A CONSTRUÇÃO DE UMA TOP MODEL: CORPO, PRÁTICAS E SUBJETIVIDADE ENTRE MODELOS

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    A CONSTRUÇÃO DE UMA TOP MODEL: CORPO, PRÁTICAS E

    SUBJETIVIDADE ENTRE MODELOS1

    Lara Virgínia Saraiva Palmeira2

     

    RESUMO: O objetivo deste artigo consiste em investigar as práticas corporais no contexto deuma profissão na ual o corpo assume um papel de destaue: as modelos! "omando como

     pressuposto ue a moda # espa$o privilegiado ue legitima específicos %corpos& e estilos devida' o corpo da modelo' como o pr(prio nome já di)' # o corpo padrão' a bele)a*modelo uedeve ser seguida e apreciada' escol+ido para mostrar e fa)er circular as produ$,es das marcasem seus espa$os de comunica$ão: desfiles' editoriais de moda' revista especiali)adas'

    an-ncios publicitários' entre outros!PALAVRAS-CHAVE: .odelos/ corpo' subjetividade' práticas' ag0ncia!

    ABSTRACT:  "+e objective of t+is article is to investigate t+e bod1 practices it+in a profession in +ic+ t+e bod1 pla1s an important role: t+e models! "a3ing for granted t+atfas+ion is privileged space t+at legitimi)es specific 4bodies4 and lifest1les' t+e bod1 of t+emodel' as its name implies' is t+e standard bod1' t+e beaut1 model to be folloed andappreciated' c+osen to displa1 and circulate t+e productions of t+e brands in t+eir communication spaces: fas+ion s+os' fas+ion editorials' speciali)ed maga)ine' commercials'among ot+ers!

    KEY-WORDS: .odels' bod1' subjetivit1' agenc1

    INTRODUÇÃO

    O objetivo deste artigo consiste em investigar as práticas corporais no contexto de uma

     profissão na ual o corpo assume um papel de destaue: as modelos! "omando como

     pressuposto ue a moda # espa$o privilegiado ue legitima específicos %corpos& e estilos de

    vida' o corpo da modelo' como o pr(prio nome já di)' # o corpo padrão' a bele)a*modelo ue

    15sse artigo # fruto da disserta$ão de mesmo título' defendida em jul+o de 2678' no Programa de P(s9radua$ão em ntropologia da ;niversidade

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    deve ser seguida e apreciada' escol+ido para mostrar e fa)er circular as produ$,es das marcas

    em seus espa$os de comunica$ão: desfiles' editoriais de moda' revista especiali)adas'

    an-ncios publicitários' entre outros!

    figura da top model ' com sua bele)a legitimada' tamb#m tra) consigo outros valores

    ue são associados a sua forma física' dentre eles' o sucesso profissional' a felicidade' a

     juventude e a auto estima! Por meio dos relatos da vida cotidiana dessas jovens' procuro

    investigar a maneira ue essas modelos negociam e gerenciam seus corpos ue são

    submetidos a um determinado padrão de bele)a' fruto de um contexto s(cio*+ist(rico! Procuro

    contemplar' ainda ue de maneira tímida' a subjetividade dessas modelos sempre fa)endo

    refer0ncia aos processos de transforma$ão ue elas sofrem para se tornarem modelos'

     procurando destacar aueles em ue o corpo # o principal objetoAsujeito a ser modificado!

    >omo as modelos manejam os valores circulantes nesse campo e orientam suas práticas a fim

    de se tornarem modelos de sucessoB >omo administram seus corposB >omo lidam com a

     pressão pela bele)aB 5 com a obsessão pela magre)aB 5ssas são algumas uest,es presentes

    no artigo!

    O material com ual trabal+o' al#m do arsenal te(rico sobre a temática' consiste em

    um conjunto de entrevistas com um grupo de modelos de uma ag0ncia de earáD'

    al#m do trabal+o de campo ue reali)ei junto a mesma durante min+a pesuisa de mestrado!

     Afi!", # $%& ' (&) *#+&"# A )#fi((.#, (&%( (!/&)&( & )0i2!(

    Para compreender e analisar da maneira ue esse artigo prop,e' # necessário atentar 

     para a valori)a$ão do aspecto corporal no contexto' como já foi mencionado! O corpo da

    modelo # o seu principal passaporte para o mundo da moda! 5m seu primeiro contato com

    este mundo' com suas classifica$,es e exig0ncias' o corpo # o primeiro a ser avaliado!Para saber como o corpo aduiriu essa dimensão na moda' mais especificamente' na

    atividade das modelos' # necessário compreender as rela$,es do indivíduo com o corpo' bemcomo suas mudan$as no decorrer do tempo! Eesse sentido' # consenso entre os autores ue

    versam sobre a temática' ue a segunda metade do s#culo FF representou uma significativa

    mudan$a nessas rela$,es! ssim' tal período # fundamental para entender de ue forma a

     preocupa$ão com o corpo esbelto tornou*se uma condi$ão do indivíduo p(s*moderno' como

    afirma Le Greton C266HD:

     Eo final dos anos 7HI6' a crise da legitimidade das modalidades físicas da rela$ãocom o +omem com os outros e com o mundo amplia*se consideravelmente com o

    feminismo' a %revolu$ão sexual&' a expressão corporal' o body art ' a crítica doesporte' a emerg0ncia de novas terapias' proclamando bem alto a ambi$ão de se

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    associar somente ao corpo' etc! ;m novo imaginário do corpo' luxuriante' invade asociedade' nen+uma região da prática social sai ilesa das reivindica$,es ue sedesenvolvem na crítica da condi$ão corporal dos atores! CL5 GJ5"OE' 266H' p! 6HD

    leitura de na L-cia de >astro' em sua obra Culto ao corpo e a sociedade C266KD'

    igualmente ilustra e colabora no entendimento de como essas novas reivindica$,es com

    rela$ão a nossa condi$ão corporal influenciou no culto ao corpo contemporneo' e afetou

    diretamente a percep$ão do corpo no campo da moda! autora destaca tr0s momentos

    fundamentais: o primeiro seria o dos anos 7HM6 ue' com a explosão publicitária no p(s

    Segunda 9uerra e a democrati)a$ão da moda' assim como o desenvolvimento do cinema e da

    televisão' contribuíram para uma mudan$a comportamental' na ual os cuidados com o corpo

     passaram a ser difundidos e estimulados pelo uso de sua imagem para a venda de imagens e produtos!

    Ná nos anos 7HI6' a revolu$ão sexual' o movimento feminista' junto com o +ippie

    teriam concebido o corpo como l(cus de transgressão no contexto de contesta$ão ue marca

    esse período! Eesse momento tamb#m acontece a consolida$ão de uma cultura juvenil ue se

    transforma em um potencial mercado consumidor! O %ser jovem&' adotar um %estilo jovem&

     passa a ser imperativo nessa sociedade' em ue o processo de envel+ecimento deve ser 

    escamoteado' evitado e negado Cp! 2MD! Eos anos 7H?6' a corporeidade gan+a uma visibilidade e um espa$o na vida social

     jamais visto! gera$ão sa-de pregando as práticas físicas como sendo regulares e cotidianas'

    fa)endo proliferar as academias de ginástica por todos os lugares' juntamente com sua cultura

    do narcisismo Cp! 2ID!

    Parece bem (bvio ue todo esse percurso +ist(rico influenciou diretamente a profissão

    das modelos' já ue seus corpos encontram*se sempre em lugar de destaue' sob os +olofotes!

    5' ainda' como afirma >astro C266KD' a intensifica$ão da preocupa$ão com o corpo está ligada +ist(ria da moda! >om o passar do tempo' a flexibilidade no vestuário prevalece sobre a

    rigide) e o ue se pode perceber +oje # ue o s#culo FF foi marcado pelo desnudamento' ou

    seja' as roupas e suas formas teriam se tornado cada ve) mais flexíveis e' em muitos casos'

     principalmente se comparamos as roupas de +oje com certos modelitos de antigamente' o nu

    aparece cada ve) mais' seja por meio de rendas' transpar0ncias' decotes' ou mesmo do pouco

    comprimento de algumas pe$as! Ná o s#culo FF' por sua ve)' não parece estar sendo

    diferente! Gasta ol+ar com aten$ão a superexposi$ão do corpo feminino' por exemplo' nas

    novelas exibidas cotidianamente nas televis,es ou nas propagandas das cervejarias brasileiras!

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    Qessa forma' o corpo continua a ser exposto e a mídia consistiria um dos principais meios de

    difusão e de capitali)a$ão desse culto ao corpo C>astro' 266KD!

    Parece ser bem claro tamb#m a ado$ão de um corpo padrão pela moda' entretanto'

    falar de padrão no campo da moda # uma tarefa bastante árdua! o mesmo tempo em ue eles

     parecem ser muito claros' rígidos' por outro lado' são maleáveis e contornáveis! Para entender 

    um pouco mais dessa complexidade' basta observar a diferen$a entre as modelos  fashion e as

    modelos comerciais! modelo  fashion obedece a crit#rios mais rígidos devido l(gica

    est#tica ue ela deve se inserir! Sua altura' por exemplo' # de no mínimo 7'KM! Ná a modelo

    comercial possui uma maior maleabilidade dessa medida! Seus crit#rios são mais frouxos!

    primeira condi$ão ue determina se uma candidata # uma modelo  fashion  ou

    comercial # o seu fen(tipo' sua apar0ncia ue depende de determina$,es biol(gicas de seu

    corpo! Eo entanto' o pr(prio trabal+o das modelos # muito +ierarui)ado e a grande maioria

    das jovens deseja seguir o segmento  fashion  por se tratar de uma posi$ão com status

     privilegiado e acesso restrito para poucas modelos!

    5 o corpo padrão para as modelos  fashion # o corpo magro! >omo a exposi$ão #

    completa' ao vivo e na frente do p-blico' a imagem deve ser a de um corpo esguio e perfeito!

    5m seu guia sobre a profissão de modelo' Libardi C266RD afirma ue os estilistas t0m suas

    ra),es para dar prefer0ncia s mul+eres magras! Segundo a ex*modelo' %elas ficam bem em

    uase todos os tipos de roupa e raramente ficam vulgares! l#m disso' a tev0 e as fotos

    tendem a deixar as pessoas parecendo mais gordas& CLibardi' 266R' p! H8D! altura tamb#m # um ponto importantíssimo! 9eralmente' a altura ideal # entre 7'K8m

    e 7'?6m! claro ue existem modelos mais baixas' no entanto' se a jovem pensa e deseja ser 

    uma top model   com uma carreira internacional' tem ue ter essa exig0ncia atendida! s

    medidas tamb#m são importantes! uestão da altura tamb#m tem a ver com a elegncia

    exigida para as passarelas! Libardi explica ue os desfiles de alta*costura pedem gente muito

    alta porue nas passarelas elas apareceriam mais! %5 talve) a psicologia expliue por ue uma pessoa alta expressa mais poder! Qe uma forma ou de outra' toda essa exig0ncia de altura tem

    uma causa!& s medidas tamb#m são importantes! Tuanto mais perfeito o modelo' maiores

    serão suas c+ances! 7'KK de altura' ?H cm de busto' ?H cm de uadril' I6 cm de cintura! 5m

    regra' as modelos não devem ter mais de H6 cm de busto e de uadril!Outro ponto a salientar # a uestão da idade das modelos! >ada ve) mais jovens'

    uanto menos idade a modelo tiver' mais c+ances ela tem de se tornar bem sucedida! O

     poru0 dessa entrada precoce parece ter duas ra),es: a primeira pelo fato da juventude ser um

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    valor imprescindível na sociedade ue cultua a apar0ncia e o antienvel+ecimento! O segundo

     porue os agentes podem criar expectativas uanto s transforma$,es no corpo das modelos! Eo entanto' essas normas relativas ao corpo das modelos nem sempre foram as

    descritas e nem sempre obedeceram a crit#rios rigorosos! Sobre o início da atividade de

    modelos no Grasil' Gonadio C266RD afirma:

     Eo ue se refere aos cuidados com a apar0ncia e em especial com o peso do corpo' ocontrole era menor' o ue fica evidente ap(s a observa$ão de um conjunto de pe$as

     publicitárias J+odia' nas uais a flutua$ão de peso em algumas modelos # bastantevisível! CGOEQO' 266R' p! K7D

    .uitas das modelos ue entrevistou afirmaram a Gonadio ue' nos anos de 7HI6 não

    +avia essa obsessão pela magre)a' não +avia mul+eres passando fome' não se falava em

    regime' enfim' não existia essa necessidade tão intensa ue se tem +oje de estar magra! autora concluiu ue essa tolerncia com rela$ão aos cuidados com a apar0ncia era uma

    conseu0ncia da pressão sobre o comportamento social das modelos da J+odia! 5ra proibido

     para as modelos %ter vida pr(pria&: elas não podiam sair' passear e manter relacionamento

    afetivos! rígida vigilncia sobre o comportamento das modelos tin+a' provavelmente' uma

    ra)ão segundo a autora: resguardar a dignidade' o status das profissionais e'

    conseuentemente' a marca por elas representada! s modelos não deveriam ser mul+eres

    difamadas' já ue' na #poca' as mul+eres ue eram modelos eram consideradas prostitutas'

    mul+eres %fáceis& 8! Ea ag0ncia em ue pesuisei' em omentarei mais adiante acerca de como deve ser o %modo de ser& das modelos e das press,esexercidas sobre seus comportamentos!

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    existe' pois na medida em ue a moda abre espa$o para pessoas dos mais variados tipos

    físicos' as c+ances de se fa)er realmente sucesso' pelo menos na moda no seu espa$o mais

    nobre' mais celebrado' ue # o seu lado fas+ion' são restritas somente uelas ue se

    enuadram no perfil mais exigente ue já descrito! 5nuanto isso' se no Sul' as mul+eres se

    %enuadram& em tais padr,es pelas características peculiares da sua pr(pria região e o mesmo

    não acontece com a Jegião Eordeste e nem com o >eará! O tipo físico dos nordestinos não

    coincidiria com o dos sulistas! estatura do povo cearense' por exemplo' não # das mais altas

    do país' o ue não corresponderia ao padrão exigido pela moda! Portanto' de acordo com

    esses padr,es' aui seria bem mais difícil de encontrar modelos ue se adeuassem aos mais

    exigentes da moda! Eo entanto' existem as exce$,es' as modelos nordestinas ue fi)eram

    sucesso e fama internacional! Qentre elas' cito

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    Portanto' a maneira como uma modelo constr(i sua apar0ncia deve ser condi)ente com

    sua profissão e com os con+ecimentos ligados a ela' do círculo social e cultural ao ual ela

     pertence!5xiste tamb#m certo cuidado nas imagens das modelos com rela$ão vulgaridade ue

    seria atribuída as profissionais do sexo! O gerente da ag0ncia pesuisada c+amou aten$ão

    durante sua entrevista para uma ocasião em ue modelos' vestidas com a blusa da ag0ncia'

    estariam nas redes sociais fotografando e fa)endo poses ue não são poses para modelos

     profissionais! %5ntão' o pessoal vai pensar ue a modelo # dauele jeito' imagina o restoU sso

    ueima o filme pros clientes&' afirmou o gerente! Eesse sentido' +á uma fiscali)a$ão não

    somente no momento da fotografia ou do vídeo' mas tamb#m no do comportamento das

    modelos para ue se evite ualuer tipo de confusão por parte do p-blico e dos futuros

    clientes! Portanto' a logomarca da New Faces # algo a ser )elado' por levar consigo o nome daag0ncia' sua credibilidade e' eventualmente' o nome do cliente tamb#m' ue está ali sendo

    representado pelas modelos!Sobre a uestão da bele)a' # mais ue evidente sua íntima rela$ão com a atividade de

    modelar! pr(pria profissão de modelo foi gan+ando destaue juntamente com os concursos

    de bele)a' mais especificadamente' com os concursos de miss' como foi mencionado no

    capítulo anterior! O ue não deve deixar de ser ressaltado # ue a bele)a # constituída

    +istoricamente e' portanto' sempre relacionada #poca e ao lugar em ue se vive' sempre

    cumprindo diversas fun$,es em ualuer tempo e sociedade! ssim' a bele)a tamb#m tem sua

    dimensão +ist(rica' permeada de rela$,es das mais variadas ordens' ue necessitam ser 

    contextuali)adas para ue se possa compreender como surge o ue denominamos de %padr,es

    de bele)a& e como nos relacionamos com eles no mundo de +oje!

    "omemos como exemplo' o padrão de bele)a ocidental adotado pela moda: mul+eres

    altas' brancas' com cabelo liso' loiros' e tra$os %finos&! %;m nari) afilado' por exemplo' fica

    esteticamente mel+or numa fotografia!&' afirma Libardi C266RD em seu manual! "orna*se claronessa afirma$ão ue os padr,es de bele)a tamb#m t0m suas ra),es de ordem política: o

    modelo europeu imposto para o resto do mundo' não apenas ao Ocidente!

    Qe ualuer maneira' o ue vale ressaltar no momento' independente do enfoue e do

    debate acerca da temática' # o valor ue a bele)a aduire na sociedade atual e de ue maneira

    isso delega as top models uma notável importncia no s#culo FF e no início do FF!

    inda sobre o capital bele)a na profissão de modelo' pude perceber ue o seu peso não

    # o mesmo para ambos os sexos! Eem tem o mesmo peso e nem as exig0ncias/ muito menos o processo de lapida$ão dos modelos' ue tamb#m não # o mesmo! O ue uero di)er # ue' no

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    mundo da moda' as mul+eres' mais do ue os +omens' precisam ser lapidadas' trabal+adas'

    aperfei$oadas! 5ssa frase concentra os sentidos das diferen$as na constru$ão de g0nero desse

    universo! Para as mul+eres' a entrada na ag0ncia # uma esp#cie de rito de passagem e o

    aprendi)ado da profissão envolve um aprendi)ado de como aduirir' ao mesmo tempo

    incorporar' e expressar um determinado tipo de feminilidade! Ná para os +omens' o processo

    se dá de forma diferente! 5les entram mais tarde na profissão' já com o corpo formado e o seu

    trabal+o de lapida$ão bem menor do ue o feminino: se restringe a manuten$ão ou não da

     barba' do corte de cabelo Cindicado pelos agentesD' pouuíssimo uso de mauiagem'

    exercícios físicos e dieta para não %terem barriga&! O valor predominante no caso deles # a

    virilidade' a masculinidade e' nesse caso' ela # tida como mais natural' latente do ue a

    feminilidade' apesar de ambas serem construídas/ # como se os modelos masculinos não

     precisassem investir e trabal+ar tanto para se tornarem prontos' como as mul+eres como se

    não precisasse fa)er muita coisa para ser vista!Para ser uma boa modelo' não basta apenas ser bonita e se portar bem

     profissionalmente: a jovem deve desenvolver uma personalidade e uma imagem pessoal ue

    agrade' pois não serão somente seus atributos físicos ue serão %comerciali)ados&' mas

    tamb#m seu jeito de ser e de se comportar! ;ma das principais exig0ncias para toda jovem ue

    deseja ingressar no mundo da moda na condi$ão de modelo # ue ela ten+a um bom

    temperamento: se voc0 se der bem ou mal na profissão' tudo depende de voc0! %Se voc0 for um amor' voc0 desarma eles!!!&' recomendou 9ladson a suas modelos! Ou seja' a modelo tem

    ue fa)er de tudo pra ue seja pra)eroso trabal+ar com ela' porue ela precisa dauele

    trabal+o novamente! Sua disponibilidade deve ser integral' sempre!

     Eo entanto' paralelamente a essas regras básicas de etiueta ue parecem ser 

    indispensáveis em ualuer ambiente profissional' uma boa modelo # auela ue tem

    %personalidade&! ui' a no$ão de %personalidade& pode parecer aliada a ideia presente no

    senso comum de uer ter %personalidade& # ter um temperamento forte' marcante' mas no

    caso das modelos' elas devem desenvolver essa %personalidade& para ue se tornem figuras

    individuais mais fortes' marcantes' ue se diferenciem de outras modelos para ue sejam

    escol+idas diante de uma concorr0ncia numerosa! 5ssa cren$a em uma constru$ão de

    subjetividade = compreendida como personalidade = # um dos maiores sustentáculos

    ideol(gicos da profissão de modelo C.artine)' 2668D!

    O ue a modelo deve ter em mente # o seu objetivo primordial: deve vender*se

    a si mesmo' sua imagem' e isso pede mais do ue condi$,es físicas! "em ue ter uma personalidade agradável' senso de +umor' seguran$a' paci0ncia' vontade e confian$a! 5sses

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    seriam itens*valores ue perfa)em um campo onde a venda de um produto # intrinsecamente

    relacionado dinmica da personalidade! Portanto' a personalidade deve ser um grande

    diferencial ue deve ser mostrado diante das cmeras' clientes e desfiles!

    o mesmo tempo em ue a personalidade deve ser algo particular' a maneira como sua

    subjetividade # encarnada e expressa no dia a dia' ela s( deve ser presente na modelo na

    medida em ue não atrapal+e seus trabal+os e sua atividade/ ela # mais voltada para uma

    dimensão comercial' para ue seja vendida' para ue a modelo se destaue!

     Eo entanto' essa constru$ão da personalidade' esse desenvolvimento de uma

    subjetividade específica' baseada em características como desibini$ão' simpatia' bom

    temperamento' disciplina' não se baseia nas características individuais de cada mul+er ue

    está ali! O aspecto individual está suprimido' pois a modelo não pode levar em conta uma

    característica peculiar' um tra$o idiossincrático seu' a não ser ue ele coincida com esse

    conjunto de ualidades ue a modelo deve ter' ue ele esteja de acordo com esse discurso ue

    unifica e prima por valores iguais para todas! Valores esses ue fa)em parte de uma

    %personalidade*devir&!

    Outro ponto interessante # a aten$ão dedicada pelos profissionais com rela$ão ao

    comportamento das modelos' a presen$a de um discurso morali)ante! Qurante a pesuisa de

    campo' +ouve uma ve) ue flagraram no facebook  uma foto de uma ex*modelo da ag0ncia

    com os seios expostos durante uma festa de m-sica eletrnica em omplexa porue ao mesmo tempo' ser modelo J+odia era considerado pelas modelos' pela

    imprensa e pelo p-blico em geral o auge da carreira no Grasil dos anos 7HI6' porue as

    modelos recebiam bons salários' podiam viajar pelo mundo inteiro com as maiores

    mordomias' +ospedavam*se em bons +ot#is' comiam nos mel+ores restaurantes!

     Por outro lado' a profissão carregava um estigma social associado prostitui$ão!

     partir da análise dos depoimentos das ex*modelos' ue ser modelo e maneuim erasocialmente percebido como uma transgressão social' ue ia contra %moral& da #poca! >omo

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    afirma Gia Sliva3' uma de suas entrevistadas no artigo: %5ra preconceito muito grande' da

    família' de todo mundo! Ser modelo era ser puta! "in+a isso' estava muito caracteri)ado!

    .odelo # fácil' modelo # puta' transa' fa) programa! "in+a uma coisa muito forte' muito

    forte&! 5idi Polleti contou ue abandonou o convite para integrar o grupo especial da J+odia

     para se casar' pois ela sentia a necessidade de %limpar& o preconceito! Portanto' exercer tal

    ocupa$ão era uma tarefa ue exigia for$a e determina$ão para suportar o preconceito social!

    proximidade' a %t0nue fronteira& entre a profissão de modelo e a prostitui$ão

    tamb#m foi observada no trabal+o de .artine) C2668D! Segundo a autora' as informa$,es

    sobre essa rela$ão são uase sempre veladas! lgumas ag0ncias teriam a má reputa$ão de

    aliciar suas modelos para servi$os extras' como jantares' por exemplo! Eesse sentido' a

     propaganda boca a boca' muito presente e efica) no mundo da moda' serviria para alertar as

    modelos sobre os profissionais com os uais ela irá trabal+ar! Eo entanto' por outro lado'

    como salienta a autora' o cuidado para com as modelos com rela$ão a esse perigo' serviria

     para manter um imaginário positivo de cuidar das suas modelos' de guiar' educar' se

    responsabili)ar sobre essas jovens' supostamente frágeis e precoces!

     Eas entrevistas ue fi)' pude perceber um pouco dessa proximidade na medida em ue

    as modelos encaram como %natural& receberem %cantadas& enuanto trabal+am! "rarei essa

    uestão tona novamente' uando comentarei sobre as subjetividades das modelos!

    S%/3&i4i+!+&

    Qentro da proposta do artigo' o conceito de subjetividade ue utili)o # essencial # o de

    S+err1 Ortner uando se refere ao %conjunto de modos de percep$ão' afeto' pensamento'desejo' medo e assim por diante' ue animam os sujeitos atuantes!& COJ"E5J' 266Ka' p!

    8KID! Para a autora' a subjetividade não pode ser considerada simplesmente como uma arena

    de investiga$ão neutra/ ela está intimamente ligada com as uest,es de poder e subordina$ão!

     Eesse sentido' Ortner ressalta a importncia de se atentar para a uestão da subjetividade:

    al#m de contemplar uma das principais dimens,es da exist0ncia +umana' trata*se tamb#m de

    uma uestão política * Ortner concebe a subjetividade como a base da agency4! 5 o ue seria a

    4 Ortner C266KbD conserva a forma inglesa da palavra ag0ncia nesse artigo ue tem bastante influ0nciado pensamento de nt+on1 9iddens na sua concep$ão!

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    agencyB Seria uma parte necessária para entender como as pessoas CtentamD agir no mundo!

    ssim' a agency não seria uma vontade natural ou original: ela seria %moldada enuanto

    desejos e inten$,es específicas dentro de uma matri) de subjetividade = de sentimentos'

     pensamentos e significados Cculturalmente constituídosD!& COJ"E5J' 266Kb' p! 8?6D!

    Sobre um dos primeiros aspectos subjetivos ue recon+eci nessas jovens trata*se de

    uma vontade' um anseio' por assim di)er' de ter sua bele)a recon+ecida e legitimada por uma

    instncia especiali)ada no assunto! Ná ue' a atividade de modelo tem como característica

     principal o destaue dos tra$os físicos' da bele)a do modelo' se a jovem consegue ser aceita

    em uma ag0ncia' entrar no ramo e trabal+ar' significa ue ela atende ueles crit#rios e está

    apta para exercer auela atividade!

    lgumas jovens tamb#m identificaram nas entrevistas a profissão de modelo como

    sinnimo de  glamour ' de sucesso' remetendo a um modelo de mul+er atual' ue está por 

    dentro das tend0ncias de moda' conectada com o mundo! Qessa forma' a associa$ão dessas

    ualidades com a profissão em uestão' com o ser modelo' refere*se s expectativas ue as

     jovens modelos nutrem/ um tipo de poder ue o ser modelo delegaria a elas! 5 tal poder faria

    com ue elas fossem identificadas com auele tipo de mul+er' faria com ue os outros

     pensassem isso delas!

     Eotei ue esse tipo de poder tamb#m se manifestava por meio do status e do prestígio

    social ue as pr(prias modelos delegariam a profissão e ue vivenciavam um pouco no seu

    cotidiano: ser con+ecida na cidade' no col#gio como modelo' expor suas fotos de trabal+o em

     sites de redes sociais para ue todos saibam ue ela # modelo' ter orgul+o em ser capa de

    revistas' por exemplo' foram alguns dados ue me fi)eram pensar dessa forma!

    Outro ponto interessante foi sobre a rela$ão entre a ag0ncia e as modelos! Qe acordo

    com a visão da maioria' o papel de uma ag0ncia # o de ser a %base& da modelo/ auela ue

    %cuida&' ou seja' a ue deve guiar' aconsel+ar' influenciar' apoiar' formar' treinar a modelo!

    Qeve %cuidar& tamb#m porue essa seria uma profissão perigosa' c+eia de pessoas falsas eaproveitadoras! Logo' a fun$ão de proteger essas jovens tamb#m faria parte do papel da

    ag0ncia! Eotei nesse caso ue a rela$ão entre ag0ncia e modelo # como uma típica rela$ão

    entre pais e fil+os' na ual as fun$,es de cuidado e prote$ão estão muito bem evidenciadas!

    penas uma das modelos salientou o caráter mercantil da rela$ão ao afirmar ue sua principal

    tarefa # o de lan$ar as modelos no mercado!Sobre o ue as jovens falaram sobre o aprendi)ado delas' os defeitos ue aprimoraram'

    o ue gan+aram em ser modelos e como elas enxergaram suas mudan$as ao longo dessa

    trajet(ria! "odas as modelos ue entrevistei afirmaram ue mudaram muito depois de

  • 8/19/2019 A CONSTRUÇÃO DE UMA TOP MODEL: CORPO, PRÁTICAS E SUBJETIVIDADE ENTRE MODELOS

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    entrarem na New Faces! Tuando perguntadas sobre o ue mudaram' a maioria salientou os

    aspectos físicos' como pude perceber nos relatos a seguir!

    .udou muito! ;ma das coisas ue mais mudaram em mim # a uestão da

    mauiagem' ue eu já passei a usar mais! .in+a mauiagem era lápis' s(! i tipo'comecei a me mauiar! i a uestão dos brincos' a postura já mudou' o modo defalar' enfim várias coisas mudaram depois ue eu entrei na ag0ncia! CLíviaD

    5u sempre gostei de me arrumar' mauiagem' mas eu não usava com freu0ncia!gora # bem freuente! CPatríciaD

    ntes eu odiava brinco grande' vivia com o cabelo amarrado' mauiagem' assim' o básico dos básicos dos básicos! gora eu uso salto alto! 5voluiu muitoU C5llenD

    ssim' o cabelo e o jeito de arrumá*lo' o uso intenso da mauiagem e de brincosforam as mudan$as mais mencionadas por elas! maioria tamb#m falou ue passou a usar 

    salto alto! Percebi ue logo foram incorporados pelas modelos' símbolos de um determinado

    tipo de feminilidade presente em nossa sociedade: a mauiagem e o salto alto' símbolos ue

    fortaleceriam a rela$ão entre mul+er e bele)a' entre mul+er e luxo' entre mul+er e consumo!

    Sobre as mudan$as no modo de ser e de agir das modelos' eis o ue elas salientaram:

    5u ac+o ue eu aprendi a me conter mais' porue eu era muito explosiva! CPatríciaD

    5u não tin+a coragem de falar em p-blico! c+o ue foi s( isso ue mudou! Wojeem dia' eu não posso c+egar e falar na frente de muita gente' porue eu vou metremer na base' mas c+egar aui no ensaio falar alguma coisa' um texto' meapresentar num casting  pro cliente' +oje em dia pra mim' eu não fico mais nemnervosa! X!!!Y 5u sou tímida' sou um pouco' não sou como antes' eu era +orrível! 5uera muito tímida! C"uan1D

    madurecimento tamb#m! Jesponsabilidade! Porue daí ue a gente passa a ter muitas responsabilidades' como trabal+o: eu ten+o obriga$ão de ir' não posso faltar!Se eu me comprometi' não posso c+egar atrasada!!! sempre passa isso' uestão deresponsabilidade! CLíviaD

    ssim' não s( a parte física das modelos passou por uma transforma$ão: o

    temperamento e o modo de se portar tamb#m foram afetados durante o processo! Segundo

    elas' a postura' o modo de falar e de andar mudaram! 5las aprenderam a se arrumar Cmuitas

    afirmaram ue eram %desleixadas& com suas apar0nciasD e a se comportar' de acordo com as

    aulas de etiueta ue receberam e com os consel+os do 9ladson! 5' segundo elas' isso veio

    acompan+ado de uma mudan$a no temperamento delas! Patrícia' como afirmou acima' era

    muito %explosiva& antes e uando come$ou a ser modelo' passou a se controlar mel+or!

  • 8/19/2019 A CONSTRUÇÃO DE UMA TOP MODEL: CORPO, PRÁTICAS E SUBJETIVIDADE ENTRE MODELOS

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    timide)' por sua ve)' foi posto como um defeito superado por elas! Ea condi$ão de modelos'

    elas se sentem mais a vontade para falar em p-blico' se expressar e se comunicar mel+or!

    "ratando em termos de subjetividade' # como se o ser modelo tivesse dado a essas meninas a

    confian$a necessária para desempen+ar certas atividades ue antes não estariam aptas' como'

     por exemplo' dar uma entrevista para mim nauela ocasião' como me confessou "uan1! Qessa

    forma' o ser modelo teria as tornado mais seguras para enfrentarem determinadas situa$,es!Logo' tra$os profissionais como o amadurecimento e a responsabilidade tamb#m

    foram posturas incorporadas a agency das jovens devido profissão' visto ue o compromisso

    e a responsabilidade seriam características indispensáveis destacadas por elas para uma

    aspirante a modelo de sucesso destacadas por elas!O ue pude perceber sobre a avalia$ão ue as modelos fa)em de seu processo de

    transforma$ão em modelos profissionais # ue' segundo o pensamento das mesmas' ser modelo parece ter ajudado s meninas a %evoluírem&' termo utili)ado por várias delas em

    diversos momentos das entrevistas! s mudan$as tra)idas com o ingresso na ag0ncia

    apontadas por elas foram encaradas como positivas em todos os momentos! Ou seja' elas

    encaram a profissão' ou mais especificamente' a estada na New Faces como um momento de

    crescimento não apenas profissional' mas tamb#m pessoal' já ue influiu nas maneiras como

    elas se comportam' se arrumam' fora do ambiente de trabal+o' al#m de novas características

     pessoais ue teriam incorporado depois das experi0ncias como modelo! Ou seja' ue teriam

    influenciado diretamente a subjetividade e a agency dessas jovens/ seus desejos e inten$,es

    específicas dentro de uma matri) de subjetividade ue estava sendo moldada de acordo com

    as diretri)es dauela forma$ão profissional! 5 esse momento' poderia ser encarado ainda

    como um rito de passagem' no ual elas deixam de ser simples jovens' inexperientes' e

     passaram' atrav#s de uma escol+a' a ser modelos' mul+eres' ue se encaixam em um padrão

    +egemnico de feminilidade' com uma bele)a legitimada' um capital apreciado não apenas no

    campo da moda!

    "endo em vista a uestão da subjetividade e ainda levando em considera$ão os gan+osem ser modelo' gostaria de destacar a autoestima das jovens' bem como sentimentos de

    orgul+o e satisfa$ão ue pude perceber não apenas nas entrevistas como durante as

    observa$,es do trabal+o de campo! autoestima da modelo # um sentimento vol-vel' ue

     possui %altos e baixos&! Tuanto mais a modelo for aprovada nos castings' for c+amada para

    fa)er catálogos e comerciais' mais sua autoestima vai estar em alta' pois # sinal ue ela está

    indo no camin+o certo' está fa)endo sucesso e ascendendo profissionalmente! >aso' o

    contrário aconte$a' a modelo comparece aos castings' aparece nos ensaios' investe em books eem cursos' e o retorno não acontece' # bem provável ue a autoestima da modelo caia e ela se

  • 8/19/2019 A CONSTRUÇÃO DE UMA TOP MODEL: CORPO, PRÁTICAS E SUBJETIVIDADE ENTRE MODELOS

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    desmotive! rapide) com ue uma modelo ue' um dia' está no auge' e na temporada

    seguinte pode não ser convidada para nen+um desfile de grande destaue! 5 isso acontece por 

    vários fatores: a necessidade constante da moda por novos rostos' a exig0ncias est#ticas das

    tend0ncias de moda ue um dia uerem mul+eres altas com cabelos longos e tra$os femininos

     para o verão' enuanto no inverno opta pelas modelos mais baixas' de cabelo curto e com

    fei$,es andr(ginas! >omo lidar com os sentimentos íntimos diante dessa inconstnciaB >omo

    lidar com a rejei$ão diante desses crit#riosB >omo lidar com os %sins& e os %nãos&B>om rela$ão aos sentimentos ue fa)em com ue as modelos se sintam feli)es com

    sua profissão e fa)em com ue elas continuem no ramo! Qentre eles' o ue mais pude

     perceber # o orgul+o ue sentem nos trabal+os ue fa)em' principalmente os ue são

    considerados mais importantes' como capas de revista e catálogos de moda! o perguntar ual

    seria a sensa$ão ao ver seu rosto estampado em ma capa de revista' a resposta foi pronta eimediata: orgul+o não s( para a modelo' mas tamb#m para sua família! l#m do orgul+o' seria

    uma satisfa$ão plena' uma sensa$ão maravil+osa! Qessas afirma$,es' pude perceber o uanto

    elas se orgul+am da exposi$ão das suas imagens' o uanto elas valori)am uando esse capital

    imagem # posto em circula$ão no campo' afinal' uanto mais pessoas as verem e as

    recon+ecerem' mais elas se divulgam e novas oportunidades podem surgir!Procurando saber se essas meninas consideravam essa exig0ncia como uma pressão e

    como elas lidavam com isso num contexto profissional em ue apar0ncia # tudo! Obtive as

    seguintes respostas:

    Qe certa forma me ajudou muito porue eu era muito desleixada' eu saia de casa'tava nem vendo! Woje em dia' eu me cuido mais! .as eu não fico direto com a un+a

     pronta' cabelo pronto' nem nada! Se me ligam' tem um trabal+o ue eu sei ue eu preciso tá perfeito! Por exemplo' ontem eu tava um lixo praticamente eu tive ue mearrumar a noite' fiuei at# madrugada pra me ajeitar pro trabal+o de +oje! .asmuitas meninas ficam prontas diretas' eu não! Se me ligar' e eu tiver com algumacoisa' eu fa$o! .as a maioria das ve)es' eu to com a un+a feita e a sobrancel+a feita'mas cabelo e mauiagem!!! C"uan1D

    Gom' eu ac+o positivo e negativo ao mesmo tempo' porue positivo!!!' #'!!! O lado positivo disso # ue voc0 tem ue tá se cuidando realmente e # verdade voc0 temue se cuidar pra fa)er!!! Pronto: uma pessoa vai fa)er uma divulga$ão pra sua loja'voc0 uer ue a pessoa seja perfeita' voc0 uer ue a pessoa seja bonita' mas praisso voc0 tem ue se cuidar' então eu ac+o ue nesse ponto' as ag0ncias tem ue

     pegar mesmo' tem ue cobrar bastante da pessoa se cuidar! Por outro lado' uandovoc0 não se arrumar e auilo outro' a pessoa tem ue entender porue s ve)es #difícil essa pressão de ser bonita' tem ue tá bonita' # meio difícil de seguir! .as uetem o lado positivo e negativo tem! CLíviaD

    Para as modelos acima' o fato de serem sempre %pressionadas& para estarem sempre

     bonitas' não # considerado um fardo' pelo contrário: para elas' consiste em um pra)er o fato

  • 8/19/2019 A CONSTRUÇÃO DE UMA TOP MODEL: CORPO, PRÁTICAS E SUBJETIVIDADE ENTRE MODELOS

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    de estarem sempre arrumadas' apesar disso nem sempre ser possível! Para elas' isso já era

    uma característica pessoal ue foi apenas refor$ada e aprimorada com a atividade de modelar'

    acabou por ser incorporada como natural e acabam a encarando de forma positiva! Eo

    entanto' a ideia do corpo feminino como corpo*para*o*outro fica (bvio uando se analisa as

    rela$,es das modelos com o 9ladson' proprietário da ag0ncia! "oda e ualuer mudan$a ue

    elas fa)em no visual' seja uma pintura no cabelo' o uso de uma cal$a ou de uma sandália

    nova' # pensado se ele irá aprovar ou não! final' ele # o termmetro ue elas se utili)am para

    saber se irão agradar seus futuros contratantes ou não!Outros sentimentos e emo$,es tamb#m relevantes durante a pesuisa foram os de

    frustra$ão' de desmotiva$ão e de ansiedade! o perguntar as modelos como elas se sentiam

    uando passavam um tempo sem trabal+ar' elas me responderam ue' apesar de compreender 

    os vários motivos porue isso acontece' a sensa$ão de desmotiva$ão # inevitável! pesar desaber ue a concorr0ncia # grande' ue tem muitas meninas bonitas no ramo' ue a cidade de

  • 8/19/2019 A CONSTRUÇÃO DE UMA TOP MODEL: CORPO, PRÁTICAS E SUBJETIVIDADE ENTRE MODELOS

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     Eesse sentido' a ag0ncia de modelo seria um lugar de produ$ão de novos sujeitos' como já

    +avia concluído .artine) C2668D' e' nesse caso' de mul+eres ue vão se adeuar a esse

    determinado padrão de feminilidade!

    Percebi ainda ue as jovens aspirantes modelo encaram como uma evolu$ão as

    mudan$as ue incorporaram para ser modelo/ segundo elas' se tornaram mais adultas'

    amadureceram' encarando de maneira positiva as mudan$as ue ocorreram! ssociaram

    tamb#m o crescimento pessoal ao profissional' de maneira ue foi lá' na ag0ncia  New Faces'

    ue muitas afirmaram terem aprendido a trabal+ar e serem responsáveis e disciplinadas!

    Para finali)ar' ainda sobre a figura da modelo gostaria de ratificar o uanto esse

    símbolo reflete o valor da apar0ncia física' do culto a bele)a e ao corpo/ a obsessão em mant0*

    lo magro' rígido e jovem' contribuindo' dessa forma' para um ideal de mul+er perfeita na

    nossa sociedade atual!

    RE7ER8NCIAS

    G;QJLLJQ' Nean! A S#2i&+!+& +& C#(%*#! Jio de Naneiro: 5lfos' 7HHM!

    GOEQO' .aria >laudia! Di9i+!+&, 2&"i/!# & /#* 2#*#)!*&#: )&"!#( (#/)& !)#fi((.# +& *#+&"# & *!&$%i* # B)!(i" +#( !#( 1;adernos Pagu C22D 266R: pp!RK*?7!

    GO;JQ5;' Pierre! A Di(i5.#: 2)=i2! (#2i!" +# 3%"9!*&#! Porto legre' JS: Zou3'266K!

     [[[[[[' Pierre! A )#+%5.# +! 2)&5!: 2#)i/%i5.# !)! %*! &2##*i! +#( /&((i*/>"i2#(! 8! 5d! Porto legre' JS: Zou3' 266I!

    >.POS' Veridiana P! Gele)a' >onstru$ão do self e reflexividade entre as mul+eres!.edia$,es' v! 7R' n! 2' Londrina' 266H! Qisponível em: \+ttp:AA!uel!brArevistasAuelAindex!p+pAmediacoesAarticleAvieARM77]! cesso em: 62 set

    2677!>S"JO' na L-cia de! C%"# !# 2#)# & (#2i&+!+&: mídia' estilos de vida e cultura deconsumo! 2 ed! São Paulo: nnablume'

  • 8/19/2019 A CONSTRUÇÃO DE UMA TOP MODEL: CORPO, PRÁTICAS E SUBJETIVIDADE ENTRE MODELOS

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    LPOV5"S^_' 9illes! A  &)2&i)! *%"?&)@ P&)*!2i! & )&4#"%5.# +# f&*ii# ! SãoPaulo' >ompan+ia das Letras' 2666!

     [[[[[[! O i*')i# +# &f*&)#: a moda e seu destino nas sociedades modernas! São Paulo:>ompan+ia das Letras' 7H?H

     [[[[[[' 9illes/ JO;F' 5l1ette! O "%# &&)#: da idade do sagrado aos tempos das marcas!São Paulo' SP: >ompan+ia das Letras' 266M!

    LO;JO' 9uacira L! Corg!D! O 2#)# &+%2!+#: pedagogias da sexualidade!2` 5d! GeloWori)onte: ut0ntica' 2667!

    .J"E5Z' ampinas'nstituto de i0ncias Wumanas! >ampinas' SP' 266H!

    .;SS' .arcel! s t#cnicas do corpo! n S#2i#"#9i! & A)##"#9i!! São Paulo: >osac Eaif1' 2668!

    OJ"E5J' S+err1! Poder e projetos: Jeflex,es sobre a g0ncia! 9rossi' .iriam Pillar et aliiCOrgs!D! C#f&)2i!( & Di0"#9#(: S!/&)&( & P)0i2!( A)##">9i2!( ! Glumenau' EovaLetra' 266Ka!

     [[[[[[! Subjetividade e crítica cultural! Wori)ontes ntropol(gicos' n! 2?' Porto legre'266Kb!

     [[[[[[! ;ma atuali)a$ão da "eoria da Prática! 9rossi' .iriam Pillar et alii COrgs!D!C#f&)2i!( & Di0"#9#(: S!/&)&( & P)0i2!( A)##">9i2!(! Glumenau' Eova Letra'266Kc!

    P5J5J' >láudia da Silva! 7!/)i2!+# (#?#(: !(2&(.# (#2i!" # *&)2!+# +! *#+!!J.J * Jevista nterdisciplinar de .ar3eting' v!8' n!7' 266R! Qisponível em: \+ttp:AA!rimar*online!orgAartigosAv8n7aR!pdf ]! cesso em: 68 set 2676!

     [[[[[[' >láudia da Silva! i(&"& +! 7!4&"!: %*! !0"i(& !)##">9i2! (#/)& ! 2!))&i)! +&*#+&"#@ Jio de Naneiro' 266?! "ese CQoutoradoD ;niversidade )i! +!()0i2!( 2#)#)!i(@ São Paulo: 5sta$ão Liberdade' 7HHM!

    S5JJ' 9iane .oliari maral/ SE"OS' 5li)abet+ .oreira! S!+& & *=+i! ! 2#()%5.#+! #/&(i+!+& & +# 2#)# &)f&i#@   Ci2i! S!+& C#"&i4!' ? mar! 2668! nternet:\!scielo!brApdfAcscAv?n8A7KRM6!pdf ]! cesso em 6H jun! 266H