Livro Ritmo e Subjetividade
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07-Mar-2016Category
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EDITORA MULTIFOCO
Rio de Janeiro, 2011
EDITORA MULTIFOCO
Simmer & Amorim Edio e Comunicao Ltda.Av. Mem de S, 126, LapaRio de Janeiro - RJ
CEP 20230-152
CAPA E DIAGRAMAO
Guilherme Peres
Ritmo e subjetividade: o tempo no pulsado
RODRIGUES, Sandro
1 Edio
Setembro de 2011
ISBN: 978-85-7961-570-2
Todos os direitos reservados.
proibida a reproduo deste livro com fins comerciais sem
prvia autorizao do autor e da Editora Multifoco.
Dedico este livro a todos que se ocupam coma produo de novos estilos de vida.
NOTA PRVIA
Este livro uma reviso e adaptao da dissertao de mestrado Tempo no pulsado: ritmo e subjetividade, defendida no Programa de Ps-Graduao em Psicologia da Universidade Federal Fluminense, na linha de pesquisa Subje-tividade e Clnica (2007-2009). Nesta adaptao optei por utilizar notas de rodap e notas de fim com finalidades precisamente distintas. As primeiras, indicadas no texto por nmeros decimais, buscam estabelecer conexes sub-terrneas com a superfcie do texto, de tal maneira que sua leitura torna--se estratgica para uma apreenso esttica dos temas que o livro aborda conceitualmente. Por outro lado, as notas que se encontram agrupadas no final do volume esto indicadas no texto por algarismos romanos e visam esclarecer pontos especficos, com base na pesquisa que serviu de suporte ao presente livro. A deciso sobre ler ou no as notas de rodap e/ou as notas de fim fica a seu encargo. Afinal de contas, o livro agora seu: leia-o quantas vezes e de quantas maneiras desejar.
Gostaria de agradecer minha me; aos amigos Isabela Montello, Lou-ise Simes, Ktia Abreu, Pablo Pablo, Pedro Bonifrate, Lis Lancaster, Au-gusto Malbouisson e todos os demais das bandas Filme, Supercordas, Jesus Coca, Tonguemische, Zumbi do Mato, Botnicos, Terrorism in Tundra e Acessrios Essenciais; Ftima e ao Fernando, do Plano B; aos filsofos M-rio Bruno e Auterives Maciel; aos professores e alunos do PPG em Psicolo-gia da UFF, em especial ao Edu Passos, Cristina Rauter, Alice de Marchi, Fernanda Ratto, Cristiane Knijnik e todos os demais que colaboraram direta ou indiretamente para a pesquisa; por fim, CAPES, pelo financiamento.
Em especial, gostaria de propor um brinde, muito respeitoso e rigo-rosamente paradoxal, memria de meu pai, Luiz Cesar Rodrigues (1953-2010), e de minha av, Nilza Machado da Cunha (1935-2011): tears!
SUMRIO
PREFCIO: Afinidades eletivas entre ritmo e subjetividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
APRESENTAO: Alice e perguntas sem resposta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1. RITMO E PRODUO DE SUBJETIVIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27Sons, rudos e silncios: das pulsaes partitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Das distines na pauta unidade do tempo musical . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Os compassos e as unidades de tempo binrias e ternrias . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Subjetividade e tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Pulsao/ritmo: metro e fluxos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55Hbito e presente vivo: a primeira sntese do tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Memria e passado puro: a segunda sntese do tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
Os paradoxos do passado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 Notao musical e memria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
2. O TEMPO NO PULSADO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81Pierre Boulez e a msica serial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
Tempo pulsado e tempo no pulsado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87O liso e o estriado: controle e disciplina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
Blocos de durao e diagonais: estruturas em devir . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
A aliana do material com a inveno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
Blocos de devir: um jogo de criao integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
O eterno retorno e a terceira sntese do tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
3. SUBJETIVIDADE: RITMO E ESTILO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115Ritornelo: territrios, formas e sujeitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
Cronos e Aion . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
Os incorporais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136 O acontecimento puro e a superfcie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142 O antirritmo e a cesura: situaes-limite e afirmao de paradoxos . . . . . . . . 146Do caos nascem os meios e os ritmos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
Ritmo e individuao: devir-msica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
Paisagens sonoras, cores audveis e personagens rtmicas . . . . . . . . . . . . . . 159Estilo e produo de subjetividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163
Da Capo: consideraes transversais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169
NOTAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175
s a n d r o r o d r i g u e s
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Afinidades eletivas entre ritmo e subjetividadeEDUARDO PASSOS
H entre as paixes uma delicada afinidade (Verwandtschaft) qumica, em virtude da qual elas se atraem e se repelem, se combinam, se neutralizam, se sepa-
ram novamente e se reconstituem. (Gthe. Carta a Schiller de 23/10/1799)
Se as cincias naturais algumas vezes se utilizaram de comparaes morais para ilustrar suas discusses, Gthe no romance Afinidades Eletivas (1809) inverteu o sentido da metfora, tomando emprestado da cincia uma imagem para pensar o tema do amor. O livro de um qumico sueco teria dado a pista para o poeta. Gthe, interessado pelos temas da cincia como os fenmenos da eletricidade e do magnetismo, leu a obra de Bergmann (De attractionis electivis), traduzida para o alemo em 1785: Die Wahlverwandtschaften. Nessa mesma poca da redao do romance, o autor conversava assiduamente com o filsofo Schelling, professor em Iena que no seu Ideias para uma filosofia da natureza (1797) toma a afinidade qumi-ca como expresso da lei fundamental da atrao e da repulso universais. Arte, cincia e filosofia em afinidades eletivas. a que estamos sendo convi-dados para nos situar, nesta regio limite entre estes domnios, l onde eles se atravessam formando um tecido impuro, hbrido.
O livro Ritmo e Subjetividade de Sandro Eduardo Rodrigues nos lana em um campo problemtico onde se entrecruzam os estudos da subjetivi-dade e da msica. A pesquisa transdisciplinar criou seu problema no limite entre a investigao do ritmo na linguagem musical e na produo de subje-tividade. Entre estes domnios da pesquisa, um tema comum os entrelaa: a experincia do tempo tempo musical, tempo do processo de subjetivao
r i t m o e s u b j e t i v i d a d e
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e em cada um deles havendo que se distinguir ritmos, frequncias da du-rao, temporalidades pulsadas e no pulsadas, tempos lisos e estriados, for-mas rtmicas e ritmos amorfos, Cronos e Aion como figuras mticas do tempo que do a inflexo a cada uma das diferentes experincias. Tais distines feitas base de um meticuloso trabalho de artesanato conceitual lanam o texto por experimentaes vividas como afinidades eletivas. Dentre estas, sem dvida, o pensamento de Deleuze e Guattari percorre o texto de Sandro como um fio de inspirao metodolgica, como um leitmotive que d unidade composio sem a fechar na forma orgnica que poderia ter um livro.
Percebemos a fora do paradigma esttico que ressalta o aspecto cons-trutivista do texto de Sandro. Pores de filosofia, de psicologia clnica, de teoria musical, de literatura so extradas de seus solos originrios para so-bre eles aplicar este procedimento de repetio diferenciante repetir um fragmento terico para, no ostinato dessa repetio, produzir uma outra coi-sa. Tal como os ritornelos musicais que Deleuze e Guattari tomam como expresso da produo de territrios existenciais. Em Mil Plats, estes au-tores (1997) do