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A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008:
a última façanha desenvolvimentista
Renato Antonio Dal Maso*
1 INTRODUÇÃO
A última façanha da política desenvolvimentista no RS foi a
construção da infraestrutura de serviços básicos entre 1980 e 2008. Este
trabalho analisa o papel do Governo do RS na construção da infraestrutura
de energia elétrica, telecomunicações, saneamento básico e de estradas
rodoviárias. Trata-se de uma tarefa gigantesca, por ter requerido o
estabelecimento de todas as plantas industriais de geração dos serviços e
das redes de distribuição, atribuído, respectivamente, às empresas
Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), Companhia Riograndense
de Telecomunicações (CRT), Companhia Riograndense de Saneamento
(Corsan) e ao Departamento Autônomo1 de Estradas e de Rodagem
(DAER). Este trabalho sintetiza as vicissitudes dessa política
desenvolvimentista, investigando a evolução dos investimentos, os
grandes planos de expansão, a forma de financiamento, as mudanças
institucionais e a universalização dos serviços. Observa-se que a
infraestrutura foi alçada como prioridade em sucessivos governos do RS,
tendo em vista sua natureza estrutural e necessária ao desenvolvimento.
O pensamento desenvolvimentista1 foi o que mais influenciou a
economia política brasileira e, especialmente, a longa experiência de
políticas de planejamento no RS.2 Segundo Ianni (1971, p. 310), “Em
* Economista, Técnico da Fundação de Economia e Estatística, Doutor em Economia pela Unicamp.O autor agradece aos colegas do Núcleo de Políticas Públicas as críticas e as sugestões ao texto e o apoio de Ilaine Zimmermann, de Roberto Ronchetti Caravantes e da acadêmica Helena Tweedie.1 Ver, sobre o pensamento desenvolvimentista, Rodrigues (1981, cap. 5) e Mantega (1991, cap. 1). 2 O planejamento foi largamente utilizado no RS, desde as décadas de 30 e 40 do século XX, através da experiência dos planos setoriais e, a partir da década de 50, dos planos globais. Cita-se como exemplo: “[...] os principais serviços públicos do Estado vêm sendo executados, paulatinamente, em obediência aos respectivos planejamentos. [...] Pode-se no entanto asseverar que a administração do Estado vem sendo exercida dentro da mais rigorosa planificação” (RS, 1949, p. 7).
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essência, um plano de desenvolvimento é um programa político”. A busca
do desenvolvimento econômico sempre foi o epicentro da sociedade e a
primazia da ação estatal, além de legitimar políticas em outros campos,
como a educação, a saúde, etc. O modelo desenvolvimentista estruturou-
-se, de forma consciente e deliberada, em quatro pilares basicamente: a
intervenção estatal na economia, para complementar e apoiar as
atividades privadas e, dependendo da importância do problema, propor a
substituição dos desígnios do mercado pela presença deliberada do
Estado; a diversificação da produção interna em todos os setores e da
pauta de exportações, para tornar o RS menos dependente dos mercados
externos e, assim, também oportunizar uma diversificação social
abrangente; a construção da infraestrutura por meio da socialização
desses investimentos, pois a sua inexistência era considerada um entrave
ao desenvolvimento; e o planejamento global da economia de longo
prazo. Nesse sentido, os governantes sempre buscavam vincular a política
estadual ao planejamento nacional e às políticas nacionais como forma de
atração de recursos e de investimentos; e/ou buscavam o planejamento
setorial e global como um instrumento da política consciente e deliberada,
para orientar e direcionar os investimentos públicos e privados, para
realizar a utopia do desenvolvimento e, assim, romper com o atraso
existente. Portanto, coube ao Estado função preponderante no
desenvolvimento, através de políticas de diversificação econômica e
social, de intervenção na produção, de financiamento público e de
planejamento global e/ou setorial para a construção da infraestrutura.
Para entender-se o papel das estatais do RS, é preciso
contextualizar o quadro mais amplo da política brasileira de intervenção
na economia. A presença do Estado na área de infraestrutura e em outras3
foi consenso no Brasil, de forma similar à dos países capitalistas, por não
serem de interesse privado, especialmente do capital estrangeiro. Por
3 Conforme Dain (1986, p. 306), as áreas de intervenção estatal aceitas pelos setores capitalistas eram: mineração, siderurgia, energia elétrica, portos, petróleo, telecomunicação, gás canalizado, saneamento básico e novas áreas, como energia nuclear, prospecção de petróleo, fertilizantes, petroquímica e outras.
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isso, coube-lhe implantar a infraestrutura nacional, construir as plantas
industriais e as redes de distribuição, cujo papel requereu imobilizar
vultosos capitais, planejar e implementar grandes projetos indivisíveis de
expansão, inclusive a opção pela estrutura de monopólios estatais como o
modelo mais adequado. A experiência da intervenção estatal, no caso
brasileiro, enfrentou dificuldades adicionais, como a construção da
infraestrutura num período concentrado de tempo, a necessidade de
importação de tecnologias caríssimas, a incerteza radical na forma de
financiamento e, posteriormente, os reveses da crise dos anos 80. O
modelo e a estrutura do mercado consolidaram-se na década de 60,
formando unidades estatais descentralizadas, com autonomia
administrativa e financeira e com tamanho e escala superiores de
organização capitalista em relação às empresas privadas (Dain, 1986,
cap. III).
A intervenção estatal no Brasil outorgou inicialmente a dupla tarefa
de concentrar e centralizar recursos financeiros e de construir a
infraestrutura. Esta última foi mais arrojada e gigantesca, porque
dependia da política de planejamento e do financiamento público4 (Dain,
1986, p. 267). Conforme a literatura sobre o tema,5 a política econômica
estabeleceu a forma de financiamento com base na poupança
compulsória, nas instituições públicas de crédito e na indução ao crédito
externo. Ancorado nesse financiamento, o Estado realizou uma política
ativa de gastos diretos e através das estatais, bem como proveu crédito
via BNDES, Banco do Brasil e Banco Nacional da Habitação (BNH),
cobrando juros subsidiados, além de criar taxas e fundos setoriais para
esse fim.
4 As fontes de recursos eram as seguintes: (a) recursos fiscais – impostos ad valorem, empréstimos compulsórios e a criação de fundos setoriais; (b) recursos próprios – tarifas com base em custos ou “verdade tarifária”, taxa de remuneração dos investimentos de 12% a. a. e correção monetária do ativo fixo; (c) recursos de bancos oficiais – BNDES, Banco Brasil S/A, Caixa Econômica Federal (CEF), Banco Nacional da Habitação (BNH), bancos de desenvolvimento regional, como Banco do Nordeste, BRDE, etc. Ver Decreto nº 200/1967 (BR, 2009).5 Ver, dentre outros, Dain (1986), Belluzzo (1987), Almeida (1988) e Bier et al. (1988).
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É impossível pensar-se o desenvolvimento brasileiro sem a presença
do Estado e das estatais no planejamento de longo prazo e,
especialmente, nos planos de expansão das grandes holdings setoriais, na
coordenação e na orientação dos investimentos públicos e privados. Dessa
forma, o acréscimo de dispêndios públicos não só beneficia a economia
como um todo, como os investimentos criam uma nova capacidade
produtiva. Por isso, a construção da infraestrutura e a dinamização das
demais áreas, inexoravelmente, alavancaram a industrialização no Brasil.
Ressalva-se, entretanto, que as estatais não se impõem na qualidade de
empresa capitalista monopolista que usa o poder de mercado para
valorizar seu capital, devido à natureza pública do capital social ou à sua
“cara” pública. Ao contrário, internalizaram uma instabilidade na forma de
financiamento, como o contencioso do crédito, o rebaixamento das tarifas
e do mark-up. Portanto, a “cara” pública das estatais abriu um flanco para
serem utilizadas como instrumento da política de estabilização e de
acumulação privada (Tavares, 1998, p. 277). A seguir, apresentam-se as
proposições investigadas no trabalho.
A primeira proposição, mais geral, afirma que coube às estatais a
tarefa de construir a infraestrutura de serviços básicos no contexto dos
processos em curso de industrialização e de urbanização acelerada,
contextualizando o papel da intervenção estatal no subperíodo de 1980 a
1998. Esses processos impulsionavam o consumo crescente por serviços
de energia elétrica, telecomunicações, abastecimento de água e por
melhores estradas rodoviárias. Na verdade, havia grande carência de
serviços básicos e viviam-se tempos de construção da
infraestrutura, de edificar as plantas industriais e as redes de
distribuição dos serviços e a malha rodoviária interligando cidades e
regiões. A realização dessa façanha contou com a primazia dos sucessivos
governos do RS, marcados por decisões arrojadas de políticas de
desenvolvimento e respaldados pela forma de financiamento vigente.
A segunda proposição afirma que houve intervenção estatal
truncada em relação aos aspectos econômicos, particularmente verificada
no papel do Governo do RS. Um dos aspectos expoente foi a crise dos O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 249
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anos 80, que veio explicitar a fragilidade da forma de financiamento das
estatais, bem como a crise fiscal estadual. Ambas afetaram o desempenho
das estatais e atenuaram a força das políticas de planejamento e de
financiamento público, sem, contudo, derrotar a utopia
desenvolvimentista. Além disso, a política de estabilização passou a exigir
novos papéis das estatais, como o de ser instrumento de combate à
inflação e o de favorecer a acumulação privada, bem como estas sofreram
rigoroso controle da Secretaria Especial da Empresas Estatais (Sest)6
(sobre os dispêndios globais, etc.) e do Ministério da Fazenda (sobre
tarifas, crédito bancário, etc.). Portanto, esses fatores truncaram a
expansão da infraestrutura e internalizaram crise financeira e
endividamento.
Tendo presente esse contexto adverso, afirma-se que o Governo do
RS manteve a realização dos grandes planos de construção da
infraestrutura até meados da década de 80, apesar de as estatais
enfrentarem problemas de financiamento, de endividamento crescente e
dos agravantes da política macro. Nos anos seguintes até início dos anos
90, elas mantiveram um nível de investimentos muito insuficiente e
retardaram a implantação da infraestrutura dos serviços básicos.
Entretanto o desenvolvimentismo ainda se impunha nas políticas
estaduais, mantendo a infraestrutura como prioridade governamental e,
especialmente, a planificação de grandes planos da CEEE, da CRT, da
Corsan e do DAER. Mesmo assim, a capacidade de geração dos serviços
não atendia ao consumo crescente por serviços básicos, fato que colocou
em xeque o papel das estatais nos anos 90, sob a hegemonia das políticas
mais liberais e favoráveis às reformas e às privatizações.
A terceira proposição postula que houve decisão deliberada de
recomposição da forma de financiamento das estatais, tendo em vista a
sua preparação para a privatização. No contexto econômico, viviam-se
6 A Sest foi criada em outubro de 1979, vinculada ao Ministério do Planejamento, com o objetivo de controlar os gastos de custeio e os investimentos do setor produtivo estatal (SPE) e do setor público descentralizado. O instrumento básico de controle era o orçamento de dispêndios globais. No RS, apenas a CEEE foi atingida diretamente.
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tempos de reformas do Estado e de revisão das áreas de interesse
do setor privado. A recomposição do financiamento iniciou-se pelo
desbloqueio dos controles da área econômica sobre as tarifas, sobre o
crédito dos bancos oficiais, sobre os dispêndios globais e os
investimentos. Promoveram-se o rebalanceamento das tarifas, a extinção
dos subsídios, a definição de tarifas com base em custos, o
equacionamento da dívida das estatais, os ajustes operacionais, o corte de
pessoal, dentre outros. Notavelmente, a nova forma de financiamento
criou expectativas para as estatais planejarem a expansão e realizarem
pesados investimentos. Por sua vez, as reformas do Estado faziam parte
de um processo intencional e deliberado de mudanças das instituições,
sustentado por uma aliança política poderosa nacional e estadual,
legitimando as ações do Estado, para criar mercado privado dos serviços
básicos.
Nesse contexto, afirma-se que a recomposição do financiamento e o
ato político intencional das mudanças criaram, em parte, as expectativas
dos agentes privados entrantes na área dos serviços básicos. Assim, as
decisões de investimentos dos agentes privados foram influenciadas,
principalmente, porque as plantas industriais e as grandes redes nacionais
já estavam construídas, a imobilização de capital em ativos fixos em
infraestrutura não necessitava de vultosos capitais como dantes, já existia
uma massa de usuários cadastrados e incorporados às redes, e as
tecnologias disponíveis tinham preços acessíveis e potenciavam altas no
mark-up das prestadoras. Assim, a privatização ocorreu, porque a
infraestrutura estava construída e porque foram asseguradas condições
sustentáveis de financiamento e valorização do capital na produção dos
serviços básicos.
Na quarta e última proposição, afirma-se que, nos mercados criados
e regulados pelo Estado, agora, foi atribuído às prestadoras públicas e
privadas o papel de complementar as plantas e as redes instaladas para
garantir a disponibilidade, a continuidade e a qualidade do atendimento.
Isso redefine o papel das prestadoras de serviços básicos nos anos
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recentes. Além disso, por serem serviços com características essenciais,
foi atribuído o papel adicional de universalização para todos. Assim, cabe
investigar-se, na experiência das prestadoras de energia elétrica, telefonia
e saneamento básico, a universalização dos serviços básicos.
O texto estrutura-se da seguinte forma: no item 2, examinam-se a
evolução dos investimentos, os grandes planos de expansão das estatais,
a forma de financiamento e os respectivos resultados na construção da
infraestrutura entre 1980 e 1998. No item 3, analisam-se, sucintamente,
as reformas e os modelos de mercado criados, a recomposição do
financiamento das estatais, a partir de 1995, e as privatizações em 1998,
bem como se avalia a universalização dos serviços básicos. Por último,
registram-se as Considerações finais.
2 TEMPO DE CONSTRUÇÃO DA INFRAESTRUTURA ENTRE 1980 E
1998
Neste item, analisa-se a trajetória da CEEE, da CRT, da Corsan e do
DAER no papel de construção da infraestrutura, entre 1980 e 1998,
investigando-se a evolução dos investimentos, os grandes planos de
expansão e a questão-chave do financiamento, destacando-se os fatores
que demarcaram a trajetória truncada das prestadoras. Observa-se que os
truncamentos tiveram origem tanto nas estratégias arrojadas das
empresas, como, principalmente, nos efeitos da política macroeconômica
e nos controles da Sest, que impuseram a ruptura na forma de
financiamento, a fragilidade financeira e o endividamento crescente.
Entretanto o modelo desenvolvimentista foi mantido nos sucessivos
governos do RS, especialmente priorizando a infraestrutura e utilizando
largamente políticas de planejamento de grandes obras. Inclusive, foi
mantida a fase de expansão dos investimentos até meados dos anos 80,
tendo em vista que os controles nas estatais federais ocorreram a partir
do final dos anos 70. Nesses termos, objetiva-se responder à proposição
mais geral, relativa à tarefa de construção da infraestrutura, e a segunda,
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mais específica, relacionada às respectivas trajetórias truncadas das
estatais durante a crise, que rebaixaram os investimentos para um nível
muito insuficiente e retardaram a implantação dos serviços básicos até o
início dos anos 90.
2.1 A infraestrutura de estradas rodoviárias
O papel do DAER na construção da malha rodoviária do RS pode ser
sintetizado em dois aspectos principais, tendo-se em vista a sua
importância histórica na gestão das vias de transporte e o tipo de
investimento público, que tem uma natureza autônoma e fiscal. O
primeiro apresenta-se fazendo uso de um lema antigo que dizia "Governar
é construir estradas"7. A veracidade desse lema tomou-se dos registros
nas Mensagens do Governador à Assembléia Legislativa do Rio Grande do
Sul, que mostram as realizações no setor de transporte rodoviário. Os
argumentos destacados são os seguintes: a façanha engenhosa de
planejar a malha rodoviária do RS desde o final dos anos 30, cujo plano
rodoviário inspirou o planejamento rodoviário nacional nessa época; a
prática da política estadual de sempre vincular os planos de
desenvolvimento do RS aos planos nacionais e à política nacional de
financiamento do setor (Dal Maso, 1992); o tipo de investimento público e
autônomo alocado para a função transporte, que sempre esteve
susceptível a cortes no orçamento fiscal; o alto patamar dos investimentos
na função transporte nos sucessivos governos do RS; enfim, a construção
da malha rodoviária interligando regiões, integrada com os traçados das
rodovias federais (BRs) e ligando os portos e os grandes centros urbanos.
Portanto, o transporte rodoviário sempre constituiu uma das principais
prioridades da política de desenvolvimento do Governo do RS, como
revelam as dotações anuais das despesas de capital por função entre
7 Lema do Presidente Washington Luís (1926–30), que não foi levado a sério na época, porque o País não tinha dinheiro para construir estradas (Bairro..., 2009).
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1971 e 2002, tendo a função transporte a maior participação entre as
demais.8
O outro aspecto destaca as mudanças no financiamento do DAER
para a construção de estradas, que passou a contar com outras fontes de
recursos. Durante os anos 70, os investimentos rodoviários foram
bancados com recursos não onerosos dos orçamentos, principalmente do
Governo do RS e da União, mais o Imposto Sobre o Consumo de
Combustíveis, vinculado ao setor transporte. No que se refere às
atividades de construção das estradas em si, faziam-se por contratação
junto às empreiteiras privadas, principalmente, ou através das 17
unidades do DAER, equipadas com maquinário e localizadas
estrategicamente no RS. Porém, nos anos 80, as dotações de recursos
fiscais para o DAER expandir, manter e pavimentar a malha rodoviária
foram menores, devido às perdas de receitas fiscais. Durante a crise
fiscal, o Governo do RS captou financiamento alternativo dos organismos
internacionais, especialmente do BIRD e do BID, e, assim, manteve o
transporte como prioridade. Inclusive, os recursos externos passaram a
representar uma das principais fontes do DAER nos anos 90 (Fundap,
1997, p. 99). O Gráfico 1 mostra a importância da função transporte nas
despesas de capital não financeiras, ou a participação anual dos
investimentos em transporte no total dos investimentos do Governo do
RS. A participação da função transporte representou, em média, 35,6%
entre os anos de 1981 e 2002. Porém importa destacar-se que as
aplicações em construção, manutenção, sinalização, obras de arte,
pavimentação, enfim, para modernização das estradas rodoviárias,
representavam mais do que 93,0% desses investimentos na função
transporte.
Além dos aspectos destacados sobre o papel do DAER na construção
da malha rodoviária, o setor contou também com a atuação da Companhia
Intermunicipal de Estradas Alimentadoras (Cintea), para apoiar os
municípios na construção das estradas vicinais. Suas atividades focavam a
8 Ver Brunet (2007, tab. C).
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construção, a reconstrução, a melhoria e a edificação de obras de arte,
financiadas com recursos das três esferas de governo, especialmente com
dotações dos programas da União.
A seguir, apresentam-se informações sobre os resultados do
desempenho do DAER na tarefa de construção da malha rodoviária, com o
objetivo de mostrar que as principais vias do RS, onde trafega o maior
número de veículos, já estavam construídas em 1998, bem como
pavimentadas e modernizadas. Essa era a condição das rodovias
estaduais não pedagiadas junto aos nove polos rodoviários criados no final
dos anos 90. Observa-se, entretanto, que a manutenção e a
modernização das rodovias exigem inversões regulares anualmente.
A malha rodoviária tinha extensão de 10,6 mil km no ano de 1980 e,
no final dos anos 90, atingiu em torno de 11,3 mil km. Apesar de extensa,
a grande obra do DAER não se revela por isso e nem por novas estradas,
embora tenham sido implantadas a Estrada do Mar, a Rota do Sol e
outras. A expansão do setor exibe-se pelas melhores condições de tráfego
e, principalmente, pela construção de obras de arte e pela pavimentação
com asfalto das rodovias existentes. A condição de prioridade em todos
esses anos garantiu um fluxo de recursos para investimentos suficiente
para estruturar uma política permanente de modernização da malha
rodoviária no RS. Modernizar as rodovias significou implantar a duplicação
das estradas, construírem-se os acostamentos, a pavimentação, a
sinalização, as vias de acessos e os trevos, as pontes e os viadutos e
outros, como o revestimento primário, a capa de selagem, a patrolagem
regular, a arborização, além das operações anuais chamadas “tapa
buraco”. Certamente, as parcas informações disponíveis sobre essa tarefa
principal do DAER entre os anos de 1980 e 1998 dificultam a análise.
Mesmo assim, os indicadores mostram resultados exuberantes. Tomaram-
-se indicadores médios anuais, como a conservação de 10,3 mil km, a
pavimentação de 263km, a implantação de 320km (1980-90), a
construção de 686m de obras de arte (pontes, viadutos) e, no papel da
Cintea, a construção de 243km de estradas vicinais (1980-90), a
reconstrução de 1.281km de estradas de chão vicinais e de 1.216m de O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 255
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pontes pré-moldadas, pontilhões, bueiros, etc. No ano 2000, a malha
rodoviária pavimentada no RS tinha extensão em torno de 11.100km,
sendo 5.080km de vias federais e 6.020km de rodovias estaduais,
somados a outros 4.847km de estradas não pavimentadas. Por fim, as
estradas pavimentadas têm uma extensão em torno de 6.619km, cujas
condições pouco se alteraram nos anos recentes, embora se verifiquem
melhorias nos quesitos de manutenção, de sinalização e de segurança de
tráfego.9
2.2 A infraestrutura de energia elétrica
Neste item, examina-se o papel da CEEE na construção da
infraestrutura de energia elétrica no RS, entre os anos de 1980 e 1998,
investigando-se a evolução dos investimentos, os grandes planos de
expansão, a forma de financiamento e os fatores que demarcaram a sua
trajetória truncada. Inicialmente, destacam-se duas medidas da política
nacional de energia elétrica que influenciaram o desempenho da CEEE nos
anos 70. Uma medida criou o sistema interligado nacional de energia
elétrica, integrando também o mercado do RS. Essa medida possibilitou
garantir o suprimento de energia nas regiões e nos estados, tendo em
vista que enfrentavam carências, devido às diferenças sazonais e
geográficas na precipitação pluvial. Também propiciou maior flexibilidade
no atendimento do consumo e dos requisitos de potência, bem como a
desativação de unidades de geração a diesel. A outra medida foi
normativa e estabeleceu a equalização das tarifas de energia elétrica em
todo o Brasil, enquadrando a CEEE no marco regulador e na política
nacional. Um dos efeitos da equalização foi truncar as possibilidades de
expansão da estatal pela imposição de índices de correção das tarifas
inferiores à inflação, defasando-as em relação aos custos de produção.
9 Não se investigam a frota de veículos e suas implicações nas condições de tráfego das estradas.
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Um ciclo de investimentos relevante da CEEE iniciou-se nos anos 70
e prolongou-se até meados da década 80,10 investimentos estes aplicados
na implantação de unidades de geração, principalmente, e, por serem
projetos indivisíveis, também nas redes de transmissão de alta tensão e
de distribuição de baixa tensão. Os planos da prestadora projetavam
capacidade de geração própria para atender ao consumo crescente,
suscitado pelos processos de industrialização e da urbanização acelerada.
O prolongamento desse ciclo de investimentos foi puxado por
projetos de unidades de geração térmica e de implantação das redes,
sendo financiados basicamente com recursos próprios, pois a contratação
de crédito representou em torno de 18,5%. Seguiu-se uma fase de
paralisação dos investimentos e de aumento do endividamento,
verificados também no setor elétrico em geral, tendo como causa principal
a ruptura no financiamento. Por exemplo, a política de tarifas equalizadas,
que substituiu o sistema de tarifas realistas, impôs uma perda real de
27,3% entre 1974 e 1980 e de 25,0% entre 1980 e 1989 (Dal Maso,
1994, tab. 4). Além das pequenas recuperações nos meses que
antecederam os planos de estabilização, a tarifa média teve valorização
real de 213,7% na primeira metade dos anos 90. Por sua vez, essa
valorização possibilitou o início de um novo ciclo de expansão da
infraestrutura. No Quadro 1, apresentam-se, sucintamente, os grandes
planos de expansão da CEEE.
A prática do planejamento de longo prazo demarcou as fronteiras da
trajetória da CEEE, revelando-se truncada devido à crise econômica e a
algumas estratégias questionáveis comandadas pelos agentes das
estatais. Primeiro, planificou e construiu as plantas geradoras e as redes
de distribuição de energia elétrica, que foram complementadas pelas
redes de alta tensão da Eletrosul, unidade coligada da Eletrobrás.
10 Nos anos 70, construíram-se duas grandes hidroelétricas: Passo Real, que foi financiada com recursos próprios, empréstimos externo e do BNDES e da Eletrobrás, holding do setor, e Central de Itaúba, que entrou em operação em 1978, duplicando a capacidade de geração, e foi financiada com recursos próprios, em torno de 60% do custo do projeto, pela inversão dos dividendos pelo Governo do RS, repasses do Imposto Único Sobre Energia Elétrica, recursos do Fundo Estadual de Investimentos, empréstimos do BNDES e da Eletrobrás (Dal Maso, 1994, p. 312).
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Segundo, a estatal também constituiu uma forma superior de organização
capitalista no RS, em relação às empresas privadas, capaz de incorporar
as pequenas prestadoras municipais e as cooperativas de eletricidade
existentes. Terceiro, implantou as usinas geradoras e as redes de
distribuição capazes de atender ao consumo crescente puxado pela
industrialização e pela urbanização acelerada. E, quarto, já referido acima,
a política de estabilização fragilizou a forma de financiamento, dada a
“cara pública” da estatal.
Em relação aos projetos das termoelétricas a carvão, eles foram
alçados como prioridade da política energética do Governo do RS e
representaram decisões arrojadas pelo grande porte das obras. A usina
Candiota II teve decisão em 1978, mas a Candiota III foi contratada em
1981, quando já teria ocorrido a ruptura na forma de financiamento. Na
verdade, a política energética fora dominada pelos interesses do lobby
carvoeiro, e a opção pela geração térmica visava explorar o minério de
carvão e dar uma solução energética ao RS (Vieira, 2002, p. 60). Não
obstante haver oferta excedente de energia no sistema interligado, a
aventura da geração térmica foi interrompida e culminou com a
paralisação dos investimentos, o endividamento crescente e a crise
financeira da CEEE.
No passo seguinte, no início dos anos 90, a política nacional orientou
o equacionamento das dívidas do setor energético em geral, liberou a
recuperação do valor das tarifas e propôs medidas que beneficiaram
particularmente a CEEE, como a federalização de Candiota III, em
dez./95, e do seu passivo acumulado. Por suposto, isso possibilitou o
início de um novo ciclo de investimentos continuado na infraestrutura de
energia elétrica no RS.
Cabe examinarem-se os indicadores de expansão da infraestrutura
de energia elétrica mais representativos da sua construção entre os anos
de 1980 e 1998. Na área de geração, os resultados da opção carvoeira na
potência instalada da CEEE apareceram em 1987, quando entrou em
operação Candiota II–Fase B (330MWh). Mas a capacidade de geração da
estatal não atendeu a todo o consumo, recebendo suprimento de energia O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 258
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
pelo sistema interligado nacional. Os aumentos na potência de geração
ocorreram a partir de 1993, com a implantação das diversas usinas
elencadas nos planos acima. Na área de distribuição, vale notar-se a
expansão das redes entre 1981 e 1995, quando o número de
transformadores aumentou 159,8%, e as redes urbana e rural foram
expandidas em 81,0% e 147,9% respectivamente.
Esses indicadores físicos da infraestrutura mostram-se mais
significativos, quando relacionados com os dados sobre o consumo de
energia e o número de novos usuários no subperíodo considerado. O
acréscimo de novos usuários residenciais urbanos incorporados à rede de
energia elétrica foi de 115,3%, e o consumo de toda a classe residencial
elevou-se 260,8%; o acréscimo de novos usuários industriais foi de
155,9%, e o consumo dos industriais foi de 137,4%; na classe comercial,
os dados foram de 98,6% e de 243,8% respectivamente; e, na classe
rural, os indicadores apontam acréscimos de 177% e de 405,4%. Esse
acréscimo generalizado no consumo de energia indica que houve grande
espraiamento das redes de distribuição, as quais incorporaram novos
usuários, num montante de 118,2%, e disponibilizaram maior
fornecimento para atender ao acréscimo total no consumo de 184,7%.
Outros dados que evidenciam a proposição mais geral foram
apropriados das pesquisas do IBGE para os anos de 1980 e 1991, que
apresentam uma visão mais clara sobre a cobertura da infraestrutura.
Tomaram-se alguns indicadores sobre as participações dos domicílios que
tinham e dos que não tinham acesso à energia elétrica. A participação do
total de domicílios que tinham acesso à energia representava 76,0% e
92,6% naqueles respectivos anos, revelando também uma redução
expressiva dos que não tinham acesso à rede de energia. Mas a diferença
mais significativa na cobertura das redes aparece mesmo entre os
domicílios beneficiados localizados nas áreas urbanas e rurais. A
participação dos que não tinham energia elétrica, que era de 8,8%,
reduziu-se para 2,2% nas cidades, e, na área rural, onde era de 60,1%,
caiu para 26,3%. Para o ano de 1998, os indicadores são notáveis: a
cobertura da rede da CEEE beneficiava 97,5% dos domicílios com acesso à O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 259
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
energia elétrica, sendo a participação de apenas 0,8% para os domicílios
urbanos e de apenas 9,9% para os rurais que não tinham acesso.
2.3 A infraestrutura de telecomunicações
Neste item, examina-se o papel da CRT na construção da
infraestrutura de telecomunicações no RS, entre os anos de 1980 e 1998,
pesquisando-se a evolução dos investimentos, os planos de expansão, a
forma de financiamento e os fatores que demarcaram a sua trajetória
truncada. O sistema de telecomunicações no Brasil foi estruturado a partir
da criação da holding Telebrás S/A, em 1972, e de uma prestadora
coligada em cada estado, mais a Embratel e o Centro de Pesquisa e
Desenvolvimento (CPqD), em Campinas (SP). O caso da CRT distingue-se
por ela ser controlada pelo Governo do RS, mas sujeita à regulação, à
política de equalização tarifária, à política tecnológica, enfim, à orientação
da política nacional do Ministério das Telecomunicações (Minicom).
A infraestrutura de telecomunicações no Brasil foi impulsionada pela
política nacional que orientou a atuação do Sistema Telebrás de forma
distinta da experiência nos demais setores, além das semelhanças em
relação ao papel ativo da holding financeira, de concentrar capital e
financiar a expansão das coligadas. A orientação do Minicom foi
fundamental para definir a estratégia de construção da infraestrutura
interligada e com tecnologia compatível, estabelecendo a política
tecnológica, a implantação da indústria de telequipamentos no Brasil, a
política de formação de recursos humanos de excelência em tecnologias
de telecomunicações, a criação do CPqD para gerar tecnologia em parceria
com as empresas de capital nacional. Em suma, a política nacional
orientou e unificou o Sistema Telebrás, possibilitando, enfim, a
comunicação entre as cidades brasileiras.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 260
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
A atuação da CRT foi amparada pela política nacional, como a forma
de financiamento11, o crédito oficial e as tarifas, embora enfrentasse
dificuldades adicionais pela sua condição de “empresa não coligada” à
Telebrás. De forma similar, constituiu uma forma superior de organização
capitalista, em relação às empresas privadas existentes, inscrevendo nos
estatutos a tarefa gigantesca de implantar a planta industrial e todas as
redes urbanas e interurbanas de telefonia, bem como de incorporar todas
as empresas telefônicas municipais existentes. Isso não foi uma tarefa
simples, ao contrário, exigiu grande esforço financeiro, tendo em vista
haver 107 telefônicas em 1975, que foram absorvidas e reduzidas a
quatro no ano de 1980 e para apenas uma em 1985, a Cia. Pelotense de
Telecomunicações, ou CTMR.
Vale lembrar-se também que a construção da infraestrutura visava
atender ao consumo crescente, puxado pela industrialização e pela
urbanização acelerada. Nesse sentido, o crescimento do consumo por
telefonia era explosivo, o número de acessos em serviço triplicou de
190.000 para 629.000 entre 1979 e 1992, e toda a oferta de novos
acessos telefônicos fixos era comprada antecipadamente; o número de
chamadas urbanas aumentou 341,0% entre 1980 e 1991, ou seja, 31,0%
ao ano; e as chamadas interurbanas cresceram 14,7% ao ano (Dal Maso,
1994, p. 393). Portanto, havia uma grande carência por serviços básicos
de telecomunicações, o que exigia a construção da planta industrial num
período concentrado de tempo.
Para atender a essa pressão por telefonia, o ciclo de investimentos
da CRT, iniciado nos anos 70, prolongou-se até meados da década 80,
composto por grandes planos de expansão do número de acessos
telefônicos. O financiamento foi coberto com recursos próprios
basicamente, num montante de 60,0% dos investimentos para realizar
quatro planos de expansão, que previam implantar cerca de 270.000
novos acessos telefônicos. Observa-se que a questão do financiamento
11 Na forma de financiamento, a captação de recursos contou também com a venda de ações casadas com a linha telefônica (extinta em 1995) e a taxa fiscal do Fundo Nacional de Telecomunicações (FNT).
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 261
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
também foi determinante, particularmente, na CRT, pois as expectativas
otimistas referidas acima forjaram as decisões de expansão, reforçadas
pelo retorno esperado das aplicações, pela prática da venda antecipada
dos acessos telefônicos, pelo desenvolvimento da economia do RS e,
principalmente, pela demanda futura projetada com a conclusão do Polo
Petroquímico, do Polo Metal-Mecânico e do Polo Carboquímico. Outra
motivação importante derivava do desenvolvimentismo preponderante na
política do Governo do RS, que se materializava no planejamento de longo
prazo e na intervenção para construir a infraestrutura. Essas razões
prevaleceram politicamente nas decisões sobre os grandes planos da CRT
e, notavelmente, na respectiva execução, durante a ruptura na forma de
financiamento. Uma adversidade recaía sobre a desvalorização das tarifas,
que, por sua vez, se rebatia na geração de recursos próprios. Por
exemplo, a tarifa básica das ligações urbanas foi rebaixada em 115,5% no
valor real, e a tarifa básica interurbana em 46,8%, entre 1974 e 1980; e
ambas foram rebaixadas, em termos reais, em 75,9% entre 1980 e 1990
(Dal Maso, 1994, p. 374).
Diante das dificuldades que truncavam a expansão, os governantes
buscaram financiamento alternativo junto a bancos comerciais,
fornecedores de telequipamentos e pela emissão de debêntures, para
implantar a infraestrutura planejada. Essas decisões ousadas e de alto
risco em tempo de crise acarretaram altos custos financeiros, que
fragilizaram a estatal e agravaram o endividamento. Como consequência,
exigiram medidas de ajuste interno, equacionadas pelo aporte inusitado
de capital pelo Governo do RS, em 1988, para saldar empréstimos do
BNDES e do Banrisul, e pela conversão da dívida com a Telebrás em
capitalização, além da ação judicial favorável contra a União no valor de
US$ 67,8 milhões (Dal Maso, 1994, p. 319). Portanto, busca-se mostrar
os fatores que truncaram o papel da CRT entre 1985 e 1990, fase
considerada de estagnação e de ajuste interno, em que as suas atividades
priorizaram projetos de menor porte e autofinanciáveis, como elevar a
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 262
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
capacidade de acessos das centrais automáticas12, descongestionar o
sistema, através da construção de novas redes, instalar acessos DDD e
DDI, vender novos acessos, etc. Inclusive, a estatal habilitou-se para
executar o Plano Nacional de Popularização do Uso do Telefone, instalando
telefones públicos na maioria das vilas populares. Em suma, o
saneamento financeiro da prestadora, no início dos anos 90, possibilitou
começar um novo ciclo expansão continuado.
QUADRO 2
Portanto, a trajetória truncada da CRT no papel de construção das
telecomunicações, nos anos 80, tinha por perspectiva o atendimento do
consumo por serviços de telefonia fixa basicamente. Porém, nos anos 90,
também visou atender ao consumo explosivo por serviços de telefonia
celular, comunicações de dados, internet, etc. Notavelmente, o comando
da estatal promoveu um ciclo virtuoso de expansão na sua dimensão, ao
ponto de completar a construção da infraestrutura da planta industrial e
das redes urbanas e interurbanas de telefonia no RS.
Para demonstrar a expansão das telecomunicações e a capacidade
da planta de telefonia, selecionaram-se alguns indicadores. Primeiro, a
CRT substituiu todas as centrais manuais de conexão das chamadas nas
240 cidades por centrais automáticas, as quais, além de simbolizar a
modernização do setor, potencializaram a capacidade de instalação de
novos acessos telefônicos. O grau de digitalização da telefonia mede o
percentual da tecnologia digital nas centrais automáticas e nos terminais
telefônicos, o qual representava 13,4% em 1990, tendo-se elevado para
72,9% em 1998. O segundo indicador utiliza o número de acessos fixos
em serviço implantados, os quais cresceram 178,0% entre 1980 e 1990. A
densidade telefônica, medida pelo número de acessos telefônicos em
serviço por 100 habitantes, elevou-se de 3,9% para 7,5% nesses anos,
sendo similar à densidade existente no Brasil. Segundo os dados do IBGE,
apenas 10,9% da população urbana tinha telefone em 1980, mas a
cobertura da rede ampliou essa disponibilidade para 19,4% em 1991.
12 As primeiras centrais automáticas de telecomunicações foram instadas em 1986, com tecnologia de Central por Programa Armazenado Temporal (CPA-T).
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 263
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
Esses indicadores tornam-se mais expressivos nos anos 90, ao
evidenciarem a proposição relativa à construção da infraestrutura das
telecomunicações. Por exemplo, a densidade da telefonia fixa e celular no
RS, que representava 5,9% no ano de 1990, cresceu para 22,9% no ano
de 1998; a densidade dos acessos fixos, no Estado, foi ampliada de 5,9%
para 16,1% nesses anos, e, no Brasil, mudou de 6,5% para 12,4%; e a
densidade dos acessos celulares, no RS, saltou de 0,1% para 6,8% entre
1993 e 1998, e a do Brasil, de 0,5% para 4,5%. Os indicadores singulares
ganham mais significado com os dados da PNAD sobre os moradores em
domicílios que tinham, ou não, telefone. Em 1998, a participação dos sul-
-rio-grandenses que tinham telefone somava 35,0%, a dos moradores
urbanos atingia 40,0%, e a dos rurais, 14,7%.
Portanto, o alto grau de universalização da telefonia no RS foi o
resultado da grande expansão da planta industrial da CRT e da cobertura
das redes urbanas e interurbanas construídas até 1998, tendo, inclusive,
capacidade ociosa planejada. Um dado cabal do significado da façanha
desenvolvimentista republicana e da dimensão da expansão da
infraestrutura das telecomunicações no RS obtém-se do número de
acessos disponibilizados em serviço entre 1990 e 1998: foram
implantados 264.588 novos acessos fixos e celulares anualmente e/ou
132.610 acessos fixos e 80.000 acessos celulares no RS, a cada ano.
2.4 A infraestrutura de saneamento básico
Neste item, analisa-se o papel da Corsan na construção da
infraestrutura de saneamento básico, entre os anos de 1980 e 1998,
abordando os investimentos, os planos de expansão, a forma de
financiamento e os fatores que truncaram a expansão continuada da
estatal. Observa-se que a Corsan continua estatal e que, por isso,
analisam-se algumas informações para os anos posteriores àquele
período, como consta no Quadro 3. O saneamento básico compreende o
atendimento do abastecimento de água e de esgotamento sanitário, cujo
conceito tradicional foi ampliado nos termos da nova lei geral do
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 264
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
saneamento básico13, que incluiu os serviços de coleta e tratamento
adequado dos resíduos sólidos e os de assoreamento urbano. Neste texto,
analisa-se o papel da Corsan na construção dos sistemas de
abastecimento de água.
A estruturação dos serviços de saneamento básico e a tarefa de
construção dessa infraestrutura no Brasil, em parte, assemelham-se ao
modelo dos demais setores analisados. A história pode ser contada a
partir da criação do Sistema Financeiro do Saneamento (SFS), regulado
pelo BNH a partir de 1967. A função de holding financeira do setor foi um
dos principais papéis do Banco, que congregou grande massa de capital,
para implantar o Plano Nacional de Saneamento Básico (Planasa) entre
1971 e 1986.14 O Plano foi executado pelas prestadoras estaduais e por
algumas municipais.15 O Banco também cumpriu a função de regulação e
de orientação das atividades do setor (definição de tarifas, metas de
atendimento, seleção dos projetos financiáveis, etc.). O financiamento dos
projetos do Planasa ocorria por dois fundos principais, o Fundo Nacional
de Saneamento (Finasa), gerido pelo BNH, e o Fundo de Financiamento
Para Água e Esgoto (FAE), criado nos estados com recursos fiscais. O
Finasa foi alimentado por recursos do Orçamento da União, empréstimos
internos e externos, recursos do FGTS e pelos depósitos da caderneta de
poupança, e o FAE formou-se por recursos fiscais e pelo retorno dos
empréstimos. A contratação de crédito do Finasa estava condicionada à
criação do FAE estadual, que cedia a contrapartida de 50,0% do
empréstimo.
As semelhanças com a estruturação dos setores de energia elétrica
e telefonia são observadas na definição da política nacional, na
centralização institucional e decisória sobre o planejamento, a forma de
13 Lei do Saneamento Ambiental n° 11.445, de janeiro de 2007.14 As metas ambiciosas do Planasa estabeleciam o atendimento com água potável a mais de 80,0% da população urbana em, pelo menos, 80,0% das cidades e em todas as regiões metropolitanas, e, ainda, serviços de esgoto às regiões metropolitanas, às capitais e às cidades maiores.15 Os serviços de saneamento básico são competências dos municípios, conforme a Constituinte, mas a grande maioria deles realizou concessões para as prestadoras estaduais.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 265
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
financiamento e a regulação, bem como na descentralização das ações
através das prestadoras estaduais e municipais. O que se distinguiu no
saneamento básico foi a estratégia de fortalecer as empresas estaduais,
para se tornarem autossustentáveis, orientadas para construir a
infraestrutura de saneamento básico primeiro nas cidades maiores, pois
teriam viabilidade econômica e retorno mais rápido dos investimentos. Em
sequência, sucessivamente, a estatal construiria nas cidades menores,
com baixo retorno dos projetos, porém já tendo uma condição financeira
mais fortalecida. Portanto, a estratégia presumia que o valor das tarifas
fosse definido com base nos custos das prestadoras, tendo-se em vista a
necessidade de garantir o retorno dos empréstimos, especialmente do
Finasa. Essa característica do modelo entalhou a lógica de valorização do
capital, porque deveria remunerar os recursos do FGTS e as cadernetas de
poupança. Não obstante isso, a forma de financiamento do setor também
sucumbiu, quando posta em xeque na crise dos anos 80, implicando alta
inadimplência dos mutuários dos financiamentos habitacionais do Banco.
A Corsan passou a operar em abril de 1966, atendendo a 103 sedes
municipais, tendo o objetivo de construir a infraestrutura de saneamento
básico nas cidades do RS, exceto em Porto Alegre, Pelotas, Santana do
Livramento e São Leopoldo. A condição do abastecimento de água nas
cidades era precária e apresentava grande carência de serviços adequados
no contexto da industrialização e da urbanização acelerada. Essa façanha
exigiu que se constituísse uma estatal que tivesse uma forma superior de
organização empresarial, a capacidade de concentrar grande volume de
capital social e o planejamento de longo prazo, este como condição de
expansão e para construir a infraestrutura e ter acesso ao crédito junto
aos fundos Finasa e FAE.
No ano de 1980, dentre os 244 municipais existentes, a Corsan
atendia a 232 sedes municipais com sistemas de abastecimento de água e
18 cidades com sistema de esgotamento sanitário. Entretanto o
movimento de criação de novos municípios foi muito intenso também nos
anos 90, fato que adicionou novas sedes municipais sem sistemas de água
adequada a cada ano. Assim, a tarefa de provimento era delegada à O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 266
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
estatal, porque essas comunidades não tinham disponibilidade de
recursos. Atualmente, entre os 496 municipais existentes, a Corsan opera
as concessões dos sistemas de água para em torno de 340 cidades e as
de esgoto para 44 cidades. Conhecendo-se o modelo do setor, a seguir,
examinam-se os planos de expansão do saneamento básico.
Um ciclo de grandes investimentos ocorreu entre 1978 e 1985,
financiado com recursos próprios num montante expressivo, em torno de
74%, mais os créditos dos fundos Finasa e FAE. Mas a Companhia
também recebeu aporte do Governo do RS, entre 1981 e 1983, para
implantar os projetos estratégicos dos sistemas de saneamento no Polo
Petroquímico e no Distrito Industrial de Rio Grande. Esses projetos foram
considerados prioritários para o desenvolvimento e, por isso, absorveram
vultosos recursos próprios da Corsan e de empréstimos levantados.
Ambos foram considerados obras de saneamento básico, por se tratarem
de despoluição de efluentes industriais e por se localizarem a montante
das bacias hidrográficas, especialmente no caso da Região Metropolitana
de Porto Alegre. Os benefícios dessa infraestrutura para a industrialização
e para a preservação ambiental não estão em questão aqui. Porém o
grande aporte de recursos nesses projetos truncou a construção da
infraestrutura de saneamento básico nas cidades, porque exigiram
vultosas inversões de recursos próprios e empréstimos, que acarretaram
desequilíbrio financeiro na estatal. Além de a infraestrutura beneficiar
empresas nessas áreas industriais e representar incentivos empresariais,
vale notar-se que os custos foram socializados nas tarifas de água e de
esgoto para todos os usuários dos sistemas operados pela Corsan.
Portanto, esses projetos estratégicos fragilizaram financeiramente a
estatal, originando uma fase de paralisação dos investimentos, também
agravada pela ruptura radical da forma de financiamento com a extinção
do BNH em 1986. A ruptura poderia lesar os fundos e as cadernetas de
poupança, se as prestadoras não amortizassem os empréstimos. Por isso,
a Caixa Econômica Federal assumiu as funções de financiar o saneamento
básico, embora se sujeitasse à rigidez do contencioso da política
macroeconômica. Esses truncamentos não deixaram muitas alternativas, O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 267
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
senão uma em particular, que foi manter o valor das tarifas de água e
esgoto com reajustes reais de 58,6% e de 793,0%, respectivamente, na
década. Por consequência, retardaram a implantação dos sistemas de
água e de esgoto nas cidades.
O novo ciclo continuado das inversões iniciou-se em 1991 e atingiu
um patamar histórico entre os anos de 1996 e 2000, através da execução
dos grandes planos Projeto Pró-Guaíba e Plano de Investimentos. Foram
financiados por operações de crédito basicamente, flexibilizadas pelo
desbloqueio do crédito, e pelo novo fundo Programa de Investimentos em
Melhorias Sociais (Pimes)16, este alimentado por recursos fiscais e
externos do BIRD. Destacam-se, ainda, os 51 novos sistemas de
abastecimento de água construídos nos novos municípios criados nos anos
90, cujos valores investidos seriam de difícil retorno. Nesse sentido, os
grandes planos da Corsan compõem-se por um conjunto de projetos
destinados para diversas cidades, que envolvem obras, por exemplo, de
implantação de reservatório, de redes de distribuição, de ampliação, de
melhoria, etc.
Em relação aos anos recentes, cabe destacarem-se o Plano de
Investimentos 2003-06, que foi financiado com recursos próprios em,
basicamente, mais de 95,0% do valor dos projetos, e, especialmente, o
Plano de Investimentos 2007-10, que envolve expressivos recursos, agora
bancados pelo Orçamento da União, por operações de crédito (86,0%) e
pela Corsan.
Para demonstrar a expansão da infraestrutura de saneamento
básico e a capacidade da planta dos sistemas de abastecimento de água,
envolvendo captação, estações de tratamento, reservação, adutoras e
rede de distribuição, selecionaram-se alguns indicadores para o período de
1980 a 1998. É importante destacar-se que o abastecimento de água nas
cidades sempre foi a principal prioridade da política de saneamento
básico, por isso, examinam-se os resultados relativos apenas aos sistemas
de água nas cidades atendidas pela Corsan. No caso dos sistemas de
16 O fundo Pimes, destinado para o saneamento, a urbanização, etc., completou em torno de 9% das inversões da Corsan.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 268
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
esgotamento sanitário, a estatal prestava serviços em 18 cidades no ano
de 1980 e em 44 em 1998. A novidade no setor emergiu exatamente
devido ao crescente volume de investimentos revertidos nos sistemas de
esgoto para um patamar em torno de 35,0%, especialmente a partir do
ano 2000. Porém os índices de atendimento urbano da coleta do esgoto e,
principalmente, do tratamento do esgoto coletado são alarmantes, pois
68,0% dos domicílios urbanos do RS utilizam fossa séptica, e apenas
12,4% têm acesso à rede coletora. Assim, a infraestrutura de esgoto
existente é precária e carece muito de uma política pública continuada
para construí-la (Dal Maso, 2008).
O primeiro dado sobre a expansão da infraestrutura de
abastecimento de água é o número de 236 cidades atendidas em 1980,
passando para 279 cidades em 1990 e, depois, para em torno de 340 em
1998. A ampliação, as melhorias e a implantação de novos sistemas
refletem-se nos indicadores seguintes: a rede de distribuição, medida por
quilômetros de canos de água enterrados nas ruas, teve crescimento de
89,3% e de 25,6% nos respectivos subperíodos; o volume de produção de
água tratada aumentou 90,0% e 44,0% respectivamente; e o número de
economias atendidas ou de domicílios ligados à rede cresceu de 679.000
para 1.831.000 nesse período. É importante apontar-se que a construção
dos sistemas de rede geral nas cidades foi determinante para garantir alto
índice de atendimento urbano com água tratada. Conforme os Censos de
1980 e 1991, o percentual de domicílios urbanos que tinham acesso à
rede geral de água elevou-se de 83,3% para 91,5% naqueles respectivos
anos, coincidindo esse nível de atendimento urbano com o prestado pela
Corsan nas cidades conveniadas. A ampliação das redes de distribuição
nas periferias urbanas, bem como a implantação de pequenos sistemas de
abastecimento de água, resultou no crescente acesso à rede geral. Por
último, segundo dados da PNAD, o percentual de moradores urbanos que
tinham acesso à rede geral de água somava 93,9% em 1998, mas, nas
cidades conveniadas da Corsan, era de 97,5% da população urbana.
3 TEMPO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS BÁSICOS
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 269
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
O tempo das reformas do Estado, do retorno dos investimentos em
infraestrutura como prioridade governamental, da recomposição da forma
de financiamento das estatais, das privatizações das prestadoras públicas
e, por essência, da universalização dos serviços básicos sucedeu na
segunda metade dos anos 90. Neste item, abordam-se, sucintamente,
essas mudanças institucionais e os seus reflexos sobre os novos papéis
das prestadoras privadas e públicas dos serviços básicos.
Na verdade, objetiva-se examinar as duas últimas proposições do
trabalho, relacionadas a dois fatos entrelaçados que mudaram os
interesses nessa área de serviços básicos: um, de natureza política,
apoiado por uma poderosa aliança nacional, que culminou nas reformas
do Estado e no ato político intencional de realizar a política econômica de
privatização; e, outro, um fato econômico também intencional, de
recompor a forma de financiamento das prestadoras, para assegurar as
condições sustentáveis de valorização do capital privado, tendo em vista
completar a infraestrutura e universalizar os serviços básicos — os novos
papéis.
Vale lembrar-se que a terceira proposição pondera a importância
política das mudanças, pois foi decisiva para criar as expectativas dos
agentes privados entrantes na área de infraetrutura, como a
recomposição da forma de financiamento, as privatizações e a
contemplação dos interesses dos investidores privados nacionais e
estrangeiros, etc. Entretanto afirma-se que as decisões dos agentes
privados se forjaram principalmente porque as plantas industriais e as
grandes redes nacionais já estavam construídas; porque existia uma
massa de usuários cadastrados e incorporados às redes; porque as
tecnologias disponíveis tinham preços acessíveis e potenciavam altas no
mark-up das prestadoras; enfim, porque foram asseguradas as condições
sustentáveis de valorização do capital na prestação dos serviços básicos.
A última proposição afirma que foi redefinido o papel das
prestadoras privadas e públicas, para operarem os mercados criados e
regulados pelo Estado, atribuindo-lhes os novos papéis de complementar O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 270
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
a infraestrutura existente, para garantir a disponibilidade, a continuidade
e a qualidade do atendimento, bem como o papel adicional da
universalização do acesso aos serviços para todos. Assim, cabe investigar-
-se, na experiência das prestadoras de energia elétrica, de telefonia e de
saneamento básico, a universalização dos serviços básicos.
Portanto, o cenário da infraestrutura dos serviços básicos era outro
no final dos anos 90: as plantas industriais e as redes nacionais de
distribuição tinham capacidade de atender ao consumo crescente do
sistema de produção e do funcionamento das cidades. Porém o
planejamento da sua expansão de longo prazo é uma tarefa continuada,
para criar capacidade ociosa, completar a planta, fazer manutenção,
incorporar inovações, etc., enfim, sempre há necessidade de melhorar-se
a cobertura do atendimento.
3.1 As reformas e o papel de complementar a infraestrutura
A reforma estadual no RS e a política econômica de privatização
foram realizadas entre 1995 e 1998, a partir da Lei n° 10.607, de
28.12.1995. Envolveram a alienação de estatais, a criação dos polos
rodoviários, a concessão de terminais portuários, a extinção de
instituições financeiras, a venda de patrimônio imobiliário e mobiliário e a
terceirização dos serviços públicos, etc. Importa registrar-se a presença
de dois movimentos entrelaçados no processo de ajuste fiscal, efetivados
pelos estados. O primeiro envolvia questões políticas que articulavam
fortes interesses, formavam coalizões e alianças e logravam apoio
parlamentar, para pôr em prática a política econômica das privatizações.
Cabe destacar-se, sucintamente, na negociação e na definição dessa
política, o poder das forças intervenientes no processo. Primeiro, a
representação de apoio de uma forte coalizão parlamentar na Assembléia
Legislativa Estadual, que articulou forças para a tramitação rápida dos
projetos da reforma radical. Segundo, o alinhamento dessa política
estadual com a mesma política nacional afiançou as mudanças locais,
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 271
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
porque os déficits fiscais e o crescimento da dívida dos estados
ameaçavam a estabilidade econômica. Por isso, o aval do Governo Federal
condicionou uma negociação caso a caso do ajuste fiscal com os estados e
impôs a privatização das empresas estaduais (Lopreato, 2000).17 O
terceiro parâmetro interveniente das mudanças sucedeu com os
interesses do grande capital nacional, que buscava garantir participação
nas privatizações, a qual, de fato, foi assegurada pelas mediações do
Estado nacional e do Governo do RS (Dal Maso, 2000).
Assim, os atos políticos intencionais das forças políticas efetivaram
as mudanças na forma de intervenção do Governo do RS na infraestrutura
de serviços básicos de energia elétrica, telecomunicações, transportes,
saneamento básico, instituições financeiras e de concessão dos polos
rodoviários, etc. A citação abaixo registra os compromissos do Governo do
RS, ao contratar crédito junto ao BID, para materializar a política de
privatização.
Os objetivos gerais orientadores do Programa de Reforma do Estado podem ser apresentados nos termos seguintes: recuperação do equilíbrio fiscal e financeiro do setor público, modernização e qualificação do setor público, privatização e descentralização de parte importante dos serviços públicos de infraestrutura e, consequentemente, a retomada dos investimentos, de modo a propiciar o aumento global da eficiência da economia gaúcha. (RS, 1997, p. 27).
O segundo movimento entrelaçava a questão futura da
infraestrutura, pois, em última instância, o Estado tem a responsabilidade
maior da provisão dos serviços básicos. No essencial, cabe ao Estado criar
o mercado, definir a forma de financiamento e as tarifas, regulamentar os
direitos e os deveres dos agentes prestadores públicos ou privados, etc.
Portanto, quando o Estado criou esses mercados, por um lado, eliminou a
fragilidade na forma de financiamento existente e assegurou uma
condição sustentável de valorização dos capitais privados entrantes. Por
outro, estabeleceu a função reguladora e fiscalizadora para controlar o
17 A articulação política foi amarrada pelos programas: Programa de Reestruturação e Ajuste Fiscal dos Estados, respaldado na Lei n° 9.496/97, que autoriza a federalização das dívidas mobiliárias e bancárias, e Programa de Incentivo à Redução do Setor Público Estadual na Atividade Bancária.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 272
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
poder discricionário das prestadoras em seu jogo oligopolista, ou seja,
controlar as tarifas e o elevado poder das empresas, tendo em vista a
natureza pública dos serviços básicos, o impacto destes nos custos diretos
do sistema de produção e a sua relevância para o funcionamento das
cidades. Em relação à questão futura da infraestrutura econômica, o
arcabouço legal, ou a lei geral de cada setor, definiu obrigações de
expansão da planta industrial e as metas de universalização.
Definidos claramente os arcabouços legais e regulatórios dos
mercados dos serviços básicos e asseguradas as bases requeridas e
sustentáveis de valorização dos capitais privados e/ou de expressivo
retorno dos investimentos na área de infraetrutura, materializaram-se,
assim, as condições para os agentes privados investirem para
complementar a infraestrutura existente. No caso do esgotamento
sanitário, as plantas e as redes que faltavam ser construídas para
implantar os sistemas abarcam todas as cidades do RS. Quanto aos
serviços de telefonia, foram efetivadas extensas redes de telefonia celular
concorrentes e de outros serviços de telecomunicações pelas firmas
entrantes. Portanto, os investimentos das prestadoras privadas
completaram a planta industrial e as redes da infraestrutura existente e,
principalmente, criaram a capacidade ociosa planejada para atender ao
consumo crescente. Assim, argumenta-se, aqui, que as decisões dos
agentes privados se forjaram basicamente na ampla cobertura das redes
já construídas, nas plantas industriais instaladas e no cadastro massivo de
usuários ligados às redes. Além disso, o grande porte dos novos
investimentos poderia ser plenamente sustentável pelas grandes
empresas entrantes, bem como as inovações se apresentam atualmente
mais acessíveis, e também aumentaram as expectativas de rendimentos
futuros.
Em relação à recomposição da forma de financiamento das
prestadoras, o Governo Federal adotou a política de desbloqueio dos
controles das autoridades econômicas sobre as tarifas dos serviços
básicos, sobre os orçamentos de dispêndios globais das estatais, sobre os
seus planos de investimentos e sobre as restrições ao crédito dos bancos O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 273
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
oficiais, comerciais, do BID e do BIRD. Livres desse contencioso, os
índices de reajustes passaram a recompor o valor das tarifas, que
passaram a ser a principal fonte de financiamento a partir de meados da
década de 90. Os bancos oficiais começaram a financiar pela modalidade
de “projeto de financiamento” (project finance), tendo em vista a
mudança no perfil de risco dos tomadores de crédito. A aprovação do
financiamento dos projetos passou a exigir a respectiva viabilidade
econômica e garantias oferecidas pelas prestadoras privadas e públicas,
porque passou a correr os riscos do mercado, relacionados a
fornecedores, à contratação de serviços, a seguradoras, a bancos
comerciais, etc. Por isso, o projeto deve ter, inexoravelmente, cobertura
de receita ou um fluxo de caixa compatível, pois, se incorrer em prejuízo,
não poderá ser coberto com recursos públicos. Portanto, a fixação de
tarifas tornou-se um dos aspectos fundamentais na nova modalidade de
financiamento.18
As tarifas passaram a ser corrigidas pelo sistema price-cap19 a partir
de 1997, e, adicionalmente, as agências reguladoras corrigiram as
distorções nos sistemas de tarifação. Por exemplo, a tarifa de telefonia
passou a ser cobrada por minuto de uso dos serviços e não mais por pulso
(igual a quatro minutos), corrigida pelo Índice de Serviços de
Telecomunicações (IST). O consumo de energia elétrica e de água teve
como parâmetro os registros medidos em cada unidade residencial,
comercial, etc. As tarifas de pedágios nas estradas foram criadas junto
com a instalação dos polos rodoviários, entre 1998 e 1999, e essas
prestadoras também tiveram acesso ao crédito dos bancos oficiais.
Portanto, o sistema de valorização das tarifas possibilitou a geração
de recursos próprios para financiar a expansão da infraestrutura. No setor
de telefonia, esses recursos representavam em torno de 60,0% em 1994,
elevando-se para mais de 70,0% a partir de 1995, e as operações de
18 Ver Pego Filho et al (1999) e Dal Maso (2000, p. 409).19 O sistema price-cap atualiza o valor das tarifas com base em custos de produção. O reajuste anual é feito com base num índice de preços, cuja taxa de reajuste sofre um desconto a título de produtividade, chamado Fator X, para beneficiar o consumidor anualmente.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 274
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
crédito somavam em torno de 20,0%. Ou seja, a manutenção do valor
propiciou ganhos substanciais entre 1998 e 2002, por exemplo, de 80,0%
na assinatura residencial, de 47,2% na assinatura não residencial, de
25,0% sobre o valor do pulso local, de 40,0% sobre a tarifa interurbana,
etc. (Dal Maso, 2006, tab. 4). No caso da Corsan, esta enfrentava
restrições de crédito por conta do endividamento excessivo, exceto entre
1995 e 1998, quando captou grande volume de crédito, que reduziu para
cerca de 37,0% a participação dos recursos próprios. Porém sua
importância saltou de 64,0% em 2002 para mais de 95,0% em 2006. A
tarifa média do metro cúbico de água teve aumento real de 42,8% entre
1995 e 1998 e de 54,4% até o ano 2000 (Dal Maso, 2008, tab. A.13). Mas
é importante registrar-se que o crédito do FGTS e do FAT foram liberados
para financiar as prestadoras de saneamento básico. Entretanto a Corsan
não teve acesso a esse crédito oficial, por conta do acordo da dívida do
Governo do RS, que estabeleceu limite de endividamento. Essa restrição
ao crédito representou um atraso extraordinário na construção da
infraestrutura de saneamento básico no RS, nos anos bem recentes. No
setor de energia elétrica, a valorização das tarifas antecipou-se, porque as
prestadoras contabilizavam prejuízos e endividamento excessivo,
necessitando buscar capitais de terceiros. Assim, a capacidade de gerar
recursos próprios da CEEE, cerca de 20,0% em 1990, elevou-se para
58,5% nos anos de 1993 a 1996.
3.2 A política econômica de privatização
Um dos objetivos da política econômica de privatização foi criar um
modelo competitivo, considerado mais eficiente em relação ao monopólio
estatal. Por isso, os mercados dos serviços básicos foram fragmentados
por área e por tipo de serviço. A fragmentação criou unidades com escala
e escopo menores, inclusive menor capacidade competitiva. Entretanto
atendia aos interesses do grande capital nacional em participar das
privatizações, embora a competição em si se tenha mostrado remediada e
efêmera nesses mercados, exceto nas telecomunicações. A seguir, O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 275
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
apresentam-se os modelos de mercados implantados no RS que são
similares em escala nacional.
A CEEE foi transformada em seis unidades,20 leiloadas no final de
1997, de acordo com as suas áreas de atuação na geração de energia,
transmissão e distribuição. A mudança criou uma unidade de transmissão,
duas de geração, três de distribuição e um complexo termoelétrico
(Candiota). O controle acionário de duas distribuidoras foi alienado para a
Rio Grande Distribuidora S/A (RGE) — Votorantin, Bradesco e Camargo
Correa —, a AES Sul S/A, com capital norte-americano, e a Companhia
Estadual de Energia Elétrica Participações, sociedade holding do Governo
do RS, controladora de unidades que operam segmentos de geração,
transmissão e distribuição.21 A competição projetada no mercado de
energia elétrica deveria ser efetivada pelo órgão Operador Nacional do
Sistema Elétrico (ONS), através da intermediação da venda e da compra
de energia no sistema interligado por unidades geradoras, distribuidoras e
consumidores.
Nas telecomunicações, o modelo competitivo fragmentou a rede
pública por área e por tipo de serviço. O Sistema Telebrás foi dividido em
três holdings regionais na telefonia fixa, sendo autorizada a concessão
para novas empresas entrantes; a holding Embratel prestaria a telefonia
interurbana e internacional e fez novas concessões para firmas entrantes;
e, na telefonia celular, o mercado brasileiro foi fragmentado em nove
regiões com quatro prestadoras cada. Nesse sentido, o RS compôs uma
região onde competem a Vivo, a Claro, a TIM e a Oi (Brasil Telecom
Celular).22 Em relação à CRT, o Governo do RS antecipou a sua
privatização antes do Sistema Telebrás, causando descontinuidade e
retardo na expansão da infraestrutura de telefonia no RS, tendo em vista
20 Lei Estadual nº 10.900, de dezembro de 1996. Sobre o assunto, ver Governo do Estado do RS (RS, 1997, p. 45).21 A divisão da CEEE gerou as seguintes empresas: Companhia Transmissora de Energia Elétrica S/A; Cia. de Geração Hídrica de Energia Elétrica S/A e Cia. de Geração Térmica de Energia Elétrica S/A; Cia. Sul-Sudeste de Distribuição de Energia Elétrica S/A (AES Sul); Cia. Centro-Oeste de Distribuição de Energia Elétrica S/A e Cia. Norte-Nordeste de Distribuição de Energia Elétrica S/A (RGE).22 Ver Dal Maso (2000, cap. 4) e Teleco (2009).
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 276
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
a estratégia especulativa dos capitais entrantes. A alienação das ações
ocorreu em duas etapas: em dezembro de 1996, o consórcio liderado pela
RBS Participações S/A e pela Telefónica Internacional de Espanha adquiriu
35,0% dos ativos e, depois, arrematou o restante em junho de 1998, um
mês antes do leilão do Sistema Telebrás (Dal Maso, 2000, p. 406). Por
fim, a holding Brasil Telecom incorporou a unidade de telefonia fixa no
ano 2000 e, atualmente, passou a ser controlada pela prestadora Oi e
Telemar.
O mercado de saneamento básico estrutura-se como monopólio
natural. A decisão de mudança no mercado da Corsan pelo Governo do
RS, entretanto, supôs implantar um modelo competitivo por área de
atuação e por tipo de serviço (abastecimento de água e esgotamento
sanitário), mas os parâmetros competitivos seriam estabelecidos por
metas de desempenho, ganhos de eficiência, qualidade dos serviços, etc.
e por comparação entre as nove unidades (superintendências) regionais
criadas. É importante notar-se que essas mudanças afetaram
profundamente a estrutura de governança da Corsan, devido aos ajustes
para privatizá-la posteriormente, como a redução de pessoal, o ajuste
operacional e a fragmentação da sua área de abrangência em nove
superintendências regionais23. A estatal não foi privatizada, mas o modelo
previa alienar 49,0% das suas ações, a venda da Companhia de Indústria
Eletro-Química (CIEL), empresa filiada, produtora de sulfato de alumínio
para uso no tratamento de água, e a transferência da concessão do
Sistel.24 Observa-se que a área de interesse dos agentes privados recaía
nos sistemas de abastecimento de água das grandes cidades, porque a
infraestrutura já estava construída e atendia quase toda a população
urbana. Apesar disso, foram inexpressivas as privatizações no Brasil,
pelas seguintes razões: a derrota no Congresso do projeto sobre novo
23 As nove superintendências regionais são: Região Sul, Região Litoral Norte, Região Metropolitana, Região Nordeste, Região Planalto Médio, Região das Missões, Região Fronteira Oeste, Região Central, Região Sinos. As sedes das regionais foram localizadas nas cidades de Rio Grande, Osório, Canoas, Bento Gonçalves, Passo Fundo, Santo Ângelo, Rosário do Sul, Santa Maria e Canoas respectivamente.24 Ver Mensagem do Governador à Assembléia Legislativa (RS, 1997; 1998) e Dal Maso (2008).
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 277
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
arcabouço legal do setor e as incertezas quanto ao titular da concessão
dos serviços nas áreas metropolitanas.
Na área de transporte rodoviário, o DAER vinha desenvolvendo uma
experiência de rodovias pedagiadas desde 1991, cujos resultados
embasaram a criação de nove polos de concessões de serviços25, com
praças de pedágio envolvendo em torno de 2.816km de rodovias
pavimentadas, integrando também rodovias federais delegadas. O modelo
de polo compreende um conjunto de trechos rodoviários que convergem
para um mesmo centro (nó rodoviário). A viabilidade dos polos foi
consolidada pelo convênio de delegação da administração de rodovias
federais para o Governo do RS, envolvendo 25 trechos com extensão de
2.065km. Cinco polos foram implantados em 1998, inclusive
terceirizaram-se para agentes privados os serviços de inspeção de
segurança veicular e de expedição de carteira da habilitação de motorista
em agosto de 1996, bem como foram repassadas todas as atividades
portuárias à iniciativa privada. Notavelmente, as rodovias pedagiadas nos
polos têm grande importância na malha rodoviária e já se encontravam
pavimentadas e em condições de tráfego, necessitando de melhorias,
sinalização anuais e regulares. Portanto, as boas condições das rodovias
pavimentadas, a intensidade do tráfego existente nos polos e as taxas
generosas de pedágios definidas tornaram-nas muito atrativas aos
agentes privados.
3.3 A universalização dos serviços básicos
Na análise exposta acima, mostrou-se que as infraestruturas de
energia elétrica, telecomunicações, abastecimento de água e de estradas
rodoviárias foram construídas antes das privatizações das estatais CEEE e
CRT e das concessões dos polos rodoviários. Por isso, o estatuto das
25 Os polos rodoviários criados foram: Lajeado (Sulvias S/A), Gramado (Brita Rodovias S/A), Santa Maria (Santa Maria de Rodovias S/A), Carazinho (Coviplan S/A), Santa Cruz do Sul (Santa Cruz Rodovias S/A), Vacaria (Rodosul S/A), Caxias do Sul (Convias S/A), Pelotas (Ecovias S/A), Metropolitano (Metrovias S/A) (RS, 1998, p. 152).
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 278
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
prestadoras privadas e públicas posteriormente atribuiu o papel de
expansão dessa infraestrutura para garantir a disponibilidade, a
continuidade e a qualidade para o atendimento do consumo crescente, a
universalização dos serviços e, inexoravelmente, os expressivos retornos
dos investimentos privados. A seguir, avalia-se a universalização dos
serviços nos anos bem recentes.
Afirmar que a infraestrutura estava construída antes das
privatizações não significa negar que houve expansão posteriormente. Ao
contrário, a natureza desses serviços públicos exige a necessidade de
investimentos para manutenção, reposição e permanente ampliação da
planta industrial e das redes, inclusive para incorporar e implantar novas
tecnologias e prestar novos tipos de serviços. A dinâmica do sistema de
produção e do funcionamento das cidades exige expansão e melhorias.
Citam-se, como exemplos, o alargamento da eletrificação rural, as novas
redes de telefonia das prestadoras entrantes, as redes de fibras ópticas,
etc. Observa-se também que o mercado das prestadoras não mais se
restringe ao RS, tampouco às fronteiras do Brasil, exceto o caso da
Corsan e da Companhia Estadual de Energia Elétrica Participações.
Em geral, a criação dos mercados e a regulação do Estado
privilegiaram o critério econômico, como o princípio do justo retorno dos
investimentos, as tarifas “razoáveis”, o mark-up elevado, o arcabouço
regulador claro, etc. Em outras palavras, de acordo com essa perspectiva,
a universalização ocorre como consequência do aumento do nível de
renda e de emprego dos usuários econômicos, que possibilita o acesso e o
consumo dos serviços básicos.
No caso da telefonia, dois princípios básicos orientaram a criação do
mercado. O primeiro é o princípio de universalização, que significa o
acesso a serviços de telecomunicações individuais para todos, com tarifas
comercialmente razoáveis e níveis de qualidade aceitáveis. O mercado
passou a ser o mecanismo de universalização. O segundo é o princípio
constitucional de isonomia no setor, na medida em que se ampliou o leque
de benefícios, como a exigência de padrões de qualidade e de
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 279
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
regularidade adequados à sua natureza, a liberdade de escolha do
provedor de serviço, a inviolabilidade, o segredo da comunicação e a
preservação da privacidade. Nesse sentido, a noção de universalização
está referida ao direito do usuário, ao direito do consumidor individual ao
acesso, tendo a dimensão exclusiva dos usuários econômicos, os que
podem pagar pelos serviços, e não o direito ao acesso e ao uso como um
direito universal dos cidadãos (Dal Maso, 2000, cap. 4).
A universalização da telefonia pelas prestadoras Brasil Telecom
(adquirida pela Telemar através da firma coligada Oi em 2009), Global
Village Telecom (GVT) e Embratel aumentou o número de acessos fixos
em serviço em 43,7% entre 1999 e 2008, elevando o índice de densidade
de 15,2 para 24,0. Ou seja, para cada 100 sul-rio-grandenses, 24 tinham
acesso ao telefone fixo. E a densidade de telefones públicos passou de 3,5
para 6,1 “orelhões” para cada grupo de 1.000 habitantes. Os serviços de
celulares foram o carro-chefe da telefonia, tendo crescido 1.334,5% e
disponibilizado 9,7 milhões de acessos a celulares, operados pela Vivo,
Claro, Tim e pela Brasil Telecom Celular. O índice de densidade celular
expandiu-se de 22,1 para 111,3 acessos para cada 100 gaúchos.
Esse cenário da universalização clarifica-se mais com as pesquisas
do IBGE. Conforme os dados do Censo de 2000, os moradores dos
domicílios que tinham telefone (fixo ou celular) somavam 38,2%, o
percentual dos habitantes urbanos beneficiados era de 46,5%, e os rurais
resumiam-se a 14,7%. Porém, segundo os dados da PNAD para o ano de
2008, mudou completamente esse cenário, pois 90,7% do total dos
gaúchos tinham telefone; entre os moradores urbanos e os rurais 92,0% e
85,0% tinham telefone respectivamente. Destaca-se o fenômeno do
espraiamento da telefonia nas classes de baixa renda, tanto na cidade
como no campo. Nas cidades, os moradores com renda de até um salário
mínimo (SM) que tinham telefone somavam 38,8%, e aqueles com renda
entre um e dois SMs que tinham telefone representavam 31,1%. Mas, na
área rural, a incorporação de usuários na telefonia celular foi
extraordinária, pois os moradores com renda de até um SM e que tinham
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 280
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
telefone somavam 57,1%, e, na classe com renda entre um e dois SMs,
29,0% deles tinham telefone.
A universalização da energia elétrica não é um fenômeno recente,
mas completou-se pela incorporação de 1,1% dos gaúchos entre 2000 e
2008, especialmente moradores das áreas rurais. A expansão resultou
basicamente dos incentivos da política pública Programa Luz Para Todos26
do Governo Federal, coordenado pelo Ministério de Minas e Energia, sendo
financiado no montante de 75,0% dos investimentos pela Eletrobrás, além
de contar com a parceria das prestadoras CEEE, AES Sul e RGE. O
fornecimento total de energia elétrica cresceu 26,5%, o que equivale a
2,6% ao ano; exceto na área rural, onde o número de novos usuários
cresceu 34,7%, e o consumo de energia, 68,7%, ou seja, 6,8% ao ano.
Os dados desagregados por prestadora também refletem a evolução
moderada do consumo e a expansão da universalização do acesso na área
rural.
Os dados das pesquisas do IBGE revelam indicadores mais
significativos desse cenário “todos com luz”. No ano 2000, os grupos de
moradores urbanos e rurais sem acesso à energia elétrica representavam
0,5% e 9,5% respectivamente. Esse grau reduziu-se para um cenário de
universalização plena em 2008. Segundo os dados da PNAD, apenas 0,2%
dos domicílios urbanos e 1,4% dos rurais não tinha acesso à rede de luz
elétrica. Portanto, a plena universalização efetivou-se com os incentivos
da política pública e as aplicações complementares das prestadoras nos
anos bem recentes.
O conceito de universalização do abastecimento de água (e
esgotamento sanitário) utilizado compreende a disponibilidade, a
acessibilidade e a continuidade do fornecimento para todos. Essas
condições fundam a noção de serviços universais, considerando as
características de alta relevância social e econômica, a importância
estrutural no funcionamento das cidades e no sistema de produção. Os
26 O Programa Luz Para Todos foi iniciado em 2003 e buscou antecipar em sete anos a universalização da energia elétrica no País, seguindo as metas do cronograma de atendimento. Pela legislação atual, as concessionárias de energia teriam prazo até dezembro de 2015 para eletrificar todos os domicílios sem acesso à energia no Brasil.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 281
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
atributos de alta relevância, além de serem bens insubstituíveis e
essenciais à vida, determinam que o abastecimento de água seja sempre
orientado por políticas públicas e por regulação e fiscalização
governamentais para proteção do interesse público e para provisão
adequada deles. Neste texto, tomou-se um conceito de universalização
restrito, que considera a disponibilidade e a acessibilidade da população
urbana e dos domicílios urbanos aos serviços de abastecimento de água e
de esgotamento sanitário, mediante o pagamento de tarifas estabelecidas,
sociais ou básicas, normais e comerciais (Dal Maso, 2008).
Os dados do Censo de 2000 mostram o percentual de 9,0% dos
domicílios urbanos das cidades do RS que não tinham acesso à rede geral
de abastecimento de água, mas esse grupo não atendido representa 6,0%
segundo os dados da PNAD de 2008. Esse indicador agregado mostra uma
informação importante, qual seja, os grupos com acesso e sem acesso à
rede geral, isto é, os que tinham, ou não, acesso ao fornecimento de água
tratada e ao controle de qualidade junto às prestadoras. Cabe alertar-se
sobre a quase impossibilidade de atingir-se o pleno atendimento dos
domicílios urbanos ou a plena universalização, devido às dificuldades de
mensuração derivadas do conceito de área urbana, que incorpora áreas
dispersas, despovoadas, etc. Entretanto destaca-se o alto grau de
universalização abarcado pelas redes de abastecimento de água.
Uma informação mais cabal sobre a universalização obteve-se nos
dados do Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento (SNIS),
gerido pelo Ministério das Cidades e alimentado pelas próprias
prestadoras. Os dados sobre a Corsan revelam que 100,0% da população
urbana das cidades conveniadas passaram a ser atendidas por rede geral
de abastecimento com água tratada a partir do ano 2000. É importante
registrar-se que, nos 340 sistemas municipais de rede geral, é distribuída
a água tratada com índice de fluoretação de 99,8%, segundo os padrões
estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Cenário similar de universalização
de 100,0% no abastecimento de água tratada revela-se nas grandes
cidades atendidas por prestadoras municipais, como no caso de Porto
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 282
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
Alegre, Caxias do Sul, Pelotas, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Bagé e
Santana do Livramento, inclusive o índice de fluoretação é de 100,0%.
Em relação aos serviços básicos de esgotamento sanitário, cabe
apenas uma referência: o fato de este ter sido alçado como prioridade do
Governo Federal e da prestadora Corsan no RS, que destinou expressivos
investimentos nos anos recentes, basicamente para ampliar as redes e
construir as estações de tratamento dos sistemas existentes nas 44
cidades. Sem dúvida, registra-se esse fato como a grande novidade no
saneamento: a prioridade dada para a construção da infraestrutura de
esgotamento sanitário no RS. Um indicador da grande carência desses
serviços é o percentual de esgoto tratado em relação ao volume de água
consumida pelos usuários nos sistemas da Corsan, o qual aumentou de
6,7% para 12,8% entre 1998 e 2007.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise do papel das empresas estatais do RS na construção da
infraestrutura dos serviços básicos, no período de 1980 a 2008, apresenta
algumas constatações importantes e levanta novas questões.
A abordagem da trajetória das estatais tornou-se complexa. Além
disso, a afirmação de que a política desenvolvimentista do Governo do RS
realizou a façanha de construir a infraestrutura no RS contraria o
consenso fiscalista sobre a crise fiscal do Governo do RS, sobre a sua
incapacidade de investimento, enfim, sobre a ineficiência do gasto público.
Porém os dados disponíveis evidenciam a sua construção
progressivamente e a disponibilidade crescente dos serviços básicos, o
atendimento do consumo crescente e o espraiamento da universalização.
Entre os principais fatores que determinaram essa façanha, citam-se: o
papel virtuoso da intervenção estatal; a primazia na alocação dos gastos
do Governo do RS para a infraestrutura; a perspectiva do pensamento
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 283
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
desenvolvimentismo dominante nas esferas de comando do Governo do
RS, para realizar o desenvolvimento econômico (diversificação da
produção na indústria, agricultura e nos serviços) e social; a prática do
planejamento de longo prazo como uma condição da grande empresa
estatal, para efetivar planos arrojados e pesados investimentos e outros,
como a prática de vincular as estratégias estaduais aos planos e
programas da política nacional, a capitalização das empresas e a tomada
de crédito alternativo. Portanto, a busca aguerrida dessa utopia logrou
realizar a façanha de construir a infraestrutura de serviços básicos pelos
sucessivos governos dos RS.
Por sua vez, no tempo das reformas, no final dos anos 90,
prevaleciam todas as razões econômicas que forjaram as decisões dos
agentes privados para investirem na área de prestação de serviços
básicos. A constatação da presença desses fatores, por sua vez, também
contraria os argumentos propalados que depreciaram a abrangência e a
capacidade da infraestrutura já construída no RS. Assim, ao cabo da
decisão política de realizar as privatizações, os agentes privados criaram
expectativas devido ao fato de as plantas industriais e as grandes redes já
estarem construídas; a imobilização de capital em ativos fixos não
necessitava de vultosos capitais como dantes; a existência de uma massa
de usuários cadastrados e incorporados às redes; e as tecnologias
disponíveis e acessíveis. Portando, a privatização efetivou-se, primeiro,
pelo ato político intencional, segundo, porque a infraestrutura estava
construída e, terceiro, porque foram asseguradas condições sustentáveis
de valorização e retornos expressivos do capital privado na prestação dos
serviços básicos.
Nesses termos, o papel delegado para as prestadoras privadas e
públicas nos anos recentes não é menos importante, pois estas deveriam
complementar a infraestrutura e universalizar o acesso aos sul-rio-
-grandenses. Em relação ao papel adicional da universalização, os dados
revelam que esta foi atingida, senão de forma plena, pelo menos em
altíssimo grau, tanto nas áreas urbanas, como nas áreas rurais distantes e
dispersas. Em relação à complementação da infraestrutura, cabe O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 284
Dal Maso, R. A. A construção da infraestrutura no RS, de 1980 a 2008: a última façanha....
distinguir-se o papel de manter e de ampliar as plantas e as redes
existentes, as quais constituem uma atividade permanente das
prestadoras, e o papel de construir a infraestrutura que faltava para
prestar os novos serviços. Nesse caso, enquadram-se as plantas
industriais e as redes da telefonia celular, internet, etc., bem como a
incorporação de inovações que integram seus interesses e foram
implantadas pelas firmas entrantes. Noutros casos, observa-se que
permanece ainda a divisão entre os interesses privados e públicos; por
exemplo, na construção dos sistemas de esgotamento sanitário em todas
as cidades do RS, bem como da rede de energia elétrica na área rural, as
quais não são de interesse privado pelos seus altos custos de implantação.
Por isso, deverão ser erguidas pela intervenção estatal e/ou pelos
incentivos das políticas públicas.
Por último, faz-se um registro de novas questões para estudo nessa
área de políticas públicas. Um tema relevante que merece ser
investigando é a infraestrutura de esgotamento sanitário nas cidades do
RS. Essa área apresenta serviços precários em todas as cidades do RS,
entretanto tem merecido crescente primazia na destinação dos
investimentos do PAC e das prestadoras nos anos bem recentes. A
questão da regulação dos serviços básicos também é um tema que
merece um estudo aprofundado, para avaliar a qualidade do atendimento
das prestadoras e, especialmente, a política tarifária, considerando a alta
relevância para o sistema de produção e o funcionamento das cidades.
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