A Comunidade Dos Sem Comunidade

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Texto de Peter Pal Pelbart.

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  • ,..\ comunidade dos sem comunidade 35dispe livremente do tempo e do mundo, cios recursos do mundo. aquele cujopresente no est subordinado ao futuro. em que o instante brilha autonomamente.Aquele que vive soberanamente. se o pensarmos radicalmente, vive e morre do mesmo1110doque o animal, ou um deus. da ordem do jogo, no do trabalho. A sexualidadepor exemplo til, portanto servil, j o erotismo intil, e neste sentido, soberano.Implica num dispndio gratuito. Do mesmo modo o riso, a festa, as lgrimas, efusesdiversas, tudo aquilo que contm um excedente. Bataille, em seu texto Essai sur Iasouverainet . afirma que esse excedente tem algo da ordem cio milagre, at mesmodo divino. Bataille chega a dar razo ao Evangelho, segundo o qual o homem notem necessidade s de po, ele tem fome de milagre. Pois o desejo de soberania,segundo Bataille, est em todos ns, at mesmo no operrio, que com seu copo decerveja participa por um instante ao menos, em algum grau, desse elemento gratuitoe milagroso, desse dispndio intil e por isso glorioso. Isso pode ocorrer com qualquerum, na mesma medida, diante da beleza, da tristeza fnebre, do sagrado ou at daviolncia. O mais difcil de entender para Bataille que essas soberanias, queinterrompem a continuidade encadeada do tempo, no tm objeto nem objetivo, doem Nada, so Nada tRien, no o Nautv.

    Bem, claro que o mundo que vivemos, diz Bataille, o da utilidade, do acrnulo,do encadeamento na durao, da operao subordinada, das obras teis, emcontraposio a essa dose de acaso, de arbitrrio, de esplendor intil, fasto ou nefasto,que j no aparece em formas rituais consagradas exteriormente, como em outrostempos, mas em momentos e estados difusos e subjetivos, de no servilidade, de

    rgratuidade milagrosa, de dispndio ou apenas de dissipao. Est em jogo, nessasoberania, uma perda de si, por trs da qual, como em Bartleby, fala uma recusa deservido. Para jogar com as palavras, diramos: Da 1 o-Servido Involuntria. algo dessa ordem que est em jogo na noo de soberania tal como ela foi pensadaem Bataille, concepo que Habermas considera herdeira de lietzsche e precursorade Foucault.'

    ..

    MAIO DE 68 E O DESEJO DE COMUNID.-\DE

    Seria preciso retomar agora ao tema da comunidade, tendo por pano de fundo

    8) HABERMAS. Jrgen. O discurso firosfico da modernidade. So' Paulo. Manins Fontes. 2000. capoVI li: "Entre erotismo e economia geral". Deixamos de lado aqui. obviamente, toda discusso dosentido clssico. polico ou jurdico. da noo de soberania. A respeito. cf. em NEGRI, Antonio. Opoder constituinte (Rio de Janeiro, DP&A, 2002). Numa nota de rodap, Negri classifica o ensaiode Bataille sobre a soberania corno misterioso e potentssirno (p. 38n). Confrontar tambm com asconsideraes de Agarnben sobre a necessidade de abandonar o conceito de soberania. que garantea indiferena entre direito e violncia (Cf Moyens sans [in. Paris, Payot. 1995. p. 124), ou sobre oequvoco de base de Batuille. ao tentar pensar a vida nua corno figura soberana, inscrevendo-a naesfera do sagrado (Homo Saca: o poder sabere/lia e a vida /li/a. Belo Horizonte, Editora da UFMG,2002, p. 119).

  • 36 Vida capital

    essa idia nada convencional, pois contraria nossa tradio produtivista ecornunicacional, tanto de soberania quanto de comunidade. Poderamos acompanharo belo comentrio feito por Maurice Blanchot sobre Maio de 68, logo na seqnciade suas observaes a respeito da obra de Bataille sobre a comunidade impossvel, acomunidade ausente, a comunidade negativa, a comunidade dos que no tmcomunidade.

    Depois de uma descrio da atmosfera de Maio de 68, que inclui a comunicaoexplosiva, a efervescncia, a liberdade de fala, o prazer de estar junto, uma certainocncia, a ausncia de projeto, B lanchot se refere recusa de tomar o poder aoqual se delegaria alguma coisa - como se fosse uma declarao de impotncia.Como uma presena que, para no se limitar. aceita no fazer nada, aceita estar l, edepois ausentar-se, dispersar-se. Ao descrever o carter incomum desse "povo" quese recusa a durar, a perseverar, que ignora as estruturas que poderiam dar-lheestabilidade, nesse misto de presena e ausncia, ele escreve: " nisso que ele temvel para os detentores de um poder que no o reconhece: no se deixando agarrar,sendo tanto a dissoluo do fato social quanto a indcil obstinao em reinvent-lonuma soberania que a lei no pode circunscrever, j que ela a recusa" ..Y essapotncia impotente, sociedade a-social, associao sempre pronta a se dissociar,disperso sempre iminente de uma "presena que ocupa momentaneamente todo oespao e no entanto sem lugar (utopia), uma espcie de messianismo no anunciandonada alm de sua autonomia e sua inoperncia", 10 o afrouxamento sorrateiro doliame social, mas ao mesmo tempo a inclinao quilo que se mostra to impossvelquanto inevitvel - a comunidade.

    Blanchot, nesse ponto, diferencia a comunidade tradicional, a da terra, dosangue, da raa, da comunidade eletiva. E cita Bataille: "Se esse mundo nofosse constantemente percorrido pelos movimentos convulsivos dos seres que sebuscam um ao outro ... , ele teria a aparncia de uma derriso oferecida quelesque ele faz nascer". Mas o que esse movimento convulsivo dos seres que sebuscam um ao outro? Seria o amor, como quando se diz comunidade dos amantes?Ou o desejo, conforme o assinala Negri, ao dizer: "O desejo de comunidade oespectro e aalma do poder constituinte - desejo de uma comunidade to realquanto ausente, trama e modo de um movimento cuja determinao essencial a exigncia de ser, repetida, premente, surgida de uma ausncia"?" Ou se tratade um movimento que no suporta nenhum nome, nem amor nem desejo, masque atrai os seres para jog-los uns em direo aos outros, segundo seus corposou segundo seu corao e seu pensamento, arrebatando-os sociedade ordinria?"H algo de inconfessvel nessa estranheza, que no podendo ser comum, no

    9) BLANCHOT, M. La comtnunaut inavouable, op. cit., p. 57.(0) Idem, p. 57.11) NEGRI, A. O poder constituinte, op. cit., p. 38.12) BLANCHOT, op. cit., p. 79.

  • A comunidade dos sem comunidade 37obstante o que funda uma comunidade. sempre provisria e sempre jJ desertada.,.\Iguma coisa entre a obra e a inoperncia ...

    Talvez o que tenha interessado a Jean-Luc Nancy, requalificur uma regio quejJ nenhum projeto comunista ou comunitrio carregava. Repensar a comunidade emlermos di tintos daqueles que na sua origem crist, religiosa, a tinham qualificado (asaber, como comunho), repens-Ia em lermos da instncia elo "comum". com toeloo enigma a embutido e a dificuldade de compreender esse comum. "seu carter nodado, no disponvel e, nesse sentido, o menos "comum" do mundo"." Repensar osegredo do comum que no seja um segredo comum. I. O desafio obrigou o autor aum deslocamento, a saber, falar mais em estar-em-comum, estar-com, para evitar aressonncia excessi varnente plena que foi ganhando o termo comunidade, cheia desubstncia e interioridade, ainda crist (comunidade espiritual, fraternal, cornunial)ou mais amplamente religiosa (comunidade judaica, 'ununa) ou tnica, com todos osriscos fascistizantes da pulso comunitarista, Mesmo a comunidade inoperante, comoa havia chamado Nancy em seus comentrios a partir de Bataille, com sua recusa elosEstados-nao, partidos, Assemblias, Povos, companhias ou fraremidades, deixavaintocado esse domnio do comum, e o desejo (e a angstia) do ser-comum que osfundarnenralismos instrumentalizarn crescenternente.

    r O SOCIALlS\'!O DAS D!ST.NClAS

    Que esse tema seja mais do que uma obsesso individual ele um autor, atesta-osua presena recorrente entre pensadores dos anos 60-70. Em curso ministrado noCollge de France em 1976-77, por exemplo, Roland Banhes gira em torno daquesto Comment vivre-ensenibl e (Como viver-junto)." Ele parte daquilo queconsidera ser seu "fantasma", mas que, visivelmente, no apenas um fantasmaindividual, e sim o de uma gerao. Por fantasma Barthes entende a persistncia dedesejos, o assdio de imagens que insistem ~lm autor, por vezes ao longo de todauma vida, e que se cristalizam numa palavra. O fantasma que Banhes confessa ser oseu, fantasma de vida, de regime, de gnero de vida, o "viver-junto". No o viver-a-dois conjugal, nem o viver-em-muitos segundo uma coero coleti vista. Algo comouma "sol ido interrompida de rnanei ra regrada", um "pr em comu m distncias", "autopia de um socialismo das distncias", 16 na esteira do "plhos da distncia" evocadopor Nietzsche.

    Barthes refere-se com mais preciso a seu "fantasma", ao evocar a leitura deuma descrio de Lacarriere sobre conventos situados no monte Athos. Monges com

    13) NANCY. J_-L. La conununaut affronte, op_ cit., p. 3814) Idem. p. 41.15) BARTHES, Roland. Conunent vivre-ensemble, Paris, Seui! lmec, 2002.16) Idem.

  • 3S Vida capitaluma vida em comum e, ao mesmo tempo, cada um seguindo seu ritmo prprio."Idiorritrnia" (idios: prprio, ruthmos: ritmo). 'em o cenobirismo, forma excessivada iruegrao, nem o erernitisrno, forma excessiva da solido negativa. A idiorritrniacomo forma mediana, idlica. utpica."

    O fantasma do viver-junto (ou sua contrapartida: o viver-s) est muito presenteem toda a literatura. Por exemplo o viver-junto em A montanha mgica, de ThomasMann, ao mesmo tempo fascinante e claustrofbico. ou o viver-s no RobinsonCruso, de Daniel Defoe. Ou a biografia de alguns pensadores, como o caso deEspinosa, que no final da viela se retira para Voorburg, perto ele Haia, onde aluga umquarto e de vez em quando desce para conversar com seus hospedeiros - verdadeiroanacoreta, comenta Banhes, ao chamar a ateno para o desejo de criar uma estruturade vida que no seja um aparelho ele viela. Em todo caso um modo de fugir aopoder, neg-lo ou recus-lo tanachorein, em grego: retirar-se para trs). Hoje um talanseio poderia ser traduzido em termos de elistanciamento da gregariedade, comfiguraes polticas inusitadas.

    o COMUM E A SINGULARIDADE QUALQUER

    Temos disso um belo exemplo com Giorgio Agamben, em seu livro intituladoA comunidade que vem." Ali ele recorda a bela frase de Herclito: Para os despertosUIIIII/I/lldo nico e COIIIIIIII , mas aos que esto no leito cada UII/ se revira para o seuprprio. O Comum para Herclito era o Logos. A expropriao do Comum numasociedade do espetculo a expropriao da linguagem. Quando toda a linguagem seqestrada por um regime democrtico-espetacular, e a linguagem se autonornizanuma esfera separada, de modo tal que ela j no revela nada e ningum se enraizanela, quando a comunicatividade, aquilo que garantia o comum, fica exposta aomximo e entrava a prpria comunicao.'? atingimos um ponto extremo do niilismo.Como desligar-se dessa cornunicatividade totalitria e vacuizada? Como desafiaraquelas instncias que expropriaram o comum, e. que, Q transcendentalizararn? onde Agamben evoca uma resistncia vinda, no como antes, de uma classe, umpartido, um sindicato, um grupo, uma minoria, mas de uma singularidade qualquer,do qualquer um, como aquele que desafia um tanque na Praa Tienanmen, que jno se define por sua pertinncia a uma identidade especfica, seja de um grupopoltico ou de um movimento social. o que o Estado no pode tolerar, a

    17) Segundo Banhes. a idiorritmia pode ser buscada mais nas formas serni-anacorticas, do rnonasticisrnooriental, em todo caso anteriores ao sculo 4. De fato, em 380, por meio do dito de Teodsio, oeremitismo, o anacoretisrno c a idiorritmia foram liquidados - eram considerados rnarginalidudcsperigosas, resistentes s estruturas religiosas de poder que se instalavam. Com a queda de Tessalnica.em 1430, a idiorritrnia assiste a um renascimento, e sobrevive at os dias de hoje.

    18) AGAMBEN, G. La conuuunaut qui vient. Paris. Seuil, 1990.19) AGAMBEN, G. Moyens salls fin: notes sur ta poluique. Paris, Payot/Rivagcs, 1995. p. 95.

  • A comunidade dos sem comunidade 39singularidade qualquer que o recusa sem constituir uma rplica espelhadu do prprioEstado na figura de uma formao reconhecvel. A singularidade qualquer, que noreivindica uma identidade, que no faz valer um liame social, que constitui umamultiplicidade inconstante, como diria Cantor. Singularidades que declinam todaidentidade e toda condio de pertinncia, mas manifestam seu ser comum - acondio, diz Agamben, de toda poltica futura. Bento Prado Jr., referindo-se aDeleuze, utilizou uma expresso adequada a uma tal figura: o solitrio solidrio.

    BLOOM

    tII

    Recentemente uma publicao annima inspirada em Agamben contrapunha comunidade terrvel que se anuncia por toda parte, feita de vigilncia recproca efrivolidade, uma comunidade de jogo." Uma tal comunidade baseia-se numa novaarte das distncias, no espao de jogo entre desertores, que no elide a disperso, oexlio, a separao, mas a assume a seu modo, mesmo nas condies as mais adversasdo niilismo, mesmo nessa vida sem forma do homem comum, aquele que perdeu aexperincia, e com ela a comunidade, mas a comunidade que nunca houve, comodisse Nancy, pois esta comunidade que ele supostamente perdeu aquela que nuncaexistiu a no ser sob a forma alienada das pertinncias, de classe, de nao, de meio,recusando sempre aquilo que a comunidade teria de mais prprio, a saber, a assunoda separao, da exposio e da Iinitude, como o havia postulado Bataille.

    vida sem forma do homem comum, nas condies do niilisrno, o grupo deTiqqun deu o nome de Bloorn". Inspirado no personagem de Joyce, Bloom seria umtipo humano recentemente aparecido no planeta, e que designa essas existnciasbrancas, presenas indiferentes, sem espessura, o homem ordinrio, annimo, talvezagitado quando tem a iluso de que com isso pode encobrir o tdio, a solido, aseparao, a incornpletude, a contingncia - o nada. Bloorn designa essa tonalidadeafetiva que caracteriza nossa poca de decomposio niilista, o momento em quevem tona, porque se realiza em estado puro, o fato metafsico de nossa estranhezae inoperncia, para alm ou aqum de todos os problemas sociais de misria,precariedade, desemprego etc. Bloorn a figura que representa a morte do sujeito ede seu mundo, onde tudo flutua na indiferena sem qualidades, em que ningummais se reconhece na trivialidade do mundo de mercadorias infinitamenteintercambiveis e substituveis. Pouco importam os contedos de vida que se altername que cada um visita em seu turismo existencial, o Bloorn j incapaz de alegriaassim como de sofrimento, analfabeto das emoes de que recolhe ecos difratados.Nessa existncia espectral, de algum modo se insinua uma estratgia de resistncia,

    20) Revista Tiqoun, Paris, 2001.21) TIQQUN. Thorie du Bioom. Paris, Lu Fabrique, 2000 e a revista Tiqqun, 200l.

  • -+0 Vida capitalem que o Bloorn subtrai ao poder (biopoder, sociedade do espetculo) aquilo sobre oqual este quereria se exercer. O Bloorn o desejo de no viver, de ser nada. ele onada mascarado, que assim desmonta a pretenso do biopoder de faz-lo viver. 8100m o homem sem qualidades, sem particularidades, sem substancial idade do mundo. ohomem enquanto homem, o anti-heri presente na literatura do sculo passado, deKafka a Musil, de Melville a Michaux e Pessoa - o homem sem comunidade. onde intervm a possibilidade que o Bloom queira o que ele , que ele se reapropriede sua impropriedade, que assuma o exlio, a insignificncia, o anonimato, a separaoe a estranheza no como circunstncias poticas ou apenas existenciais, mas tambmpolticas.

    Ora, feito esse desvio, j estarnos em condies de voltar a Deleuze, no s suaperspectiva terica, mas talvez mais importante, tambm ao seu tom. A propsito doBartleby, de Melville, aquele escriturrio que a tudo responde que "preferiria no"(precursor do Bloorn"), o autor comenta: a particularidade deste homem que eleno tem particularidade nenhuma, o homem qualquer, o homem sem essncia, ohomem que se recusa a fixar-se em alguma personalidade estvel. Diferentemente doburocrata servil (que compe a massa nazista, por exemplo), no homem comum talcomo ele aparece aqui se expressa algo mais do que um anonimato inexpressivo: oapelo por uma nova comunidade." No aquela comunidade baseada na hierarquia,no paternalismo, na compaixo, como o seu patro gostaria de lhe oferecer, mas umasociedade de irmos, a comunidade dos celibatrios. Deleuze detecta entre osamericanos, antes mesmo da independncia, essa vocao de constituir uma sociedadede irmos, uma federao de homens e bens, uma comunidade de indivduosanarquistas no seio da imigrao universal. A filosofia pragrnatista americana, emconsonncia com a literatura americana que Deleuze tanto valoriza, lutar no scontra as particularidades que opem o homem ao homem, e alimentam umadesconfiana irremedivel de um contra o outro, mas tambm contra o seu oposto, oUniversal ou o Todo, a fuso das almas em nome do grande amor ou da caridade, aalma coletiva em nome da qual falaram os inquisidores, como na famosa passagem

    22) de se perguntar se algo semelhante no se insinua na reflexo de Max Horkheimer sobre o fim doindivduo na sociedade de massas. Ele reconhece nos indivduos um elemento de "cspecificidade(singularidade)", um "elemento de particuluridadc do ponto de vista da razo", que estaria desde aprimeira infncia totalmente reprimido ou absorvido. Ao exemplificar esse elemento irredutvel, nofinal de seu ensaio "Ascenso e declnio do indivduo", ele evoca a resistncia dos annimos,sugerindo que "o ncleo da verdadeira individualidade" a resistncia: "Os verdadeiros indivduosde nosso tempo so os mrtires que atravessaram os infernos do sofrimento e da degradao em sua

    ~; resistncia conquista e opresso. Os mrtires annimos dos campos de concentrao so ossmbolos da humanidade que luta por nascer". In O eclipse da raro, Rio de Janeiro, Labor,respectivamente pp. 158 e 172. Devo a Jcanne-Marie Gagnebin a indicao desta passagem, bemcomo a de vrias outras utilizadas neste captulo, no rastro de uma interlocuo discreta e amiga.

  • rA comunidade dos sem comunidade +1

    de Dostoicvski, e por vezes os revolucionrios. Deleuze pergunta. ento: o que resta:IS almas quando n~IOse aferram mais a particularidades. o que as impede ento defundir-se num todo') Resta-lhes precisamente sua "originalidade". quer dizer umsom que cada uma emite quando pe o p na estrada. quando leva a vida sem buscar:1 salvao, quando empreende sua viagem encarnada sem objetivo particular. e ento.::ncontra o outro viajante, a quem reconhece pelo som. l.awrence dizia ser este o1l0\'O messianismo ou o aperte democrtico da literatura americana: contra a moral.:urop~ia da salvao e da caridade, uma moral da vida em que a alma s se realizapondo o p na estrada, exposta a todos os contatos, sem jamais tentar salvar outrasalmas, desviando-se daquelas que emitem um som demasiado autoritrio ou gementedemais, formando com seus iguais acordos e acordes, mesmo fugidio . A comunidadedos celibatrios a do homem qualquer e de suas singularidades que se cruzam: nemindividualismo nem comunialismo.

    CONCLUSES

    rII

    Neste percurso ziguezagueante, percorremos a comunidade dos celibatrios, acomunidade dos sem comunidade, a comunidade negativa, a comunidade ausente, acomunidade inoperante, a comunidade impossvel, a comunidade de jogo, acomunidade que vem, a comunidade da singularidade qualquer - nomes diversos

    ,. para uma figura no fusional, no unitria, no totalizvel, no filialista de comunidade.Resta saber se essa comunidade pode ser pensada, tal como o sugere egri, comouma ontologia do comum. A resposta est insinuada na primeira parte desse texto:nos termos de Deleuze, a partir de Espinosa e sobretudo em seu trabalho conjuntocom Guattari, e nas condies atuais de um maquinismo universal, a questo a doplano de imanncia j dado, e ao mesmo tempo, sempre por construir. a contramodo sequestro do comum, da expropriao do comum, da transcenderualizao docomum, trata-se de pensar o comum ao mesmo tempo como irnanente e como em