A Conferência de Joanesburgo

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4 www.publituris.pt Opinião 4 www.publituris.pt PUBLITURIS 04 de Junho 2010 O percurso iniciado em Estocolmo (1972) e cimentado no Rio (1992) desdobrou-se com- preensivelmente numa multiplicidade de caminhos que se reúnem em Joanesburgo, em Agosto e Setembro de 2002, em que a agenda do desenvolvimento sustentável volta a estar em cima da mesa para discussão. No Rio, os líderes mostraram-se solidários com os objectivos e tomadas de posição da confe- rência, em Joanesburgo importa fundamentalmente ultrapassar o fosso entre o compromisso político e a sua implementação prática. Os enormes desafios da globalização e o impacto do 11 de Setembro acentuaram esta necessi- dade. Solidariedade entre povos ricos e pobres encontra-se no centro da discussão. Daí que questões como a melhoria das trocas comerciais, acesso aos mercados, eliminação de subsídios contraproducentes, redução da dívida e aumento da ajuda pública ao desenvolvimento são algumas das traves mestras da agenda global do desenvolvimento sustentável. A Conferência apontou a necessidade de consolidar os progressos nestas áreas, com base nou- tros processos relevantes designadamente os de Doha e Monterrey. A clara assunção pela maioria dos Estados-Membros da ONU que um desenvolvimento sus- tentável radica no equilíbrio entre os aspectos económicos (eficácia económica), sociais (justi- ça social) e ambientais (conservação ambiental) é certamente um dos maiores avanços dos últi- mos trinta anos, abrindo caminho para uma planificação integrada e uma melhor fundação para as decisões políticas aos mais variados níveis. Notas: 1-A saída de Jorge Umbelino da administração do Turismo de Portugal, IP constitui, do meu ponto de vista, um daqueles exemplos em que a substituição só é explicável por questionáveis critérios políticos fazendo-se tábua rasa da competência consensualmente demonstrada no exercício do cargo. Perante as minhas dúvidas sobre o acerto de algumas medidas governativas sempre se mostrou solidário com a linha governamental e reconheço que a argumentação por si avançada foi nal- gumas situações convincente. Ocorre-me até um episódio curioso da solidariedade governa- mental extrema, característica desta governação socialista do turismo, em que os críticos do regime foram mantidos à distância: apesar de termos sido colegas de docência declinou o con- vite para apresentar um livro meu. Profundamente conhecedor das matérias no plano prático presenciei algumas intervenções suas em provas académicas na área do turismo que causaram boa impressão: sempre cordato com os candidatos mas incisivo na argumentação. Uma dupla valência: no dia a dia da gestão pública do turismo e na componente académica deste sector. Da ascensão meteórica de Ana Mendes Godinho a vice-presidente do Turismo de Portugal devo dizer que não é no facto de ter sido chefe de gabinete do SET que reside o problema: António Guterres, um dos políticos mais brilhantes da sua geração, foi chefe de gabinete de Salgado Zenha. O problema é que, apesar de ter acompanhado a feitura do RJET, não terá a experiência e a profundidade de conhecimentos de Jorge Umbelino na área dos empreendi- mentos turísticos, que na governação de Vítor Neto foi sub-director geral do turismo. É trocar o certo e consensual pelo incerto. A vice-presidência é explicável pelo aumento do poder de Bernardo Trindade e um correlativo enfraquecimento de Luís Patrão. 2- O Turismo de Portugal, IP deixa degradar, para além dos limites do razoável, as instalações do Estoril, uma escola de referência do turismo nacional. Jorra água do tecto da biblioteca (dis- põe de um importante acervo bibliográfico e poderosas ferramentas digitais de investigação), as instalações sanitárias exalam um cheiro fétido, algum do mobiliário escolar há muito que devia ter sido substituído. Um confrangedor panorama geral de degradação no interior e exte- rior do edifício que poderia ter sido combatido, pelo menos em parte, com os recursos finan- ceiros associados à fracassada experiência do HMI. 3- Paulo Neves vê chegar ao fim o julgamento que durante vários anos certamente afectou a sua tranquilidade pessoal e condicionou a sua carreira. Caídas as várias acusações, parece-me particularmente elucidativo o seguinte excerto da sentença do Círculo Judicial de Faro: “Da matéria de facto julgada provada não resulta qualquer comportamento do arguido que seja merecedor de censura, muito menos penal.” Actualmente administrador hospitalar, está ligado ao turismo através da excelente iniciativa Algarve Medical Tourism. A Conferência de Joanesburgo O desenvolvimento sustentável radica no equilíbrio entre os aspectos económicos, sociais e ambientais Advogado http://carlosmtorres.blogspot.com Carlos Torres OPINIAO ~ Perspectivas Conservação Ambiental Eficácia Económica Justiça Social

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A Conferência de Joanesburgo, por Carlos Torres, Publituris Nº 1122, 4 Junho 2012

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Opinião

4 � www.publituris.pt

PUBLITURIS04 de Junho 2010

O percurso iniciado em Estocolmo (1972) e cimentado no Rio (1992) desdobrou-se com-

preensivelmente numa multiplicidade de caminhos que se reúnem em Joanesburgo, em Agosto

e Setembro de 2002, em que a agenda do desenvolvimento sustentável volta a estar em cima

da mesa para discussão.

No Rio, os líderes mostraram-se solidários com os objectivos e tomadas de posição da confe-

rência, em Joanesburgo importa fundamentalmente ultrapassar o fosso entre o compromisso

político e a sua implementação prática.

Os enormes desafios da globalização e o impacto do 11 de Setembro acentuaram esta necessi-

dade. Solidariedade entre povos ricos e pobres encontra-se no centro da discussão. Daí que

questões como a melhoria das trocas comerciais, acesso aos mercados, eliminação de subsídios

contraproducentes, redução da dívida e aumento da ajuda pública ao desenvolvimento são

algumas das traves mestras da agenda global do desenvolvimento sustentável.

A Conferência apontou a necessidade de consolidar os progressos nestas áreas, com base nou-

tros processos relevantes designadamente os de Doha e Monterrey.

A clara assunção pela maioria dos Estados-Membros da ONU que um desenvolvimento sus-

tentável radica no equilíbrio entre os aspectos económicos (eficácia económica), sociais (justi-

ça social) e ambientais (conservação ambiental) é certamente um dos maiores avanços dos últi-

mos trinta anos, abrindo caminho para uma planificação integrada e uma melhor fundação para

as decisões políticas aos mais variados níveis.

Notas:

1-A saída de Jorge Umbelino da administração do Turismo de Portugal, IP constitui, do meu

ponto de vista, um daqueles exemplos em que a substituição só é explicável por questionáveis

critérios políticos fazendo-se tábua rasa da competência consensualmente demonstrada no

exercício do cargo.

Perante as minhas dúvidas sobre o acerto de algumas medidas governativas sempre se mostrou

solidário com a linha governamental e reconheço que a argumentação por si avançada foi nal-

gumas situações convincente. Ocorre-me até um episódio curioso da solidariedade governa-

mental extrema, característica desta governação socialista do turismo, em que os críticos do

regime foram mantidos à distância: apesar de termos sido colegas de docência declinou o con-

vite para apresentar um livro meu.

Profundamente conhecedor das matérias no plano prático presenciei algumas intervenções suas

em provas académicas na área do turismo que causaram boa impressão: sempre cordato com

os candidatos mas incisivo na argumentação.

Uma dupla valência: no dia a dia da gestão pública do turismo e na componente académica

deste sector.

Da ascensão meteórica de Ana Mendes Godinho a vice-presidente do Turismo de Portugal

devo dizer que não é no facto de ter sido chefe de gabinete do SET que reside o problema:

António Guterres, um dos políticos mais brilhantes da sua geração, foi chefe de gabinete de

Salgado Zenha. O problema é que, apesar de ter acompanhado a feitura do RJET, não terá a

experiência e a profundidade de conhecimentos de Jorge Umbelino na área dos empreendi-

mentos turísticos, que na governação de Vítor Neto foi sub-director geral do turismo. É trocar

o certo e consensual pelo incerto.

A vice-presidência é explicável pelo aumento do poder de Bernardo Trindade e um correlativo

enfraquecimento de Luís Patrão.

2- O Turismo de Portugal, IP deixa degradar, para além dos limites do razoável, as instalações

do Estoril, uma escola de referência do turismo nacional. Jorra água do tecto da biblioteca (dis-

põe de um importante acervo bibliográfico e poderosas ferramentas digitais de investigação),

as instalações sanitárias exalam um cheiro fétido, algum do mobiliário escolar há muito que

devia ter sido substituído. Um confrangedor panorama geral de degradação no interior e exte-

rior do edifício que poderia ter sido combatido, pelo menos em parte, com os recursos finan-

ceiros associados à fracassada experiência do HMI.

3- Paulo Neves vê chegar ao fim o julgamento que durante vários anos certamente afectou a

sua tranquilidade pessoal e condicionou a sua carreira. Caídas as várias acusações, parece-me

particularmente elucidativo o seguinte excerto da sentença do Círculo Judicial de Faro: “Damatéria de facto julgada provada não resulta qualquer comportamento do arguido que sejamerecedor de censura, muito menos penal.”Actualmente administrador hospitalar, está ligado ao turismo através da excelente iniciativa

Algarve Medical Tourism.

A Conferência de Joanesburgo

O desenvolvimentosustentável radica no

equilíbrio entre os aspectoseconómicos, sociais e

ambientais“ “

Advogadohttp://carlosmtorres.blogspot.com

Carlos Torres

OPINIAO~Perspectivas

Conservação Ambiental

Eficácia Económica Justiça Social