A CIÊNCIA GEOGRÁFICA

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A ciência Geográfica Olá! Tudo bem? Vamos, a partir desse momento, iniciar uma longa jornada de estudos, envolvendo uma série de conhecimentos geográficos e de diversas outras ciências afins. Para isso, precisamos antes, conhecer suas características e o seu processo evolutivo . Concordamos todos que, se a maior parte do público culto tem uma idéia mais ou menos exata do que são a Biologia, a Geologia, a Economia ou a Sociologia, o mesmo público não acompanha o progresso das ciências geográficas, quando não ignora sua existência. Para uns a geografia é confundida com narrativas de viajantes; um geógrafo é um explorador, a rigor um cartógrafo; traz de suas viagens narrativas agradáveis de ouvir- se, sobretudo se tem a habilidade de ilustrá- las com belas imagens. Para outros, talvez mais numerosos, a geografia é uma lembrança extremamente penosa de sua infância. Seu nome evoca listas indigestas de nomes de lugares ou dados numéricos, lições atrozes que somente os menos inteligentes e os mais obstinados de nossos conhecidos chegavam a recitar razoavelmente. Os espíritos brilhantes, ao contrário, mostravam-se rebeldes. Muitos ainda ficam indignados quando seus filhos recebem uma nota má porque não souberam as altitudes exatas dos vulcões andinos; a fraqueza em geografia é uma espécie de teste de inteligência! Portanto, na melhor das hipóteses, a Geografia é tida como a irmã intelectual do turismo. Na pior hipótese, a Geografia é uma tortura gratuita imposta às crianças e pergunta-se como seres sensatos puderam tornar-se geógrafos! Se são corretos esses dois modos de ver, é claro que a Geografia é inútil, quando não perigosa; é um absurdo ensiná-la, mais ainda praticá-la, e torna-se urgente fechar também os departamentos de Geografia das faculdades de Filosofia e instituições como o Conselho Nacional de Geografia! A menos que consigamos mostrar que a Geografia contribui para o enriquecimento das mentes jovens e a sua formação. A menos também que possamos provar a sua utilidade num mundo onde toda e qualquer ciência é também uma técnica, onde toda pesquisa leva a dar um instrumento útil à coletividade. É fundamental, portanto, estabelecer o valor a Geografia no ensino e determinar sua utilidade como moderno instrumento de trabalho. Comecemos fixando a posição exata da Geografia moderna, diante da importância quase exclusiva que atualmente se dá à memorização no ensino. Geógrafo algum deixará de condenar esta pseudo-geografia. Todavia, convém lembrar que a verdadeira pedagogia não deixa de recorrer às funções da memória. Estas só se desenvolvem na medida em que passaram por um treino inteligente, assim como acontece com todas as outras atividades psicológicas ou físicas. Também não se trata de oposição sistemática a qualquer ensino de memória, mas de oposição radical ao ensino exclusivamente baseado na memória e que a atravanca com um trambolho inútil. Nada se pode aprender sem esforço de memória e sem a aquisição de uma nomenclatura, por mínima que seja. O exercício de matemática pressupõe o conhecimento de certas fórmulas e, nesta aprendizagem, memória e inteligência foram ambas treinadas e desenvolvidas. O conhecimento da literatura exige que o aluno retenha não somente nomes de autores e de obras, mas dados cronológicos, sem os quais seria total a confusão. Assim como não se pode ter conhecimentos históricos sem adquirir uma sólida bagagem de datas e de fatos, não se poderia ter bom conhecimento geográfico sem uma base de nomenclatura. É apenas um ponto de partida, mas indispensável. Por fim, ainda no âmbito das preocupações utilitárias, não esqueçamos que a vida corrente requer de cada um de nós esse conhecimento mínimo de nomenclatura geográfica, que é, para a ciência geográfica, o que a tabuada de multiplicação é para a matemática: nomes de cidades, de rios, de montanhas, de produtos nacionais e estrangeiros, aquisições de nossa memória infantil de tal modo integradas em nós mesmos, que já nem nos lembramos de quando as adquirimos. Um bom ensino de Geografia, portanto, como qualquer outro ensino, não pode deixar de recorrer à memória. É necessário reduzir sem medo a massa de nomes insípidos e de pormenores sem valor; é necessário, sobretudo, reduzi-la a proporções mais justas. Impõe-se uma escolha a nós, professores, a quem cabe a difícil tarefa de exercitar com inteligência a memória de vocês. É importante saber!

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A ciência GeográficaOlá! Tudo bem? Vamos, a partir desse momento, iniciar uma

longa jornada de estudos, envolvendo uma série de conhecimentos geográficos e de diversas outras ciências afins. Para isso, precisamos antes, conhecer suas características e o seu processo evolutivo . Concordamos todos que, se a maior parte do público culto tem uma idéia mais ou menos exata do que são a Biologia, a Geologia, a Economia ou a Sociologia, o mesmo público não acompanha o progresso das ciências geográficas, quando não ignora sua existência. Para uns a geografia é confundida com narrativas de viajantes; um geógrafo é um explorador, a rigor um cartógrafo; traz de suas viagens narrativas agradáveis de ouvir-se, sobretudo se tem a habilidade de ilustrá-las com belas imagens. Para outros, talvez mais numerosos, a geografia é uma lembrança extremamente penosa de sua infância. Seu nome evoca listas indigestas de nomes de lugares ou dados numéricos, lições atrozes que somente os menos inteligentes e os mais obstinados de nossos conhecidos chegavam a recitar razoavelmente. Os espíritos brilhantes, ao contrário, mostravam-se rebeldes. Muitos ainda ficam indignados quando seus filhos recebem uma nota má porque não souberam as altitudes exatas dos vulcões andinos; a fraqueza em geografia é uma espécie de teste de inteligência! Portanto, na melhor das hipóteses, a Geografia é tida como a irmã intelectual do turismo. Na pior hipótese, a Geografia é uma tortura gratuita imposta às crianças e pergunta-se como seres sensatos puderam tornar-se geógrafos! Se são corretos esses dois modos de ver, é claro que a Geografia é inútil, quando não perigosa; é um absurdo ensiná-la, mais ainda praticá-la, e torna-se urgente fechar também os departamentos de Geografia das faculdades de Filosofia e instituições como o Conselho Nacional de Geografia! A menos que consigamos mostrar que a Geografia contribui para o enriquecimento das mentes jovens e a sua formação. A menos também que possamos provar a sua utilidade num mundo onde toda e qualquer ciência é também uma técnica, onde toda pesquisa leva a dar um instrumento útil à coletividade. É fundamental, portanto, estabelecer o valor a Geografia no ensino e determinar sua utilidade como moderno instrumento de trabalho.

Comecemos fixando a posição exata da Geografia moderna, diante da importância quase exclusiva que atualmente se dá à memorização no ensino. Geógrafo algum deixará de condenar esta pseudo-geografia. Todavia, convém lembrar que a verdadeira pedagogia não deixa de recorrer às funções da memória. Estas só se desenvolvem na medida em que passaram por um treino inteligente, assim como acontece com todas as outras atividades psicológicas ou físicas. Também não se trata de oposição sistemática a qualquer ensino de memória, mas de oposição radical ao ensino exclusivamente baseado na memória e que a atravanca com um trambolho inútil. Nada se pode aprender sem esforço de memória e sem a aquisição de uma nomenclatura, por mínima que seja. O exercício de matemática pressupõe o conhecimento de certas fórmulas e, nesta aprendizagem, memória e inteligência foram ambas treinadas e desenvolvidas. O conhecimento da literatura exige que o aluno retenha não somente nomes de autores e de obras, mas dados cronológicos, sem os quais seria total a confusão. Assim como não se pode ter conhecimentos históricos sem adquirir uma sólida bagagem de datas e de fatos, não se poderia ter bom conhecimento geográfico sem uma base de nomenclatura. É apenas um ponto de partida, mas indispensável. Por fim, ainda no âmbito das preocupações utilitárias, não esqueçamos que a vida corrente

requer de cada um de nós esse conhecimento mínimo de nomenclatura geográfica, que é, para a ciência geográfica, o que a tabuada de multiplicação é para a matemática: nomes de cidades, de rios, de montanhas, de produtos nacionais e estrangeiros, aquisições de nossa memória infantil de tal modo integradas em nós mesmos, que já nem nos lembramos de quando as adquirimos.

Um bom ensino de Geografia, portanto, como qualquer outro ensino, não pode deixar de recorrer à memória. É necessário reduzir sem medo a massa de nomes insípidos e de pormenores sem valor; é necessário, sobretudo, reduzi-la a proporções mais justas. Impõe-se uma escolha a nós, professores, a quem cabe a difícil tarefa de exercitar com inteligência a memória de vocês.

É importante saber!

É bastante antiga a necessidade da humanidade em conhecer o espaço no qual se desenvolve sua vida. A abordagem sistemática do conhecimento da Terra é precisamente o objetivo da Geografia, disciplina cujo nascimento pode ser situado na própria origem do homem, embora só tenha alcançado a categoria de ciência com as escolas Determinista (alemã) e Possibilista (francesa).

A Geografia é marcada por desenvolver sistemas de análise da superfície da Terra. Sua denominação procede dos vocábulos gregos geo (“Terra”) e graphein (“escrever”).

A superfície terrestre, que compreende a atmosfera, a litosfera, a hidrosfera e a biosfera, é o habitat, ou meio ambiente, em que podem viver os seres humanos.

A área habitável da superfície terrestre apresenta várias características, das quais uma das mais importantes é a complexa interação dos elementos físicos, biológicos e humanos. Outra característica é a grande variabilidade do ambiente de um lugar para outro, dos trópicos às frias regiões polares, de áridos desertos a úmidas florestas equatoriais, de vastas planícies a montanhas escarpadas, de superfícies geladas e desabitadas a metrópoles densamente povoadas. Sem deixar de mencionar a regularidade com que se registram determinados fenômenos, como os climáticos, o que permite generalizações sobre sua distribuição espacial. Os exemplos mais óbvios são as medidas de temperatura e precipitação, principais elementos climáticos para a agropecuária e outras atividades humanas.

A geografia se preocupa particularmente com a localização de seu objeto, com as inter-relações dos fenômenos, com a regionalização e com as afinidades entre as áreas. Pesquisa a respeito dos lugares onde as pessoas vivem, sua distribuição sobre a superfície da Terra e os fatores que influem nessa distribuição. Tenta responder a questões sobre a possibilidade de reconhecer uma região pela população, meio de vida e cultura e sobre os movimentos e relações que ocorrem entre os diferentes lugares.

História da Evolução do Pensamento Geográfico

A Geografia surgiu na Antiga Grécia, sendo no começo chamada de história natural ou filosofia natural.

Por que na Grécia ?

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Grande parte do mundo ocidental conhecido era dominada pelos gregos, em especial o leste do Mediterrâneo. Sempre interessados em descobrir novos territórios de domínio e atuação comercial, era fundamental que conhecessem o ambiente físico e os fenômenos naturais.

Métodos

No século IV a.C., os gregos observavam o planeta como um todo. Através de estudos filosóficos e observações astronômicas, Aristóteles foi o primeiro a receber crédito ao conceituar a Terra como uma esfera.

O Pai da Geografia

Em sua especulação sobre o formato da Terra, Strabo acabou escrevendo uma obra de 17 volumes, ‘Geographicae’, onde descrevia suas próprias experiências do mundo - da Galícia e Bretanha para a Índia, e do Mar Negro à Etiópia. Apesar de alguns erros e omissões em sua obra, Strabo acabou tornando-se o pai de geografia regional.

Herdeiros da Geografia

Os gregos deixaram para as futuras gerações escritos que contavam a sua vivência geográfica. Estudos feitos acerca do rio Nilo, no Egito, detalhavam, entre outras coisas, seu período de cheia anual. Com o colapso do Império Romano, os grandes herdeiros da geografia grega foram os árabes. Muitos trabalhos foram traduzidos do grego para o árabe. Ocorreram, no entanto, a partir daí, algumas regressões: após o ano de 900 d.C., as indicações de latitude e longitude já não apareciam mais nos mapas.

Expansão árabe

Os árabes acabaram recuperando e aprofundando o estudo da geografia, e já no século XII, Al-Idrisi apresentaria um sofisticado sistema de classificação climática. Em suas viagens à África e à Ásia, outro explorador árabe, Ibn Battuta, encontrou a evidência concreta de que, ao contrário do que afirmara Aristóteles, as regiões quentes do mundo eram perfeitamente habitáveis.

Geografia no Século XV

Já no século XV, viajantes como Bartolomeu Dias e Cristóvão Colombo redescobririam o interesse pela exploração, pela descrição geográfica e pelo mapeamento. A confirmação do formato global da Terra veio quinze anos mais tarde, em uma viagem de circunavegação realizada pelo navegador português Fernando Magalhães, permitindo uma maior precisão das medidas e observações.

Geografia Social

Grandes nomes se empenharam no estudo das várias áreas da Geografia. A geografia social, por exemplo, recebeu a dedicação de nomes como Goethe, Kant, e Montesquieu, preocupados em estabelecer em seu estudo a relação entre a humanidade e o meio ambiente. A Geografia recebeu novas subdivisões, entre as quais, a geografia antropológica e a geografia política.

A Geografia no Século XIX e XX - Possibilismo e Determinismo

No século XIX, cientistas como Alexander Von Humboldt (1769-1859), Karl Ritter (1779-1859) e Friedrich Ratzel (1844-1904), da

Escola alemã, elaboraram trabalhos desenvolvendo princípios metodológicos da Geografia. Isso a torna uma ciência explicativa e não mais apenas reduzida à tarefa da descrição. Ratzel, no final do século XIX, considerou a influência exercida pelas condições naturais na vida do ser humano como objeto de estudo da Geografia. A partir daí, originou-se o “determinismo geográfico”, ou Escola Determinista, influenciada pelas teorias de Lamarck e de Darwin.

Através de sua obra “Antropogeografia”, Ratzel defende que as leis regedoras da história humana são as mesmas que regem as espécies vegetais e animais. Conforme esse autor, “o homem é produto do meio geográfico em que vive” e o meio natural exerce uma ação dominadora sobre o homem, o qual deve se submeter àquele meio.

Obs: O pensamento determinista geográfico foi, em parte, responsável pelas teorias de superioridade racial surgidas nos séculos XIX e XX e, também, serviu de base para a expansão do capitalismo neocolonial nos séculos XVIII e XIX.

Como contrapondo ao determinismo, no início do século XX, na França, surgiu o “possibilismo”, ou Escola Possibilista. Seu principal expoente foi Vidal de La Blache que demonstrou a possibilidade de o homem modificar e/ou adaptar certas condições do meio segundo seus interesses e necessidades. Dessa forma, segundo essa corrente do pensamento geográfico, com o avanço técnico, o ser humano cria condições favoráveis de viver em qualquer região do planeta. Para contestar o determinismo, La Blache foi influenciado pela nascente sociologia e apoiou-se em dados da etnologia e da história. Outros grandes nomes dessa escola foram Brunhes e De Martonne, entre outros.

A Geografia dos anos 60 do século XX - Estatística, Computadores e Satélites

O desejo de fazer da geografia um estudo mais científico, mais aceito como disciplina, levaram à adoção da estatística como recurso de apoio. No final da década, duas novas técnicas de suma importância para a geografia começavam a ser desenvolvidas: o computador eletrônico e o satélite, dando nova ênfase à disciplina.

Geografia - A Solução para os Problemas da Sociedade Moderna

Uma das importantes características dos acontecimentos dos últimos trinta anos foi a maneira pela qual a perícia do conhecimento geográfico - analisando o espaço geográfico - tem dado sua colaboração para a solução de uma série de problemas da sociedade moderna.

Os geógrafos têm feito pesquisas fundamentais que vão desde orientações para que pessoas com problemas de incapacidade física possam guiar-se em complexas áreas urbanas; estudos de distribuição espacial de doenças, para que os cuidados médicos sejam dispensados de maneira mais adequada; passando pelo planejamento de novas regiões agrícolas, ou pela avaliação de colheitas, através das imagens de satélite, até chegar às pesquisas que procuram contribuir par a solução dos problemas de redes urbanas desequilibradas ou de periferias urbanas de percepção das imagens mentais que ajudarão a revolucionar campos como os do planejamento urbano/regional e do turismo. Hoje qualquer grande obra no país, como estradas, pontes, aterros sanitários e instalações de fábricas requerem um Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), em que o geógrafo tem atuação fundamental.

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O Espaço Geográfico

O espaço geográfico é construído através da transformação do mesmo pelo homem (relação sociedade-espaço), tendo como finalidade a intencionalidade humana. Pode-se encontrar no espaço geográfico formas “naturais” (rios, planaltos, planícies e etc.) e artificiais (casas, avenidas, pontes...).

Em geral, o espaço geográfico é o espaço ocupado e organizado pelas sociedades humanas. Ele é poligênico - sendo que para seu entendimento é necessário o estudo de todo o processo histórico de sua formação. ´ Resumindo “O espaço Geográfico é tudo que o homem constrói e consume, mas temos que lembrar que essa “Invenção”, feita pelo homem, os materiais dela vem da natureza, e depois por um processo de “Transformação”, que é gerado o Espaço Geográfico.

Reconhecendo as dimensões do espaço

Paisagem: A história de indivíduos e grupos, sua cultura, as diferentes formas de produção e as características da natureza (relevo, hidrografia, marcas do clima, entre outros) encontram-se registrados na paisagem. Dessa forma, existem diferentes tipos de paisagens resultantes de transformações diversas impostas à natureza pela sociedade. Mediante isso, podemos definir paisagem como tudo o que vemos concretizando no espaço, aquilo que nossa percepção distingue. Portanto, quando olhamos para um lugar, estamos vendo a sua paisagem.

Lugar: Existe uma identidade (ligação) entre todos nós e o lugar em que vivemos o que significa que ele é provido de significado para nós. Com isso, entendemos o lugar como sendo o “palco” de nossa existência real com o qual estabelecemos relação de afetividade. Dessa forma, é nele que ocorre o nosso cotidiano e vivenciamos nossas experiências. Essa categoria de análise geográfica é muito utilizada pelos geógrafos culturais.

Território: É o espaço concreto dominado e apropriado por uma sociedade ou Estado, sendo identificado pela “posse”, de acordo com a Geografia. Sendo assim, os territórios possuem limites (fronteiras) - flexíveis no tempo e no espaço - que demarcam a área de poder de um determinado grupo social ou Estado. Portanto, essa categoria de análise geográfica pode ser considerada uma criação do homem sendo produto do trabalho social.

Região e Regionalização: O processo de regionalização é a divisão de um espaço ou território - para fins estatísticos, administrativos, de planejamento, dentre outros - em unidades de área que apresentam características que as individualizam. Por conseguinte, entende-se por região como sendo um conjunto de diferentes espaços ou territórios possuidores de algumas características (econômicas, sociais, culturais, naturais e/ou políticas) que os assemelham. Tem-se, pois, que essa categoria de análise é decorrente do desenvolvimento humano e da divisão territorial do trabalho.

Os três elementos do espaço: a produção, a circulação e as idéias.

Vimos que as obras construídas pelo trabalho humano são as respostas a determinadas necessidades, que podem variar nas diferentes sociedades e nos diferentes momentos históricos.

Na complexa sociedade atual, a satisfação das necessidades de seus integrantes exige igualmente formas cada vez mais complexas de trabalho. Podem assim dizer que a maneira de viver de uma sociedade é a base da qual devemos partir para entender o seu espaço geográfico. Por isso, os principais elementos que definem a forma de sobrevivência das pessoas serão agrupados, nesse nosso estudo de Geografia, do seguinte modo:

O espaço da produção: as fábricas, as oficinas, os campos de cultivo ou qualquer outro lugar onde o trabalho fundamental seja o de produzir algo para ser consumido. O estudo do espaço da produção se justifica como elemento fundamental da investigação geográfica porque a forma de produção, a quantidade de produtos disponíveis e os objetivos da produção de cada sociedade determinam formas de produção espacial muito particulares.

O espaço da circulação: as estradas, as lojas, as ruas, as praças ou qualquer lugar onde se estabeleçam relações que nos permitam ter acesso a bens e serviços dos quais necessitamos para sobreviver.

O espaço das idéias: as igrejas, os edifícios do Estado, as escolas, os nomes das ruas, das praças e das cidades, a propaganda dos produtos ou das idéias, os livros, os jornais e tudo aquilo que, de uma forma ou outra, viabiliza as relações das pessoas entre si.

Cartografia e os Movimentos da terra

Cartografia (do grego chartis = mapa e graphein = escrita) é a ciência que trata da concepção, produção, difusão, utilização e estudo dos mapas.

A cartografia encontra-se no curso de uma longa e profunda revolução, iniciada em meados do século passado, e certamente a mais importante depois do seu renascimento, que ocorreu nos séculos XV e XVI. A introdução da fotografia aérea e da detecção remota, o avanço tecnológico nos métodos de gravação e impressão e, mais recentemente, o aparecimento e vulgarização dos computadores, vieram alterar profundamente a forma como os dados geográficos são adquiridos, processados e representados, bem como o modo como os interpretamos e exploramos.

O primeiro passos para estudar os sistemas naturais é entender melhor sua representação cartográfica. A cartografia é uma área da ciência ocupada em representar o território em mapas, imagens ou fotos aéreas. Mas esta não é uma tarefa muito simples. Para que se obtenham boas representações, é necessária a utilização de escalas, coordenadas geográficas e projeções.

A primeira dificuldade que surge é arrumar referências para a construção de uma representação cartográfica. Se você quiser desenhar um objeto, por exemplo, o colocará sobre uma mesa e iniciará o trabalho. Terá uma série de referências para fazer o

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desenho: a mesa e os outros objetos próximos para formar uma idéia de proporcionalidade; saberá que o tal objeto está em cima da mesa e, portanto, será fácil ver qual é a parte de baixo, o lado direito e assim por diante. No caso da Terra, ela é um corpo “solto” no espaço, portanto, sem indicação de onde é o lado de cima ou o de baixo, qual é a dimensão de cada uma de suas partes. Pior que tudo isso, até a década de 1940, quando não existiam satélites, não podíamos observar a Terra à distância, já que estamos sobre ela. Será que você já conseguiu imaginar a dificuldade de desenhar um objeto como este?

Para resolver este problema foi fundamental o desenvolvimento da Astronomia. Com o estudo dos astros e, principalmente, de seus movimentos, pôde-se criar referências para desenhar o planeta. Alguns exemplos são a linha do Equador e dos Pólos Norte e Sul: todos os três, referências baseadas no movimento dos astros em relação à Terra e desta em relação a eles.

O Movimento

Existe um elemento fundamental para a existência desse conjunto de astros: o movimento. Tudo está se movimentando, os planetas do sistema solar, os milhões de estrelas da Via Láctea e os milhões de galáxias do Universo. Esse movimento é explicado pela lei da Gravitação Universal, elaborada por Isaac Newton. De acordo com ela todos os corpos se atraem proporcionalmente às suas massas. Pensando no conjunto do Universo, temos os astros se atraindo uns aos outros, o que cria um tipo de equilíbrio dinâmico, ou seja, os corpos se movimentam de forma regular. Como está bem descrito no livro A dança do Universo, de Marcelo Gleiser: Portanto, Terra, Lua, Sol e todos os objetos no sistema solar atraem-se mutuamente numa dança coreografada pela força da gravidade. Apesar de parecer que todos esses fenômenos estão muito distantes de sua realidade cotidiana, eles são responsáveis pela própria existência do Universo. Você pode tomar alguns exemplos mais claros em sua vida, como a sucessão de dias e noites, as estações do ano e as marés. A Terra em movimento Até o fim da Idade Média as teorias que tratavam do Universo incluíam a Terra como um corpo imóvel, que seria o centro do Universo, ao redor do qual circulavam os planetas e o próprio Sol. E, na época de maior intolerância religiosa, chegou-se a acreditar que a Terra era plana.

Já na Grécia antiga, alguns sábios falaram dos movimentos da Terra considerando o Sol como centro do Universo (heliocentrismo). Mas quando alguns filósofos, como Heráclides e Aristarco (ambos no século IV a.C.) propuseram a possibilidade do movimento de rotação da Terra e o heliocentrismo ao invés do geocentrismo (terra no centro do Universo), os seguidores de Aristóteles, outro grande filósofo grego, disseram: Se a Terra girasse, ao arremessar uma pedra verticalmente para cima, sobre minha cabeça, quando caísse, a pedra não me atingiria, pois como a Terra estaria em movimento, eu seria levado com ela e a pedra cairia ao meu lado. É claro que eles não sabiam o que era inércia. De acordo com a lei da Inércia, todo corpo tende a permanecer em movimento ou em repouso, a menos que seja forçado a mudar tal estado. Através disso podemos explicar o movimento da pedra que é atirada para cima e que acompanha o movimento da Terra. Porém, sem esse argumento, tais idéias ficaram esquecidas por vários séculos.

Após o período medieval, foi Copérnico, na passagem do século XV para o XVI, que iniciou a revolução no conhecimento astronômico, colocando o Sol novamente no centro do Universo. A esse

importante acontecimento seguiram-se as colaborações de Giordano Bruno, Galileu Galilei, Kepler e Isaac Newton, que questionaram as idéias vigentes sobre o Universo e pensaram em novas propostas.

Hoje todos têm a consciência de que a Terra gira em tomo do Sol e em torno de seu próprio eixo, porém essa informação se tornou tão comum que as pessoas acabam não pensando nela e não entendem como esses fenômenos acontecem.

Movimento de Translação

Ao realizar o movimento de translação, em torno do Sol, a Terra percorre um caminho no espaço, ao qual se dá o nome de órbita. Ao contrário do que se pensa normalmente, essa órbita é elíptica e não circular, por isso é chamada também de eclíptica. Enquanto isso, o Sol ocupa uma posição excêntrica nessa órbita, ou seja, está fora do centro da eclíptica. Por causa dessa excentricidade do Sol são destacados dois pontos da órbita terrestre: o Periélio, quando a Terra está mais próxima ao Sol, e o Afélio, quando se encontra mais afastada. O movimento de translação está representado fora de escala para fins didáticos.

Na realidade, a órbita elíptica traçada pela Terra é de pequena excentricidade, tornando a imagem quase uma circunferência. Outro detalhe importante é a inclinação do eixo terrestre. O eixo imaginário que liga o Pólo N ao Pólo S, passando pelo centro do planeta e formando um ângulo de 90° com o plano do Equador terrestre não é perpendicular ao plano da eclíptica, formando com a perpendicular a esse plano, um ângulo de 23°27’.

O movimento da Terra em torno do Sol é chamado de movimento de translação e, como já foi dito anteriormente, define a órbita terrestre. Ele tem uma duração aproximada de um ano ou, mais exatamente, 365,242 dias. O ano oficial é fixado em 365 dias, restando aproximadamente 1/4 de dia por ano, motivo pelo qual existe o ano bissexto, com um dia a mais a cada quatro anos, compensando essa diferença. O ano bissexto é causado unicamente pelo período do movimento de translação. Porém, as mais importantes conseqüências desse movimento têm como principal aliado o fato de que o eixo terrestre é inclinado. A combinação da inclinação do eixo e do movimento de translação é de extrema importância para a dinâmica da vida na Terra; se esse eixo fosse perpendicular ao plano da eclíptica, enquanto o planeta se movimentasse em torno do Sol, a recepção dos raios solares seria sempre igual e não teríamos as estações do ano.

Na posição A, a Terra se encontra no que é chamado de solstício, no caso, solstício de verão para o Hemisfério Sul e de inverno para o Hemisfério Norte. A palavra solstício é de origem latina: sol + stare, ou O Sol parado, isso porque ele representa o dia em que os raios solares chegam perpendiculares mais ao sul ou mais ao norte na superfície terrestre.

Esses limites, sul e norte, da incidência perpendicular dos raios solares são definidos pelos trópicos. Ao sul está o Trópico de Capricórnio, situado a 23°27’de latitude S. Ao norte, o Trópico de Câncer, a 23°27’ de latitude N. Portanto, a região situada entre os dois trópicos é definida como Zona Tropical, na qual os raios solares incidem perpendicularmente pelo menos uma vez durante o ano.

Ao mesmo tempo, ainda no solstício de verão do Hemisfério Sul (Posição A), ocorre a maior duração do dia nesse hemisfério e a

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menor no Hemisfério Norte. A diferença entre a duração do dia e da noite varia conforme a latitude; quanto maior a distância em relação ao Equador, maior a diferença. Assim, na região que apresenta latitudes acima dos círculos polares, a diferença será a maior possível, sendo que no verão têm-se dias com 24 horas de iluminação, quando o Sol não se põe. Já no inverno, há dias com 24 horas de escuridão, ou seja, quando o Sol não nasce.

O Sol incide perpendicularmente entre os dois trópicos. Os círculos polares representarão assim os pontos onde os raios solares tangenciam a Terra nos dias do solstício, sendo o Círculo Polar Ártico a 66°33’ de latitude N, e o Círculo Polar Antártico a 66°33’ de latitude Sul. As regiões compreendidas entre os trópicos e os círculos polares são chamadas de Zonas Temperadas, onde os raios solares nunca incidem perpendicularmente. Já as áreas limitadas entre os pólos e os círculos polares são chamadas de Zonas Glaciais. Como nessa época do ano os raios solares são mais intensos no Hemisfério Sul, será verão nessa parte do globo, assim o dia do solstício é o 22 de dezembro, marcando a entrada do verão. Enquanto isso, no Hemisfério Norte, esse dia representa o início do inverno, sendo assim definidas as estações do ano.

Movimentando-se no sentido mostrado na figura, da pág. anterior, a Terra vai se posicionando de maneira que a distribuição dos raios solares entre os hemisférios Sul e Norte vai se igualando até que chegamos à posição do equinócio, palavra de origem latina aequinoctuim, ou seja, noite igual (Posição B). O equinócio representa o ponto na trajetória da órbita terrestre no qual a iluminação dos dois hemisférios é igual, assim sendo a duração entre dias e noites também o será. Nesse caso, os raios solares incidem perpendicularmente à linha do Equador, o que se dar no dia 21 de março, sendo o equinócio de outono para o Hemisfério Sul e o de primavera para o Hemisfério Norte, marcando o início dessas estações nos respectivos hemisférios.

Continuando seu percurso, o planeta vai mudando sua posição em relação ao Sol de maneira que a situação começa a se inverter, ou seja, o Hemisfério Norte passa a receber mais luminosidade que o Hemisfério Sul. Até que chega ao solstício de inverno para o Hemisfério Sul e de verão para o Norte, dia que também define o início dessas estações, ocorrendo em 21 de junho. Nesse dia os raios solares incidem perpendicularmente ao Trópico de Câncer, no pólo Norte não há noite e no pólo Sul só há escuridão. Isso se dá na posição C da figura da pág 14.

Ao chegar na posição D da figura da pág 14, a distribuição dos raios solares fica igual novamente. Esse é o equinócio de primavera para o Hemisfério Sul e o de outono para o Norte, iniciando também essas estações nos respectivos hemisférios, no dia 23 de setembro. O movimento continua e chega novamente ao ponto de partida e, conseqüentemente, a um novo ano terrestre.

Movimento de Rotação

O movimento de rotação é esse que a Terra faz em torno de seu próprio eixo, cuja principal conseqüência é a definição dos dias e das noites. Associado ao movimento de translação e à inclinação do eixo terrestre, esse movimento proporciona a diferenciação na duração de dias e noites no decorrer do ano.

Movimento de rotação da Terra, com o eixo da Terra, os pólos Norte e Sul e o equador. A metade de cima, na figura, é o hemisfério Norte e metade de baixo é o hemisfério Sul. Tal diferenciação ocorre

porque durante o período em que um hemisfério recebe mais luz que o outro, o dia é mais longo que a noite. Porém, no Equador essa diferenciação nunca ocorre, já que durante todo o ano tal região é iluminada quase que igualmente. Portanto, podemos concluir que quanto maior a latitude, maior a diferença.

Nos períodos de dias mais longos, o Sol nasce mais cedo e se põe mais tarde. Esse fato proporciona a existência do horário de verão, no qual os relógios são adiantados uma ou duas horas, dependendo da latitude em que se encontram. Dessa maneira, pela manhã, mesmo que na realidade seja mais cedo do que o relógio esteja marcando, já haverá luz suficiente para a execução das práticas próprias àquele horário. Então, a luminosidade do dia, que normalmente duraria mais por causa do verão, irá durar mais ainda de acordo com as horas do relógio, que está adiantado. Dessa forma, a luzes ficam mais tempo apagadas, podendo-se economizar energia elétrica.

Orientação

Orientação significa, segundo a ótica geográfica, determinar a posição de um corpo qualquer, na superfície da Terra, em relação aos pontos cardeais ou fundamentais. Esses pontos de orientação são determinados a partir do movimento aparente do Sol. Tem-se, então, que a direção onde o Sol nasce é chamada leste, oriente ou nascente e, onde o sol se põe é denominado oeste, ocidente ou poente. Os outros dois pontos cardeais são norte, setentrional ou boreal, e sul, meridional ou austral.

Entre os pontos cardeais, localizam-se os pontos colaterais (num total de quatro) perfazendo um ângulo de 45° com aqueles. É, por fim, entre os cardeais e colaterais, situam-se os subcolaterais, num total de oito.

A rosa-dos-ventos é uma figura que mostra a orientação das direções cardeais num mapa ou carta náutica. A utilização de rosas-dos-ventos é extremamente comum em todos os sistemas de navegação antigos e atuais.

Coordenadas geográficas

Agora que você tem uma noção melhor dos movimentos da Terra, pode pensar em como surgiram as coordenadas geográficas, que tanto ajudam na localização e no estudo do planeta. Na relação cotidiana com o ambiente o homem observou que a projeção das sombras ao meio-dia era a mais perfeita e apontava sempre para a mesma direção. Então essa linha da sombra do meio-dia passou a ser chamada de meridiano, palavra originada do latim, meridianus, que significa meio-dia. A direção para a qual a sombra do meio-dia aponta é sempre a Norte-Sul ou vice-versa. Ou seja, o meridiano é uma linha que liga o Pólo Norte ao Pólo Sul e a continuação dessa linha no outro lado da esfera terrestre e o seu antimeridiano.

A medição dos meridianos é feita em graus. Tendo a Terra uma forma geoidal, foi dividida em duas metades pelo meridiano de Greenwich. Cada metade forma um hemisfério, havendo, portanto, o hemisfério Oriental a leste de Greenwich e o Ocidental, a oeste. Esse meridiano é também o marco zero para a medida dos meridianos, que é chamada de longitude, sendo o ponto de longitude 0o, enquanto o antimeridiano de Greenwich é o ponto de longitude 180°. A sintaxe da longitude deve apresentar referência ao hemisfério em que se encontra o ponto medido, por exemplo:

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Paris = 2°30' Leste ou 2°30’E;

São Paulo = 46°40' Oeste ou 46°40’W.

Enquanto os meridianos ligam os dois pólos terrestres, há linhas que unem os pontos equivalentes dos meridianos em relação aos pólos. Se você imaginar que cada meridiano é um fio ligando um pólo ao outro e que em cada fio desses há um nó a cada metro, todos os nós de um meridiano terão seus equivalentes em outros meridianos, ou seja, o primeiro de um será equivalente ao primeiro do outro, o segundo ao segundo, e assim por diante. Ao unir os nós equivalentes de todos os meridianos em tomo da Terra, você terá círculos cujos centros coincidirão com o eixo terrestre. Esses círculos são paralelos uns aos outros, recebendo, por isso, o nome de paralelos.

Algumas diferenças entre os meridianos e os paralelos se evidenciam. Os meridianos são arcos que ligam os dois pólos e suas pontas se encontram nesses extremos. Já os paralelos são círculos completos em torno da Terra e não há encontro entre um e outro, sendo paralelos uns aos outros. Os paralelos também são medidos em graus. O paralelo de referência é o Equador, já que divide a Terra em duas partes iguais: o Hemisfério Sul (Meridional ou Austral) e o Hemisfério Norte (Setentrional ou Boreal).

A medida é chamada de latitude e representa o ângulo formado pela abertura entre o Equador e o ponto a ser medido, tendo como vértice o centro da Terra. A latitude também deve informar a direção, porém, entre Norte e Sul, iniciando no Equador (Latitude 0o) e tendo o limite final nos pólos (Latitude 90°).

Exemplo:

São Paulo = 23°35’ S.

Fusos Horários

A Terra executa uma rotação completa em torno de seu eixo em 24 horas. Você já viu que a sucessão entre dias e noites se dá com esse movimento, já que a cada ponto do percurso de rotação a iluminação solar é diferente. Assim, é possível dividir a Terra em 24 faixas nas quais se distribuem as horas do dia, de acordo com a posição em relação ao Sol. Essas faixas são chamadas de fusos, e como a Terra tem 360° ao todo, cada fuso abrange 15°. Portanto, os fusos são as faixas definidas por meridianos, que se estendem do Pólo Norte ao Pólo Sul, nas quais pode-se considerar o mesmo horário oficial. Cada fuso é definido por um meridiano com longitude múltipla de 15°, ou seja: 15°, 30°, 45°, 60°, 75o.. 180°. Esses meridianos são o meio de um fuso e não o limite.

A origem dos fusos horários é a mesma da medida de longitude, ou seja, Greenwich. Ele é a hora zero, então, conta-se uma hora a mais a leste e uma hora a menos a oeste, a cada fuso. Essa contagem se dá pela direção do movimento de rotação da Terra. Se a Terra gira de oeste para leste (sentido anti-horário vendo-se de cima do Pólo Norte), então o Sol nasce primeiro no leste, o que quer dizer que o dia começa primeiro nessa direção. O antimeridiano de Greenwich (longitude 180°) define os fusos (+)12 e (-)12, local em que há a passagem oficial do dia, definida pela Linha da Data. É onde o dia terrestre começa oficialmente. Claro que os fusos horários não são seguidos rigorosamente. Geralmente eles são adaptados aos limites administrativos, ou seja, às fronteiras dos países ou a divisões internas no caso de grandes países. Na verdade, o fuso serve como

uma referência para que se tenha um modelo internacional da hora e da data; essa referência é adaptada por cada país.

No caso do Brasil, como ele tem uma grande extensão longitudinal, não seria possível adotar um único horário para todo o país. Devido a essa extensão, enquanto os turistas da Ilha de Fernando de Noronha estão apreciando o pôr-do-sol, no Acre, os trabalhadores rurais cuidam da terra sob o Sol das 15 horas. Como seria muito complicado estabelecer uma hora única que se ajustasse a essas características do território, o Brasil adotou quatro fusos horários, que são os seguintes:

1º Fuso - Inclui os arquipélagos de Fernando de Noronha, Penedos de São Pedro e São Paulo, Trindade e Martin Vaz. Esse fuso tem como meridiano central 30° W, sendo, assim, atrasadas duas horas em relação a Greenwich.

2º Fuso - É o que inclui a maior área do território nacional, além de ser aquele que define a hora oficial de nosso país, a hora de Brasília. Incluem na totalidade as regiões Sudeste, Nordeste e Sul, além dos Estados de Goiás, Tocantins, parte do Pará (a leste do rio Xingu) e o Distrito Federal. É baseado no meridiano de 45°W, sendo atrasadas 3 horas em relação a Greenwich.

3º Fuso - Inclui os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Roraima, Rondônia, parte do Pará (porção oeste do rio Xingu) e quase a totalidade do Amazonas. Seu meridiano central é o de 60°W, sendo atrasadas 4 horas em relação a Greenwich.

4º Fuso - Inclui somente o Acre e uma pequena porção ocidental do Amazonas. Está centrado no meridiano de 75GW, sendo atrasadas 5 horas de Greenwich.

As Representações

A Terra é um corpo geoidal que gira no espaço infinito, em torno do Sol e de seu próprio eixo. No espaço não há lado de cima ou de baixo; tais referenciais são válidos apenas na Terra, onde existe a força da gravidade para definir essas direções. Sendo assim, o mapa não está errado e sim diferente do que se vê normalmente. Porém, confusões mais graves podem distorcer a leitura de mapas, a menos que se sigam algumas convenções. Para facilitar a interpretação de mapas, procura-se confeccioná-los seguindo-se algumas convenções, ou regras gerais.

Para representar a realidade da maneira menos distorcida possível e adotando convenções que permitam um pleno entendimento entre o produtor do mapa e seu utilizador, são necessários alguns procedimentos geométricos e matemáticos, que serão discutidos a seguir.

Escala de um mapa

Se você fosse desenhar a planta de sua casa em tamanho natural, teria de utilizar uma folha de papel enorme; imagine para fazer o mapa do Brasil. Além de trabalhosa, tal tarefa seria muito pouco útil dentro da cartografia, que tem como objetivo representar uma grande área em um pedaço de papel, para que se possa observá-la indiretamente. Para resolver esse problema os cartógrafos utilizam as escalas, que são operações matemáticas de proporcionalidade, ou seja, através das escalas pode-se fazer um desenho que guarde as proporções da realidade.

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Desta forma, é possível calcular o tamanho real de algo representado no mapa, utilizando-se da sua escala.

No exemplo dado, cada unidade de medida (seja m, cm, km etc.) no mapa equivale a 1.000 iguais na realidade. Assim, se uma estrada tiver 1 metro no mapa, significa que na realidade ela tem 1.000 metros.

A escala é uma fração, portanto, quanto maior o denominador, menor ela será. Cada tipo de representação cartográfica tem uma escala apropriada, por exemplo:

Plantas urbanas representam as ruas e as casas entre 1:1.000 e 1:15.000, ou seja, escalas grandes.

Imagens de satélite feitas com o objetivo de verificar o crescimento urbano e o uso da terra - entre 1:50.000 e 1:250.000, escalas médias.

Mapas que representam grandes países como o Brasil - escalas menores que 1:6.000.000.

Projeções Cartográficas

Outro problema que existe na confecção de mapas é a necessidade de se representar uma superfície curva, como é a Terra, em uma plana como é a folha do mapa, o que causa grandes distorções. Tal problema se agrava nas escalas menores, nas quais o mapa engloba uma porção maior da superfície terrestre, ficando mais evidente a curvatura desta.

Com exceção das escalas muito grandes, como das plantas urbanas, todos os mapas apresentam distorção. As projeções são conjuntos de técnicas geométricas que tentam diminuir ao máximo essa distorção. A seguir estão alguns exemplos:

Projeção Cilíndrica - é produzida a partir da projeção dos paralelos e meridianos geográficos num cilindro que tangencia a Terra, como você pode observar na figura abaixo. Trata-se da projeção mais utilizada para produção de mapas-múndi e cartas de navegação.

Projeção Cônica - assemelha-se à cilíndrica, porém no lugar do cilindro envolvendo a Terra temos um cone, conforme podemos observar na ilustração. Meridianos e paralelos geográficos são projetados em um cone tangente à superfície da Terra. É mais utilizada para a representação de áreas pertencentes à zona temperada. Apenas um hemisfério é representado.

Projeção Plana - conhecida também como azimutal ou polar, esta projeção é feita a partir do contato de um plano sobre a superfície. É muito utilizada em análises geopolíticas e para a navegação aérea.

Projeção de Mercator

A projeção de Mercator, criada no século XVI, mantém as formas dos continentes, sendo, por isso, boa para navegação marítima e aérea. Representa bem as regiões tropicais, porém, nas altas latitudes, as dimensões são exageradas.

Projeção de Peters

Essa projeção, formulada na década de 1950, mantém as proporções entre as áreas dos continentes e toda a extensão do mapa. No entanto, distorce bastante as formas. Sua utilização é mais recomendada para a representação de áreas, como florestas, por exemplo.

Projeção de Mollweide

A projeção de Mollweide, criada no século XIX, tem sido bastante utilizada nos atlas escolares. Ela produz a distorção das formas e das áreas ao mesmo tempo, porém, a vantagem é que tal distorção não é tão exagerada quanto nos mapas de Peters e Mercator.

Projeção de Goode

É utilizada nos globos terrestres, sendo considerada a mais perfeita de todas. É dividida em secções onde aparece um meridiano reto e central. Os paralelos são retos.

Um Gigante chamado Brasil

O Brasil é considerado um país de dimensões continentais, pois apresenta uma superfície de 8.511.996 quilômetros quadrados e se enquadra entre os cinco maiores países do mundo. Veja abaixo os países com maior extensão territorial:

1º - Rússia (17.075.400 km2)

2º - Canadá (9.922.330 km2)

3º - China (9.461.300 km2)

4º - Estados Unidos (incluindo o Alasca e Hawaii: 9.363.124 km2)

5º - Brasil (8.511.996 km2)

O território brasileiro representa 1,6% de toda a superfície do planeta, ocupando 5,7% da porção emersa da Terra, 20,8% da área de toda a América e 47,3% da América do Sul. Para se ter uma idéia da dimensão do nosso país (leste - oeste), veja que a distância de Natal (RN) a Cruzeiro do Sul (AC) é de aproximadamente 4.100 km. Já a distância de Natal até Monróvia, capital da Libéria (na África Ocidental), é de aproximadamente 2.900 km.

Localização do Brasil

Localizado na América do Sul, o Brasil ocupa a porção centro-oriental do continente. Apresenta uma extensa faixa de fronteiras terrestres (15.719 km), limitando-se com quase todos os países sul-americanos (exceção do Chile e do Equador). Apresenta também uma extensa orla marítima (7.367 km), banhada pelo oceano Atlântico.

O Brasil localiza-se a oeste do meridiano inicial ou de Greenwich, situando-se, portanto, inteiramente no hemisfério ocidental. É cortado, ao norte, pela linha do equador e apresenta 7% de suas terras no hemisfério norte, ou setentrional, e 93%, no hemisfério sul, ou meridional. Ao sul, é cortado pelo Trópico de Capricórnio (esta linha imaginária passa em São Paulo), apresentando 92% do seu território na zona intertropical, isto é, entre os trópicos de Câncer e de Capricórnio. Os 8% restantes estão na zona temperada do sul, entre o trópico de Capricórnio e o círculo polar Antártico.

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A localização geográfica do Brasil e suas características políticas, econômicas e sociais enquadram-no em determinados blocos de nações.

Quando havia o chamado conflito leste-oeste, o Brasil assumia sua posição de país ocidental e capitalista; como país meridional, no diálogo norte-sul, alinha-se entre os países pobres (do sul); e como país tropical compõe o grupo dos países espoliados pelo colonialismo europeu e posteriormente peio neocolonialismo dos desenvolvidos sobre os subdesenvolvidos.

Quando procuramos diferenciar os climas do mundo analisando suas características, como a temperatura ou a pluviosidade, o que estamos fazendo é um estudo de fenômenos que ocorrem na atmosfera terrestre.

Todos os fenômenos climáticos estão diretamente ligados a esta camada de gases que envolve o planeta. Sendo assim, o primeiro passo para entendermos as variações espaciais dos climas é fazer uma breve análise da atmosfera e de seu funcionamento.

A atmosfera terrestre é formada por moléculas de vários gases. Estas moléculas ficam presas ao planeta graças à força da gravidade. Os principais gases que compõe esta camada estão listados na tabela a seguir.

Composição média da atmosfera seca abaixo de 25 quilômetros.

Alguns gases que compõe a atmosfera terrestre merecem destaque, não necessariamente pela sua quantidade mas por sua importância para alguns fenômenos climáticos.

O primeiro desses gases é o dióxido de carbono (CO2). Até por volta do século XVIII, este gás era produzido, quase integralmente, pelos seres vivos através da respiração. Em contrapartida, a fotossíntese realizada pelas plantas cumpria o papel de reabsorver cerca de 3% deste gás da atmosfera anualmente, o que mantinha um certo equilíbrio. Porém, com o aumento da queima de combustíveis fósseis (gás natural, petróleo e carvão) a liberação se intensificou. Ao mesmo tempo, a diminuição das áreas florestadas vem colaborando para diminuição da absorção. Estes dois fatores casados estão causando um aumento da quantidade de dióxido de carbono, o que pode favorecer a intensificação do efeito estufa, como veremos na última parte deste módulo.

Outro gás importante é o ozônio. Cada molécula de ozônio é constituída por três átomos de oxigênio, resultando no O3. Esta combinação incomum de átomos que forma o ozônio se dá pela interferência dos raios ultravioleta, que conseguem dividir as moléculas de oxigênio, possibilitando a união de O + O2. Depois de formado, o ozônio migra para camadas entre 15 e 35 km de altitude, onde tem importante papel de absorção dos raios ultravioletas, antes que estes atinjam a superfície terrestre.

O vapor d’ água é também muito importante na atmosfera terrestre. Sua presença é bastante variada, indo de zero, em regiões desérticas até 4% em áreas de clima muito úmido, como o Equatorial. O vapor d”água está diretamente ligado à absorção de energia solar pela atmosfera, assim como pela sua conservação, e também à ocorrência de chuvas.

De acordo com a divisão dos gases, com a temperatura e algumas outras características, podemos dividir a atmosfera terrestre em cinco camadas:

Troposfera: é a camada inferior da atmosfera, em direto contato conosco, atingindo cerca de 10 a 12 km de altitude e concentrando cerca de 75% dos gases e 80% da umidade atmosférica. Nessa camada, ocorrem as perturbações atmosféricas e a temperatura diminui em média 6,5 graus Centígrados a cada 1m de altitude. Sua parte superior que “limita” da próxima camada (a Estratosfera) é a chamada Zona da Tropopausa.

Estratosfera: possuindo uma espessura média de 50 km, é a camada na qual se verifica a presença do gás ozônio (O3) responsável por filtrar os raios ultravioletas, nocivos à vida terrestre. Como o vapor d’água é quase inexistente nessa camada, não existem nuvens. Ela também é uma área de ventos horizontais e tranqüilos sendo, por isso, preferida para a aeronavegação. Nela, a temperatura aumenta com a altitude.

Mesosfera: estende-se, a partir da estratosfera, até 80 km de altitude, dando início à chamada atmosfera superior nela, a temperatura diminui com a altitude.

Ionosfera: prolongando até cerca de 600 km de altitude, essa camada possui o ar muito rarefeito e grande presença de íons. Estes últimos têm a propriedade de refletir as ondas de rádio, o que confere a importância à ionosfera para nosso estudo. É também nessa camada que ocorre a desintegração dos meteoros (conhecidos como estrelas cadentes). Nela, verifica-se um elevado aumento da temperatura com a altitude.

Exosfera: iniciando-se aproximadamente aos 600 km de altitude, é a camada mais externa da atmosfera. As temperaturas, nela verificadas, atingem valores superiores à 1000 graus Centígrados, devido à inexistência do ar. Acredita-se haver 50% de hidrogênio e 50% de hélio em sua composição.

Obs.: Não existe uma divisão precisa em relação à altitude das camadas. Ocorre uma variação decorrente da influência das condições climáticas, estações do ano e latitudes, que variam de região para região em nosso planeta.

O que mais nos interessa neste momento é entender porque existem diferentes tipos de clima no globo terrestre. Antes de tudo é importante deixar claro o que é um clima.

Em Geografia diferenciamos o clima do tipo de tempo. O tipo de tempo é o estado geral da atmosfera num determinado instante, ou seja, a temperatura, a umidade, a nebulosidade e assim por diante. Por sua vez, o clima de um lugar é a sucessão habitual dos tipos de tempo que aí ocorre.

Ao analisarmos as variações dos tipos de tempo em um determinado lugar durante pelo menos trinta anos, podemos identificar o que ocorre habitualmente neste lugar ao longo do ano. Deixando de lado alguns extremos, como anos com temperatura muito elevada ou anos muito chuvosos, podemos encontrar uma normalidade da variação de tipos de tempo, sendo esta variação o clima do lugar.

Sabendo que esta variação habitual dos tipos de tempo é o que caracteriza o clima de uma determinada região, é preciso identificar as principais características que devem ser levadas em conta para

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definir a variação do tempo e, posteriormente, entender quais as características naturais de um lugar que fazem com que ele tenha determinados tipos de tempo e não outros. Para cumprir esta tarefa, é preciso definir os elementos do clima e os fatores climáticos. Elementos do clima.

Os elementos do clima são as características principais dos tipos de tempo que temos que considerar para poder diferenciar um clima de outros.

O primeiro elemento importante é a temperatura. A temperatura pode ser definida, simplificadamente, como o grau de calor medido por um termômetro. Ela é um importante fator climático porque permite diferenciar climas mais quentes de climas mais frios.

O grau de calor medido pelos termômetros se origina do seguinte processo: os raios solares penetram na atmosfera terrestre com certa facilidade - a não ser em algumas freqüências como no caso do ultravioleta - então são refletidos pela superfície terrestre. Estes raios refletidos têm grande proporção de luz infravermelha, que é facilmente absorvida por alguns gases, principalmente o CO2 e o vapor d’água, a esta possibilidade de absorção damos o nome de efeito estufa. Tal processo, como veremos mais adiante, não é prejudicial à vida na Terra, mas sim essencial, já que possibilita o armazenamento da energia recebida durante o dia. O problema que conhecemos atualmente é a intensificação deste efeito.

Mas enfim, cada lugar, de acordo com algumas características, pode apresentar temperaturas médias anuais mais elevadas ou mais baixas. Mas não é apenas a média de temperatura que nos interessa. É também fundamental que consideremos a amplitude térmica. Esta é a variação de temperatura entre os extremos medidos em um termômetro para cada lugar. Pode-se falar de amplitude térmica anual, para a variação entre a temperatura mais alta do ano e a mais baixa. Mas também, é possível identificarmos a amplitude térmica diária, como a variação entre os extremos de temperatura de um dia.

A amplitude térmica é importante para entendermos as características de um determinado clima porque ela permite a verificação da variação dos tipos de tempo ao longo do ano ou ao longo do dia.

O segundo elemento fundamental para analisarmos os climas do mundo é a precipitação. Esta se caracteriza como a deposição de água em forma líquida ou sólida, vinda da atmosfera. Isto é, são as chuvas e a neve.

Usa-se bastante o termo pluviosidade que é a quantidade de chuva que cai em um determinado lugar durante o ano. Da mesma forma que no caso das temperaturas, é importante considerar a variação, para que seja possível a identificação de estações secas e úmidas ao longo do ano.

Tipos de precipitação

Para que ocorra a precipitação, em forma de chuva ou de neve, o vapor d’água é levado de áreas próximas à superfície, nas quais ele se origina, até níveis entre 1.500 a 9.000 metros de altitude, onde se formam as nuvens.

Esta elevação do ar pode-se dar de diferentes maneiras, de acordo com estas diferenças, podemos classificar as precipitações em três grupos:

Orográfica: quando uma barreira de revelo impede a passagem de uma massa de ar quente e úmida, obrigando-a a se elevar para ultrapassar a tal barreira. Com esta elevação são formadas as nuvens que dão origem a estas chuvas.

Convectiva: quando bolsões de ar quente, carregados de umidade, elevam-se verticalmente como conseqüência da diminuição de sua densidade, causada pelo aquecimento solar.

Ao subir para camadas superiores da atmosfera, estes bolsões provocam a formação de nuvens de chuva.

Frontal: Quando há o encontro entre uma massa de ar quente e úmida e outra fria, esta última entra por baixo da primeira, fazendo-a elevar-se, provocando a formação de nuvens de chuva.

Para que tenhamos uma boa idéia dos totais de precipitação e de sua variação ao longo do ano, é interessante a utilização do climograma. Este é um tipo de gráfico, no qual são expressos os totais de precipitação a cada mês do ano e as médias de temperatura mensais. Mais à frente teremos a oportunidade de analisar alguns climas do mundo através destes gráficos.

Neve: é a precipitação em forma de cristais de gelo. Ocorre em áreas de clima muito frio, que permita que a água congelada não derreta durante a queda.

Outro tipo de precipitação

Granizo: são pedras de gelo formadas nas regiões mais altas das nuvens, que caem juntamente com as águas das chuvas convectivas.

Condensações Atmosféricas Superficiais

Orvalho: é a deposição de gotículas de água sobre o solo, causada pelo resfriamento de uma pequena camada de ar próxima à superfície. Ocorre sempre à noite ou nas primeiras horas da manhã.

Geada: ocorre quando o orvalho é congelado pelo resfriamento mais intenso da camada da atmosfera mais próxima ao solo.

Fatores climáticos

Não basta apenas sabermos quais são os elementos climáticos importantes para diferenciar um clima de outro. O mais importante é entendermos porquê os climas apresentam as variações espaciais. Tais variações se formam devido a algumas características físicas do lugar em questão, as quais influenciam diretamente o clima, podendo ser entendidas como as causas do clima. Tais características são os fatores climáticos, que veremos a seguir.

Não Esqueça! Elementos e fatores climáticos

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Elementos climáticos: são fenômenos que atuam diretamente sobre o clima, como a temperatura, a pressão atmosférica, os ventos, a umidade e as chuvas.

Fatores climáticos: são os que influenciam os elementos climáticos, isto é, atuam indiretamente sobre o clima. É o caso da latitude, da altitude, das correntes marítimas, da vegetação, da maritimidade e da continentalidade.

Temperatura e Pressão Atmosférica

1º- Temperatura atmosférica é a quantidade de calor existente no ar, numa certa porção de atmosfera. Esse valor é registrado em graus no termômetro. O ar atmosférico é aquecido indiretamente, pois os raios solares aquecem primeiro a superfície da Terra e depois a irradiação de calor aquece a atmosfera.

Tal aquecimento varia de acordo com os seguintes fatores:

Latitude: Quanto maior a latitude, menor será o aquecimento, uma vez que os raios solares aquecem mais regiões de baixas latitudes.

Baixa latitude = alta temperatura

Alta latitude = baixa temperatura

Essa variação de temperatura em relação à latitude decorre da perpendicularidade dos raios solares nas menores latitudes e da inclinação ou obliqüidade desses raios nas regiões polares.

Altitude: Já que o aquecimento de nossa atmosfera se dá a partir da superfície terrestre, é de se esperar que os lugares mais altos estejam mais frios e as localidades mais baixas possuam temperaturas mais quentes.

Em média, para 200m de altitude haverá uma redução de 1ºC na Temperatura. Por essa razão, muitas montanhas elevadas têm seus cumes cobertos por gelo eterno.

Dessa forma, na determinação da temperatura de um lugar a altitude corrige a latitude, pois mesmo na região equatorial podemos encontrar baixas temperaturas em altitudes elevadas.

O maciço do Quilimanjaro, montanha tropical da África, com 6010 metros de altitude, embora localizado em zona equatorial, tem seu cume coberto por gelo eterno.

Massas líquidas - Considerando que as massas líquidas se aquecem mais lentamente do que as continentais e que também se resfriam mais lentamente do que estas, deduz-se que as temperaturas sobre os oceanos ou nas suas proximidades (litoral), são mais estáveis do que no interior dos continentes.

Continentalidade - O aquecimento das terras emersas e das superfícies líquidas é feito pelos raios solares, porém de forma desigual: o aquecimento continental é bem superficial e realizado mais rapidamente que o aquecimento oceânico, que atinge maiores profundidades. Como conseqüência da irradiação do calor, o continente resfria-se, também, mais rapidamente.

Vegetação: Os vegetais absorvem calor durante o dia, liberando-o à noite. Assim é que, nas áreas de grande

concentração vegetal, a variação da temperatura diária é menor. Em zonas de menor presença vegetal, a variação térmica será maior.

O Espaço Geográfico Contemporâneo

O objetivo central do estudo da Geografia - a superfície da Terra - mudou rapidamente na segunda metade do século XX. Os geógrafos, assim como os cientistas e acadêmicos de muitas outras áreas, passaram a se preocupar com vários outros problemas: a desertificação, causada tanto pelas repetidas secas quanto pela ação do homem; o desmatamento de florestas equatoriais, que afeta negativamente o delicado equilíbrio biológico; a ameaça de desastres naturais de todos os tipos e também acidentes causados pelo homem, particularmente nucleares; a poluição ambiental, como a chuva ácida e a poluição atmosférica nas cidades; as altas taxas de crescimento populacional, que criam problemas de sobrevivência em alguns países de recursos limitados; o problema da desigualdade regional na distribuição dos recursos e das riquezas; e a ameaça da fome e da miséria, exacerbada por problemas econômicos e políticos.

Entre os campos potenciais de desenvolvimento da geografia encontram-se a exploração de recursos minerais e de outros tipos nos oceanos, a utilização da engenharia genética para aumentar a produtividade agrícola e solucionar problemas criados pelas pragas que inibem a expansão das culturas em muitas regiões do mundo e o aperfeiçoamento da supercondutividade para melhorar o problema da distribuição de energia elétrica. Todos esses problemas e perspectivas envolvem questões geográficas - já que estão ligados a fatores naturais e humanos e a sua distribuição espacial - e apresentam sempre novos desafios para os estudiosos.

A velocidade de mudança dos aspectos que compõem o espaço é tão grande, que algumas vezes não conseguimos identificar as novas características do próprio espaço que vivemos. A vida não para, como disse Lenine. Vamos observar, pelo menos, as principais mudanças no espaço global do século passado para cá e os principais temas que modelam o século atual: A nova ordem e a expansão do capitalismo.

O Espaço Global e a Nova Ordem Mundial

“A ordem internacional da Guerra Fria refletiu-se em um modelo teórico e didático de apreensão do espaço mundial. Esse modelo fundado na subdivisão do globo nos “três mundos” dos livros de geografia apoiava-se em realidades que entraram em colapso.

A nova ordem mundial implica a revisão dos conceitos tradicionais que, por décadas, serviram para explicar a organização geopolítica e geoeconômica do espaço mundial. O deslocamento da natureza do poder dos arsenais nucleares e convencionais para a eficácia, produtividade e influência das economias constituiu um dos mais notáveis fenômenos que acompanharam a dissolução da ordem da Guerra Fria.

A Guerra Fria deve ser entendida como uma disputa entre duas superpotências. Contudo, foi uma disputa não declarada. Cada uma das nações procurava ampliar suas áreas de influência sobre o mundo, Foi também uma disputa ideológica, isto é, em que se

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defrontavam os dois tipos de organização econômica, política e social: o capitalismo e o socialismo.

A grande disputa teve início a partir de uma declaração de Truman, presidente dos Estados Unidos, em 1947: O presidente declarou que iria fornecer ajuda militar ao governo grego na luta contra as guerrilhas socialistas e que iria, desse modo, procurar conter o avanço da influência socialista. Estabeleceu-se, a partir desse momento, um clima de competição, de guerra fria, entre as duas superpotências. Estas que rivalizaram-se em poder militar e econômico, procurando ultrapassar um ao outro.

Os Estados Unidos combatiam o avanço do socialismo. A União Soviética procurava dificultar a expansão americana na formação de áreas de influências, além de difundir o socialismo. Lembrando que a União Soviética, em 1949, já possuía a bomba atômica.

Posteriormente, as superpotências passaram a dispor da bomba de hidrogênio. Sabiam que numa guerra nuclear não haveria vencidos nem vencedores. Essa realidade criou um novo equilíbrio, o equilíbrio de terror.

Em 1956 os Estados Unidos reconheceram as áreas de influência da União Soviética, fato que marcou o declínio da Guerra Fria. Contudo, não terminaram as disputas entre as duas superpotências. Foi nesse ambiente tenso que ocorreu a Guerra da Coréia (1950-1953) e a Revolução Chinesa (1949). Mas foi também neste período que surgiram tratados militares e econômicos entre os blocos capitalista e socialista. Esses tratados, principalmente os militares, tinham como objetivo fortalecer as ameaças que cada um dos blocos representava para o outro.

Os Estados Unidos, os países capitalistas da Europa e o Canadá formaram a OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte, em 1949, na cidade de Washington, Estados Unidos: Seu objetivo pode ser resumido da seguinte maneira: defesa coletiva das liberdades democráticas por meio de uma estreita colaboração política e econômica entre os países-membros.

A OTAN propõe a defesa e o auxílio mútuos, em caso de ataque a um dos seus países membros. Assim, os diversos países integrantes formaram uma força militar. Para tanto, forneceram tropas militares e armamentos sob a chefia de um comando unificado, com sede na Bélgica. A OTAN é uma organização que possui armamentos sofisticados, incluindo armas atômicas e mísseis.

Enquanto os países do bloco capitalista fundaram a OTAN, os países do bloco socialista, liderados pela União Soviética, organizaram o Pacto de Varsóvia.( Tratado de Assistência Mútua da Europa Ocidental - foi firmado em 1955, em pleno ambiente da Guerra Fria. Assinado pelos países socialistas da Europa oriental, seus objetivos são semelhante aos da OTAN: ajuda militar em caso de agressões aramadas na Europa; consultas sobre problemas de segurança e colaboração política. Vê-se, então, que o Pacto de Varsóvia é uma aliança militar).

Tanto a OTAN quanto o Pacto de Varsóvia constituem, portanto, alianças militares que se opõem. São resultado da disputa entre as duas superpotências e seus aliados pela preservação de seus interesses no mundo.

A multipolaridade do poder global substituiu a rígida geometria bipolar do mundo do pós-guerra. A internacionalização dos fluxos de capitais e a integração dos fluxos de capitais e a integração das

economias nacionais atingiram um patamar inédito. Como conseqüência, os pólos de poder da nova ordem mundial apresentam contornos suprana-cionais. Delineiam-se megablocos econômicos organizados em torno das grandes potências do fim do século.

Na América do Norte, constitui-se a Nafta, polarizada pelos Estados Unidos.

Na Europa, a Alemanha unificada funciona com eixo de ligação entre o leste e o oeste do continente.

No Pacífico, o Japão centraliza uma vasta área de influência.

A dissolução do Segundo Mundo expressa na transição para a economia de mercado na antiga União Soviética e Europa oriental suscita questões cujas respostas somente aparecerão nos próximos anos.

A geometria do poder europeu depende ainda do desenvolvimento das relações econômicas e políticas entre a Alemanha unificada e a Rússia pós-comunista. Essas relações podem conduzir ao deslocamento do eixo de poder europeu para o segmento da reta Berlim-Moscou, que se tornaria o sucessor do velho triângulo Londres-Paris-Bonn.

As reformas econômicas chinesas apoiadas sobre o alicerce do poder monolítico comunista - representam uma reorganização radical do espaço do leste asiático. Os crescentes investimentos dos chineses de Formosa, dos coreanos do sul e dos japoneses no território continental da China assinalam a integração de Pequim à esfera econômica polarizada por Tóquio. Os indícios de retomada das relações políticas e diplomáticas entre Japão e China abrem a possibilidade da emergência de um poderoso bloco supranacional asiático.

O Terceiro Mundo funcionou, por muito tempo, como um conceito crucial na reflexão e na prática didática da geografia. Ele representou uma tentativa de cartografar a pobreza, definindo seus contornos em escala global. A nova ordem mundial assinala a fragmentação do Terceiro Mundo em espaços periféricos, que tendem a se integrar marginalmente aos megablocos econômicos.

Os “Dragões Asiáticos” e os países pobres da Ásia meridional funcionam como áreas de transborda-mento dos capitais japoneses.

A Europa do leste e do sul, bem como a África do norte, associa-se ao núcleo próspero da Europa centro-ocidental.

A América Latina entrelaça seu destino ao da América do Norte.

A nova ordem mundial ergueu-se sobre uma revolução tecnocientífica que reorganiza o alocamento dos capitais no espaço geográfico. A crise das velhas regiões urbanas e industriais desenvolve-se paralelamente à emergência de eixos de crescimento econômico apoiado em novas tecnologias industriais, nas finanças e nos serviços. Nesse movimento, a pobreza dissemina-se por toda a superfície do globo, avançando sobre as fronteiras do Primeiro Mundo e instalando-se no coração dos Estados Unidos e da Europa ocidental. No mundo todo, microespaços de prosperidade convivem com cinturões envolventes de pobreza e desemprego. Vastas

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regiões da África Subsaariana, América Latina e Ásia meridional conhecem as tragédias associadas à miséria absoluta. A nova ordem mundial não é mais estável ou segura que a ordem da Guerra Fria. Se o espectro da catástrofe nuclear parece ter sido afastado, novos demônios tomaram lhe o lugar. A emergência dos nacionalismos e da hostilidade étnica, o ressurgimento do racismo e da xenofobia e a multiplicação dos conflitos localizados evidenciam a componente de instabilidade introduzida pela decadência das velhas super-potências.

O século vindouro não promete um mundo melhor para se viver que o século que se encerra”.

O Espaço Capitalista e Socialista

Capitalismo: No século XV, o comércio já era a principal atividade econômica da Europa. Os comerciantes, ou a classe burguesa, já tinham acumulado grandes capitais realizando o comércio com a África e a Ásia, através do mar Mediterrâneo. O capital torna-se a principal fonte de riqueza, substituindo a terra, do período feudal.

A expansão do comércio gerou a necessidade de se aumentar a produção, principalmente o artesanal. Os artesãos mais ricos começaram a comprar as oficinas dos artesãos mais pobres. Estes transformaram se, então, em trabalhadores assalariados, e o número de empregados nas oficinas foi aumentando.

A fase de acumulação do capital por meio do lucro obtido com o comércio e, ainda, por meio da exploração do trabalho do homem, seja o assalariado ou o escravo, recebe o nome de capitalismo comercial. Nesta fase do capitalismo, nos séculos XV e XVI, ocorreu a expansão marítimo-comercial. A expansão marítima européia fez ressurgir o colonialismo.

Na Idade Contemporânea, que vai de 1789 até os dias atuais: a formação do capitalismo em sua forma moderna - o capitalismo industrial - e as relações de trabalho. Até o século XVIII, o comércio era a principal atividade econômica da Europa, proporcionando grandes lucros à burguesia comercial. Nesta época começaram a surgir novas técnicas de produção de mercadorias. Como exemplo podemos citar a invenção da máquina a vapor, do tear mecânico e, conseqüentemente, dos lucros da burguesia. Surge, deste modo, um novo grupo econômico, muito mais forte que a burguesia comercial. Cabia a burguesia industrial a maior parte dos lucros, enquanto a grande maioria dos homens continuava pobre, Uns continuaram trabalhando a terra arrendada, outros tornaram se operários assalariados. Essa situação histórica é conhecida como Revolução Industrial.

O primeiro país a realizar a Revolução Industrial foi a Inglaterra, em 1750. Posteriormente, já no século XIX, outros países realizaram a Revolução Industrial: França, Alemanha, Bélgica, Itália, Rússia, Estados Unidos e Japão.

O capitalismo industrial, firmando-se como novo modo de vida, fez com que o trabalho assalariado se tornasse generalizado. O homem passou, assim, a comprar o trabalho de outro homem por meio de salário.

A Revolução Industrial tornou mais intensa a competição entre os países industriais, para obter matérias-primas, produzir e vender seus produtos no mundo, fazendo surgir um novo colonialismo no século XIX - o imperialismo.

As potências industriais européias invadiram e ocuparam grades áreas dos continentes: africano e asiático. Fundaram colônias e exploraram as populações nativas, pagando baixos salários pelo seu trabalho. Além de fornecer matérias-primas para as indústrias européias, as colônias eram também grandes mercados consumidores de produtos industriais. Os países americanos, apesar de independentes de suas metrópoles européias - Portugal, Espanha e Inglaterra -, não escaparam dessa dominação colonial, principalmente da Inglaterra.

Os países latino-americanos, inclusive o Brasil, continuaram como simples vendedores de matérias-primas e alimentos para as indústrias européias e como compradores dos produtos industriais europeus.

A Revolução Industrial levou a um aumento da produção, dos lucros e, também, da exploração do trabalho humano. O trabalhador foi submetido a longas jornadas de trabalho, 14 horas ou mais, recebendo baixos salários.

Não eram somente adultos que se transformavam em operários: crianças de apenas seis anos empregavam-se nas fábricas, executando tarefas por um salário menor que o do adulto. Essa situação levou os trabalhadores a se revoltarem. Inicialmente eram revoltas isoladas, mas, depois, os operários se organizaram em sindicatos, para lutar por seus interesses. E os trabalhadores descobriram uma arma para lutar contra a exploração de sua força de trabalho - a greve.

A atual fase do capitalismo recebe o nome de capitalismo financeiro. A atividade bancária, ou seja, empréstimos de dinheiro a juros, predomina.

Todas as outras atividades dependem dos empréstimos bancários. A moeda tornou-se a principal “mercadoria” do sistema.

As características do sistema capitalista:

Este sistema caracteriza em linhas gerais: pela propriedade privada ou particular dos meios de produção; pelo trabalho assalariado; pelo predomínio da livre iniciativa sobre a planificação estatal. A interferência do Estado nos negócios é pequena. Diante do que foi exposto, percebe-se que a sociedade capitalista divide-se em duas classes sociais: a que possui os meios de produção, denominada burguesia; a que possui apenas a sua força de trabalho, denominada proletariado.

Socialismo: A preocupação com as injustiças sociais já existia desde a Antiguidade, onde algumas pessoas, preocupadas com a vida em sociedade, pensavam em modificar a organização social e assim melhorar as relações entre os homens. Na Idade Moderna também houve essa preocupação. Um inglês de nome Thomas More escreveu um livro chamado Utopia, onde mostrou como imaginava a sociedade de uma forma menos injusta. Entretanto, com as grandes desigualdades sociais criadas pela Revolução Industrial, as idéias de reformar a sociedade ganharam mais força. Foi assim que surgiram pensadores como Saint-Simon, Charles Fourier, Pierre Proudhon, Karl Marx, Friedrich Engels e outros. Estes pensadores ficaram conhecidos como socialistas.

Essas idéias socialistas espalharam-se pela Europa e depois por todo mundo; e não ficaram somente na teoria. É o caso da Revolução Socialista de 1917, na Rússia, onde a população colocou em prática as idéias socialistas. Até 1917 a Rússia era um país feudal e

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capitalista. O povo não participava da vida política e vivia em condições miseráveis.

Esta situação fez com que a população, apoiada nas idéias socialistas, principalmente nas de Marx, derrubasse o governo do czar Nicolau II e organizasse uma nova sociedade oposta à capitalista - a socialista. A Rússia foi o primeiro país a se tornar socialista e, posteriormente, passou a se chamar União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Em linhas gerais, podemos caracterizar o socialismo como um sistema onde: não existe propriedade privada ou particular dos meios de produção; a economia é controlada pelo Estado com o objetivo de promover uma distribuição justa da riqueza entre todas as pessoas da sociedade; o trabalho é pago segundo a quantidade e qualidade do mesmo.

Terminada a SEGUNDA GRANDE GUERRA, muitos países do leste europeu alteraram a sua organização econômica, política e social de base capitalista e se tornaram socialistas: a Iugoslávia tornou-se socialista em 1945; a Albânia e a Bulgária, em 1946; a Polônia e a Romênia, em 1947; a Checoslováquia, em 1948; a Hungria, em 1949; a República Democrática Alemã Oriental, em 1949 Também na Ásia, alguns países optaram pelo socialismo: o Vietnã do Norte, em 1945; a Coréia do Norte, em 1948; a China, em 1949; o Tibet., em 1950, como província da China e, depois, em 1953, independente.

Outros países optaram pelo socialismo nos anos 60, 70 e 80. No pós-guerra intensificaram-se as disputas entre Estado Unidos e União Soviética pela liderança do mundo. Cada uma das superpotências procurou consolidar sua liderança sobre outros países e ampliar sua área de influência.

Guerra O Espaço Europeu pós Segunda

A Europa ocidental, por exemplo, estava arrasada em virtude da guerra, pois servira como campo de batalha. Muitas de suas cidades, indústrias e meios de transporte estavam destruídos, e grande parte da sua população encontrava-se desempregada. Diante disso, os Estados Unidos, com receio do avanço do socialismo sobre os países da Europa ocidental e temendo perdê-los de sua área de influência, elaboraram um plano de ajuda econômica para que esses países pudessem recuperar sua economia. Este plano foi aprovado em 1948 e recebeu o nome de Plano Marshall, em homenagem ao Secretário de Estado norte-americano, general Marshall. Tal plano permitia aos países da Europa Ocidental importarem produtos norte-americanos a preços baixos; Abria créditos para os países europeus comprarem equipamentos pesados dos Estados Unidos; Fornecia empréstimos.

Os Estados Unidos explicaram que ofereciam este plano porque seria impossível a estabilidade política e a paz enquanto a Europa não tivesse a sua economia recuperada. Entretanto, a ajuda economia dos EUA, por meio do Plano Marshall, tinha pelo menos dois objetivos: manter o sistema capitalista nos países da Europa ocidental e assegurar essa área de influência, impedindo, assim, a penetração do socialismo; garantir o mercado consumidor para seus produtos e investimentos.

Os próprios industriais e comerciantes norte-americanos apoiaram o Plano Marshall, pois eles mesmos afirmavam: “Não se pode realizar negócios num mundo de pobres”. Assim, eles tinham interesses na recuperação econômica dos países europeus arrasados pela guerra.

Os países europeus que mais receberam ajuda dos Estados Unidos por meio do Plano Marshall foram: Reino Unido, França, Alemanha e Itália. No Japão, os Estados Unidos também intervieram, militar e economicamente, a partir de 1945. Após o lançamento das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, o Japão rendeu-se às tropas norte-americanas. Após a rendição japonesa, os EUA continuaram ocupando o Japão e aplicaram vultosas somas de dinheiro para recuperar a economia japonesa e, assim, assegurar sua presença nessa porção do globo.

Muito Importante! O mundo pós-guerra formou um sistema de dependência no qual as duas superpotências tornaram-se os países centrais, as quais mais tarde agregaram outros países, enquanto os subdesenvolvidos eram classificados como periféricos.

O Espaço dos países pobres e dos países ricos

Características de países subdesenvolvidos e desenvolvidos: Os países subdesenvolvidos apresentam alta taxa de analfabetismo e deficiente nível de instrução baixa renda per capita, baixo consumo de energia mecânica, predominância da população economicamente ativa no setor primário (agricultura) baixo nível alimentar (existência da fome) dependência econômica elevadas taxas de natalidade grande crescimento populacional elevada taxa de mortalidade infantil baixo nível de industrialização emprego de técnicas atrasadas. Já os países desenvolvidos baixa taxa de analfabetismo elevada renda per capita elevado consumo de energia mecânica predominância da população economicamente ativa no setor secundário (indústria) e no terciário (serviços) elevado nível alimentar dominação econômica baixas taxas de mortalidade infantil predomínio de produtos industrializados nas exportações elevado nível de industrialização controle da ciência e da tecnologia elevada esperança de vida.

Fala Mestre!

A atual geopolítica global é marcada pelo velho sonho de boa parte dos seres urbanos, em geral, residentes em metrópoles e cidades globais, que almejam uma maior proximidade entre mercados e sociedades, ou seja, a formação de uma única comunidade humana - processo este chamado de globalização -, talvez por acharem que teremos, com isso, uma redução das diferenças sócio-culturais ou, até mesmo, homogeneização tecnocientífica.

Lembramos que esse fenômeno possui sérias restricões, haja vista a heterogeneidade econômica e cultural do espaço global. Sabemos todos que as ações globalizantes se desenvolveram, especialmente, a partir da expansão marítima, século XV e XVI, sendo maximizada com as revoluções industriais, a partir do século XVIII, se tornando uma exigência econômica para a manutenção das nações desenvolvidas ( dominadoras ). Portanto, esta realidade é algo inevitável.

O que é bastante compreensível, quando notamos o crescimento dos principais veículos globalizantes, que são as transnacionais e os meios de telecomunicações e marketing, que, dentro desta lógica, promovem aceleração do consumo pelas sociedades - o mercado é a base deste processo -, principalmente neste exato momento, quando parte de realizações pessoais, status cor, ou, até mesmo, a cura de frustrações do indivíduo está na posse de algo, mesmo que “esse algo” não seja necessário. Mas, como resistir frente aos desesperados e, ao mesmo tempo, sutis apelos, a exemplo do merchandising? O sucesso em primeiro lugar, seja através de um

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creme dental, um calçado, um corte de cabelo ou a uma marca de carro levará o mundo a vê-lo de uma outra forma. Todas essas ações exigem uso, cada vez mais intenso, dos recursos naturais, sejam eles esgotáveis ou não, assim como a produção de energia para realização e multiplicação das tarefas produtivas, transformando intensamente as paisagens, além de provocar fortes impactos ambientais. Com a esgotabilidade ou redução drástica da disponibilidade de alguns recursos naturais, como não buscar uma reestruturação dos espaços, ou das relações de influência? O mundo se tornou palco de uma incrível disputa entre os mercados produtores na busca constante de novos mercados consumidores e fornecedores de matérias-primas, além da manutenção das anteriores. O “ter” passou a ser a palavra de ordem, promovendo, de maneira agregada, uma mudança de valores sociais e comportamentais, que resultam em individualismo, absolutismo sócio-cultural, supremacia intelectual, superficialidade nas relações interpessoais e isolamento pessoal.

É tempo de reengenharia, visando redução dos custos de produção para obtenção de maiores lucros. Explode um “canibalismo” comercial em prol de um consumo em massa - produtos baratos de baixa qualidade, favorecendo economias como a China, com seu socialismo de mercado -, das mais assombrosas periferias aos centros dos países mais desenvolvidos. No olho deste furacão como se mantém o estado? Como, politicamente, se comportam as nações frente a toda essa pressão exercida pela força do capital? Será que os governos, de fato, se tornaram impotentes neste momento, ou está nascendo um novo comportamento administrativo diretamente associado aos princípios liberais econômicos?

Em meio a todas essas perguntas, nota-se a aproximação dos espaços, como se fosse um processo harmônico e evolutivo, exigindo, apesar da manutenção ou não das fronteiras, uma nova organização do território, com amplo desenvolvimento de infra-estruturas, maior liberdade dos fluxos de capitais, maior facilidade para operação das grandes corporações financeiras, redução das barreiras na circulação dos produtos, políticas avançadas que permitam fornecimento de serviços e, especialmente, redução burocrática para acelerar implantação de empresas fora de suas áreas de origem. Em suma, mecanismos para desenvolvimento e fortalecimento dos objetivos do capitalismo. Sem sombra de dúvidas, são necessidades extremamente unilaterais, cujos verdadeiros favorecidos são os países industrializados, destacando aqueles classificados como países centrais. Nota-se também um enfraquecimento do poder do Estado e, ao mesmo tempo, um aumento do poder do capital privado, especialmente com o desenvolvimento do neoliberalismo, seguido de políticas macroeconômicas, que buscam incessantemente o superávit na balança comercial. Lembramos que vivemos atualmente a supremacia do capitalismo financeiro, o qual reforça as práticas monopolistas, como truste, cartel e holding, nos levando a procurar saber qual a verdadeira ordem global. Será de fato ordem ou estamos vivendo um momento de caos?

Em virtude da importância da globalização na configuração dos espaços globais, ou, até mesmo, na dimensão do poder dos estados- nações, afirmamos que a chave para a compreensão desse novo cenário que se apresenta, assim como a sua mudança freqüente, está no desdobramento das características desse processo. O primeiro passo para o entendimento é perceber que a economia mundial ainda não se globalizou, frente à competitividade, a

complexidade e heterogeneidade do mundo contemporâneo. Em seguida, é notar que o furor desse processo tem início na década de 1980 com a onda das novas tecnologias nos setores de informática e telecomunicação associados às suas popularizações, nos aproximando das mais variadas realidades comportamentais, o que provoca, por sua vez, uma redefinição de conceitos e atitudes desde a vida privada, passando pela convivência social até chegar à esfera política. Mas, sendo esse um processo tão recente, torna-se difícil prevê suas faces futuras. No entanto, em todos os seus momentos o domínio da informação fez, faz e fará toda a diferença. Não estamos falando em exclusividade de informações, mas sim na ampla capacidade de compreendê-las e, a partir daí, traçar ações com precisão cirúrgica, focadas no êxito dos objetivos selecionados por um setor, já que não podemos deixar de perceber que estamos diante de uma rede global, cujas ações têm reflexos em todas as partes dessa teia. Por último, torna-se inegável a redução do poder financeiro do estado -principalmente no SUL - diante da ação das grandes corporações industriais e financeiras, que têm agido com indiferença em relação às fronteiras nacionais, ampliando as disputas de mercado internamente, assim como tornando mais presente a quantidade de capital especulativo nessas áreas, o que realça a sua vulnerabilidade.

Como é desigual o uso dos espaços e investimentos, os resultados obtidos são diferentes, sendo praticamente inevitável o aumento das desigualdades regionais, o que ocasiona a formação de ambientes intensamente atrativos e outro igualmente repulsivo. Isso intensifica, entre outras conseqüências, os fluxos migratórios, ou até mesmo o seu redirecionamento. A depender da historia étnica, cultural, religiosa e política de algumas áreas (exemplo: O País Basco e a Catalunha, da Espanha e França; A Galiza, da Espanha; O Quebeque, do Canadá; O Mapuche, do Chile; A ilha de Taiwan, da China; O Tibete, da China; O Saara ocidental, de Marrocos; Porto Rico, dos Estados Unidos; A província de Kosovo, da Sérvia; A Córsega e a Bretanha, da França; A Sardenha e a Padânia, da Itália; A Irlanda do Norte, da Inglaterra; A Flandres, na Bélgica; A Califórnia, dos Estados Unidos; A Chechênia, a Ossétia do Sul e o Daguestão, da Rússia; A Somalilândia, da Somália; A Palestina, de Israel; A Abecásia, da Geórgia; O Tamil, do Sri Lanca; O Chipre do Norte, do Chipre; A Transnístria, da Moldávia), tais modificações podem promover ondas separatistas ou manifestações em busca de ações compensatórias.

Essas situações deixam o governo em estado de tensão, obrigando a uma busca diária de mecanismos para reduzir tais efeitos, seja porque está muito ligada à política de desenvolvimento socioeconômico nacional, seja pela necessidade de manter os espaços territoriais ou pelo fato de temer o aumento dos investimentos estrangeiras, junto com os riscos que possui este tipo de operação. Não importa. O fato é que desmembramentos ou escolhas implicam em perdas e a lógica do sistema econômico atual não admite essa possibilidade.

Sem sombra de dúvidas, o dia-a-dia, para cerca da metade dos habitantes em nosso planeta, é uma manifestação de luta, dor, miséria, violência, subnutrição, ausência de serviços essenciais ao desenvolvimento da vida e, principalmente, ausência de seguridade cidadã. De maneira concomitante, temos aquela outra parcela da sociedade global que vive com extrema fartura, nas economias chamadas de pós-industriais, desenvolvendo um sonho coletivo, nos menos favorecidos residentes nas economias subdesenvolvidas, de migrarem para essas áreas ricas do planeta, acelerando assim o

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processo da globalização das migrações, intensificado a partir da segunda metade do século XX, quando notamos a ocorrência de gigantescos movimentos migratórios internos e externos, levando a mais de cinco por cento da população mundial estar fora de sua área natal, motivados principalmente pela possibilidade de melhores salários, vinculados à realização de atividades classificadas como formais ou principalmente como informais.

Existem outras explicações, além da profunda pobreza dos países do SUL, que os tornam uma área repulsiva no contexto desses movimentos migratórios. A queda do crescimento vegetativo, especialmente nos países do NORTE, tem ampliado a necessidade de mão-de-obra imigrante, apesar da xenofobia e da ausência de direitos e políticas públicas favoráveis a estes indivíduos. Além dessa necessidade de mão-de-obra estrangeira como forma de corrigir as distorções atuais, ela é extremamente barata e resulta em menos direitos por ser, muitas vezes, clandestina, enfatizando sua desterritorialidade. Muito dessa convivência dos países ricos com os fluxos de mão de obra imigrante é entendido pela necessidade de manutenção da produção e do mercado consumidor. No entanto, não podemos nos afastar do fato de que, com as inovações tecnológicas em busca de uma maior produtividade, além da produção de excedentes, eleva-se a quantidade de profissionais substituídos pelas máquinas automatizadas (desemprego estrutural), o que amplia o número de pessoas abaixo da linha da pobreza.

Antagonicamente, a redução dos custos de produção, seja pelos modernos sistemas industriais, pela produção flexível, pela terceirização, pela redução da folha de pagamento devido a um número cada vez menor de funcionários ou pelo barateamento das novas matérias primas em relação às convencionais, não levou a um aumento progressivo dos salários, ou ainda, que devido à redução da jornada de trabalho em decorrência da automação da produção exista mais tempo livre para o trabalhador. Na verdade, este passa a ter mais empregos para que possa compor uma renda suficiente às suas necessidades. Sendo assim, vivemos em uma relação totalmente desigual e selvagem, em que as empresas ampliam assustadoramente seus lucros ao lado de uma sociedade que está se pauperizando, podendo levar à indesejável redução do consumo e colapso no setor produtivo. Como forma preventiva, notamos uma constante política de redução de preços das mercadorias, mantendo os tradicionais consumidores e, ao mesmo tempo, conquistando novos mercados, assim como surgimento de novas profissões e serviços, na tentativa de ampliar o número dos economicamente ativos.

Além disso, nota-se também uma frenética multiplicação de lançamentos fomentando a busca do novo, do mais moderno, do mais eficiente, ou seja, do melhor, nos conduzindo a uma pseudo-supremacia. Refletimos: quem pode afirmar que para todos o mais moderno é o mais adequado? Tais conquistas servem para nos explicar o status quo.

Diante desse contexto, esperamos tornar evidentes as novas formas de escravidão que atingem a sociedade global, mostrando que tal fato não é uma exclusividade dos países pobres, já que muitos pertencentes às classes econômicas mais altas ou são indivíduos dos países ricos, todos os escravos da moda, da forma física, do padrão de consumo, do estilo de vida, do tal comportamento politicamente correto, assim como do volume de notícias, quase sempre, sem profundidade necessária, formando indivíduos despreparados, mal informados, incapazes de desenvolverem uma opinião crítica ou

resolverem problemas mais complexos, que não estejam no manual de atendimento. Como vimos, a evolução tecnológica e o grande volume de dinheiro em circulação no mundo atual tornaram os aparelhos de telecomunicação cada vez mais eficientes e baratos, dinamizando essa rede de informações, ampliando o número de pessoas que vivem na superficialidade dos fatos. Isso está promovendo uma nova revolução na linguagem, que tende a ficar mais clara e objetiva. Mas atenção! Não confundamos a clareza e objetividade com mediocridade ou superficialidade, pois temos excelentes textos escritos por fabulosos autores cuja linguagem está adaptada ao seu tipo de leitor, preservando o objetivo maior que é fazer-se entender.

A subserviência aguda é um dos exemplos da manifestação dessa onda de escravidão, assim como a negação dos direitos trabalhistas, o não cumprimento do limite máximo da jornada de trabalho ou ainda o apelo a uma qualificação, muitas vezes fora de contexto. Como resultado, algumas pessoas se vêem obrigadas a fazerem duas ou três faculdades ao mesmo tempo, acreditando que um grande número de informações variadas amplia definitiva-mente sua capacidade de empregabilidade. No contexto atual, é imprescindível a qualificação para o mercado de trabalho, contudo feita de maneira seletiva e confiável, a partir de instituições de qualidade comprovada e respeitabilidade no mercado. Mesmo assim, não está descartada a possibilidade dos mais qualificados não encontrarem cargos ou salários à sua altura, integrando, por conseguinte, fluxos migratórios internacionais, ampliando o processo denominado “fuga de cérebros”.

Note-se que, em nome do crescimento do capitalismo e de suas múltiplas facetas, somos a “sociedade do ter”, inspirados em um estilo de vida e em uma forma de sucesso construído por um nicho social que vende a imagem da felicidade máxima, nos levando a uma busca incansável pelo que não temos. De acordo com essa realidade, atingimos, a cada dia, maiores volumes de produtos, o que não é acompanhado pelo poder aquisitivo, a exemplo do setor primário, que vive superávits. No entanto, não conseguimos afastar o fantasma da fome, nem mesmo nas regiões tidas como grandes produtoras. Pergunta-se, então, como se explica a fome? Como se explica a ausência de políticas de qualificação onde cresce o número de desempregados? Ou a livre modernização dos setores produtivos sem avaliar seus impactos? Até quando nações como o Brasil vão acreditar na política assistencialista sem um real desenvolvimento paralelo de inclusão profissional? Tudo isso reforça a repulsividade vivida pelas economias subdesenvolvidas.

Os vetores do atual movimento migratório internacional se parecem, e muito, guardada às devidas proporções, com aqueles que vivemos no Brasil nas primeiras décadas da segunda metade do século XX, quando São Paulo se tornou o grande centro de atração populacional, fruto da industrialização e das possibilidades de emprego criadas à época. Demonstrando que mesmo se tratando de uma industrialização periférica, acompanhado de diversas mazelas como a incapacidade de enfrentar a pobreza, o complexo paulista era, e é ainda para uma parte da população, a única possibilidade de mudança de padrão de vida, pelo menos é o que parte daqueles que migram acham. Lembremos que o desenvolvimento da acessibilidade, com base no rodoviarismo, foi fundamental na construção desse movimento, que muito alterou a paisagem urbana local, haja vista sua incapacidade de gerar infra-estrutura necessária e suficiente para acomodar com dignidade todo o contingente para

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lá deslocado, resultando em uma macrocefalia, com todos os seus efeitos.

Ao longo da história recente do Brasil, notamos um aumento das desigualdades regionais, apesar das inúmeras tentativas governamentais para mudança desse aspecto, como por exemplo, a política de incentivo fiscal visando a desaglomeração industrial e, por conseguinte, formação de novos pólos econômicos. No entanto, é mantida a profunda desigualdade entre as classes sociais assim como os elevados níveis de pobreza em nosso país. São 56,9 milhões de pobres no Brasil, sendo 24,7 milhões de pessoas na extrema pobreza.

Quem são essas pessoas?

A) Crianças (mais de 50% das crianças com até dois anos de idade são pobres);

B) Afro-descendentes (representam 45% da população total, mas 63% dos pobres e 70% dos indigentes);

C) Nordestinos ou moradores das regiões metropolitanas do Sudeste;

D) Membros de famílias chefiadas por adultos de baixa escolaridade;

E) Membros de famílias chefiadas por trabalhadores autônomos ou por empregados sem carteira assinada.

Aqueles que compõem o 1% mais rico da população brasileira controlam aproximadamente 10% do PIB nacional, a mesma proporção que é controlada pelos 50% mais pobres da população.

A renda per capita mensal necessária para que um indivíduo faça parte dos 10% mais ricos do país é de R$ 571, ou seja, uma família com quatro pessoas que tenha renda familiar de R$ 2.284 pertence ao grupo dos 10% da população mais rica.

60% dos indigentes (extrema pobreza) no Brasil têm um nível de escolaridade entre zero e quatro anos e 30% têm escolaridade entre cinco e oito anos. 90% dos indigentes têm escolaridade abaixo de oito anos.

83% dos chefes de famílias que se encontram em situação de extrema pobreza no país trabalham por conta própria ou são trabalhadores sem carteira.

54% dos chefes de famílias que se encontram em situação de pobreza trabalham por conta própria.

Aproximadamente 45% dos pobres no Brasil têm um nível de escolaridade entre zero e quatro anos, enquanto 33% dos pobres têm escolaridade entre cinco e oito anos. 77% dos pobres no país têm escolaridade abaixo de oito anos.

Além da distribuição de renda, outro fator de desigualdade é a educação. Uma pessoa com muita educação ganha cerca de 15 vezes o que ganha uma pessoa sem nenhuma educação.

A educação tem o impacto de perpetuação do ciclo de pobreza, uma vez que pais com baixa escolaridade têm dificuldade em garantir um maior nível de escolaridade

para seus filhos, gerando um ciclo vicioso de perpetuação da pobreza entre gerações.

A renda de uma pessoa rica é 25 a 30 vezes maior do que a de uma pessoa pobre. Nos Estados Unidos e no Uruguai, essa diferença é de dez vezes.

A região nordeste abriga cerca de 50% dos pobres brasileiros. No Recife, um dos centros urbanos mais pobres do Brasil, as favelas cobrem mais de 50% da área da cidade e acolhem 30% da sua população.

Mais de 50% das crianças brasileiras com até dois anos encontram se na linha da pobreza; negros e pardos representam 63% dos pobres do País.

Nos últimos 25 anos, cerca de 150 mil jovens deixam anualmente o Brasil em busca de uma oportunidade no exterior.

A cada dois desempregados no Brasil, um tem menos de 25 anos de idade, quatro milhões de jovens declaram não estudar, não trabalhar e não procurar emprego.

(fonte: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA)

Acreditamos que os números anteriores nos revelam algumas das razões pelas quais parte de brasileiros de certas classes sociais estejam tornando o Brasil um país de emigração. Aqueles que partem daqui, na maioria, não estão inclusos nos piores dados acima, mas estão com muito medo de passar a pertencer a tais estatísticas. Em virtude dessa necessidade de “fuga”, o processo de globalização, principalmente na área das comunicações, é extremamente necessário para que tais indivíduos, predispostos a encontrar novos horizontes, possam, no mínimo, conhecer alguns aspectos da nova realidade que vão enfrentar. Não estamos fazendo um julgamento, mas são inúmeras as possibilidades de muitos de nós, inclusive você, caro leitor, de vencer em nosso país. Na verdade, somos uma terra de contrastes, mas com amplas possibilidades. Vejam alguns dos nossos números positivos.

SÃO PAULO, 1 de novembro de 2007 - A balança comercial brasileira acumulou saldo positivo de US$ 3,439 bilhões no mês de outubro referente a 22 dias úteis, segundo a prévia do resultado da balança comercial divulgada hoje pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, 12,95% abaixo do resultado registrado em outubro de 2006 que foi US$ 3,951 bilhões e em setembro que somou US$ 3,471 bilhões.

O montante apurado no mês é o resultado de US$ 15, 769 bilhões em exportações (média diária de US$ 716,8 milhões) e US$ 12 330 bilhões em importações (com média de US$ 560 milhões por dia).

No ano, a balança registra superávit de US$ 34, 376 bilhões (média diária de US$ 163,7 milhões), o que representa uma queda de 9,9% em relação à igual período do ano passado (US$ 38 166 bilhões). As exportações, em valor, aumentaram 14,14% no período para US$ 132, 368 bilhões, já as importações apresentaram avanço de 22,8% somando US$ 97, 992 bilhões. (Silvia Regina Rosa - InvestNews)

Tentando não cometer nenhum tipo de equívoco no julgamento do futuro econômico do nosso país, fizemos um levantamento sobre os investimentos futuros junto ao PORTAL EXAME, no artigo MAIS PREPARADO PARA CRESCER, de Jose Roberto Caetano, em 1.11.2007

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e nos deparamos com os seguintes dados: “Nas últimas semanas, alguns dos maiores grupos empresariais do país apresentaram grandes projetos de expansão. A Vale do Rio Doce comunicou que pretende investir até 2012 mais de 45 bilhões de dólares dentro do Brasil - sem contar o que direcionará as operações internacionais. O grupo Votorantim anunciou projetos que somam quase 26 bilhões de reais, não incluindo aquisições de empresas. A Camargo Corrêa planeja um aporte de 10 bilhões de reais. Paralelamente a esses anúncios, os dados sobre a entrada de investimento direto estrangeiro indicam que o Brasil deverá receber neste ano 35 bilhões de dólares, batendo o recorde alcançado em 2000 - só que, agora, praticamente não há ingresso atraído por privatizações, ao passo que sete anos atrás elas representaram 22% do total. A movimentação dos grupos nacionais e dos investidores estrangeiros mostra que o Brasil ingressa numa fase mais empreendedora, só comparável à dos anos 70, o que pode garantir uma taxa de crescimento econômico se não chinesa, pelo menos alinhada à média mundial”.

”Muitos dos planos representam valores inéditos para as empresas. “Nosso investimento em 2008, de 8,8 bilhões de reais, será o dobro da média que mantivemos nos últimos anos”, afirma José Roberto Ermírio de Moraes, acionista do grupo Votorantim. “Isso não tem paralelo na história do grupo.” O que está estimulando as empresas a tirar projetos das gavetas é uma combinação que não se via há muito tempo - ou talvez nunca tenha existido nessa forma no Brasil. Ela inclui um histórico de 13 anos de estabilização da moeda e oito anos de regime de câmbio flutuante. Ao mesmo tempo, a demanda mundial por commodities, que puxou as exportações e os preços nos últimos anos, continua alta. E há pouco, com a irrigação do crédito, somou-se a esses fatores o consumo doméstico mais robusto”.

É bem verdade que esses recursos representam crescimento econômico, mas não um desenvolvimento nacional, tendo em vista a massa populacional que fica totalmente alheia a qualquer tipo de benefício gerado por todo esse capital. Já mencionamos que a atual política assistencialista governamental, apesar de necessária, não resolve o problema, haja vista a manutenção do indivíduo assistido na mais profunda exclusão cientifica, pois a educação formal que muitos possuem não é suficiente para garantir seu grau de empregabilidade frente às amplas e constantes novas exigências do mercado de trabalho, intimamente ligado aos padrões internacionais, fruto da globalização da economia. Atualmente as palavras de ordem são: excelência, reengenharia, qualidade total e pró-atividade. Dessa forma, como certos indivíduos de instituições de ensino vão alcançar tanto se nem dominam o básico? A solução de muitos de nossos problemas está em nossas mãos, sendo o primeiro ato desse drama composto pela melhoria real do sistema de ensino. Como falar em aquecimento global para indivíduos no meio do nada, sem que nunca tivessem freqüentado a escola? O que dizer sobre desenvolvimento sustentável ou reciclagem para indivíduos que nasceram em carvoarias clandestinas? E quem foi que disse que encontrar uma solução é algo fácil? Essas não são meras perguntas do cotidiano, são indagações sobre os efeitos de nosso modelo econômico excludente e cruel.

Motivados pelos investimentos futuros, pensamos em uma ampliação das atividades produtivas, em geral, em nosso território, e logo nos deparamos com um colapso energético eminente, resultado, entre outros fatores, da falta de um planejamento adequado para o crescimento industrial a médio e em longo prazo.

Então chegamos a uma situação chave: planejar. Atividade que se torna cada vez mais difícil frente à velocidade das transformações econômicas globais, a volatibilidade do capital, a forte presença do capital especulativo, ao enfraquecimento dos reais interesses do estado democrático.

No entanto, sem sombra de dúvidas, precisamos de bons planejamentos, seja para nos desenvolvermos socioeconomicamente, seja para combater os elevados índices de miséria, seja para melhorar nossa logística no setor de transporte ou reduzir os impactos ambientais. Enfim, para tudo, até em nossa vida pessoal. Sendo assim, concluímos que o nosso país precisa melhor se planejar para, por exemplo, minimizar os danos da globalização, assim como maximizar seus efeitos positivos. Precisamos, enquanto governo, planejar bem para medir as possibilidades de ocorrências negativas, antecipando soluções viáveis, reduzindo os efeitos colaterais dos inúmeros problemas, das mais variadas ordens, presentes na vida de nosso país todos os dias, somado a uma redução drástica da corrupção, fruto de um eleitor mais consciente como você que, a partir daqui, se tornará bem mais criterioso com suas escolhas e com seu futuro. Lembre-se de que a real política de desenvolvimento, antes de qualquer ação, avalia o processo de crescimento econômico atrelado às ações de inclusão e qualificação.