagas pelo uso da água.
Não basta acreditar que é possível dessalinizar toda a água do mar que
precisarmos para matar a sede do progresso e da qualidade de vida. Este é
apenas um método pontual e que não trata o problema da crise.
Além disso, não adiante criar políticas que incentivem apenas a redução
do crescimento populacional, a fim de reduzir o consumo dos recursos hídricos.
Pois, apesar do crescimento populacional ser uma das principais causas que
contribuem para o agravamento da situação de escassez, atuar de forma a
inibi-lo é apenas uma forma de atrasar a crise, mas não de evitá-la.
A solução para que a escassez de água seja evitada é, inicialmente, o
entendimento de que esse recurso é propriedade de todos e de que sua falta
irá refletir mais cedo ou mais tarde, direta ou indiretamente sobre todos. Por
isso, é preciso que ações sejam tomadas em âmbito mundial, englobando
todos os níveis e setores da economia.
Na indústria, por exemplo, algumas ações para o melhor uso da água
podem ser: evitar vazamentos; reprojetar processos, a fim de atingir menor
consumo; tratar efluentes antes de direcioná-los aos corpos hídricos e
recircular o máximo possível da água que utilizam.
Quanto aos governos, estes podem regular e controlar o uso da água por
meio de uma legislação ambiental específica, além de através de ações como:
aumentar o preço da água; diminuir os subsídios para o fornecimento de água;
aumentar os mesmos para a redução do desperdício e considerar maiores
investimentos em educação ambiental.
Nesse contexto, é urgente que haja uma mudança de postura frente o
conceito de importância e do uso da água. Isso se faz necessário para impedir
- 118 -
que a escassez desse recurso possa atuar como um entrave no crescimento e
desenvolvimento econômico das nações e no progresso da qualidade de vida
da população.
Diante do exposto, verifica-se que o melhor gerenciamento dos recursos
hídricos na busca pela qualidade e disponibilidade da água é essencial para
manutenção da dinâmica do desenvolvimento econômico.
Assim, para enfrentar a crise e evitar suas piores conseqüências é
preciso, primordialmente, conscientização ambiental. Com isso, será possível
entender que o problema da crise hídrica não é determinado pelo quanto se
usa de água, mas pela forma como ela é utilizada.
Logo, a solução para crise hídrica que se mostra iminente, não consiste
em parar de utilizar água; mas, simplesmente, usá-la de forma sustentável.
A água como muitos recursos naturais estão sendo utilizados de maneira
desrespeitosa e predatória. Com base nisso, a sociedade precisa repensar
como e com que intensidade muitas de suas ações presentes podem impactar
o futuro das próximas gerações. É nesse contexto, que os versos de Herbert
Marcuse nos fazem refletir:
“A luta para ampliar o mundo da beleza, da não violência, da tranqüilidade
é uma luta política. A insistência nestes valores, em restaurar a Terra como
meio ambiente humano, é não apenas uma idéia romântica, estética, poética
que concerne unicamente aos privilegiados: é hoje uma questão de
sobrevivência.” (Senent, 1979).
- 119 -
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- 128 -
ANEXOS
Índice de Anexos
ANEXO I
Consumo de água nos países ............................................................. 129
ANEXO II
Distribuição mundial do consumo de água por setor .......................... 130
ANEXO III
Regiões Hidrográficas Brasileiras ....................................................... 131
Regiões Hidrográficas Brasileiras: Vazão Média X População ........... 132
ANEXO IV
Consumo de água nas bacias mundiais.............................................. 133
ANEXO V
Reportagens: Consumo de água na produção de biocombustíveis .... 134
ANEXO VI
Reportagens: Impactos – Redução dos aqüíferos .............................. 138
ANEXO VII
Reportagens: Impactos – Poluição do aqüífero Guarani ..................... 140
ANEXO VIII
A exploração dos aqüíferos no mundo ................................................ 143
ANEXO IX
Reportagens: Conflitos pela água ....................................................... 144
- 129 -
ANEXO I
Figura A1 - Reportagem do Portal EcoDebate que demonstra as
desigualdades envolvidas no consumo de água de alguns países. (Naime,
2010).
- 130 -
AN
EX
O II
Figura A2 – Distribuição mun
dial do consum
o de
água utilizada
por setor, em ordem
de quan
tidad
e consum
ida (Clarke e King,
2005).
- 131 -
ANEXO III
Figura A3.1 – Mapa demonstrativo das delimitações entre os Estados e as
regiões hidrográficas brasileiras (SAPO, 2010).
Linhas brancas: fronteiras entre Estados
Cores: territórios delimitados por cada região hidrográfica.
- 132 -
AN
EX
O II
I
0%10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Am
azônic
a
Cost
eira
lest
e
Par
aguai
Par
aná
Toca
ntins
Uru
guai
São
Fra
nci
sco
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ba
Cost
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Sul
Cost
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sudes
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Nord
este
Orien
tal
Nord
este
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den
tal
Regiões HidrográficasR
egiõ
es H
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grá
fica
s: v
azão
méd
ia X
popula
ção
Vaz
ão M
édia
%P
opula
ção %
População %
4,6%
8,3%
1,1%
33,2%
4,8%
2,3%
7,8%
2,2%
7,0%
15,6%
13,1%
0,04%
Vazão Média %
69,6%
0,9%
1,2%
6,6%
9,8%
2,6%
1,9%
0,5%
2,6%
2,1%
0,5%
1,6%
Amazônica
Costeira
leste
Paraguai
Paraná
Tocantins
Uruguai
São
Francisco
Parnaíba
Costeira
Sul
Costeira
sudeste
Nordeste
Oriental
Nordeste
Ocidental
Figura A3.2 – Com
parativo en
tre as vazõe
s méd
ias e o quantitativo popu
lacional das regiões hidrográficas brasileiras (M
oss e
Moss, 2010a
).
- 134 -
ANEXO V
Reportagem 1 (Cortez, 2009a): Matéria apresentada em 06/07/2009 no Portal EcoDebate, autor: Henrique Cortez. Relatório alerta para o balanceamento dos biocombustíveis e dos recursos hídricos
Pesquisadores da Rice University afirmam que os EUA devem ter
cuidado que a nova ênfase no desenvolvimento dos biocombustíveis como
uma alternativa ao petróleo importado e levar em consideração os potenciais
prejuízos para os recursos hídricos da nação.
De acordo com os pesquisadores um crescimento rápido na produção
dos biocombustíveis poderia ter grande impacto ambiental, com significativas
repercussões econômicas e isso, provavelmente, irá destacar a
interdependência e a crescente tensão entre a segurança energética e de
água. As conclusões da pesquisa foram publicadas no relatório “The Water
Footprint of Biofuels: A Drink or Drive Issue?”
A pesquisa indica que a crescente produção de agrocombustíveis
afetará a disponibilidade de recursos hídricos e aumentará a degradação dos
mananciais e da qualidade da água. A produção de agrocombustíveis
necessitam de grandes quantidades de água e a poluição da água é agravada
pela drenagem agrícola contendo adubos, pesticidas e sedimentos.
Os autores estimaram que para produzir etanol de milho irrigado em
Nebraska são consumidos 189 litros de água apenas para abastecer um carro
médio para a distância de 1,6 Km. Dadas as diferentes práticas da utilização
dos solos e outros fatores, esse número diminui para 87 litros para o milho
cultivado em Iowa e sobe para 435 litros de produção de sorgo no Texas.
O relatório reconhece que algumas fontes de biocombustível, como o
etanol celulósico a partir do switchgrass e outras opções, podem produzir mais
energia com menor demanda de terras agrícolas, agroquímicos e água. De
acordo com os pesquisadores as culturas devem ser escolhidas com base na
- 135 -
sua adequação às condições climáticas locais e que os produtores possam
adotar culturas sustentadas por chuvas, em vez de irrigação.
Reportagem 2 (Cortez, 2009b): Matéria apresentada em 06/08/2009 no Portal EcoDebate Impacto da produção de etanol de milho nos recursos hídricos é 3 vezes maior do que o estimado.
A cada dia são apresentadas novas pesquisas que detalham os pesados
impactos ambientais da produção do etanol de milho, também chamado de
bioetanol, contrariando os argumentos dos produtores e do governo em sua
defesa e na manutenção de grandes subsídios.
Uma nova pesquisa [Water Embodied in Bioethanol in the United States]
detalha que o impacto da produção de etanol de milho nos recursos hídricos é
3 vezes maior do que o estimado. Numa altura em que o abastecimento de
água já é crítico em muitas áreas dos Estados Unidos isto pode ser um
desastre ao longo prazo. É isto que demonstram cientistas demonstram no
artigo publicado na revista Environmental Science & Technology.
De acordo com os pesquisadores a produção atual de etanol de milho,
nos EUA, é de 9 bilhões de galões, com tendência ao crescimento, em razão
da expansão da área plantada e da manutenção dos subsídios.
A produção já impacta a disponibilidade hídrica e seu crescimento pode
ser uma ameaça ainda maior. Estudos anteriores estimaram que um
galão(3,78l) de bioetanol à base de milho requer a utilização de 263(995l) a
784(2967,7l) galões de água, da exploração agrícola até à bomba de
combustível.
Os cientistas fizeram uma nova estimativa do impacto do bioetanol sobre
o abastecimento de água usando dados mais detalhados da irrigação em 41
estados, estimando que um galão de etanol pode exigir a mais de 2.100 galões
de água a partir da exploração agrícola até à bomba de combustível,
dependendo da prática de irrigação regional.
- 136 -
No entanto, os Estados do ‘cinturão de milho’ (Corn Belt) consomem
menos de 100 galões de água por galão de etanol, tornando-os mais
adequados para a produção de etanol.
Reportagem 3 (Zenker, 2009): Matéria apresentada em 22/03/2009 no Agência Brasil – Empresa Brasil de Comunicação Dia Mundial da Água: ONU recomenda que países criem políticas para regular consumo
O aumento cada vez maior do consumo de água vai exigir que os países
estabeleçam políticas públicas para regular o seu uso. Essa é uma das
conclusões do 3º Relatório das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Mundial
dos Recursos Hídricos, divulgado durante o 5º Fórum Mundial da Água, que
ocorreu em Istambul, na Turquia, ontem (22), Dia Mundial da Água.
O documento informa que já existem políticas em diversos países para
redução da demanda e do desperdício de água. O texto alerta também para a
necessidade do envolvimento de todos os setores da sociedade responsáveis
pelas tomadas de decisão, e não somente das áreas que tratam diretamento
do assunto, na formulação de diretrizes para regular o consumo de água.
Entre os fatores que vão levar ao consumo ainda maior de água, prevê o
relatório da ONU, estão o crescimento e a mobilidade da população, o aumento
no padrão de vida, mudanças nos hábitos alimentares e o crescimento da
produção de energia, particularmente de biocombustíveis. Além disso, segundo
texto, os efeitos das alterações climáticas devem agravar a situação em países
que já estão quase no limite de uso de água dos recursos hídricos.
De acordo com o relatório, triplicou a prospecção de água potável nos
últimos 50 anos e dobrou o número de áreas irrigadas.
A ONU atribuiu isso ao crescimento da população mundial, que registra
cerca de 80 milhões de nascimentos por ano. O aumento demográfico vem
- 137 -
resultando num incremento anual de 64 bilhões de metros cúbicos na demanda
por água.
A agricultura é o principal consumidor, respondendo por 70% do uso de
água. Caso não sejam tomadas medidas para conter o uso dos recursos
hídricos pelo setor agrícola, alertam os autores do relatório, a procura mundial
por água vai crescer entre 70% e 90% até 2050.
Ainda segundo o relatório da ONU, a expansão da produção de
biocombustíveis também contribuiu para aumentar o consumo de água. A
produção de etanol, de acordo com o documento, triplicou entre 2000 e 2007 e
pode chegar a 127 bilhões de litros até 2017. O Brasil e os Estados Unidos são
os principais produtores, tendo como matrizes, respectivamente, a cana-de-
açúcar e o milho.
Além disso, destaca o documento, as mudanças nos hábitos alimentares
também têm aumentado a demanda pelos recursos hídricos, especialmente o
crescimento do consumo de carne. Para a produção de um quilo de carne são
necessários entre 800 e 4 mil litros de água.
- 138 -
ANEXO VI
Reportagem 1 (Nájar, 2009): Matéria apresentada em 07/08/2009 na BBC Brasil Excesso de extração de água causa rachaduras gigantes no solo do México
A Cidade do México está sofrendo com rachaduras gigantes no solo que
ameaçam comunidades inteiras. De acordo com as autoridades, o problema se
deve ao excesso de extração de água na capital e nos arredores, onde o solo
não é estável. Dados oficiais revelaram que há risco de afundamento em oito
delegações da cidade, onde vive mais de um milhão de pessoas.
Os moradores de Villas San Martín, no município de Chalco, a leste da
Cidade do México, levaram um susto no início de junho, quando um forte ruído
foi ouvido e várias casas tremeram.
Do lado de fora, eles encontraram uma rachadura de quase um
quilômetro de extensão e seis metros de largura.
"Escutamos um barulho muito forte que vinha de baixo, e logo vimos que
o chão estava se abrindo. Me assustei porque tudo aconteceu em poucos
segundos", disse à BBC a moradora Martha Ortíz.
'Círculo Vicioso'
O governo mexicano já localizou 172 fendas como a de Chalco, além de
250 comunidades construídas sobre túneis e minas antigas.
As rachaduras no solo se tornam mais frequentes na época de chuvas,
que começa em maio e termina em setembro. Segundo Jorge Legorreta, da
Universidad Autónoma Metropolitana, o problema se agravou nos últimos dez
anos.
"A cidade não tem fornecimento de água de fontes externas e a situação
foi resolvida com a extração do subsolo. É um círculo vicioso difícil de ser
rompido", explica ele.
- 139 -
Legorreta alertou que as fendas no solo continuarão aparecendo
enquanto não se encontrar uma alternativa para a prospecção de água.
A população que vive em terrenos com minas e túneis subterrâneos
também está em risco permanente.
As fendas no chão se tornam mais freqüentes na temporada de chuvas
"É um problema que já tem muitos anos e que estamos resolvendo, mas
no passado casas inteiras se afundaram", diz o administrador local José Luis
Zamorra.
- 140 -
ANEXO VII
Reportagem 1 (Portal EcoDebate, 2010):
Matéria apresentada em 15/06/2010 no Portal EcoDebate Uso inadequado e poluição ameaçam reservas de águas subterrâneas
“(...) Uso inadequado
Apesar da grande extensão do Aquífero Guarani, 1,1 milhão de
quilômetro quadrado (Km2), de acordo com o geólogo, Luiz Amore, observa-se
sinais de exploração exagerada em regiões específicas como a de Ribeirão
Preto, cidade localizada a 320 km da capital do estado de São Paulo.
Segundo o pesquisador, o aquífero rebaixou quase 60 metros, na zona
central da cidade, desde 1970 até hoje. “A própria sociedade usa ainda o
recurso num nível insustentável. A média de consumo de água nacional é de
250 litros habitante/dia, em Ribeirão Preto é de 400 litros/dia e algumas
residências têm aspersores no telhado para reduzir o calor em determinadas
épocas”, informa.
Para Amore, o descontrole e o interesse especial pela utilização do
recurso têm várias explicações, entre elas, a qualidade e o baixo custo. “Uma
água pura, limpa, da melhor qualidade e barata. Não exige tratamento. Tratar
água superficial é muito mais caro”, argumenta.
O especialista em engenharia ambiental também reforça que o problema
do rebaixamento do aquífero em Ribeirão Preto é local. “Não afeta nem mesmo
as regiões vizinhas (com exceção de Sertãozinho que também usa a água
subterrânea). Por isso, é muito importante aprender a usar e a fomentar a
gestão local do Aquífero Guarani, com a participação da população, dos órgãos
públicos e dos gestores hídricos da região”, sustenta.
Ribeirão Preto está localizada numa área de recarga do Guarani, onde há
maior vulnerabilidade natural à poluição e um intenso uso da água subterrânea
para o abastecimento público. O fato também de ser um pólo de
- 141 -
desenvolvimento regional, em constante crescimento,motivou a implantação de
um Projeto Piloto no local, onde foi feito o zoneamento de áreas com o objetivo
de preservar o reservatório natural.
Segundo Amore, a Comissão Local de Apoio à Gestão, criada no âmbito
do projeto, permitiu a criação de áreas de zoneamento na região: áreas onde
não se pode mais perfurar poços; áreas com uso possível dependendo das
circunstâncias e outras destinadas à preservação. Nestas últimas, não é
permitido impermeabilizar e nem ter determinados tipos de desenvolvimento
urbano e asfalto.
“Porque, caso contrário, a água não vai infiltrar e recarregar o aquífero e
o rebaixamento vai piorar. Eles (agentes públicos e privados de Ribeirão Preto)
começaram a fazer a gestão do próprio aquífero para o uso sustentável das
águas subterrâneas nos próximos anos”, comenta Amore.
No Brasil, a água subterrânea é de domínio dos estados. Na avaliação do
presidente da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (Abas-RJ),
Humberto Albuquerque, o sistema de gestão nos estados precisa funcionar de
forma adequada, em todo o território nacional, para não abrir espaço para as
perfurações de poços de maneira clandestina. “A pessoa começa a usar e não
é do conhecimento público, dos órgãos gestores”(...)”.
- 142 -
Reportagem 2 (Portal EcoDebate, 2009a): Matéria apresentada em 02/09/2009 no Portal EcoDebate Agrotóxicos são ameaça no Aquífero Guarani
“ (...) Método detecta agrotóxicos na água e no solo de áreas do Aquífero
Guarani – Pesquisas feitas em parceria IQ-Embrapa concentraram-se na divisa de Goiás
e Mato Grosso
Métodos simples e econômicos para determinar a presença de
agrotóxicos na água e no solo das áreas de recarga do Sistema Aquífero
Guarani (SAG) acabam de ser desenvolvidos e validados pelo Instituto de
Química (IQ) da Unicamp, em parceria com a Embrapa Meio Ambiente de
Jaguariúna (SP). O SAG é o maior reservatório de águas subterrâneas da
América do Sul e o terceiro do planeta, localizando-se em sua quase totalidade
no território brasileiro e se estendendo até a Argentina, Uruguai e Paraguai. As
áreas de recarga são aquelas de afloramento das águas que, próximas à
superfície, estão mais sujeitas à contaminação.
(...)
A pesquisadora explica que agrotóxicos depositados no solo podem ser
transportados até as águas subterrâneas principalmente por meio de
degradação, adsorção e lixiviação. A avaliação dos níveis desses produtos
ganha relevância devido à existência de outras regiões de recarga do Aquífero
Guarani sob risco de contaminação, como nos estados de São Paulo (cultura
de cana-de-açúcar), Paraná (milho), Santa Catarina (maçã) e Rio Grande do
Sul (arroz) (...)”.
- 143 -
AN
EX
O V
III
Figura 4.8 – A situação da exploração dos aqüífe
ros no mundo
(Clarke e King, 2005).
- 144 -
ANEXO IX
Reportagem 1 (Rocha, 2009): Matéria apresentada em 21/03/2009 no A Tarde OnLine As guerras por falta d’água.
O que fazer quando se abre a torneira e não cai nem um pingo, mas
quando os olhos se viram para o vizinho e a água jorra pelas tubulações? Difícil
pensar em situações extremas de sede, e talvez seja a dificuldade de raciocínio
que leve povos e países a entrarem em conflito por conta da escassez ou da
má distribuição do líquido vital. Quanto mais raro é o bem, maior é a
possibilidade de atritos. Neste final de semana a Organização das Nações
Unidas (ONU) está reunida para tentar identificar onde eles estão ocorrendo.
No mundo, segundo cálculos da ONU, mais de 1.800 situações de
relação internacional entre países já ocorreram por conta da disputa por água.
A maioria, oficialmente, não passou do diálogo e terminou em tratados
pacíficos. No entanto, a ONU calcula que pelo menos 21 guerras já foram
causadas por conta da disputa por água, na radicalização da lógica do “farinha
pouca, meu pirão primeiro”.
Dentre os conflitos armados, Israel está envolvido na maioria (18).
Exemplos recorrentes são as disputas com Síria e Jordânia pelas Colinas de
Golã. “Israel foi à guerra contra a Síria não porque as Colinas de Golã têm uma
vista bonita, mas porque ali há as nascentes do Rio Jordão, fundamental para o
abastecimento de água para o Oriente Médio”, explica Antônio da Costa
Miranda Neto, membro do Conselho de Assessoramento ao secretário-geral da
ONU para assuntos de água e esgoto.
A água é mais um motivo da disputa de Israel com os palestinos em
Jerusalém e Faixa de Gaza. “Em Jerusalém, cidade dividida entre os dois
povos, tem cano de água que passa de um lado para o outro, mas hoje
ninguém se atreve a fechar uma tubulação dessas, porque aí a radicalização é
- 145 -
tremenda”, conta Antônio Miranda, pernambucano internacionalizado graças
aos seus profundos conhecimentos em recursos hídricos.
Mas, volta e meia, Palestina e Israel trocam acusações sobre roubo de
água. Israel acusa palestinos de construírem poços ilegais. Mas sofre
acusação de roubar água do subsolo palestino se utilizando de bombas ultra-
avançadas. E a água, bem fundamental para a vida, segue como mais uma
desculpa para esta guerra sem-fim.
Atualmente, uma guerra se anuncia iminente entre Sudão e Egito, na
África, por conta da exploração do Rio Nilo. O especialista pernambucano
Antônio Miranda explica que o Sudão, país a montante do rio, manifestou o
desejo de construir mais uma barragem. O Egito, país mais abaixo do rio
(jusante), encara a possível obra como uma manifestação de guerra. E o
Sudão, como reação, ameaça explodir barragens do Nilo e afundar regiões do
Egito.
Problemática – Os exemplos de Israel versus vizinhos e Sudão versus
Egito estão localizados nas regiões mais problemáticas: o Oriente Médio e a
parte norte da África. Mas as possibilidades de conflito pelo uso da água são
imensas, já que as fronteiras de 145 países são estabelecidas por 260 bacias
hidrográficas, o que torna uma única fonte de água doce disputada por pelo
menos duas nações. Para tentar evitar conflitos, a Unesco lançou o programa
“De conflitos potenciais à cooperação potencial”.
Reportagem 2 (Estadão, 2008b): Matéria apresentada em 03/06/2008 no Estadão OnLine. Síria diz que Israel deve devolver Colinas de Golan.
Falando a editores de jornais dos Emirados Árabes Unidos durante uma
visita ao Estado do golfo árabe, Assad também disse que a mediação dos
Estados Unidos seria essencial para a continuidade das conversas indiretas,
- 146 -
iniciadas no mês passado através de representantes turcos. "Neste estágio,
não estamos falando (com Israel) sobre mais nada. O que está na agenda é a
devolução de todas as terras", disse o presidente na segunda-feira, segundo o
jornal al-Khaleej. "Nas negociações indiretas, vamos definir os detalhes, que
incluem recursos hídricos e outras questões."
"Em relação à água, há regras internacionais que governam essas coisas,
mas se a questão da água servir para (a Síria) desistir das fronteiras de 1967
que vão até a Tibéria, então nunca vai haver um consenso sobre as fronteiras
de 1967", disse.
Israel e Síria disseram no mês passado que retomaram as negociações
de paz depois de oito anos. As últimas negociações acabaram por causa do
controle da área próxima ao lago de onde Israel retira boa parte da água que
utiliza. A Síria diz que, segundo a Turquia, Israel garantiu que os Estados
judeus estão dispostos a devolver as Colinas de Golan em troca de paz.
"As negociações estão em um estágio primário. Depois, elas precisarão
de patrocínio internacional, principalmente dos Estados Unidos, uma
superpotência que tem ligações especiais com Israel", disse Assad, segundo o
jornal al-Bayan.
Muitos analistas dizem que a hostilidade americana à Síria torna a paz
com Israel improvável, pelo menos antes do fim do mandato de George W.
Bush. Os Estados Unidos dizem não se opor às negociações, mas continuam a
criticar a Síria por seu "apoio ao terrorismo".
Israel anexou as Colinas de Golan em 1981 e foi condenado pela
comunidade internacional. Além da posição estratégica, as Colinas de Golã
dão a Israel o comando de importantes recursos hídricos, que tem pastos,
hortas e vinícolas, raridade na região árida. Cerca de 18 mil israelenses se
mudaram para as Colinas de Golan, onde vivem aproximadamente 20 mil sírios
que obtiveram a oferta de cidadania israelense. Muitos recusaram.
- 147 -
Reportagem 3 (Estadão, 2009): Matéria apresentada em 03/09/2009 no Estadão OnLine. Turquia, Iraque e Síria disputam o fornecimento de água.
Aumentou hoje a tensão entre Turquia, Iraque e Síria pela utilização da
água dos rios Tigres e Eufrates. Iraque e Síria pedem mais água, pois
enfrentam uma forte seca, mas a Turquia diz que está no limite. A questão
ameaça prejudicar as relações entre a Turquia e seus vizinhos e complicar os
esforços para levar estabilidade à região. O assunto foi discutido hoje na
reunião sobre o estabelecimento de estações conjuntas para medir o volume
de água dos rios, troca de informações sobre o clima e a criação de programas
conjuntos de educação para melhorar a gerência dos recursos naturais.
O ministro de Energia da Turquia, Taner Yildiz, disse que a região
sudeste do país também está sofrendo com a falta de chuvas, mas afirmou que
seu país continua enviando mais água do que está legalmente obrigado. Ele
disse que a Turquia está liberando uma média de 517 metros cúbicos de água
por segundo, em vez dos 500 metros cúbicos exigidos. "A água não é
abundante na Turquia", disse Yildiz durante a reunião. "Não podemos elevar
mais esta quantidade".
O Iraque, que sofre com uma forte seca, acusa a Turquia e a Síria de
pegarem muita água dos rios. Chuvas abaixo da média e água insuficiente do
Tigre e do Eufrates deixaram o Iraque carente de água pelo segundo ano
seguido, arruinando a agricultura e ameaçando o suprimento de água potável.
O ministro iraquiano das Reservas d''água, Abdul-Latif Jamal Rasheed,
reclamou dos vizinhos: "A Turquia diz que está mandando 500 metros cúbicos
por segundo, mas essa quantidade não está chegando até nós", afirmou
Rasheed. "Temos de observar a água que vem da Síria".
- 148 -
Nader al-Bunni, ministro da Irrigação da Síria, afirmou que seu país está
permitindo que mais água vá para o Iraque do que o exigido pelos acordos.
"Nós entendemos a necessidade do Iraque e estamos permitindo que 69% das
águas do Eufrates fluam para o povo irmão do Iraque. Elevamos o porcentual
de 58% para 69%", afirmou.
Reportagem 4 (Diário de Notícias, 2005): Matéria apresentada em 03/02/2005 no Diário de Notícias. Água pode ser causa de guerra
A disputa pela água pode vir a desencadear guerras em África e no
Médio Oriente, alertou ontem Butros Butros Ghali, antigo secretário-geral da
ONU. Numa entrevista à BBC rádio, o responsável egípcio afirmou que "uma
confrontação militar entre os países da bacia do Nilo parece ser praticamente
inevitável", a menos que estes "consigam fazer uma partilha justa" daquele
recurso natural.
O Egipto é, desde há muito, o maior utilizador da água do Nilo. No
entanto, países como o Quénia (onde morreram recentemente 15 pessoas
numa disputa interna pela água ), a Etiópia e a Tanzânia começaram a
reclamar uma melhor gestão e maior partilha da água.
Alguns governantes queixam- -se do uso excessivo que os egípcios
fazem do Nilo para tentar converter áreas desérticas em solos aráveis. Mas,
explica Butros Ghali, "o Egipto vai ainda precisar de mais água no futuro devido
à sua explosão demográfica", uma vez que nos últimos 50 anos a sua
população aumentou em 50 milhões (actualmente conta com 70 milhões).
O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros egípcio fez questão de
sublinhar que "a segurança do Egipto depende das suas relações com a
Etiópia (país onde nasce o Nilo Azul), o Sudão, o Quénia e outros Estados
- 149 -
africanos". E manifestou a esperança de que organizações internacionais,
como o Banco Mundial, intervenham para garantir um acordo pacífico entre
todos os países da bacia do Nilo.
Butros Ghali referiu ainda que "um Estado palestiniano não será viável no
caso de a sua água ser controlada por Israel".
- 150 -
ÍNDICE
RESUMO .................................................................................................................................................... 5 METODOLOGIA ........................................................................................................................................ 6 SUMÁRIO ................................................................................................................................................... 8 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................... 9 CAPÍTULO I ............................................................................................................................................. 14 ÁGUA: SUA IMPORTÂNCIA E DISTRIBUIÇÃO ............................................................................... 14
1.1. ORIGEM E IMPORTÂNCIA DA ÁGUA ................................................................................................ 14 1.2. DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA NO PLANETA ........................................................................................... 20 1.3. CICLO HIDROLÓGICO ..................................................................................................................... 23 1.4. DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA NOS CONTINENTES ................................................................................. 25 1.5. DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA NO BRASIL ............................................................................................. 35
CAPÍTULO II ............................................................................................................................................ 39 AS CAUSAS DA FALTA DE ÁGUA .................................................................................................... 39
2.1. DESPERDÍCIO E IRREGULARIDADES NA DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA.................................................. 40 2.2. CRESCIMENTO POPULACIONAL ..................................................................................................... 50 2.4. AQUECIMENTO GLOBAL ................................................................................................................. 60 2.5. CONSUMO DE ÁGUA PARA PRODUÇÃO DE ENERGIA ..................................................................... 62
O PICO DA ÁGUA .................................................................................................................................. 65 CAPÍTULO IV ........................................................................................................................................... 75 OS PRINCIPAIS IMPACTOS DE UMA ESCASSEZ DE ÁGUA .................................................... 75
4.1. O DESASTRE DO MAR DE ARAL .................................................................................................... 76 4.2. O ENCOLHIMENTO DO LAGO CHADE ............................................................................................. 80 4.3. A REDUÇÃO DO NÍVEL DOS AQUÍFEROS ........................................................................................ 82 4.4. OS CONFLITOS PELA ÁGUA. .......................................................................................................... 88 4.5. IMPACTOS CAUSADOS PELA POLUIÇÃO DAS ÁGUAS..................................................................... 93 4.6. ÁGUA: FONTE DE VIDA E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO. ......................................................... 96
CAPÍTULO V ............................................................................................................................................ 99 POSSÍVEIS SOLUÇÕES PARA MITIGAR A CRISE ........................................................................ 99
5.1. REDUÇÃO DO CONSUMO DE ÁGUA NA IRRIGAÇÃO ........................................................................ 99 5.2. A DESSALINIZAÇÃO DA ÁGUA. ..................................................................................................... 103 5.3. EDUCAÇÃO AMBIENTAL .............................................................................................................. 106 5.4. A VALORAÇÃO DA ÁGUA .............................................................................................................. 110
CONCLUSÃO ........................................................................................................................................ 116 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................. 119 ANEXOS ................................................................................................................................................. 128
ANEXO I ............................................................................................................................................. 129 ANEXO II ............................................................................................................................................ 130 ANEXO III ........................................................................................................................................... 131 ANEXO III ........................................................................................................................................... 132 ANEXO IV .......................................................................................................................................... 133
- 151 -
ANEXO V ........................................................................................................................................... 134 Reportagem 1 (Cortez, 2009a): ...................................................................................................... 134 Relatório alerta para o balanceamento dos biocombustíveis e dos recursos hídricos ................... 134 Reportagem 2 (Cortez, 2009b): ...................................................................................................... 135 Impacto da produção de etanol de milho nos recursos hídricos é 3 vezes maior do que o estimado. ........................................................................................................................................................ 135 Reportagem 3 (Zenker, 2009): ........................................................................................................ 136
ANEXO VI .......................................................................................................................................... 138 Reportagem 1 (Nájar, 2009): .......................................................................................................... 138 Matéria apresentada em 07/08/2009 na BBC Brasil ...................................................................... 138
ANEXO VII ......................................................................................................................................... 140 Uso inadequado e poluição ameaçam reservas de águas subterrâneas ......................................... 140 Reportagem 2 (Portal EcoDebate, 2009a): .................................................................................... 142 Agrotóxicos são ameaça no Aquífero Guarani ............................................................................... 142
ANEXO VIII ........................................................................................................................................ 143 ANEXO IX .......................................................................................................................................... 144
Reportagem 1 (Rocha, 2009): ......................................................................................................... 144 As guerras por falta d’água. ........................................................................................................... 144 Reportagem 2 (Estadão, 2008b): .................................................................................................... 145 Síria diz que Israel deve devolver Colinas de Golan. ..................................................................... 145 Reportagem 3 (Estadão, 2009): ...................................................................................................... 147 Reportagem 4 (Diário de Notícias, 2005): ..................................................................................... 148
ÍNDICE DE FIGURAS ........................................................................................................................... 152 ÍNDICE DE TABELAS .......................................................................................................................... 155 FOLHA DE AVALIAÇÃO ..................................................................................................................... 156
- 152 -
ÍNDICE DE FIGURAS
FIGURA 1.1 – EVOLUÇÃO DA TERRA ......................................................................................................... 16
FIGURA 1.2 – TERRA VISTA DA SONDA GALILEO ....................................................................................... 20
FIGURA 1.3 – DSITRIBUIÇÃO DE ÁGUA NO PLANETA .................................................................................. 21
FIGURA 1.4 – DSITRIBUIÇÃO DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS ........................................................................... 22
FIGURA 1.5 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA NO MUNDO EM KM³ ....................................................................... 23
FIGURA 1.6 – DESENHO REPRESENTATIVO DO CICLO HIDROLÓGICO ....................................................... 24
FIGURA 1.7 – COMPARATIVO ENTRE O SUPRIMENTO DE ÁGUA E A POPULAÇÃO GLOBAL POR
CONTINENTE. .............................................................................................................................................. 27
FIGURA 1.8 – GASTO DE ÁGUA POR PAÍS QUANDO COMPARADO A QUANTIDADE DE ÁGUA DOCE
DISPONÍVEL ................................................................................................................................................. 28
FIGURA 1.9 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA POR SETOR ................................................................................... 29
FIGURA 1.10 – CONSUMO DE ÁGUA POR NÍVEL DE RENDIMENTO DOS PAÍSES ......................................... 30
FIGURA 1.11 – A DESIGUALDADE NO ACESSO À ÁGUA POTÁVEL A NÍVEL GLOBAL ................................... 31
FIGURA 1.12 – PERCENTUAL DE DISTRIBUIÇÃO DO CONSUMO DE ÁGUA POR SETOR NOS CONTINENTES
.................................................................................................................................................................... 32
FIGURA 1.13 – PROJEÇÃO DA CAPTAÇÃO SETORIAL DE ÁGUA PARA 2025 EM KM³ POR ANO .................. 33
FIGURA 1.14 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA VIRTUAL COMERCIALIZADA POR TIPO DE PRODUTO ................... 34
FIGURA 1.15 – COMPARATIVO ENTRE POPULAÇÃO E RECURSOS HÍDRICOS POR REGIÃO BRASILEIRA.... 36
FIGURA 1.16 – DISTRIBUIÇÃO DO USO DA ÁGUA NO BRASIL POR SETORES ............................................. 37
FIGURA 2.1 – OS PRINCIPAIS USOS DOMÉSTICOS DA ÁGUA ...................................................................... 41
FIGURA 2.2 – DISTRIBUIÇÃO ANUAL DE ÁGUA EM KM³ PARA O CONSUMO DOMÉSTICO E PROJEÇÃO PARA
O ANO DE 2025........................................................................................................................................... 43
FIGURA 2.3 – FOTOS DEMONSTRATIVAS DE VAZAMENTOS NOS SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA .. 44
FIGURA 2.4 – DEMONSTRATIVO DO GASTO DEVIDO AO USO INADEQUADO DE TORNEIRAS ...................... 44
- 153 -
FIGURA 2.5 – DISTRIBUIÇÃO ANUAL DE ÁGUA EM KM³ PARA O CONSUMO INDUSTRIAL E PROJEÇÃO PARA
O ANO DE 2025........................................................................................................................................... 46
FIGURA 2.6 – PROJEÇÃO DO USO DA ÁGUA DESCRIMINADO EM EXTRAÇÃO E CONSUMO. ....................... 49
FIGURA 2.7 – COMPARATIVO ENTRE CRESCIMENTO POPULACIONAL E EXTRAÇÃO DE ÁGUA PARA
CONSUMO ................................................................................................................................................... 50
FIGURA 2.8 – PROJEÇÃO DO CRESCIMENTO POPULACIONAL ATÉ 2050 ................................................... 51
FIGURA 2.9 – COMPARATIVA ENTRE A QUANTIDADE DE PESSOAS E DE ÁGUA AO LONGO DOS ANOS ...... 52
FIGURA 2.10 – O MAPA ILUSTRA A % DA POPULAÇÃO COM ACESSO À FONTES DE ÁGUA PURA .............. 54
FIGURA 2.11 – FOTOS DEMONSTRATIVAS DE POLUIÇÃO DE CORPOS HÍDRICOS ...................................... 57
FIGURA 2.12 – ELEVAÇÃO DA EVAPORAÇÃO DOS RESERVATÓRIOS AO LONGO DOS ANOS, DETERMINADO
PELO EFEITO DO AQUECIMENTO GLOBAL ................................................................................................... 61
FIGURA 3.1 – GRÁFICO REPRESENTATIVO DO PICO DA ÁGUA SIMILAR A CURVA EM FORMA DE SINO
OBSERVADA POR HUBBERT PARA O PETRÓLEO. ....................................................................................... 66
FIGURA 3.2 – QUANTIDADE DE PESSOAS ATINGIDAS PELA SITUAÇÃO DE PRESSÃO OU ESCASSEZ EM
RELAÇÃO AOS RECURSOS HÍDRICOS ............................................................................................................. 68
FIGURA 3.3 - CURVA DE DISPONIBILIDADE DE ÁGUA NO MUNDO PROJETADA PARA 2050........................ 69
FIGURA 3.4 – CONDIÇÕES DE PRESSÃO E ESCASSEZ OBSERVADA NAS VÁRIAS REGIÕES DO PLANETA .. 70
FIGURA 3.5 – GRÁFICO DEMONSTRATIVO DA DISPONIBILIDADE EM FUNÇÃO DO DESENVOLVIMENTO ..... 71
FIGURA 4.1 – LOCALIZAÇÃO DO MAR DE ARAL .......................................................................................... 76
FIGURA 4.2 – EVOLUÇÃO ANUAL DA REDUÇÃO DO VOLUME DE ÁGUA NO MAR DE ARAL.......................... 77
FIGURA 4.4 – AS FOTOS MOSTRAM CARCAÇAS DE NAVIOS SOBRE O LEITO SECO DO MAR DE ARAL, ALÉM
DA PRESENÇA DE SALINAS - PÓ BRANCO AO FUNDO .................................................................................. 79
FIGURA 4.5 – LOCALIZAÇÃO DO LAGO CHADE .......................................................................................... 80
FIGURA 4.6 – EVOLUÇÃO ANUAL GRADATIVA DA REDUÇÃO DO LAGO CHADE .......................................... 81
FIGURA 4.7– FOTOS DE SATÉLITE QUE DEMONSTRAM O ENCOLHIMENTO DO LAGO CHADE ................... 82
FIGURA 4.7 – CAMPOS DE IRRIGAÇÃO LOCALIZADOS SOBRE O AQÜÍFERO OGALLALA ............................. 84
FIGURA 4.8 – ALTERAÇÕES NOS NÍVEIS DE ÁGUA DO AQÜÍFERO OGALLALA ............................................ 85
FIGURA 4.9 – FOTOS DE RACHADURAS NA CIDADE DO MÉXICO ............................................................... 87
- 154 -
FIGURA 4.10 – LOCALIZAÇÃO DO RIO NILO E DOS RIOS TIGRES E EUFRATES. ....................................... 89
FIGURA 4.11 – O EMISSÁRIO NACIONAL DE ISRAEL E OS AQÜÍFEROS DA REGIÃO .................................. 91
FIGURA 4.12 – NÚMERO DE MORTES DEVIDO À OCORRÊNCIA DE ÁGUA SUJA NO ANO DE 2000. ............ 95
FIGURA 5.1 – MÉTODOS DE IRRIGAÇÃO .................................................................................................. 101
FIGURA 5.2 – ESQUEMA REPRESENTATIVO DO PROCESSO DE DESSALINIZAÇÃO POR EVAPORAÇÃO. .. 103
FIGURA 5.3 – ESQUEMA REPRESENTATIVO DO PROCESSO DE DESALINIZAÇÃO POR OSMOSE REVERSA.
.................................................................................................................................................................. 104
FIGURA 5.4 – ENERGIA NECESSÁRIA PARA PRODUZIR 1.000 LITROS DE ÁGUA DOCE POR
DESSALINIZAÇÃO. DADOS BASEADOS NO ANO DE 2003.......................................................................... 105
FIGURA A1 - REPORTAGEM DO PORTAL ECODEBATE QUE DEMONSTRA AS DESIGUALDADES
ENVOLVIDAS NO CONSUMO DE ÁGUA DE ALGUNS PAÍSES........................................................................ 129
FIGURA A2 – DISTRIBUIÇÃO MUNDIAL DO CONSUMO DE ÁGUA UTILIZADA POR SETOR, EM ORDEM DE
QUANTIDADE CONSUMIDA ......................................................................................................................... 130
FIGURA A3.1 – MAPA DEMONSTRATIVO DAS DELIMITAÇÕES ENTRE OS ESTADOS E AS REGIÕES
HIDROGRÁFICAS BRASILEIRAS .................................................................................................................. 131
FIGURA A3.2 – COMPARATIVO ENTRE AS VAZÕES MÉDIAS E O QUANTITATIVO POPULACIONAL DAS
REGIÕES HIDROGRÁFICAS BRASILEIRAS .................................................................................................. 132
FIGURA A4.1 – SITUAÇÃO DE CONSUMO DAS PRINCIPAIS BACIAS MUNDIAIS.......................................... 133
FIGURA 4.8 – A SITUAÇÃO DA EXPLORAÇÃO DOS AQÜÍFEROS NO MUNDO ............................................. 143
- 155 -
ÍNDICE DE TABELAS
TABELA 1.1 – CONSUMO DE ÁGUA NA INDÚSTRIA ..................................................................................... 17
TABELA 1.2 – CONSUMO DE ÁGUA PARA A PRODUÇÃO DE ALGUNS ALIMENTOS. ..................................... 18
TABELA 2.1 – A QUANTIDADE DE ÁGUA NECESSÁRIA PARA GERAR ELETRICIDADE (UM MEGAWATT POR
HORA) ......................................................................................................................................................... 63
TABELA 2.2 – ENERGIA NECESSÁRIA NA DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA. ........................................................... 64
TABELA 3.1 – DADOS PREVISTOS SOBRE A ESCASSEZ DE ÁGUA NO MUNDO PARA O ANO DE 2025 ........ 73